Quantificação dos efeitos colaterais após o uso do hycanthone intramuscular em pacientes com esquistossomose mansoni crônica

Dias, João Carlos Pinto

doi:10.1590/S0037-86821976000400003

Resumos

Foi avaliado o emprego de metanosulfonato de hycanthone em dose única via intramuscular em pacientes esquistossomóticos crônicos, nas condições de ambulatório da Seção de Parasitoses da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Estudaram-se 790 pacientes submetidos ao tratamento com 2,5 mg/k peso corporal, quantificando-se as reações colaterais referidas em função da forma clínica da esquistossomose, ao sexo e à idade dos pacientes, bem como em relação ao tempo de surgimento e à duração de cada reação. Os pacientes foram tratados após exame clínico e, em alguns casos, provas laboratoriais, sendo vetados ao tratamento ambulatorial cerca de 4% dos pacientes que buscaram o tratamento. De modo geral esta rotina tem-se mostrado bastante simples e destituída de maiores riscos, com mais de 12.000 tratamentos realizados sem uma única reação grave evidenciada. Dos 790 pacientes avaliados, 37,8% não referiram nenhuma reação colateral. Dentre as reações detectadas, as mais freqüentes foram as náuseas, os vômitos e as tonturas, geralmente surgindo no mesmo dia da injeção e com desaparecimento espontâneo nas 24 ou 48 horas subseqüentes. Relativamente às formas clínicas, não houve diferenças estatisticamente significativas entre o grupo hépato-esplênico e os demais, talvez por problemas de ordem amostra. Foi significativamente maior a freqüência de reações colaterais entre o sexo feminino, acima dos 15 anos de idade. Com relação aos grupos etários, verificou-se a ocorrência significativamente maior de vômitos entre os pacientes de 5 a 14 anos, contrastando com a predominância de tonturas e anorexia nas faixas superiores.

At the rotine conditions of the Section of Parasitosis of Belo Horizonte's City Hall, ambulatóriaI employment of hycanthone was evaluated concerning its viability and side effects in patients with chronic schistosomiasis mansoni. The patients received 2.5 mg/k of hycanthone, after clinicai examination and, when necessary, laboratory tests and cardiological avaliation. Ambulatorial treatment of patients with serious hepato-splenic forms and those with other counter-indication to the use of hycanthone was ruled out. On these conditions, more than 12,000 patients were treated; no serious side reactions were observed from the inauguration of the Service up to 1974, July, which confirm the simplicity and the low risk of the scheme. The side effects observed among 790 patients acompaigned during 3 days after the treatment, were chiefíy nausea (30.1%), vomiting (24.8%) and dizziness (19.5%), while 37.7% of the reported no side reactions. Myand large the related reactions were limited to the first 24 hours after the treatment, generally regressing spontaneously. Their intensity was generally mild or moderate. Statistical tests did not demonstrate significative differences between the collateral reactions of hepato-splenic and hepato-intestinal forms of the disease, possibly because of the sample conditions. Female showed a greater number of side effects than the mate, one above the age of 15 years. Considering the patienfs age groups, vomiting was more freqent up to 15 years old, while dizziness and anorexia were predominant above this age.

Quantificação dos efeitos colaterais após o uso do hycanthone intramuscular em pacientes com esquistossomose mansoni crônica

João Carlos Pinto Dias

RESUMO

Foi avaliado o emprego de metanosulfonato de hycanthone em dose única via intramuscular em pacientes esquistossomóticos crônicos, nas condições de ambulatório da Seção de Parasitoses da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte. Estudaram-se 790 pacientes submetidos ao tratamento com 2,5 mg/k peso corporal, quantificando-se as reações colaterais referidas em função da forma clínica da esquistossomose, ao sexo e à idade dos pacientes, bem como em relação ao tempo de surgimento e à duração de cada reação. Os pacientes foram tratados após exame clínico e, em alguns casos, provas laboratoriais, sendo vetados ao tratamento ambulatorial cerca de 4% dos pacientes que buscaram o tratamento.

De modo geral esta rotina tem-se mostrado bastante simples e destituída de maiores riscos, com mais de 12.000 tratamentos realizados sem uma única reação grave evidenciada.

Dos 790 pacientes avaliados, 37,8% não referiram nenhuma reação colateral. Dentre as reações detectadas, as mais freqüentes foram as náuseas, os vômitos e as tonturas, geralmente surgindo no mesmo dia da injeção e com desaparecimento espontâneo nas 24 ou 48 horas subseqüentes. Relativamente às formas clínicas, não houve diferenças estatisticamente significativas entre o grupo hépato-esplênico e os demais, talvez por problemas de ordem amostra. Foi significativamente maior a freqüência de reações colaterais entre o sexo feminino, acima dos 15 anos de idade. Com relação aos grupos etários, verificou-se a ocorrência significativamente maior de vômitos entre os pacientes de 5 a 14 anos, contrastando com a predominância de tonturas e anorexia nas faixas superiores.

ABSTRACT

At the rotine conditions of the Section of Parasitosis of Belo Horizonte's City Hall, ambulatóriaI employment of hycanthone was evaluated concerning its viability and side effects in patients with chronic schistosomiasis mansoni. The patients received 2.5 mg/k of hycanthone, after clinicai examination and, when necessary, laboratory tests and cardiological avaliation. Ambulatorial treatment of patients with serious hepato-splenic forms and those with other counter-indication to the use of hycanthone was ruled out.

On these conditions, more than 12,000 patients were treated; no serious side reactions were observed from the inauguration of the Service up to 1974, July, which confirm the simplicity and the low risk of the scheme.

The side effects observed among 790 patients acompaigned during 3 days after the treatment, were chiefíy nausea (30.1%), vomiting (24.8%) and dizziness (19.5%), while 37.7% of the reported no side reactions. Myand large the related reactions were limited to the first 24 hours after the treatment, generally regressing spontaneously. Their intensity was generally mild or moderate. Statistical tests did not demonstrate significative differences between the collateral reactions of hepato-splenic and hepato-intestinal forms of the disease, possibly because of the sample conditions. Female showed a greater number of side effects than the mate, one above the age of 15 years. Considering the patienfs age groups, vomiting was more freqent up to 15 years old, while dizziness and anorexia were predominant above this age.

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Recebido para publicação em 12-5-1976.

Trabalho da Seção de Parasitoses da Secretaria de Saúde Pública da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (Chefe Dr. Naftale Katz).

1. BRAGA FILHO, P. - Tratamento da Esquistossomose mansoni pelo Hycanthone. Experiência de Brasília, DF. Relat apresent. ao 1^o Encontro Nacional sobre Esquistossomose (CASESQ), São Paulo, 4 a 6 de junho de 1973.
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5. CUNHA, A.S. da; CARVALHO, D.G. de; CAMBRAIA, J.N. dos S. & CANÇADO, J.R. - Manifestações de intolerância ao Hycanthone no tratamento da esquistossomose mansoni. Rev. Inst Med. Trop. São Paulo 73:213-222, 1971.
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7. GANE, N.F.C. - Analysis of fatal and severe reactions associated with hycanthone therapy for bilharzia. Abstract of Communications of the IX International Congress on Tropical Medicine and Malaria, Vol. II, p. 91, 1973.
8. HUGGINS, D.; CORREIA, J. U. & SOUZA, E.M. de - Ensaio clínico com o hycanthone no tratamento da esquistossomose mansoni. A Folha Médica 67: 387-398, 1973.
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12. MEIRA, J.A.; SHIROMA, M. & BASSOI, O.N. - Tratamento da Esquistossomose Mansônica com Hycanthone. An. I Encontro Nacional sobre Esquistossomose (CASESQ) São Paulo: 175-194, 1973.
13. MARINHO, R.P.; GODOY, P.; RAGO, P. & NEVES, J. - Hepatopatia Pós Tratamento da Esquistossomose Mansoni pelo Hycanthone - III Registro de um novo caso de atrofia amarela aguda. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo 76:354-361, novembro-dezembro, 1974.
14. OLIVEIRA, C.A.; CHAMONE, D.A.F.; LEMOS, M.S.; MELO, J.R.C.; ZEITUNE, J.M.R.; COSTA, W.O.P. & CANGUSSU, W.A. - Ensaios terapêuticos com o hycanthone, administrado por via intramuscular, na esquistossomose mansoni humana. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo 77:130-139, 1969.
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16. SILVA, L.C. da; CHAMONE, D.A.F.; SETTE, JR., H.; LIMA, F.A. & PONTES, J.F. - Tratamento da Esquistossomose Mansônica pelo Hycanthone. An. I Encontro Nacional sobre Esquistossomose (CASESQ), São Paulo: 143-148, 1973.
17. WHO - Report of a WHO consultant group on the comparative evaluations of new schistosomicidal drugs from use in treatment comparings. Geneva 26-29, june, 1972.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
12 Jun 2013
Data do Fascículo
Ago 1976

Histórico

Recebido
12 Maio 1976
Aceito
12 Maio 1976

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[1] 1. BRAGA FILHO, P. - Tratamento da Esquistossomose mansoni pelo Hycanthone. Experiência de Brasília, DF. Relat apresent. ao 1^o Encontro Nacional sobre Esquistossomose (CASESQ), São Paulo, 4 a 6 de junho de 1973.

[2] 2. CLARKE, V. de V.; BLATR, D.M. & WEBWE, M.C. - Field trial of hycanthone (Etrenol, Winthrop) in the treatment of urinary and intestinal bilharziasis. Central African J. Med. 15:1-6, 1969.

[3] 3. COUTINHO, A.D. & BARRETO, V.S. - Nossa experiência com o Hycanthone no tratamento da Esquistossomose mansônica. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo 73:57-70, 1971.

[4] 4. CUNHA, A.S. da; CARVALHO, D.G. de; CAMBRAIA, J.N. dos & CANÇADO, J.R. - Avaliação terapêutica do hycanthone (derivado hidroximetíiico do Miracil D) na Esquistossomose mansoni. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo 73:131-136, 1971.

[5] 5. CUNHA, A.S. da; CARVALHO, D.G. de; CAMBRAIA, J.N. dos S. & CANÇADO, J.R. - Manifestações de intolerância ao Hycanthone no tratamento da esquistossomose mansoni. Rev. Inst Med. Trop. São Paulo 73:213-222, 1971.

[6] 6. DIAS, J.C.P.; OLIVEIRA, L.R. de & JORGE, A. - Alterações Bioquímicas em pacientes esquistossomóticos tratados pelo "Etrenol. VIII Cong. Soc. Bras. Med. Trop., Belo Horizonte, 1972.

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[8] 8. HUGGINS, D.; CORREIA, J. U. & SOUZA, E.M. de - Ensaio clínico com o hycanthone no tratamento da esquistossomose mansoni. A Folha Médica 67: 387-398, 1973.

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[11] 11. KATZ, N.; PELLEGRINO, J. & OLIVEIRA, C.A. de - Further clinical trials with hycanthone, a new antischistosomal agent. Am. J. Trop. Med. Hyg. 18: 924-929, 1969.

[12] 12. MEIRA, J.A.; SHIROMA, M. & BASSOI, O.N. - Tratamento da Esquistossomose Mansônica com Hycanthone. An. I Encontro Nacional sobre Esquistossomose (CASESQ) São Paulo: 175-194, 1973.

[13] 13. MARINHO, R.P.; GODOY, P.; RAGO, P. & NEVES, J. - Hepatopatia Pós Tratamento da Esquistossomose Mansoni pelo Hycanthone - III Registro de um novo caso de atrofia amarela aguda. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo 76:354-361, novembro-dezembro, 1974.

[14] 14. OLIVEIRA, C.A.; CHAMONE, D.A.F.; LEMOS, M.S.; MELO, J.R.C.; ZEITUNE, J.M.R.; COSTA, W.O.P. & CANGUSSU, W.A. - Ensaios terapêuticos com o hycanthone, administrado por via intramuscular, na esquistossomose mansoni humana. Rev. Inst. Med. Trop. São Paulo 77:130-139, 1969.

[15] 15. PRATA, A. - Esquistossomose e Hycanthone. An. I Encontro Nacional sobre Esquistossomose (CASESQ), São Paulo: 119-123, 1973.

[16] 16. SILVA, L.C. da; CHAMONE, D.A.F.; SETTE, JR., H.; LIMA, F.A. & PONTES, J.F. - Tratamento da Esquistossomose Mansônica pelo Hycanthone. An. I Encontro Nacional sobre Esquistossomose (CASESQ), São Paulo: 143-148, 1973.

[17] 17. WHO - Report of a WHO consultant group on the comparative evaluations of new schistosomicidal drugs from use in treatment comparings. Geneva 26-29, june, 1972.

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