Acessibilidade / Reportar erro

Estudo da resposta imunitária à vacinação anti-meningocócica com polissacarídeos de diversas procedências

Resumos

Um estudo duplamente cego sobre a capacidade de indução de anticorpos séricos anti-meningocócicos por polissacarfdeos capsulares A e C, detectados pela técnica de hemaglutinação passiva, foi realizado no período de outubro a dezembro de 1974. Analisaram-se as respostas imunogênicas de polissacarídeos isolados e combinados de três procedências, entre as quais a de um laboratório que se propunha a produzi-los em larga escala e que já os havia testado em um grupo de voluntários sem reações colaterais importantes. Duzentos e trinta e oito voluntários, funcionários e internos de uma penitenciária, foram divididos em 6 grupos aos quais foram administrados toxóide tetânico e cinco diferentes tipos de vacina. Colheitas de sangue imediatamente antes e quatro semanas após a inoculação foram realizadas e a conversão soro lógica analisada. As vacinas polissacarídeas C mostraram boa resposta imunogênica, enquanto a vacina A mostrou resposta mais pobre. As vacinas em experimentação que continham polissacarídeo A não demonstraram poder antigênico, apresentando, inclusive, resposta paradoxal, com a formação de anticorpos anti-meningocócicos C. Reações colaterais nos grupos submetidos a estas vacinas, embora de pequena intensidade, mostraram-se mais freqüentes do. que nos outros grupos, sugerindo, como depois se evidenciariam, problemas de purificação. A inoculação de vacinas mono vai entes determinou uma queda de níveis de anticorpos não específicos (queda de anti-polissacarfdeo A quando a vacina era polissacarfdea C e vice-versa), sugerindo, juntamente com achados de outros estudos, um possível mecanismo de depressão imunitária que merece ser melhor investigado.


A trial to evaluate the immune response to anti-meningococcal polysaccharides vaccines produced by the Instituto Vital Brazil was carried out in 1974. Two hundred and thirty-eight volunteers - employees and prisoners - of a penitentiary were allocated randomly to six groups, three of which received different types of the experimental vaccines (type A, C and A+C combined). A fourth group was inoculated with a placebo (tetanus toxoid). The last two groups were inoculated with type A or C vaccine already in use in the country to control the epidemic in the city of São Paulo. Blood samples were taken from each volunteer before and four weeks after the injection. A passive haemagglutination test was performed. The staff of the Instituto Adolfo Cruz responsible for the tests was not informed about the group origin of a sample or if it had been collected before or after the injection. The experimental vaccines containing polysaccharide type A (monovalent and combined with type C) did not show specific antigenic activity. In fact, a paradoxical formation of anti-C antibodies after the inoculation of monovalent type A vaccine was observed. On the other hand the two groups inoculated proportion of collateral effects, although very mild, reflecting technical problemas of productions. The type C vaccine under trial, however, gave excellent results. Besides the main objective of the trial, the investigation gave rise to interesting observations about polysaccharide vaccines in general. Firstly the C type vaccines gave higher conversion rates and differencial titres than the A type ones. Secondly there was a fali in the level of non-specific antibodies tested (against A if the vaccine injected was type C) strengthening the by other studies, which deserves further studying.


Estudo da resposta imunitária à vacinação anti-meningocócica com polissacarídeos de diversas procedências

Eduardo de Azeredo CostaI; Carlos Hiroyuki OsanaiII; Augusta K. TakedaIII; Mannon ChimelliIV; Cornélio de Souza Mello Jr. V

IProfessor Adjunto do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro

IIAuxiliar de Ensino do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro

IIIPesquisadora Científica do Instituto Adolfo Lutz. Sâo Paulo

IVAssessora Técnica para Assuntos de Epidemiologia e Vigilância de Doenças Transmissíveis da Sec. de Saúde do Estado do Rio de Janeiro

VDiretor do Hospital da Penitenciária Vieira Ferreira Neto, Niterói

RESUMO

Um estudo duplamente cego sobre a capacidade de indução de anticorpos séricos anti-meningocócicos por polissacarfdeos capsulares A e C, detectados pela técnica de hemaglutinação passiva, foi realizado no período de outubro a dezembro de 1974. Analisaram-se as respostas imunogênicas de polissacarídeos isolados e combinados de três procedências, entre as quais a de um laboratório que se propunha a produzi-los em larga escala e que já os havia testado em um grupo de voluntários sem reações colaterais importantes. Duzentos e trinta e oito voluntários, funcionários e internos de uma penitenciária, foram divididos em 6 grupos aos quais foram administrados toxóide tetânico e cinco diferentes tipos de vacina. Colheitas de sangue imediatamente antes e quatro semanas após a inoculação foram realizadas e a conversão soro lógica analisada. As vacinas polissacarídeas C mostraram boa resposta imunogênica, enquanto a vacina A mostrou resposta mais pobre.

As vacinas em experimentação que continham polissacarídeo A não demonstraram poder antigênico, apresentando, inclusive, resposta paradoxal, com a formação de anticorpos anti-meningocócicos C. Reações colaterais nos grupos submetidos a estas vacinas, embora de pequena intensidade, mostraram-se mais freqüentes do. que nos outros grupos, sugerindo, como depois se evidenciariam, problemas de purificação.

A inoculação de vacinas mono vai entes determinou uma queda de níveis de anticorpos não específicos (queda de anti-polissacarfdeo A quando a vacina era polissacarfdea C e vice-versa), sugerindo, juntamente com achados de outros estudos, um possível mecanismo de depressão imunitária que merece ser melhor investigado.

ABSTRACT

A trial to evaluate the immune response to anti-meningococcal polysaccharides vaccines produced by the Instituto Vital Brazil was carried out in 1974.

Two hundred and thirty-eight volunteers - employees and prisoners - of a penitentiary were allocated randomly to six groups, three of which received different types of the experimental vaccines (type A, C and A+C combined). A fourth group was inoculated with a placebo (tetanus toxoid). The last two groups were inoculated with type A or C vaccine already in use in the country to control the epidemic in the city of São Paulo.

Blood samples were taken from each volunteer before and four weeks after the injection. A passive haemagglutination test was performed. The staff of the Instituto Adolfo Cruz responsible for the tests was not informed about the group origin of a sample or if it had been collected before or after the injection.

The experimental vaccines containing polysaccharide type A (monovalent and combined with type C) did not show specific antigenic activity. In fact, a paradoxical formation of anti-C antibodies after the inoculation of monovalent type A vaccine was observed. On the other hand the two groups inoculated proportion of collateral effects, although very mild, reflecting technical problemas of productions.

The type C vaccine under trial, however, gave excellent results.

Besides the main objective of the trial, the investigation gave rise to interesting observations about polysaccharide vaccines in general.

Firstly the C type vaccines gave higher conversion rates and differencial titres than the A type ones.

Secondly there was a fali in the level of non-specific antibodies tested (against A if the vaccine injected was type C) strengthening the by other studies, which deserves further studying.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebidos para publicação em 22/11/1976.

Trabalho apresentado no XI Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Rio de Janeiro, fevereiro de 1975.

  • 1. ARTENSTEIN. M.S., GOLD, R., ZIMMERLY, J.G., WYLE, F.A., SCHNEIDER, H. & HARKINS, C. Prevention of meningococcus disease by group C polysaccharide vaccine. New Engl. J. Med., 282(8): 417-420, 1970.
  • 2. BASTOS. C.O., TAUNAY, A.F., TtRI BA, A.C. & GALVÃO, P.A.A. Meningite Meningocôcica em São Paulo, Brasil. Bol. Ofic. Sanit. Panam., 79(1): 54-62, 1975.
  • 3. COSTA, E.A., FERREIRA, J.T., TAKEDA, A.K.& FERREIRA, D.J. Avaliação de eficácia de vacinação anti-meningocócica com polissacarídeo "C" em Ipatinga, Minas Gerais. XI Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Rio de Janeiro, 1975.
  • 4. GOLDSCHNEIDER, I., LEPOW, M.L.& GOTSCHLICH, E.C. Immunogenicity of the group A and group C meningococcal polysaccharides in children. J. Infect. Dis., 125(5):509-519, 1972.
  • 6. GOTSCHLICH, E.C., LIU. T.Y. & ARTENSTEIN, M.S. Human immunity to the meningococcus III. Preparation and immunochemical propertíes of the grup A, group B and group C meningococcal polysaccharides. J. Exper. Med.. 129(6): 1349-1366, 1969.
  • 7. GOTSCHLICH, E.C., GOLDSCHNEIDER, I., & ARTENSTEIN, M.S. Human immunity to the meningococcus, IV. Immunogenicity of group A and group C meningococcal polysaccharides in human volunteers. J. Exper. Med., 729(6): 1367-1384, 1969.
  • 8. GOTSCHLICH, E.C., GOLDSCHNEIDER, I. & ARTENSTEIN, M.S. Human immunity to the meningococcus. IV. The effect of immunization with meníngococcal group C polysaccharide on the carrier state. J. Exp. Med.. 129(6): 1385-1395, 1969.
  • 9. GOTSCHLICH, E.C., REY, M., TRIAU, R. & SPARKS, K.J. Quantitative determination of the human immune response to immunization with meningococcal vaccines. J. Clin. Invest. 51:99-96, 1972.
  • 10 HAMMON, B.W., RINGSBURY, D.T..& WEISS, E. Modification of meningococcal polysaccharide antigens for use in passive hemagglutination tests. J. Immunol., 1O1(4):808-809, 1968.
  • 11. McCORMICK, P. Comunicação pessoal, 1975.
  • 12. TAUNAY, A.E., FELDMAN. R.A., GALVAO, A.A., CASTRO, I., MORAES, F.S. &TAKEDA, A.K. Vacinação meningocôcica do grupo C realizada em São Paulo, SP, em dezembro de 1972. XI Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Rio de Janeiro, 1975.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Abr 1977

Histórico

  • Aceito
    22 Nov 1976
  • Recebido
    22 Nov 1976
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - SBMT Caixa Postal 118, 38001-970 Uberaba MG Brazil, Tel.: +55 34 3318-5255 / +55 34 3318-5636/ +55 34 3318-5287, http://rsbmt.org.br/ - Uberaba - MG - Brazil
E-mail: rsbmt@uftm.edu.br