Acessibilidade / Reportar erro

Estudo parasitológico e anátomo-patológico da fase aguda da doença de Chagas em cães inoculados com duas diferentes cepas do Trypanosoma cruzi

Resumos

Cães jovens foram infectados com as cepas Y e CL do T. cruzi usando-se como inóculos 107 formas sangüíneas inoculadaspor via intraperitoneal e 2 x 10³ tripomastigotas metacíclicos obtidos do inseto vetor e inoculadospor via conjuntival. As cepas Ye CL induziram nos cães curvas deparasitemia totalmente distintas, confirmando dados parasitológicos obtidos em camundongos e coelhos. Com a cepa CL a parasitemia, com ambos os inóculos, foi gradualmente ascencional ao passo que com Y a parasitemia foi extremamente baixa, irregular e, com freqüência, subpatente. Com ambas as cepas o parasitismo e as lesões predominaram no miocárdio. Entretanto, com a cepa Y a miocardite foi sempre intensa desde as fases mais precoces da infecção, ao passo que com a cepa CL o processo inflamatório tomou-se acentuado somente a partir do 20.° dia. Freqüentemente a intensidade da miocardite observada em alguns animais não guardava relação com a parasitemia; em alguns cães com parasitemia subpatente, nos quais a infecção só foi diagnosticada pelo xenodiagnóstico, a intensidade da miocardite foi comparável àquela observada nos animais com parasitemia patente. Idêntica correlação também não foi assinalada em relação ao parasitismo tissular. Esses achados sugerem a participação de mecanismo imunológicos na gênese das lesões, ainda na fase aguda da infecção.

Trypanosoma cruzi; Cepas Y e CL; Miocardite experimental em cães


Young dogs were inoculated with T. cruzi Y and CL strains either by intraperitoneal route with 107 blood forms or by ocular route with 2 x 10³ vector-derived trypomastigotes. With both inocula the patterns of parasitemia were significantly different, confirming data previously obtained in experimentally infected mice and rabbits. CL strain induced a gradual ascencional parasitemia whereas with Y the parasitemia was either subpatent or the number of parasites was very low, rapidly declining. Although myocarditis was present in most animals regardless of the strain used, the inflammatory process was established earlier with the Ystrain. The severity of the myocarditis was not related to parasitemia and in some animals in which parasites could only be detected by xenodiagnosis the lesions were comparable to those detected in animals with high number of blood forms. In a similar way, no correlation was established between tissue parasitism and myocardium inflammatory lesions. Thus, the heart tissue damage in the acute phase was not apparently influenced by the differences inthe course of infection, suggesting a participation of immunological mechanisms even at this early stage of infection.

Trypanosoma cruzi; Y and CL strains; Dog's experimental myocarditis


ARTIGOS

Estudo parasitológico e anátomo-patológico da fase aguda da doença de Chagas em cães inoculados com duas diferentes cepas do Trypanosoma cruzi

Maria Alice Pedreira de Castro; Zigman Brener

RESUMO

Cães jovens foram infectados com as cepas Y e CL do T. cruzi usando-se como inóculos 107 formas sangüíneas inoculadaspor via intraperitoneal e 2 x 103 tripomastigotas metacíclicos obtidos do inseto vetor e inoculadospor via conjuntival. As cepas Ye CL induziram nos cães curvas deparasitemia totalmente distintas, confirmando dados parasitológicos obtidos em camundongos e coelhos. Com a cepa CL a parasitemia, com ambos os inóculos, foi gradualmente ascencional ao passo que com Y a parasitemia foi extremamente baixa, irregular e, com freqüência, subpatente. Com ambas as cepas o parasitismo e as lesões predominaram no miocárdio. Entretanto, com a cepa Y a miocardite foi sempre intensa desde as fases mais precoces da infecção, ao passo que com a cepa CL o processo inflamatório tomou-se acentuado somente a partir do 20.° dia. Freqüentemente a intensidade da miocardite observada em alguns animais não guardava relação com a parasitemia; em alguns cães com parasitemia subpatente, nos quais a infecção só foi diagnosticada pelo xenodiagnóstico, a intensidade da miocardite foi comparável àquela observada nos animais com parasitemia patente. Idêntica correlação também não foi assinalada em relação ao parasitismo tissular. Esses achados sugerem a participação de mecanismo imunológicos na gênese das lesões, ainda na fase aguda da infecção.

Palavras-chave:Trypanosoma cruzi. Cepas Y e CL. Miocardite experimental em cães.

ABSTRACT

Young dogs were inoculated with T. cruzi Y and CL strains either by intraperitoneal route with 107 blood forms or by ocular route with 2 x 103 vector-derived trypomastigotes. With both inocula the patterns of parasitemia were significantly different, confirming data previously obtained in experimentally infected mice and rabbits. CL strain induced a gradual ascencional parasitemia whereas with Y the parasitemia was either subpatent or the number of parasites was very low, rapidly declining. Although myocarditis was present in most animals regardless of the strain used, the inflammatory process was established earlier with the Ystrain. The severity of the myocarditis was not related to parasitemia and in some animals in which parasites could only be detected by xenodiagnosis the lesions were comparable to those detected in animals with high number of blood forms. In a similar way, no correlation was established between tissue parasitism and myocardium inflammatory lesions. Thus, the heart tissue damage in the acute phase was not apparently influenced by the differences inthe course of infection, suggesting a participation of immunological mechanisms even at this early stage of infection.

Keywords:Trypanosoma cruzi. Y and CL strains. Dog's experimental myocarditis.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido para publicação em 15/4/84.

* Centro de Pesquisas René Rachou, FIOCRUZ, Av. Augusto de Lima. 1715 - C.P. 1743 - 30.000 - Belo Horizonte - MG - Brasil.

Trabalho realizado com auxílio do Conselho Nacional de Pesquisas, Brasil.

  • 1. Andrade ZA, Andrade SG. A patologia da doença de Chagas experimental no cão. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 75: 77-96, 1980.
  • 2. Andrade ZA, Andrade SG, Sadigursky M, Lima JAC. Doença de Chagas experimental no cão. Relação morfológica e eletrocardiográfica na fase aguda da infecção. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 35:485-500, 1980.
  • 3. Andrade ZA, Andrade SG, Sadigursky M, Manguire JM. Experimental Chagas' disease in dogs. A pathological and ECG study of the chronic indeterminate phase of the infection. Archives of Pathology and Laboratory Medicine 105: 460-464, 1981.
  • 4. Bertelli MSM, Brener Z. Infection of tissue culture cells with bloodstream trypomastigotes of Trypanosoma cruzi Journal of Parasitology 66:992-997, 1981.
  • 5. Brener Z. Therapeutic activity and criterion of cure on mice experimentally infected with Trypanosoma cruzi Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 4: 389-396, 1962.
  • 6. Brener Z. The behaviour of slender and stout forms of Trypanosoma cruzi in the bloodstream of normal and immune mice. Armais of Tropical Medicine and Parasitology 63: 215-220, 1969.
  • 7. Brener Z. Intraspecific variation in Trypanosoma cruzi: two types of parasite populations presenting distinct features. In: Chagas' Disease, Pan American Health Organization, Scientific Publication n.° 347: 11-21, 1977.
  • 8. Brener Z, Chiari E. Variações morfológicas observadas em diferentes amostras de Trypanosoma cruzi Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 5:220- 227, 1963.
  • 9. Howells RE, Chiari CA. Observations on two strains of Trypanosoma cruzi in laboratory mice. Annals of Tropical Medicine and Parasitology 69: 435-448,1975.
  • 10. Krettli AU, Brener Z. Protective effects of specific antibodies on Trypanosoma cruzi infection. Journal of Immunology 116: 755-760, 1976.
  • 11. Laranja FS. Aspectos clínicos da moléstia de Chagas. Revista Brasileira de Medicina 10: 482-491, 1953.
  • 12. Pedreira de Castro MA, Brener Z. Characterization of inflammatory cells in acute myocardites of dogs infected with Trypanosoma cruzi In: Resumos da VIII Reunião Anual sobre Pesquisa Básica em Doença de Chagas, Caxambu, p. 35, 1981.
  • 13. Ramirez LE. O coelho como modelo experimental no estudo da doença de Chagas crônica. Tese de Doutorado, Departamento de Parasitologia, Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, 1984.
  • 14. Ramirez LE, Brener Z. Acute phase of experimental Chagas' disease in rabbits: I. Parasitological aspects. In: Resumos da VIII Reunião Anual sobre Pesquisa Básica em Doença de Chagas, Caxambu, p. 29, 1981.
  • 15. Ribeiro dos Santos R, Hudson L. Denervation and immune response in mice infected with Trypanosoma cruzi Clinical and Experimental Immunology 44: 349-354, 1981.
  • 16. Schmatz DM, Boltz RC, Murray PK. Trypanosoma cruzi separation of broad and slender trypomastigotes using a continuous hypaque gradient. Parasitology 87: 219-227, 1983.
  • 17. Silva LHP, Nussenzweig V. Sobre uma cepa de Trypanosoma cruzi altamente virulenta para o camundongo branco. Folia Clinica et Biologica 20:191-208,1953.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Dez 1985

Histórico

  • Aceito
    15 Abr 1984
  • Recebido
    15 Abr 1984
Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - SBMT Caixa Postal 118, 38001-970 Uberaba MG Brazil, Tel.: +55 34 3318-5255 / +55 34 3318-5636/ +55 34 3318-5287, http://rsbmt.org.br/ - Uberaba - MG - Brazil
E-mail: rsbmt@uftm.edu.br