Alternativas de controle do Triatoma sórdida no Triângulo Mineiro. I. Borrifação parcial (intradomicílio) no Município de Douradoquara, MG, Brasil

Diotaiuti, Liléia; Carneiro, Mariângela; Loiola, Carlos Catão P.; Silveira Neto, Horácio V.; Coutinho, Rosana Mourão; Dias, João Carlos Pinto

doi:10.1590/S0037-86821988000400008

Resumos

O município de Douradoquara vem sendo regularmente trabalhado pela SUCAM desde 1975. Atualmente, a espécie prevalente é o T. sórdida, cujo comportamento peridomiciliarfoi aqui estudado na ausência de qualquer inseticida, tomando-se o cuidade de proteger a população através da borrifação dos intradomicílios das unidades positivas em pesquisa integral realizada no primeiro semestre/1985. Um ano depois, realizou-se nova pesquisa, confirmando-se a presença abundante do T. sórdida noperidomicílio. Observamos aumento significativo do número de unidades domiciliares positivas em relação à primeira, acompanhada por aumento no número de exemplares de triatomíneos capturados. O principal ecótopo encontrado foi o paiol seguido pelo galinheiro, chiqueiro e outros. A negativação espontânea de alguns ecótopos e a positivação de outros indicam grande mobilidade desta espécie, inclusive das ninfas. Conclui-se pela necessidade de: borrifação do intradomicilio da unidade domiciliar positiva; borrifação do peridomicílio infestado para controle do tamanho das colônias, dificultando o processo de domiciliação triatominica; desenvolvimento de formas alternativas de controle, especialmente em que se busque participação comunitaria.

Doença de Chagas; Controle vetorial; Triatoma sórdida

The municipality of Douradoquara has been surveyed regularly by SUCAM since 1975. Presently the prevalent species of triatomine bug is T. sordida, whose peridomiciliar behaviour was studied here in the absence of any general programme of insecticide application. We have taken care to protect the population by intradomiciliary sprying when the houses were infested during the first semester of 1985. One year after we confirmed the high presence ofl. sordida at the peridomicile. We observed an increase in the number of positive houses compared to the first survey, with an increase of the number of captured triatomines. The principal ecotope was found to be the store-room, followed by chickenhouses, pigsters and others. The spontaneous negativation of some ecotopes and the positivation of others suggest a great mobility of this species including the immature forms. We conclude that it is necessary to: spray the intradomicile of the positive domiciliary unit and spray the infested peridomicile to control the size of the colonies impeding the triatomine domiciliation process. The development of alternative methods of triatomine control must emphasise those that seek community participation.

Chagas' disease; Vector control; Triatoma sordida

ARTIGOS

Alternativas de controle do Triatoma sórdida no Triângulo Mineiro. I. Borrifação parcial (intradomicílio) no Município de Douradoquara, MG, Brasil

Liléia Diotaiuti^I; Mariângela Carneiro^II; Carlos Catão P. Loiola^II; Horácio V. Silveira Neto^II; Rosana Mourão Coutinho^II; João Carlos Pinto Dias^I

^ICentro de Pesquisas René Rachou. Av. Augusto de Lima, 1715. CP 1743. CEP 30190. Belo Horizonte, MG

^IISUCAM/DRMG. Rua Curitiba, 715

RESUMO

O município de Douradoquara vem sendo regularmente trabalhado pela SUCAM desde 1975. Atualmente, a espécie prevalente é o T. sórdida, cujo comportamento peridomiciliarfoi aqui estudado na ausência de qualquer inseticida, tomando-se o cuidade de proteger a população através da borrifação dos intradomicílios das unidades positivas em pesquisa integral realizada no primeiro semestre/1985. Um ano depois, realizou-se nova pesquisa, confirmando-se a presença abundante do T. sórdida noperidomicílio. Observamos aumento significativo do número de unidades domiciliares positivas em relação à primeira, acompanhada por aumento no número de exemplares de triatomíneos capturados. O principal ecótopo encontrado foi o paiol seguido pelo galinheiro, chiqueiro e outros. A negativação espontânea de alguns ecótopos e a positivação de outros indicam grande mobilidade desta espécie, inclusive das ninfas. Conclui-se pela necessidade de: borrifação do intradomicilio da unidade domiciliar positiva; borrifação do peridomicílio infestado para controle do tamanho das colônias, dificultando o processo de domiciliação triatominica; desenvolvimento de formas alternativas de controle, especialmente em que se busque participação comunitaria.

Palavras-chave: Doença de Chagas. Controle vetorial. Triatoma sórdida.

ABSTRACT

The municipality of Douradoquara has been surveyed regularly by SUCAM since 1975. Presently the prevalent species of triatomine bug is T. sordida, whose peridomiciliar behaviour was studied here in the absence of any general programme of insecticide application. We have taken care to protect the population by intradomiciliary sprying when the houses were infested during the first semester of 1985. One year after we confirmed the high presence ofl. sordida at the peridomicile. We observed an increase in the number of positive houses compared to the first survey, with an increase of the number of captured triatomines. The principal ecotope was found to be the store-room, followed by chickenhouses, pigsters and others. The spontaneous negativation of some ecotopes and the positivation of others suggest a great mobility of this species including the immature forms. We conclude that it is necessary to: spray the intradomicile of the positive domiciliary unit and spray the infested peridomicile to control the size of the colonies impeding the triatomine domiciliation process. The development of alternative methods of triatomine control must emphasise those that seek community participation.

Keywords: Chagas' disease. Vector control. Triatoma sordida.

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Recebido para publicação em 4/12/87.

1. Dias JCP. Aspectos socío-culturales y económicos relativos al vector de laenfermedadde Chagas. In: Carcavallo R, Rabinovich JE, Tonn RJ (ed) Factores biológicos y ecológicos en la enfermedad de Chagas. OPS/OMS/Servicio Nacional de Chagas/Ministerio de Salud y Acción Social. Caracas, p. 289-304, 1985.
2. Diotaiuti L, Dias JCP, Loiola CF, Pimenta Jr. FG. Importância atual e perspectivas de controle do T. sordida em Minas Gerais. Infestação de ecótopos artificiais nos municípios de Mato Verde (Norte de Minas) e Itapagipe (Triângulo). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 19 (Suplemento): 47, 1986.
3. Fabri RH. Levantamento epidemiológico da doença de Chagas no Bairro das Alagoas (Conceição das Alagoas- MG). Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Tese de Mestrado. 86 pp., 1985.
4. Forattini OP. Biogeografia, origem e distribuição da domiciliação de triatomíneos no Brasil. Revista de Saúde Pública, (São Paulo) 14: 265-299, 1980.
5. Forattini OP, Ferreira O A, Rocha e Silva EO, Rabello EX. Aspectos ecológicos da tripanossomíase americana. VII. Permanência e mobilidade do Triatoma sordida em relação aos ecótopos artificiais. Revista de Saúde Pública, (São Paulo) 9: 467, 1975.
6. Forattini OP, Ferreira OA, Rocha e Silva EO, Rabello EX. Aspectos ecológicos da tripanossomíase americana. XV - Desenvolvimento, variação e permanência de Triatoma sordida, Panstrongylus megistus e Rhodnius neglectus em ecótopos artificiais. Revista de Saúde Pública (São Paulo) 13: 220-234. 1979.
7. Forattini OP, Ferreira OA, Rocha e Silva EO, Rabello EX, Santos JLF. Aspectos ecológicos da Tripanossomose americana. II. Distribuição e dispersão local de triatomíneos em ecótopos naturais e artificiais. Revista de Saúde Pública, (São Paulo) 5: 163-191, 1971.
8. Forattini OP, Rocha e Silva EO, Ferreira OA, Rabello EX, Pattoli DGB. Aspectos ecológicos da tripanossomose americana. III - Dispersão local de triatomíneos, com especial referência ao Triatoma sordida Revista de Saúde Pública, São Paulo 5: 193-205, 1971.
9. Hollanda HH. Saúde como compreensão de vida. Um manual de educação para a saúde. Brasília, Divisão Nacional de Educação Sanitária, 1976.
10. Mineo JR, Costa JM, Prado PD, Pimenta CV, Penido NO, Passeri CR, Costa MC, Souza MA. Estudo da transmissão da doença de Chagas nas zonas rural e urbana do município de Gurinhatã, MG. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 17 (suplemento): 67, 1984.
11. Rocha e Silva EO, Dias Jr J, Guarita OF. Suspensão do rociado no combate ao Triatoma infestans em áreas do Estado de São Paulo, Brasil. Revista de Saúde Pública, (São Paulo) 3: 173-181, 1969.
12. Silveira AC, Feitosa VR, Borges R. Distribuição de triatomíneos capturados no ambiente domiciliar, no período de 1975/83, Brasil. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais 36: 15-312, 1984.
13. SUCAM/M.S./DIDOCH - Manual de normas técnicas da Campanha de Controle da Doença de Chagas. Centro de Documentação do Ministério da Saúde, Brasília, 1980.
14. SUCAM/DRMG/MS. Relatório de Atividades, 1986.

Datas de Publicação

Publicação nesta coleção
27 Maio 2013
Data do Fascículo
Dez 1988

Histórico

Recebido
04 Dez 1987
Aceito
04 Dez 1987

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[1] 1. Dias JCP. Aspectos socío-culturales y económicos relativos al vector de laenfermedadde Chagas. In: Carcavallo R, Rabinovich JE, Tonn RJ (ed) Factores biológicos y ecológicos en la enfermedad de Chagas. OPS/OMS/Servicio Nacional de Chagas/Ministerio de Salud y Acción Social. Caracas, p. 289-304, 1985.

[2] 2. Diotaiuti L, Dias JCP, Loiola CF, Pimenta Jr. FG. Importância atual e perspectivas de controle do T. sordida em Minas Gerais. Infestação de ecótopos artificiais nos municípios de Mato Verde (Norte de Minas) e Itapagipe (Triângulo). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 19 (Suplemento): 47, 1986.

[3] 3. Fabri RH. Levantamento epidemiológico da doença de Chagas no Bairro das Alagoas (Conceição das Alagoas- MG). Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Tese de Mestrado. 86 pp., 1985.

[4] 4. Forattini OP. Biogeografia, origem e distribuição da domiciliação de triatomíneos no Brasil. Revista de Saúde Pública, (São Paulo) 14: 265-299, 1980.

[5] 5. Forattini OP, Ferreira O A, Rocha e Silva EO, Rabello EX. Aspectos ecológicos da tripanossomíase americana. VII. Permanência e mobilidade do Triatoma sordida em relação aos ecótopos artificiais. Revista de Saúde Pública, (São Paulo) 9: 467, 1975.

[6] 6. Forattini OP, Ferreira OA, Rocha e Silva EO, Rabello EX. Aspectos ecológicos da tripanossomíase americana. XV - Desenvolvimento, variação e permanência de Triatoma sordida, Panstrongylus megistus e Rhodnius neglectus em ecótopos artificiais. Revista de Saúde Pública (São Paulo) 13: 220-234. 1979.

[7] 7. Forattini OP, Ferreira OA, Rocha e Silva EO, Rabello EX, Santos JLF. Aspectos ecológicos da Tripanossomose americana. II. Distribuição e dispersão local de triatomíneos em ecótopos naturais e artificiais. Revista de Saúde Pública, (São Paulo) 5: 163-191, 1971.

[8] 8. Forattini OP, Rocha e Silva EO, Ferreira OA, Rabello EX, Pattoli DGB. Aspectos ecológicos da tripanossomose americana. III - Dispersão local de triatomíneos, com especial referência ao Triatoma sordida Revista de Saúde Pública, São Paulo 5: 193-205, 1971.

[9] 9. Hollanda HH. Saúde como compreensão de vida. Um manual de educação para a saúde. Brasília, Divisão Nacional de Educação Sanitária, 1976.

[10] 10. Mineo JR, Costa JM, Prado PD, Pimenta CV, Penido NO, Passeri CR, Costa MC, Souza MA. Estudo da transmissão da doença de Chagas nas zonas rural e urbana do município de Gurinhatã, MG. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 17 (suplemento): 67, 1984.

[11] 11. Rocha e Silva EO, Dias Jr J, Guarita OF. Suspensão do rociado no combate ao Triatoma infestans em áreas do Estado de São Paulo, Brasil. Revista de Saúde Pública, (São Paulo) 3: 173-181, 1969.

[12] 12. Silveira AC, Feitosa VR, Borges R. Distribuição de triatomíneos capturados no ambiente domiciliar, no período de 1975/83, Brasil. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais 36: 15-312, 1984.

[13] 13. SUCAM/M.S./DIDOCH - Manual de normas técnicas da Campanha de Controle da Doença de Chagas. Centro de Documentação do Ministério da Saúde, Brasília, 1980.

[14] 14. SUCAM/DRMG/MS. Relatório de Atividades, 1986.