Acessibilidade / Reportar erro

Cura espontânea da leishmaniose causada por Leishmania Viannia Braziliensis em lesões cutâneas

Resumos

Os autores relatam que durante 14 anos de trabalho clínico em campo, realizado nas comunidades de Três Braços e Corte de Pedra, Bahia, acompanharam 1.416 pacientes portadores de Leishmaniose Tegumentar Americana, cuja espécie envolvida na transmissão, é predominantemente a Leishmania Viannia brasilienses. A terapêutica utilizada rotineiramente nos casos é o antimoniato-N-metilglucamina (Glucantime). Contudo, 16 pacientes do sexo masculino recusaram-se a utilizar a medicação e 6 do sexo feminino encontravam-se em período gestacional, portanto não utilizaram o medicamento. Estes pacientes foram acompanhados por um período entre 4 a 12 anos, a partir do diagnóstico. Observou-se que em 9 pacientes (40,9%) desta casuística, o tempo de cicatrizaçâo após o aparecimento da lesão, pode ser calculado em 6 meses de evolução. Quando se eleva a observação para 12 meses, temos que 19 pacientes (86,3%) cicatrizaram suas lesões neste período. Em 3 casos (13,6%) as lesões permaneceram ativas por mais de 12 meses. Conclui-se que os determinantes da cicatrizaçâo natural das lesões produzidas por Leishmania Viannia Braziliensis permanecem desconhecidos, dificultando para nós entendermos e compararmos aos efeitos das drogas utilizadas no tratamento da leishmaniose tegumentar.

Cura espontânea; Leishmania Viannia Braziliensis; Lesão cutânea


In field clinics in the comunities of Três Braços and Corte de Pedra, Bahia, we have attended 1.416 patients with tegumentary leishmaniasis in fourteen years, the predomi nant species in transmission is Leishmania Viannia brasiliensis (LVB). Because of the danger of metastasis with this infection treatment was routinely recomended with Glucantime. However sixteen patients refused injection therapy and six women were pregnant when seen and not treated. All patients were followed up in our clinic. All these patients closed their skin ulcers although one subsequently relapsed. Patients were followed up for variable periods (four to twelve years), after the diagnosis. In nine patients (40,9%) of the cohort, the time to healing after initiation of the lesion was calculated as six months of evolution. At twelve months, nineteen patients (86,3%) had complete healing of their lesions. In three patients an active lesion was present for longer than one year. The determinants of this variable natural evolution of human LVB lesion remains completely unknown. It is difficult for us to understand and compare the effects of therapeutic agents in mucocutaneous leishmaniasis.

Spontaneous healing; Leishmania Viannia Braziliensis; Cutaneous lesion


ARTIGOS

Cura espontânea da leishmaniose causada por Leishmania Viannia Braziliensis em lesões cutâneas

Jackson Maurício Lopes Costa; Kyola Costa Vale, Flávio França; Ana Cristina R. Saldanha; Joilda Oliveira da Silva; Ednaldo L. Lago; Philip D. Marsden; Albino V. Magalhães; Conceição de Maria P. e Silva; Artur Serra Neto; Clóvis Eduardo S. Galvão

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Dr. Jackson M.L. Costa. Disc. Doenças Infecciosas e Parasitárias/Depto. de Patologia/FM/UFMA. Largo dos Amores 351. 65000 São Luís. MA.

RESUMO

Os autores relatam que durante 14 anos de trabalho clínico em campo, realizado nas comunidades de Três Braços e Corte de Pedra, Bahia, acompanharam 1.416 pacientes portadores de Leishmaniose Tegumentar Americana, cuja espécie envolvida na transmissão, é predominantemente a Leishmania Viannia brasilienses. A terapêutica utilizada rotineiramente nos casos é o antimoniato-N-metilglucamina (Glucantime). Contudo, 16 pacientes do sexo masculino recusaram-se a utilizar a medicação e 6 do sexo feminino encontravam-se em período gestacional, portanto não utilizaram o medicamento. Estes pacientes foram acompanhados por um período entre 4 a 12 anos, a partir do diagnóstico. Observou-se que em 9 pacientes (40,9%) desta casuística, o tempo de cicatrizaçâo após o aparecimento da lesão, pode ser calculado em 6 meses de evolução. Quando se eleva a observação para 12 meses, temos que 19 pacientes (86,3%) cicatrizaram suas lesões neste período. Em 3 casos (13,6%) as lesões permaneceram ativas por mais de 12 meses. Conclui-se que os determinantes da cicatrizaçâo natural das lesões produzidas por Leishmania Viannia Braziliensis permanecem desconhecidos, dificultando para nós entendermos e compararmos aos efeitos das drogas utilizadas no tratamento da leishmaniose tegumentar.

Palavras-chave: Cura espontânea. Leishmania Viannia Braziliensis. Lesão cutânea.

ABSTRACT

In field clinics in the comunities of Três Braços and Corte de Pedra, Bahia, we have attended 1.416 patients with tegumentary leishmaniasis in fourteen years, the predomi nant species in transmission is Leishmania Viannia brasiliensis (LVB). Because of the danger of metastasis with this infection treatment was routinely recomended with Glucantime. However sixteen patients refused injection therapy and six women were pregnant when seen and not treated. All patients were followed up in our clinic. All these patients closed their skin ulcers although one subsequently relapsed. Patients were followed up for variable periods (four to twelve years), after the diagnosis. In nine patients (40,9%) of the cohort, the time to healing after initiation of the lesion was calculated as six months of evolution. At twelve months, nineteen patients (86,3%) had complete healing of their lesions. In three patients an active lesion was present for longer than one year. The determinants of this variable natural evolution of human LVB lesion remains completely unknown. It is difficult for us to understand and compare the effects of therapeutic agents in mucocutaneous leishmaniasis.

Keywords: Spontaneous healing. Leishmania Viannia Braziliensis. Cutaneous lesion.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido para publicação em 28/01/88.

Núcleo de Medicina Tropical e Nutrição da Universidade de Brasília. Superintendência de Campanhas (SUCAM) Ministério da Saude. Brasília. DF.

Suporte financeiro do USPITS Grant AI 16282-04.

  • 1. Badaró R, Jones TC, Carvalho EM, Sampaio D, Reed SG, Barrai A, Teixeira R e Johnson JR WD. New perspectives on a subclinical form of visceral leishmaniasis. The Journal of Infectious Disease 154: 1003- 1011,1986.
  • 2. Barrai A, Carvalho EM, Grimaldi G, Almeida RP, Ribeiro de Jesus A, Netto EM, Santos IA, Badaró R, Barrai Netto M e Johnson JR WD. Clinical and diagnostic relevance of lynphadenopathy in human cutaneous leishmaniasis (Em via de publicação).
  • 3. Costa JML. Estudo clínico-epidemiológico de um surto epidêmico de Leishmania Tegumentar Americana em Corte de Pedra-Bahia. Tese de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, 1986.
  • 4. Costa JML, Aristimino Barrios L, Netto EM, Marsden PD. Topical Pentostam in an Attempt to produce more rapid healing of skin ulcers due to Leishmania brasiliensis brasiliensis Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 19: 199-200, 1986.
  • 5. Costa JML, Netto EM, Vale KC, Osaki NK, Tada MS, Marsden PD. Spontaneous healing oi Leishmania brasiliensis brasiliensis skin ulcers. Transations of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene 21: 606, 1987.
  • 6. Guerra MVF. Avaliação da quimioterapia na leishmaniose muco-cutânea em Três Braços-Bahia. Documento mimiografado.
  • 7. Heinzel FP, Sadick MD, Holaday BJ, Coffman RL e Locksley RM. Reciprocal expression of interferon gamma or interleukin-4 during the resolution or distinat helper T cell subsets. Journal of Experimental Medicine 169: 59-72, 1989.
  • 8. Llanos-Cuentas EA. Estudo clínico evolutivo da Leish-maniose em área endêmica de Leishmania brasiliensis brasiliensis, Três Braços, Bahia. Tese de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, 1984.
  • 9. Magalhães AV, Moraes MAP, Raick NA, Llanos- Cuentas EA, Costa JML, Cuba Cuba CA, Marsden PD. Histopatologia da Leishmaniose Tegumentar por Leishmania brasiliensis brasiliensis I. Padrões histopatológicos e estudo evolutivo das lesões. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 28: 253- 262, 1986.
  • 10. Magalhães AV, Moraes MAP, Raick NA, Llanos- Cuentas EA, Costa JML, Cuba Cuba CA, Marsden PD. Histopatologia da Leishmaniose Tegumentar por Leishmania brasiliensis brasiliensis II. Resposta humoral tissular. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 28: 293-299, 1986.
  • 11. Magalhães AV, Moraes MAP, Raick NA, Llanos- Cuentas EA, Costa JML, Cuba Cuba CA, Marsden PD. Histopatologia da Leishmaniose Tegumentar por Leishmania brasiliensis brasiliensis III. Reação celular nos tecidos. Revista do Instituto de Medicina Tropical de SâoPaulo 28: 300-311, 1986.
  • 12. Magalhães AV, Moraes MAP, Raick NA, Llanos- Cuentas EA, Costa JML, Cuba Cuba CA, Marsden PD. Histopatologia da Leishmaniose Tegumentar por Leishmania brasiliensis brasiliensis IV. Classificação histopatológica. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 28: 421-430, 1986.
  • 13. Marsden PD. Novos conceitos sobre os antimoniais pentavalentes no tratamento da Leishmaniose. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 16: 172- 174, 1983.
  • 14. Marsden PD. Mucosal leishmaniasis ("Espundia" Escomel 1911). Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, 80: 859-875, 1986.
  • 15. Pessoa SB. Dados sobre a epidemiologia da Leishmaniose Tegumentar em São Paulo. O Hospital 19: 385- 409, 1941.
  • 16. Raó CA. Leishmaniose ulcerosa e seu parasita. Tese, Rio de Janeiro, 1911.
  • 17. Ridley DS, Marsden PD, Cuba CC, Barreto AC. A histopatology classification of mucocutaneous leishmaniasis in Brazil and its clinical evaluation. Transaction of the Royal Society of Tropical Medicine and Higiene 74: 508-514, 1980.
  • 18. Solano AE, Hidalgo HH, Zeledon RA. Tratamento intralesional exitoso de la leishmaniasis por Leishmania brasiliensis panamensis com Glucantime. Medicina Cutís ILA 12: 19-24, 1984.
  • Endereço para correspondência:

    Dr. Jackson M.L. Costa. Disc.
    Doenças Infecciosas e Parasitárias/Depto. de Patologia/FM/UFMA.
    Largo dos Amores 351.
    65000
    São Luís. MA.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Maio 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 1990

    Histórico

    • Recebido
      28 Jan 1988
    • Aceito
      28 Jan 1988
    Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - SBMT Caixa Postal 118, 38001-970 Uberaba MG Brazil, Tel.: +55 34 3318-5255 / +55 34 3318-5636/ +55 34 3318-5287, http://rsbmt.org.br/ - Uberaba - MG - Brazil
    E-mail: rsbmt@uftm.edu.br