Acessibilidade / Reportar erro

Comparação do parasitismo da veia central da supra-renal com o de outros tecidos em chagásicos crônicos

Resumos

Através da análise morfológica e morfométrica de cortes seriados foi estudada a ocorrência de ninhos de T. cruzi na veia central e no parênquima das supra-renais, no miocárdio ventricular esquerdo e na veia cava inferior de chagásicos crônicos. Em 36 casos estudados, 50% apresentavamfleboparasitismo supra-renálico (total 29 ninhos); 3,1% apresentavamparasitismo na veia cava (apenas 1 ninho) e em 16,8% dos casos encontramos miocardiócitos parasitados (total 23 ninhos). A densidade de parasitismo, expressa em número de ninhos por 100mm² de tecido examinado, foi de 0,585 para a veia supra-renálica, de 0,001 para a veia cava e 0,01 para o miocárdio. Em 269.103,1mm² deparênquima supra-renálico não encontramos nenhum ninho. Embora tenha sido a menor área examinada, a veia central apresentou a maior freqüência de ninhos de T. cruzi. Como a diferença básica entre estes tecidos está na riqueza de corticóides no sangue que nutre a veia central, podemos admitir que esta prevalência talvez seja devido ao ambiente hormonal, que por seu efeito imunossupressoreanti-inflamatório favoreceria a sobrevida dos parasitas.

Supra-renaL Veia cava inferior; Miocárdio; Trypanosoma cruzi; Doença de Chagas


By morphological and morphometric analyses of serial sections the occurrence of T. cruzi nests in the central vein and in the parenchyma of adrenal glands, in the left ventricular wall and in the inferior vena cava wall in chronic Chagasic patients was studied. Of 36 cases 50% showed parasites in the adrenal central vein wall (total 29 nests), 3.1% showedparasites in the vena caval wall (only I nest) and 16,8% we found parasites in the myocardiocytes (total 23 nests). The density of parasites measured in the nests for each 100mm² of the tissue examined, was 0.585 for the adrenal vein, 0.001 for the vena cava and 0.01 for the myocardium. No nest was found in 269103.1mm² of adrenal parenchyma. Although the central vein area examined was smaller, it showed the largest frequency of T. cruzi nests. Since a basic difference between these tissues is the great quantity of corticoids in the blood of the adrenal central vein, this prevalence may be because of this hormonal ambient, which with its immunosupressor and anti-inflammatory effects could help T. cruzi survival

Adrenal; Inferior vena cava; Myocardium; Trypanosoma cruzi; Chagas disease


ARTIGOS

Comparação do parasitismo da veia central da supra-renal com o de outros tecidos em chagásicos crônicos

Vicente de Paula Antunes Teixeira; Marlene Antônia dos Reis; Maria Betânia Mahler Araújo; Suzana Aparecida Silveira; Lucelena dos Reis; Hipolito de Oliveira Almeida

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Prof. Vicente de Paula Antunes Teixeira. Disciplina de Patologia Geral/FMTM. Pça. Manoel Terra s/n 38100 Uberaba, MG.

RESUMO

Através da análise morfológica e morfométrica de cortes seriados foi estudada a ocorrência de ninhos de T. cruzi na veia central e no parênquima das supra-renais, no miocárdio ventricular esquerdo e na veia cava inferior de chagásicos crônicos. Em 36 casos estudados, 50% apresentavamfleboparasitismo supra-renálico (total 29 ninhos); 3,1% apresentavamparasitismo na veia cava (apenas 1 ninho) e em 16,8% dos casos encontramos miocardiócitos parasitados (total 23 ninhos). A densidade de parasitismo, expressa em número de ninhos por 100mm2 de tecido examinado, foi de 0,585 para a veia supra-renálica, de 0,001 para a veia cava e 0,01 para o miocárdio. Em 269.103,1mm2 deparênquima supra-renálico não encontramos nenhum ninho. Embora tenha sido a menor área examinada, a veia central apresentou a maior freqüência de ninhos de T. cruzi. Como a diferença básica entre estes tecidos está na riqueza de corticóides no sangue que nutre a veia central, podemos admitir que esta prevalência talvez seja devido ao ambiente hormonal, que por seu efeito imunossupressoreanti-inflamatório favoreceria a sobrevida dos parasitas.

Palavras-chave: Supra-renaL Veia cava inferior. Miocárdio. Trypanosoma cruzi. Doença de Chagas.

ABSTRACT

By morphological and morphometric analyses of serial sections the occurrence of T. cruzi nests in the central vein and in the parenchyma of adrenal glands, in the left ventricular wall and in the inferior vena cava wall in chronic Chagasic patients was studied. Of 36 cases 50% showed parasites in the adrenal central vein wall (total 29 nests), 3.1% showedparasites in the vena caval wall (only I nest) and 16,8% we found parasites in the myocardiocytes (total 23 nests). The density of parasites measured in the nests for each 100mm2 of the tissue examined, was 0.585 for the adrenal vein, 0.001 for the vena cava and 0.01 for the myocardium. No nest was found in 269103.1mm2 of adrenal parenchyma. Although the central vein area examined was smaller, it showed the largest frequency of T. cruzi nests. Since a basic difference between these tissues is the great quantity of corticoids in the blood of the adrenal central vein, this prevalence may be because of this hormonal ambient, which with its immunosupressor and anti-inflammatory effects could help T. cruzi survival

Keywords: : Adrenal. Inferior vena cava. Myocardium. Trypanosoma cruzi. Chagas disease.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido para publicação em 13/12/90.

Trabalho da Disciplina de Patologia Geral, Faculdade de Mediçina do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG.

  • 1. Almeida HO, Barbosa AJA, Gobbi H, Reis MA, Teixeira VPA, Brandão MC. Leiomiócitos e miocardiócitos parasitados pelo Trypanosoma cruzi em chagásicos crônicos: estudo comparativo. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 48:217-222, 1987.
  • 2. Almeida HO, Martins E, Franciscon JU, Teixeira VPA, Barbosa AJA, Gobbi H, Reis MA. Características das células parasitadas pelo Trypanosoma cruzi na parede da veia central das supra-renais de chagàsicos crônicos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 19:227-231, 1986.
  • 3. Almeida HO, Tafuri, WL, Bogliolo L, Cunha JC. Parasitismo incomum do miocárdio e do esôfago em chagásico crônico portador de doença de Hodgkin e em uso de imunodepressores. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 8:117-121, 1974.
  • 4. Almeida HO, Teixeira VPA, Oliveira ACF. Flebite com parasitismo em supra-renais de chagàsicos crônicos. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 36:341-344, 1981.
  • 5. Almeida HO, Teixeira VPA, Reis MA, Franciscon JU, Martins E. Modificações nucleares em células parasitadas pelo Trypanosoma cruzi em chagàsicos crônicos. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 20:147-152, 1987.
  • 6. Amato Neto V, Campos R, Matsubara L, Uip DE, Moreira AAB, Souza HBWT. Avaliações parasitológicas em pacientes com doença de Chagas submetidos a transplante cardíaco. In: Resumos da IV Reunião Anual Sobre Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas, Araxá p. 22, 1987.
  • 7. Andrade SG, Macedo V. Tratamento combinado da doença de Chagas com Bayer 2502 e corticóide (estudo experimental e clínico). Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 15:421-430, 1973.
  • 8. Andrade ZA, Andrade SG. Patologia. In: Brener Z, Andrade ZA (ed) Trypanosoma cruzi e doença de Chagas. 1a edição, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro p. 199-248, 1979.
  • 9. Barbosa Jr AA. Andrade ZA. Identificação do Trypanosoma cruzi nos tecidos extracardíacos de portadores de miocardite crônica chagásica. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 17:123-126, 1984.
  • 10. Brener Z. O parasito: relações hospedeiro-parasito. In: Brener, Z, Andrade ZA (ed) Trypanosoma cruzi e doença de Chagas, 1a edição, Guanabara-Koogan, Rio de Janeiro p. 1-41, 1979.
  • 11. Chagas C. Nova tripanosomíase humana. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 1:159-218, 1909.
  • 12. Chagas C. Aspecto clínico geral da nova entidade mórbida produzida pelo Schizotrypanum cruzi Brazil- Médico 24:263-265, 1910.
  • 13. Chagas C. Nova entidade mórbita do homem. Resumo geral de estudos etiológicos e clínicos. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 3:219-274, 1911.
  • 14. Chagas C. O mal de Chagas. Archivo da Sociedade de Medicina e Cirurgia de São Paulo 3:34-66, 1912.
  • 15. Chagas C. Clinical and anatomo-pathological aspects of american trypanosomiasis. New Orleans Medical and Surgical Journal, index 1919-1920, reprinted from Prensa Medica Argentina 3:125-127, 1916.
  • 16. Chagas C. Processos patojenicos da tripanozomiase americana. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 8:5- 36, 1916.
  • 17. Chagas C. Descoberta do Trypanosoma cruzi e verificação da tripanozomiase americana. Retrospecto histórico. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 15:67-76, 1922.
  • 18. Costa SCG, Lagrande PH. Development of cell mediated immunity to flagellar antigens and acquired resistance to infection by Trypanosoma cruzi in mice. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 76:367-381, 1981.
  • 19. Crowell BC. The acute form of American Trypanosomiasis: notes on its pathology, with autopsy report and observations on trypanosomiasis in animals. American Journal of Tropical Medicine 3:425-454, 1923.
  • 20. Culbertson JT, Kolodny MH. Acquired immunity in rats against Trypanosoma cruzi Journal of Parasitology 24:83-90, 1938.
  • 21. França LCM, Fleury RN, Ramos Jr. HA, Lemos S, Melaragno Filho R, Pasternak J. Moléstia de Chagas crônica associada a leucemia linfática: ocorrência de encefalite aguda como alteração do estado imunitário. Arquivos de Neuro-Psiquiatria 27:59-66, 1969.
  • 22. Hanson WL. Immune response and mechanisms of resistence in Trypanosoma cruzi Pan American Health Organization, Scientific Publication 347:22-34, 1977.
  • 23. Koberle F. Cardiopatia chagásica. O Hospital 53:311- 346, 1958.
  • 24. Kolodny MH. Studies on age resistence against tripanosome infections. VII. The influence of age upon the immunological response of rats to infections with Trypanosoma cruzi American Journal of Hygiene 31:1-80, 1940.
  • 25. Lopes ER, Chapadeiro E, Tafuri WL, Prata A. Doença de Chagas. In: Lopes ER, Chapadeiro E, Raso P, Tafuri WL (ed) Bogliolo Patologia, 4? edição, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, p. 1047-1065, 1987.
  • 26. Lopes ER, Tafuri WL, Bogliolo L, Almeida HO, Chapadeiro E, Raso P. Miocardite chagásica aguda humana (ganglionite subepicárdica; agressão à fibra cardíaca por linfócitos; relação entre amastigotas e fibra muscular). Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 19:301-309, 1977.
  • 27. Madeira ED, Campos-Neto A. Cellular cytotoxicity of Trypanosoma cruzi mediated by different classes of antibody and by lectins. Brazilian Journal of Medical and Biological Research 18:207-215, 1985.
  • 28. Merkow L, Pardo M, Epstein SM, Verney E, Sidransky H. Lisosomal stability during phagocitosis of Aspergillus flavus spores by alveolar macrophages of cortisone- treated mice. Science 160:79, 1968.
  • 29. Nery-Guimarães F, Lage HA. Ação da cortisona e da betametasona na doença de Chagas experimental. O Hospital 77:119-132, 1970.
  • 30. Nery-Guimarães F, Silva NN, Clauseil DT, Mello AL, Rapone T, Snell T, Rodrigues N. Um surto epidêmico de doença de Chagas de provável transmissão digestiva, ocorrido em Teutonia (Estrela - Rio Grande do Sul). O Hospital 73: 1767-1804, 1968.
  • 31. Okumura M, Décourt LV. Estudo de efeitos de administração de drogas imunodepressoras sobre a moléstia de Chagas experimental. Revista do Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina de São Paulo 24:335-342, 1969.
  • 32. Okumura M, França LCM, Corrêa Netto A. Comentários sobre a patogenia da moléstia de Chagas. Especial referência à infecção experimental em camundongos. Revista do Hospital das Clinicas, Faculdade de Medicina de São Paulo 18:151-164, 1963.
  • 33. Pizzi T, Chemke J. Acción de la cortisona sobre la infection experimental de la rata por Trypanosoma cruzi Biologica 21:3-30, 1955.
  • 34. Pizzi T, Rubio M, Prager R, Silva R. Acción de la cortisona en la infection experimental por Trypanosoma cruzi Boletin Chileno de Parasitologia 7:22-24, 1952.
  • 35. Rassi A, Doles J, Cardoso VM, Silva OQ, Leite MSB. Aumento da parasitemia na fase crônica da doença de Chagas humana, na vigência de terapêutica corticosteróide. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 23(supl):55, 1970.
  • 36. Rubbio M. Influência del acetato de cortisona sobre la virulência y localización tissular de una nueva cepa de Trypanosoma cruzi Estúdio de la persistência de los câmbios observados. Biologica 21:75-89, 1955.
  • 37. Seneca H, Wolf A. Trypanosoma cruzi infection in the Indian monkey. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 4:1009-1014, 1955.
  • 38. Sommers SC. Adrenal gland. In: Kissane JM, Anderson WAD (ed) Anderson's Pathology, 8th edition, CV Mosby, Saint Louis p. 1429-1450, 1985.
  • 39. Teixeira VPA. Parasitismo da veia central da suprarenal em diferentes formas anátomo-clínicas da doença de Chagas. Tese de Mestrado, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1985.
  • 40. Teixeira VPA, Fernandes PA, Brandão MC, Gobbi H, Reis MA, Almeida HO. Parasitismo incomum na veia central da supra-renal em chagásicos crônicos. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 47:425-428, 1986.
  • 41. Uip DE, Strabell TMV, Belotti G, Bocchi GA, Stolf N, Pileggi F, Jatene AD, Amato Neto V. Evolução clínica de pacientes com doença de Chagas submetidos a transplante cardíaco. In: Resumos da IV Reunião Anual Sobre Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas, Araxá p. 24, 1987.
  • 42. Valim EMA. Influência do bloqueio da imunidade humoral e papel desempenhado pela imunidade celular T-dependente, na evolução da cardite da fase aguda da doença de Chagas experimental. Tese de Mestrado, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 1987.
  • 43. Vianna G. Contribuição para o estudo da anatomia patológica da "Moléstia de Carlos Chagas". Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 3:276-294, 1911.
  • 44. Widmer CG, Azevedo ES. Sexo do hospedeiro humano e o desenvolvimento de formas parasitárias do Trypanosoma cruzi no miocárdio. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 14:109-113, 1972.
  • Endereço para correspondência:

    Prof. Vicente de Paula Antunes Teixeira.
    Disciplina de Patologia Geral/FMTM.
    Pça. Manoel Terra s/n
    38100
    Uberaba, MG.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Maio 2013
    • Data do Fascículo
      Jun 1991

    Histórico

    • Aceito
      13 Dez 1990
    • Recebido
      13 Dez 1990
    Sociedade Brasileira de Medicina Tropical - SBMT Caixa Postal 118, 38001-970 Uberaba MG Brazil, Tel.: +55 34 3318-5255 / +55 34 3318-5636/ +55 34 3318-5287, http://rsbmt.org.br/ - Uberaba - MG - Brazil
    E-mail: rsbmt@uftm.edu.br