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Frederico Adolfo Simões Barbosa (<img id="_x0000_i1025" src="../../../../img/revistas/rsbmt/v37n5/21348s1.gif" align=absmiddle>1916 †2004)

NECROLÓGIO OBITUARY

Frederico Adolfo Simões Barbosa (1916 †2004)

A comunidade científica da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e, em particular o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (Fiocruz-Recife), foi empobrecida no dia 8 de março de 2004, com o falecimento aos 88 anos, do ex-diretor, ilustre-pesquisador e professor universitário, Frederico Adolfo Simões Barbosa. Nascido em Pernambuco, em 27 de julho de 1916, filho e neto de médicos professores da Faculdade de Medicina do Recife (atual Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco), definiu-se, na adolescência, pela profissão médica, graduando-se pela mesma Faculdade em dezembro de 1938, tornando-se doutor em Medicina por essa Escola Médica em 1942. Vocacionado para a pesquisa desde os tempos de estudante, fez estudos de pós-graduação na Universidade de São Paulo em 1939, dedicando-se à Parasitologia sob orientação do Prof. Samuel B. Pessoa e à Micologia, sob a supervisão do Prof. Floriano de Almeida. Em 1945, contemplado com bolsa de estudos do Institute of Inter-American Affairs, viajou para os Estados Unidos, onde permaneceu por 16 meses, obtendo o diploma de Master in Public Health pela conceituada Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade Johns Hopkins, estagiando, ainda, no Museu Nacional em Washington e na Universidade de Michigan, onde aprofundou seus conhecimentos nas áreas da Entomologia e da Malacologia.

Voltando ao Brasil, graduou-se, também, em História Natural pela Universidade Católica de Pernambuco. Seus numerosos títulos acadêmicos incluem quatro docências-livres obtidas pela Universidade Federal de Pernambuco (Parasitologia em 1942, Microbiologia em 1950, Zoologia em 1953 e Medicina Preventiva em 1960), tendo sido Professor titular (concursado) de Higiene e Medicina Preventiva na mesma Universidade (1966), Professor Titular (concursado) de Epidemiologia (1983) na Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Rio de Janeiro), Prof. titular de Medicina da Comunidade, na Universidade de Brasília (1972-1981) e Prof. de Medicina Preventiva na Universidade Federal de São Carlos (1982).

Sua produção científica, que inclue aproximadamente, duas centenas de publicações, versou inicialmente sobre protozoologia, entomologia e micologia médica, o que lhe valeu grande reputação entre os especialistas da época, tendo seus trabalhos sido aceitos por revistas internacionais de elevado conceito, face à importância de seus estudos sobre sistemática de fungos, inclusive descrevendo uma nova espécie de hifomiceto isolado de um caso de onicomicose. Realizou, também, importantes trabalhos sobre taxonomia de culicoides, descrevendo cinco novas espécies desses dípteros, pelo que lhe foi dedicada, posteriormente, por Wirth & Blanton, a espécie de maruin neotropical Culicoides barbosai.

Nomeado em 1950, primeiro Diretor do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (então subordinado à Divisão da Organização Sanitária do Ministério da Saúde, posteriormente incorporado ao Instituto Nacional de Endemias Rurais e, finalmente, à Fundação Oswaldo Cruz), foi responsável pela estuturação das primeiras atividades científicas no CPqAM, aí permanecendo, como diretor e pesquisador, nos períodos de 1950 a 1962 e de 1964 a 1968. A partir de 1950, dedicou-se, particularmente, ao estudo da esquistossomose, endemia de grande significação para a saúde da região, realizando estudos sobre aspectos básicos da taxonomia, biologia e ecologia do parasita e de seus moluscos transmissores, em trabalhos pioneiros, reconhecidos no Brasil e no exterior, aos quais se seguiram investigações sobre a epidemiologia e métodos de controle da parasitose: Uma nova espécie de Trematoda (Echinostoma barbosai) foi criada em sua homenagem.

Foi perito em Doenças Parasitárias, da OMS (1960-1970) e em Organismos Aquáticos, da FAO (1961). Foi membro fundador e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (1977-1978).

Sob sua orientação, o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, em Recife, tornou-se um grande núcleo de formação de pesquisadores e professores de nível superior, tendo fornecido ao país profissionais altamente qualificados, abrindo seus laboratórios para a realização de numerosas teses.

Como professor universitário exerceu atividade docente em Pernambuco e outros Estados do Nordeste, em Brasília e em São Paulo, participando ainda de inúmeras conferências, cursos, seminários e Congressos, no Brasil e no exterior.

A partir da década de 60, passou a interessar-se pelos aspectos sociais da esquistossomose, direcionando suas pesquisas para a área da Medicina Preventiva, inclinando-se, definitivamente, para o campo da Saúde Coletiva.

No período de 1969 a 1971, exerceu o cargo de Medical Officer na sede da OMS em Genebra (Suíça), coordenando o programa de esquistossomose da OMS, o que o levou a realizar visitas, assessorias e avaliação de programas de pesquisa em vários países, sobretudo da África.

Contratado em 1981, como Assessor da antiga Coordenadoria de Ciências da Saúde da Secretaria de Educação Superior do então Ministério da Educação e Cultura, coordenou, em Brasília, a elaboração do Programa de Integração Docente-Assistencial do MEC, que teve por objetivo estimular o desenvolvimento de projetos de integração docente-assistencial nas universidades brasileiras, visando inserir a formação de profissionais da área da saúde na realidade regional e nacional. Exerceu assim, intensa atividade didático-pedagógica, além dos vários cargos técnicos ocupados. Ocupou ainda, o cargo de Diretor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Nacional de Brasília (1975/1976) e da Escola nacional de Saúde Pública da FIOCRUZ (1985-1989). Em 1996, foi agraciado pela UNB com o título de Doutor Honoris-Causa.

Sua formação profissional e humanística abrangentes, permitiu-lhe incursionar nos primeiros anos de sua atividade como professor e pesquisador, em diferentes áreas da pesquisa biomédica, permitindo-lhe migrar posteriormente da área básica para a pesquisa em saúde comunitária e medicina preventiva, onde também deixou importante contribuição, em estudos sobre a epidemiologia da esquistossomose e em variadas experiências de integração docente-assistencial em trabalhos de campo realizados em Pernambuco, Brasília e Espírito Santo. Sua objetividade no trato das questões científicas acha-se bem sintetizada quando recomendava, a propósito dos estudos epidemiológicos a serem realizados contornando limitações de vários tipos, trocar a complexidade pela simplicidade, a extensão pela profundidade, a rígida e cega padronização técnica pela criatividade, a alienação por uma visão comprometida com a comunidade, combatendo a visão excessivamente admirativa pelas conquistas científicas produzidas no mundo desenvolvido, condenando os estudos repetitivos ou imitativos, por vezes tão freqüentes.

Mas, além de seus méritos intelectuais, Frederico Simões Barbosa merece ser lembrado como chefe e amigo, por seu cavalheirismo. Homem de fino trato, a todos encantava por sua delicadeza e simplicidade, sua sensibilidade aos problemas dos humildes, sua dedicação e atenção para com os jovens estudantes que o procuravam para ouvir sua opinião sensata e experiente. Quando diretor, costumava realizar visitas inesperadas e freqüentes aos laboratórios do CPqAM, informando-se sobre resultados e dificuldades encontradas na execução das tarefas quotidianas de seus estudantes e pesquisadores.

Pai exemplar, deixou 5 filhos, frutos de dois casamentos, tendo dois de seus descendentes também optado pela carreira científica.

Sem dúvida, o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (FIOCRUZ-Recife) perdeu a sua figura símbolo e guardará para sempre a lembrança daquele que tanto contribuiu para projetar a instituição no cenário científico nacional e internacional.

Eridan M. Coutinho

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Set 2004
  • Data do Fascículo
    Out 2004
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