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Inquérito epidemiológico sobre a paracoccidioidomicose utilizando a gp43 em dois municípios do noroeste do Paraná, Brasil

Paracoccidioidomycosis epidemiological survey using gp43, in two cities of northwestern region of Paraná, Brazil

Resumos

Foi realizado um inquérito epidemiológico sobre paracoccidioidomicose com gp43, em 118 operários no Noroeste do Paraná. A positividade foi de 43%, o que aliado às condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento do fungo reforçam que essa região seja endêmica para paracoccidioidomicose e também reservárea de Paracoccidioides brasiliensis.

Paracoccidioidomicose; gp43; Inquérito epidemiológico; Intradermorreação


An epidemiological survey was performed in 118 workers from northwestern Paraná state using gp43 as antigen, the positivity was 43%. This result, plus the weather conditions, which are favorable for fungus development, underscores that this region is an endemic area for paracoccidioidomycosis and is a reservoir of Paracoccidioides brasiliensis.

Paracoccidioidomycosis; gp43; Epidemiological survey; Intradermic reaction


COMUNICAÇÃO COMMUNICATION

Inquérito epidemiológico sobre a paracoccidioidomicose utilizando a gp43 em dois municípios do noroeste do Paraná, Brasil

Paracoccidioidomycosis epidemiological survey using gp43, in two cities of northwestern region of Paraná, Brazil

Nair FornajeiroI; Márcia Luzia Ferrarezi MalufI; Gisele TakahachiI; Terezinha Inez Estivalet SvidzinskiII

ILaboratóriode Ensino e Pesquisa em Análises Clínicas da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR

IILaboratório de Micologia Médica da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Profª Terezinha Inez Estivalet Svidzinski Rua Júlio Favoretto 35, Vila Esperança 87020-600 Maringá, PR Tel: 55 44 261-4809, Fax: 55 44 263-1387 e-mail: tiesvidzinski@uem.br

RESUMO

Foi realizado um inquérito epidemiológico sobre paracoccidioidomicose com gp43, em 118 operários no Noroeste do Paraná. A positividade foi de 43%, o que aliado às condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento do fungo reforçam que essa região seja endêmica para paracoccidioidomicose e também reservárea de Paracoccidioides brasiliensis.

Palavras-chaves: Paracoccidioidomicose. gp43. Inquérito epidemiológico. Intradermorreação.

ABSTRACT

An epidemiological survey was performed in 118 workers from northwestern Paraná state using gp43 as antigen, the positivity was 43%. This result, plus the weather conditions, which are favorable for fungus development, underscores that this region is an endemic area for paracoccidioidomycosis and is a reservoir of Paracoccidioides brasiliensis.

Key-words: Paracoccidioidomycosis. gp43. Epidemiological survey. Intradermic reaction.

Paracoccidioidomicose (PCM) é uma das micoses sistêmicas mais importantes da América Latina, sendo mais prevalente no Brasil, Colômbia, Venezuela e Argentina. Em nosso país sua ocorrência é maior nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. A distribuição da doença não é uniforme nessas regiões, são freqüentes as áreas endêmicas que tornam evidentes a influência que fatores ecológicos exercem sobre a existência de P. brasiliensis na natureza3.

PCM é a oitava causa de morte no Brasil considerando as doenças infecciosas e parasitárias predominantemente crônicas. No Paraná, onde é diagnosticada em quase todo o Estado, corresponde à quinta causa de óbitos por doenças dessa natureza e é onde está registrada a maior taxa de mortalidade por PCM do Sul e Sudeste (3,52)2. Esses dados justificaram a implantação de protocolo para diagnóstico e tratamento da PCM no PR e normatização para que a doença seja de notificação obrigatória9. Esse protocolo está em fase de implantação, e é referendado por estudos que mostram a importância da PCM no estado e, na região noroeste especificamente tem sido considerada endêmica. Vários inquéritos epidemiológicos, usando paracoccidioidina, foram realizados no país e indicam a importância epidemiológica dessa doença3.

A investigação indireta da PCM é baseada numa glicoproteína de 43Kda, conhecida como gp43, que é um importante componente exocelular secretado por P. brasiliensis durante a sua fase patogênica6. Corresponde ao componente antigênico majoritário excretado para meios de cultura e pode ser usada no reconhecimento de anticorpos séricos em pacientes com PCM5.

O objetivo do presente estudo foi realizar inquérito epidemiológico sobre PCM na região noroeste do Paraná através de intradermorreação, com gp43 e avaliar algumas condições epidemiológicas que reforçam a importância da PCM na região. Este estudo foi conduzido de acordo com as normas de ética atendendo a resolução Nº 196/96 do Ministério da Saúde referente à pesquisa em seres humanos. Os detalhes metodológicos foram explicados aos voluntários e caso concordasse em participar, cada indivíduo deu seu consentimento por escrito. Nessa ocasião foi preenchida uma ficha epidemiológica com informações sobre os dados dos voluntários, seus hábitos e local de residência.

Os voluntários eram 123 adultos, trabalhadores de indústria de álcool no município de São Carlos do Ivaí que também emprega indivíduos residentes no município Paraíso do Norte. Foram utilizadas seringas hipodérmicas, descartáveis, marca BD para aplicar 0,1mL do antígeno6, por via intradérmica, na face anterior do antebraço esquerdo. A reação de hipersensibilidade tardia foi medida após 48 horas e, considerada positiva a enduração com diâmetro igual ou maior que 5mm.

Cento e dezoito indivíduos comparecem para leitura desses, 51 (43%) apresentaram positividade (Figura 1), sendo 98% do gênero masculino e a idade variou entre 18 e 61 anos, com predomínio da faixa entre a terceira e quinta década de vida. Resultados de intradermorreação semelhantes aos nossos foram encontrados em Londrina11 e Curitiba7 (50% e 51%).


A maior parte dos reatores ou nasceu no noroeste do Paraná (45%) ou era residente num dos dois municípios há mais de 20 anos (33,3%), os demais (Tabela 1) eram em geral, originários da região oeste do Estado de São Paulo, onde a PCM é considerada endêmica. Esse Estado, além de próximo ao PR, possui semelhanças quanto às condições climáticas e com a atividade agrícola que é associada à PCM.

Entre os 51 reatores, 41 referiram residência rural, 28 declararam-se tabagistas e 24 assumiram que ingeriam bebidas alcoólicas mais de duas vezes por semana. Essas informações são importantes considerando-se o efeito potencializador sobre o risco de desenvolvimento da doença, uma vez que associa o fato da sensibilização prévia com o agente a fatores predisponentes8.

Quase a totalidade (112), dos indivíduos estudados relatou conhecer e observar com freqüência a presença de tatu (Dasypus novemcinctus) nas imediações de seu local de trabalho. Esse dado permite inferir a relevância da PCM na região, pois o tatu é hoje considerado reservatório natural de P. brasiliensis e também indicador biológico da PCM. Estudos envolvendo esse animal têm sido fundamentais tanto para a elucidação do nicho ecológico de P. brasiliensis, como para o entendimento de outros aspectos epidemiológicos ainda não esclarecidos desta doença10.

Evidências quanto à sensibilização de indivíduos normais residentes no norte do PR foram mostradas também em estudos sorológicos realizados em doadores de sangue. Índices de 29% e 21% de reatividade foram encontrados em Maringá4 e em Londrina1, respectivamente.

Reatividade de 43% dos indivíduos inquiridos sugere que a PCM seja ainda subestimada em nossa região e mostra a importância de se estabelecer mecanismos que permitam o diagnóstico seguro e estabelecimento precoce de terapêutica adequada. Essa conduta já está sendo priorizada pelas autoridades sanitárias do estado inclusive com a implantação do protocolo para PCM9, iniciativa que tem sido recomendada para os demais estados da união, o que seria um avanço importante para a melhoria das condições de saúde da nossa população.

Recebido para publicação em 9/9/2003

Aceito em 16/11/2004

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  • Endereço para correspondência

    Profª Terezinha Inez Estivalet Svidzinski
    Rua Júlio Favoretto 35, Vila Esperança
    87020-600 Maringá, PR
    Tel: 55 44 261-4809, Fax: 55 44 263-1387
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Mar 2005
    • Data do Fascículo
      Abr 2005

    Histórico

    • Recebido
      09 Set 2003
    • Aceito
      16 Nov 2004
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