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Triatomíneos rupestres infectados por Trypanosomatidae, coletados em Quaraí, Rio Grande do Sul, 2003

Rupestrian triatomines infected by Trypanosomatidae, collected in Quaraí, Rio Grande do Sul, 2003

Resumos

Foram capturados triatomíneos rupestres em seis localidades do município de Quaraí-RS, com o intuito de verificar o índice de infecção por Trypanosomatidae, bem como o animal reservatório. A captura ocorreu no ambiente silvestre, sendo coletados 453 exemplares, os quais foram identificados e separados por estádio ninfal. Coletaram-se 421 (92,9%) exemplares de Triatoma rubrovaria, 26 (5,7%) de Triatoma circummaculata e 6 (1,3%) de Panstrongylus tupynambai. Dentre as três espécies coletadas, somente Triatoma rubrovaria mostrou-se positivo para Trypanosomatidae, num total de 13 (4,2%) exemplares. Após a inoculação em camundongos e meio de cultura LIT, isolaram-se cinco cepas de Trypanosoma cruzi. Dos triatomíneos infectados com Trypanosomatidae, 4 (30,8%) tiveram a reação de precipitina não reagente para os anti-soros testados, 4 (30,8%) positivos para anti-soro de roedor, 4 (30,8%) para anti-soro de cabra e 1 (7,7%) para anti-soro de porco e humano.

Trypanosomatidae; Trypanosoma cruzi; Triatoma rubrovaria; Reservatórios; Rio Grande do Sul


Rupestrian triatomines were captured in six Quaraí city localities, RS, to verify the level of Trypanosomatidae infection, as well as the animal reservoir. The capture occurred in a wild environment and 453 samples were collected, which were identified and separated by nymphal instar. 421 (92.9%) samples of Triatoma rubrovaria, 26 (5.7%) of Triatoma circummaculata and 6 (1.3%) of Panstrongylus tupynambai were collected. Only 13 samples (4.2%) of Triatoma rubrovaria presented Trypanosomatidae infection. After mice and LIT culture inoculation, five strains of Trypanosoma cruzi were isolated. Of these triatomines, 4 (30.8%) displayed no reagent precipitin for the antiserum tested, 4 (30.8%) were positive for rodent antiserum, 4 (30.8%) were positive for goat antiserum and 1 (7.7%) were positive for human and pig antiserum.

Trypanosomatidae; Trypanosoma cruzi; Triatoma rubrovaria; Reservoirs; Rio Grande do Sul


ARTIGO ARTICLE

Triatomíneos rupestres infectados por Trypanosomatidae, coletados em Quaraí, Rio Grande do Sul, 2003

Rupestrian triatomines infected by Trypanosomatidae, collected in Quaraí, Rio Grande do Sul, 2003

Luciamáre Perinetti Alves MartinsI; Roberto Esteves Pires CastanhoI; Cláudio CasanovaII; David Tibiriçá CaravelasI; Guilherme Tardim FriasI; Antônio Leite Ruas-NetoIII; João Aristeu da RosaIV

IFaculdade de Medicina de Marília, Marília, SP

IILaboratório de Mogi-Guaçu da Superintendência de Controle de Endemias, Mogi-Guaçu, SP

IIIUniversidade Estadual do Rio Grande do Sul, RS

IVFaculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade do Estadual Paulista, Campus de Araraquara, Araraquara, SP, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Profª Luciamáre Perinetti Alves Martins Disciplina de Parasitologia/FAMEMA Av. Monte Carmelo 800 17519-030 Marília, SP, Brasil Fax: 55 14 3413-4187 E-mail: luciapam@famema.br

RESUMO

Foram capturados triatomíneos rupestres em seis localidades do município de Quaraí-RS, com o intuito de verificar o índice de infecção por Trypanosomatidae, bem como o animal reservatório. A captura ocorreu no ambiente silvestre, sendo coletados 453 exemplares, os quais foram identificados e separados por estádio ninfal. Coletaram-se 421 (92,9%) exemplares de Triatoma rubrovaria, 26 (5,7%) de Triatoma circummaculata e 6 (1,3%) de Panstrongylus tupynambai. Dentre as três espécies coletadas, somente Triatoma rubrovaria mostrou-se positivo para Trypanosomatidae, num total de 13 (4,2%) exemplares. Após a inoculação em camundongos e meio de cultura LIT, isolaram-se cinco cepas de Trypanosoma cruzi. Dos triatomíneos infectados com Trypanosomatidae, 4 (30,8%) tiveram a reação de precipitina não reagente para os anti-soros testados, 4 (30,8%) positivos para anti-soro de roedor, 4 (30,8%) para anti-soro de cabra e 1 (7,7%) para anti-soro de porco e humano.

Palavras-chaves: Trypanosomatidae. Trypanosoma cruzi. Triatoma rubrovaria. Reservatórios. Rio Grande do Sul.

ABSTRACT

Rupestrian triatomines were captured in six Quaraí city localities, RS, to verify the level of Trypanosomatidae infection, as well as the animal reservoir. The capture occurred in a wild environment and 453 samples were collected, which were identified and separated by nymphal instar. 421 (92.9%) samples of Triatoma rubrovaria, 26 (5.7%) of Triatoma circummaculata and 6 (1.3%) of Panstrongylus tupynambai were collected. Only 13 samples (4.2%) of Triatoma rubrovaria presented Trypanosomatidae infection. After mice and LIT culture inoculation, five strains of Trypanosoma cruzi were isolated. Of these triatomines, 4 (30.8%) displayed no reagent precipitin for the antiserum tested, 4 (30.8%) were positive for rodent antiserum, 4 (30.8%) were positive for goat antiserum and 1 (7.7%) were positive for human and pig antiserum.

Key-words: Trypanosomatidae. Trypanosoma cruzi. Triatoma rubrovaria. Reservoirs. Rio Grande do Sul.

Atualmente, após as campanhas de combate ao Triatoma infestans e sua conseqüente eliminação do domicílio e peridomicílio, triatomíneos silvestres estão se candidatando a assumir a condição de vetores do Trypanosoma cruzi no ambiente domiciliar22.

Triatoma rubrovaria, espécie silvestre, hoje encontrada no Brasil apenas nas regiões do centro ao sul e oeste do Estado do Rio Grande do Sul14 15, aparentemente, nas proximidades das residências, está ocupando o espaço anteriormente colonizado pelo T. infestans2 21. Além do Brasil, esse triatomíneo é encontrado no Uruguai, distribuído por todo seu território17 e na Argentina, em três províncias14.

Essa espécie de triatomíneo possui hábitos rupestres e é encontrado em buracos e fendas de locais pedregosos, onde predominam rochas com características graníticas ou areníticas, alimentando-se do sangue de vários vertebrados principalmente roedores, mantendo assim o ciclo silvestre da tripanossomíase americana1 17 18 19. Outras espécies rupestres também são encontradas nessas regiões como o T. circummaculata, T. carcavalloi, T. klugi, T. oliveirae e Panstrongylus tupynambai, mas somente o T. rubrovaria pode ser comparado ao T. infestans quanto à sinantropia15.

Apesar de não haver indícios da colonização dessas espécies de triatomíneos nas moradias humanas, um aumento da invasão domiciliar e peridomiciliar do T. rubrovaria nos municípios de Quaraí e Santana do Livramento, RS a partir de 1983 tem sido observado1 2.

Diante do fato do município de Quaraí, RS estar em uma região onde é patente a presença do T. rubrovaria, e este triatomíneo mostrar características preadaptativas aos ecótopos antrópicos1, seis localidades deste município foram escolhidas, onde se realizaram capturas de triatomíneos rupestres, após o consentimento da Secretaria da Saúde e Meio Ambiente do Estado e orientação e auxílio de técnicos da Secretaria de Saúde do Estado, com o intuito de verificar o índice de infecção por Trypanosomatidae, bem como suas fontes alimentares.

MATERIAL E MÉTODOS

Características geográficas de Quaraí. O município de Quaraí situa-se na fronteira oeste do Estado do Rio Grande do Sul entre os paralelos 30º22'52'' de latitude sul e meridianos 56º25'31'' de longitude oeste, ligado por uma ponte à cidade de Artigas no Uruguai. Possui altitude de 112m, área de 3.238km2 e clima subtropical, contando no solo com rochas areníticas, que propiciam a instalação de colônias de triatomíneos rupestres, que neste estudo foram representados por T. rubrovaria, T. circummaculata e P. tupynambai.

Coleta dos triatomíneos. Foi realizada no período de 23 a 25 de abril de 2003, em seis localidades rurais do município de Quaraí, RS (Figura 1). A distância aproximada dessas localidades ao perímetro urbano são as seguintes: Branquilhos: 6,2km; Cerro do Marco: 43,6km; Macarrão: 12,9km, Quaraí-Mirim: 23,5km, Cerro do Jarau e Jarau: 15,8km (apesar da localidade Jarau não estar contemplada no mapa, esta é próxima a Cerro do Jarau). Essas localidades caracterizam-se por apresentar ambientes pastoris, terrenos pedregosos (areníticos), sem residências próximas, onde havia criações de ovinos, bovinos e presença de animais silvestres. Todos os exemplares de triatomíneos foram obtidos levantando-se as rochas e realizando a captura manual dos exemplares por meio de pinças.


Transporte dos triatomíneos. Os exemplares coletados e colocados em frascos de polietileno, cobertos com filó e acondicionados em caixas de isopor foram transportados do município de Quaraí para o Laboratório de Parasitologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UNESP, campus Araraquara, SP.

Exame dos triatomíneos. O material capturado foi identificado segundo a espécie e estádio ninfal4 6 10 11. A seguir o conteúdo fecal foi examinado para a pesquisa de Trypanosomatidae, que foi obtido por compressão abdominal utilizando-se de pinças, e de solução salina a 0,85% como diluente. Os insetos mortos durante o transporte foram descartados.

Isolamento das cepas de Trypanosoma cruzi. O conteúdo fecal de cada uma das ninfas de T. rubrovaria que se encontrava com formas de Trypanosomatidae foram inoculadas separadamente em camundongos albinos Swiss com 20 dias de idade e em meio de cultura liver infusion tryptose (LIT)5.

Fontes de alimentação. A prova de precipitina em tubo capilar seguindo a técnica de Siqueira23 foi realizada nos triatomíneos que tiveram suas fezes positivas para Trypanosomatidae. Assim, o conteúdo intestinal desses insetos foi coletado em papel de filtro, acondicionado em geladeira e enviado ao Laboratório da Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN) de Mogi-Guaçu. Cada amostra foi testada frente os anti-soros: ave, cabra, cachorro, marsupial, gato, humano, porco e roedor, produzidos em coelhos, conforme a técnica descrita por Siqueira23. Com exceção dos anti-soros de cão e gato, todos os demais reagiram ao respectivo soro homólogo diluído a 1:10.000 e não reagiram aos soros heterólogos diluídos a 1:10. Após absorção23, os anti-soros de cão e gato reagiram ao respectivo soro homólogo diluído a 1:8.000 e não reagiram aos soros heterólogos diluídos a 1:10.

RESULTADOS

No total, foram coletados 453 triatomíneos, dos quais 421 T. rubrovaria, cuja distribuição por localidade pode ser verificada na Tabela 1; seis ninfas de P. tupynambai, sendo uma de 2º , três de 3º e duas de 5º estádio (macho e fêmea) coletadas na localidade de Jarau, e 26 de T. circummaculata sendo que, 20 ninfas de 5º estádio foram coletadas na localidade de Macarrão, três de 3º e três de 5º no Cerro do Jarau.

Durante o transporte de Quaraí-RS para Araraquara-SP, 112 exemplares de T. rubrovaria morreram; examinando-se desse modo, 309 insetos dos 421 capturados. Feito o exame do conteúdo fecal, 13 (4,2%) ninfas de T. rubrovaria tiveram as fezes positivas para Trypanosomatidae, assim distribuídas por localidade: Macarrão: seis ninfas de 5º estádio; Jarau: três ninfas de 5º estádio; Cerro do Marco: duas ninfas de 5º estádio; Cerro do Jarau: uma ninfa de 4º estádio; Branquilhos: uma ninfa de 5º estádio.

Após a inoculação do material fecal das treze ninfas de T. rubrovaria em camundongos e meio de cultura LIT, isolaram-se cinco cepas de T. cruzi, que mostraram parasitemia patente e cultura positiva. Estas cepas foram denominadas QB1, QJ1,QJ3, QM1e QM2, as quais estão sendo caracterizadas biológica3 e molecularmente24 por PCR.

Os exemplares de T. circummaculata tiveram suas fezes negativas para Trypanosomatidae e os de P. tupynambai não foram examinados, pois havia a intenção do estabelecimento de colônia dessa espécie.

A prova da precipitina do conteúdo intestinal dos 13 triatomíneos que foram positivos para Trypanosomatidae mostrou que 4 (30,8%) reagiram positivamente para o anti-soro de roedor, 4 (30,8%) para o anti-soro de cabra, um (7,7%) para os anti-soros de humano e porco (dupla alimentação) e 4 (30,8%) não reagiram para nenhum dos anti-soros testados (Tabela 2).

DISCUSSÃO

Em 1957, Di Primio9 estudou a distribuição dos triatomíneos no Estado do Rio do Grande do Sul, que mostrava o predomínio de T. infestans, encontrado em 67 (55%) municípios, T. rubrovaria foi coletado em 26 (22%) e T. circummaculata em 3 (2,6%). Nesse estudo, os índices de infecção pelo T. cruzi foram de 40,4% para T. infestans, 25,5% para T. rubrovaria e zero para T. circummaculata.

No município de Quaraí, esse autor coletou 100 exemplares de T. infestans em seis localidades, sendo que desses, sete apresentavam infecção pelo T. cruzi. A espécie Triatoma rubrovaria foi encontrada em duas localidades, Branquilhos e fazenda do Tuna, coletando-se nesses locais, 11 exemplares, os quais não estavam infectados pelo T. cruzi.

Na atual busca e captura por triatomíneos silvestres, nenhum exemplar de T. infestans foi encontrado, fato esperado, pois essa espécie, quando encontrada restringe-se ao domicílio ou peridomicílio de focos residuais da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul7.

Assim, o predomínio de T. rubrovaria em ambiente silvestre, 92,9% do total dos triatomíneos coletados em ambientes silvestres e pastoris de seis localidades de Quaraí, confirma a sua predominância frente a P. tupynambai (1,3%) e T. circummaculata (5,7%), as outras duas espécies coletadas.

Nos exemplares de T. rubrovaria coletados, o índice de infecção pelo T. cruzi foi de 1,6%, maior que o encontrado por Salvatella e cols17 no Uruguai com 0,3% dos triatomíneos infectados. O encontro de ninfas positivas em seis localidades demonstra que o ciclo silvestre está instalado no município. Foi detectada também uma quantidade significativa de exemplares nas localidades mais próximas ao perímetro urbano de Quaraí, como Branquilhos e Macarrão (Figura 1), o que serviu de alerta para as autoridades responsáveis pela vigilância e controle da endemia, pois torna-se cada vez mais evidente o risco da infecção humana pela via vetorial, considerando as características preadapatativas desse triatomíneo aos ecótopos antrópicos1 e a sua competência como vetor do T. cruzi20.

Confirmando os achados de Salvatella cols18, a densidade de formas aladas é baixa nesses ecotópos, pois apenas dois exemplares adultos de T. rubrovaria foram coletados, demonstrando uma característica típica dessas colônias, que varia conforme a estação do ano, com maiores populações entre outubro e novembro. Durante todo o ano, predominam as formas de terceiro, quarto e quinto estádio, sendo os adultos encontrados de outubro a março. Dessa forma, sugere-se que as ações de combate ao vetor sejam iniciadas antes de outubro quando ocorre a dispersão dos exemplares adultos. Como o T. rubrovaria pertence ao grupo 4, as ações de vigilância devem ser centradas para prevenir a entrada e colonização nos domicílios desse triatomíneo, devendo ser mantido rigoroso monitoramento por meio de vigilância entomólogica permanente e denúncia da população sobre o achado do vetor. O tratamento químico deverá ser realizado em 100% dos domicílios em que se comprovarem colônias intradomiciliadas8.

Observou-se o encontro de T. circummaculata em apenas duas localidades, porém em quantidade representativa. Embora, não tenham sido encontrados sinais de colonização nas moradias humanas15, não se pode descartar sua importância epidemiológica, mesmo porque essa é a segunda espécie silvestre em densidade populacional em todo o Uruguai, que faz fronteira com Quaraí13.

Nos exemplares coletados de T. circummaculata não foi observada infecção por Trypanosomatidae, provavelmente devido à sua associação com fontes de alimentação de menor potencial de infecção pelo T. cruzi, ou mesmo pela sua capacidade de predação de baratas15.

Coabitando com Triatoma rubrovaria, o P. tupynambai foi encontrado em pequeno número nesta busca por triatomíneos rupestres, num ecótopo representado por depressão em solo úmido sob rochas, habitado na ocasião por um lagarto da espécie Tupinambis merianae (Duméril & Bibron, 1839). Neste ambiente, a alimentação pode ser escassa, o que limitaria o crescimento das colônias. Esse hábito fossorial ou subterrâneo, embora indicado por outros autores12 16, foi observado no Estado pela primeira vez. Embora as seis ninfas de P. tupynambai não terem sido examinadas quanto à infecção por Trypanosomatidae, alguns autores12 15 já encontraram essa espécie com infecção natural pelo T. cruzi.

Dados da literatura12 15 17 mostram que é marcante o ecletismo alimentar de T. rubrovaria, T. circummaculata e P. tupynambai. Como necessidade alimentar, ninfas de 1º estádio de T. circummaculata dependem da hemolinfagia sobre baratas silvestres (blastódeos) para seguir seu desenvolvimento até adultos15. Os resultados da prova da precipitina realizada nos treze exemplares de Triatoma rubrovaria positivos para Trypanosomatidae mostraram o ecletismo quanto às fontes que servem de alimentação, sugando os vertebrados que, provavelmente, estão mais disponíveis em cada ecótopo. A detecção de alimentação única dos exemplares que reagiram positivamente para os anti-soros de roedor e cabra aponta para a possibilidade desses animais estarem representando as principais fontes de infecção para Trypanosomatidae. Os roedores são apontados por Salvatella e cols17 18 possivelmente como os principais reservatórios silvestres de T. cruzi; no entanto, o que se destaca neste trabalho é que sete (53,8%) dos treze exemplares positivos para Trypanosomatidae foram coletados nas localidades de Macarrão e Branquilhos, as mais próximas da área urbana de Quaraí, sendo que um desses triatomíneos, capturado em Branquilhos mostrou reação da precipitina positiva para anti-soro humano, confirmando os achados de três outros autores1 12 17 .

A ocorrência de resultados não reagente no teste da precipitina deve-se provavelmente à insuficiência de material sangüíneo na amostra do conteúdo intestinal ou à possibilidade de o animal que serviu de fonte de alimentação não estar contemplado na bateria de anti-soros utilizada, como no caso das baratas silvestres. Com relação a esse aspecto, cabe salientar que répteis, assim como baratas, também são comuns na área de estudo (LPA Martins: comunicação pessoal, 2003) e já foi mostrado que servem como fonte alimentar de triatomíneos em ambientes semelhantes1 12 15. Além disso, a capacidade dos triatomíneos rupestres do Estado do Rio Grande do Sul sobreviverem sugando outros artrópodes também está comprovada15.

Concluímos que os achados desse estudo vêm confirmar a importância epidemiológica do T. rubrovaria e ressaltar a necessidade de vigilância.

AGRADECIMENTOS

Carlos Moisés Araújo, Cledir Ribeiro, Fernanda de Mello, Paulino Signen Benites, Waldemar P. Vieira da Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do sul, que auxiliaram durante as coletas. Maria Zenaide Tita Fernandes e Isabel Martinez da Faculdade de Ciências Farmacêuticas/UNESP/ Araraquara; João Luis Molina Gil e João Maurício Nóbrega Filho do Serviço Especial de Saúde de Araraquara da Faculdade de Saúde Pública/USP, que colaboraram na análise do material coletado.

Recebido para publicação em 29/1/2005

Aceito em 25/1/2006

Pesquisa financiada pela FUNDUNESP e pela Secretaria de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul.

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  • Endereço para correspondência:

    Profª Luciamáre Perinetti Alves Martins
    Disciplina de Parasitologia/FAMEMA
    Av. Monte Carmelo 800
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Maio 2006
    • Data do Fascículo
      Abr 2006

    Histórico

    • Aceito
      25 Jan 2006
    • Recebido
      29 Jan 2005
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