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Robin Christopher Best (1949 - 1986)

A morte prematura de Robin Best no dia 17 de dezembro de 1986 chocou a todos os seus colegas e amigos. Perdeu a comunidade científica, particularmente a interessada nos mamíferos aquáticos e no conservacionismo, um de seus membros mais dedicados e capazes.

Robin nasceu em Victoria, British Columbia, no Canadá, em 16.08.1949- Iniciou sua carreira ainda na juventude sob a inf1uência de seu pai Alan Best, assocI ando-se ao Stan1ey Park Zoo e ao Vancouver Public Aquarium, desenvolvendo-se assim seu interesse duradouro pelos mamíferos marinhos.

Após concluir seu bacharelado em zoologia na Universidade de British Columbia, Robin iniciou e concluiu seu mestrado na Universidade de Guelph , escrevendo uma dissertação sobre a energética do urso polar. Em 1976 foi contratado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia para participar do projeto peixe-boi , vindo a assumir em 1980 a chefia do projeto.

Robin encontrava-se na Universidade de Cambridge estudando para a obtenção do doutorado, quando veio a ser vitimado pela leucemia.

O projeto peixe-boi do INPA, iniciado em 1979 por Diana Magor, encontrava-se quan do Robin Best chegou ao INPA em 1976, sob a direção de Darly P. Domning. Nas palavras deste último, a iniciativa e a experiência de Robin fez-se sentir benedicamente logo após sua chegada. Seus sólidos conhecimentos de fisiologia animal, sua vasta experiência com animais adquirida na juventude, sobretudo sua habilidade na captura, manuseio e transporte de cetáceos e pinípedes, para o que inclusive seu gosto pelo atletismo — Robin foi campeão de remo da Universidade de British Columbia e capitão do time de rúgbi em Guelph — deve ter contribuído, imprimiram novo rítmo ao desenvolvimento do projeto, aumentando muito sua produtividade científica. Particularmente seus conhecimentos de nu trição animal foram cruciais para o sucesso crescente no cuidado dos filhotes de peixe-boi. Robin ampliou, porém, as linhas de pesquisas fisiológicas e etolõgicas sobre o pej_ xe-boi , conseguindo a participação de pesquisadores, entre eles, Jim Gallivan, John Kan_ vísher, Gene Montgomery, e David Piggins. Sua energia e capacidade de organização pode ser percebida na montagem, execução e conclusão do ambicioso projeto de rádio-rastrea-mento do peixe boi na represa de Curuá-Una.

Seu interesse pela biologia e conservação da fauna amazônica no entanto não se limitou ao peixe-boi; mereceram ainda sua atenção a fauna ectoparasítica das preguiças, além de observações menores sobre cachorros-vinagre, tamanduás, antas, etc. Estas atividades o levaram a liderar diversos levantamentos sobre a situação da fauna em parques nacionais do IBDF e em áreas de influência de reservatórios hidrelétricos da ELETRONORTE.

Sob sua liderança o grupo inicial de estudo do peixe-boi (Trichechus inunguis) foi ampliado e transformado na Divisão de Mamíferos Aquáticos, passando a incluir em suas linhas de pesquisa o estudo da biologia dos botos fluviais da Amazônia(Inia e Sotalia), bem como da ariranha e da lontra (Pteronura e Lutra) .

Com esta respeitável bagagem científica Robin reviveu o Grupo de Especialistas em Sirênios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) em 1982, tendo sido seu presidente até 1984, e membro executivo desde então até sua morte.

Robin Best deixa uma lista de 35 trabalhos publicados, através dos quais pode-se avaliar a consistência de sua carreira científica tão prematuramente interrompida.

Sua ida para Cambridge em 1985 foi motivada por uma visita do Professor Richard Keynes ã Amazônia, que tomando conhecimento de tão importante trabalho sendo realizado no INPA por Robin Best, sugeriu que este fosse realizar seus estudos de doutoramento sob a orientação de Peter Jewell no Laboratório de Fisiologia daquela Universidade. Assim aconteceu. No entanto, logo a seguir o trágico destino o acometeu de leucemia. Mesmo sa bendo da gravidade de seu estado, Robin não desesperou. Os que o acompanharam neste p£ ríodo testemunharam sua determinação e otimismo. Foi o que me relatou José MãrcioAyres que lá estava. Robin chegou a recuperar-se extraordinariamente e voltou ao trabalho cheio de planos, como me comunicou em carta. Participou ainda como convidado do Grupo de Bio logia e Conservação de Golfinhos Platanistídeos, IUCN, em Wuhan, China (23 .10 a 7.11 .86).

A Ciência perdeu Robin Best. 0 INPA perdeu uma de suas lideranças científicas. Os estudantes brasileiros que por ele foram treinados, seus colegas da Divi são de Mamíferos Aquáticos, muito particularmente Vera Maria F. da Silva, sua esposa e companheira de pesquisa, todos nós perdemos um grande amigo. Permanece a trílha aberta,o exemplo a seguir.

Estava eu concluindo estas memórias em minha casa, quando a empregada que limpava o quintal veio chamar-me: "Doutor, há uma preguiça linda numa arvore lá atrás. Venha ver". Puro acaso, sem dúvida. Porém um acaso cheio de significado para quem conheceu Robin Best.

HERBERT O. R. SCHUBART
Diretor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    1986
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