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Parasitóides (Hymenoptera: Braconidae) de Anastrepha Schiner (Diptera: Tephritidae) no estado do Acre

Parasitoids (Hymenoptera: Braconidae) of Anastrepha Schiner (Diptera: Tephritidae) in the state of Acre, Brazil

Resumos

Este trabalho relata a primeira ocorrência de parasitóides em moscas-das-frutas do gênero Anastrepha Schiner no estado do Acre. No município de Bujari foram encontrados os braconídeos Opius bellus Gahan (72,5%), Doryctobracon areolatus (Szépligeti) (26,8%) e Utetes anastrephae (Viereck) (0,7%) associados a A. obliqua (Macquart) em frutos de taperebá (Spondias mombin L.), com parasitismo de 29,5%. No município de Rio Branco, em frutos de goiaba (Psidium guajava L.), ocorreu somente D. areolatus em A. obliqua com parasitismo de 2,7%.

Moscas-das-frutas; Parasitismo; Taperebá; Goiaba; Amazônia Ocidental


This paper records the first parasitoids occurrence on Anastrepha Schiner fruit flies in the state of Acre, Brazil. In the Bujari County there occurred the braconids Opius bellus Gahan (72.5%), Doryctobracon areolatus (Szépligeti) (26.8%) e Utetes anastrephae (Viereck) (0.7%) associated with A. obliqua (Macquart) in tapereba fruits (Spondias mombin L.), with parasitism of 29.5%. In guajava fruits (Psidium guajava L.) at Rio Branco County, only D. areolatus on A. obliqua occurred, with parasitism of 2.7%.

Fruit flies; Parasitism; Tapereba; Guajava; Western Amazon


BOTÂNICA

Parasitóides (Hymenoptera: Braconidae) de Anastrepha Schiner (Diptera: Tephritidae) no estado do Acre

Parasitoids (Hymenoptera: Braconidae) of Anastrepha Schiner (Diptera: Tephritidae) in the state of Acre, Brazil

Marcílio José ThomaziniI; Elizângela Sampaio de AlbuquerqueII

IEmbrapa Florestas - Estrada da Ribeira, km 111 - C. Postal 319 CEP 83411-000 - Colombo - PR. E-mail: marcilio@cnpf.embrapa.br IIEmbrapa Acre - Rodovia BR 364, km 14 - C. Postal 321 CEP 69908-970 - Rio Branco - AC. E-mail: elizangela@cpafac.embrapa.br

RESUMO

Este trabalho relata a primeira ocorrência de parasitóides em moscas-das-frutas do gênero Anastrepha Schiner no estado do Acre. No município de Bujari foram encontrados os braconídeos Opius bellus Gahan (72,5%), Doryctobracon areolatus (Szépligeti) (26,8%) e Utetes anastrephae (Viereck) (0,7%) associados a A. obliqua (Macquart) em frutos de taperebá (Spondias mombin L.), com parasitismo de 29,5%. No município de Rio Branco, em frutos de goiaba (Psidium guajava L.), ocorreu somente D. areolatus em A. obliqua com parasitismo de 2,7%.

Palavras-chave: Moscas-das-frutas, Parasitismo, Taperebá, Goiaba, Amazônia Ocidental

ABSTRACT

This paper records the first parasitoids occurrence on Anastrepha Schiner fruit flies in the state of Acre, Brazil. In the Bujari County there occurred the braconids Opius bellus Gahan (72.5%), Doryctobracon areolatus (Szépligeti) (26.8%) e Utetes anastrephae (Viereck) (0.7%) associated with A. obliqua (Macquart) in tapereba fruits (Spondias mombin L.), with parasitism of 29.5%. In guajava fruits (Psidium guajava L.) at Rio Branco County, only D. areolatus on A. obliqua occurred, with parasitism of 2.7%.

Keywords: Fruit flies, Parasitism, Tapereba, Guajava, Western Amazon

A fauna de parasitóides de moscas-das-frutas pertence principalmente à família Braconidae. Canal & Zucchi (2000) relataram a ocorrência de 13 espécies de braconídeos parasitóides de Tephritidae no Brasil.

Na região amazônica brasileira são vários os relatos de distribuição e ocorrência de moscas-das-frutas e seus hospedeiros, no entanto, informações sobre parasitismo ainda são escassas (Silva & Ronchi-Teles, 2000).

Canal et al. (1995) coletaram, no estado do Amazonas, cinco espécies de parasitóides da família Braconidae obtidas de Anastrepha spp. Opius sp. foi a predominante, ocorrendo também Doryctobracon areolatus (Szépligeti), Opius bellus Gahan, Utetes anastrephae (Viereck) e Asobara anastrephae (Muesebeck).

Ohashi et al. (1997) encontraram O. bellus, D. areolatus e U. anastrephae em A. obliqua (Macquart) atacando frutos de acerola no Pará, sendo que o parasitismo não foi estimado. Os autores citam que os braconídeos encontrados são endoparasitóides solitários, que ovipositam no estágio larval das moscas-das-frutas e emergem do pupário do hospedeiro. Gomes-Silva et al. (1998), também na cultura da acerola no Pará, encontraram apenas D. areolatus em A. obliqua.

Silva & Ronchi-Teles (2000) relataram que, em coletas de frutos de taperebá, A. obliqua foi parasitada por Opius sp., O. bellus e A. anastrephae, enquanto A. antunesi Lima sofreu parasitismo somente por Opius sp.

No Amapá, em diversas espécies de frutos, Carvalho & Malavasi (2003) observaram seis espécies de parasitóides associados a A. striata Schiner, sendo cinco da família Braconidae (D. areolatus, Opius sp., A. anastrephae, U. anastrephae e Doryctobracon sp.) e a espécie Aganaspis pelleranoi (Brèthes) da família Figitidae, subfamília Eucoilinae. Silva & Silva (2007), em diferentes espécies frutíferas, encontraram diversas espécies de moscas-das-frutas e de parasitóides, acrescentando O. bellus à lista de parasitóides presentes no Amapá.

No estado do Acre, Thomazini et al. (2003), em levantamento com frascos caça-moscas, relataram ocorrência de seis espécies do gênero Anastrepha, predominando A. obliqua (98,8%). No entanto, não há relatos de parasitóides associados a tefritídeos no estado. A diversidade de hospedeiros que ocorre na região pode favorecer a presença de várias espécies de moscas-das-frutas e, consequentemente, de seus parasitóides. Desse modo, o objetivo deste trabalho foi determinar as espécies de parasitóides e os índices de parasitismo em moscas-das-frutas provenientes de frutos coletados em municípios do sudeste acreano.

Coletas esporádicas de frutos de goiaba (Psidium guajava L.) e taperebá (Spondias mombin L.), também conhecido como cajá, foram realizadas nos meses de fevereiro e março de 2004, no campo experimental da Embrapa Acre, município de Rio Branco, AC e na rodovia BR 364, km 05, município de Bujari, estado do Acre.

Os frutos foram levados para o Laboratório de Entomologia da Embrapa Acre, onde foram contados, pesados e acondicionados em bandejas plásticas com areia esterilizada e umedecida protegidas por tecido de organza. Diariamente a areia era peneirada, os pupários recolhidos e acondicionados em potes plásticos com areia umedecida. Os potes foram acondicionados em sala climatizada (26 ± 2°C, 60 ± 10% de umidade relativa e 12 h fotofase) e observados diariamente para verificar a emergência de moscas ou parasitóides e posterior identificação.

No município de Bujari foram coletados 271 frutos de taperebá (2,4 kg) diretamente no solo e 97 frutos de goiaba (4,1kg) na planta. Dos frutos de taperebá foram obtidos 468 pupários, com índice de infestação de 1,7 pupários/fruto e 195 pupários/kg de fruto. Houve a emergência de 89 moscas (viabilidade pupal de 19,0%), sendo 56 machos e 33 fêmeas (razão sexual de 62,9%) somente de A. obliqua. Dos demais pupários emergiram 138 parasitóides pertencentes a três espécies: O. bellus (72,5%), D. areolatus (26,8%) e U. anastrephae (0,7%), apresentando um índice de parasitismo de 29,5%. Quanto aos frutos de goiaba, emergiram apenas dois indivíduos de A. striata e um de A. obliqua e não houve emergência de parasitóides.

Canal et al. (1995) relataram, em frutos de taperebá no Amazonas, além das espécies de braconídeos encontradas no Acre, a presença de A. anastrephae e Opius sp. Segundo os autores, só não foi possível a associação parasitóide/A. obliqua com Opius sp., no entanto, Silva & Ronchi-Teles (2000) observaram essa associação.

Silva & Silva (2007) registraram parasitismo de 21,7% em cinco espécies de moscas-das-frutas originárias de frutos de taperebá no Amapá. Também ocorreram D. areolatus (espécie mais abundante), U. anastrephae e O. bellus, além de Opius sp.

Segundo Canal & Zucchi (2000) o parasitismo natural em moscas-das-frutas é muito variável, dependendo do local, época, mosca e fruto hospedeiro, no entanto, os índices encontrados na maioria dos trabalhos raramente ultrapassam 50%.

No município de Rio Branco, foram coletados 122 frutos de goiaba na planta (5,2kg), obtendo-se 147 pupários, com índice de infestação de 1,2 pupários/fruto e 28,3 pupários/kg de fruto. A viabilidade pupal foi de 29,3% (43 moscas), emergindo 12 machos e 31 fêmeas de A. obliqua (razão sexual de 27,9%). Emergiram apenas quatro exemplares de D. areolatus, com índice de parasitismo de 2,7%. Canal et al. (1995), em amostras de goiaba no Amazonas, obtiveram D. areolatus associado a A. striata.

Esse é o primeiro registro de parasitóides de moscas-das-frutas no estado do Acre, contudo, os braconídeos parasitóides de Anastrepha encontrados neste trabalho são de ocorrência comum no Brasil (Canal & Zucchi, 2000) e estão distribuídos por grande parte da região Amazônica (Canal et al., 1995; Ohashi et al., 1997; Gomes-Silva et al., 1998; Silva e Ronchi-Teles, 2000; Carvalho & Malavasi, 2003; Silva & Silva, 2007).

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. Miguel Francisco de Souza Filho, pesquisador do Centro Experimental Central do Instituto Biológico - APTA, em Campinas, SP, pela identificação dos parasitóides.

BIBLIOGRAFIA CITADA

Recebido em 16/05/2007

Aceito em 03/06/2008

  • Canal, N.A.; Zucchi, R.A. 2000. Parasitóides - Braconidae. In: Malavasi, A.; Zucchi, R.A. (Eds.). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil. Conhecimento básico e aplicado. Holos, Ribeirão Preto, São Paulo. p. 119-126.
  • Canal, N.A.D.; Zucchi, R.A.; Silva, N.M.; Silveira-Neto, S. 1995. Análise faunística dos parasitóides (Hymenoptera, Braconidae) de Anastrepha spp. (Diptera, Tephritidae) em Manaus e Iranduba, Estado do Amazonas. Acta Amazonica, 25(3/4): 235-246.
  • Carvalho, R.S.; Malavasi, A. 2003. Monitoramento de parasitóides nativos de moscas-das-frutas (Tephritidae) antes da liberação de Diachasmimorpha longicaudata na região Amazônica Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas, Bahia. Comunicado Técnico, 96. 8pp.
  • Gomes-Silva, J.; Uramoto, K.; Malavasi, A. 1998. First report of Ceratitis capitata (Diptera: Tephritidae) in the Eastern Amazon, Para, Brazil. Fla. Entomol., 81(4): 574-577.
  • Ohashi, O.S.; Dohara, R.; Zucchi, R.A.; Canal-D, N.A. 1997. Ocorrência de Anastrepha obliqua (Macquart) (Diptera: Tephritidae) em acerola Malpighia punicifolia L. no estado do Pará. An. Soc. Entomol. Brasil, 26(2): 389-390.
  • Silva, N.M.; Ronchi-Teles, B. 2000. Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. In: Malavasi, A.; Zucchi, R.A. (Eds.). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil Conhecimento básico e aplicado. Holos, Ribeirão Preto, São Paulo. p. 203-209.
  • Silva, W.R.; Silva, R.A. 2007. Levantamento de moscas-das-frutas e de seus parasitóides no município de Ferreira Gomes, Estado do Amapá. Ciênc. Rur., 37(1): 265-268.
  • Thomazini, M.J.; Albuquerque, E.S.; Souza Filho, M.F. 2003. Primeiro registro de espécies de Anastrepha (Diptera: Tephritidae) no estado do Acre. Neotrop. Entomol., 32(4): 723-724.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Maio 2009
  • Data do Fascículo
    Mar 2009

Histórico

  • Aceito
    03 Jun 2008
  • Recebido
    16 Maio 2007
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