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Transtorno de ansiedade generalizada entre estudantes de cursos de pré-vestibular

Generalized anxiety disorder among university-entrance preparation course students

RESUMO

Objetivo

Medir a prevalência de sintomatologia de transtorno de ansiedade generalizada (TAG) entre estudantes de um curso pré-vestibular do sul do Brasil e sua associação com fatores sociais, demográficos, acadêmicos e psicológicos.

Métodos

Este estudo teve delineamento transversal, tendo como participantes estudantes com idade igual ou superior a 18 anos de um curso pré-vestibular privado do sul do Brasil. Foi administrado um questionário autoaplicável que avaliava aspectos sociais, demográficos, acadêmicos, de ansiedade relacionada à prova e estresse percebido. O desfecho analisado foi a sintomatologia de TAG, por meio do instrumento General Anxiety Disorder-7 (GAD-7). Para análise multivariável, utilizou-se a regressão de Poisson com ajuste robusto da variância.

Resultados

Participaram 137 alunos (taxa de resposta de 90,7%) e a prevalência de sintomatologia de TAG foi de 41,4%. Após análise ajustada, ser do sexo feminino, ter estudado em escola privada, ter maiores escores de estresse percebido e de ansiedade relacionada à prova permaneceram como fatores de risco. Estar com 19 anos apresentou-se como fator de proteção.

Conclusões

A ansiedade relacionada à prova foi o fator mais fortemente associado com a sintomatologia de TAG, o que sugere que as emoções e preocupações específicas do contexto de avaliação podem predispor o indivíduo a maior risco de desenvolver esse transtorno. A partir desses resultados, sugere-se a inclusão de profissionais da saúde mental no contexto do pré-vestibular, assim como intervenções direcionadas ao desenvolvimento de uma relação saudável entre o aluno e suas demandas acadêmicas.

Estudantes; pré-vestibular; ansiedade; transtorno de ansiedade generalizada; ansiedade relacionada à prova

ABSTRACT

Objective

To measure prevalence of symptomatology of generalized anxiety disorder (GAD) among students from a university-entrance preparation course in southern Brazil and its association with social, demographic, academic and psychological factors.

Methods

This study had a cross-sectional design and participants were students aged 18 years or older from a private university-entrance preparation course in southern Brazil. A self-administered questionnaire that assessed social, demographic, and academic variables, as well as test-related anxiety and perceived stress was administered. The outcome analyzed was the symptomatology of GAD through the General Anxiety Disorder-7 (GAD-7) instrument. Poisson regression with robust adjustment of variance was used in multivariate analysis.

Results

137 students participated (90.7% response rate) and the prevalence of GAD symptomatology was 41.4%. After adjusted analysis, being female, having studied in a private school, having higher perceived stress and test anxiety scores remained as risk factors. Being 19 years old was a protective factor.

Conclusions

Anxiety regarding the test was the factor most strongly associated with symptomatology of GAD, which suggests that the emotions and concerns specific to the context of evaluations may predispose the individual to a higher risk of developing this disorder. Based on these results, we suggest the inclusion of mental health professionals in the context of university-entrance preparation courses, as well as interventions aiming the development of a healthy relationship between the student and their academic demands.

Students; university-entrance preparation course; anxiety; general anxiety disorder; test anxiety

INTRODUÇÃO

No Brasil, o acesso às Instituições de Ensino Superior (IES) públicas ou privadas ocorre por meio de processos seletivos. Nessas situações, candidatos realizam provas cujo objetivo é medir conhecimento, habilidades e competências. Dessa forma, os candidatos que atingem as melhores pontuações, de acordo com os critérios estabelecidos por cada processo seletivo, serão aprovados, em detrimento daqueles com notas inferiores. O nível de competitividade dessas seleções depende de algumas variáveis, tais como o curso desejado, a instituição de interesse e a quantidade de candidatos inscritos11. D’Avila GT, Krawulski E, Veriguine NR, Soares DHP. Acesso ao ensino superior e o projeto de “ser alguém” para vestibulandos de um cursinho popular. Psicol Soc. 2011;23(2):350-8. .

Para ingressar em IES públicas, a principal porta de entrada é o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Esse exame teve início em 1998, com o objetivo inicial de avaliar a qualidade do ensino médio brasileiro. Entretanto, a partir de 2009, como uma tentativa de democratização e padronização do acesso às universidades federais, o Enem começou a ser utilizado como ferramenta de seleção dos candidatos. Essa prova é realizada uma vez ao ano e pessoas do país inteiro se inscrevem para concorrer a uma vaga22. Andriola WB. Doze motivos favoráveis à adoção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pelas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Ensaio Aval Pol Públ Educ. 2011;19(70):107-25. .

Entretanto, nem todas as IES participam desse processo seletivo unificado. Diversas universidades públicas e privadas possuem seleções próprias, de acordo com os seus critérios estabelecidos, também conhecidas como processo seletivo tradicional ou vestibular33. Whitaker DCA. Da “invenção” do vestibular aos cursinhos populares: um desafio para a Orientação Profissional. Rev Bras Orientac Prof. 2010;11(2):289-97. . Além disso, é possível que algumas universidades reservem uma parcela de suas vagas para entrada por meio do Enem e outra parte, para ingressos via vestibular. Apesar de serem processos regionalizados, isso não significa que são menos concorridos. Levando em consideração os aspectos de como se dá a entrada para IES no Brasil, não são raros os indivíduos que buscam por uma preparação suplementar àquela oferecida durante o processo educacional formal. Essa preparação paralela pode ocorrer tanto em instituições privadas quanto públicas, sendo popularmente conhecida como cursinho pré-vestibular33. Whitaker DCA. Da “invenção” do vestibular aos cursinhos populares: um desafio para a Orientação Profissional. Rev Bras Orientac Prof. 2010;11(2):289-97. .

O fenômeno dos cursinhos não é atual, mas remonta ao período de criação do vestibular, com origem por volta do ano 1910. Desde então, ambos os fenômenos (o vestibular e os cursos preparatórios) cresceram se retroalimentando. O número de IES e de vagas cresceu. Contudo, a quantidade de candidatos aumentou em taxa mais elevada, crescendo, assim, o excedente de participantes não aprovados. Esse processo intensificou a evolução dos cursinhos, cujo início foi marcado por organizações rudimentares instituídas por professores, até os dias atuais, prevalecendo a instauração de empresas de ensino para vestibulares33. Whitaker DCA. Da “invenção” do vestibular aos cursinhos populares: um desafio para a Orientação Profissional. Rev Bras Orientac Prof. 2010;11(2):289-97. .

Assim, é comum que, apesar de não fazerem parte do currículo formal da educação brasileira, muitos estudantes passem por cursinhos33. Whitaker DCA. Da “invenção” do vestibular aos cursinhos populares: um desafio para a Orientação Profissional. Rev Bras Orientac Prof. 2010;11(2):289-97. , com o objetivo de aumentar suas chances para a conquista da aprovação em processos seletivos. A duração dessa preparação pode variar de alguns meses até vários anos, sendo relacionada com o curso e/ou instituição desejada.

A ansiedade comumente se intensifica no contexto das pressões, demandas e estresses da vida diária, sendo uma reação natural e adaptativa. Pode ser definida como uma emoção orientada ao futuro sobre eventos potencialmente aversivos e/ou perigosos44. Barlow DH, Durand VM. Psicopatologia: uma abordagem integrada. 2ª ed. São Paulo: Cengage Learning; 2015. 784p. , que gera reações fisiológicas, comportamentais e afetivas que mobilizam o indivíduo para se preparar para possíveis ameaças55. Clark DA, Beck AT. Terapia cognitiva para os transtornos de ansiedade. Porto Alegre: Artmed; 2012. 640p. . No entanto, pode tornar-se um transtorno quando: (1) é baseada em uma suposição falsa ou raciocínio falho sobre o potencial para ameaça ou perigo em situações relevantes; (2) quando interfere na capacidade do indivíduo para enfrentar as circunstâncias aversivas ou difíceis; (3) quando está presente por um período de tempo prolongado55. Clark DA, Beck AT. Terapia cognitiva para os transtornos de ansiedade. Porto Alegre: Artmed; 2012. 640p. .

Estima-se que aproximadamente 3,6% das pessoas ao redor do mundo sofram com algum tipo de transtorno de ansiedade, sendo mais comum em mulheres (4,6%) do que em homens (2,6%)66. World Health Organization. Depression and other common mental disorders: Global health estimates. Geneva: World Health Organization; 2017. . De acordo com esse mesmo relatório, o Brasil é o país com a maior frequência de indivíduos com transtornos de ansiedade, com 9,3% de acometidos66. World Health Organization. Depression and other common mental disorders: Global health estimates. Geneva: World Health Organization; 2017. . Um tipo de transtorno de ansiedade altamente incapacitante é o transtorno de ansiedade generalizada (TAG)77. Associação Americana de Psiquiatria. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2014. . Sua principal característica é a preocupação excessiva (expectativa apreensiva) acerca de diversos eventos e/ou atividades. Nesses casos, ocorrem repetidos pensamentos sobre os piores cenários envolvendo possíveis eventos futuros. Indivíduos com TAG reportam dificuldade de interromper esses pensamentos ansiosos, sendo recorrente o relato de que a apreensão com um determinado tópico ou situação pode acabar se alastrando para outros assuntos e contextos de suas vidas44. Barlow DH, Durand VM. Psicopatologia: uma abordagem integrada. 2ª ed. São Paulo: Cengage Learning; 2015. 784p. , 77. Associação Americana de Psiquiatria. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2014. .

O ambiente preparatório para o Enem e vestibulares conta com estressores potencialmente ansiogênicos, pois pode ser permeado por um contexto de competição e incertezas. Apesar de existirem diversos estudos populacionais88. Silva MT, Caicedo Roa M, Martins SS, da Silva ATC, Galvao TF. Generalized anxiety disorder and associated factors in adults in the Amazon, Brazil: A population-based study. J Affect Disord. 2018;236:180-6. com subgrupos específicos, por exemplo, escolares99. Soares AB, Martins JSR. Ansiedade dos estudantes diante da expectativa do exame vestibular. Paidéia (Ribeirão Preto). 2010;20(47):57-62. e estudantes universitários1010. Pacheco JP, Giacomin HT, Tam WW, Ribeiro TB, Arab C, Bezerra IM, et al. Mental health problems among medical students in Brazil: a systematic review and meta-analysis. Rev Bras Psiquiatr. 2017;39(4):369-78. , existem poucos estudos sobre ansiedade e, mais especificamente, sobre TAG entre pré-vestibulandos. Alunos que se preparam para esse tipo de concurso reportam que o vestibular provoca sensações negativas, como ansiedade, medo, insegurança e aflição1111. Peruzzo AS, Cattani BC, Guimarães ER, Boechat LC, Argimon IIL, Scarparo HBK. Estresse e vestibular como desencadeadores de somatizações em adolescentes e adultos jovens. Psicol Argum. 2008;26(55):319-27. . Em um inquérito com 1.046 estudantes de pré-vestibular, 23,5% da amostra apresentou ansiedade considerada moderada ou grave1212. Rodrigues DG, Pelisoli C. Ansiedade em vestibulandos: um estudo exploratório. Rev Psiq Clín. 2008;35(5):171-7. . Em outra investigação, foi identificado que 33,8% dos vestibulandos apresentavam ansiedade clinicamente relevante1313. Terra DHP, Vieira GA, Costa AMDD, Terra FS, Freire GER. Ansiedade e depressão em vestibulandos. Odontol Clin Cient. 2013;12(4):273-6. .

Estima-se que 20% de todos universitários ao redor do mundo possuem algum tipo de transtorno mental, sendo os de ansiedade os mais prevalentes. Não obstante, mais de 80% desses transtornos tiveram início antes da entrada na universidade. Dessa forma, é possível que características específicas do processo seletivo possam contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais, incluindo o TAG. Por exemplo, um estudo identificou correlação positiva entre escores de ansiedade relacionada à prova (emoções e comportamentos eliciados por situações de prova) e ansiedade interna e externamente causada (ansiedade gerada pela necessidade de atender a expectativas) com níveis de ansiedade clínica medidas por meio da Escala Beck de Ansiedade1414. Karino CA, Laros JA. Ansiedade em situações de prova: evidências de validade de duas escalas. Psico-USF. 2014;19(1):23-36. . Ou seja, é possível que esses elementos da ansiedade relacionados com a realização de provas possam aumentar o risco para o desenvolvimento de TAG.

Portanto, o objetivo deste estudo foi medir a prevalência de sintomatologia de TAG e avaliar sua relação com variáveis sociais e demográficas e, mais especificamente, ansiedades específicas do contexto de realização de provas entre estudantes de um curso pré-vestibular do sul do Brasil.

MÉTODOS

Delineamento e local do estudo

Trata-se de um estudo observacional do tipo transversal, realizado em um curso pré-vestibular privado com sede em dois municípios do estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

Participantes e critérios de elegibilidade

Para esta pesquisa, foram elegíveis os estudantes matriculados para os cursos nos turnos da manhã. Foram incluídos alunos com idade maior ou igual a 18 anos devidamente matriculados na instituição. Foram considerados inelegíveis aqueles com incapacidades físicas ou cognitivas que impossibilitassem a resposta do questionário.

Cálculo amostral e amostragem

Para o cálculo de tamanho amostral, utilizaram-se prevalência esperada de aproximadamente 30%, margem de erro de 3 pontos percentuais e nível de significância de 5%, considerando uma população total de 182 alunos elegíveis. Portanto, seria necessário incluir 151 alunos para compor a amostra. Foi obtida uma lista com todos os alunos matriculados e foram incluídos todos que estavam presentes nas visitas às turmas.

Variáveis e instrumentos

Primeiramente, foram avaliadas características sociais, demográficas e acadêmicas por meio de questionário confeccionado pelos autores. As variáveis mensuradas foram: sexo (masculino/feminino); idade (18 anos/19 anos/20 anos ou mais); migração acadêmica (cidade do cursinho/movimento pendular/outras cidades); tipo de escola no terceiro ano do ensino médio (pública/privada), primeira vez que faz cursinho (sim/não), curso desejado (medicina/outros/não sabe). Além disso, ainda como exposições, foram avaliadas a ansiedade relacionada à prova, a ansiedade interna e externamente causada e o estresse percebido.

O Inventário de Ansiedade frente a Provas (IAP)1414. Karino CA, Laros JA. Ansiedade em situações de prova: evidências de validade de duas escalas. Psico-USF. 2014;19(1):23-36. é um instrumento composto por 35 itens cujo objetivo é medir quatro dimensões da ansiedade: preocupação, emoção, distração e falta de confiança. É composto por afirmações relativas a reações das pessoas em situações de prova que devem ser respondidas em uma escala de cinco pontos: “não descreve minha situação no momento”, “descreve um pouco”, “descreve moderadamente”, “descreve bastante” e “descreve perfeitamente a minha condição”1414. Karino CA, Laros JA. Ansiedade em situações de prova: evidências de validade de duas escalas. Psico-USF. 2014;19(1):23-36. . A partir da soma do escore total nessa escala, a pontuação foi dividida em quartis, sendo posteriormente categorizada em “menores escores” (indivíduos do 1º, 2º e 3º quartis) e “maiores escores” (indivíduos do 4º quartil) de IAP.

O Inventário de Ansiedade Internamente e Externamente Causada (IAIEC)1414. Karino CA, Laros JA. Ansiedade em situações de prova: evidências de validade de duas escalas. Psico-USF. 2014;19(1):23-36. é um instrumento composto por 19 itens, que possui a intenção de medir a ansiedade proporcionada pela preocupação de atender a expectativas. Essas expectativas podem ser advindas do próprio eu (internamente causada) ou de uma rede social próxima e significativa (externamente causada). É composto por várias afirmações que justificam a frase inicial do instrumento: “Em geral, eu me preocupo com a possibilidade de ir mal na prova porque depois…”. As justificativas podem ser internas (p. ex., “eu mesmo duvidarei da minha capacidade”) ou externas (p. ex., “podem me culpar pelo baixo desempenho”). O instrumento é respondido por meio de uma escala Likert de cinco pontos, a saber: “discordo totalmente”, “discordo”, “nem concordo, nem discordo”, “concordo” e “concordo totalmente”1414. Karino CA, Laros JA. Ansiedade em situações de prova: evidências de validade de duas escalas. Psico-USF. 2014;19(1):23-36. . Essa variável foi operacionalizada da mesma forma que os escores de IAP.

A Escala de Estresse Percebido é um instrumento composto por 14 itens que possui a intenção de avaliar o construto estresse, tendo sido adaptada e validada para uso com populações brasileiras1515. Luft CDB, Sanches SO, Mazo GZ, Andrade A. Versão brasileira da Escala de Estresse Percebido: tradução e validação para idosos. Rev Saúde Pública. 2007;41(4):606-15. . As respostas para avaliação de situações tidas como estressantes são do tipo Likert, com opções que variam de zero a quatro pontos (0 = “nunca”; 1 = “quase nunca”; 2 = “às vezes”; 3 = “quase sempre” e 4 = “sempre”). O escore de estresse percebido é calculado pela soma das pontuações de todas as respostas (0 a 56 pontos). Nas questões 4, 5, 6, 7, 9, 10 e 13, a pontuação é somada na forma invertida1515. Luft CDB, Sanches SO, Mazo GZ, Andrade A. Versão brasileira da Escala de Estresse Percebido: tradução e validação para idosos. Rev Saúde Pública. 2007;41(4):606-15. . A partir da soma do escore total nessa escala, a pontuação foi dividida em quartis, sendo categorizada em “menores escores” (indivíduos do 1º, 2º e 3º quartis) e “maiores escores” (indivíduos do 4º quartil).

O desfecho avaliado foi a sintomatologia de TAG. Essa variável foi avaliada por meio do General Anxiety Disorder-7 (GAD-7), que consiste em sete questões sobre como o indivíduo tem se sentido na última semana1616. Moreno AL, DeSousa DA, Souza AM, Manfro GG, Salum GA, Koller SH, et al. Factor structure, reliability, and item parameters of the Brazilian-Portuguese version of the GAD-7 questionnaire. Temas Psicol. 2016;24(1):367-76. . As perguntas são relativas a sintomas de ansiedade, tendo quatro possíveis respostas: “raramente”, “alguns dias”, “mais da metade dos dias” e “quase todos os dias”. Apesar de o instrumento ter sido traduzido e validado para o português, ele não possui ponto de corte definido para populações brasileiras. Dessa forma, foi utilizada a recomendação da versão original, que sugere que, para o rastreio de TAG, escores maiores ou iguais a 10 pontos obtiveram o equilíbrio ideal entre sensibilidade (89%) e especificidade (82%)1717. Spitzer RL, Kroenke K, Williams JB, Lowe B. A brief measure for assessing generalized anxiety disorder: the GAD-7. Arch Intern Med. 2006;166(10):1092-7. . Esse ponto de corte já foi utilizado em estudo de base populacional no Brasil88. Silva MT, Caicedo Roa M, Martins SS, da Silva ATC, Galvao TF. Generalized anxiety disorder and associated factors in adults in the Amazon, Brazil: A population-based study. J Affect Disord. 2018;236:180-6. , o que permite comparabilidade.

Procedimentos e logística

A coleta de dados ocorreu em julho de 2019, de forma coletiva, ou seja, os pesquisadores entravam em sala de aula para administrar o questionário aos alunos presentes. Os aplicadores do instrumento eram psicólogos e estudantes de graduação dos cursos de Psicologia e Medicina. Todos os envolvidos com a coleta de dados receberam treinamento sobre condução de pesquisas epidemiológicas, bem como sobre identificação e manejo de situações adversas. A pesquisa e as condições de ética e sigilo foram apresentadas, e após isso se apresentou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Também foi explicado que a não participação não envolvia nenhum prejuízo. Aqueles que concordaram em participar assinaram e receberam o questionário para responder. Durante todo o processo de coleta de dados, um psicólogo esteve à disposição para dar suporte a possíveis eventos adversos (como, por exemplo, manejo de crise de ansiedade).

Análises de dados

Os dados foram digitados no programa Microsoft Excel e, posteriormente, transportados para o pacote estatístico Stata 13.1 IC para a realização das análises estatísticas. A análise descritiva foi feita por meio de médias (para variáveis numéricas) e prevalências (para variáveis categóricas). Para a análise multivariável (bruta e ajustada), foi empregada a regressão de Poisson com ajuste robusto da variância1818. Barros AJ, Hirakata VN. Alternatives for logistic regression in cross-sectional studies: an empirical comparison of models that directly estimate the prevalence ratio. BMC Med Res Methodol. 2003;3:21. . O nível de significância foi estabelecido em 5% para testes bicaudais.

Aspectos éticos

O projeto de pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa na Área da Saúde (Cepas) da Universidade Federal de Rio Grande (FURG), tendo sido aprovado e registrado no Parecer nº 112/2019. Ao término da coleta de dados, foi realizada uma reunião com os responsáveis pela instituição de ensino com a finalidade de apresentar os resultados encontrados na pesquisa. Além disso, os autores conduziram duas intervenções direcionadas aos alunos, uma em cada sede do curso, com os objetivos de fazer psicoeducação e auxiliar os estudantes a desenvolverem estratégias de manejo da ansiedade no contexto dos processos seletivos.

RESULTADOS

Os questionários foram aplicados em 137 estudantes. Dessa forma, o estudo atingiu uma taxa de resposta de 90,7%. Não foram encontrados 14 alunos, o que representa uma taxa de perdas de 9,3%. Não houve recusas. Destaca-se que não ocorreram situações adversas durante a coleta de dados. Contudo, dois participantes procuraram os pesquisadores a partir dos contatos oferecidos no TCLE, os quais foram imediatamente encaminhados para o psicólogo responsável pela pesquisa, tendo sido oferecido suporte integral e gratuito. A tabela 1 indica que a amostra se constitui majoritariamente por estudantes com idade inferior a 20 anos (58,4%), com predominância do sexo feminino (73,0%). Aproximadamente quatro quintos da amostra moravam na cidade do cursinho (79,3%) e pouco mais da metade (55,5%) cursou o terceiro ano do ensino médio em escola privada. A maioria não está fazendo cursinho pela primeira vez (70,6%) e deseja cursar Medicina (72,3%).

Tabela 1
Descrição dos participantes de acordo com variáveis sociais, demográficas, acadêmicas e escores de ansiedade e estresse – Amostra de estudantes (N = 137) de pré-vestibular de Pelotas/RS e Rio Grande/RS, 2019

O escore médio de ansiedade relacionada à prova na amostra foi de 106,09 (desvio-padrão [DP] = 2,53). A média de ansiedade interna e externamente causada foi de 63,70 (DP = 1,22). O escore médio de estresse percebido foi de 31,12 (DP = 0,40). Por fim, 53 estudantes da amostra (41,4%) apresentaram sintomatologia de TAG, segundo o GAD-7 (escore > 10 pontos).

A tabela 2 mostra que o subgrupo com a maior prevalência de sintomatologia de TAG foi aquele com os maiores escores de ansiedade relacionada à prova (87,5%), com maiores escores de ansiedade interna e externamente causada (75,9%) e maiores escores de estresse percebido (68,2%). Indivíduos do sexo masculino constituíram o subgrupo com a menor prevalência desse desfecho (20,0%), seguidos pelos participantes com menores escores de ansiedade interna e externamente causada (27,0%) e de ansiedade relacionada à prova (27,9%). Na análise bruta, as variáveis associadas ao desfecho de interesse foram sexo, ansiedade relacionada à prova, ansiedade interna e externamente causada e estresse percebido. Após análise ajustada, estiveram associadas as variáveis: sexo feminino (razão de prevalências [RP] = 1,19; intervalo de confiança [IC] de 95% = 1,05 a 1,36); 19 anos (RP = 0,78; IC de 95% = 0,67 a 0,90); ensino privado (RP = 1,14; IC de 95% = 1,02 a 1,28); maiores escores de ansiedade relacionada à prova (RP = 1,49; IC de 95% = 1,35 a 1,64); maiores escores de estresse percebido (RP = 1,17; IC de 95% = 1,02 a 1,35).

Tabela 2
Prevalência de sintomatologia de transtorno de ansiedade generalizada e razões de prevalência bruta e ajustada de acordo com variáveis independentes – Amostra de estudantes (N = 137) de pré-vestibular de Pelotas/RS e Rio Grande/RS, 2019

DISCUSSÃO

A prevalência de sintomatologia de TAG entre os estudantes foi alta (41,4%), quando comparada com outros estudos com outras populações. Em um estudo de base populacional que utilizou o mesmo instrumento para medir ansiedade generalizada entre adultos, foi encontrada prevalência de 8,4%88. Silva MT, Caicedo Roa M, Martins SS, da Silva ATC, Galvao TF. Generalized anxiety disorder and associated factors in adults in the Amazon, Brazil: A population-based study. J Affect Disord. 2018;236:180-6. . Em uma investigação de base populacional conduzida no município de Pelotas/RS, utilizando o Mini International Neuropsychiatric Interview 5.0 , identificou-se que 14,3% da amostra apresentou sintomatologia de TAG1919. Costa CO, Branco JC, Vieira IS, Souza LDM, Silva RA. Prevalência de ansiedade e fatores associados em adultos. J Bras Psiquiatr. 2019;68(2):92-100. . Entre vestibulandos, estimou-se 23,5% apresentaram ansiedade considerada moderada ou grave, segundo a Escala Beck de Ansiedade1212. Rodrigues DG, Pelisoli C. Ansiedade em vestibulandos: um estudo exploratório. Rev Psiq Clín. 2008;35(5):171-7. . Além disso, foi identificado que vestibulandos possuem níveis de estresse mais elevados do que alunos do ensino médio e do ensino superior2020. Calais SL, Andrade LMB, Lipp MEN. Diferenças de sexo e escolaridade na manifestação de Stress em adultos jovens. Psicol Reflex Crit. 2003;16(2):257-63. . Uma hipótese é de que os elevados níveis de ansiedade e estresse nesse subgrupo ocorrem em razão tanto do alto grau de competitividade das provas quanto da incerteza em relação ao ingresso no ensino superior.

Esta pesquisa identificou que o sexo feminino apresentou maior prevalência de sintomatologia de TAG, corroborando o resultado de outras pesquisas66. World Health Organization. Depression and other common mental disorders: Global health estimates. Geneva: World Health Organization; 2017. , 99. Soares AB, Martins JSR. Ansiedade dos estudantes diante da expectativa do exame vestibular. Paidéia (Ribeirão Preto). 2010;20(47):57-62. , 2121. Baxter AJ, Scott KM, Vos T, Whiteford HA. Global prevalence of anxiety disorders: a systematic review and meta-regression. Psychol Med. 2013;43(5):897-910.

22. Somers JM, Goldner EM, Waraich P, Hsu L. Prevalence and incidence studies of anxiety disorders: a systematic review of the literature. Can J Psychiatry. 2006;51(2):100-13.
- 2323. Vesga-López O, Schneier FR, Wang S, Heimberg RG, Liu SM, Hasin DS, et al. Gender differences in generalized anxiety disorder: results from the National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions (NESARC). J Clin Psychiatry. 2008;69(10):1606-16. . Está bem estabelecida na literatura a existência de uma desigualdade em desfechos de saúde baseada no gênero. Vesga-López et al. citam três razões complementares que podem contribuir para essa diferença encontrada: (a) fatores genéticos: estudos feitos com gêmeos indicam que contribuição absoluta de fatores genéticos para o risco de TAG é maior entre mulheres2424. Hettema JM, Prescott CA, Kendler KS. A population-based twin study of generalized anxiety disorder in men and women. J Nerv Ment Dis. 2001;189(7):413-20. ; (b) influências hormonais: alterações na regulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e no sistema simpático-adrenomedular, bem como eventos do ciclo hormonal feminino, parecem contribuir para o risco de TAG2525. Altemus M. Sex differences in depression and anxiety disorders: potential biological determinants. Horm Behav. 2006;50(4):534-8. ; e (c) vulnerabilidade a estressores ambientais: mulheres podem ser mais vulneráveis ao desenvolvimento de psicopatologias em função de eventos traumáticos na infância do que homens2626. Gallo EAG, Munhoz TN, Loret de Mola C, Murray J. Gender differences in the effects of childhood maltreatment on adult depression and anxiety: A systematic review and meta-analysis. Child Abuse Negl. 2018;79:107-14. ; além disso, sugerimos uma quarta razão, a (d) social: mulheres recebem piores salários para os mesmos empregos que os homens, possuem maior carga de trabalho e têm menos oportunidades. Ademais, a objetificação dos seus corpos impõe um fardo social pela necessidade de manter uma aparência socialmente estabelecida2727. Sen G, Ostlin P. Gender inequity in health: why it exists and how we can change it. Glob Public Health. 2008;3 Suppl 1:1-12. . Logo, é possível que as participantes deste estudo apresentem maiores níveis de ansiedade como um produto desse excesso de preocupações (profissional/acadêmica, exigências pessoais, biológicas, hormonais, sexuais e sociais).

Os estudantes com 19 anos apresentaram probabilidade 22% menor de ter sintomatologia de TAG quando comparados aos mais novos, que possuem 18 anos. Entre estudantes de pré-vestibular, não há um consenso sobre a relação entre idade e ansiedade. Em um estudo realizado em Minas Gerais, foi identificado que indivíduos mais jovens (17 a 24 anos) tiveram maior prevalência de ansiedade do que os mais velhos (25 a 33 anos)1313. Terra DHP, Vieira GA, Costa AMDD, Terra FS, Freire GER. Ansiedade e depressão em vestibulandos. Odontol Clin Cient. 2013;12(4):273-6. . Outra investigação, conduzida no Rio Grande do Sul, não encontrou associação significativa entre essas variáveis1212. Rodrigues DG, Pelisoli C. Ansiedade em vestibulandos: um estudo exploratório. Rev Psiq Clín. 2008;35(5):171-7. . De acordo com Peruzzo et al. 1111. Peruzzo AS, Cattani BC, Guimarães ER, Boechat LC, Argimon IIL, Scarparo HBK. Estresse e vestibular como desencadeadores de somatizações em adolescentes e adultos jovens. Psicol Argum. 2008;26(55):319-27. , é com 18 anos que, em geral, os estudantes começam a realizar provas de vestibular. Assim, é possível que os mais novos em nossa amostra estejam enfrentando algo novo e, dessa forma, tornem-se mais ansiosos, enquanto os mais velhos podem estar nessa situação há mais tempo, sofrendo com a incerteza em relação ao futuro, o que explicaria haver uma prevalência menor de sintomatologia de TAG entre aqueles com idade intermediária.

Indivíduos que estudaram em escola privada no terceiro ano do ensino médio apresentaram maior prevalência de sintomatologia de TAG do que aqueles que cursaram em escola pública. Não identificamos pesquisa que tenha avaliado essa associação. Entretanto, uma investigação identificou que a proporção de vestibulandos estressados foi maior entre os estudantes oriundos de escola privada do que de escola pública2828. Faria RR, Weber LND, Ton CT. O estresse entre vestibulandos e suas relações com a família e a escolha profissional. Psicol Argum. 2012;30(68):43-52. . Outro inquérito conduzido com 200 estudantes de ensino superior mostrou que alunos de instituições públicas costumam apresentar melhor adaptação acadêmica do que os de instituições privadas2929. Soares AB, Poube LN, Mello TVS. Habilidades sociais e adaptação acadêmica: um estudo comparativo em instituições de ensino público e privado. Aletheia. 2009;(29):27-42. . Uma hipótese é que os estudantes do ensino privado tenham sofrido maior cobrança em relação ao desempenho, por parte dos familiares e dos pares, por terem feito, supostamente, um ensino de maior qualidade.

A pontuação média no instrumento de ansiedade relacionada à prova foi alta (escore médio = 106,09). Em uma pesquisa com escolares que iriam prestar o vestibular, foi identificado um escore médio de ansiedade relacionada à prova igual a 73,811414. Karino CA, Laros JA. Ansiedade em situações de prova: evidências de validade de duas escalas. Psico-USF. 2014;19(1):23-36. . Isso indica que a ansiedade relacionada à prova entre os estudantes de pré-vestibular pode ser superior à de outros subgrupos de estudantes. Além disso, indivíduos com os maiores escores nessa escala tiveram uma probabilidade 49% maior de apresentar sintomatologia de TAG. Ainda, apesar de o escore médio de ansiedade interna e externamente causada ter sido elevado nessa amostra (63,70 versus 38,42 nesse mesmo estudo de escolares1414. Karino CA, Laros JA. Ansiedade em situações de prova: evidências de validade de duas escalas. Psico-USF. 2014;19(1):23-36. ), essa variável perdeu a significância da análise bruta para ajustada. Portanto, esses resultados sugerem que são as reações sentidas diante da prova (emoções, preocupações, confiança/desconfiança e distração) que podem contribuir para a ocorrência de TAG, e não as expectativas (sejam elas internas ou externas) em relação ao desempenho na prova. É plausível considerar ser esse o principal fator de risco identificado neste estudo, o que explica, também, a alta prevalência de sintomatologia de TAG nesta amostra quando comparada a outras populações e subgrupos.

O estresse percebido também esteve significativamente associado com a sintomatologia de TAG. O estresse pode ser entendido como o atrito entre o indivíduo e as situações e adversidades da vida cotidiana e está relacionado tanto com experiências positivas quanto negativas3030. Franke HA. Toxic Stress: Effects, Prevention and Treatment. Children (Basel). 2014;1(3):390-402. . As pesquisas com vestibulandos apontam que, em geral, os níveis de estresse são elevados entre esse subgrupo1111. Peruzzo AS, Cattani BC, Guimarães ER, Boechat LC, Argimon IIL, Scarparo HBK. Estresse e vestibular como desencadeadores de somatizações em adolescentes e adultos jovens. Psicol Argum. 2008;26(55):319-27. , 2828. Faria RR, Weber LND, Ton CT. O estresse entre vestibulandos e suas relações com a família e a escolha profissional. Psicol Argum. 2012;30(68):43-52. , 3131. Santos FS, Maia CRC, Faedo FC, Gomes GPC, Nunes ME, Oliveira MVM. Estresse em Estudantes de Cursos Preparatórios e de Graduação em Medicina. Rev Bras Educ Med. 2017;41(2):194-200. . Indivíduos com maiores níveis de estresse podem ser aqueles que estejam enfrentando um maior número de adversidades ou dificuldades mais graves. Essa situação, por sua vez, pode gerar um aumento na probabilidade de desenvolver ansiedade generalizada.

Pela natureza de inquéritos epidemiológicos, este estudo possui algumas limitações. Em primeiro lugar, estudos transversais não permitem o estabelecimento de temporalidade. Dessa forma, o estudo está sujeito ao viés de causalidade reversa. Também, outras comorbidades psiquiátricas não foram avaliadas, podendo atuar como possíveis confundidoras que não foram controladas. Por se tratar de uma amostra de um curso no extremo sul do Brasil, extrapolações devem ser feitas com cautela. Em quarto lugar, a prevalência de ansiedade generalizada pode ter sido subestimada, em função das perdas. Os indivíduos que não estavam em aula no momento da coleta não participaram da pesquisa e é possível que a prevalência de transtornos mentais (inclusive os de ansiedade) seja maior entre faltantes do que entre os presentes. Por fim, não é possível separar o estado de ansiedade pré-prova da sintomatologia de TAG. Faz-se necessário acompanhamento clínico por profissional habilitado para que se possa fazer alguma suposição diagnóstica. Mesmo assim, os resultados encontrados mostram como o processo de preparação para o vestibular pode produzir grande sofrimento, a ponto de quase metade da amostra apresentar sintomas suficientes para rastreio positivo para TAG.

Contudo, mesmo com limitações, destaca-se que esta investigação trata de um assunto negligenciado e pouco entendido: a saúde mental de estudantes de pré-vestibular. Foram identificadas poucas pesquisas sobre o assunto. Dessa forma, este trabalho pode auxiliar no direcionamento da atenção diante dessa situação. Os estudos sobre essa temática em geral analisam as exposições de forma isolada em análises bivariadas, o que pode gerar resultados imprecisos. Nesta pesquisa buscou-se utilizar análise multivariável para avaliar os fatores associados controlando para possíveis fatores de confusão, aumentando a robustez dos achados encontrados.

CONCLUSÃO

A prevalência de indivíduos com sintomatologia de TAG foi elevada, podendo ser até cinco vezes maior do que na população geral brasileira66. World Health Organization. Depression and other common mental disorders: Global health estimates. Geneva: World Health Organization; 2017. , 88. Silva MT, Caicedo Roa M, Martins SS, da Silva ATC, Galvao TF. Generalized anxiety disorder and associated factors in adults in the Amazon, Brazil: A population-based study. J Affect Disord. 2018;236:180-6. , o que indica a importância de acender um sinal de alerta. Esse subgrupo de estudantes encontra-se na lacuna da educação formal, não estando vinculado a nenhum grau de escolaridade formal. Portanto, esses indivíduos sofrem com a ansiedade que é gerada quando se está prestes a dar o próximo salto. Além do prejuízo global à saúde, o TAG pode acarretar prejuízos nas funções cognitivas, particularmente na atenção seletiva e na memória de trabalho3232. Yang Y, Zhang X, Zhu Y, Dai Y, Liu T, Wang Y. Cognitive impairment in generalized anxiety disorder revealed by event-related potential N270. Neuropsychiatr Dis Treat. 2015;11:1405-11. , funções vitais para o bom desempenho em provas. Dentre os fatores de risco identificados, destacamos que altos escores de ansiedade relacionada à prova podem aumentar em até 49% a probabilidade de TAG. Considerando os resultados encontrados, recomenda-se que pré-vestibulares possuam, em seu grupo de trabalho, profissionais com a atenção voltada para a saúde mental dos seus estudantes. Intervenções em terapia comportamental e cognitivo-comportamental, bem como uso de técnicas de biofeedback e de treinamento de competências, têm apresentado resultados promissores na redução de ansiedade relacionada à prova3333. von der Embse N, Barterian J, Segool N. Test Anxiety Interventions for Children and Adolescents: A Systematic Review of Treatment Studies from 2000-2010. Psychol Schs. 2013;50(1):57-71. . Dessa forma, essas estratégias podem auxiliar indireta ou diretamente na redução da prevalência de sintomatologia de TAG e, consequentemente, melhorar a qualidade de vida e desempenho desses alunos.

  • ERRATUM
    DOI: 10.1590/0047-2085000000277
    J Bras Psiquiatr. 2020;69(3):179-86
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AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao curso preparatório, direção e toda a equipe por permitirem e incentivarem a realização desta pesquisa, bem como aos alunos que dedicaram seu tempo para participar deste estudo.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jun 2020
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2020

Histórico

  • Recebido
    12 Dez 2019
  • Aceito
    04 Abr 2020
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