Acessibilidade / Reportar erro

Avaliação do comportamento suicida em estudantes de Medicina

Assessment of suicidal behavior in medical students

RESUMO

Objetivo

O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de comportamento suicida (ideação, plano e tentativa) nos últimos 12 meses e ao longo da vida e fatores associados entre alunos de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Métodos

Um estudo seccional foi desenvolvido em uma amostra representativa e aleatória (n = 324) de 1.217 estudantes de Medicina da UFRJ entre abril e novembro de 2019. Os dados foram coletados por cinco pesquisadores em uma entrevista presencial com 296 alunos (taxa de participação de 91,4%), usando um questionário do Estudo Multicêntrico de Intervenção no Comportamento Suicida para avaliar o comportamento suicida, o PHQ-9 (Questionário de Saúde do Paciente-9) para avaliar o episódio depressivo maior e o ASSIST (Teste de Triagem do Envolvimento com Substâncias) para aferir o uso e abuso de substâncias. Para a avaliação das associações, utilizou-se o modelo de regressão logística.

Resultados

As prevalências nos últimos 12 meses foram de 18,9% (IC de 95%: 14,9-23,8) para ideação, 6,1% (IC de 95%: 3,9-9,4) para plano e 1,7% (IC de 95%: 0,7-4,1) para tentativa de suicídio. As prevalências ao longo da vida foram de 27,7% (IC de 95%: 22,9-33,0) para ideação, 12,5% (IC de 95%: 9,2-16,7) para plano e 5,7% (IC de 95%: 3,6-9,0) para tentativa de suicídio. Os resultados encontrados foram maiores que os achados dos estudos nacionais. O episódio depressivo maior e o tratamento psicológico atual foram associados ao comportamento suicida na análise final.

Conclusões

A associação com tratamento em saúde mental e episódio depressivo maior sugere que as universidades deveriam implementar programas para a prevenção do comportamento suicida.

Comportamento suicida; estudantes de Medicina; fatores de risco; suicídio

ABSTRACT

Objective

The aim of this paper is to analyze the lifetime and past 12-month prevalence rates of suicidal behavior (suicidal ideation, suicide plans and suicidal attempt) and associated factors among medical students at the Federal University of Rio de Janeiro.

Methods

Sectional study was applied to a representative and random set (n = 324) of 1,217 medical students between April and November of 2019. The data were collected by five researchers through in-person interviews with 296 of 324 volunteers (participation rate of 91.4%), using the Multisite Intervention Study on Suicidal Behavior interview to assess suicidal behavior, the PHQ-9 (Patient Health Questionnaire-9) to assess major depressive episode, and ASSIST (Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test) to assess substance use and abuse. A logistic regression model was used to calculate associations.

Results

The rates of past-12 month were found to be 18.9% (CI 95%: 14.9-23.8) for ideation, 6.1% (CI 95%: 3.9-9.4) for suicide plans and 1.7% (CI 95%: 0.7-4.1) for suicidal attempts. The lifetime prevalence rates were 27.7% (CI 95%: 22,9-33,0) for suicidal ideation, 12.5% (CI 95%: 9.2-16.7) for plans and 5.7% (CI 95%: 3.6-9.0) for suicidal attempts. These rates are higher than the measured results among medical students in Brazil. The factors associated in the final analysis were the major depressive episode and current psychological treatment.

Conclusions

The association between mental health treatment and major depressive episode suggest that the universities should implement suicidal behavior prevention programs.

Suicidal behavior; medical students; risk factors; suicide

INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de 800.000 pessoas falecem por suicídio anualmente11. World Health Organization (WHO). Preventing suicide – A global perspective. Geneva: WHO; 2014. . O fenômeno do suicídio é multicausal, o que aumenta a diversidade de fatores de risco e de métodos utilizados. O comportamento suicida pode ser compreendido em diversos níveis, podendo ocorrer em uma progressão gradual, variando da ideação ao suicídio22. Botega NJ, Werlang BSG, Cais CFS, Macedo MM. Prevenção do comportamento suicida. Psico. 2006;37(3):213-20. , 33. Nock MK, Borges G, Bromet EJ, Cha CB, Kessler RC, Lee S. Suicide and suicidal behavior. Epidemiol Rev. 2008;30(1):133-54. .

O suicídio é a segunda causa de morte entre os estudantes de graduação dos Estados Unidos44. Daugherty JL, Hendricks LV. Suicide: dying for an education. Int Res Higher Educ. 2016;1(2):161-3. . Um estudo desenvolvido com 1.249 estudantes universitários do primeiro ano de uma universidade norte-americana demonstrou que cerca de 6% dos alunos relataram ideação suicida, com 40% desses estudantes classificados como deprimidos. Sintomas depressivos, o fato de morar sozinho, instabilidade afetiva, conflitos familiares e abuso de substâncias foram associados independentemente como fatores de risco para ideação suicida55. Arraia A, O’Grady K, Caldeira K, Vicent K, Wilcox H, Wish E. Suicide ideation among college students: A multivariate analysis. Arch Suicide Res. 2009;13(3):230-46. .

Com relação aos estudantes de Medicina, os níveis de comportamento suicida mais investigados nos estudos internacionais foram a ideação e a tentativa. A prevalência de ideação suicida variou entre 3,7% e 37,8% ao longo da vida66. Coentre R, Faravelli C, Figueira ML. Assessment of depression and suicidal behaviour among medical students in Portugal. Int J Med Educ. 2016;7:354-63.

7. Chow W, Schmidtke JS, Loerbroks A, Muth T, Angerer P. The Relationship between Personality Traits with Depressive Symptoms and Suicidal Ideation among Medical Students: A Cross-Sectional Study at One Medical School in Germany. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(7):1462.

8. Dantas N. Ideação suicida e empatia: um estudo correlacional em estudantes de Medicina de uma universidade pública [Dissertação de Mestrado em Neuropsiquiatria e Ciência do Comportamento]. Recife: UFPE; 2015.

9. Sobowale K, Zhou N, Fan J, Liu N, Sherer R. Depression and suicidal ideation in medical students in China: a call for wellness curricula. Int J Med Educ. 2014;15:(5):31-6.

10. Osama M, Islam MY, Hussain SA, Masroor SM, Burney MV, Masood MA. et al. Suicidal ideation among medical students of Pakistan: A cross-sectional study. J Forensic Leg Med. 2014;27:65-8.

11. Nierkerk L, Scribante L, Raubenheimer PJ. Suicidal ideation and attempt among South African medical students. S Afr Med J. 2012;102(6 Pt 2):372-3.

12. Sevillano SB, Flores LA, Jimenez CAC. Conducta suicida em Estudiantes de medicina. Rev Méd Vallejiana. 2020;9(1):11-2.
- 1313. Eskin M, Voracek M, Stieger S, Altinyazar V. A cross-cultural investigation of suicidal behavior and attitudes in Austrian and Turkish medical students. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol. 2011;46(9):813-23. . Já a prevalência de tentativa de suicídio variou entre 0,7%66. Coentre R, Faravelli C, Figueira ML. Assessment of depression and suicidal behaviour among medical students in Portugal. Int J Med Educ. 2016;7:354-63. e 6,4% nos últimos 12 meses1313. Eskin M, Voracek M, Stieger S, Altinyazar V. A cross-cultural investigation of suicidal behavior and attitudes in Austrian and Turkish medical students. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol. 2011;46(9):813-23. . Esses estudos encontraram alguns fatores de risco relacionados ao comportamento suicida, como sintomas depressivos, uso abusivo de álcool e outras substâncias, ansiedade e estresse, e utilizaram principalmente a Escala de Beck (BSI) para a avaliação da ideação suicida.

Uma revisão de diversas universidades norte-americanas publicada em 2017 reúne dados obtidos de estudos observacionais que indicam o abuso de substâncias, currículos acadêmicos intensos, a diminuição da satisfação com a vida e o “comportamento mal-adaptativo” como os principais fatores relacionados à tentativa de suicídio entre os alunos de Medicina1414. Kosik R, Nguyen T, KO I, Fan A. Suicidal ideation in medical students. Neuropsychiatry. 2017;7(1):9-11. .

No Brasil, um estudo de revisão verificou que a escola médica tem sido reconhecida por possuir fatores associados ao estresse, os quais podem influenciar negativamente o bem-estar físico e mental dos alunos (como a pressão acadêmica por excelência, a extensa carga horária e o acesso a substâncias). Destacou a prevalência de 50% de algum transtorno mental nessa população, sendo a depressão o mais frequente. Em contrapartida, demonstrou-se que o suicídio não tem sido muito estudado na população de alunos de Medicina1515. Santa N, Cantilino A. Suicídio entre médicos e estudantes de Medicina: revisão de literatura. Rev Bras Educ Méd. 2016;40(4):772-80. .

Os estudos que tiveram como objetivo principal a avaliação da prevalência de comportamento suicida em estudantes de Medicina no Brasil focaram na ideação suicida e fatores associados. Em um estudo desenvolvido na Universidade Federal de Pernambuco em 2015, foram entrevistados 197 estudantes de Medicina (em uma amostra de conveniência), sendo encontrada prevalência de 9% para ideação suicida ao longo da vida, associada à existência prévia de transtornos do humor e envolvimento em relações amorosas88. Dantas N. Ideação suicida e empatia: um estudo correlacional em estudantes de Medicina de uma universidade pública [Dissertação de Mestrado em Neuropsiquiatria e Ciência do Comportamento]. Recife: UFPE; 2015. .

Já no estudo de 2009, realizado na Faculdade de Medicina da Fundação do ABC-SP, todos os alunos matriculados nos anos de 2006 e 2007 foram considerados para amostra inicial (n = 603), apresentando uma taxa de participação de 56% (338 alunos), sendo encontrada a prevalência de 13,4% para ideação suicida durante o período da graduação. Entre os fatores associados relatados, estavam a presença de desesperança e baixa qualidade de vida1616. Alexandrino-Silva C, Pereira MLG, Bustamente C, Ferraz ACT, Baldassin S, Andrade AG et al. Suicidal ideation among students enrolled in healthcare training programs: a cross-sectional study. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(4):338-44. . Ambos os estudos eram transversais e utilizaram a Escala de Beck para avaliação da ideação suicida (BSI).

Apesar da importância desses dois estudos, destaca-se que eles avaliaram somente a ideação suicida, utilizaram uma amostra de conveniência88. Dantas N. Ideação suicida e empatia: um estudo correlacional em estudantes de Medicina de uma universidade pública [Dissertação de Mestrado em Neuropsiquiatria e Ciência do Comportamento]. Recife: UFPE; 2015. e apresentaram baixa taxa de resposta1616. Alexandrino-Silva C, Pereira MLG, Bustamente C, Ferraz ACT, Baldassin S, Andrade AG et al. Suicidal ideation among students enrolled in healthcare training programs: a cross-sectional study. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(4):338-44. .

Desse modo, o objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência do comportamento suicida (ideação, plano e tentativa) aos 12 meses e ao longo da vida e fatores associados entre alunos de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), utilizando um tamanho de amostra representativo, aleatório e instrumentos validados para uso no Brasil.

MÉTODOS

Local e população do estudo

O estudo foi realizado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O curso tem a duração mínima de 12 e máxima de 18 semestres letivos, apresentando uma população de 1.217 estudantes inscritos oficialmente em fevereiro de 2019.

Amostra

O cálculo amostral considerou, para fins de análise, uma prevalência de 35%, com intervalo de confiança de 95%. Foi aceito um erro amostral de 5% e, para a correção de possíveis distorções, um efeito do desenho amostral de 1%. Dessa forma, os participantes do estudo foram selecionados aleatoriamente por ano de inscrição (do primeiro ao sexto ano), obtendo 54 alunos por ano e totalizando uma amostra final de 324 participantes. Esse tamanho de amostra foi calculado para o projeto “Avaliação de transtornos mentais comuns entre estudantes de Medicina da UFRJ”, que incluía a avaliação do comportamento suicida, de onde foram extraídos os dados utilizados no presente estudo.

Critérios de inclusão e exclusão do estudo

  1. Critérios de inclusão: pertencer à população de alunos do curso de Medicina da UFRJ, regularmente matriculados em 2019; compreender plenamente e concordar livremente com o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).

  2. Critérios de exclusão: estudantes que não aceitaram participar do estudo; estudantes que relataram aos entrevistadores, durante a aplicação do questionário, desconforto ou constrangimento em responder a tal questionário, mesmo tendo concordado em assinar o TCLE; estudantes que, pela dificuldade na compreensão e/ou expressão na língua portuguesa, não conseguiriam responder de forma minimamente adequada ao questionário.

Instrumentos utilizados nas entrevistas

Variáveis sociodemográficas

O questionário sociodemográfico foi baseado em um estudo realizado sobre o perfil sociodemográfico do estudante de graduação1717. Qualigato I, Santos Júnior A. O estudante do PROFIS: perfil sócio-demográfico, cultural, identidade pessoal e social, espiritualidade, sexualidade, qualidade de vida, uso de álcool e outras substâncias psicoativas, saúde física e mental. Revista dos Trabalhos de Iniciação Científica da Unicamp. 2019;27:1-1. . Para o presente estudo, foram introduzidas questões sobre sexo, faixa etária, naturalidade, renda familiar em salários mínimos, situação conjugal (casado/vivendo com o companheiro e solteiro), acesso à política de cotas, histórico de atendimento pela saúde mental (atendimento psiquiátrico e psicológico antes de entrar na faculdade e no momento atual) e o fato de viver sozinho ou não. Foi avaliada a sobrecarga acadêmica, ou seja, a carga excessiva de trabalhos estudantis que interferem na vida do aluno ou no seu contexto acadêmico1818. Fonaprace. V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as) Graduandos(as) das IFES – 2018. Brasília, DF: Andifes; 2019. .

Instrumento para avaliação do comportamento suicida

Para a verificação da prevalência de comportamento suicida ao longo da vida e nos últimos 12 meses, foi utilizado um instrumento baseado no questionário usado no “Estudo multicêntrico de intervenção no comportamento suicida (SUPRE-MISS) da Organização Mundial da Saúde” e validado para uso no Brasil1919. Botega, NJ, Mauro MLF, Cais CFS. Estudo multicêntrico de intervenção no comportamento suicida (Supre-Miss) da Organização Mundial da Saúde. In: Werlang BG, Botega NJ, editores. Comportamento suicida. Porto Alegre: Artmed; 2002. . No presente estudo foi utilizada a seção de história de comportamento suicida pessoal.

PHQ-9 (Questionário de Saúde do Paciente)

Esse questionário é composto de nove perguntas que avaliam a presença de sintomas para o episódio de depressão maior nas duas últimas semanas, com critérios baseados no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV). A tradução para o português e a back translation foram apresentadas em uma publicação de 20062020. Fraguas JR, Henriques Jr. SG, De Lucia MS, Iosifescu DV, Schwartz FH, Menezes PR, et al. The detection of depression in medical setting: a study with PRIME-MD. J Affect Disord. 2006;91:11-7. .

A sensibilidade (72,5%) e a especificidade (88,9%) do instrumento com ponto de corte ≥ 10 foram verificadas entre adultos da população em geral no Brasil2121. Santos I, Tavares B, Munhoz T, Almeida L, Silva N, Tams B, et al. Sensibilidade e especificidade do Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) entre adultos da população geral. Cad Saúde Pública. 2013;29(8):1533-43. . Os trabalhos em estudantes de Medicina apontam um ponto de corte ≥ 10 para depressão, o qual foi utilizado na presente pesquisa2222. Hakim A, Tak H, Nagar S, Bhansali S. Assessment of prevalence of depression and anxiety and factors associated with them in undergraduate medical students of Dr. S. N. Medical College, Jodhpur. Int J Community Med Public Health. 2017;4(9):3267-72.

23. Zhou Y, Xu J, Rief W. Are comparisons of mental disorders between Chinese and German students possible? An examination of measurement invariance for the PHQ-15, PHQ-9 and GAD-7. BMC Psychiatry. 2020;20(480):1-11.
- 2424. Kroenke K, Spitzer RL, Janet B, Williams DSM. The PH9. Validity of a Brief Depression Severity Measure. J Gen Intern Med. 2001;16:606-13. .

ASSIST (Teste de Triagem do Envolvimento com Álcool, Cigarro e outras Substâncias)

É um instrumento estruturado contendo oito questões acerca do uso de substâncias psicoativas. O total do escore pode variar de 0 a 20; a faixa de 0 a 3 indica sugestão de uso de substância, de 4 a 15, de abuso e ≥ 16, de dependência. Esse instrumento foi validado para aplicação no Brasil em 20042525. Henrique IFS, De Micheli D, Lacerda RB, Lacerda LA, Formigoni MLOS. Validação da versão brasileira do teste de triagem do envolvimento com álcool, cigarro e outras substâncias (ASSIST). Rev Assoc Med Bras. 2004;50(2):199-206. . No presente estudo, foram considerados os escores entre 1 e 15, com a finalidade de rastrear os casos de uso/abuso de álcool e outras substâncias e a frequência de uso e abuso nos últimos três meses.

Coleta de dados

Foi realizada, inicialmente, a apresentação do projeto de pesquisa para a direção e coordenação do curso de Medicina da UFRJ, de modo que fosse aprovada a metodologia e compreendida a importância do estudo para a universidade. A secretaria acadêmica do curso de Medicina forneceu uma lista contendo nome e número de matrícula dos alunos inscritos (já contendo os alunos reclassificados para o primeiro semestre) para o ano de 2019. A partir dessa lista, foi realizado o sorteio randomizado dos participantes do estudo. Essa listagem dos participantes foi utilizada apenas pelos coordenadores da pesquisa.

Posteriormente, após a prévia autorização dos professores das disciplinas da Faculdade de Medicina da UFRJ, os coordenadores da pesquisa realizaram breve exposição do estudo em salas de aulas, expondo a importância desta pesquisa para a comunidade acadêmica, a metodologia com sorteio randomizado de amostra e o cuidado com o sigilo durante todo o processo. Os estudantes que estavam nas aulas receberam todas as orientações pertinentes e foram convidados a preencher uma listagem-padrão com nome, e-mail , telefone celular, número da matrícula e contatos dos coordenadores da pesquisa, sendo esclarecidos de que seriam contatados somente aqueles que já constavam na amostra anteriormente randomizada. Solicitou-se aos alunos que compartilhassem a informação sobre a pesquisa com os demais colegas que não estavam presentes nas aulas, já que eles poderiam fazer parte da amostra previamente selecionada e, se eles estivessem de acordo, ofereceriam o contato (telefone celular ou e-mail ). Esse procedimento foi utilizado porque a secretaria acadêmica do curso não pode fornecer informações, como, por exemplo, o telefone celular de cada aluno do curso.

Portanto, com as informações de contato de todos os alunos, foi realizada uma busca (via telefone celular e e-mail ) com os alunos já previamente selecionados e feito o agendamento da entrevista com aqueles que responderam afirmativamente ao convite. Foram também adotadas medidas de modo a minimizar as perdas, como tentativas de contatos telefônicos e/ou correio eletrônico confirmando o reagendamento com o aluno selecionado na amostra para a entrevista em momento oportuno.

Se, após cinco tentativas, os alunos selecionados não entravam em contato para serem entrevistados, eles eram considerados como perdas do estudo.

Os instrumentos foram autopreenchidos por cada participante, em ambiente adequado que garantia o anonimato do estudante. Foi utilizado um instrumento de autopreenchimento com o objetivo de conseguir melhor aplicabilidade e maior fidedignidade nas respostas, uma vez que permite aos entrevistados relatar um comportamento que, por constrangimento, poderia ser ocultado numa entrevista direta com o entrevistador. O instrumento foi construído de forma adequada para a população de nível superior. Todos os participantes tiveram o auxílio presencial dos entrevistadores do estudo, previamente treinados nos instrumentos, para ajudá-los nas dúvidas relativas ao preenchimento do instrumento. As entrevistas duravam cerca de 15 minutos, e a coleta de dados foi realizada no entre os meses de abril e dezembro de 2019.

Análise dos dados

Foram calculadas as prevalências do comportamento suicida (ideação, plano e tentativa) ao longo da vida e nos últimos 12 meses, com intervalo de confiança de 95%.

Para avaliar as associações das variáveis independentes com os três desfechos (ideação, plano e tentativa) ao longo da vida na análise univariada, foram calculados a odds ratio (OR) e seus respectivos intervalos de confiança (IC) de 95% e o teste qui-quadrado X22. Botega NJ, Werlang BSG, Cais CFS, Macedo MM. Prevenção do comportamento suicida. Psico. 2006;37(3):213-20. , considerando o p ≤ 0,05. Os dados analisados não foram ajustados. As variáveis associadas com os três desfechos com p ≤ 0,20 foram incluídas na regressão logística múltipla. Para o modelo final, foram calculadas a OR com um IC de 95% e p ≤ 0,05. Para o procedimento da análise estatística, foi utilizado o programa Statistical Package for the Social Sciences (”SPSS for Windows“), versão 21.0.

Aspectos éticos

O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Parecer nº 2.914.909). Todos os alunos que participaram do estudo assinaram o TCLE antes de serem entrevistados. Os alunos que viessem a necessitar de atendimento eram encaminhados ao Setor de Atendimento Psiquiátrico e Psicológico aos alunos da Faculdade de Medicina da UFRJ, onde receberiam o cuidado em saúde mental.

RESULTADOS

A partir de uma amostra formada por 324 alunos, 302 foram entrevistados, uma vez que 22 não foram localizados. Houve, ainda, seis recusas de participação. Dessa forma, foram obtidas respostas de 296 participantes (taxa de participação de 91,4%).

Em relação ao comportamento suicida identificado ao longo da vida, as prevalências encontradas foram de 27,7% (IC de 95%: 22,9-33,0) para ideação suicida, 12,5% (IC de 95%: 9,2-16,7) para plano e 5,7% (IC de 95%: 3,6-9,0) para tentativa. As prevalências foram de 18,9% (IC de 95%: 14,9-23,8) para ideação suicida, de 6,1% (IC de 95%: 3,9-9,4) para plano e de 1,7% (IC de 95%: 0,7-4,1) para tentativa nos últimos 12 meses.

Características sociodemográficas e clínicas

A amostra era constituída principalmente pelo sexo feminino (59,1%), solteiros (95,9%), alunos com idade igual ou inferior a 24 anos (64,5%), migrantes (50,3%), oriundos de família cuja renda é superior a três salários mínimos (78,1%), não cotistas (52%), que não moram sozinhos (85,8%), que não realizaram atendimento psicológico (no momento da pesquisa e anterior à entrada na faculdade, 74,3% e 62,2%, respectivamente), que não realizaram atendimento psiquiátrico (no momento da pesquisa e anterior à entrada na faculdade, 80,0% e 88,2%, respectivamente), com percepção de impacto acadêmico (71,3%), com episódio depressivo maior (59,4%) e abuso de substâncias (51%). O álcool é a substância mais usada de forma abusiva entre os alunos (60%), seguida pela maconha (14,5%) e tabaco (13,6%).

O atendimento psicológico (atual), o atendimento psiquiátrico (anterior e atual) e o episódio depressivo maior foram associados significativamente ao comportamento suicida (ideação, plano e tentativa) ao longo da vida. O atendimento psicológico anterior e uso/abuso de substâncias foram associados marginalmente ao plano suicida ( Tabela 1 ). A distribuição das variáveis em ideação, plano e tentativa na primeira linha da Tabela 1 foi baseada em estudo anterior2626. Botega NJ, Marín-Leon L, Oliveira H, Barros M, Silva V, Dalgalarrondo P. Prevalências de ideação, plano e tentativa de suicídio: um inquérito de base populacional em Campinas, São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública. 2009;25(12):2632-8. .

Tabela 1
Características sociodemográficas e clínicas associadas com o comportamento suicida (ideação, plano e tentativa) ao longo da vida em 296 estudantes de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com intervalo de confiança de 95%

As variáveis associadas com os três desfechos (ideação, plano e tentativa), com p ≤ 0,20, foram incluídas na regressão logística múltipla. Como se observa na Tabela 2 , o episódio depressivo maior permaneceu associado significativamente com o comportamento suicida (ideação, plano e tentativa), assim como o tratamento psicológico atual permaneceu associado significativamente ao plano de suicídio no modelo final.

Tabela 2
Modelo final da regressão logística múltipla dos fatores de risco para o comportamento suicida (ideação, plano e tentativa) ao longo da vida em 296 estudantes de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com intervalo de confiança de 95%

DISCUSSÃO

Os estudos nacionais em estudantes de Medicina avaliaram somente a ideação suicida e encontraram frequências de 9% e 13,4% nos últimos 12 meses, respectivamente88. Dantas N. Ideação suicida e empatia: um estudo correlacional em estudantes de Medicina de uma universidade pública [Dissertação de Mestrado em Neuropsiquiatria e Ciência do Comportamento]. Recife: UFPE; 2015. , 1616. Alexandrino-Silva C, Pereira MLG, Bustamente C, Ferraz ACT, Baldassin S, Andrade AG et al. Suicidal ideation among students enrolled in healthcare training programs: a cross-sectional study. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(4):338-44. , as quais estão abaixo da encontrada no presente estudo. Um estudo realizado em uma amostra populacional em Campinas encontrou 17,1% para ideação suicida, 4,8% para plano suicida e 2,8% para tentativa de suicídio ao longo da vida2626. Botega NJ, Marín-Leon L, Oliveira H, Barros M, Silva V, Dalgalarrondo P. Prevalências de ideação, plano e tentativa de suicídio: um inquérito de base populacional em Campinas, São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública. 2009;25(12):2632-8. .

Tais achados encontram-se abaixo do que foi encontrado no presente estudo (27,7% para ideação suicida entre os estudantes de Medicina). A taxa de suicídio nos alunos de Medicina tem sido apresentada como maior que as taxas de alunos e profissionais de outras áreas da saúde e até da população em geral1515. Santa N, Cantilino A. Suicídio entre médicos e estudantes de Medicina: revisão de literatura. Rev Bras Educ Méd. 2016;40(4):772-80. , 2727. Gold KJ, Sean A, Schwenk TL. Details on suicide among U.S. physicians: Data from the National Violent Death Reporting System. Gen Hosp Psychiatry. 2013;35(1):45-9. . As prevalências de ideação suicida nos estudos internacionais variaram entre 3,7% e 37,8% ao longo da vida66. Coentre R, Faravelli C, Figueira ML. Assessment of depression and suicidal behaviour among medical students in Portugal. Int J Med Educ. 2016;7:354-63. , 77. Chow W, Schmidtke JS, Loerbroks A, Muth T, Angerer P. The Relationship between Personality Traits with Depressive Symptoms and Suicidal Ideation among Medical Students: A Cross-Sectional Study at One Medical School in Germany. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(7):1462. , 1010. Osama M, Islam MY, Hussain SA, Masroor SM, Burney MV, Masood MA. et al. Suicidal ideation among medical students of Pakistan: A cross-sectional study. J Forensic Leg Med. 2014;27:65-8. , 1111. Nierkerk L, Scribante L, Raubenheimer PJ. Suicidal ideation and attempt among South African medical students. S Afr Med J. 2012;102(6 Pt 2):372-3.

12. Sevillano SB, Flores LA, Jimenez CAC. Conducta suicida em Estudiantes de medicina. Rev Méd Vallejiana. 2020;9(1):11-2.
- 1313. Eskin M, Voracek M, Stieger S, Altinyazar V. A cross-cultural investigation of suicidal behavior and attitudes in Austrian and Turkish medical students. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol. 2011;46(9):813-23. , 2727. Gold KJ, Sean A, Schwenk TL. Details on suicide among U.S. physicians: Data from the National Violent Death Reporting System. Gen Hosp Psychiatry. 2013;35(1):45-9.

28. Galván-Molina JF, Jiménez-Capdeville ME, Hernández-Mata M, Arellano-Cano JR. Psychopathology screening in medical school students. Gac Med Mex. 2017;153:69-80.
- 2929. Pinzón-Amado A, Guerrero S, Moreno K, Landínez C, Pinzón J. Ideación suicida en estudiantes de medicina: prevalencia y factores asociados. Rev Colomb Psiquiatr. 2013;43(S1):47-55. . Tais variações podem ser explicadas pelas diferentes estratégias metodológicas utilizadas nos estudos e pelos fatores culturais e socioeconômicos22. Botega NJ, Werlang BSG, Cais CFS, Macedo MM. Prevenção do comportamento suicida. Psico. 2006;37(3):213-20. , 1313. Eskin M, Voracek M, Stieger S, Altinyazar V. A cross-cultural investigation of suicidal behavior and attitudes in Austrian and Turkish medical students. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol. 2011;46(9):813-23. .

Os resultados que mais se aproximaram da presente pesquisa foram os do estudo realizado no Peru, demonstrando a prevalência de 23% para ideação suicida e de 4% para tentativa ao longo da vida1212. Sevillano SB, Flores LA, Jimenez CAC. Conducta suicida em Estudiantes de medicina. Rev Méd Vallejiana. 2020;9(1):11-2. . Por outro lado, um estudo realizado em Portugal demonstrou prevalência de 3,7% para ideação suicida, 1,1% para plano de suicídio e 0,7% para tentativa de suicídio ao longo da vida66. Coentre R, Faravelli C, Figueira ML. Assessment of depression and suicidal behaviour among medical students in Portugal. Int J Med Educ. 2016;7:354-63. , o que se coloca em contraposição aos dados encontrados no presente estudo. A grande desigualdade socioeconômica, exacerbada em situações de graves crises financeiras, pode contribuir para o aumento das taxas do comportamento suicida no Brasil e na América do Sul 3030. Hong J, Knapp M, McGuire A. Income-related inequalities in the prevalence of depression and suicidal behaviour: a 10-year trend following economic crisis. World Psychiatry. 2011;10:40-4. .

No modelo final da regressão logística, o episódio depressivo maior permaneceu associado significativamente ao comportamento suicida (ideação, plano e tentativa) ao longo da vida. Na literatura científica, a depressão já é demonstrada como um importante fator de risco para o comportamento suicida, evidenciada também nos estudos nacionais e internacionais em estudantes de Medicina66. Coentre R, Faravelli C, Figueira ML. Assessment of depression and suicidal behaviour among medical students in Portugal. Int J Med Educ. 2016;7:354-63. , 77. Chow W, Schmidtke JS, Loerbroks A, Muth T, Angerer P. The Relationship between Personality Traits with Depressive Symptoms and Suicidal Ideation among Medical Students: A Cross-Sectional Study at One Medical School in Germany. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(7):1462. , 99. Sobowale K, Zhou N, Fan J, Liu N, Sherer R. Depression and suicidal ideation in medical students in China: a call for wellness curricula. Int J Med Educ. 2014;15:(5):31-6. , 1515. Santa N, Cantilino A. Suicídio entre médicos e estudantes de Medicina: revisão de literatura. Rev Bras Educ Méd. 2016;40(4):772-80. .

Um estudo realizado na Coreia do Sul em pacientes com depressão demonstrou que a severidade da ideação suicida pode ser um preditor para o comportamento suicida, destacando que quanto mais severa a ideação e o plano suicida, maior será o risco para tentativa de suicídio em pacientes deprimidos. Os autores ressaltam a importância da avaliação do comportamento suicida em pacientes com depressão3131. Park EH, Hong N, Jon DI, Hong HJ, Jung MH. Past suicidal ideation as an independent risk factor for suicide behaviours in patients with depression. Int J Psychiatry Clin Pract. 2017;21(1):24-8. .

Uma metanálise foi desenvolvida com o objetivo de avaliar a magnitude do efeito da depressão e a desesperança como fatores de risco para ideação, tentativa e suicídio. Os resultados demonstraram que, apesar de a depressão e a desesperança aumentarem o risco para a ideação, tentativa e suicídio, a magnitude dos efeitos encontrados na metanálise foi menor do que a descrita na literatura. Os autores salientaram a necessidade de considerar a complexidade das interações dos vários fatores de risco presentes na depressão e no comportamento suicida3232. Ribeiro J, Huang X, Fox K, Franklin J. Depression and hopelessness as risk factors for suicide ideation, attempts and death: meta-analysis of longitudinal studies. Br J Psychiatry. 2018;212:279-86. .

O episódio depressivo maior foi encontrado com prevalência de 59,4% no presente estudo, a qual foi maior que a taxa demonstrada em uma metanálise realizada com dados de estudos nacionais e internacionais e outra apresentada em uma revisão sistemática realizada com dados de estudos brasileiros, que reportaram 27,2% e 30,6% de prevalência de depressão em estudantes de Medicina, respectivamente3333. Rotenstein LS, Ramos MA, Torre M, Segal JB, Peluso MJ, Guille C, et al. Prevalence of depression, depressive symptoms, and suicidal ideation among medical students a systematic review and meta-analysis. J Am Med Assoc. 2016;316(21):2214-36. , 3434. Pacheco JPG, Giacomin HT, Tam WW, Ribeiro TB, Arab C, Bezerra IM, et al. Mental health problems among medical students in Brazil: A systematic review and meta-analysis. Rev Bras Psiquiatr. 2017;39(4):369-78. . Alguns estudos demonstram que os alunos de Medicina têm maior probabilidade de apresentar sintomas de depressão durante o curso acadêmico do que estudantes de outros cursos de graduações e adultos jovens em geral da mesma faixa etária, chegando a acometer cerca de 50% dos alunos de Medicina3434. Pacheco JPG, Giacomin HT, Tam WW, Ribeiro TB, Arab C, Bezerra IM, et al. Mental health problems among medical students in Brazil: A systematic review and meta-analysis. Rev Bras Psiquiatr. 2017;39(4):369-78.

35. Facundes VLD, Ludermir AB. Transtornos mentais comuns em estudantes da área de saúde. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(3):194-200.
- 3636. Rezende CHA, Abrão CB, Coelho EP, Passos LBS. Prevalência de sintomas depressivos entre estudantes de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia. Rev Bras Educ Méd. 2008;32(3):315-23. .

O atendimento psicológico atual foi associado significativamente ao plano de suicídio no modelo final. O fato de relatar atendimento psicológico atual significa que o estudante com risco de suicídio estava em tratamento no momento da pesquisa e que o comportamento suicida pode ser um importante fator para procurar cuidados em saúde mental. Os transtornos mentais estão presentes em pelo menos 50% dos casos de comportamento suicida, o que poderia indicar também a procura por atendimento profissional1515. Santa N, Cantilino A. Suicídio entre médicos e estudantes de Medicina: revisão de literatura. Rev Bras Educ Méd. 2016;40(4):772-80. , 3737. Chachamovich E, Stefanello S, Botega N, Turecki G. Quais são os recentes achados clínicos sobre a associação entre depressão e suicídio. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(Supl I):S18-25. .

Uma das estratégias mais efetivas da prevenção do suicídio são o diagnóstico precoce e o tratamento de transtornos mentais22. Botega NJ, Werlang BSG, Cais CFS, Macedo MM. Prevenção do comportamento suicida. Psico. 2006;37(3):213-20. . Entretanto, a grande maioria da nossa amostra não relatou atendimento psiquiátrico e psicológico atual e anterior, o que é encontrado em outros estudos da área3838. Hunt J, Eisenberg D. Mental health problems and help-seeking behavior among college students. J Adolesc Health. 2010;46:3-10. .

O uso/abuso de substâncias apresentou associação marginal com o plano suicida na análise univariada. Outras pesquisas identificaram o uso/abuso de álcool e outras substâncias associado ao comportamento suicida55. Arraia A, O’Grady K, Caldeira K, Vicent K, Wilcox H, Wish E. Suicide ideation among college students: A multivariate analysis. Arch Suicide Res. 2009;13(3):230-46. , 1515. Santa N, Cantilino A. Suicídio entre médicos e estudantes de Medicina: revisão de literatura. Rev Bras Educ Méd. 2016;40(4):772-80. , 3939. Gil I, Maluf E, Souza T, Silva J, Pinto M. Análise transversal de sintomas depressivos em estudantes de medicina: prevalência no primeiro ano de graduação. Rev PsicoFAE: Pluralidades em Saúde Mental. 2018;7(2):99-118. . O uso abusivo de álcool e de outras substâncias entre os alunos de Medicina vem sendo objeto de estudos mundiais e nacionais, como apontado por uma revisão integrativa de 2015, que demonstrou como o consumo dessas substâncias está muito presente na comunidade médica, iniciando-se frequentemente no decorrer da vida acadêmica. Ainda de acordo com o estudo, as festas da faculdade, seguidas do período de pós-provas, são os momentos mais propícios ao uso de substâncias.

No contexto brasileiro, o álcool foi identificado como a principal substância de consumo entre os estudantes de Medicina, seguido pelo tabaco e drogas ilícitas, como a maconha4040. Machado C, Moura T, Almeida R. Estudantes de Medicina e as Drogas: evidências de um Grave Problema. Rev Bras Educ Méd. 2015;39(1):159-67. . Exemplifica-se esse achado com o estudo realizado na Universidade do Maranhão envolvendo 338 alunos do curso de Medicina, no qual se verificou uma taxa alta de usuários de álcool4141. Barbosa FL, Barbosa RL, Barbosa MCL, Aguiar DL, Figueiredo IA, Ribeiro AC, et al. Uso de Álcool entre Estudantes de Medicina da Universidade Federal do Maranhão. Rev Bras Educ Méd. 2013;1:89-95. .

Um estudo sobre o uso de substâncias em alunos de Medicina, tomando como base a revisão de literatura sobre o tema, reportou o álcool e o tabaco como as substâncias mais consumidas. De acordo com os autores, há um aumento da prevalência do uso de substâncias durante o curso médico, o que poderia ser resultado das atividades acadêmicas estressantes do curso4242. Candido F, Souza R, Stumpf M, Fernandes L, Veiga R, Santin M, et al. The use of drugs and medical students: a literature review. Rev Assoc Méd Bras. 2018;64(5):462-8. . Os autores ainda concluem que o uso de substâncias entre estudantes de Medicina é alto, mesmo eles sabendo acerca dos malefícios que o consumo pode ocasionar4242. Candido F, Souza R, Stumpf M, Fernandes L, Veiga R, Santin M, et al. The use of drugs and medical students: a literature review. Rev Assoc Méd Bras. 2018;64(5):462-8. .

Outro fator importante para a análise do comportamento suicida (ideação, plano e tentativa) entre estudantes de Medicina, já explorado em estudos anteriores, é a carga excessiva de trabalhos acadêmicos, que podem interferir nas atividades da vida cotidiana e acadêmica dos estudantes1515. Santa N, Cantilino A. Suicídio entre médicos e estudantes de Medicina: revisão de literatura. Rev Bras Educ Méd. 2016;40(4):772-80. . O curso de Medicina é reconhecido pelas atividades excessivas de trabalhos acadêmicos, que podem estar relacionadas aos transtornos mentais, como a depressão e a ideação suicida77. Chow W, Schmidtke JS, Loerbroks A, Muth T, Angerer P. The Relationship between Personality Traits with Depressive Symptoms and Suicidal Ideation among Medical Students: A Cross-Sectional Study at One Medical School in Germany. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(7):1462. , 1414. Kosik R, Nguyen T, KO I, Fan A. Suicidal ideation in medical students. Neuropsychiatry. 2017;7(1):9-11. . Entretanto, não foi possível estabelecer a associação entre esse fator e o comportamento suicida no presente trabalho.

A maioria da amostra é constituída por mulheres (59,1%) e por alunos da faixa etária até 24 anos (64,5%). O sexo feminino foi demonstrado como fator de risco para a ideação suicida em estudantes de Medicina1414. Kosik R, Nguyen T, KO I, Fan A. Suicidal ideation in medical students. Neuropsychiatry. 2017;7(1):9-11. , 1616. Alexandrino-Silva C, Pereira MLG, Bustamente C, Ferraz ACT, Baldassin S, Andrade AG et al. Suicidal ideation among students enrolled in healthcare training programs: a cross-sectional study. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(4):338-44. . No Brasil, a maioria dos alunos universitários encontra-se na faixa etária de 17 a 24 anos1818. Fonaprace. V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as) Graduandos(as) das IFES – 2018. Brasília, DF: Andifes; 2019. . Além de ser um período caracterizado pelas mudanças na vida social, é nessa faixa etária que geralmente os transtornos mentais podem ter seu início, assim como apresentar um risco considerável para o suicídio22. Botega NJ, Werlang BSG, Cais CFS, Macedo MM. Prevenção do comportamento suicida. Psico. 2006;37(3):213-20. , 4343. Kessler RC, Amminger GP, Aguilar-Gaxiola S, Alonso J, Lee S, Ustun TB. Age of onset of mental disorders: a review of recent literature. Curr Opin Psychiatry. 2007;20:359-64. . No entanto, essas duas variáveis também não foram associadas ao comportamento suicida em nosso estudo.

O fato de ser aluno cotista não foi associado ao comportamento suicida no presente trabalho. Esses estudantes representam quase a metade da amostra (48%) e um dos critérios utilizados para as vagas de cotas é a renda familiar baixa4444. Carvalho RMA, Garcia FC. Percepção sobre o desempenho de alunos cotista e não cotista: um estudo de casos dos alunos de direito e medicina da Universidade Federal de Viçosa. FACEF Pesquisa: Desenvolvimento e Gestão. 2019;22(1):88-101. . No Brasil, o Decreto n° 6.135 considera família de baixa renda "aquela com renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo; ou a que possua renda familiar mensal de até três salários mínimos"4545. rasil. Dispõe sobre o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e dá outras providências. Brasília, 26 de junho de 2007. .

É relevante destacar que a desigualdade de renda é um importante fator de risco de suicídio no Brasil4646. Machado DB, Rasella D, dos Santos DN. Impact of Income Inequality and Other Social Determinants on Suicide Rate in Brazil. PLoS One. 2015;10(4):1-12. . Esse fato é de extrema importância para os dias atuais, com aumento da pobreza, do desemprego e da desigualdade social no país, principalmente entre os grupos que já eram mais vulneráveis socioeconomicamente antes da pandemia4747. Albuquerque MV, Ribeiro LHL. Desigualdade, situação geográfica e sentidos da ação na pandemia da COVID-19 no Brasil. Cad Saúde Pública. 2020;36(12):1-13. .

O presente estudo utilizou instrumentos validados para uso no Brasil que auxiliaram a verificar a prevalência do comportamento suicida de forma global (e não apenas de um de seus níveis) e os possíveis fatores associados, permitindo que seja possível identificar as particularidades de cada um desses fenômenos, o que é crucial para a implementação de medidas de prevenção ao suicídio. Além disso, esses tipos de instrumentos permitem a comparação com outros estudos nacionais e internacionais.

O desenho do estudo utilizado é seccional, portanto não se pode inferir uma relação causal entre o comportamento suicida e os fatores de risco. Esse estudo foi desenvolvido em alunos do curso de Medicina de uma universidade pública federal, e não sabemos até que ponto os resultados encontrados no presente trabalho podem ser generalizados para os estudantes de Medicina em geral.

CONCLUSÕES

O comportamento suicida é um fenômeno multicausal que pode se apresentar em diversos níveis como a ideação, o plano e a tentativa de suicídio. No presente estudo, as prevalências de comportamento suicida ao logo da vida foram de 27,7% (IC de 95%: 22,9-33,0) para ideação suicida, de 12,5% (IC de 95%: 9,2-16,7) para plano e de 5,7% (IC de 95%: 3,6-9,0) para tentativa, e nos últimos 12 meses foram de 18,9% (IC de 95%: 14,9-23,8) para ideação suicida, de 6,1% (IC de 95%: 3,9-9,4) para plano e de 1,7% (IC de 95%: 0,7-4,1) para tentativa. O episódio depressivo maior foi associado ao comportamento suicida (ideação, plano e tentativa) e o atendimento psicológico atual foi associado ao plano suicida no modelo final da regressão logística. Portanto, as universidades deveriam implementar programas para promover o apoio psicossocial por meio da oferta e da garantia do atendimento em saúde mental aos alunos.

O apoio acadêmico ofertado ao aluno, por um programa de tutoria, por exemplo, pode ser crucial na reorganização das atividades estudantis e curriculares, podendo minorar o impacto negativo da pressão acadêmica. A política de assistência estudantil da universidade poderia programar um acesso maior aos alunos cotistas e de baixa renda familiar.

Acredita-se que mais estudos que identifiquem a prevalência e os fatores associados podem contribuir para o desenvolvimento de ações preventivas ampliadas ao comportamento suicida.

AGRADECIMENTOS

A autora principal do artigo gostaria de agradecer à Capes pelo apoio financeiro para a realização do trabalho.

REFERÊNCIAS

  • 1
    World Health Organization (WHO). Preventing suicide – A global perspective. Geneva: WHO; 2014.
  • 2
    Botega NJ, Werlang BSG, Cais CFS, Macedo MM. Prevenção do comportamento suicida. Psico. 2006;37(3):213-20.
  • 3
    Nock MK, Borges G, Bromet EJ, Cha CB, Kessler RC, Lee S. Suicide and suicidal behavior. Epidemiol Rev. 2008;30(1):133-54.
  • 4
    Daugherty JL, Hendricks LV. Suicide: dying for an education. Int Res Higher Educ. 2016;1(2):161-3.
  • 5
    Arraia A, O’Grady K, Caldeira K, Vicent K, Wilcox H, Wish E. Suicide ideation among college students: A multivariate analysis. Arch Suicide Res. 2009;13(3):230-46.
  • 6
    Coentre R, Faravelli C, Figueira ML. Assessment of depression and suicidal behaviour among medical students in Portugal. Int J Med Educ. 2016;7:354-63.
  • 7
    Chow W, Schmidtke JS, Loerbroks A, Muth T, Angerer P. The Relationship between Personality Traits with Depressive Symptoms and Suicidal Ideation among Medical Students: A Cross-Sectional Study at One Medical School in Germany. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(7):1462.
  • 8
    Dantas N. Ideação suicida e empatia: um estudo correlacional em estudantes de Medicina de uma universidade pública [Dissertação de Mestrado em Neuropsiquiatria e Ciência do Comportamento]. Recife: UFPE; 2015.
  • 9
    Sobowale K, Zhou N, Fan J, Liu N, Sherer R. Depression and suicidal ideation in medical students in China: a call for wellness curricula. Int J Med Educ. 2014;15:(5):31-6.
  • 10
    Osama M, Islam MY, Hussain SA, Masroor SM, Burney MV, Masood MA. et al. Suicidal ideation among medical students of Pakistan: A cross-sectional study. J Forensic Leg Med. 2014;27:65-8.
  • 11
    Nierkerk L, Scribante L, Raubenheimer PJ. Suicidal ideation and attempt among South African medical students. S Afr Med J. 2012;102(6 Pt 2):372-3.
  • 12
    Sevillano SB, Flores LA, Jimenez CAC. Conducta suicida em Estudiantes de medicina. Rev Méd Vallejiana. 2020;9(1):11-2.
  • 13
    Eskin M, Voracek M, Stieger S, Altinyazar V. A cross-cultural investigation of suicidal behavior and attitudes in Austrian and Turkish medical students. Soc Psychiatry Psychiatr Epidemiol. 2011;46(9):813-23.
  • 14
    Kosik R, Nguyen T, KO I, Fan A. Suicidal ideation in medical students. Neuropsychiatry. 2017;7(1):9-11.
  • 15
    Santa N, Cantilino A. Suicídio entre médicos e estudantes de Medicina: revisão de literatura. Rev Bras Educ Méd. 2016;40(4):772-80.
  • 16
    Alexandrino-Silva C, Pereira MLG, Bustamente C, Ferraz ACT, Baldassin S, Andrade AG et al. Suicidal ideation among students enrolled in healthcare training programs: a cross-sectional study. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(4):338-44.
  • 17
    Qualigato I, Santos Júnior A. O estudante do PROFIS: perfil sócio-demográfico, cultural, identidade pessoal e social, espiritualidade, sexualidade, qualidade de vida, uso de álcool e outras substâncias psicoativas, saúde física e mental. Revista dos Trabalhos de Iniciação Científica da Unicamp. 2019;27:1-1.
  • 18
    Fonaprace. V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos(as) Graduandos(as) das IFES – 2018. Brasília, DF: Andifes; 2019.
  • 19
    Botega, NJ, Mauro MLF, Cais CFS. Estudo multicêntrico de intervenção no comportamento suicida (Supre-Miss) da Organização Mundial da Saúde. In: Werlang BG, Botega NJ, editores. Comportamento suicida. Porto Alegre: Artmed; 2002.
  • 20
    Fraguas JR, Henriques Jr. SG, De Lucia MS, Iosifescu DV, Schwartz FH, Menezes PR, et al. The detection of depression in medical setting: a study with PRIME-MD. J Affect Disord. 2006;91:11-7.
  • 21
    Santos I, Tavares B, Munhoz T, Almeida L, Silva N, Tams B, et al. Sensibilidade e especificidade do Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) entre adultos da população geral. Cad Saúde Pública. 2013;29(8):1533-43.
  • 22
    Hakim A, Tak H, Nagar S, Bhansali S. Assessment of prevalence of depression and anxiety and factors associated with them in undergraduate medical students of Dr. S. N. Medical College, Jodhpur. Int J Community Med Public Health. 2017;4(9):3267-72.
  • 23
    Zhou Y, Xu J, Rief W. Are comparisons of mental disorders between Chinese and German students possible? An examination of measurement invariance for the PHQ-15, PHQ-9 and GAD-7. BMC Psychiatry. 2020;20(480):1-11.
  • 24
    Kroenke K, Spitzer RL, Janet B, Williams DSM. The PH9. Validity of a Brief Depression Severity Measure. J Gen Intern Med. 2001;16:606-13.
  • 25
    Henrique IFS, De Micheli D, Lacerda RB, Lacerda LA, Formigoni MLOS. Validação da versão brasileira do teste de triagem do envolvimento com álcool, cigarro e outras substâncias (ASSIST). Rev Assoc Med Bras. 2004;50(2):199-206.
  • 26
    Botega NJ, Marín-Leon L, Oliveira H, Barros M, Silva V, Dalgalarrondo P. Prevalências de ideação, plano e tentativa de suicídio: um inquérito de base populacional em Campinas, São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública. 2009;25(12):2632-8.
  • 27
    Gold KJ, Sean A, Schwenk TL. Details on suicide among U.S. physicians: Data from the National Violent Death Reporting System. Gen Hosp Psychiatry. 2013;35(1):45-9.
  • 28
    Galván-Molina JF, Jiménez-Capdeville ME, Hernández-Mata M, Arellano-Cano JR. Psychopathology screening in medical school students. Gac Med Mex. 2017;153:69-80.
  • 29
    Pinzón-Amado A, Guerrero S, Moreno K, Landínez C, Pinzón J. Ideación suicida en estudiantes de medicina: prevalencia y factores asociados. Rev Colomb Psiquiatr. 2013;43(S1):47-55.
  • 30
    Hong J, Knapp M, McGuire A. Income-related inequalities in the prevalence of depression and suicidal behaviour: a 10-year trend following economic crisis. World Psychiatry. 2011;10:40-4.
  • 31
    Park EH, Hong N, Jon DI, Hong HJ, Jung MH. Past suicidal ideation as an independent risk factor for suicide behaviours in patients with depression. Int J Psychiatry Clin Pract. 2017;21(1):24-8.
  • 32
    Ribeiro J, Huang X, Fox K, Franklin J. Depression and hopelessness as risk factors for suicide ideation, attempts and death: meta-analysis of longitudinal studies. Br J Psychiatry. 2018;212:279-86.
  • 33
    Rotenstein LS, Ramos MA, Torre M, Segal JB, Peluso MJ, Guille C, et al. Prevalence of depression, depressive symptoms, and suicidal ideation among medical students a systematic review and meta-analysis. J Am Med Assoc. 2016;316(21):2214-36.
  • 34
    Pacheco JPG, Giacomin HT, Tam WW, Ribeiro TB, Arab C, Bezerra IM, et al. Mental health problems among medical students in Brazil: A systematic review and meta-analysis. Rev Bras Psiquiatr. 2017;39(4):369-78.
  • 35
    Facundes VLD, Ludermir AB. Transtornos mentais comuns em estudantes da área de saúde. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(3):194-200.
  • 36
    Rezende CHA, Abrão CB, Coelho EP, Passos LBS. Prevalência de sintomas depressivos entre estudantes de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia. Rev Bras Educ Méd. 2008;32(3):315-23.
  • 37
    Chachamovich E, Stefanello S, Botega N, Turecki G. Quais são os recentes achados clínicos sobre a associação entre depressão e suicídio. Rev Bras Psiquiatr. 2009;31(Supl I):S18-25.
  • 38
    Hunt J, Eisenberg D. Mental health problems and help-seeking behavior among college students. J Adolesc Health. 2010;46:3-10.
  • 39
    Gil I, Maluf E, Souza T, Silva J, Pinto M. Análise transversal de sintomas depressivos em estudantes de medicina: prevalência no primeiro ano de graduação. Rev PsicoFAE: Pluralidades em Saúde Mental. 2018;7(2):99-118.
  • 40
    Machado C, Moura T, Almeida R. Estudantes de Medicina e as Drogas: evidências de um Grave Problema. Rev Bras Educ Méd. 2015;39(1):159-67.
  • 41
    Barbosa FL, Barbosa RL, Barbosa MCL, Aguiar DL, Figueiredo IA, Ribeiro AC, et al. Uso de Álcool entre Estudantes de Medicina da Universidade Federal do Maranhão. Rev Bras Educ Méd. 2013;1:89-95.
  • 42
    Candido F, Souza R, Stumpf M, Fernandes L, Veiga R, Santin M, et al. The use of drugs and medical students: a literature review. Rev Assoc Méd Bras. 2018;64(5):462-8.
  • 43
    Kessler RC, Amminger GP, Aguilar-Gaxiola S, Alonso J, Lee S, Ustun TB. Age of onset of mental disorders: a review of recent literature. Curr Opin Psychiatry. 2007;20:359-64.
  • 44
    Carvalho RMA, Garcia FC. Percepção sobre o desempenho de alunos cotista e não cotista: um estudo de casos dos alunos de direito e medicina da Universidade Federal de Viçosa. FACEF Pesquisa: Desenvolvimento e Gestão. 2019;22(1):88-101.
  • 45
    rasil. Dispõe sobre o Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal e dá outras providências. Brasília, 26 de junho de 2007.
  • 46
    Machado DB, Rasella D, dos Santos DN. Impact of Income Inequality and Other Social Determinants on Suicide Rate in Brazil. PLoS One. 2015;10(4):1-12.
  • 47
    Albuquerque MV, Ribeiro LHL. Desigualdade, situação geográfica e sentidos da ação na pandemia da COVID-19 no Brasil. Cad Saúde Pública. 2020;36(12):1-13.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2022

Histórico

  • Recebido
    10 Mar 2021
  • Aceito
    13 Jun 2021
Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro Av. Venceslau Brás, 71 Fundos, 22295-140 Rio de Janeiro - RJ Brasil, Tel./Fax: (55 21) 3873-5510 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: editora@ipub.ufrj.br