Acessibilidade / Reportar erro

Análise dos indicadores de prazer e sofrimento no trabalho associados a ansiedade e depressão entre agentes comunitários de saúde

Analysis of indicators of pleasure and suffering at work associated with anxiety and depression among community health agents

RESUMO

Objetivo

Analisar os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho associados a depressão e ansiedade entre agentes comunitários de saúde (ACSs).

Métodos

Estudo transversal, no qual variáveis dependentes foram a presença de sintomas de ansiedade e depressão, avaliadas com o Patient Health Questionnaire (PHQ-9) e com o Inventário de Ansiedade de Traço-Estado (IDATE). As variáveis independentes foram avaliadas com um questionário sociodemográfico e a Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho (EIPST) do Inventário do Trabalho e Riscos de Adoecimento (ITRA). As associações entre as variáveis foram testadas com o uso de regressão logística multinominal.

Resultados

Participaram do estudo 675 ACSs, sendo a maioria mulheres (83,7%), com até 40 anos (51,3%). As chances de apresentar sintomas de ansiedade foram maiores entre ACSs efetivos (1,61 [1,10-2,36]), e avaliações críticas ou graves nos fatores realização (Crítica 1,87 [1,30-2,68]; Grave 4,16 [2,06-8,40]) e esgotamento profissional (Crítica 2,60 [1,78-3,80]; Grave 3,97 [2,53-6,21]). Sexo feminino (2,12 [1,03-4,40]), idade de até 40 anos (1,741 [1,05-2,89]), tempo de serviço superior a cinco anos (1,88 [1,18-2,99]), avaliações crítica ou grave nos fatores realização (Crítica 2,53 [1,55-4,10]; Grave 6,07 [2,76-13,38]), esgotamento profissional (Crítica 5,21 [2,30-11,80]; Grave 15,64 [6,53-37,44]) e falta de reconhecimento (Crítica 1,93 [1,13-3,28]) estiveram associados a maiores chances de sintomas depressivos.

Conclusões

Apesar de se tratar de estudo transversal, que não permite inferir causalidade, os achados sugerem importante associação entre aspectos laborais dos ACS e os sintomas de ansiedade e depressão. Sexo feminino e possuir 40 anos ou menos também mostraram relação com o aumento dos sintomas de depressão.

Agente comunitário de saúde; saúde do trabalhador; depressão; ansiedade; questionário de saúde do paciente

ABSTRACT

Objective

To analyze indicators of pleasure and suffering at work associated with depression and anxiety among community health workers (CHW).

Methods

Crosssectional study in which the dependent variables were the presence of anxiety and depression symptoms, assessed using the Patient Health Questionnaire (PHQ-9) and State-Trait Anxiety Inventory (STAI). The independent variables were evaluated using the Scale of Indicators of Pleasure and Suffering at Work (EIPST) of the Inventory of Work and Risks of Illness (ITRA). Associations between dependent and independent variables were tested using multinomial logistic regression.

Results

675 CHW participated in the study, the majority being women (83.7%), aged up to 40 years (51.3%). The chances of presenting anxiety symptoms were higher among effective CHW (OR=1.61; 95%CI: 1.10-2.36), and critical or severe assessments in the achievement factors (Critical OR=1.87; 95%CI: 1.30-2.68; Severe OR=4.16; 95%CI: 2.06-8.40) and professional exhaustion (Critical OR=2.60; 95%CI: 1.78-3.80; Severe OR=3.97; 95% CI: 2.53-6.21). Female gender (OR=2.12; 95%CI: 1.03-4.40), age up to 40 years (OR=1.74; 95%CI: 1.05-2.89), length of service greater than five years (OR=1.88; 95%CI: 1.18-2.99), critical or severe ratings on achievement factors (Critical OR=2.53; 95%CI: 1.55-4.10; Severe OR= 6.07; 95%CI: 2.76-13.38), professional exhaustion (Critical OR=5.21; 95%CI: 2.30-11.80; Severe OR=15.64; 95%CI: 6.53 -37.44) and lack of recognition (Critical OR=1.93; 95%CI: 1.13-3.28) were associated with greater chances of depressive symptoms.

Conclusions

Despite being a cross-sectional study, which does not allow inferring causality, the findings suggest an important association between the work aspects of the CHW and the symptoms of anxiety and depression. Female gender and being 40 years old or younger also showed a relationship with increased symptoms of depression.

Community health worker; occupational health; depression; anxiety; patient health questionnaire

INTRODUÇÃO

Os processos de trabalho e as relações pessoais nos ambientes laborais têm sofrido mudanças substanciais ao longo dos anos, em decorrência do avanço da globalização e de alterações econômicas mundiais11. Silva MG, Tolfo SR. Processos psicossociais, saúde mental e trabalho em um instituto federal de educação. Rev Bras Saude Ocup. 2022;47:e13.. Essas modificações podem influenciar na saúde física e mental dos indivíduos, por estarem relacionadas a diversos aspectos que envolvem o corpo e a subjetividade dos trabalhadores22. Martini LC, Fornereto APN, Sequeto G, Camarotto JA, Mininel VA. Educação em saúde mental no trabalho: protagonismo dos trabalhadores no contexto sindical. Rev Bras Saude Ocup. 2022;47:e17..

No Brasil, verifica-se um aumento do número de afastamentos do trabalho devido a transtornos mentais e comportamentais, representando a segunda e a terceira causa de afastamentos de trabalhadores regidos pela Previdência Social11. Silva MG, Tolfo SR. Processos psicossociais, saúde mental e trabalho em um instituto federal de educação. Rev Bras Saude Ocup. 2022;47:e13. , 22. Martini LC, Fornereto APN, Sequeto G, Camarotto JA, Mininel VA. Educação em saúde mental no trabalho: protagonismo dos trabalhadores no contexto sindical. Rev Bras Saude Ocup. 2022;47:e17. . Estudos sobre os agentes comunitários de saúde (ACSs), profissionais importantes para a organização da Atenção Primária em Saúde (APS) e para o processo de fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS)33. Méllo LMBD, Albuquerque PC, Santos RC, Felipe DA, Queirós AAL. Agentes comunitárias de saúde: práticas, legitimidade e formação profissional em tempos de pandemia de Covid-19 no Brasil. Interface. 2021;25(1).

4. Faria CCMV, Paiva CHA. O trabalho do agente comunitário de saúde e as diferenças sociais no território. Trab Educ Saúde. 2020;18(1).
- 55. Silva EBA, Zanin L, Oliveira AMG, Flório FM. Agentes comunitários de saúde: conhecimentos em saúde bucal e fatores associados. Cad Saúde Colet. 2021;29(2). , registram a presença de sofrimento mental e transtornos psíquicos entre eles, decorrentes da vivência de situações geradoras de sofrimento no seu trabalho66. Riquinho DL, Pellini TV, Ramos DT, Silveira MR, Santos VCF. O cotidiano de trabalho do agente comunitário de saúde: entre a dificuldade e a potência. Trab Educ Saúde. 2018;16(1):163-82., além de apontarem que, entre todos os profissionais atuantes na APS, há maior prevalência de ansiedade e depressão entre os ACSs77. Julio RS, Lourenção LG, Oliveira SM, Farias DHR, Gazetta CE. Prevalência de ansiedade e depressão em trabalhadores da Atenção Primária à Saúde. Cad Bras Ter Ocup. 2022;30(e2997)..

Essa categoria profissional é composta por aproximadamente 250 mil trabalhadores, cuja maioria é composta por mulheres, sendo responsáveis por acompanhar cerca de 126 milhões de brasileiros33. Méllo LMBD, Albuquerque PC, Santos RC, Felipe DA, Queirós AAL. Agentes comunitárias de saúde: práticas, legitimidade e formação profissional em tempos de pandemia de Covid-19 no Brasil. Interface. 2021;25(1).. Como membros da equipe da Estratégia Saúde da Família (ESF), os ACSs desempenham uma ampla gama de papéis, tais como de educador, mediador e apoiador das equipes da ESF e de movimentos sociais da comunidade88. Alonso CMC, Béguin PD, Puevo V, Duarte FJCM. Agente comunitário de saúde: um mundo profissional em busca de consolidação. Physis. 2021;31(1).. A diversidade das atividades desempenhadas e a falta de clareza nas suas atribuições, entre outras especificidades do seu cotidiano laboral, podem impactar a saúde mental desses trabalhadores, levando ao surgimento de sintomas inespecíficos como baixa autoestima, sensação de insegurança, nervosismo, irritabilidade, medo, insônia, estresse, além de transtornos mentais99. Barbosa MS, Freitas JFO, Praes Filho FA, Pinho L, Brito MFSF, Rossi-Barbosa LAR. Fatores sociodemográficos e ocupacionais associados aos sintomas de ansiedade entre Agentes Comunitários de Saúde. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(12):5997-6004..

Além disso, ao longo dos anos, ocorreram mudanças relevantes na dimensão organizativa e funcional da ESF, induzidas ou condicionadas pela Política Nacional de Atenção Básica (PNAB)1010. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegi...
, como a diminuição do número de ACSs por equipe e acréscimo de atribuições33. Méllo LMBD, Albuquerque PC, Santos RC, Felipe DA, Queirós AAL. Agentes comunitárias de saúde: práticas, legitimidade e formação profissional em tempos de pandemia de Covid-19 no Brasil. Interface. 2021;25(1).. Essas modificações podem provocar uma descaracterização da natureza educativa do trabalho desses profissionais1111. Silva TL, Soares AN, Lacerda GA, Mesquita JFO, Silveira DC. Política Nacional de Atenção Básica 2017: implicações no trabalho do Agente Comunitário de Saúde. Saúde Debate. 2020; 44(124):58-69., contribuindo para a sobrecarga de trabalho e consequente sofrimento mental.

Muitos estudos são direcionados à identificação das dificuldades encontradas no cotidiano laboral dos ACSs e às estratégias utilizadas para lidar com elas33. Méllo LMBD, Albuquerque PC, Santos RC, Felipe DA, Queirós AAL. Agentes comunitárias de saúde: práticas, legitimidade e formação profissional em tempos de pandemia de Covid-19 no Brasil. Interface. 2021;25(1).

4. Faria CCMV, Paiva CHA. O trabalho do agente comunitário de saúde e as diferenças sociais no território. Trab Educ Saúde. 2020;18(1).

5. Silva EBA, Zanin L, Oliveira AMG, Flório FM. Agentes comunitários de saúde: conhecimentos em saúde bucal e fatores associados. Cad Saúde Colet. 2021;29(2).

6. Riquinho DL, Pellini TV, Ramos DT, Silveira MR, Santos VCF. O cotidiano de trabalho do agente comunitário de saúde: entre a dificuldade e a potência. Trab Educ Saúde. 2018;16(1):163-82.

7. Julio RS, Lourenção LG, Oliveira SM, Farias DHR, Gazetta CE. Prevalência de ansiedade e depressão em trabalhadores da Atenção Primária à Saúde. Cad Bras Ter Ocup. 2022;30(e2997).
- 88. Alonso CMC, Béguin PD, Puevo V, Duarte FJCM. Agente comunitário de saúde: um mundo profissional em busca de consolidação. Physis. 2021;31(1). , entretanto a influência de indicadores de prazer e sofrimento no trabalho em sintomas de ansiedade e depressão nesse público ainda é pouco explorada. Considerando o papel crucial do trabalho na vida das pessoas e as dificuldades enfrentadas pelos ACSs na sua atuação, aspectos como realização profissional, liberdade de expressão, esgotamento profissional e falta de reconhecimento são determinantes para as vivências de prazer e sofrimento no trabalho1212. Glanzner CH, Olschowsky A, Pai DD, Tavares JP, Hoffman DA. Avaliação de indicadores e vivências de prazer/sofrimento em equipes de saúde da família com o referencial da Psicodinâmica do Trabalho. Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(4).. Uma percepção insatisfatória em relação às condições e relações no trabalho do ACS pode interferir negativamente sobre sua saúde mental. Investigar a influência desses aspectos no trabalho dos ACSs e na saúde mental desses trabalhadores é fundamental para o conhecimento da situação e intervenção oportuna sobre as principais causas de sofrimento e a valorização das que mais contribuem para o prazer no trabalho. Este trabalho teve como objetivo analisar os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho associados a depressão e ansiedade entre ACSs.

MÉTODOS

Estudo transversal, descritivo e analítico, recorte da pesquisa “Condições de Trabalho e Saúde de Agentes Comunitários de Saúde do Norte de Minas Gerais”, desenvolvida pela Universidade Estadual de Montes Claros. Foram seguidas as diretrizes e recomendações da Rede EQUATOR ( Enhancing the Quality and Transparency of Health Research Network ), sendo utilizada a ferramenta Strengthening the Reporting of Observational Studies in Epidemiology (STROBE) para delineamento.

A população foi composta por ACSs de Montes Claros, município-sede da macrorregião de saúde norte de Minas Gerais, que possui população estimada de 410 mil habitantes e cobertura integral da ESF. Dado o caráter censitário da pesquisa, todos os ACSs que estavam cadastrados em uma equipe da ESF e desempenhavam essa função no município de Montes Claros foram selecionados, sendo excluídos aqueles que estavam afastados, em desvio de função ou de licença médica. No período da coleta de dados, que ocorreu entre os meses de julho e outubro de 2018, o município contava com 797 ACSs: 675 (84,69%) participaram do estudo e 122 (15,31%) estavam dentro dos critérios de exclusão. Não houve cálculo amostra, considerando a proposta de um estudo censitário para os ACS do município. A coleta de dados foi programada e pactuada previamente com a gestão municipal e com a equipe de saúde. Os ACSs foram divididos em grupos de até 20 profissionais por dia, sendo a coleta conduzida individualmente, no Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), por pesquisadores treinados que estavam envolvidos no projeto. Optou-se por realizar a coleta de dados no CEREST, em virtude de ser um local diferente do local de trabalho dos ACSs, o que permitiu uma melhor otimização do tempo de aplicação do questionário, devido à minimização das interrupções. Outras variáveis investigadas no projeto contemplavam testes físicos e coleta de sangue, o que tornou a realização deles mais viável no CEREST.

Por se tratar de uma investigação mais abrangente, o instrumento de coleta de dados abordou diversos aspectos das condições de trabalho e saúde da população-alvo. Para este estudo, foram utilizados os dados laborais (tempo de serviço como ACS, vínculo empregatício e número de famílias acompanhadas), o Inventário de Ansiedade Traço-Estado – IDATE-6 (forma reduzida) e o Patient Health Questionnaire (PHQ-9), que avaliam a ansiedade e a depressão, respectivamente. Além disso, para mensurar os indicadores de prazer e sofrimento no trabalho, foi utilizada a Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho (EIPST), uma das escalas que compõem o Inventário do Trabalho e Riscos de Adoecimento (ITRA)1313. Mendes AMB, Ferreira MC. Inventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento – ITRA: instrumento auxiliar de diagnóstico de indicadores críticos no trabalho. In: Mendes AMB (Org.). Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007. cap. 5, p. 111-26.. Considerando o tempo global para o preenchimento de todo o instrumento, estima-se que o tempo de preenchimento das escalas utilizadas e do questionário sociodemográfico tenha sido em torno de 20 minutos.

Sobre os instrumentos de pesquisa, o IDATE foi utilizado para mensurar os níveis de ansiedade, que aborda a forma como o indivíduo se sente no momento e é composto por seis questões: 1. Sinto-me calmo(a); 2. Estou tenso(a); 3. Sinto-me à vontade; 4. Sinto-me nervoso(a); 5. Estou descontraído(a); 6. Estou preocupado(a), cujas respostas compõem uma escala Likert de quatro pontos: 1. absolutamente não; 2. um pouco; 3. bastante; 4. muitíssimo. Para o cálculo do escore final, as perguntas positivas (1, 3 e 5) são invertidas e o escore é obtido por meio da soma das respostas, sendo 6 a pontuação mínima e 24, a máxima. O ponto de corte foi a mediana: aqueles com valor abaixo eram considerados “sem sintomas de ansiedade” e com valor acima, “com sintomas de ansiedade”.

O PHQ-9, composto por nove perguntas, foi empregado no intuito de avaliar a presença de cada um dos sintomas para o episódio de depressão maior, descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-IV)1414. American Psychiatric Association (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. Porto Alegre: Artmed; 2014.. A frequência desses sintomas nas últimas duas semanas é avaliada em uma escala Likert de 0 a 3, correspondendo às respostas “nenhuma vez”, “vários dias”, “mais da metade dos dias” e “quase todos os dias”, respectivamente. O escore final é obtido pela soma dos itens e pode ser classificado em: sem sintomas de depressão (0 a 4 pontos); sintomas de depressão leve (5 a 9 pontos); sintomas de depressão moderada (10 a 14 pontos); sintomas de depressão moderadamente grave (15 a 19 pontos) e sintomas de depressão grave (20 a 27 pontos)1515. Kroenke K, Spitzer RL, Williams JB. The PHQ-9: validity of a brief depression severity measure. J Gen Intern Med. 2001;16(9):606-13.. Para atender aos objetivos deste estudo, considerou-se como presença de sintomas depressivos a pontuação > 9 como ponto de corte em sua forma contínua, por ser mais útil como teste de rastreamento1616. Santos IS, Tavares BF, Munhoz TN, Almeida LSP, Silva NTB, Tams BD, et al. Sensitivity and specificity of the Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) among adults from the general population. Cad Saúde Pública. 2013;29(8):1533-43..

A EIPST é composta por quatro fatores, sendo dois para avaliar o prazer (liberdade de expressão e realização profissional) e dois para avaliar o sofrimento (esgotamento profissional e falta de reconhecimento). As respostas do questionário são do tipo Likert, com sete opções, variando de nenhuma vez até seis vezes, o que permite verificar a quantidade de vezes que o entrevistado vivenciou sentimentos como satisfação, estresse, reconhecimento, entre outros1313. Mendes AMB, Ferreira MC. Inventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento – ITRA: instrumento auxiliar de diagnóstico de indicadores críticos no trabalho. In: Mendes AMB (Org.). Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007. cap. 5, p. 111-26.. O resultado é composto pela média dos itens e, no domínio prazer, é classificada como satisfatória (acima de 4,0), crítica (entre 3,9 e 2,1) ou grave (igual ou inferior a 2,0). Para o domínio sofrimento, classifica-se em grave (acima de 4,0), crítica (entre 3,9 e 2,1) e satisfatória (igual ou inferior a 2,0)1717. Baptista PCP, Lourenção DCA, Silva-Junior JS, Cunha AA, Gallasch CH. Distress and pleasure indicators in health care workers on the COVID-19 front line. Rev Latino-Am Enfermagem. 2022;30..

Os dados foram processados com o auxílio do Software Statistical Package for Social Sciences , versão 20.0 (SPSS). Inicialmente, realizou-se a estatística descritiva dos dados (frequência simples e relativa). Em seguida, foi realizada a análise bivariada entre a variável desfecho (escores do IDATE-Estado e do PHQ-9) e cada variável independente, adotando-se o teste do qui-quadrado de Pearson. As variáveis que apresentaram p-valor inferior ou igual a 25% (p ≤ 0,25) foram selecionadas para compor a análise múltipla. No modelo múltiplo, adotou-se a Regressão Logística Multinomial, e o desfecho foi categorizado em presença de sintomas de ansiedade e ausência de sintomas de ansiedade para o IDATE-Estado e presença de sintomas depressivos e ausência de sintomas depressivos para o PHQ-9. Foram mantidas no modelo final apenas as variáveis que apresentaram nível descritivo inferior a 5% (p < 0,05). Estimaram-se a odds ratio (OR), o intervalo de 95% de confiança e o nível descritivo, e a qualidade do ajuste do modelo foi avaliada pelo coeficiente de determinação (Pseudo R22. Martini LC, Fornereto APN, Sequeto G, Camarotto JA, Mininel VA. Educação em saúde mental no trabalho: protagonismo dos trabalhadores no contexto sindical. Rev Bras Saude Ocup. 2022;47:e17.).

Essa etapa do projeto “Condições de Trabalho e Saúde de Agentes Comunitários de Saúde do Norte de Minas Gerais” foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), com o Parecer nº 2.425.756. Todos os participantes foram previamente informados sobre os objetivos da pesquisa e sobre a preservação do anonimato e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido para participação no estudo.

RESULTADOS

Participaram do estudo 675 ACSs de 135 unidades de ESF de Montes Claros (84,7% do total); 122 ACSs (15,3%) estavam dentro dos critérios de exclusão. A maioria foi constituída por mulheres (83,7%), com idade entre 26 e 40 anos (51,3%), casadas ou em união estável (59,7%) e com ensino médio completo (53,5%). Sobre as características laborais, verifica-se que a maior parte possuía tempo de serviço entre dois e cinco anos (29,5%) e vínculo empregatício contratado/celetista (74,1%) ( Tabela 1 ).

Tabela 1
Dados sociodemográficos e laborais dos agentes comunitários de saúde de Montes Claros, MG, 2018

A Tabela 2 apresenta a análise bivariada entre as características sociodemográficas e os escores da EIPST e o IDATE-Estado. As variáveis sexo, idade, escolaridade, estado civil e número de famílias acompanhadas não foram selecionadas para a análise múltipla, em virtude de apresentarem p-valor superior a 0,25 ( Tabela 2 ). Evidencia-se que 61,0% dos ACSs com mais de cinco anos de serviço e 61,1% daqueles com vínculo empregatício estável apresentavam sintomas de ansiedade. Com relação à classificação dos escores da EIPST, a presença de sintomas de ansiedade foi verificada em mais de 60% dos ACSs cujos escores foram classificados como “grave” em todos os fatores da escala.

Tabela 2
Análise descritiva e bivariada das características sociodemográficas, laborais e classificação na Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde, conforme as classificações do IDATE-Estado, Montes Claros, 2018

A Tabela 3 apresenta os resultados da análise bivariada relacionados ao PHQ-9, revelando que, além do sexo e da idade, todas as variáveis laborais e relativas aos escores da EIPST foram significativas em nível de 25%, sendo selecionadas para a análise múltipla ( Tabela 3 ). Foi verificado que, quando comparadas aos homens (10,2%), havia um percentual maior de mulheres com sintomas depressivos (20,7%). Para a idade, a faixa etária de até 40 anos apresentou mais indivíduos com sintomas depressivos (90 [20,4%]). De forma semelhante ao que foi identificado nos sintomas de ansiedade, mais de 60% dos ACSs que obtiveram escores classificados como “grave” em todos os fatores da EIPST apresentavam sintomas de depressão.

Tabela 3
Análise descritiva e bivariada das características sociodemográficas, laborais e classificação na Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde, conforme as classificações do Patient Health Questionnaire-9, Montes Claros, 2018

A Tabela 4 apresenta os resultados da análise múltipla para a presença de sintomas de ansiedade, tendo como referência a ausência de sintomas de ansiedade. As chances de apresentar sintomas de ansiedade foram maiores entre ACSs com vínculo empregatício efetivo (OR = 1,61; IC = 1,10-2,36). Para as classificações da EIPST, ACSs cujos escores foram crítico (OR = 1,87; IC = 1,30-2,68) ou grave (OR = 4,16; IC = 2,06-8,40) no fator realização profissional e crítico (OR = 2,60; IC = 1,78-3,80) ou grave (OR = 3,97; IC = 2,53-6,21) no fator esgotamento profissional apresentaram maiores de chances de sintomas de ansiedade, quando comparados a ACSs com escores de classificação satisfatória.

Tabela 4
Análise múltipla multinomial dos fatores laborais e indicadores de prazer e sofrimento no trabalho associados à presença de sintomas de ansiedade entre agentes comunitários de saúde, Montes Claros, MG, 2018

Tabela 5
Análise múltipla multinomial dos fatores sociodemográficos, laborais e indicadores de prazer e sofrimento no trabalho associados à presença de sintomas de depressão entre agentes comunitários de saúde – Montes Claros, Minas Gerais, 2018

Na análise múltipla para a presença de sintomas de depressão, tendo como referência a ausência de sintomas de depressão, verifica-se que as chances de sintomas depressivos foram maiores entre as mulheres (OR = 2,12; IC = 1,03-4,40), entre ACSs com idade de 40 anos ou menos (OR = 1,74; IC = 1,05-2,89) e com tempo de serviço superior a cinco anos (OR = 1,88; IC = 1,18-2,99). Na EIPST, ACSs com escores classificados como crítico (OR = 2,53; IC = 1,55-4,10) ou grave (OR = 6,07; IC = 2,76-13,38) no fator realização profissional, escores crítico (OR = 5,21; IC = 2,30-11,80) ou grave (OR = 15,64; IC = 6,53-37,44) no fator esgotamento profissional e escore crítico (OR = 1,93; IC = 1,13-3,28) no fator falta de reconhecimento mostraram maiores chances de sintomas depressivos, quando comparados aos ACS cujos escores foram classificados como satisfatórios.

DISCUSSÃO

Este estudo evidenciou uma chance aumentada de depressão e ansiedade entre os ACSs cuja classificação nos fatores “Esgotamento profissional” e “Realização profissional” da EIPST foram crítica ou grave. Achados semelhantes foram verificados em outro estudo desenvolvido com ACSs de Belo Horizonte, no qual transtornos mentais comuns apresentaram associação significativa com a demanda psicológica das tarefas, vivência de agressões e insatisfação com as relações pessoais. Este trabalho também sugeriu que a demanda psicológica no trabalho desses profissionais pode ser um fator de risco para transtornos mentais1818. Alcantara MA, Assunção AA. Influência da organização do trabalho sobre a prevalência de transtornos mentais comuns dos agentes comunitários de saúde de Belo Horizonte. Rev Bras Saude Ocup. 2016;41(2).. Outro estudo quantitativo-qualitativo realizado com ACSs e que utilizou outra a escala do ITRA, a Escala de Avaliação de Danos Relacionados ao Trabalho, verificou que, embora os danos psíquicos apresentassem uma avaliação positiva/suportável, falas que denotavam sofrimento psíquico foram recorrentes, o que pode estar relacionado ao fato de esses profissionais encararem situações de desconforto emocional como normais, usuais e inerentes à profissão1919. Santos AC, Hoppe AS, Krug SBF. Agente Comunitário de Saúde: implicações dos custos humanos laborais na saúde do trabalhador. Physis. 2018;28(4).. Acredita-se que, em decorrência de os ACSs viverem no mesmo território onde desempenham suas atividades laborais, possa haver um aumento na dificuldade de estabelecer limites entre a vida pessoal e o vínculo com a população adscrita, o que pode gerar sobrecarga de funções e responsabilidades e, consequentemente, ocasionar o comprometimento físico e emocional desses trabalhadores99. Barbosa MS, Freitas JFO, Praes Filho FA, Pinho L, Brito MFSF, Rossi-Barbosa LAR. Fatores sociodemográficos e ocupacionais associados aos sintomas de ansiedade entre Agentes Comunitários de Saúde. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(12):5997-6004. , 2020. Santos FAAS, Sousa LP, Serra MAAO, Rocha FAC. Fatores que influenciam na qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde. Acta Paul Enferm. 2016;29(2). . A deficiência de treinamentos, a deficiência na divulgação de informações sobre decisões organizacionais, a falta de autonomia e a realização de tarefas que estão além da capacidade profissional podem ser responsáveis pelos altos níveis de estresse entre ACSs, como foi evidenciado em outro estudo2121. Krug SBF, Dubow C, Santos AC, Dutra BD, Weigelt LD, Alves LMS. Trabalho, sofrimento e adoecimento: a realidade de Agentes Comunitários de Saúde no Sul do Brasil. Trab Educ Saúde. 2017;15(3):771-88..

Os ritmos e normas impostos no trabalho dos ACSs apresentam-se como potenciais geradores de sobrecarga na jornada diária, demonstrado na relação entre os escores no fator esgotamento profissional e o aumento das chances de desenvolver depressão e ansiedade. A grande carga de trabalho, aliada à burocratização, pode agravar o processo de estranhamento do ACS para com o seu trabalho66. Riquinho DL, Pellini TV, Ramos DT, Silveira MR, Santos VCF. O cotidiano de trabalho do agente comunitário de saúde: entre a dificuldade e a potência. Trab Educ Saúde. 2018;16(1):163-82.. A burocratização do trabalho do ACS é um processo constituído por mediações históricas, sendo inerente ao avanço do gerencialismo nas políticas públicas, em que práticas de saúde individuais são enfatizadas, em detrimento das coletivas, ratificando o modelo de atenção biomédico. A burocratização, ainda, é constituída pela implantação de modelos de gestão que legitimam a orientação gerencialista como indutora de práticas na APS, distanciando as atribuições dos ACSs das ações coletivas e comunitárias2222. Nogueira ML. Expressões da precarização no trabalho do agente comunitário de saúde: burocratização e estranhamento do trabalho. Saude Soc. 2019;28(3).. Dessa forma, as demandas do serviço, associadas às demandas da comunidade podem resultar em insatisfação profissional e desgaste físico e psicológico2121. Krug SBF, Dubow C, Santos AC, Dutra BD, Weigelt LD, Alves LMS. Trabalho, sofrimento e adoecimento: a realidade de Agentes Comunitários de Saúde no Sul do Brasil. Trab Educ Saúde. 2017;15(3):771-88., influenciando nos índices no fator realização profissional e nas chances de os ACSs apresentarem depressão e ansiedade.

Neste estudo, foram registradas ainda maiores chances de depressão entre ACSs com avaliação crítica para o fator “Falta de reconhecimento”. O reconhecimento da importância do trabalho desenvolvido influencia consideravelmente na identidade e na transformação do sofrimento em prazer no trabalho. Sendo assim, a falta de reconhecimento se relaciona a injustiça, indignação e desvalorização pelo não reconhecimento do seu trabalho1212. Glanzner CH, Olschowsky A, Pai DD, Tavares JP, Hoffman DA. Avaliação de indicadores e vivências de prazer/sofrimento em equipes de saúde da família com o referencial da Psicodinâmica do Trabalho. Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(4).. Estudo que aplicou a EIPST e entrevistas semiestruturadas entre profissionais da ESF identificou a dificuldade desses profissionais em terem o seu trabalho reconhecido, tanto institucionalmente quanto pela comunidade1212. Glanzner CH, Olschowsky A, Pai DD, Tavares JP, Hoffman DA. Avaliação de indicadores e vivências de prazer/sofrimento em equipes de saúde da família com o referencial da Psicodinâmica do Trabalho. Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(4)..

Alguns autores sugerem que a idealização do ACS, bem como seu papel de elo entre a população e a UBS, gera situações difíceis de serem administradas no cotidiano de trabalho88. Alonso CMC, Béguin PD, Puevo V, Duarte FJCM. Agente comunitário de saúde: um mundo profissional em busca de consolidação. Physis. 2021;31(1). , 2323. Barros LS, Cecílio LCO. Entre a “grande política” e os autogovernos dos Agentes Comunitários de Saúde: desafios da micropolítica da atenção básica. Saúde Debate. 2019;43(6). . Outra característica laboral dos ACSs que pode estar relacionada ao sentimento de falta de reconhecimento diz respeito à maior valorização da realização de procedimentos ligados ao manejo clínico de doenças e às metas de produção da gestão, em detrimento de um trabalho de base mais comunitária2222. Nogueira ML. Expressões da precarização no trabalho do agente comunitário de saúde: burocratização e estranhamento do trabalho. Saude Soc. 2019;28(3). , 2323. Barros LS, Cecílio LCO. Entre a “grande política” e os autogovernos dos Agentes Comunitários de Saúde: desafios da micropolítica da atenção básica. Saúde Debate. 2019;43(6). . A maneira como o trabalho do ACS se constitui dentro das equipes de ESF pode contribuir para esse sentimento de desvalorização, pois esse profissional, dada as fragilidades na sua formação, é muitas vezes considerado um mero transmissor de informações, desconsiderando-se qualidades inerentes à sua atuação, saber local, capacidade de diálogo e acolhimento2424. Samudio JLP, Brant LC, Martins ACFDC, Vieira MA, Sampaio CA. Agentes Comunitários de Saúde na Atenção Primária no Brasil: multiplicidade de atividades e fragilização da formação. Trab Educ Saúde. 2017;15(3)..

Devido às mudanças político-administrativas no seu trabalho ao longo dos anos, grande parte da carga de trabalho dos ACSs tem se destinado à realização de atividades que refletem um escopo mais reduzido e de grande interface com tarefas de apoio e burocratizadas, cujos objetivos estão crescentemente submetidos à lógica do monitoramento dos indicadores de resultados e de produtividade. Em geral, os ACSs têm sido encarregados de desempenhar tarefas que os aproximam de um auxiliar genérico dos demais profissionais2525. Morosini MV, Fonseca AF. Os agentes comunitários na Atenção Primária à Saúde no Brasil: inventário de conquistas e desafios. Saúde Debate. 2018;42(1):261-74..

Pesquisa que avaliou estratégias positivas de enfrentamento de problemas com profissionais da APS identificou que a principal estratégia utilizada pelos ACSs foi a busca de apoio social2626. Faria FRC, Lourenção LG, Silva AG, Sodré PC, Castro JR, Borges MA, et al. Occupational stress, work engagement and coping strategies in Community Health Workers. Rev Rene. 2021;22:e70815., ressaltando a importância da expansão e fortalecimento da rede de apoio social e emocional a esses profissionais. Outro estudo que avaliou a prevalência de depressão entre ACS2727. Moura DCA, Leite ICG, Greco RM. Prevalência de sintomas de depressão em agentes comunitários de saúde. Trab Educ Saúde. 2020;18(2). corroborou esses achados, pois foram verificadas maiores chances de sintomas depressivos entre ACSs que apresentaram baixo apoio social proveniente de colegas e chefias. Isso evidencia o papel fundamental dos gestores na criação de momentos de escuta das demandas desses trabalhadores e compartilhamento de informações que contribuam para um enfrentamento mais efetivo dos problemas, o que pode impactar a redução do risco de doenças mentais nesse público2626. Faria FRC, Lourenção LG, Silva AG, Sodré PC, Castro JR, Borges MA, et al. Occupational stress, work engagement and coping strategies in Community Health Workers. Rev Rene. 2021;22:e70815..

Neste estudo, foi demonstrado que o tempo de serviço maior que cinco anos aumenta as chances de depressão entre ACSs, quando comparados com ACSs com menos tempo de serviço. Situação similar foi encontrada em estudo que utilizou diferentes escalas do ITRA com essa mesma população, pois ACSs com mais tempo de trabalho apresentaram piores escores de avaliação do contexto de trabalho e do custo humano no trabalho, revelando a realidade peculiar da atividade laboral do ACS, onde a proximidade da comunidade durante um longo período de tempo, ao mesmo tempo que pode gerar melhorias no atendimento à comunidade, também pode ser responsável por danos à saúde e à qualidade de vida dos ACS2828. Lima CCM, Froes TF, Caldeira AP. Contexto de trabalho e custo humano no trabalho para agentes comunitários de saúde. Ciênc Saúde Colet. 2022;27(8):3181-92.. Pesquisa que avaliou fatores que influenciam na qualidade de vida dos ACSs concluiu que tempo de serviço superior a 10 anos estava relacionado com piores escores nos domínios que investigavam capacidade funcional, limitações físicas, dor e limitações emocionais2020. Santos FAAS, Sousa LP, Serra MAAO, Rocha FAC. Fatores que influenciam na qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde. Acta Paul Enferm. 2016;29(2).. A literatura ainda descreve haver um aumento nos níveis de estresse ocupacional após o primeiro ano de trabalho, o que pode provocar abandono de função, gerando alta rotatividade nas equipes de ESF e, consequentemente, dificultando o desenvolvimento de vínculo com a comunidade2121. Krug SBF, Dubow C, Santos AC, Dutra BD, Weigelt LD, Alves LMS. Trabalho, sofrimento e adoecimento: a realidade de Agentes Comunitários de Saúde no Sul do Brasil. Trab Educ Saúde. 2017;15(3):771-88..

Embora o vínculo empregatício estável seja elencado como um item essencial à valorização profissional2121. Krug SBF, Dubow C, Santos AC, Dutra BD, Weigelt LD, Alves LMS. Trabalho, sofrimento e adoecimento: a realidade de Agentes Comunitários de Saúde no Sul do Brasil. Trab Educ Saúde. 2017;15(3):771-88. , 2929. Castro TA, Davoglio RS, Nascimento AAJ, Santos KJS, Coelho GMP, Lima KSB. Agentes Comunitários de Saúde: perfil sociodemográfico, emprego e satisfação com o trabalho em um município do semiárido baiano. Cad Saude Colet. 2017;25(3). e a ausência desse vínculo esteja relacionada a uma maior pressão por produtividade2222. Nogueira ML. Expressões da precarização no trabalho do agente comunitário de saúde: burocratização e estranhamento do trabalho. Saude Soc. 2019;28(3)., os ACSs com vínculo empregatício concursado/efetivo apresentaram maiores chances de ter ansiedade, quando comparados com ACSs que não possuíam vínculo estável. Esse achado pode sugerir que apenas a estabilidade do vínculo empregatício não é suficiente para que esses profissionais se sintam valorizados na realização do seu trabalho. Estudo que aplicou o IDATE para essa mesma população encontrou alta prevalência de ansiedade99. Barbosa MS, Freitas JFO, Praes Filho FA, Pinho L, Brito MFSF, Rossi-Barbosa LAR. Fatores sociodemográficos e ocupacionais associados aos sintomas de ansiedade entre Agentes Comunitários de Saúde. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(12):5997-6004., entretanto não foram realizados testes de associação dos escores no IDATE com o vínculo empregatício, encontrando apenas maior prevalência de ansiedade entre o sexo feminino e entre ACSs com mais de cinco anos de serviço99. Barbosa MS, Freitas JFO, Praes Filho FA, Pinho L, Brito MFSF, Rossi-Barbosa LAR. Fatores sociodemográficos e ocupacionais associados aos sintomas de ansiedade entre Agentes Comunitários de Saúde. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(12):5997-6004.. Tendo em vista que o impacto da precarização do trabalho na saúde mental dos trabalhadores transcende o tipo de vínculo empregatício, registra-se a necessidade de estudos qualitativos que avaliem de que maneira a organização do trabalho influencia na saúde mental dos ACSs. Ressalta-se que, para o município avaliado, os ACSs concursados/efetivos são também os que possuem maior tempo de serviço, reiterando a importância do tempo de atuação nos indicadores de prazer e sofrimento no trabalho e no aparecimento de problemas de saúde mental.

Foi verificado que as mulheres possuem maior chance de desenvolver sintomas de depressão. Registra-se que esse achado pode ter relação com o fato de que os participantes eram predominantemente do sexo feminino (83,7%), o que é uma realidade dessa categoria profissional, verificada em muitos estudos55. Silva EBA, Zanin L, Oliveira AMG, Flório FM. Agentes comunitários de saúde: conhecimentos em saúde bucal e fatores associados. Cad Saúde Colet. 2021;29(2). - 66. Riquinho DL, Pellini TV, Ramos DT, Silveira MR, Santos VCF. O cotidiano de trabalho do agente comunitário de saúde: entre a dificuldade e a potência. Trab Educ Saúde. 2018;16(1):163-82. , 1111. Silva TL, Soares AN, Lacerda GA, Mesquita JFO, Silveira DC. Política Nacional de Atenção Básica 2017: implicações no trabalho do Agente Comunitário de Saúde. Saúde Debate. 2020; 44(124):58-69. , 1818. Alcantara MA, Assunção AA. Influência da organização do trabalho sobre a prevalência de transtornos mentais comuns dos agentes comunitários de saúde de Belo Horizonte. Rev Bras Saude Ocup. 2016;41(2).

19. Santos AC, Hoppe AS, Krug SBF. Agente Comunitário de Saúde: implicações dos custos humanos laborais na saúde do trabalhador. Physis. 2018;28(4).

20. Santos FAAS, Sousa LP, Serra MAAO, Rocha FAC. Fatores que influenciam na qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde. Acta Paul Enferm. 2016;29(2).
- 2121. Krug SBF, Dubow C, Santos AC, Dutra BD, Weigelt LD, Alves LMS. Trabalho, sofrimento e adoecimento: a realidade de Agentes Comunitários de Saúde no Sul do Brasil. Trab Educ Saúde. 2017;15(3):771-88. . Profissões ligadas ao processo de cuidar são frequentemente associadas às mulheres, em decorrência da característica de zelo social que é atribuída a elas1919. Santos AC, Hoppe AS, Krug SBF. Agente Comunitário de Saúde: implicações dos custos humanos laborais na saúde do trabalhador. Physis. 2018;28(4).. O entendimento dessa característica como uma vocação natural das mulheres pode levar à desvalorização do seu trabalho, ocasionando sofrimento ou adoecimento dessas profissionais2121. Krug SBF, Dubow C, Santos AC, Dutra BD, Weigelt LD, Alves LMS. Trabalho, sofrimento e adoecimento: a realidade de Agentes Comunitários de Saúde no Sul do Brasil. Trab Educ Saúde. 2017;15(3):771-88.. A dupla jornada – trabalho e lar – também é apontada como desencadeadora de maior sofrimento para as mulheres, devido ao acúmulo de atividades que as sobrecarrega, diminuindo o tempo para desenvolver atividades de lazer99. Barbosa MS, Freitas JFO, Praes Filho FA, Pinho L, Brito MFSF, Rossi-Barbosa LAR. Fatores sociodemográficos e ocupacionais associados aos sintomas de ansiedade entre Agentes Comunitários de Saúde. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(12):5997-6004.. Além disso, estudo refere que as mulheres são desproporcionalmente mais vulneráveis aos problemas de saúde mental1818. Alcantara MA, Assunção AA. Influência da organização do trabalho sobre a prevalência de transtornos mentais comuns dos agentes comunitários de saúde de Belo Horizonte. Rev Bras Saude Ocup. 2016;41(2)..

Sobre a relação entre faixa etária e depressão, esse estudo identificou uma chance maior de depressão entre ACSs com idade igual ou inferior a 40 anos. Achado semelhante foi verificado em estudo desenvolvido com profissionais da APS, no qual houve maior prevalência de depressão entre indivíduos menores de 40 anos77. Julio RS, Lourenção LG, Oliveira SM, Farias DHR, Gazetta CE. Prevalência de ansiedade e depressão em trabalhadores da Atenção Primária à Saúde. Cad Bras Ter Ocup. 2022;30(e2997).. Outro estudo que também utilizou o PHQ-9 para rastreio de sintomas de depressão entre ACS não encontrou associação estatisticamente significativa entre faixa etária e presença de sintomas de depressão2727. Moura DCA, Leite ICG, Greco RM. Prevalência de sintomas de depressão em agentes comunitários de saúde. Trab Educ Saúde. 2020;18(2)., reiterando a necessidade de outras abordagens, a fim de identificar a influência da idade no surgimento de sintomas de depressão entre ACS.

Muitas vezes as situações de adoecimento no trabalho podem não ser vistas pela sociedade, pelos profissionais de saúde e pelos empregadores22. Martini LC, Fornereto APN, Sequeto G, Camarotto JA, Mininel VA. Educação em saúde mental no trabalho: protagonismo dos trabalhadores no contexto sindical. Rev Bras Saude Ocup. 2022;47:e17.. Ressalta-se a necessidade de maior acompanhamento do processo de trabalho e das atribuições do ACSs por parte dos gestores, dada a demanda emocional imposta por sua atuação e pelas dificuldades encontradas na sua atuação. Aspectos como preparação adequada e suporte técnico e emocional vêm sendo apontados como essenciais para garantir o bem-estar e a qualidade de vida desses trabalhadores, influenciando positivamente sobre seu interesse e motivação para o trabalho2929. Castro TA, Davoglio RS, Nascimento AAJ, Santos KJS, Coelho GMP, Lima KSB. Agentes Comunitários de Saúde: perfil sociodemográfico, emprego e satisfação com o trabalho em um município do semiárido baiano. Cad Saude Colet. 2017;25(3).. Deve-se considerar, ainda, a necessidade de oferta de materiais e equipamentos, visto que uniformes, equipamentos de proteção individual, máscaras, sapatos adequados, protetor ou roupas com fator de proteção solar e ajuda de custo para o combustível muitas vezes não são fornecidos aos ACSs2626. Faria FRC, Lourenção LG, Silva AG, Sodré PC, Castro JR, Borges MA, et al. Occupational stress, work engagement and coping strategies in Community Health Workers. Rev Rene. 2021;22:e70815..

Por outro lado, como a atuação dos ACSs é frequentemente modificada, com a incorporação de novas tarefas muitas vezes separadas das práticas que constituem seu cotidiano profissional88. Alonso CMC, Béguin PD, Puevo V, Duarte FJCM. Agente comunitário de saúde: um mundo profissional em busca de consolidação. Physis. 2021;31(1)., uma definição mais clara de suas atribuições também pode contribuir para a identificação desses profissionais com o seu trabalho e melhor atendimento da comunidade pela qual é responsável.

Algumas limitações deste estudo devem ser consideradas, como o fato de ser um estudo transversal, não sendo possível estabelecer uma relação absoluta de causa e efeito. Os instrumentos IDATE e PHQ9, ainda que validados, são de autorrelato, devendo ser utilizados apenas para rastreio, e não para diagnóstico de ansiedade e depressão. Já quanto ao ITRA, apesar de haver muitos estudos que utilizaram suas escalas, não foram encontrados artigos de validação, estando essa descrita em livro1313. Mendes AMB, Ferreira MC. Inventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento – ITRA: instrumento auxiliar de diagnóstico de indicadores críticos no trabalho. In: Mendes AMB (Org.). Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007. cap. 5, p. 111-26.. Apesar das limitações os resultados registrados não devem ser desconsiderados e devem ser tomados como alerta aos gestores de saúde. Há que se considerar ainda que a pandemia deflagrada nos últimos anos pode ter agravado esse quadro já bastante preocupante.

CONCLUSÕES

Os achados apontam para o aumento da chance de sintomas de ansiedade em ACSs, cujos escores na EIPST esgotamento profissional e EIPST realização profissional foram classificados como críticos ou graves. No que se refere aos sintomas de depressão, verificou-se um aumento das chances entre os ACSs que apresentaram escores críticos ou graves nos fatores esgotamento profissional, realização profissional e falta de reconhecimento. Sexo feminino, possuir 40 anos ou menos e tempo de serviço superior a cinco anos pode aumentar as chances de sintomas de depressão. Já vínculo empregatício efetivo pode aumentar as chances de desenvolver sintomas de ansiedade.

Este estudo aponta para a necessidade de atuação dos gestores nas condições de trabalho dos ACSs, no intuito de diminuir situações que favorecem o aparecimento de sintomas de ansiedade e depressão e influenciam negativamente na saúde mental deles. Suporte técnico e emocional, uma definição mais clara de suas atribuições dentro das equipes de ESF e dentro do território, além de outras ações que visem à valorização profissional, podem ser determinantes para evitar o adoecimento psíquico desses trabalhadores.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Silva MG, Tolfo SR. Processos psicossociais, saúde mental e trabalho em um instituto federal de educação. Rev Bras Saude Ocup. 2022;47:e13.
  • 2
    Martini LC, Fornereto APN, Sequeto G, Camarotto JA, Mininel VA. Educação em saúde mental no trabalho: protagonismo dos trabalhadores no contexto sindical. Rev Bras Saude Ocup. 2022;47:e17.
  • 3
    Méllo LMBD, Albuquerque PC, Santos RC, Felipe DA, Queirós AAL. Agentes comunitárias de saúde: práticas, legitimidade e formação profissional em tempos de pandemia de Covid-19 no Brasil. Interface. 2021;25(1).
  • 4
    Faria CCMV, Paiva CHA. O trabalho do agente comunitário de saúde e as diferenças sociais no território. Trab Educ Saúde. 2020;18(1).
  • 5
    Silva EBA, Zanin L, Oliveira AMG, Flório FM. Agentes comunitários de saúde: conhecimentos em saúde bucal e fatores associados. Cad Saúde Colet. 2021;29(2).
  • 6
    Riquinho DL, Pellini TV, Ramos DT, Silveira MR, Santos VCF. O cotidiano de trabalho do agente comunitário de saúde: entre a dificuldade e a potência. Trab Educ Saúde. 2018;16(1):163-82.
  • 7
    Julio RS, Lourenção LG, Oliveira SM, Farias DHR, Gazetta CE. Prevalência de ansiedade e depressão em trabalhadores da Atenção Primária à Saúde. Cad Bras Ter Ocup. 2022;30(e2997).
  • 8
    Alonso CMC, Béguin PD, Puevo V, Duarte FJCM. Agente comunitário de saúde: um mundo profissional em busca de consolidação. Physis. 2021;31(1).
  • 9
    Barbosa MS, Freitas JFO, Praes Filho FA, Pinho L, Brito MFSF, Rossi-Barbosa LAR. Fatores sociodemográficos e ocupacionais associados aos sintomas de ansiedade entre Agentes Comunitários de Saúde. Ciênc Saúde Colet. 2021;26(12):5997-6004.
  • 10
    Brasil. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html
    » https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html
  • 11
    Silva TL, Soares AN, Lacerda GA, Mesquita JFO, Silveira DC. Política Nacional de Atenção Básica 2017: implicações no trabalho do Agente Comunitário de Saúde. Saúde Debate. 2020; 44(124):58-69.
  • 12
    Glanzner CH, Olschowsky A, Pai DD, Tavares JP, Hoffman DA. Avaliação de indicadores e vivências de prazer/sofrimento em equipes de saúde da família com o referencial da Psicodinâmica do Trabalho. Rev Gaúcha Enferm. 2017;38(4).
  • 13
    Mendes AMB, Ferreira MC. Inventário sobre Trabalho e Riscos de Adoecimento – ITRA: instrumento auxiliar de diagnóstico de indicadores críticos no trabalho. In: Mendes AMB (Org.). Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisa. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2007. cap. 5, p. 111-26.
  • 14
    American Psychiatric Association (APA). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5. Porto Alegre: Artmed; 2014.
  • 15
    Kroenke K, Spitzer RL, Williams JB. The PHQ-9: validity of a brief depression severity measure. J Gen Intern Med. 2001;16(9):606-13.
  • 16
    Santos IS, Tavares BF, Munhoz TN, Almeida LSP, Silva NTB, Tams BD, et al. Sensitivity and specificity of the Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) among adults from the general population. Cad Saúde Pública. 2013;29(8):1533-43.
  • 17
    Baptista PCP, Lourenção DCA, Silva-Junior JS, Cunha AA, Gallasch CH. Distress and pleasure indicators in health care workers on the COVID-19 front line. Rev Latino-Am Enfermagem. 2022;30.
  • 18
    Alcantara MA, Assunção AA. Influência da organização do trabalho sobre a prevalência de transtornos mentais comuns dos agentes comunitários de saúde de Belo Horizonte. Rev Bras Saude Ocup. 2016;41(2).
  • 19
    Santos AC, Hoppe AS, Krug SBF. Agente Comunitário de Saúde: implicações dos custos humanos laborais na saúde do trabalhador. Physis. 2018;28(4).
  • 20
    Santos FAAS, Sousa LP, Serra MAAO, Rocha FAC. Fatores que influenciam na qualidade de vida dos agentes comunitários de saúde. Acta Paul Enferm. 2016;29(2).
  • 21
    Krug SBF, Dubow C, Santos AC, Dutra BD, Weigelt LD, Alves LMS. Trabalho, sofrimento e adoecimento: a realidade de Agentes Comunitários de Saúde no Sul do Brasil. Trab Educ Saúde. 2017;15(3):771-88.
  • 22
    Nogueira ML. Expressões da precarização no trabalho do agente comunitário de saúde: burocratização e estranhamento do trabalho. Saude Soc. 2019;28(3).
  • 23
    Barros LS, Cecílio LCO. Entre a “grande política” e os autogovernos dos Agentes Comunitários de Saúde: desafios da micropolítica da atenção básica. Saúde Debate. 2019;43(6).
  • 24
    Samudio JLP, Brant LC, Martins ACFDC, Vieira MA, Sampaio CA. Agentes Comunitários de Saúde na Atenção Primária no Brasil: multiplicidade de atividades e fragilização da formação. Trab Educ Saúde. 2017;15(3).
  • 25
    Morosini MV, Fonseca AF. Os agentes comunitários na Atenção Primária à Saúde no Brasil: inventário de conquistas e desafios. Saúde Debate. 2018;42(1):261-74.
  • 26
    Faria FRC, Lourenção LG, Silva AG, Sodré PC, Castro JR, Borges MA, et al. Occupational stress, work engagement and coping strategies in Community Health Workers. Rev Rene. 2021;22:e70815.
  • 27
    Moura DCA, Leite ICG, Greco RM. Prevalência de sintomas de depressão em agentes comunitários de saúde. Trab Educ Saúde. 2020;18(2).
  • 28
    Lima CCM, Froes TF, Caldeira AP. Contexto de trabalho e custo humano no trabalho para agentes comunitários de saúde. Ciênc Saúde Colet. 2022;27(8):3181-92.
  • 29
    Castro TA, Davoglio RS, Nascimento AAJ, Santos KJS, Coelho GMP, Lima KSB. Agentes Comunitários de Saúde: perfil sociodemográfico, emprego e satisfação com o trabalho em um município do semiárido baiano. Cad Saude Colet. 2017;25(3).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2023

Histórico

  • Recebido
    20 Dez 2022
  • Aceito
    09 Mar 2023
Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro Av. Venceslau Brás, 71 Fundos, 22295-140 Rio de Janeiro - RJ Brasil, Tel./Fax: (55 21) 3873-5510 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: editora@ipub.ufrj.br