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Índice valvar & escore valvar: uma nova forma de comunicação do continuum da história natural da valvopatia

EDITORIAL

Índice valvar & escore valvar. Uma nova forma de comunicação do continuum da história natural da valvopatia

Max Grinberg; Guilherme Sobreira Spina

São Paulo, SP

Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Dr. Max Grinberg Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 Cep 05403-000 - São Paulo - SP E-mail: max@cardiol.br e grinberg@incor.usp.br

Informações da anamnese, exame físico e exames complementares qualificam e quantificam o continuum patológico desencadeado pela lesão valvar. Acompanhar um paciente com cardiopatia valvar, que costuma ter história natural longa, é construir um pari-passu de comparações. Três tipos de comportamentos fazem parte da nossa prática do dia-a-dia: 1) observação da adaptação cardiovascular, incluindo prevenção do fator etiopatogênico valvar (febre reumática ou endocardite infecciosa); 2) intervenção sobre influências modificadoras da história natural (surto reumático, endocardite infecciosa, gestação); 3) substituição da história natural por história pós-operatória.

Cada momento da avaliação valvar representa um elo entre passos precedentes e previsões sobre comportamentos seguintes. Há o momento em que o caso é tão somente um "sopro", e que pressupõe muito tempo de convivência recomendada com a história natural; há o momento da lesão valvar grave com o paciente permanecendo com boa qualidade de vida; há o momento "de fato doente" assim visto devido à manifestação de sintomas; há o momento que ultrapassou o ponto da história natural em que o cardiologista se obrigaria a recomendar intervenção sobre a essência anatômica da cardiopatia1, 2.

Sob a óptica da praticabilidade, acompanhar um portador de valvopatia é acumular respostas a quatro quesitos, cada um simbolizado por uma letra: 1) qual a gravidade anatomoclínica da lesão (V); 2) qual a repercussão sobre a função miocárdica (M); 3) qual o grau de eventual obstrução em artéria coronária (C) 4) qual o efeito sobre os níveis de pressão na artéria pulmonar (P)?

Entendemos que reunir quatro respostas sob a sigla VMCP contribui para a caracterização do momento clínico e a comunicação interconsulta. Estamos propondo uma classificação 4 x 4, ou seja, ela inclui 4 variáveis, cada uma delas com 4 categorias. O VMCP representa índice valvar (ex: V3M2C1P2 ) e fundamenta o escore valvar (3 + 2 + 1 + 2 = 8 no caso citado) quadro I.


Nossa intenção foi definir a subdivisão em categorias com base em pontos de referência habitualmente empregados. Assim, a passagem de V2 para V3 inclui o caso na classe I de recomendação para tratamento cirúrgico conforme diretriz1. A identificação do caso como M3 ou M4 implica em influência sobre o prognóstico cirúrgico.

O escore VMCP foi aplicado a 608 valvopatas submetidos a tratamento cirúrgico entre janeiro/2002 a março/2003 em nossa instituição. A média etária foi de 48.9±17 anos, 55,3% sexo feminino, 58,7% de etiologia reumática.

O grupo com VMCP >8 teve maior tempo de internação que o grupo com escore menor ou igual a este valor (26,6±23,1 vs 20,9±18,7 dias, p=0,006) e maior tempo de internação em UTI pós operatória (8,8±19,4 vs 5,25±8,97 dias, p=0,029).

Para a mortalidade, a análise univariada demonstrou idade (p=0,005, odds ratio (OR)=1,03), diabetes (p=0,001, OR=1,7), história de insuficiência renal (p=0,0001, OR=9,1), hospitalização prévia por insuficiência cardíaca (ICC) (p=0,001, OR=8,9), reoperação (p=0,0009, OR=3,22) e escore VMCP>8 (p=0,001, OR=3,0). Após análise multivariada, o VMCP continuava associado à mortalidade (p=0,034, OR=1,33) após ajuste para idade, reoperação, diabetes, insuficiência renal e hospitalização por ICC.

Quanto ao tempo de internação, a análise univariada demonstrou que tempo de internação maior que 10 dias estava associado com tabagismo (p=0,03, OR=1,8), presença de fibrilação atrial (p=0,003, OR=2,1) e índice VMCP >8 (p=0,01, OR=1,7). Após análise multivariada, o índice VMCP maior que 8 ainda estava associado a tempo de internação maior que 10 dias (p=0,02, OR=1,3), após ajuste para tabagismo e presença de fibrilação atrial.

Ao adotarmos um valor de 8 como linha de corte para o escore valvar, obtivemos 84% de especificidade, com valor preditivo negativo de 81% para período de internação mais prolongado que 10 dias. Os pacientes com escore valvar maior do que 8 associaram-se a maior mortalidade cirúrgica imediata (p=0,006).

Referências

1. American College of Cardiology/American Heart Association. Guidelines for the management of patients with valvular heart disease. Circulation 1998;98:1949-84

2. Edwards FH, Peterson ED, Coombs LP et al. Prediction of operative mortality after valve replacement surgery. J Am Coll Cardiol 2001; 37:691-974.

Recebido em 28/11/2004

Aceito em 12/01/2005

  • Endereço para correspondência

    Dr. Max Grinberg
    Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44
    Cep 05403-000 - São Paulo - SP
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Mar 2005
    • Data do Fascículo
      Fev 2005
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