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Trinta anos de pós-graduação em cardiologia

EDITORIAL

Trinta anos de pós-graduação em cardiologia

Whady Hueb; Charles Mady; José A. F. Ramires

Instituto do Coração do Hospital das Clínicas – FMUSP - São Paulo, SP

Correspondência Correspondência: Whady Hueb InCor Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44/114 05403-000 São Paulo, SP E-mail: mass@incor.usp.br

Conceitua-se pós-graduação como toda soma de conhecimentos, formal e temporal, adquirida depois de um período regular acadêmico de graduação curricular. Todavia, para uma melhor compreensão do termo, impõese distinguir entre pós-graduação stricto sensu e pósgraduação lato sensu. No segundo sentido, na medicina, pós-graduação lato sensu designa todo e qualquer curso que se segue à graduação, dentre os quais se incluem: estágios setoriais periódicos, estudos complementares especializados e a residência médica. Por outro lado, a pós-graduação stricto sensu define o sistema de aprendizado que se superpõe à graduação, com objetivos mais amplos e aprofundados de formação científica de docentes e pesquisadores acadêmicos de carreira1.

Assim conceituada, a pós-graduação se impõe e se difunde em todas as áreas do conhecimento, como conseqüência natural do extraordinário progresso do saber, tornando-se quase impossível proporcionar treinamento completo e adequado para as diferentes áreas, no limite da graduação1. Em face do vertiginoso aumento do conhecimento em cada sub-ramo da ciência médica e da crescente subespecialização de cada área específica, o estudante contemporâneo somente poderá obter, durante a graduação, os conhecimentos básicos da sua profissão2.

A pós-graduação torna-se, assim, na universidade moderna, cúpula dos estudos, sistema especial de cursos exigidos pelas condições da pesquisa científica e, pelas necessidades de treinamento avançado. O seu objetivo principal é proporcionar aprofundamento do conhecimento, que lhe permita alcançar elevado padrão de competência e amadurecimento científico impossível de ser alcançado no âmbito da graduação. Além disso, objetiva oferecer, dentro da universidade, ambiente e recursos adequados para que se realizem a livre investigação científica e o pleno envolvimento na elaboração dos projetos, possibilitando a afirmação de uma estrutura criadora da cultura universitária3.

Obedecendo aos fundamentos acima expostos, a pós-graduação em cardiologia do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP foi implantada através do parecer 977/65 da Cesu do Conselho Federal de Educação, no início dos anos 70. As primeiras turmas da pós-graduação, em nível de mestrado, foram implantadas pelo então Professor Luiz V. Décourt, gerando um núcleo de excelência que hoje constitui o alicerce intelectual da instituição4. Após esta experiência inicial, já sob a orientação do Professor Fulvio Pilleggi o mestrado foi encerrado dando início, na década de 80, ao curso de doutorado em medicina, com área de concentração em cardiologia.

Após atingir a maioridade, o curso modificou-se na forma e no conteúdo, com mudanças estruturais na obtenção de créditos, na transmissão dos conhecimentos e, também, na obtenção do exame de qualificação.

A pós-graduação continuou a se aprimorar em todo o ambiente da USP, e também no InCor, onde a transmissão do saber, em nível de doutorado, estendeu-se aos profissionais não-médicos da área de saúde, mudando-se a titulação de todos os pós-graduandos, para Doutor em Ciências. A figura 1 mostra o crescimento linear da nossa pós-graduação, desde a sua implantação.


Os avanços não pararam de acontecer. No final dos anos 90, buscando firmar parcerias com outras instituições de alto nível de excelência e com a mesma vocação para o ensino e a pesquisa, o InCor associou-se ao Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, para uma troca de experiências que se pretendia profícua e enriquecedora. No início, houve necessidade de adequação do pessoal docente daquela instituição, pois, faltava, em grande parte deles, titulação acadêmica, para compartilhar os cursos de pós-graduação bi-institucional. Contudo, mais uma vez, o InCor inovou: acolheu todo o pessoal com vocação para o ensino e para a pesquisa, proporcionando a todos a possibilidade de obter títulos de Doutores e, para alguns deles, o de Livres-Docentes.

A pós-graduação do InCor cumpriu, assim uma das mais importantes tarefas para a qual foi criada: produzir e exportar o saber para outras instituições. Vale aqui enfatizar que a simples transferência de conhecimento, por si só, não completa esta nobre tarefa. Esta transferência deve carregar em seu bojo o espírito da diversidade científica, do questionamento que envolve uma pesquisa e, também, a criação de mentalidade inovadora dentro do próprio ambiente para onde o conhecimento foi transferido.

É exatamente para conquistar este objetivo que a nossa pós-graduação vem lutando dia e noite. Hoje, o InCor conta, em tempo integral, com 144 pesquisadores com título de doutor, sendo parte deles, em dedicação exclusiva. Além disso, conta com 65 pesquisadores com titulo de Livres-Docentes, em tempo integral, número não comparável a nenhuma outra instituição médica de ensino e pesquisa na área de cardiologia5.

Por outro lado, a pós-graduação do InCor não busca somente titular o pesquisador para fins não específicos. Ela incentiva o crescimento do titulado na própria instituição e, também, na instituição que o originou, com programas de pós-doutorado. Desta forma, dos pesquisadores que alcançaram o título de Livre-Docente, 4 deles conquistaram o título de Professor Titular em outras instituições.

Este resultado fundamentou-se na diversidade da pesquisa, na qualidade do fator humano e, também, na capacidade da instituição em fornecer as ferramentas necessárias para este objetivo.

No quadro I, observamos o conjunto de linhas de pesquisas em andamento, o número de publicações alcançadas pelo InCor e a qualidade do periódico em que a pesquisa foi publicada. A amplitude dessas pesquisas revela a magnitude do programa, que abrange as mais diferentes áreas do conhecimento relacionadas à cardiologia. Além disso, quando se compara o desenvolvimento dos projetos de pesquisa das duas instituições envolvidas, InCor e Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, observa-se maior concentração de pesquisas no laboratório de Hemodinâmica desta última instituição. Essa produção reflete, provavelmente, uma maior expressão desse serviço, em relação às outras áreas. (Quadro II)



Assim, ainda que o caminho seja longo e a caminhada mal tenha começado, é consenso que a pós-graduação no InCor é altamente produtiva, quando comparada a outras instituições médicas ou mesmo a diversas outras instituições do contexto nacional, seja na geração do produto final, seja na produção intelectual. Este modelo serve de paradigma para várias instituições congêneres, pois colabora com algumas universidades federais brasileiras, promovendo, assim, o crescimento da pesquisa científica em cardiologia, em vários estados do nosso País.

REFERÊNCIAS

1. Motoyama S, Capozzoli U. Construindo o Futuro-35 Anos de PósGraduação da USP. São Paulo: Editora Parma Ltda. 2004: 228p.

2. Cunha LA. A expansão do ensino superior; causas e conseqüências. Debate & Critica, São Paulo 1975; 5:27-58

3. Leite CB. A pós-graduação e o papel da CAPES. Rev Bras Est Ped 1972; 128; 352-8.

4. Mady C, Dini NR, Ramires JAF. The postgraduate program of the Heart Institute of the School of Medicine, University of São Paulo. Arq Bras Cardiol. 2004; 82(5): 409-10.

5. Perfil da pós-graduação. Brasília. CAPES 2004. Disponível em: www.capes.gov.br/scripts/p.prog.ide acesso em junho de 2005.

Recebido em 15/07/05

Aceito em 09/08/05

  • Correspondência:
    Whady Hueb
    InCor
    Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44/114
    05403-000 São Paulo, SP
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Jan 2006
    • Data do Fascículo
      Dez 2005
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