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Estimativa não-invasiva do débito cardíaco durante o exercício a partir de impedância cardiográfica e consumo de oxigênio em idosos

Resumos

OBJETIVO: O presente estudo analisou a concordância entre as estimativas do débito cardíaco (Q) geradas por dois métodos indiretos e sua aplicabilidade em 54 homens e 77 mulheres (60-90 anos). MÉTODOS: Os indivíduos realizaram um teste cardiopulmonar de exercício progressivo máximo em ciclo-ergômetro. O Q foi estimado a partir do consumo de oxigênio e da impedância cardiográfica a 50% e 100% da carga máxima alcançada no teste (Wmáx). Os limites de concordância e as diferenças médias (vieses) foram avaliados segundo a metodologia proposta por Bland e Altman, enquanto a relação entre os métodos foi analisada por regressão linear e correlação intraclasse (ICC). RESULTADOS: Na carga equivalente a 50% Wmáx, a diferença entre as médias dos métodos foi de -0,58 L•min-1 (6,3% menor para a medida da impedância), e o limite de concordância de ± 2,54 L•min-1 (24,7%). Em 100% Wmáx, a diferença foi de 1,03 L•min-1 (8,5% maior para a medida da impedância), com um limite de concordância de ± 3,35 L•min-1 (27,6%). Os valores de ICC e as curvas de regressão obtidas entre os métodos foram: Qimp=1,82+0,75Q VO2 (r²=0,765, p<0,001; ICC=0,727, p<0,01) para 50% Wmáx; Qimp=0,93+1,00Q VO2 (r²=0,755, p<0,001; ICC=0,796, p<0,01) para 100% Wmáx. CONCLUSÃO: Os resultados sugerem uma boa concordância na estimativa do Q no exercício em idosos pelos dois métodos, o que se revela compatível com os achados de estudos similares com indivíduos jovens.

Exercício; teste de esforço; cardiografia de impedância; envelhecimento


OBJECTIVE: This study assessed the agreement between cardiac output (Q) measurements generated by two indirect methods and their applicability in 54 men e 77 women (aged 60-90). METHODS: The subjects performed a cardiopulmonary test with incremental to maximal exercise on a cycle-ergometer. "Q" was estimated based on oxygen uptake and on impedance cardiography at 50% and 100% of the maximal workload (Wmax) reached during the test. The limits of agreement and mean differences (biases) were estimated using the methodology proposed by Bland-Altman, whereas the relationship between the methods was analyzed by linear regression and intra-class correlation (ICC). RESULTS: For the load equivalent do 50% of Wmax, the bias between the means of the two methods was -0.58 L•min-1 (6.3% smaller for the impedance measurement) and the limit of agreement was ± 2.54 L•min-1 (24.7%). At 100% of Wmax, the bias was 1.03 L•min-1 (8.5% greater for the impedance measurement) with a limit of agreement of ± 3.35 L•min-1 (27.6%). ICC values and the regression curves obtained between the methods were: Qimp=1.82+0.75Q VO2 (r²=0.765, p<0.001; ICC=0.727, p<0.01) at 50% Wmax; and Qimp=0.93+1.00Q VO2 (r²=0.755, p<0.001; ICC=0.796, p<0.01) at 100% Wmax. CONCLUSION: These results suggest that there is a good agreement between the two methods for the measurement of Q during exercise in the elderly, which is compatible with the findings of similar studies with young subjects.

Exercise; exercise test; impedance; cardiography; aging


ARTIGO ORIGINAL

Estimativa não-invasiva do débito cardíaco durante o exercício a partir de impedância cardiográfica e consumo de oxigênio em idosos

Maurício Nunes Rodrigues; Jacques Henri-Paul Vanfraechem; Paulo de Tarso Veras Farinatti

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Universidade Gama Filho, Université Libre de Bruxelles, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Atividade Física-UNIVERSO, Clínica de Medicina do Exercício-Vitacor, Instituto de Desenvolvimento e Pesquisa em Atividades Físicas – IDEATIVA Rio de Janeiro, RJ – Bruxelas – Bélgica

Correspondência Correspondência: Maurício Nunes Rodrigues Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde-UERJ Rua São Francisco Xavier, 524/8133-F 20550-900 – Rio de Janeiro, RJ E-mail: rodriguesm@ig.com.br

RESUMO

OBJETIVO: O presente estudo analisou a concordância entre as estimativas do débito cardíaco (Q) geradas por dois métodos indiretos e sua aplicabilidade em 54 homens e 77 mulheres (60-90 anos).

MÉTODOS: Os indivíduos realizaram um teste cardiopulmonar de exercício progressivo máximo em ciclo-ergômetro. O Q foi estimado a partir do consumo de oxigênio e da impedância cardiográfica a 50% e 100% da carga máxima alcançada no teste (Wmáx). Os limites de concordância e as diferenças médias (vieses) foram avaliados segundo a metodologia proposta por Bland e Altman, enquanto a relação entre os métodos foi analisada por regressão linear e correlação intraclasse (ICC).

RESULTADOS: Na carga equivalente a 50% Wmáx, a diferença entre as médias dos métodos foi de -0,58 L•min-1 (6,3% menor para a medida da impedância), e o limite de concordância de ± 2,54 L•min-1 (24,7%). Em 100% Wmáx, a diferença foi de 1,03 L•min-1 (8,5% maior para a medida da impedância), com um limite de concordância de ± 3,35 L•min-1 (27,6%). Os valores de ICC e as curvas de regressão obtidas entre os métodos foram: Qimp=1,82+0,75QVO2 (r2=0,765, p<0,001; ICC=0,727, p<0,01) para 50% Wmáx; Qimp=0,93+1,00QVO2 (r2=0,755, p<0,001; ICC=0,796, p<0,01) para 100% Wmáx.

CONCLUSÃO: Os resultados sugerem uma boa concordância na estimativa do Q no exercício em idosos pelos dois métodos, o que se revela compatível com os achados de estudos similares com indivíduos jovens.

Palavras-chave: Exercício, teste de esforço, cardiografia de impedância, envelhecimento.

A prescrição do exercício físico para idosos deve cercar-se de um cuidado maior, em comparação com a orientada para indivíduos jovens, em razão das alterações fisiológicas típicas da idade e da maior prevalência de condições clinicopatológicas diversas. Na elaboração de programas de exercícios envolvendo essa população, portanto, é necessário considerar as respostas fisiológicas específicas que ocorrem durante uma sessão de exercícios e o quanto podem acarretar risco de intercorrências que coloquem em perigo a integridade do praticante. Desse modo, a avaliação das respostas do sistema cardiorrespiratório ao esforço pode contribuir para a segurança durante a prescrição do exercício.

A variável mais estudada com esse fim é a freqüência cardíaca (FC), provavelmente por ter sua relação com a intensidade do esforço aceita em todas as idades1,2, e por ser uma variável de fácil medida. Entretanto, uma análise mais ampla da integridade da função cardíaca poderia ser obtida se o débito cardíaco (Q) e/ou o volume de ejeção sistólico (VS) fossem medidos durante a execução dos testes de avaliação pré-participação para um programa de exercícios. Isso não se observa na prática corrente, geralmente em virtude da natureza invasiva para a quantificação dessas variáveis.

O desenvolvimento de métodos de estimativa indireta do Q e do VS tem aumentado as possibilidades de entendimento do comportamento da função cardíaca durante o exercício físico. A validade, a exatidão e a reprodutibilidade de alguns desses métodos durante o exercício, tais como o método indireto de Fick – pela reinalação de dióxido de carbono ou acetileno; a impedância e a indutância cardiográficas e a partir do consumo de oxigênio – têm sido documentadas na literatura3-13. Contudo, observa-se uma carência de estudos que se preocupem com a avaliação da concordância entre as estimativas geradas pelos diversos métodos indiretos e com a sua aplicabilidade em idosos. Mesmo sendo de natureza não-invasiva, alguns deles necessitam da utilização de equipamentos e/ou manobras não-convencionais para a realização de suas medidas, o que pode inviabilizar uma utilização correta nessa população.

Desse modo, o objetivo do presente estudo foi analisar a concordância da estimativa do Q por dois métodos não-invasivos, quais sejam, a impedância cardiográfica (IMP) e a partir do consumo de oxigênio (), bem como a aplicabilidade deles na avaliação de indivíduos idosos.

Métodos

Amostra - Um grupo de 131 idosos aparentemente sadios, 54 homens e 77 mulheres (60-90 anos de idade), foi aleatoriamente selecionado entre os membros de 13 centros de convivência da terceira idade na cidade de Bruxelas, Bélgica. Para tanto, valeu-se de tabela de números randômicos para definir quantos seriam sorteados em cada centro. Foram respeitados os seguintes critérios de exclusão, antes do sorteio final dos participantes: a) presença de problemas cardiovasculares, locomotores, pneumopatológicos ou cirurgias recentes; b) uso de medicamentos ou substâncias que pudessem interferir nas respostas fisiológicas cardiovasculares agudas ao exercício; c) uso de suplementos alimentares; d) indivíduos apresentando sobrepeso elevado (IMC >35 kg/m2), tabagistas e atletas. Um termo de consentimento assinado foi obtido antes da participação no estudo, conforme recomendado pela Convenção de Helsinki e ratificado pela Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil para experimentos com humanos.

Protocolo de exercício - Os indivíduos realizaram um teste de exercício cardiopulmonar em um cicloergômetro (Ergo-Line® 900, D7474, UK). O protocolo de teste consistiu de três fases: (a) três minutos de aquecimento a 5 W; (b) fase de trabalho, iniciando a 25 W para os homens e 20 W para as mulheres, com um incremento de carga a cada dois minutos de igual magnitude à carga inicial, de acordo com o gênero; (c) cinco minutos de recuperação, sem carga. As cargas foram selecionadas com base na capacidade máxima de trabalho predita com vistas à obtenção do esforço máximo entre 6 e 12 minutos de teste, de acordo com as recomendações da American Heart Association14. Os critérios de interrupção do teste seguiram as recomendações do American College of Sports Medicine15. O teste foi considerado máximo quando, pelo menos dois dos seguintes critérios fossem observados: (a) quociente respiratório (R) > 1,06; (b) platô do em despeito do aumento de carga (aumento no < 2,0 ml·kg-1·min-1 entre as duas últimas cargas); (c) exaustão voluntária máxima. A reprodutibilidade do protocolo foi previamente testada em um subgrupo de 12 idosos (oito homens e quatro mulheres) aleatoriamente selecionados a partir da amostra original.

Estimativa do débito cardíaco a partir da impedância cardiográfica - A impedância cardiográfica foi registrada a partir de um registrador de impedância Minnesota®(IFM 304b, USA), em configuração tetrapolar. O ECG e a FC foram gravados por um eletrocardiógrafo Fukuda Denshi® (FD-36, Japão), e um fonocardiógrafo Fukuda Denshi® (PL-16, Japão). O hematócrito foi quantificado após um processo de centrifugação, tendo a coleta sangüínea realizada após o teste. O débito cardíaco (Q) e o volume de ejeção sistólico (VS) foram estimados a cada dois minutos, de acordo com a equação: Q(L·min-1) = 0,001·VS (mL·syst-1)·FC (bpm). Considerando que a variação na impedância torácica em razão da ejeção sangüínea é relacionada ao volume de ejeção16, o VS pode ser calculado a partir da equação: VS (mL·syst-1) = (r)· (L/Z0)2 ·(LVET) ·(dz/dt), onde r refere-se à resistividade do sangue (ohm·cm); r = 53,2e 0.22Hct, onde Hct é o hematócrito17; L é a distância entre os eletrodos de detecção do sinal (cm); Z0 é a impedância torácica de base (ohm); LVET é o tempo de ejeção ventricular esquerda (seg); e dz/dt é a taxa de alteração da impedância torácica (ohm·seg-1). Essas equações foram previamente validadas por Miles e Gotshall8 e Bogaard e cols.5 pela comparação com medidas diretas. Os componentes das equações apresentadas foram obtidos de acordo com métodos já descritos18.

Estimativa do débito cardíaco a partir do consumo de oxigênio - O consumo de oxigênio (), o débito de dióxido de carbono () e a ventilação (VE) foram avaliados, respectivamente, por um analisador paramagnético de O2, um analisador de CO2 por infravermelho e um pneumotacógrafo (Morgan®, UK). Essas variáveis ventilatórias foram determinadas em L·min-1 STPD sobre o mesmo período dos dados de impedância e foi calculada a sua média a cada 30 seg. A diferença no conteúdo arteriovenoso de O2 (Dif.a-vO2) foi estimada a partir da equação: Dif.a-vO2 = 5,721 + (0,1047 x % )7, e o Q a partir da equação de Fick (Q= VO2 / Dif.a-vO2).

Procedimento estatístico - A relação entre os dois métodos foi avaliada por regressão linear para os dados em 50% da carga máxima (40%-90% ) e no esforço máximo (100% ). A concordância entre os métodos foi avaliada a partir do coeficiente de correlação intraclasse (ICC), os limites de concordância e as diferenças entre os métodos (vieses) foram avaliados segundo a metodologia proposta por Bland e Altman19. As análises foram realizadas utilizando os softwares STATA 8.2 e STATISTICA 5.5.

Resultados

A tabela 1 apresenta a média e o intervalo de confiança (95%IC) para as variáveis medidas/estimadas em 50% e 100% da carga de esforço. A tabela 2 e as figuras 1, 2, 3 e 4 apresentam os dados da comparação entre os dois métodos. Em 50% da carga, a diferença entre os métodos foi de 0,58 L·min-1 – correspondendo a 6,3% a favor do método de Stringer e cols.7 – e com um limite de concordância de ± 2,54 L·min-1, correspondendo a 24,7% (tabs. 1 e 2; figs. 1 e 3). No esforço máximo, essa tendência, ainda que levemente, inverteu-se. As médias apresentaram uma diferença de 1,03 L·min-1 a favor da impedância cardiográfica, correspondendo a 8,5% da diferença média entre os métodos. Já o limite de concordância foi de ± 3,35 L·min-1, correspondendo a 27,6% (tabs. 1 e 2; figs. 2 e 4).





Discussão

Na comparação entre diferentes métodos para se medir a mesma variável, dificilmente os valores obtidos irão concordar com perfeição, provendo resultados idênticos para todos os indivíduos. Por isso, Bland e Altman19 propuseram uma abordagem para se comparar o quanto um determinado método difere de outro. Se tanto a diferença, que expressa a precisão entre os métodos, quanto os limites de concordância, que expressam a variabilidade das medidas, não forem elevados, em princípio, não existiriam problemas para interpretar os dados de maneira cruzada (ou seja, comparando-se dados obtidos por métodos diferentes). Ainda segundo Bland e Altman19, para esse tipo de interpretação cruzada ser possível, fica a critério dos pesquisadores definir o quanto as medidas podem diferir uma da outra. Na verdade, o ponto de corte do que seriam diferenças aceitáveis depende da variável analisada, existindo algumas que admitiriam variabilidade maior que outras.

Alguns estudos prévios utilizaram protocolos de teste similares em idosos20,21, e a escolha dos métodos utilizados para estimar o Q no presente estudo foi determinada levando-se em conta suas características específicas. A impedância cardiográfica foi escolhida em virtude de sua ampla utilização. Embora o método tenha como base alguns pressupostos controversos5,8 e até não seja recomendado por alguns autores22, sua validade, exatidão e reprodutibilidade foram documentadas por vários estudos3-5,8,9. Em relação aos idosos, a validade na avaliação do Q pelo método não foi suficientemente demonstrada. No entanto, estudos prévios do laboratório, envolvendo mais de 150 indivíduos acima de 60 anos de idade, não revelaram dificuldades em relação à sua aplicabilidade, em comparação com sujeitos mais jovens. De fato, não houve diferenças significativas na qualidade dos sinais obtidos e os valores usualmente aferidos, geralmente, não se distanciam do relatado na literatura para as faixas etárias e intensidade de esforço observadas23.

Já a estimativa do Q a partir do consumo de oxigênio é um método relativamente novo. Foi desenvolvido por Stringer e cols7 em indivíduos jovens, a partir da hipótese de que a Dif.a-vO2 aumentaria de forma previsível em razão do percentual do durante o exercício. A sua principal vantagem reside em não necessitar da utilização de equipamentos diferentes dos já utilizados em um teste de exercício cardiopulmonar, nem de manobras não-convencionais para a realização de suas medidas, o que poderia facilitar sua utilização em idosos. Essa população seria beneficiada por uma estimativa menos invasiva e mais próxima da realidade durante a execução do exercício físico.

Por ser um método novo, a estimativa do Q a partir do consumo de oxigênio carece de estudos de validação em idosos. Na comparação com a medida direta pelo método de Fick, em cinco indivíduos jovens realizando um teste de exercício progressivo máximo em cicloergômetro, Stringer e cols.7 relataram um r de 0,97 e uma diferença nas médias entre os valores estimados e realmente medidos de ±2 L·min-1, correspondendo a 15% da medida obtida diretamente. Em um estudo similar ao presente, comparando métodos indiretos, Kaplan e cols.6 avaliaram 23 sujeitos com idades entre 24 e 43 anos, sendo duas mulheres. Desses, 11 indivíduos realizaram um protocolo de exercício em steady-state em cicloergômetro, iniciando com 25-50 W e com incrementos de igual magnitude a cada 10-15 min, durante um período de 45 min, para a comparação dos valores medidos a partir da indutância cardiográfica e da reinalação de CO2. Um outro grupo de 20 indivíduos realizou um teste progressivo em rampa, também no cicloergômetro, com incrementos de 15-30 W·min-1 até a exaustão. Nesse caso, o objetivo era comparar os valores medidos a partir da indutância e consumo de O2. Os autores relataram limites de concordância de ± 2,8 L·min-1 no primeiro grupo, correspondendo a uma variabilidade de 21%, e de ± 2,8 L·min-1 no segundo, correspondendo a 22%.

Charloux e cols.24 publicaram estudo no qual compararam a impedância cardiográfica com o Método Direto de Fick. Indivíduos com diferentes condições clínicas participaram do estudo, num total de 40 pacientes, sendo 14 com apnéia do sono e 26 com doença pulmonar obstrutiva crônica. Os sujeitos executaram, em cicloergômetro na posição supina, exercício em steady-state com cargas entre 10 e 50 W. Os resultados revelaram uma diferença de 0,29 L·min-1 entre os métodos e limites de concordância entre -2,34 e 2,92 L·min-1.

Os autores revelaram que em apenas 9,3% dos casos as diferenças entre os métodos ultrapassaram 20%.

Alguns estudos analisaram outros métodos. Davis e cols.25, por exemplo, relataram limites de concordância de ± 20% entre a reinalação de CO2 e o método direto de Fick, em 18 pacientes acometidos de doença pulmonar severa. Espersen e cols.26 compararam os métodos da termodiluição e da reinalação de CO2 com o Método Direto de Fick, em 11 sujeitos aparentemente saudáveis durante exercício realizado a 50 W. As diferenças encontradas foram de 2,3 e -0,2 L·min-1, respectivamente, entre a termodiluição e a reinalação de CO2 e entre a primeira e o Método Direto de Fick. Em outro estudo, analisando a validade de uma variação do método de reinalação de CO2, Olszowka e cols.27 relataram, em 14 indivíduos desde o repouso até o exercício máximo, coeficientes de variação para os valores médios do Q entre 3% e 4%, em comparação com o método tradicional. As diferenças situaram-se entre 3% e 5% na comparação com o Método Direto de Fick e entre 2% e 5% em relação à termodiluição. Os mesmos autores citaram outro estudo similar, do mesmo grupo, no qual foram encontrados coeficientes de variação de 11% a 22% na comparação entre a termodiluição e a reinalação de acetileno.

Finalmente, Tordi e cols.28, em estudo recente, compararam métodos não-invasivos (impedância e reinalação de CO2) em oito homens jovens durante três diferentes sessões de exercício em steady-state controladas pela FC (120, 140 e 160 bpm). Os autores relataram um r de 0,85 e uma diferença média de 0,06 L·min-1 (correspondendo a 0,12%) nas três intensidades. Na intensidade mais baixa, a média dos valores do Q estimado pela impedância foi menor do que a estimada pela reinalação de CO2. Entretanto, essa tendência inverteu-se nas intensidades mais elevadas. Esse comportamento foi explicado pelos autores como advindo de uma limitação do método de reinalação de CO2 em condições de steady-state em intensidades elevadas, devido a uma progressiva acidemia (diminuição do pH sangüíneo).

No presente estudo, as estimativas foram comparadas em dois momentos distintos, 50% e 100% da carga máxima de esforço em um exercício incremental. Essa estratégia permitiu a percepção de uma concordância razoável entre os métodos (diferenças de @ 6% a 8,5% e limites de concordância de @ 24% a 28%), embora a variação entre os valores obtidos a partir de ambos aumente à medida que os valores absolutos do Q se elevam. Próximo aos valores máximos, o Q estimado a partir do consumo de oxigênio tendeu a ser menor que o medido pela técnica da impedância cardiográfica, observando-se também uma tendência de aumento na diferença entre os valores estimados, de acordo com a proximidade com o esforço máximo.

Esse comportamento foi similar ao observado por Tordi e cols.28, na comparação entre a impedância e a reinalação de CO2. Embora os autores tenham justificado esse comportamento em razão de limitações do método de reinalação de CO2, pode-se especular que, em intensidades mais elevadas, o método de impedância tenderia a superestimar os valores do Q em razão de artefatos nas curvas de impedância medidas. Contudo, percebe-se que os valores absolutos e relativos, para as diferenças e limites de concordância, aproximam-se daqueles obtidos por outros estudos comparativos entre métodos diretos e indiretos para aferição do Q. Além disso, situaram-se dentro da faixa de variação de ±15% relatados na revisão realizada por Miles e Gotshall8.

Em suma, o presente estudo sugere uma boa concordância na estimativa do Q em idosos, entre os métodos da impedância cardiográfica e com base no consumo de oxigênio. Os resultados parecem ser compatíveis com os de outros estudos que compararam métodos de mensuração durante o exercício, em indivíduos jovens ou com acometimentos cardiorrespiratórios. Entretanto, estudos adicionais deveriam ser conduzidos para aprofundar o processo de validação do método de estimativa do Q a partir do consumo de oxigênio em idosos, tanto pela comparação com métodos diretos quanto pela verificação da reprodutibilidade da medida durante o exercício.

Artigo recebido em 21/09/05; revisado recebido em 11/04/06; aceito em 24/04/06.

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  • Correspondência:

    Maurício Nunes Rodrigues
    Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde-UERJ
    Rua São Francisco Xavier, 524/8133-F
    20550-900 – Rio de Janeiro, RJ
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Mar 2007
    • Data do Fascículo
      Jan 2007

    Histórico

    • Recebido
      21 Set 2005
    • Revisado
      11 Abr 2006
    • Aceito
      24 Abr 2006
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