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Implante de stents farmacológicos na artéria descendente anterior: indicadores de eventos tardios

Resumos

FUNDAMENTO: A eficácia dos stents farmacológicos em reduzir os índices de eventos cardíacos não é uniforme a todos os subgrupos de lesões ou pacientes. OBJETIVO: Avaliar a evolução clínica tardia dos pacientes submetidos a implante de stents farmacológicos nas lesões ateroscleróticas da artéria descendente anterior e identificar, entre as características clínicas, angiográficas e do ultra-som intravascular, quais as que permitem predizer risco de eventos cardíacos. MÉTODOS: De maio de 2002 a agosto de 2005, foram tratados 205 pacientes com implante de 236 stents farmacológicos guiados pelo ultra-som intravascular. RESULTADOS: Com um acompanhamento médio de 711 dias, a taxa de trombose do stent foi de 0,48%, a mesma observada para infarto agudo do miocárdio ou cirurgia de revascularização. A taxa de revascularização da lesão tratada foi de 7,31% e a taxa global de eventos de 10,24%. Os indicadores de eventos, conforme análise multivariada, foram o implante de mais de um stent na mesma artéria, lesões concêntricas e área mínima intra-stent medida pelo ultra-som intravascular menor que 3,88 mm². CONCLUSÃO: Baseados nos dados obtidos, concluímos que a revascularização da artéria descendente anterior com implante de stents farmacológicos escolhidos e otimizados pelo ultra-som intravascular apresenta baixo índice de eventos tardios. O implante de dois stents farmacológicos para o tratamento das lesões longas foi o principal fator independente para a ocorrência de eventos tardios. A área luminal final maior que 3,88 mm² obtidos nos segmentos de pequenos diâmetros de referência é um indicador independente de evolução livre de eventos.

Angioplastia transluminal; contenedores; ultra-som


BACKGROUND: The efficacy of pharmacological stents in decreasing the incidence of cardiac events is not homogeneous for all lesions or patient subgroups. OBJECTIVE: 1) To evaluate the late clinical evolution of patients submitted to pharmacological stent implantation in atherosclerotic lesions of the left anterior descending artery; 2) to identify, among the clinical, angiographic and intravascular ultrasonographic characteristics, the ones predictive of cardiac event risk. METHODS: From May 2002 to August 2005, 205 patients were treated with 236 pharmacological stent implants, guided by the intravascular US (IVUS). RESULTS: After a mean follow-up period of 711 days, the rate of stent thrombosis was 0.48%, the same observed for acute myocardial infarction or revascularization surgery. The revascularization rate of the treated lesion was 7.31% and the general event rate was 10.24%. The event indicators, according to the multivariate analysis were the implant of more than one stent in the same artery, concentric lesions and the minimal intra-stent area measured by IVUS < 3.88 mm². CONCLUSION: Based on the data obtained, we conclude that the revascularization of the left anterior descending artery with pharmacological stent implant, chosen and optimized by IVUS, presents a low incidence of late events. The implant of two pharmacological stents for the treatment of long lesions was the main independent factor for the occurrence of late events. The final luminal area > 3.88 mm² obtained in the small reference-diameter segments is an independent indicator of event-free evolution.

Angioplasty, balloon; stents; ultrasonics


FUNDAMENTO: La eficacia de los stents farmacológicos para reducir los índices de eventos cardiacos no es la misma para todos los subgrupos de lesiones o pacientes. OBJETIVO: Evaluar la evolución clínica tardía de los pacientes sometidos a implante de stents farmacológicos en las lesiones ateroscleróticas de la arteria descendente anterior e identificar, entre las características clínicas, angiográficas y de ultrasonido intravascular, cuales son las que permiten predecir riesgos de eventos cardiacos MÉTODOS: De mayo de 2002 a agosto de 2005, se trataron a 205 pacientes con implante de 236 stents farmacológicos guiados por ultrasonido intravascular. RESULTADOS: Con un seguimiento promedio de 711 días, la tasa de trombosis del stent fue del 0,48%, la misma que se observó para infarto agudo de miocardio o cirugía de revascularización. La tasa de revascularización de la lesión tratada fue del 7,31% y la tasa global de eventos fue del 10,24%. Los indicadores de eventos, conforme análisis multivariada, fueron el implante de más de un stent en la misma arteria, lesiones concéntricas y área mínima intrastent medida por el ultrasonido intravascular menor que 3,88 mm². CONCLUSIÓN: Tomando como base los datos obtenidos con esta investigación, concluimos que la revascularización de la arteria descendente anterior con implante de stents farmacológicos, elegidos y optimizados por el ultrasonido intravascular, presenta un bajo índice de eventos tardíos. El implante de dos stents farmacológicos para el tratamiento de las lesiones largas fue el principal factor independiente para la ocurrencia de eventos tardíos. El área luminal final mayor que 3,88 mm², obtenida en los segmentos de pequeños diámetros de referencia es un indicador independiente de evolución libre de eventos.

Angioplastia transluminal; contenedores; ultrasonido


ARTIGO ORIGINAL

Implante de stents farmacológicos na artéria descendente anterior. Indicadores de eventos tardios

Marcelo de Freitas SantosI; Sergio Gustavo TarbineI; Costantino Ortiz CostantiniI; Maria do Rocio Peixoto OliveiraI; Marcos Henrique BubnaI; Luiz Cesar Guarita-SouzaI; Chiu Yun Yu BragaI; Francisco de Paula StellaII; Costantino Roberto CostantiniI; Luiz Antonio RivettiII

IHospital Cardiológico Costantini - Brasil

IIFaculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, SP - Brasil

Correspondência Correspondência: Marcelo de Freitas Santos Rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi, 2546/1901 Mossungue, 81210-000, Curitiba, PR - Brasil E-mail: mfsantos@cardiol.br

RESUMO

FUNDAMENTO: A eficácia dos stents farmacológicos em reduzir os índices de eventos cardíacos não é uniforme a todos os subgrupos de lesões ou pacientes.

OBJETIVO: Avaliar a evolução clínica tardia dos pacientes submetidos a implante de stents farmacológicos nas lesões ateroscleróticas da artéria descendente anterior e identificar, entre as características clínicas, angiográficas e do ultra-som intravascular, quais as que permitem predizer risco de eventos cardíacos.

MÉTODOS: De maio de 2002 a agosto de 2005, foram tratados 205 pacientes com implante de 236 stents farmacológicos guiados pelo ultra-som intravascular.

RESULTADOS: Com um acompanhamento médio de 711 dias, a taxa de trombose do stent foi de 0,48%, a mesma observada para infarto agudo do miocárdio ou cirurgia de revascularização. A taxa de revascularização da lesão tratada foi de 7,31% e a taxa global de eventos de 10,24%. Os indicadores de eventos, conforme análise multivariada, foram o implante de mais de um stent na mesma artéria, lesões concêntricas e área mínima intra-stent medida pelo ultra-som intravascular menor que 3,88 mm2.

CONCLUSÃO: Baseados nos dados obtidos, concluímos que a revascularização da artéria descendente anterior com implante de stents farmacológicos escolhidos e otimizados pelo ultra-som intravascular apresenta baixo índice de eventos tardios. O implante de dois stents farmacológicos para o tratamento das lesões longas foi o principal fator independente para a ocorrência de eventos tardios. A área luminal final maior que 3,88 mm2 obtidos nos segmentos de pequenos diâmetros de referência é um indicador independente de evolução livre de eventos.

Palavras-chave: Angioplastia transluminal, contenedores, ultra-som.

Introdução

Os stents farmacológicos com agentes antiproliferativos têm como alvo a supressão da hiperplasia neo-intimal. As ações farmacológicas desses agentes bloqueiam diretamente o ciclo celular na sua fase inicial (ação citostática) ou na sua fase final (ação citotóxica). Os stents farmacológicos com sirolimus (rapamicina) ou com paclitaxel - as próteses farmacológicas mais extensivamente estudadas com evolução em longo prazo - têm apresentado significativa redução dos eventos tardios, principalmente pela redução da restenose, quando comparados aos stents não-farmacológicos (metálicos)1-4.

A boa evolução da revascularização da artéria descendente anterior é um indicador independente de sobrevida nos principais estudos cirúrgicos comparativos de pacientes receptores ou não de enxerto de artéria mamária. Essa técnica de revascularização é indicada de modo extensivo principalmente nos pacientes com lesões complexas na artéria descendente anterior - lesões que envolvem os ramos diagonais, lesões longas (>20 mm), vasos finos (<2,75 mm de diâmetro) ou por associação com o diabete melito. Esses subgrupos foram incluídos em muitos estudos randomizados para o uso dos stents farmacológicos3,5-7, porém não específicos à artéria descendente anterior. O benefício reconhecido dos stents farmacológicos em grupos selecionados, nos diversos estudos randomizados já referidos, permite uma boa evolução da revascularização da artéria descendente anterior, independentemente da complexidade da lesão aterosclerótica ou da característica clínica presente.

Alguns estudos sugerem que o uso de ultra-som intravascular, como método-guia do implante dos stents não-farmacológicos, poderia reduzir as taxas de restenose tardia em determinados subgrupos de pacientes8. Quanto à participação desse recurso como guia no implante de stents farmacológicos, entretanto, as pesquisas publicadas têm sido ainda insuficientes.

São os seguintes os objetivos desta pesquisa:

  • Avaliar a evolução clínica (eventos cardíacos) tardia dos pacientes submetidos a tratamento de lesões ateroscleróticas da artéria descendente anterior com implante de

    stents farmacológicos.

  • Identificar, entre as características clínicas, angiográficas e do ultra-som, quais as que permitem indicar risco de eventos cardíacos.

Métodos

Avaliação pré-procedimento

Todos os pacientes submetidos ao procedimento intervencionista apresentaram previamente uma cinecoronariografia diagnóstica. No dia que antecedeu o procedimento, seguindo uma padronização do serviço, foram submetidos à avaliação clínica, eletrocardiográfica e laboratorial - hemograma, creatinina e glicemia de jejum. A medicação prescrita foi aspirina (200 mg), clopidogrel (300 mg) e uma estatina de escolha do médico assistente. Foram mantidas as outras medicações habituais do paciente, com exceção dos anticoagulantes e hipoglicemiantes orais. Jejum foi prescrito para as seis horas anteriores ao encaminhamento à sala de hemodinâmica.

Antes da liberação dos stents farmacológicos, fez-se a pré-dilatação das lesões mediante o uso dos balões convencionais com diâmetro entre 2,0 mm e 3,5 mm ou com técnicas ateroabrasivas. Implante direto sem pré-dilatação foi feito quando se observou que havia condições favoráveis para a sua expansão.

Os stents farmacológicos foram liberados com pressão entre 4 e 18 atm, e a dilatação complementar foi realizada com balão de comprimento menor que a extensão do stent, o que permite a expansão deste sem injúria dos seus bordos. Após resultado angiográfico adequado da liberação do stent (lesão residual menor que 10% pela análise subjetiva do operador) e com base nas medidas obtidas pós-implante com ultra-som intravascular, fez-se avaliação da necessidade ou não de novas dilatações.

Ultra-som intravascular

Foi usado cateter transdutor Atlantis de 40 MHz, que contém na extremidade um espelho angulado rotatório com velocidade de 1.800 rpm na frente do cristal emissor das ondas sonoras. As ondas sonoras emitidas eram recebidas e transformadas em imagens do interior do vaso pelo aparelho de ultra-som Galaxy ou Clearview, da empresa Boston Scientific, que as disponibilizava para a tela em tempo real e as armazenava em fita de videocassete. A análise pré-implante do stent farmacológico tinha como objetivo avaliar os diâmetros de referência proximais e distais, bem como a extensão da placa aterosclerótica para a seleção ideal do stent farmacológico (tanto no diâmetro como na extensão). No controle pós-implante, buscou-se boa aposição das hastes dos stents à parede do vaso e correlação entre áreas luminais mínimas intra-stent e as áreas de referência.

Os cálculos da avaliação do IVUS pós-implante foram realizados com o programa Echoplaque 2, versão 2.5.x, da empresa Indec Systems Inc, Califórnia, USA.

Acompanhamento clínico

Os pacientes foram acompanhados por seus clínicos durante todo o processo. Nos meses de maio e junho de 2006, fez-se levantamento, por meio de contacto telefônico, dos eventos cardíacos maiores.

Deu-se ênfase aos eventos tardios:

  • óbito;

  • infarto agudo do miocárdio;

  • trombose do

    stent farmacológico, definida como oclusão angiográfica aguda ou tardia dos

    stents;

  • taxa de revascularização da lesão tratada (TLR) caracterizada como qualquer nova revascularização cirúrgica ou percutânea decorrente de uma restenose angiográfica das lesões previamente dilatadas;

  • taxa de revascularização do vaso alvo (TVR) caracterizada como qualquer nova revascularização cirúrgica ou percutânea decorrente de restenose ou de uma nova lesão no vaso previamente tratado.

Critérios de inclusão

Participaram do estudo pacientes com idade superior a 18 anos, independentemente do sexo, de fatores de risco e da síndrome clínica no momento da admissão, com indicação de tratamento intervencionista somente da artéria descendente anterior associada ou não aos ramos septais ou diagonais. Em todos os pacientes, a fração de ejeção do ventrículo esquerdo era maior que 30%, e o diâmetro de referência da artéria descendente anterior maior ou igual a 2,25 mm. Foram englobados os pacientes uniarterial ou multiarterial, com todos os tipos de lesão aterosclerótica "de novo" (nomenclatura da força tarefa AHA/ACC9) e com todos os tipos de restenose de stent não-farmacológico ou farmacológico.

Critérios de exclusão

Foram excluídos deste estudo os indivíduos submetidos à intervenção cirúrgica ou percutânea de outros vasos, além do sistema da artéria descendente anterior, nos três meses precedentes. Excluíram-se também os pacientes com implante de stent no tronco da coronária esquerda ou da artéria circunflexa, motivado por lesão ostial da artéria descendente. Excluíram ainda as gestantes ou pacientes com doença grave concomitante, com alta probabilidade de óbito no decorrer de 1 ano. E por final os pacientes com impossibilidade econômica ou clínica de receber a associação dos antiagregantes plaquetários clopidogrel e ácido acetilsalicílico por no mínimo três meses.

Análise estatística

Neste estudo, a variável resposta considerada foi pelo menos um evento (presente ou não). Para avaliação da associação entre variáveis dicotômicas e a variável resposta, considerou-se o teste exato de Fisher. Variáveis contínuas foram avaliadas pelo teste t de Student para amostras independentes, levando-se em conta a homogeneidade ou não das variâncias, ou pelo teste não-paramétrico de Mann-Whitney. Análise multivariada foi realizada ajustando-se um modelo de regressão logística no qual foram incluídas todas as variáveis que tivessem valor de p < 0,2510. Além dessas variáveis, foram incluídas outras com relevância clínica (sexo, lesão longa >20 mm, tabagismo e diâmetro do stent implantado).

Foram incluídas no modelo de forma dicotomizada as variáveis contínuas - idade, diâmetro do balão usado para expandir os stents pós-implante e área luminal mínima intra-stent -, para as quais foi encontrado um ponto de corte aceitável de acordo com o ajuste da curva ROC (área abaixo da curva significativamente maior que 0,5 mm).

Foram considerados aceitáveis os seguintes pontos de corte:

  • idade: 57 anos;

  • área luminal mínima intra-

    stent: 3,88 mm

    2;

  • diâmetro do balão usado para expandir os

    stents pós-implante: 3 mm.

A análise foi realizada com o software SPSS 11.0. Valores de p < 0,05 indicavam significância estatística.

Casuística

Constituíram a casuística desta pesquisa os pacientes com doença coronariana aterosclerótica obstrutiva da artéria descendente anterior, diagnosticada mediante coronariografia invasiva. As lesões obstrutivas apresentavam comprometimento estenótico da luz arterial maior que 70%, daí a indicação do implante de stent farmacológico como tratamento intervencionista, baseada nos achados clínicos e angiográficos. Os pacientes foram tratados com implante de stent farmacológico com o fármaco sirolimus (stent Cypher®) ou com o fármaco paclitaxel (stent Taxus®). Todas as próteses foram selecionadas pelas medidas obtidas na avaliação do ultra-som intravascular na fase pré-implante e otimizadas na sua expansão com pós-dilatação guiada por ultra-som. A inclusão dos pacientes iniciou-se em maio de 2002 e terminou em agosto de 2005. Os procedimentos foram realizados no Hospital Cardiológico Costantini.

Resultados

Características clínicas

Foram tratados com implante de stent farmacológico 205 pacientes. As características clínicas estão na tabela 1.

Características angiográficas

Em 153 indivíduos (74,63%), a doença aterosclerótica estava restrita à artéria descendente anterior (pacientes uniarteriais), enquanto em 52 (25,36%) a doença comprometia outros vasos, além da artéria descendente anterior (pacientes multiarteriais). As lesões da artéria descendente anterior envolviam em 56,61% a origem de ramos diagonais maiores de 2,25 mm, lesão em bifurcação.

Nos 205 pacientes, foram tratadas 242 lesões da artéria descendente anterior (média de 1,18 lesão por paciente), assim classificadas de acordo com a Força-tarefa AHA/ACC9:

  • tipo A: 6 lesões (2,47%);

  • tipo B1: 23 lesões (9,50%);

  • tipo B2: 96 lesões (39,66%);

  • tipo C: 80 lesões (33,57%).

Não seguiam a classificação da Força-tarefa AHA/ACC, por serem restenóticas, 37 lesões.

As características isoladas das lesões estão apresentadas na tabela 2.

Na artéria descendente anterior, foram implantados 240 stents, dos quais 236 eram farmacológicos (1,15 stent farmacológico por artéria).

As diferenças nas características dos stents Cypher® e Taxus® implantados estão detalhadas na tabela 3.

A extensão média do stent farmacológico por vaso foi de 27,74±11,59 mm. Na amostra estudada, observou-se, de acordo com a soma das extensões dos stents farmacológicos implantados em uma mesma artéria Descendente Anterior (DA), a seguinte casuística:

  • 67 DA (32,6%) receberam entre 8 e 20 mm;

  • 55 DA (26,8%) receberam entre 21 e 30 mm;

  • 57 DA (27,8%) receberam entre 31 e 40 mm;

  • 10 DA (4,8%) receberam entre 41 e 50 mm;

  • 16 DA (7,8%) receberam entre 51 e 65 mm.

Medidas obtidas pela análise do ultra-som intravascular

No segmento de referência proximal, a área do vaso era de 15,13 ± 4,36 mm2, a área do lúmen era de 7,62 ± 2,55 mm2, a porcentagem de estenose de 48,68 ± 11,47% e o diâmetro de referência de 3,10 ± 0,51mm. No segmento de referência distal, a área do vaso era de 9,94 ± 3,51 mm2, a área do lúmem era de 6,27 ± 1,98 mm2, a porcentagem de estenose de 35,39 ± 13,31% e o diâmetro de referência de 2,82 ± 0,43 mm.

Medidas do ultra-som intravascular do segmento do stent

  • Área luminal mínima (mm

    2): 5,13 ± 1,53.

  • Diâmetro luminal mínimo (mm): 2,55 ± 0,37.

  • Assimetria: 0,86 ± 0,86.

  • Volume: 190,79 ± 93,14.

Evolução clínica

O acompanhamento dos 205 pacientes teve o período médio de 711±306 dias (23,3±10 meses), mais de 8 meses de evolução do último paciente desta casuística. As taxas de ocorrência de trombose de stent, infarto agudo do miocárdio ou cirurgia de revascularização miocardica ou TVR foram semelhantes 1/205 - 0,48% para cada desfecho. O único paciente com trombose era do sexo masculino, de 43 anos, que havia sido submetido a implante de 1 stent Taxus® 3,0/16 mm (lesão restenótica de stent). A reintervenção com angioplastia convencional ocorreu quatro meses após o implante do stent farmacológico e 15 dias após a suspensão do clopidogrel.

A taxa de 1,46% de óbito corresponde a três pacientes do sexo feminino:

  • Paciente A - 76 anos de idade, com lesão restenótica de

    stent não-farmacológico, submetida a implante de um

    stent Cypher

    ® 3,0/18 mm. O procedimento foi realizado em maio de 2002 e o óbito ocorreu em junho de 2005. Óbito súbito, domiciliar.

  • Paciente B - 60 anos de idade, diabética, com lesão restenótica de

    stent não-farmacológico. Submetida a implante de dois

    stents Cypher

    ® 2,5/28 mm e 2,5/18 mm. O procedimento foi realizado em dezembro de 2002 e o óbito ocorreu em outubro de 2005. Óbito por infarto agudo, na cidade de origem.

  • Paciente C - 78 anos de idade, com lesão do tipo B2, submetida a implante de um

    stent Taxus

    ® 2,75/32 mm. O procedimento foi realizado em fevereiro de 2004 e o óbito ocorreu em agosto de 2005. Óbito súbito, domiciliar, por provável acidente isquêmico cerebral.

A taxa de revascularização da lesão tratada foi de 7,31% (15 pacientes), desses pacientes 9 receberam um novo stent farmacológico e os demais foram tratados com angioplastia com cateter balão com lâminas de titânio.

Análise univariada

Neste estudo, a variável resposta considerada foi pelo menos um evento cardíaco (presente ou não) (tab. 4).

Análise multivariada

Na tabela 5, são apresentados os valores de p resultantes do ajuste do modelo de regressão logística, no qual foram incluídas as variáveis consideradas no estudo.

Discussão

Este estudo visou ao acompanhamento clínico, em longo prazo (23,3±10 meses de média), de pacientes submetidos à angioplastia da artéria descendente anterior com implante de um ou mais stents farmacológicos guiados por ultra-som intravascular. A associação da técnica do ultra-som intravascular como guia do implante do stent não-farmacológico permite a otimização da expansão deste, diminuindo a restenose tardia8. Já no implante dos stents farmacológicos, o uso do ultra-som intravascular para seleção e otimização da expansão dos stents necessita de validação por estudos científicos. Estudos randomizados com implante de stents farmacológicos apresentam resultados tardios distintos, os quais estão diretamente relacionados às características das lesões tratadas. O estudo Sirius3 permitiu a inclusão de lesões longas e vasos finos, elevando o índice de restenose tardia para 8,9%, localizada principalmente nos bordos dos stents, visto que a restenose intra-stent era pequena (3,2%).

Os dados apresentados impõem algumas questões:

  • Se a seleção da extensão dos

    stents fosse guiada por ultra-som, priorizando o recobrimento de toda a extensão da placa culpada, seriam os mesmos os índices de restenose de bordos?

  • Apesar de reconhecidos os baixos índices de restenose intra-

    stent dos

    stents farmacológicos, a otimização da expansão dos

    stents teria impacto tardio positivo?

Essas são perguntas difíceis de responder porque implicam muitos vieses da técnica do implante dos stents, bem como da interpretação pessoal das imagens do ultra-som intravascular.

O ultra-som intravascular foi usado na avaliação pré-implante do stent para análise da extensão da placa aterosclerótica obstrutiva, o que permitiria que o stent escolhido recobrisse todo o segmento da placa, ficando os seus bordos em um segmento com menor carga de placa ou sem lesão aterosclerótica.

Todos os stents implantados na artéria descendente anterior tiveram sua expansão otimizada conforme a avaliação do ultra-som intravascular. Independentemente de uma ótima imagem angiográfica, se pelo ultra-som se observasse que as próteses estavam mal expandidas, os stents eram dilatados novamente.

Com a evolução dos stents farmacológicas - que tornou possível um bom controle da proliferação neo-intimal -, verificou-se que a perda tardia do diâmetro luminal intra-stent não era baixa somente nos stents curtos (menores de 20 mm), mas era muito baixa também nos stents longos11. Por essa ação dos stents farmacológicos longos observada nos estudos científicos e na prática clínica, passou-se a valorizar ainda mais a importância do reconhecimento da placa aterosclerótica pelo ultra-som na seleção do comprimento dos stents, de modo que se pudesse recobrir todo o segmento lesado.

Neste estudo, a taxa global de (pelo menos um) eventos cardíacos foi de 10,24%. Eventos como óbito, cirurgia de revascularização e infarto agudo do miocárdio foram poucos, e entre eles a revascularização da lesão tratada teve a taxa mais elevada (7,31%), correspondente a 9/ pacientes que receberam um novo stent farmacológico e a outros 6 submetidos à dilatação com cateter balão com lâminas de titânio.

A taxa de trombose tardia foi de 0,48% por paciente ou de 0,33% por stent, mesmo incluindo pacientes com lesões complexas, stents longos, stents múltiplos e lesões em bifurcações, índice muito baixo, semelhante ao encontrado em estudos com stent não-farmacológico12. Trombose ocorreu em um único paciente, que suspendeu o uso do clopidogrel no quarto mês, evoluindo com trombose intra-stent 15 dias após.

Nesta série, foram tratados todos os tipos de lesões ateroscleróticas ou de síndromes clínicas que envolviam a artéria descendente anterior, e os resultados mostram que é alta (98,54%) a taxa de sobrevida desses pacientes. A restenose clínica (taxa de revascularização da lesão tratada) foi o principal evento tardio observado em nossos pacientes (7,31%). Entretanto, a taxa de revascularização da lesão tratada foi aqui inferior às taxas descritas em muitos estudos clínicos.

Os principais fatores indicadores de eventos tardios foram a área luminal final avaliada pelo ultra-som e o número de stents implantados na artéria descendente anterior. O diâmetro de referência do vaso, a lesão em bifurcação, os stents implantados em vasos finos (<2,75) ou o tipo de stent implantado (Cypher® ou Taxus®) não apresentaram diferença estatística na análise uni ou multivariada.

Na análise univariada realizada na presente pesquisa, observou-se que a área luminal intra-stent menor que 3,88 mm2 foi preditiva de eventos, com significativo valor de p (p = 0,0107). Os pacientes com área luminal intra-stent menor que 3,88 mm2 na avaliação final ao ultra-som apresentaram maior índice de eventos quando comparados aos pacientes com áreas luminais intra-stent maiores que 3,88 mm2 (21,28% vs 6,96%, respectivamente, com p = 0,01). O tratamento de lesões longas implica a colocação dos stents nos segmentos mais distais do vaso, conseqüentemente obtendo uma área luminal bem inferior que as áreas obtidas no segmento mais proximal. No momento em que esses stents foram bem implantados, verificou-se se todas as hastes dos stents estavam bem apostas à parede do vaso, e se a área luminal final correspondia às áreas luminais de referência. Observamos que os stents com área luminal final > 3,88 mm2 pelo ultra-som apresentaram melhor evolução tardia (esta área luminal corresponde à área luminal mínima desejada nos segmentos considerados vasos finos). Entretanto, o encontro de uma área luminal final de 3,88 mm2 em um segmento de vaso calibroso implica uma prótese hipoexpandida, com hastes soltas no interior da luz do vaso, podendo interferir no resultado tardio. Esta hipótese não foi analisada nesta casuística, visto que todos os stents foram hiperexpandidos, com áreas adequadas à área luminal de referência proximal e distal.

Trinta e um pacientes receberam mais de um stent farmacológico implantado na artéria descendente anterior; destes, 7 (22,58%) apresentaram pelo menos um evento. O implante de stents longos (média da extensão dos stents implantados nesta casuística foi de 24,11) não foi um fator de aumento de riscos tardios, porém o implante de duas próteses foi um fator independente de eventos. Esse achado fortalece a importância da disponibilidade de stents longos com apresentação maiores de 30 mm de extensão, o que orienta o intervencionista a utilizar esses stents em vez de implantar duas próteses para o tratamento de lesões longas.

Um fato muito curioso verificou-se aqui: a única característica angiográfica com p menor que 0,25 mm foi a excentricidade das lesões (p = 0,18). As lesões concêntricas foram preditivas independentes de eventos, do mesmo modo que as lesões excêntricas apresentaram odd ratio de 0,24 (95% IC 0,07-0,81).

Nesta casuística, as lesões excêntricas foram um indicativo protetor contra eventos (p = 0,012, odd ratio 0,24 (95% IC 0,07-0,81)). O fato provavelmente relacionado à distribuição das hastes do stent, que geralmente se separam junto da parede com menor resistência, ou seja, com menor quantidade de placa, e se agrupam no lado de menor expansão, é o segmento com mais placa.

A análise multivariada demonstrou tendência estatística do diabetes como indicador independente de eventos cardíacos; os não-diabéticos apresentaram um odd ratio de 0,31 (95% IC 0,10-1,02) (p = 0,0536), portanto o diabete não foi um forte preditor de eventos como demonstrado na literatura. Este fato pode estar relacionado à característica do grupo de pacientes não-diabéticos que também receberam stents longos, equiparando a extensão de malha metálica por vaso entre os grupos. Com o advento dos stents farmacológicos, observa-se que os efeitos protetores dos fármacos também se estendem aos pacientes diabéticos, que apresentam evolução muito semelhante à dos pacientes não-diabéticos. No entanto, ainda não se pode afirmar que seja possível controlar por completo eventos tardios dos pacientes diabéticos.

Muitos estudos clínicos demonstraram a boa evolução obtida com stents farmacológicos em vasos menores que 2,75 mm (vasos finos). Nesta série, a taxa de eventos foi de 13,12% com o uso de stents menores que 3 mm, e de 9,03% (p = 0,45) com stents maiores. Essa variável foi estudada na regressão logística por sua relevância como indicativo nos estudos com stents metálicos. Na análise multivariada, encontrou-se um p não-significativo (p = 0,14).

A casuística estudada representa a experiência de um único grupo, que tem como característica o uso rotineiro do ultra-som intracoronariano para guiar o implante dos stents farmacológicos. Este estudo marca principalmente quais são os pacientes livres de eventos (porcentagem de acerto de 99,5% pelo modelo ajustado da regressão logística).

Conclusão

Baseados nos dados obtidos, concluímos que a revascularização da artéria descendente anterior com implante de stents farmacológicos escolhidos e otimizados pelo ultra-som intravascular apresenta baixo índice de eventos tardios. O implante de dois stents farmacológicos para o tratamento das lesões longas foi o principal fator independente para a ocorrência de eventos tardios. A área luminal final maior que 3,88 mm2 obtidos nos segmentos de pequenos diâmetros de referencia é um indicador independente de evolução livre de eventos.

Potencial Conflito de Interesses

Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.

Fontes de Financiamento

O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Vinculação Acadêmica

Este artigo é parte de tese de Doutorado de Marcelo de Freitas Santos pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Artigo recebido em 12/03/07; revisado recebido em 04/11/07; aceito em 14/04/08.

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  • Correspondência:
    Marcelo de Freitas Santos
    Rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi, 2546/1901
    Mossungue, 81210-000, Curitiba, PR - Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Fev 2009
    • Data do Fascículo
      Jan 2009

    Histórico

    • Revisado
      04 Nov 2007
    • Recebido
      12 Mar 2007
    • Aceito
      14 Abr 2008
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