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Associação de aptidão cardiorrespiratória e circunferência abdominal com hipertensão em mulheres idosas brasileiras

Resumos

FUNDAMENTO: O efeito protetor da aptidão cardiorrespiratória tem sido reconhecido nos adultos. Entretanto, essa relação ainda não se mostra esclarecida nos idosos. OBJETIVO: Analisar a associação entre hipertensão e aptidão cardiorrespiratória (ACR) em 1.064 mulheres idosas Brasileiras. MÉTODO: A obesidade central foi estimada pela circunferência abdominal (CA) e a ACR pelo teste de caminhada de 6 minutos. Os testes de ANOVA one-way, Qui-quadrado e regressão logística foram usados para a análise estatística. RESULTADOS: A prevalência de hipertensão foi de 53,9%. O grupo obesidade central apresentou maior risco para hipertensão quando comparado ao grupo não-obesidade central, mesmo pertencendo ao mesmo nível de ACR. Além disso, ambos os grupos mostraram um aumento progressivo do risco para hipertensão do maior para o menor grupo de ACR, indicando uma relação inversa entre ACR e obesidade central. O grupo não-obesidade central obteve o menor odds ratio (OR) de 1,49 (95%IC 0,97-2,28) e 1,54 (95%IC 0,94-2,51); enquanto que no grupo obesidade central, o OR foi 2,08 (95%IC 1,47-2,93), 2,79 (95%IC 1,79-4,33) e 3,09 (95%IC 1,86-5,12). CONCLUSÃO: Os resultados encontrados indicaram que a CC é um forte preditor de hipertensão, e que o efeito protetor da ACR pode ser estendido às mulheres idosas, mesmo àquelas com obesidade central.

Obesidade; aptidão física; idoso; pressão arterial; prevenção de doenças; circunferência abdominal; mulheres; Brasil


BACKGROUND: The protective effect of cardiorespiratory fitness, regardless of obesity, has been recognized in adults. However, this association is still not clear in elderly individuals. OBJECTIVE: To analyze the association between hypertension and cardiorespiratory fitness in 1,064 elderly Brazilian women. METHODS: Central obesity was estimated by waist circumference and cardiorespiratory fitness by the 6-minutes walk test. ANOVA one way, chi-square and logistic regression were used for the statistical analysis. RESULTS: The prevalence of hypertension was 53.9%. The central obesity group had higher odds for hypertension when compared with the non-central-obesity group, in the same cardiorespiratory fitness group. Furthermore, both the central obesity and non-central obesity groups had a progressive increase in the odds ratio for hypertension, from the highest to lowest fitness groups, indicating an inverse relation between fitness and central adiposity. The non-central obesity group had the lowest odds ratios (OR), 1.49 (95%IC 0.97-2.28) and 1.54 (95%IC 0.94-2.51); whereas the central obesity group had an OR of 2.08 (95%IC 1.47-2.93), 2.79 (95%IC 1.79-4.33) and 3.09 (95%IC 1.86-5.12). CONCLUSION: Our findings indicated that the waist circumference measurement is a strong predictor of hypertension and suggested that the protective effect of cardiorespiratory fitness can be extended to elderly women, even to those with central obesity.

Obesity; Physical Fitness; Aged; Blood Pressure; Disease Prevention; Abdominal Circumference; Women; Brazil


FUNDAMENTO: El efecto protector de la aptitud cardiorrespiratoria ha sido reconocido en los adultos. Sin embargo, esa relación todavía no está aclarada en las personas adultas mayores. OBJETIVO: Analizar la asociación entre hipertensión y aptitud cardiorrespiratoria (ACR) en 1.064 mujeres adultas mayores brasileñas. MÉTODOS: La obesidad central se estimó por la circunferencia abdominal (CA) y la ACR por el test de marcha de 6 minutos. Se emplearon las pruebas de ANOVA one-way, Chi-cuadrado y regresión logística para el análisis estadístico. RESULTADOS: La prevalencia de hipertensión fue de un 53,9%. El grupo obesidad central presentó mayor riesgo para hipertensión cuando comparado al grupo no-obesidad central, aun perteneciendo al mismo nivel de ACR. Además de ello, ambos grupos revelaron un aumento progresivo del riesgo para hipertensión del mayor para el menor grupo de ACR, indicando una relación inversa entre ACR y obesidad central. El grupo no-obesidad central obtuvo el menor odds ratio (OR) de 1,49 (95%IC 0,97-2,28) y 1,54 (95%IC 0,94-2,51); mientras que en el grupo obesidad central, el OR fue 2,08 (95%IC 1,47-2,93), 2,79 (95%IC 1,79-4,33) y 3,09 (95%IC 1,86-5,12). CONCLUSIÓN: Los resultados encontrados indicaron que la CC es un fuerte predictor de hipertensión, y que el efecto protector de la ACR puede extenderse a las mujeres adultas mayores, aun a las con obesidad central.

Obesidad; aptitud física; adulto mayor; presión arterial; prevención de enfermedad; circunferencia abdominal; mujeres; Brasil


ARTIGO ORIGINAL

CARDIOGERIATRIA

Associação de aptidão cardiorrespiratória e circunferência abdominal com hipertensão em mulheres idosas brasileiras

Maressa Priscila KrauseI; Tatiane HallageII; Mirnaluci Paulino Ribeiro GamaIII; Cristiane Petra MiculisII; Nívea da Silva MatudaII; Sergio G. da SilvaII

I

IIUniversidade Federal do Paraná, Curitiba, PR - Brasil

IIIHospital Universitário Evangélico de Curitiba, Curitiba, PR - Brasil

Correspondência Correspondência:Maressa Priscila Krause Rua Jose Rodrigues Pinheiro, 949, Capão Raso 81.130-200, Curitiba, PR - Brasil E-mail: maressakrause@hotmail.com

RESUMO

FUNDAMENTO: O efeito protetor da aptidão cardiorrespiratória tem sido reconhecido nos adultos. Entretanto, essa relação ainda não se mostra esclarecida nos idosos.

OBJETIVO: Analisar a associação entre hipertensão e aptidão cardiorrespiratória (ACR) em 1.064 mulheres idosas Brasileiras.

MÉTODO: A obesidade central foi estimada pela circunferência abdominal (CA) e a ACR pelo teste de caminhada de 6 minutos. Os testes de ANOVA one-way, Qui-quadrado e regressão logística foram usados para a análise estatística.

RESULTADOS: A prevalência de hipertensão foi de 53,9%. O grupo obesidade central apresentou maior risco para hipertensão quando comparado ao grupo não-obesidade central, mesmo pertencendo ao mesmo nível de ACR. Além disso, ambos os grupos mostraram um aumento progressivo do risco para hipertensão do maior para o menor grupo de ACR, indicando uma relação inversa entre ACR e obesidade central. O grupo não-obesidade central obteve o menor odds ratio (OR) de 1,49 (95%IC 0,97-2,28) e 1,54 (95%IC 0,94-2,51); enquanto que no grupo obesidade central, o OR foi 2,08 (95%IC 1,47-2,93), 2,79 (95%IC 1,79-4,33) e 3,09 (95%IC 1,86-5,12).

CONCLUSÃO: Os resultados encontrados indicaram que a CC é um forte preditor de hipertensão, e que o efeito protetor da ACR pode ser estendido às mulheres idosas, mesmo àquelas com obesidade central.

Palavras-chave: Obesidade, aptidão física, idoso, pressão arterial, prevenção de doenças, circunferência abdominal, mulheres, Brasil.

Introdução

A hipertensão tem uma alta prevalência entre adultos, tendendo a afetar mais mulheres do que homens em todo o mundo. É sabido que sua prevalência está aumentando gradualmente com a idade avançada, afetando aproximadamente metade da população idosa brasileira1-7.

Um dos principais fatores relacionados à gênese da hipertensão é um aumento no tecido adiposo, que é definido presentemente como "hipertensão da obesidade". Apesar de ter sido demonstrado que a obesidade central altera os sistemas cardiovascular, renal e metabólico, desencadeando respostas inflamatórias, a relação causa-efeito entre a obesidade e a hipertensão ainda não está bem esclarecida. Entretanto, há um consenso de que os indivíduos com obesidade central elevada apresentam um aumento de risco para hipertensão, doença cardiovascular e mortalidade3,6,8-12. Ainda, a obesidade central tem sido fortemente associada com uma maior prevalência de hipertensão6,8-10,12-20.

De acordo com os achados do estudo MONICA, um aumento de 2,5 cm na circunferência abdominal (CA) em mulheres corresponde a um aumento na pressão arterial sistólica de 1 mm Hg6. Além disso, o JNC73 - Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure - relatou que a relação entre a pressão arterial (PA) e o risco de doença cardiovascular (DCV) é contínua, consistente e independente de outros fatores de risco; assim, é sugerido que indivíduos hipertensos se tornam mais vulneráveis para adquirir outros problemas de saúde, particularmente entre indivíduos idosos que têm sofrido os efeitos deletérios acumulados pelo tempo devido à idade avançada e exposição tempo-cumulativa de fatores de risco por períodos de tempo mais longos1,2,6.

Este cenário tornou-se uma preocupação crescente para profissionais de saúde pública e a prevenção primária tem sido o foco principal, que inclui perda de peso, controle de dieta, alterações nos hábitos de consumo de álcool e fumo, e, especialmente, prática de exercícios1-3,7,13,15,18,21. Apesar das recomendações do JNC73 e das V Recomendações Brasileiras para Hipertensão5, como uma modificação de estilo de vida, que todos os indivíduos (hipertensos ou não) pratiquem atividades físicas aeróbicas regulares devido ao efeito protetor da alta aptidão física em relação ao risco para a saúde e a mortalidade em adultos, mesmo com excesso de adiposidade, essa tendência tem sido menos explorada em mulheres idosas1,22-30. Por essa razão, o principal objetivo desse estudo foi determinar a associação entre hipertensão e aptidão cardiorrespiratória (ACR) e examinar o efeito conjunto da ACR e obesidade central com hipertensão em mulheres idosas brasileiras.

Métodos

Desenho do estudo

O presente estudo foi conduzido na cidade de Curitiba, Paraná, Brasil. A amostra consistiu de mulheres idosas que participavam de grupos comunitários em toda a cidade. Esses grupos foram selecionados ao acaso. Os indivíduos foram convidados a participar dessa investigação após receberem uma descrição detalhada dos procedimentos da pesquisa, incluindo benefícios e possíveis riscos. Os indivíduos assinaram o Termo de Consentimento Informado, indicando que sua participação era voluntária. Um total de 1064 mulheres não-institucionalizadas, com idade entre 60 e 88,8 anos, concordou em participar do estudo. A amostra consistia predominantemente de indivíduos caucasianos, classificados como tendo nível socioeconômico baixo ou médio.

Todas as avaliações foram conduzidas entre 8 e 10 horas da manhã para evitar a influência das variações circadianas. Além disso, os participantes foram instruídos a não ingerir alimento duas horas antes dos testes e evitar atividades físicas vigorosas por 24 horas antes do teste. As avaliações foram conduzidas no Laboratório de Fisiologia do Exercício e Centro de Pesquisa Esportiva da Universidade Federal do Paraná.

O protocolo do estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Paraná, de acordo com as normas estabelecidas na Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, relacionadas a pesquisas envolvendo seres humanos.

Medidas

A pressão arterial (PA) foi medida de acordo com as recomendações do JNC73, utilizando-se o método auscultatório, por um médico treinado que assegurou que os indivíduos estivessem sentados confortavelmente por pelo menos 5 minutos em uma cadeira (com os pés apoiados no chão), em um ambiente calmo, e com o braço direito apoiado ao nível do coração. A hipertensão era determinada quando a pressão arterial sistólica (PAS) era > 140 mmHg e a pressão arterial diastólica (PAD) > 90 mmHg ou quando o individuo relatava espontaneamente o uso corrente de medicamentos anti-hipertensivos. Além disso, perguntou-se aos indivíduos se o seu médico já lhes havia dito que eram hipertensos.

A circunferência abdominal (CA) foi medida de acordo com os procedimentos de Lohman e cols.31. A fim de evitar a variabilidade inter-examinador, essa medida foi tomada por um único examinador em todos os participantes.

O Teste de Caminhada de Seis Minutos (TC6) foi administrado para calcular a aptidão cardiorrespiratória. O teste foi conduzido em uma extensão retangular de 54,4 metros (18,0 m de comprimento por 9,2 m de largura). A distância máxima na caminhada de 6 minutos foi registrada para cada indivíduo. O teste foi descontinuado se, a qualquer momento, um participante demonstrasse sinais de tontura, dor, náusea ou fadiga indevida32.

Além disso, os participantes relataram histórico familiar de DCV e estado atual de fumante (FA) ou não-fumante (NF). O nível socioeconômico foi determinado por um questionário nacional socioeconômico validado.

Análise estatística

O teste de normalidade de Kolmogorov Smirnov foi utilizado para determinar que a distribuição dos dados da amostra era paramétrica. Subsequentemente, médias, desvios-padrões, e frequências relativas foram calculados para os valores descritivos de acordo com a classificação da PA - normotenso/hipertenso. O teste de Análise de Variância one-way - ANOVA - foi usado para identificar diferenças entre idade, nível socioeconômico, PAS, PAD, CA e ACR dentro dos grupos normotenso/hipertenso. O teste de Qui-quadrado foi usado para identificar se as frequências de estado atual de fumante ou não-fumante e histórico familiar de DCV diferiam significantemente entre os grupos normotenso/hipertenso.

Análise de regressão logística foi usada para determinar a associação entre obesidade central (CA) e aptidão cardiorrespiratória (ACR) com hipertensão. A hipertensão foi tratada como uma variável dicotômica (sim/não). A CA e a ACR foram divididas em quartis na análise univariada. O Odds Ratio (OR) (razão de probabilidades) e seus intervalos de confiança de 95% (IC95%) foram calculados utilizando-se idade e modelos ajustados que incluíam as potenciais variáveis confundidoras - nível socioeconômico, histórico familiar de DCV e estado atual de fumante ou não-fumante, e obesidade central ou ACR. Para investigar o efeito conjunto da obesidade central e a ACR com a hipertensão, as seguintes variáveis foram criadas: ACR > 490,2 e CA < 88,0 (grupo referência) e > 88,0 cm; ACR < 490,2 - > 431,0 e CA < 88,0 e > 88,0 cm; ACR < 431,0 - > 330,8 e CA < 88,0 e > 88,0 cm; ACR < 330,8 e CA < 88,0 e > 88,0 cm. A divisão dos grupos forneceu a informação de altos para baixos quartis de ACR para os grupos não-obesidade central (CA < 88,0) e obesidade central (CA > 88,0 cm). Todas as análises foram feitas com o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS, versão 13.0) para Windows.

Resultados

Entre os 1.064 participantes, 574 indivíduos foram classificados como hipertensos (53,9%). A análise de variância one-way e o teste Qui-quadrado mostraram diferenças significantes entre indivíduos normotensos e hipertensos para as seguintes variáveis: idade, nível socioeconômico (NSE), PAS, PAD, CA, ACR e histórico familiar de DCV (HF_DCV). O estado de fumante atual (FA) não diferiu entre os grupos (Tabela 1).

A mais alta prevalência de hipertensão foi encontrada no grupo com maior obesidade central (CA > 94,0 cm), indicando uma associação direta entre essas variáveis (Figura 1). Em contraste, uma tendência de associação inversa foi encontrada entre a prevalência de hipertensão e a ACR (Figura 2).



A análise de regressão logística determinou um aumento crescente no OR nos quartis da CA. A Tabela 2 mostra OR (probabilidades) de 3 vezes para hipertensão para as mulheres com maior obesidade central (CA >94,0 cm), independente da idade ou variáveis confundidoras. Entretanto, após o ajuste para ACR, as OR foram levemente atenuadas, ficando em aproximadamente 5% para aquelas com CA >94,0 cm e 8% para aquelas com CA de 87 - 93,9 cm. A Tabela 3 mostra a associação entre hipertensão e ACR. Os dois maiores grupos de ACR tiveram uma redução de 33 e 36%, respectivamente, nas OR para hipertensão. Entretanto, após a inclusão da CA no modelo de regressão, a OR aumentou para 0,76 e 0,75 nos mesmos dois maiores grupos de ACR, respectivamente.

A Figura 3 mostra a tendência que a obesidade central em mulheres idosas (CA >88,0 cm) apresentasse uma maior OR para hipertensão quando comparadas com o grupo não-obesidade central (CA <88,0 cm), no mesmo grupo de ACR. Portanto, quanto maior a ACR, menor é a OR para hipertensão para ambos os grupos, não-obesidade e obesidade central (CA >88,0 cm).


Discussão

O excesso de adiposidade tem sido diretamente associado com a prevalência para hipertensão, sustentando nossos achados que mostraram que mulheres com CA maior tinham um aumento de 3 vezes na OR para hipertensão, indicando que a CA é um forte preditor de hipertensão nessa amostra. Vários estudos têm mostrado que a CA é um indicador de obesidade central em adultos e mulheres idosas1,8-12,21,23,33, e, consequentemente, está diretamente associado com riscos à saúde17,18,34. Além disso, a CA tem um maior ponto de corte preditivo para hipertensão do que o índice de massa corporal (IMC) em homens19 e, principalmente, no primeiro ponto de corte da CA (CA > 80) em mulheres adultas14, a CA tem uma OR para hipertensão de 1,76 entre 80-88cm e OR de 2,18 para CA > 88 cm13, e é um forte preditor de DCV em mulheres com idade de 25 a 74 anos34.

A despeito da reconhecida importância de manter uma ACR moderada a alta, mesmo em indivíduos com excesso de adiposidade23,25,27,35,36, essa abordagem parece ser ainda pouco explorada para mulheres idosas. Nossos resultados verificaram que a média da ACR era mais alta no grupo normotenso do que no grupo hipertenso, e indicaram uma associação inversa entre a prevalência da hipertensão e a ACR. Esses achados são apoiados por uma recente investigação que examinou os efeitos da ACR e o índice de hipertensão no Estudo Longitudinal do Centro Aeróbico (ACLS), que foi conduzido em mulheres normotensas sem DCV basal. Esses resultados indicaram uma relação inversa entre a ACR e a hipertensão após o seguimento. Além disso, no modelo multivariado, a OR foi 0,61 para um nível moderado de ACR e 0,35 para um nível alto de ACR, indicando um forte efeito protetor da ACR. De maneira similar, nossos resultados da análise univariada indicaram uma diminuição de 24 e 25% na OR para hipertensão nos dois quartis mais altos de ACR, respectivamente, mesmo após a medida da CA ter sido incluída no modelo. Parece que a ACR tem um efeito protetor na hipertensão e o mesmo efeito foi confirmado para mulheres com pré-hipertensão33 e para idosos5. Hu e cols.16 também indicaram um efeito protetor do nível de atividade física (NAF) para hipertensão em mulheres com idade de 25 a 64 anos.

Embora os resultados dos estudos apresentados anteriormente não tivessem sido específicos para mulheres idosas, tendo sido determinados através de uma amostra estratificada por grupos etários30 ou ajustados por idade16,27,34, ainda assim eles sustentam nossos achados de que a ACR tem um efeito protetor para a hipertensão e, consequentemente, esse efeito pode ser estendido à mulheres idosas, especificamente, independentemente da classificação de não-obesidade ou obesidade central.

Similar aos resultados obtidos pelos pesquisadores do ACLS23, nosso propósito não era minimizar o efeito da obesidade na saúde de mulheres idosas, mas confirmar os benefícios da manutenção da ACR nessa população específica. Atualmente, há um aumento da preocupação sobre qual estratégia pode ser mais eficiente contra a hipertensão, por que supõe-se que mesmo indivíduos normotensos, com menos de 65 anos, tenham um risco de desenvolver hipertensão durante o resto de suas vidas de aproximadamente 90%. Além disso, vários casos de tratamento farmacológico têm se mostrado ineficazes no controle dessa condição, principalmente em mulheres idosas1,2. Por essas razões, a prevenção primária foi reconhecida como sendo a mais importante3,5, tal como a prática regular de exercícios aeróbicos, que têm sido altamente recomendados. A manutenção de uma ACR moderada a alta através da prática de exercícios aeróbicos, principalmente quando executados desde a idade adulta, parece promover benefícios para a saúde e ajudar a manter tais benefícios por um longo tempo22,26.

Nossos achados têm implicações clínicas e de saúde pública, apoiando a premissa de que o efeito protetor da ACR sobre a hipertensão pode ser estendido à mulheres idosas, mesmo àquelas com obesidade central. Sugere-se que os profissionais da saúde encorajem seus pacientes a aumentar os níveis de atividade física, especialmente com exercícios aeróbicos, considerando que a atividade física regular foi considerada um denominador comum para a terapia clínica de baixa ACR e excesso de peso5,23.

Embora os auto-relatos de hipertensão tenham sido confirmados por medidas reais de PA ou através de diagnóstico médico prévio, esse fator pode ser considerado como uma limitação de nossos achados. Infelizmente, nossa pesquisa não incluiu outros fatores de risco para hipertensão, como consumo de álcool e hábitos nutricionais (por ex., ingestão de sódio e potássio), para serem usados como ajustes na análise de regressão. A ACR foi medida através de teste de exercício submáximo, o qual pode ter superestimado ou subestimado nossos resultados. Entretanto, esse teste é considerado uma opção válida para estimar a ACR especificamente em indivíduos idosos, os quais recomendam-se não serem expostos a esforço máximo37. Ambos os grupos não-obesidade e obesidade central com baixa ACR tinham um número insuficiente de participantes (n=25 e 24, respectivamente) em nossa análise de regressão final, não permitindo a obtenção de resultados consistentes sobre esses grupos específicos. Entretanto, a tendência observada em todos os grupos foi significante. Considerando que o desenho desse estudo é transversal, não é possível fornecer evidências para causalidade ou efeito do tempo sobre a hipertensão a partir de nossos resultados.

Potencial Conflito de Interesses

Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.

Fontes de Financiamento

O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Vinculação Acadêmica

Não há vinculação deste estudo a programas de pós-graduação.

Artigo recebido em 20/05/08; revisado recebido em 11/06/08; aceito em 19/06/08.

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  • Correspondência:

    Maressa Priscila Krause
    Rua Jose Rodrigues Pinheiro, 949, Capão Raso
    81.130-200, Curitiba, PR - Brasil
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Out 2009
    • Data do Fascículo
      Jul 2009

    Histórico

    • Revisado
      11 Jun 2008
    • Recebido
      20 Maio 2008
    • Aceito
      19 Jun 2008
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