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4. Procedimentos cardiológicos na gravidez

PROCEDIMENTOS CARDIOLÓGICOS NA GRAVIDEZ

4. Procedimentos cardiológicos na gravidez

4.1 - Valvotomia percutânea por cateter balão

Walkiria Samuel Ávila

As indicações da valvotomia percutânea por cateter balão (VPCB) superpõem-se às indicações cirúrgicas, principalmente na estenose mitral refratária ao tratamento clínico. No entanto, é necessário estabelecer certos critérios morfológicos da válvula, conhecidos como escore ecocardiográfico, para que o procedimento seja viável (graus não expressivos do componente subvalvar)1. O sucesso do procedimento pode ser obtido em 90-100% dos casos (área valvar mitral de 1,5 cm2)1,2. Complicações ocasionais são descritas na gestação, como contrações uterinas, embolia sistêmica, arritmia materna com subsequente sofrimento fetal, tamponamento cardíaco e insuficiência mitral aguda, requerendo imediata intervenção cirúrgica a céu aberto3. Está indicada a realização de ecocardiograma transtorácico e transesofágico prévio ao procedimento para descartar trombo intracavitário. A indicação da VPCB destina-se a pacientes com escore ecocardiográfico < 8, apresentando vantagens em relação à cirurgia cardíaca por ser mais segura tanto para a mãe como para o feto (mortalidade fetal de 2-5%)2,3.

Cuidados obstétricos - Inibição da atividade uterina deve ser profilática por meio de fármacos com ação uterolítica, como a indometacina (um supositório uma hora antes e outro uma hora após o procedimento), (IIaC) ou óvulos de progesterona (50 mg) via vaginal duas vezes ao dia, iniciando no dia anterior e mantendo até o dia posterior ao procedimento, num total de 4 óvulos. (IIaC) Dá-se preferência à progesterona natural, porque a indometacina pode provocar o fechamento do canal arterial quando utilizada após a 26ª semana de gestação6.

4.2 - Cirurgia cardíaca

Walkiria Samuel Ávila

A indicação de cirurgia cardíaca na gravidez está presente nos casos refratários ao tratamento clínico ou na impossibilidade do tratamento percutâneo por cateter balão. As causas mais frequentes são: insuficiência cardíaca, endocardite infecciosa, trombose de prótese valvar e dissecção de aorta4,5,6.

Os riscos relacionados ao procedimento cirúrgico não são diferentes aos de mulheres não grávidas. Contudo, a morbidade e mortalidade materna têm sido relatadas como maiores na gestação6,7,8, porque geralmente a cirurgia cardíaca é indicada em situações de extrema gravidade. Em dois serviços de referência a mortalidade materna variou de 8,6%7 a 13,3%6, sendo a insuficiência cardíaca refratária a principal indicação e a comissurotomia mitral o procedimento mais frequente6,7.

O prognóstico fetal está relacionado com a vitalidade fetal prévia ao procedimento, ao tempo e à temperatura da circulação extracorpórea e à idade gestacional no momento da cirurgia. Em nosso país, a mortalidade fetal é descrita como variando de 18,6%7 a 33,3%6. Recomendações durante o procedimento para melhor resultado obstétrico e fetal (IIaC):

• Normotermia4,5,6,9;

• Alto fluxo na circulação extracorpórea5;

• Fluxo pulsátil4,6,9;

• Pressão arterial média > 60 mmHg4;

• Uterolítico profilático;

• Cardiotocografia contínua5,6,9;

• Dopplerfluxometria;

• Manter hematócrito acima de 25%5.

4.3 - Cardioversão elétrica

Citânia Lúcia Tedoldi

Cardioversão elétrica sincronizada pode ser necessária em pacientes com taquiarritmias supraventriculares ou ventriculares que não respondem ao uso de drogas ou quando desenvolvem instabilização hemodinâmica. O procedimento pode ser realizado com segurança em qualquer idade gestacional e o feto pode apresentar bradicardia transitória com resolução espontânea. Episódios embólicos podem ocorrer após reversão de fibrilação atrial. Está indicado uso de anticoagulante em doses terapêuticas por 3 semanas antes da cardioversão, e por no mínimo 4 semanas após10,11. A anestesia para a cardioversão elétrica pode ser realizada com propofol (risco B, vide capítulo 6), etomidato (maior incidência de mioclonia), midazolan (risco D) ou thiopental (risco D). Todos atravessam a placenta e o risco é descrito de acordo com o grau de sedação fetal por ocasião do parto12,13.

  • 1. Grinberg M, Cardoso LF. Sucesso e satisfação: a visão clínica da valvotomia mitral percutânea. Arq Bras Cardiol. 1997; 68: 145-6.
  • 2. De Souza JA, Martinez EE Jr, Ambrose JA, Alves CM, Born D, Buffolo E, et al. Percutaneous balloon mitral valvuloplasty in comparison with open mitral valve commissurotomy for mitral stenosis during pregnancy. J Am Coll Cardiol. 2001; 37: 900-3.
  • 3. Avila WS, Andrade J, Born D, Lopes CMC. Terapêutica da estenose mitral durante a gravidez: tratamento clínico, cirurgia cardíaca e valvotomia. Rev Soc Cardiol Estado de Sao Paulo. 1997; 2: 318-23.
  • 4. Arnoni AS, Andrade J, Falcão HCB, Souza SCS. Cirurgia cardíaca na gravidez. Rev Bras Cir Cardiovasc. 1986; 1: 14-9.
  • 5. Pomerantzeff PMA, Benício A, Brandão CMA, Avila WS, Bueno PC, Grinberg M. Cirurgia valvar em gestantes: experiência em oito casos. Arq Bras Cardiol. 1998; 70: 403-8.
  • 6. Born D, Massonetto JC, De Almeida PA, Moron AF, Buffolo E, Gomes WJ, et al. Cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea em gestantes: análise da evolução materno-fetal. Arq Bras Cardiol. 1995; 64: 207-11.
  • 7. Arnoni RT, Arnoni AS, Bonini RC, De Almeida AF, Neto CA, Dinkhuysen JJ, et al. Risk factors associated with cardiac surgery during pregnancy. Ann Thorac Surg. 2003; 76: 1605-8.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Ago 2010
  • Data do Fascículo
    Dez 2009
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