Acessibilidade / Reportar erro

Valvopata brasileiro mais idoso

CARTA AO EDITOR

Valvopata brasileiro mais idoso

Max Grinberg; Maria Cecilia Solimene

Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP - Brasil

Correspondência Correspondência: Maria Cecília Solimene Rua Otávio Nébias, 182 - ap. 71 - Paraíso 04002-011 - São Paulo, SP - Brasil E-mail: mcsolimene@cardiol.br, maria.solimene@incor.usp.br

Palavras-chave: Doenças das valvas cardíacas; estenose aórtica; idoso.

No Ambulatório da Unidade Clínica de Valvopatias do InCor, a maioria dos pacientes é de mulheres (871/1.435 = 60,7%), ocorrendo em uma proporção de 1,1 na estenose aórtica isolada (EAo) e 1,6 nas demais valvopatias (não EAo).

Na Europa, a maioria dos pacientes com EAo é do sexo masculino¹ e, nos Estados Unidos, especificamente nos maiores de 60 anos, a proporção é igual². Idosos (maiores de 60 anos) correspondem a 40,9% (587/1.435) dos nossos pacientes, com 26,7% (157/587) sendo EAo. Recorde-se que a expectativa média de vida do brasileiro atingiu a marca de 71,9 anos - 75,8 anos para as mulheres e 68,2 anos para os homens.

Dentre os operados, 62,0% (31/50) com EAo e 33,9% (57/168) com as demais valvopatias são idosos. Destaque-se a associação de doença arterial coronária às valvopatias, relatada por Kruczan e cols.³ como a mais prevalente em portadores de doença valvar não reumática, do sexo masculino e idade superior a 55 anos, e por Sampaio e cols.4, mostrando que 95,7% dos pacientes eram maiores de 50 anos e 63,3% tinham valvopatia aórtica. Os dados indicam o impacto do idoso na assistência ao portador de doença valvar, não somente em relação à EAo, como também nas valvopatias não EAo.

A constatação torna-se mais relevante quando dados do Euro Heart Survey¹ revelam que a cirurgia tem sido negada para 30 a 50% dos pacientes com EAo ou insuficiência mitral, mais em função da idade (em geral nos maiores de 75 anos) do que pela própria gravidade da doença, sugerindo despreparo médico para lidar com esse tipo de situação, oque devemos considerar um alerta em função dos dados supracitados.

Considerando que o Brasil não conseguirá erradicar a cardiopatia valvar reumática em curto prazo, as próximas décadas conviverão com uma nova realidade brasileira que, ao mesmo tempo que se aproxima da observação em países do primeiro mundo - aumento progressivo da média etária dos pacientes e da etiopatogenia degenerativa1, 2 - manterá nossa realidade reumática histórica com tendência a maior sobrevida pós-operatória a longo prazo.

Artigo recebido em 06/04/10; revisado recebido em 26/04/10; aceito em 29/04/10.

  • 1. Iung B, Baron G, Tornos P, Gohlke-Bärwolf C, Butchart EG, Vahanian A. Valvular heart disease in the community: a European experience. Curr Probl Cardiol. 2007; 32 (11): 609-61.
  • 2. Supino PG, Borer JS, Preibisz J, Bornstein A. The epidemiology of valvular heart disease: a growing public health problem. Heart Fail Clin. 2006; 2 (4): 379-93.
  • 3. Kruczan DD, Silva NAS, Pereira BB, Romão VA, Correia Filho WB, Morales FEC. Doença arterial coronária em pacientes com valvopatia reumática e não- reumática acompanhados em hospital público do Rio de Janeiro. Arq Bras Cardiol. 2008; 90 (3): 197-203.
  • 4. Sampaio RO, Jonke VM, Falcão JL, Falcão S, Spina GS, Tarasoutchi F, et al. Prevalência de doença arterial coronariana e avaliação pré-operatória em portadores de valvopatia. Arq Bras Cardiol. 2008; 91 (3): 200-4.
  • Correspondência:
    Maria Cecília Solimene
    Rua Otávio Nébias, 182 - ap. 71 - Paraíso
    04002-011 - São Paulo, SP - Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Jan 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2010
    Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC Avenida Marechal Câmara, 160, sala: 330, Centro, CEP: 20020-907, (21) 3478-2700 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil, Fax: +55 21 3478-2770 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revista@cardiol.br