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Estamos preparados para avaliar atletas jovens?

CARTA AO EDITOR

Estamos preparados para avaliar atletas jovens?

Maria Cecília Solimene; Max Grinberg

Instituto do Coração do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, SP - Brasil

Correspondência Correspondência: Maria Cecília Solimene Unidade Clínica de Valvopatias - Instituto do Coração - HC-FMUSP Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 - Bloco II 05403-000 - São Paulo, SP - Brasil E-mail: maria.solimene@incor.usp.br

Palavras-chave: Atletas, triagem, medicina esportiva, capacitação, eletrocardiografia/utilização, Brasil.

Caro Editor,

Peidro e cols.1 publicaram interessante ponto de vista sobre a necessidade de um consenso para a triagem pré-participação do atleta jovem. Os autores relataram as diferenças nas abordagens americana e italiana quanto à avaliação dos jovens que pretendem praticar esportes competitivos; a Sociedade Americana de Cardiologia não indica o exame eletrocardiográfico (ECG) de 12 derivações, pela alta taxa de resultados falso-positivos, mas a morte súbita de atletas italianos foi reduzida em 89%, pela inclusão do ECG de 12 derivações1.

Os autores admitem que no Brasil o número de médicos com proficiência na interpretação do ECG do atleta é menor do que o desejável. Gostaríamos de entender a causa dessa afirmação: haveria entre nós poucos médicos interessados na Cardiologia Esportiva, ou os médicos que a praticam não estão devidamente habilitados?

Em nosso meio, Matos e cols.2 descreveram detalhadamente as alterações do ECG provocadas pelo treinamento físico, que devem ser diferenciadas de reais anormalidades, incluindo a necessidade da interpretação cuidadosa de critérios isolados de voltagem de QRS para hipertrofia ventricular esquerda.

O ecocardiograma e o teste ergométrico não são recomendados para a avaliação de rotina na triagem dos atletas; entretanto, Peidro e cols.1 enfatizam que as equipes nacionais italianas utilizam o ecocardiograma como primeiro passo na triagem dos atletas competitivos, postura com a qual concordamos, haja vista a crescente ocorrência de mortes súbitas nos campos esportivos. Não estaria indicado também o teste ergométrico pelo possível desencadeamento de arritmias ventriculares graves sob esforço, ou até mesmo de isquemia, embora a doença arterial coronariana seja pouco prevalente nessa faixa etária?

A Medicina Esportiva no Brasil tem evoluído, no sentido de formar profissionais capacitados a avaliar adequadamente o jovem que se dispõe a seguir a carreira esportiva; no entanto, concordamos com os autores que estamos na hora de padronizar as condutas e redigir nosso próprio consenso.

Carta-resposta

Prezado Editor dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia,

Agradecemos a carta encaminhada ao Editor do ABC referente ao nosso Ponto de Vista intitulado "Triagem pré-participação do atleta jovem: é essa hora para um consenso?1"

Nela, os autores relatam não compreender com exatidão o que desejamos dizer ao escrever que "em países como Brasil o número de médicos com proficiência na interpretação do eletrocardiograma do atleta é menor do que o desejável". Em seguida, perguntam se em nossa opinião haveria entre nós poucos médicos interessados na Cardiologia Esportiva ou se os médicos que a praticam não estariam devidamente habilitados para interpretação do eletrocardiograma do atleta?

Na verdade, não se trata nem de uma coisa, nem de outra. Nossa consideração diz respeito ao fato de, generalizando, não haver entre os cardiologistas proficiência na interpretação desse exame nesse grupo em particular (atletas). Acreditamos que os Cardiologistas do Exercício e do Esporte brasileiros saibam, sim, ao deparar com as nuanças do eletrocardiograma do atleta, interpretá-las com proficiência. No entanto, esses são poucos em nosso meio, se comparados ao número de cardiologistas que não são habituados a lidar com atletas em todas as suas facetas.

Um segundo questionamento dos autores diz respeito a indicação do teste ergométrico pelo possível desencadeamento de arritmias ventriculares graves sob esforço. Como ergometristas praticantes e amantes do método, é nossa opinião que esse exame propedêutico não deva fazer parte da avaliação pré-participação de todo atleta jovem, podendo sim ser indicado em casos específicos, assim como o ecocardiograma ou outros exames de maior complexidade.

Aproveitamos o ensejo para reforçar a ideia de que a educação científica atualizada (embasada nas melhores evidências disponíveis), aliada à prática individual (experiência), forma o binômio ótimo para o atendimento de nossos clientes. Nesse particular, a triagem pré-participação do atleta jovem ainda apresenta zonas cinzentas, as quais nós, cardiologistas do Exercício e do Esporte latino-americanos, podemos sim ajudar a preencher1.

Atenciosamente,

Roberto Peidro,

Victor Froelicher

e Ricardo Stein

Referências (Resposta)

Artigo recebido em 29/03/11; revisado recebido em 29/03/11; aceito em 26/04/11.

  • 1. Peidro R, Froelicher V, Stein R. Triagem pré-participação do atleta jovem: é essa a hora para um consenso? Arq Bras Cardiol. 2011;96(3):e50-e52.
  • 2. Matos LDNJ, Pastore CA, Samesima N, Franco FGM. Alterações do eletrocardiograma de repouso com o treinamento físico. In: Negrão CE, Barretto ACP, ed. Cardiologia do exercício: do atleta ao cardiopata. 3ªed. São Paulo: Editora Manole; 2010. p. 177-200.
  • 1. Peidro R, Froelicher V, Stein R. Triagem pré-participação do atleta jovem: é essa a hora para um consenso? Arq Bras Cardiol. 2011;96(3):e50-e52.
  • Correspondência:

    Maria Cecília Solimene
    Unidade Clínica de Valvopatias - Instituto do Coração - HC-FMUSP
    Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 - Bloco II
    05403-000 - São Paulo, SP - Brasil
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Out 2011
    • Data do Fascículo
      Ago 2011
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