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Análise da tendência da mortalidade por acidente vascular cerebral no Brasil no século XXI

Resumos

FUNDAMENTO: Embora seja mundialmente a segunda principal causa de óbitos, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) vem apresentando uma importante redução das taxas de mortalidade nas últimas décadas. OBJETIVO: Avaliar a tendência da taxa de mortalidade por acidente vascular cerebral no Brasil, em ambos os sexos, a partir dos 30 anos de idade, entre 2000 e 2009. MÉTODOS: Os dados populacionais foram obtidos no banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e os óbitos, por meio do Sistema de Informações sobre Mortalidade da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, sendo incluídos os códigos I60 a I69 de acordo com a 10ª Classificação Internacional de Doenças. Foi calculada a incidência de óbitos/1.000 habitantes, as taxas de mortalidade bruta e padronizada/100.000 habitantes. A modelagem da tendência das taxas foi feita com modelos de regressão. RESULTADOS: Observou-se um aumento na incidência de óbitos até 2006, seguindo-se um declínio até 2009, quando ocorreu a incidência mínima. Comparando os anos 2000 e 2009, nota-se uma tendência de queda da taxa de mortalidade padronizada em ambos os sexos (masculino = -14,69%; feminino = -17%) e no total (-14,99%), com oscilações no período. Entre 30 e 49 anos em ambos os sexos, houve uma tendência de redução contínua e linear da taxa de mortalidade, enquanto os demais grupos etários apresentaram uma função curvilínea, culminando com uma efetiva diminuição dos valores. CONCLUSÃO: Houve uma tendência de queda na taxa de mortalidade em todas as faixas etárias e em ambos os sexos. A redução da taxa de mortalidade bruta foi mais acentuada no sexo masculino, enquanto a taxa de mortalidade padronizada mostrou uma maior redução no sexo feminino.

Acidente vascular cerebral; epidemiologia; Brasil


BACKGROUND: Although it is the second leading cause of deaths worldwide, the cerebrovascular accident (CVA) has shown a significant reduction in mortality rates in recent decades. OBJECTIVE: To evaluate the trend of CVA mortality rate in Brazil, in both sexes, older than 30 years old, between 2000 and 2009. METHODS: Population data were obtained from the database of the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) and deaths through the Mortality Information System of the Health Surveillance Secretariat of the Ministry of Health, and included codes I60 to I69 according to 10th International Classification of Diseases. We calculated the incidence of deaths/1,000 inhabitants, gross and standardized mortality rates /100,000 inhabitants. The modeling of the trend of rates was performed using regression models. RESULTS: There was an increase in mortality until 2006, followed by a decline until 2009, when the incidence was the lowest. Comparing the years 2000 and 2009, there is a downward trend in standardized mortality rate in both sexes (male = -14.69% and female = -17%) and total (-14.99%), with fluctuations during the period. Between 30 and 49 years in both sexes, there was a trend of continuous and linear decrease in mortality rate, while the other age groups showed a curvilinear function, leading to an effective decrease in values. CONCLUSION: There was a downward trend in mortality in all age groups and both sexes. The reduction in gross mortality rate was more pronounced in males, while the standardized mortality rate showed a greater reduction in females.

Stroke; epidemiology; Brazil


Análise da tendência da mortalidade por acidente vascular cerebral no Brasil no século XXI

Célia Regina GarritanoI,III; Paula Mendes LuzII; Maria Lucia Elias PiresI,III; Maria Teresa Serrano BarbosaI,III; Keila Moreira BatistaIII

IUniversidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

IIInstituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas - Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ

IIIUniversidade Federal do Vale de São Francisco, Petrolina, PE, Brasil

Correspondência Correspondência: Célia Regina Garritano Rua Uruguai, 124/402 - Tijuca 20510-060 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil E-mail: cgarritano@oi.com.br

RESUMO

FUNDAMENTO: Embora seja mundialmente a segunda principal causa de óbitos, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) vem apresentando uma importante redução das taxas de mortalidade nas últimas décadas.

OBJETIVO: Avaliar a tendência da taxa de mortalidade por acidente vascular cerebral no Brasil, em ambos os sexos, a partir dos 30 anos de idade, entre 2000 e 2009.

MÉTODOS: Os dados populacionais foram obtidos no banco de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e os óbitos, por meio do Sistema de Informações sobre Mortalidade da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, sendo incluídos os códigos I60 a I69 de acordo com a 10ª Classificação Internacional de Doenças. Foi calculada a incidência de óbitos/1.000 habitantes, as taxas de mortalidade bruta e padronizada/100.000 habitantes. A modelagem da tendência das taxas foi feita com modelos de regressão.

RESULTADOS: Observou-se um aumento na incidência de óbitos até 2006, seguindo-se um declínio até 2009, quando ocorreu a incidência mínima. Comparando os anos 2000 e 2009, nota-se uma tendência de queda da taxa de mortalidade padronizada em ambos os sexos (masculino = -14,69%; feminino = -17%) e no total (-14,99%), com oscilações no período. Entre 30 e 49 anos em ambos os sexos, houve uma tendência de redução contínua e linear da taxa de mortalidade, enquanto os demais grupos etários apresentaram uma função curvilínea, culminando com uma efetiva diminuição dos valores.

CONCLUSÃO: Houve uma tendência de queda na taxa de mortalidade em todas as faixas etárias e em ambos os sexos. A redução da taxa de mortalidade bruta foi mais acentuada no sexo masculino, enquanto a taxa de mortalidade padronizada mostrou uma maior redução no sexo feminino.

Palavras-chave: Acidente vascular cerebral/mortalidade, epidemiologia, Brasil.

Introdução

O número de indivíduos com mais de 60 anos de idade vem aumentando acentuadamente nas últimas décadas em todo o mundo, com projeções indicando que em 2050 esse grupo contará com cerca de 1.900 milhões de pessoas1. No Brasil, essa faixa da população apresentou um crescimento de 33,65% no período de 2000 a 20092, e com isso as Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) passaram a ser predominantes3,4, com destaque para as Doenças Cardiovasculares (DCV), que se tornaram a principal causa de óbitos em ambos os sexos no Brasil5,6. Dentro do grupo das DCV, o Acidente Vascular Cerebral (AVC) tornou-se uma das principais causas de morte e incapacidade, já sendo considerado a segunda maior causa de mortes no mundo7-10. Entre todos os países da América Latina, o Brasil é o que apresenta as maiores taxas de mortalidade por AVC, sendo entre as mulheres a principal causa de óbitos11. Mesmo sendo referida uma redução dos índices de mortalidade nas últimas décadas, os valores continuam muito elevados7,8,12-15.

O objetivo deste trabalho é analisar a tendência das taxas de mortalidade por AVC no Brasil (BR) entre 2000 e 2009, em ambos os sexos e nas diferentes faixas etárias.

Métodos

Coleta dos dados

Os dados populacionais foram obtidos por meio do censo de 2000 e de projeções intercensitárias de 2001 a 2009 da população residente no Brasil, realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)16, e estratificados de acordo com o sexo e as faixas etárias em intervalos decenais iniciando em 30 a 39 anos até 80 anos ou mais de idade.

As causas de óbitos foram selecionadas de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID 10), sendo incluídos os códigos I60 a I69. O número de óbitos foi obtido por meio do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (Datasus)17.

A incidência de óbitos foi calculada em relação ao gênero e no total/1.000 habitantes.

A taxa de mortalidade bruta foi calculada de acordo com o gênero e faixa etária, tendo como referência a população estimada para cada faixa etária e sexo no ano referente16. Para o cálculo da mortalidade ajustada, foi usado o método direto, tendo como população padrão a descrita pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 200018.

Todos os cálculos foram feitos com dados anuais entre 2000 e 2009.

Metodologia estatística

Para todas as medidas epidemiológicas estimadas, dados relativos à incidência de óbitos foram plotados e por meio do diagrama de dispersão verificou-se que uma função linear ou quadrática deveria ser ajustada.

Em cada função quadrática foi determinado o coeficiente de determinação (R2) e o ponto de máximo, e os anos de 2000 a 2009 foram substituídos por 0 a 9, respectivamente.

O nível de significância adotado foi de 5% de probabilidade (α = 0,05).

A apresentação gráfica da tendência das taxas de mortalidade bruta e padronizada por AVC/100.000 habitantes foi determinada por diagrama de dispersão.

Para a análise estatística foram utilizados o softwares Statistical Package for Social Sciences V13.0 (SPSS Inc. Chicago, Illinois, USA) e StatDisk V 8.4 (Addison Wesley Longman Inc).

Resultados

A tabela 1 (a, b, c) mostra o número de óbitos por AVC, a população e a incidência de óbitos em cada 1.000 habitantes no Brasil, nos anos de 2000 a 2009, em razão dos gêneros e total.

Analisando essas tabelas, verifica-se que há um aumento da incidência de óbitos até um determinado ano, seguido de um declínio até 2009, quando atinge o mínimo, sugerindo o ajustamento aos dados uma função do segundo grau, que proporcionou as funções contidas na tabela 2.

Por meio da análise da tabela 2, pode-se afirmar estatisticamente (p < 0,05) que os dados indicam uma função quadrática onde a incidência máxima de óbitos dos gêneros masculino e feminino encontra-se próxima ao ano 2003, assim como em ambos os sexos.

Considerando o número absoluto total de óbitos, nota-se o predomínio do sexo masculino (50,61%) sobre o feminino (49,39%), mas ao se comparar os anos 2009 e 2000 observa-se que houve um crescimento maior do número de óbitos entre as mulheres (+ 19,11%) do que nos homens (+14,92%). Associando faixa etária e gênero, o número de óbitos entre as mulheres apresentou uma elevação contínua conforme o aumento da faixa etária, enquanto entre os homens, o número de mortes no grupo com mais de 80 anos foi inferior ao de 70-79 anos.

A taxa de mortalidade bruta por AVC/100.000 habitantes, comparando o ano 2009 com 2000, mostrou um declínio de 7,34%, havendo uma redução maior da referida taxa no sexo masculino (-8,46%) do que no feminino (-6,13%). No entanto, observa-se que ocorreram flutuações em todo o período, com o ano 2006 apresentando as maiores taxas, especialmente no sexo masculino. Analisando por faixa etária, nota-se que essas oscilações foram mais acentuadas no grupo acima de 70 anos ou mais de idade, sendo mais marcantes no sexo masculino, e que apenas na faixa de 30-39 anos entre os homens e nas de 30-49 e 60-69 anos entre as mulheres a redução foi contínua (dados não mostrados). O gráfico 1 mostra a curva de tendência de regressão da taxa de mortalidade bruta/100.000 habitantes por AVC de 2000 a 2009 em ambos os sexos e no total.


A taxa de mortalidade padronizada por AVC também apresentou uma redução comparando o ano 2009 com 2000, sendo no total igual a -14,99%, no sexo masculino de -14,69% e no feminino de -17% (tab. 3).

A análise dos dados da taxa de mortalidade entre 2000 e 2009 em ambos os sexos e no total mostrou uma flutuação dos valores sugerindo novamente o ajustamento aos dados uma função do segundo grau, mostrada na tabela 4.

Analisando a tabela 4, pode-se afirmar estatisticamente (p < 0,05) que os dados indicam uma função quadrática onde a incidência máxima da mortalidade padronizada entre os homens ocorreu próximo ao ano 2002, enquanto entre as mulheres e em ambos os sexos isso aconteceu em 2003.

O gráfico 2 mostra a curva de tendência de regressão da taxa de mortalidade padronizada por AVC/100.000 habitantes em ambos os sexos, de acordo com o gênero no período estudado.


Considerando faixas etárias e gênero, e comparando o ano 2009 com 2000, a taxa de mortalidade padronizada nas mulheres apresentou um maior declínio nos grupos etários de 30-39 anos (-33,92%), 70-79 anos (-13,71%) e acima dos 80 anos (-8,95%) em relação aos homens, que apresentaram respectivamente -33,10%, -10,04% e -0,85%. Nos outros grupos houve um discreto predomínio de redução da taxa de mortalidade no sexo masculino (40-49 anos = -32,38%, 50-59 anos = -29,70%; 60-69 = -21,54%) sobre o feminino (respectivamente -32,06%, -26,77% e -21,51%).

À exceção dos grupos de 30-39 anos e 40-49 anos, nas demais faixas etárias houve flutuação no valor da taxa de mortalidade padronizada sugerindo também o ajustamento aos dados uma função do segundo grau (tab. 5).

O gráfico 3 mostra a curva de tendência de regressão em ambos os sexos de acordo a com a faixa etária. Observa-se que entre 30 e 49 anos houve tendência de redução contínua e linear da taxa de mortalidade padronizada/100.000 no período avaliado, ao contrário dos demais grupos, que mostraram oscilações durante o período avaliado, mas culminando com uma efetiva diminuição dos valores a partir do ponto de máximo.

Discussão

O AVC é uma das principais causas de mortes e invalidez no mundo, sendo referido que em 2005 ocasionou cerca de 5,7 milhões de óbitos, dos quais 87% ocorreram em países de renda média e baixa19. Neste trabalho, observa-se um aumento significativo no número de mortes por AVC comparando o ano 2009 com 2000, especialmente no sexo feminino, embora os números absolutos de óbitos entre os homens tenha sido maior do que entre as mulheres. É referida por Lotufo12 uma elevada carga de mortalidade por AVC no Brasil ao final da década de 1980, maior até do que as encontradas em países desenvolvidos. O autor também relata que, considerando todas as causas de óbitos no Brasil, o AVC se constituiu na principal delas, ultrapassando a doença cardíaca coronariana. Este estudo, ao comparar 2009 e 2000 e considerando todas as causas de óbitos, mostra que o AVC foi o responsável por 10,70% das mortes em 2000, e por 10,18% em 2009. As mulheres apresentaram valores maiores em 2000 (M = 12,07%; H = 9,65%) e em 2009 (M = 11,38%; H = 9,21%) (dados não mostrados), sendo semelhantes aos referido pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas)20.

A redução da taxa de mortalidade por AVC começou em meados da década de 1960 e foi estabilizada ao final do século XX21-24. Esse declínio foi mais acentuado nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália, nos países da Europa ocidental e no Japão23-26, enquanto na América do Sul e no Leste Europeu as taxas são mais elevadas e ainda mostram um crescimento na Europa oriental23-27. O Brasil se insere no contexto da redução da taxa de mortalidade por AVC com valores semelhantes aos dos países em desenvolvimento11,12,28, apresentando as maiores taxas quando comparado aos países da América Latina12 e América do Sul29.

No presente estudo, observa-se que essa tendência de redução da taxa de mortalidade por AVC referida no século XX continuou na primeira década do século XXI. A taxa de mortalidade bruta mostrou uma discreta diminuição, que foi mais evidente no sexo masculino e semelhante à encontrada por Soares e cols.30, enquanto a taxa de mortalidade padronizada mostrou uma redução mais acentuada, especialmente entre as mulheres, corroborando os resultados de outros trabalhos6,28,30-32.

Essa queda da taxa de mortalidade por AVC é bem observada quando se compara o ano 2009 com 2000, pois durante o período aconteceram flutuações dos valores dessas taxas. Observamos que o ano 2006 foi o que apresentou os maiores valores de incidência de óbitos e das taxas de mortalidade. De fato, ao compararmos os anos 2006 com 2005, notamos que o aumento no número de mortes foi muito superior (homens = 7,12%; mulheres = 7,37%; ambos = 7,25%) à elevação do crescimento da população no mesmo período (homens = 1,36%; mulheres = 1,35%; ambos = 1,36%), o que não aconteceu nos demais anos.

Mesmo constatada na presente pesquisa essa tendência de redução da taxa de mortalidade por AVC no Brasil, os valores continuam elevados, sendo superiores aos dos países desenvolvidos, aos da América do Sul, sendo ainda considerada a quarta maior taxa entre todos os países da América Latina, o que também foi referido em outros trabalhos8,20,32.

Os motivos para explicar a redução da taxa de mortalidade por AVC estão intimamente ligados à incidência e letalidade da doença. A incidência está relacionada aos fatores de risco como a hipertensão arterial, diabetes, obesidade, fumo, índice de desenvolvimento humano (IDH), entre outros, enquanto a letalidade avalia a eficácia do tratamento instituído. O controle dos fatores de risco, a prevenção primária e secundária das doenças circulatórias e a melhoria das condições socioeconômicas da população podem levar a uma queda da mortalidade. Além disso, os procedimentos de alta tecnologia (angioplastias), maior número de equipamentos nos hospitais para o diagnóstico mais preciso (tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética) e atendimentos mais rápidos também ajudam a reduzir a mortalidade. No entanto, pelas suas dimensões, no Brasil há uma grande desigualdade regional, além de os recursos destinados à saúde pública serem escassos, não sendo possível que a população de algumas localidades seja contemplada com esses procedimentos.

Deve-se refletir também sobre os dados populacionais e de óbitos, que nem sempre podem corresponder à realidade. Não há dúvida de que os estudos populacionais apresentam resultados mais próximos à realidade do que os baseados em dados secundários. No entanto, deve-se ressaltar que os dados secundários são oficiais e provenientes do Ministério da Saúde, e mesmo contendo provavelmente subnotificações, são os utilizados para a elaboração de políticas públicas, e dessa forma devem ser considerados. É possível que essas subnotificações ou óbitos por causas mal definidas sejam mais observadas entre os idosos, especialmente pela particularidade da coexistência de várias doenças crônicas. Segundo Jorge e cols.4, houve uma redução importante na proporção de mortes por causas mal definidas entre 1996 e 2005, sendo, no entanto, registrados valores superiores a 20% nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Utilizando o banco de dados do Datasus17 ampliamos essa avaliação até 2009 e notamos que a região Norte permanece ainda com percentual elevado (15%), enquanto as demais regiões apresentam valores abaixo de 10%, embora considerados ainda expressivos. Concordamos com Jorge e cols.4 quanto ao uso inadequado de termos como "parada cardíaca", "falência de múltiplos órgãos", "caquexia" e outros, no preenchimento dos atestados de óbitos, muitas vezes em casos com diagnósticos já definidos, que comprometem uma avaliação mais específica das causas de mortes.

Assim, torna-se necessária a conscientização dos profissionais da área de saúde para o preenchimento correto de formulários, atestados ou qualquer outro documento que sejam importantes na elaboração de trabalhos científicos e na implementação de programas desenvolvidos pelo governo visando a melhoria da qualidade de vida da população.

Gráfico 3a - clique para ampliar


Gráfico 3b - clique para ampliar


Conclusão

Os resultados deste estudo mostram que houve uma tendência de queda na taxa de mortalidade por AVC quando comparados os anos de 2009 e 2000, e entre 30 e 49 anos de idade essa redução foi linear, enquanto nas demais houve oscilações no período, culminando com um decréscimo a partir de um determinado ponto.

Os achados mostraram que a redução da taxa de mortalidade por AVC no período estudado foi mais acentuada no sexo feminino.

O AVC já é um problema de saúde pública, que poderá se agravar se não houver uma continuidade na melhoria das condições socioeconômicas, educativas, qualidade do atendimento hospitalar, controle primário e secundário dos fatores de risco.

Agradecimentos

Agradecemos ao Professor Lauro Boechat a ajuda nas análises estatísticas.

Potencial Conflito de Interesses

Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.

Fontes de Financiamento

O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Vinculação Acadêmica

Este artigo é parte de tese de Doutorado de Célia Regina Garritano pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Artigo recebido em 15/08/11; revisado recebido em 16/08/11; aceito em 14/12/11.

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  • Correspondência:

    Célia Regina Garritano
    Rua Uruguai, 124/402 - Tijuca
    20510-060 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Abr 2012
    • Data do Fascículo
      Jun 2012

    Histórico

    • Recebido
      15 Ago 2011
    • Aceito
      14 Dez 2011
    • Revisado
      16 Ago 2011
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