CARTA AO EDITOR
Níveis séricos de cistatina c devem correlacionar-se com disfunção endotelial e inflamação indiretamente através da função renal
Sait DemirkolI; Mustafa CakarII; Sevket BaltaI; Murat UnluI; Omer KurtII; Muharrem AkhanII
IGulhane Medical Faculty, Department of Cardiology. Ankara - Turkey
IIGulhane Medical Faculty, Department of Internal Medicine, Ankara - Turkey
Correspondência Correspondência: Sevket Balta Gulhane Medical Faculty 66010, Ankara E-mail: drsevketb@gmail.com
Palavras-chave: Cistatina C, Endotélio/anormalidades, Nefropatias.
Caro Editor,
Lemos, com grande interesse, o artigo "Correlação Entre Cistatina C Sérica e Marcadores de Aterosclerose Subclínica em Pacientes Hipertensos" escrito por Monteiro Junior e cols1. Os autores concluíram que a cistatina C sérica (s-CC) correlacionou-se com a medida do clearance de creatinina medido, como esperado, mas não foi observada associação com marcadores de aterosclerose nem com fatores de risco cardiovasculares estabelecidos em pacientes hipertensos ambulatoriais de meia-idade. O estudo foi bem delineado e apresentado. Acreditamos que esses achados servirão como um guia para novos estudos sobre s-CC como marcador substituto de disfunção endotelial e inflamação, ou como marcador de risco cardiovascular em pacientes hipertensos. Agradecemos aos autores por sua contribuição para a literatura.
De acordo com literatura anterior e diretrizes de práticas clínicas estabelecidas, a doença renal crônica tem sido aceita como um equivalente de risco cardiovascular2,3. Se o paciente apresenta creatinina sérica elevada ou um nível aumentado de s-CC como novo marcador substituto para estimar o ritmo de filtração glomerular, isso significa que ele apresenta um alto risco de sofrer algum evento cardiovascular com o passar do tempo. É possível que exista uma relação indireta entre os níveis de s-CC e o risco cardiovascular através da função renal, e seu efeito sobre as funções endoteliais e a inflamação, de forma que não podemos mostrar diretamente uma associação estreita. Os resultados do estudo não deverão surpreender, se avaliados nesse contexto.
Artigo recebido em 05/11/12, revisado em 17/12/12, aceito em 17/12/12.
Carta-resposta
Agradecemos pela leitura do nosso artigo e, principalmente, pelo reconhecimento do valor científico da nossa pesquisa. Trata-se realmente de um tema que tem despertado grande interesse na literatura internacional nos últimos anos. O papel da cistatina C como marcador endógeno de filtração glomerular já está estabelecido, sendo considerada superior à simples medida da creatinina plasmática. No entanto, inúmeros estudos publicados nos últimos 5 anos têm verificado associação significativa entre níveis séricos de cistatina C e vários desfechos cardiovasculares, inclusive mortalidade, sendo aventada a possibilidade de que esta associação poderia dever-se não apenas ao seu papel como marcador de função renal, sabidamente um preditor de risco cardiovascular, mas também a uma ligação direta com o processo aterosclerótico, já que esta proteína funciona como um potente inibidor natural de cisteinoproteases, enzimas que se encontram aumentadas no processo aterogênico. Assim, frente à persistência de controvérsias na literatura acerca do papel extra-renal da cistatina C como marcadora de risco cardiovascular, cremos que o nosso resultado negativo em relação à sua correlação com dois marcadores substitutos de aterosclerose analisados simultaneamente tenha agregado evidência relevante para a elucidação desta questão, favorecendo a tese de que ela representa apenas um melhor marcador de função renal e esta, sim, é que estaria definitivamente implicada no risco cardiovascular, como já sabido.
Atenciosamente,
Francisco das C. Monteiro Jr
- 1. Monteiro Junior Fd, Ferreira PA, Nunes JA, da Cunha Junior CP, Brito RL, Costa JH, et al. Correlation between serum cystatin C and markers of subclinical atherosclerosis in hypertensive patients. Arq Bras Cardiol. 2012;99(4):899-906.
- 2. Goolsby MJ. National Kidney Foundation Guidelines for chronic kidney disease: evaluation, classification, and stratification. J Am Acad Nurse Pract. 2002;14(6):238-42.
- 3. Martin LC, Franco RJ. [Renal disease as a cardiovascular risk factor]. Arq Bras Cardiol. 2005;85(6):432-6.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
16 Abr 2013 -
Data do Fascículo
Mar 2013