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Anemia, insuficiência cardíaca e manejo clínico baseado em evidências

Resumos

A anemia é uma comorbidade prevalente e marcadora de pior prognóstico em pacientes com insuficiência cardíaca (IC). Sua relevância clínica, bem como a fisiopatologia e abordagem terapêutica nesses pacientes são temas de destaque na literatura especializada. Nessa revisão são descritos os conceitos atuais sobre a fisiopatologia da anemia na IC, os critérios diagnósticos e as indicações da suplementação de ferro, ao mesmo tempo em que são analisados criticamente os principais estudos que ofereceram evidências sobre os benefícios dessa suplementação. São abordados os quatro componentes principais da anemia: doença crônica, dilucional, "renal" e disabsortiva. Nos pacientes com IC, os critérios para o diagnóstico são os mesmos utilizados na população geral: níveis de ferritina sérica inferiores a 30 mcg/L em pacientes não nefropatas e menores que 100 mcg/L ou ferritina sérica entre 100-299 mcg/L com saturação de transferrina menor que 20% em pacientes com doença renal crônica. Finalmente, são discutidas as possibilidades terapêuticas da anemia nessa população específica de pacientes.

Deficiência de ferro; Inflamação; Suplementação de ferro; Doença crônica; Doença cardiovascular


Anemia is a prevalent comorbidity and marker of a poorer prognosis in patients with heart failure (HF). Its clinical relevance, as well as its pathophysiology and the clinical management of these patients are important subjects in the specialized literature. In the present review, we describe the current concepts on the pathophysiology of anemia in HF, its diagnostic criteria, and the recommendations for iron supplementation. Also, we make a critical analysis of the major studies showing evidences on the benefits of this supplementation. The four main components of anemia are addressed: chronic disease, dilutional, "renal" and malabsorption. In patients with HF, the diagnostic criteria are the same as those used in the general population: serum ferritin levels lower than 30 mcg/L in patients without kidney diseases and lower than 100 mcg/L or serum ferritin levels between 100-299 mcg/L with transferring saturation lower than 20% in patients with chronic kidney diseases. Finally, the therapeutic possibilities for anemia in this specific patient population are discussed.

Iron deficiency; Inflamation; Iron supplementation; Chronic disease; Cardiovascular disease


ARTIGO DE REVISÃO

Anemia, insuficiência cardíaca e manejo clínico baseado em evidências

Camila Alves Pereira; Meliza Goi Roscani; Silméia Garcia Zanati; Beatriz Bojikian Matsubara

Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP, São Paulo, SP - Brasil

Correspondência Correspondência: Médica, Silméia Garcia Zanati Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp - Departamento de Clínica Distrito de Rubião Jr., s/n CEP 18618-970, Botucatu, SP - Brasil E-mail: sgzanati@fmb.unesp.br, sgzanati@cardiol.com.br

RESUMO

A anemia é uma comorbidade prevalente e marcadora de pior prognóstico em pacientes com insuficiência cardíaca (IC). Sua relevância clínica, bem como a fisiopatologia e abordagem terapêutica nesses pacientes são temas de destaque na literatura especializada. Nessa revisão são descritos os conceitos atuais sobre a fisiopatologia da anemia na IC, os critérios diagnósticos e as indicações da suplementação de ferro, ao mesmo tempo em que são analisados criticamente os principais estudos que ofereceram evidências sobre os benefícios dessa suplementação. São abordados os quatro componentes principais da anemia: doença crônica, dilucional, "renal" e disabsortiva. Nos pacientes com IC, os critérios para o diagnóstico são os mesmos utilizados na população geral: níveis de ferritina sérica inferiores a 30 mcg/L em pacientes não nefropatas e menores que 100 mcg/L ou ferritina sérica entre 100-299 mcg/L com saturação de transferrina menor que 20% em pacientes com doença renal crônica. Finalmente, são discutidas as possibilidades terapêuticas da anemia nessa população específica de pacientes.

Palavras-chave: Deficiência de ferro, Inflamação, Suplementação de ferro, Doença crônica, Doença cardiovascular.

Introdução

A insuficiência cardíaca (IC) representa a principal causa de internação hospitalar no Sistema Único de Saúde (SUS), a partir dos 65 anos, e sua prevalência tende a crescer devido ao aumento da expectativa de vida da população e à maior efetividade dos medicamentos que diminuem a morbimortalidade1. Apesar da melhora do tratamento farmacológico, o prognóstico ainda é ruim, com sobrevida em cinco anos menor que 50%2,3. De acordo com o Sistema de Cadastro e Permissão de Acesso desenvolvido pelo Ministério da Saúde no Departamento de Informática do SUS (DATASUS), em 2011, ocorreram 261.361 admissões por insuficiência cardíaca no Brasil, responsáveis por 22,6% das hospitalizações por doenças cardiovasculares4.

Vários estudos mostraram que a anemia é uma comorbidade prevalente nos pacientes com IC, sendo marcador de pior evolução, com aumento da massa do ventrículo esquerdo, reinternações hospitalares e aumento da mortalidade5-10. Dados sobre a prevalência da anemia na IC são variáveis em decorrência da utilização de diferentes definições de anemia11, porém estima-se que seja em torno de 35%11,12.

A anemia é mais prevalente quando coexistem IC e doença renal crônica (DRC)13 e o grau de anemia é diretamente proporcional ao grau da DRC. Essa associação é explicada pelo papel dos rins na fisiopatologia da anemia. No entanto, pacientes com IC e DRC desenvolvem maior grau de anemia do que com DRC isolada14.

O grau de anemia também é associado à severidade da IC, isto é, a piora da tolerância ao exercício com a perda da capacidade funcional pela NYHA (New York Heart Association), com a elevação do peptídeo natriurético atrial (BNP), dilatação e/ou hipertrofia do ventrículo esquerdo, disfunção sistólica e/ou diastólica, aumento da pressão na artéria pulmonar, redução do consumo de oxigênio durante esforço ou repouso, com o grau de retenção de fluidos e redução da qualidade de vida15. A deficiência de ferro é um fator de risco independente para mortalidade ou necessidade de transplante cardíaco na IC16.

Com base nessas evidências, a Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica, publicada em 2012, sugere a suplementação de ferro venoso em pacientes com deficiência de ferro para melhora sintomática, sendo a prescrição guiada pela ferritina e/ou saturação de transferrina (ferritina < 100 mcg/L ou ferritina 100-299 mcg/L com saturação de transferrina < 20%), com indicação IIA e nível de evidência B17. Na Diretriz, os autores citaram um estudo que mostrou o efeito benéfico da carboximaltose férrica18.

Objetivos

Diante da relevância do tema, os objetivos desta revisão são descrever resumidamente a fisiopatologia da anemia na IC e os critérios para o seu diagnóstico e analisar criticamente os principais estudos que fundamentam a indicação da suplementação de ferro nessa condição clínica.

Fisiopatologia

A fisiopatologia da anemia na IC é multifatorial e, didaticamente, tem sido dividida em quatro mecanismos principais: anemia da doença crônica, anemia dilucional, anemia "renal" e anemia disabsortiva19. Esses mecanismos estão sucintamente ilustrados na Figura 1.


O elo comum entre esses mecanismos são os níveis elevados de citocinas, entre elas IL6 e TNF alfa, que se relacionam diretamente com grau da IC, agindo na disfunção endotelial, no estresse oxidativo, na indução de anemia, na apoptose dos miócitos e na perda gradativa de massa muscular esquelética e liberação do BNP decorrente do estresse miocárdico20. A progressão da disfunção cardíaca acarreta hipóxia tecidual, com ativação pró-inflamatória e liberação de óxido nítrico tecidual, que leva à vasodilatação periférica e diminuição da pressão arterial, provocando hiperativação simpática reacional com taquicardia, vasoconstrição renal, ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona15,21 e anemia dilucional. Essa ativação neuro-humoral decorrente da hipóxia ocasiona a progressão da disfunção cardíaca e também agrava a anemia decorrente da ação de citocinas inflamatórias (anemia da doença crônica), que levam à diminuição da produção renal e resistência à ação da eritropoetina na medula óssea22,23. A piora da função sistólica e/ou vasoconstrição renal também causam diminuição da produção de eritropoetina pelos rins, devido ao hipofluxo renal e à lesão hipóxica das células medulares renais produtoras de eritropoetina (anemia da doença renal)15. Dessa forma, fecha-se um círculo vicioso que tem sido denominado de síndrome da anemia cardiorrenal24,25.

Outro mecanismo de indução de anemia na IC é explicado pela ação das citocinas inflamatórias no fígado, que estimulam a produção hepática da hepcidina e reduzem tanto a absorção de ferro intestinal quanto a liberação das reservas de ferro dos macrófagos para a hematopoiese, levando à anemia ferropriva15. Assim, anemia ferropriva/deficiência de ferro nos pacientes com IC pode ser secundária à diminuição da absorção de ferro citocina-hepcidina mediada20-25, à diminuição da ingesta alimentar, visto que o estado pró-inflamatório leva a perda de apetite, má absorção secundária ao edema de alça intestinal ou perdas gastrointestinais em usuários de antiplaquetários e anticoagulantes15 ou ação medicamentosa . Por exemplo, os inibidores da secreção de prótons podem dificultar a absorção de ferro ao reduzir o ph ácido; os inibidores da ECA e os bloqueadores do receptor de angiotensina podem inibir a produção de eritropoetina ao bloquear a produção e ação da angiotensina (estimulador da eritropoiese). Além disso, no caso dos inibidores da ECA, pode ocorrer aumento dos níveis de agentes depressores da medula óssea, causando discreta queda na hemoglobina20,26,27.

Diagnóstico

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a anemia é definida como a concentração de hemoglobina <13 g/dL em homens e <12 g/dL em mulheres27.

A deficiência de ferro na população geral é definida como ferritina sérica < 30 mcg/L. Nos pacientes com doença renal crônica é definida pela ferritina sérica < 100 mcg/L (ferrodeficiência absoluta) ou ferritina sérica entre 100-299 mcg/L com saturação de transferrina < 20% (ferrodeficiência funcional)19,28,29. Esses valores foram extrapolados para os pacientes com IC, nos estudos que avaliaram a anemia nesta condição clínica16,19,30.

Tratamento

Ferro oral x venoso

A maioria dos estudos sobre suplementação de ferro foi conduzida na população de pacientes com DRC e geraram evidências de melhor resposta clínica com o ferro endovenoso quando comparado com a via oral. Foram descritos menos efeitos colaterais, melhor absorção e maior aderência ao tratamento, sem necessidade do uso de agentes estimuladores de eritropoiese para ser atingido o alvo de hemoglobina entre 11,5 e 12 g/dL31-33.

Alguns estudos relataram ausência de resposta de aumento da hemoglobina e/ou melhora de parâmetros cardíacos em um ano de tratamento34, enquanto outros estudos referiram resposta hematológica entre 3 a 6 meses19.

Há vários tipos de ferro parenteral: ferro dextran, ferro gluconato, ferro sacarato e a carboximaltose férrica35. Estes dois últimos compostos foram utilizados nos dois principais estudos sobre suplementação de ferro na IC.

O ferro dextran pode ser administrado por via endovenosa ou intramuscular. É uma molécula de elevada antigenicidade e necessita de teste pré-tratamento para avaliar o aparecimento de sintomas de reação alérgica ou anafilática, que ocorre em 0,5-1% dos casos. Podem ser observadas também reações de hipersensibilidade tardias, isto é, entre 24 a 48 horas até semanas após a aplicação, caracterizadas por febre, mal-estar, cefaleia, linfonodomegalia, artralgia e mialgia. Estas reações podem ocorrer em mais de 10% dos pacientes tratados36.

O ferro gluconato é um composto mais estável que o anterior e a sua prescrição está associada à ocorrência de reação anafilática grave e de reação tardia em 0,04% e 0,4% dos casos, respectivamente. Esta medicação foi validada para uso em pacientes hemodialíticos, no tratamento da anemia no paciente com câncer e em pacientes graves em centros de terapia intensiva. No entanto, não é comercializado no território brasileiro36.

O ferro sacarato é uma medicação com mínima imunogenicidade (ocorrência de reação alérgica < 1/100.000 infusões). No Brasil, o sacarato de hidróxido férrico é a única opção para tratamento com ferro por via parenteral. É comercializado em ampolas contendo 2 mL e 100 mg de ferro elementar para uso por via intramuscular e em ampolas contendo 5 mL e 100 mg de ferro elementar para uso por via endovenosa. Para cálculo da dose total necessária utiliza-se a fórmula de Ganzoni: [Hb (g/dL) desejada - Hb (g/dL) encontrada] x peso corporal (Kg) x 2,4 + 50036. Para administração endovenosa é preciso respeitar o limite da dose máxima por aplicação de 200 mg (duas ampolas) e da dose máxima semanal de 500 mg. Além disso, é preciso respeitar o intervalo mínimo de 24 horas entre as aplicações37.

A carboximaltose férrica apresenta a vantagem de possibilitar a administração de 1.000 mg de ferro em apenas 15 minutos, com mínimo risco de efeitos adversos. Essa posologia facilita o tratamento, evita perda de tempo e a necessidade de vários retornos durante a terapia38.

Os efeitos adversos mais frequentes destes compostos férricos são os distúrbios gastrointestinais, descritos como náusea, vômito, dor abdominal, diarreia ou constipação e gosto metálico. Estes efeitos colaterais são significativamente mais frequentes quando a reposição é via oral36,37.

Os dois principais estudos que fundamentam a reposição de ferro em pacientes com anemia ferropriva ou ferrodeficiência são o FERRIC-HF, publicado em 2008, e o FAIR-HF, publicado em 2009 e citado na atualização da Diretriz de Insuficiência Cardíaca Crônica da Sociedade Brasileira de Cardiologia, publicada em 201217.

O estudo FERRIC-HF "Effect of Intravenous Iron Sucrose on Exercise Tolerance in Anemic and Nonanemic Patients with Symptomatic Chronic Heart Failure and Iron Deficiency" incluiu 35 pacientes e com seguimento de apenas 18 semanas, o que limita a extrapolação dos dados para a prática clínica. No entanto, foi um estudo relevante devido à escassez de informações sobre o tema. Neste estudo, pacientes anêmicos (Hb < 12,5 g/dL) e não anêmicos (Hb entre 12,5 e 14,5 g/dL) e com ferritina < 100 ng/mL ou entre 100-300 ng/mL quando associado à saturação de transferrina < 20%, oriundos de dois centros europeus, foram randomizados para receber placebo ou sacarose de ferro por via endovenosa, na dose de 200 mg por semana até a correção da deficiência do ferro calculado. Os pacientes foram reavaliados clinicamente e laboratorialmente nas semanas 1, 4, 8, 12, 16 e 18. O tratamento era interrompido por 2 semanas se a ferritina sérica fosse > 500 ng/mL e/ou saturação de transferrina > 45% ou Hb > 16 g/dL. A terapia era reiniciada quando: ferritina < 500 ng/mL, saturação de transferrina < 45% e Hb < 16 g/dL. Entre todos os pacientes estudados, o escore de fadiga foi significativamente menor no grupo tratado em relação ao placebo. Este foi o resultado clínico mais significativo deste estudo. Também houve melhora estatisticamente significante do pico de consumo de oxigênio (VO2)/kg e da capacidade funcional, porém, de pequena relevância clínica37.

O estudo FAIR-HF (Ferric Carboxymaltose in Patients with Heart Failure and Iron Deficiency) foi um ensaio clínico randomizado, duplo cego, que incluiu 459 pacientes com IC classe funcional (NYHA) II-III, com fração de ejeção do ventrículo esquerdo < 40% para CF II ou < 45% para CF III, com deficiência de ferro (ferritina sérica < 100mcg/L ou entre 100-299 mvg/L se saturação de transferrina < 20%) e nível de hemoglobina entre 9,5 e 13,5 g/dL. Os pacientes foram randomizados para receber 200 mg de carboximaltose férrica ou salina. A dose total de ferro foi calculada pela fórmula de Ganzoni, sendo administrada a dose semanal de 200 mg. Após, foi administrado dose mensal de manutenção de 200 mg de ferro. Os pacientes foram reavaliados clinicamente e laboratorialmente nas semanas 4, 12, 24 e 26. Se a ferritina excedia 800 mcg/l ou estivesse entre 500-800 mcg com saturação de transferrina > 50% ou se Hb > 16 g/L, a suplementação de ferro era descontinuada. Quando a ferritina reduzia a 400 mcg/L, saturação de transferrina < 45% e Hb < 16g/dL, o tratamento era reiniciado18.

O desfecho primário foi composto por avaliação da qualidade de vida e capacidade funcional na semana 24 e o desfecho secundário nas semanas 4 e 12. Com relação ao desfecho primário, entre os pacientes que receberam o composto férrico, 50% referiram melhora na capacidade funcional, quando comparado com 28% dos que receberam salina (OR = 2,51; IC 95%: 1,75-3,6). Na semana 24, entre os pacientes do grupo carboximaltose férrica, 47% referiram CF I-II, quando comparado com 30% dos pacientes do grupo placebo (OR = 2,4; IC 95%: 1,55-3,71), sem diferença estatística entre os pacientes anêmicos e com deficiência de ferro. Com relação ao desfecho secundário, houve melhora significativa na qualidade de vida e na capacidade funcional nas semanas 4 e 12, com estabilização na distância percorrida no teste de caminhada de 6 min na semana 12. As taxas de óbitos e eventos adversos foram semelhantes entre os grupos. Neste estudo, chama a atenção o fato de a melhora da capacidade funcional ter se restringido ao subgrupo com doença isquêmica do coração. Talvez este dado seja devido ao número pequeno de pacientes não isquêmicos incluídos (20%), porém este é um ponto ainda a ser esclarecido na literatura.

Agentes estimuladores da eritropoiese (eritropoetina, darbepoetina)

Estudos recentes na doença renal crônica têm mostrado que estes agentes estão associados a aumento de eventos cardiovasculares, incluindo hipertensão, acidente vascular encefálico e doenças tromboembólicas38,39, bem como a piora do prognóstico em pacientes oncológicos com aumento importante de fenômenos tromboembólicos40,41.

Agentes estimuladores da eritropoiese podem também elevar a pressão arterial e causar injúria vascular por vários mecanismos, incluindo o aumento da concentração de cálcio citosólico, ativação do sistema renina-angiotensina, aumento na produção de endotelina, ativação do sistema de coagulação e menor produção de óxido nítrico42.

Uma das possíveis causas do aumento da mortalidade cardiovascular é a depleção de ferro secundária ao aumento da eritropoiese, que levaria à trombocitose reacional, culminando no desenvolvimento de eventos cardiovasculares e eventos embólicos43.

O maior estudo sobre o uso de darbopoetina em pacientes anêmicos com insuficiência cardíaca (STAMINA study - Study of Anemia in a Heart Failure Population) foi um ensaio clínico prospectivo, randomizado e duplo cego que incluiu 319 pacientes com hemoglobina < 12,5 g/dL e IC CF II-IV, com fração de ejeção < 40%. Os indivíduos foram randomizados para receber placebo ou darbopoetina alfa, com o objetivo de manter a hemoglobina de 14 g/dL. Os resultados não evidenciaram melhora da capacidade funcional entre os grupos44.

Ao serem administrados conjuntamente com ferro oral ou venoso, os agentes estimuladores da eritropoiese foram associados à melhora da gravidade da insuficiência cardíaca, caracterizada pela diminuição da hospitalização, melhora da classe funcional e teste caminhada de 6 minutos com diminuição do consumo de oxigênio durante o exercício, redução do nível BNP, aumento da fração de ejeção e melhora da qualidade de vida45,46. Houve evidência também de melhora da função renal, redução da dose de diurético, redução da frequência cardíaca, dos sinais de depressão, melhora da apneia do sono, redução do volume plasmático, melhora da função ventricular e do estresse oxidativo12,16,47-51.

Prescrição do tratamento

Reposição de ferro endovenoso52

Nas condições previstas, quando a reposição de ferro endovenoso pode melhorar a sintomatologia, a prescrição do medicamento é efetuada na dose de uma ampola de ferro por semana durante dez semanas, ou duas ampolas a cada duas semanas durante cinco semanas. Nesses pacientes, são efetuadas avaliações mensais dos índices de Hb/Ht e trimestrais da reserva de ferro. Barretto e cols. descreveram uma fórmula prática para calcular a dose total de ferro (em mL);

N(mL)= [(Peso em Kg x Dhb x 2,4) + 500 mg]/20, onde N = quantidade de ferro em mL a ser administrado endovenoso Dhb = diferença entre a hemoglobina desejada e a encontrada 500 mg = reserva necessária de ferro

Reposição de eritropoetina53

A reposição de eritropoetina recombinante humana deve ser iniciada por via subcutânea 4.000U a 5.000U semanais (até 10.000U semanais) até que seja obtido o nível de hemoglobina superior a 12,5 g/dL. Nesses pacientes, deve ser realizada dosagem de hemoglobina mensalmente e reserva de ferro a cada três meses.

Conclusão

As evidências científicas justificam a reposição de ferro endovenoso em pacientes sintomáticos com IC devido à disfunção sistólica e anemia ou deficiência de ferro, na vigência de tratamento clínico otimizado. Porém, os efeitos da suplementação do ferro a longo prazo não foram estudados nesse grupo de pacientes. Sabe-se que o ferro é um pró-oxidante e pode inibir a sinalização do óxido nítrico e levar à injúria celular irreversível. A sobrecarga de ferro está associada a disfunção endotelial e risco aumentado de eventos coronarianos54. O tempo de seguimento destes pacientes nos estudos foi pequeno e a dose e a forma de manutenção da reposição de ferro foram variáveis. Não há definição clara na literatura de como proceder após a correção da anemia ou da deficiência de ferro. Assim, a indicação da suplementação de ferro deve ser individualizada e criteriosa. Parece razoável sugerir a individualização da abordagem terapêutica, com monitorização do perfil laboratorial em todos os casos, enquanto são adotadas as recomendações das Diretrizes Brasileiras de IC crônica17:

Ferro venoso em pacientes com deficiência de ferro (ferritina < 100 ou ferritina entre 100 e 299 com saturação de transferrina < 20%) para melhora de sintomas, como classe IIa de recomendação e nível de evidência B;

Transfusões de sangue em pacientes anêmicos (Hb < 7 g/dL) e cardiomiopatia dilatada de etiologia isquêmica ou não isquêmica, como classe IIa de recomendação e nível de evidência C;

Eritropoetina/ferro venoso para correção de anemia (Hb < 12 g/dL) em pacientes com insuficiência renal crônica dialítica e/ou pré-dialítica e IC, como classe IIb de recomendação e nível de evidência B.

Perspectivas

Estudos multicêntricos randomizados e controlados precisam ser realizados para avaliar o impacto da suplementação do ferro associado aos agentes estimuladores de eritropoiese nos desfechos de morbimortalidade na IC. Além disso, é preciso esclarecer se existe diferença de resposta nos desfechos de pacientes com IC de etiologia isquêmica, quando comparados com os de etiologia não isquêmica. Finalmente, é necessário avaliar se o efeito da sacarose de ferro é comparável com o da carboximaltose de ferro.

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa: Pereira CA, Zanati SG; Obtenção de dados: Pereira CA; Análise e interpretação dos dados e Redação do manuscrito: Pereira CA, Roscani MG, Zanati SG, Matsubara BB.

Potencial Conflito de Interesses

Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.

Fontes de Financiamento

O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Vinculação Acadêmica

Não há vinculação deste estudo a programas de pós-graduação.

Artigo recebido em 02/08/12, revisado em 04/12/12, aceito em 05/12/12.

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  • Correspondência:

    Médica, Silméia Garcia Zanati
    Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp - Departamento de Clínica
    Distrito de Rubião Jr., s/n
    CEP 18618-970, Botucatu, SP - Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      31 Jul 2013
    • Data do Fascículo
      Jul 2013

    Histórico

    • Recebido
      02 Ago 2012
    • Aceito
      05 Dez 2012
    • Revisado
      04 Dez 2012
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