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Implementação de registros multicêntricos na avaliação da terapêutica cardiovascular no Brasil

EDITORIAL

Implementação de registros multicêntricos na avaliação da terapêutica cardiovascular no Brasil

Luiz Felipe P. Moreira

Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP - Brasil

Correspondência Correspondência: Luiz Felipe P. Moreira Avenida Dr. Enéas Carvalho Aguiar, 44, 2º andar, bloco 2, sala 13 - Cerqueira César CEP 05403-000, São Paulo, SP - Brasil E-mail: lfelipe@cardiol.br

Palavras-chave: Doenças Cardiovasculares / terapia; Estudo Multicêntrico; Brasil

A pesquisa clínica encontra, nos ensaios clínicos controlados, seu principal instrumento para a definição da eficácia terapêutica dos tratamentos medicamentosos ou intervencionistas. Por outro lado, a avaliação das características demográficas, clínicas e prognósticas dos pacientes em tratamento, no mundo real, depende de estudos observacionais de caráter multicêntrico e de grande abrangência, cujos resultados variam de acordo com os países ou regiões envolvidos. No campo da cardiologia, temos, em nosso país, poucos registros representativos da realidade nacional. Nesse sentido, experiências recentes têm sido conduzidas por iniciativa da Sociedade Brasileira de Cardiologia ou de grupos e instituições isoladas na condução de registros a respeito de algumas afecções ou terapêuticas específicas.

Esses estudos incluem a avaliação dos aspectos epidemiológicos, resultados e fatores prognósticos envolvidos no atendimento de pacientes portadores de síndromes coronárias agudas1-3, de insuficiência cardíaca descompensada4 ou de afecções de alto risco de eventos cardiovasculares5. Paralelamente, a avaliação das características e dos resultados de procedimentos intervencionistas, como o uso de stents no tratamento da insuficiência coronária6 e de cirurgias cardíacas no tratamento das valvopatias ou da insuficiência coronária7, também têm sido objeto de registros específicos.

As publicações iniciais dos registros clínicos relacionados às síndromes coronárias agudas apontam a inclusão de mais de seis mil pacientes atendidos em centros espalhados pelas diversas regiões brasileiras, constituindo-se em amplos documentos da demografia das afecções envolvidas2,3,8. Os resultados iniciais desses registros demonstram a diversidade dos tratamentos instituídos em nível nacional, destacando-se a desigualdade regional no uso das terapêuticas de reperfusão2. O emprego dessas terapêuticas está relacionado, por outro lado, a menor mortalidade e a menores índices de complicações no seguimento imediato dos pacientes3,8. Além disso, dados obtidos em relação aos anos mais recentes mostram índices de mortalidade menores e compatíveis com a experiência internacional no tratamento da angina instável e do infarto agudo do miocárdio com ou sem elevação do segmento ST8.

Os registros com foco na evolução de pacientes portadores de insuficiência cardíaca e de afecções de alto risco de eventos cardiovasculares ainda estão em fase inicial de inclusão de pacientes4,5. No entanto, problemas importantes relacionados ao emprego de terapias de benefício comprovado já podem ser identificados a partir dos dados preliminares do estudo REACT9.

Quanto aos procedimentos intervencionistas, as publicações do registro CENIC, que inclui pacientes submetidos à intervenção coronária percutânea em diversas regiões brasileiras, apontam para progressiva melhora dos resultados observados6,10, incluindo a diminuição das complicações vasculares a partir do emprego da técnica de acesso pela artéria radial10. Finalmente, a constituição do registro SP-SCORE-SUS para avaliação dos resultados das cirurgias cardíacas no Estado de São Paulo, com base nas publicações prévias de um centro de referência nacional11,12, preenche uma importante lacuna a respeito do emprego e dos resultados da terapêutica cirúrgica cardiovascular, com a perspectiva de se ampliar em nível nacional13.

O cenário apresentado mostra a crescente preocupação dos pesquisadores e de nossas sociedades científicas com a melhor caracterização do perfil terapêutico das afecções cardiovasculares em nosso país. A análise dos resultados dos diversos registros multicêntricos abre novas perspectivas para um melhor planejamento dos recursos financeiros, pessoais e tecnológicos empregados na saúde cardiovascular, além de propiciar um amplo material para o aprofundamento do conhecimento científico relacionado às ocorrências em estudo.

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  • Correspondência:

    Luiz Felipe P. Moreira
    Avenida Dr. Enéas Carvalho Aguiar, 44, 2º andar, bloco 2, sala 13 - Cerqueira César
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Fev 2014
    • Data do Fascículo
      Dez 2013
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