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Prevalência de isquemia miocárdica na cintilografia em mulheres nos períodos pré/pós-menopausa

Resumos

FUNDAMENTO: No período pós-menopausa, a presença dos fatores de risco para doença arterial coronária (DAC) aumentam. Entretanto, não é bem estabelecida a diferença de prevalência de isquemia miocárdica em mulheres pré/pós-menopausa com múltiplos fatores de risco para DAC. OBJETIVO: Comparar a prevalência de isquemia na cintilografia de perfusão miocárdica com sestamibi-99mTc (CPM) em mulheres nos períodos pré/pós-menopausa e avaliar se a menopausa pode ser considerada fator preditor de risco independente para isquemia em mulheres com múltiplos fatores de risco para DAC. MÉTODOS: Analisamos, retrospectivamente, 500 CPM de mulheres pré/pós-menopausa, com múltiplos fatores de risco cardiovascular. A análise estatística foi realizada por teste exato de Fisher e pelas análises univariada e multivariada, sendo considerado significativo o valor de p < 0,05. RESULTADOS: Do total, 55,9% das mulheres estavam no período pós-menopausa, 83,3% eram hipertensas, 28,9% diabéticas, 61,2% dislipidêmicas, 32,1% tabagistas, 25% obesas e 34,3% já apresentavam DAC conhecida. No grupo pós-menopausa, as mulheres eram mais hipertensas, diabéticas e dislipidêmicas, e tiveram menor capacidade funcional no teste ergométrico (p = < 0,005). Não houve diferença estatística significativa na presença de isquemia na CPM entre os grupos pré/pósmenopausa (p = 0,395). A única variável associada à isquemia na CPM foi a presença de DAC prévia (p = 0,004). CONCLUSÃO: Os resultados obtidos sugerem que, em mulheres com múltiplos fatores de risco para DAC, a menopausa não foi fator preditor independente de isquemia na CPM. Essas informações reforçam a ideia de que a investigação de isquemia pela CPM em mulheres com múltiplos fatores de risco para DAC talvez deva iniciar antes da menopausa.

Isquemia Miocárdica; Mulheres; Pré-Menopausa; Pós-Menopausa; Fatores de Risco


BACKGROUND: In postmenopausal women, the presence of risk factors for coronary artery disease (CAD) increases. However, the difference in prevalence of ischemia between pre- and postmenopausal women with multiple risk factors for CAD has not been well established. OBJECTIVES: To compare the prevalence of ischemia on Tc99m-sestamibi myocardial perfusion scintigraphy (MPS) in pre- and postmenopausal women, and to evaluate whether menopause can be considered an independent risk predictor of ischemia in women with multiple risk factors for CAD. METHODS: This study retrospectively assessed 500 MPS of pre- and postmenopausal women with multiple risk factors for CAD. Statistical analysis was performed by using Fisher exact test and univariate and multivariate analysis, a p value < 0.05 being considered significant. RESULTS: Postmenopausal women represented 55.9% of the sample; 83.3% were hypertensive; 28.9%, diabetic; 32.1%, smokers; 25%, obese; 61.2% had high cholesterol levels; and 34.3% had known CAD. Postmenopausal women were more often hypertensive, diabetic and dyslipidemic, and had lower functional capacity on exercise testing (p = < 0.005). The presence of ischemia on MPS did not significantly differ between the pre- and postmenopausal groups (p = 0.395). The only variable associated with ischemia on MPS was known CAD (p = 0.004). CONCLUSION: The results suggest that, in women with multiple risk factors for CAD, menopause was not an independent predictor of ischemia on MPS. Those data support the idea that the investigation of ischemia via MPS in women with multiple risk factors for CAD should begin prior to menopause.

Myocardial Ischemia; Women; Premenopause; Posmenopause; Risk factors


Prevalência de isquemia miocárdica na cintilografia em mulheres nos períodos pré/pós-menopausa

Daniel Augusto Message dos Santos; Wendy Yasdin Sierraalta Navarro; Leonardo Machado Alexandre; Priscila Feitosa Cestari; Paola Emanuela Poggio Smanio

Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP - Brasil

CorrespondênciaCorrespondência: Daniel Augusto Message dos Santos Rua do Grito, 479, apt.º 62 Life, Ipiranga CEP 04217-000, São Paulo, SP - Brasil E-mail: danielmessage@cardiol.br, daniel_message26@yahoo.com.br

RESUMO

FUNDAMENTO: No período pós-menopausa, a presença dos fatores de risco para doença arterial coronária (DAC) aumentam. Entretanto, não é bem estabelecida a diferença de prevalência de isquemia miocárdica em mulheres pré/pós-menopausa com múltiplos fatores de risco para DAC.

OBJETIVO: Comparar a prevalência de isquemia na cintilografia de perfusão miocárdica com sestamibi-99mTc (CPM) em mulheres nos períodos pré/pós-menopausa e avaliar se a menopausa pode ser considerada fator preditor de risco independente para isquemia em mulheres com múltiplos fatores de risco para DAC.

MÉTODOS: Analisamos, retrospectivamente, 500 CPM de mulheres pré/pós-menopausa, com múltiplos fatores de risco cardiovascular. A análise estatística foi realizada por teste exato de Fisher e pelas análises univariada e multivariada, sendo considerado significativo o valor de p < 0,05.

RESULTADOS: Do total, 55,9% das mulheres estavam no período pós-menopausa, 83,3% eram hipertensas, 28,9% diabéticas, 61,2% dislipidêmicas, 32,1% tabagistas, 25% obesas e 34,3% já apresentavam DAC conhecida. No grupo pós-menopausa, as mulheres eram mais hipertensas, diabéticas e dislipidêmicas, e tiveram menor capacidade funcional no teste ergométrico (p = < 0,005). Não houve diferença estatística significativa na presença de isquemia na CPM entre os grupos pré/pósmenopausa (p = 0,395). A única variável associada à isquemia na CPM foi a presença de DAC prévia (p = 0,004).

CONCLUSÃO: Os resultados obtidos sugerem que, em mulheres com múltiplos fatores de risco para DAC, a menopausa não foi fator preditor independente de isquemia na CPM. Essas informações reforçam a ideia de que a investigação de isquemia pela CPM em mulheres com múltiplos fatores de risco para DAC talvez deva iniciar antes da menopausa.

Palavras-chave: Isquemia Miocárdica/cintilografia; Mulheres; Pré-Menopausa; Pós-Menopausa; Fatores de Risco.

Introdução

Apenas mais recentemente, os principais estudos sobre doença arterial coronária (DAC) começaram a incluir as mulheres1-3.

As mulheres são mais obesas e fumam mais que os homens; 25% das mulheres são sedentárias, 52% acima de 45 anos são portadoras de hipertensão arterial e 40% daquelas acima de 55 anos têm hipercolesterolemia1,2. As mulheres diabéticas têm altíssimo risco cardiovascular, comparável ao daquelas que já apresentaram infarto do miocárdio, com mais desfechos adversos4,5.

As manifestações clínicas de DAC aparecem cerca de 10-15 anos mais tardiamente nas mulheres, fato relacionado à possível proteção estrogênica. Com a melhora na expectativa de vida, elas passaram a viver um terço da vida no período pós-menopausa, gerando maior interesse na avaliação dessa população específica1,2,6,7.

Alguns dos testes diagnósticos tradicionais para investigação de DAC não funcionam tão adequadamente no sexo feminino, e evidências sugerem maior valor prognóstico do que diagnóstico em mulheres8,9.

O teste ergométrico oferece informações importantes, porém a sensibilidade e a especificidade média são menores em relação ao sexo masculino, em torno de 61% e 69%, respectivamente10. Além disso, alterações inespecíficas eletrocardiográficas basais do segmento ST, decorrentes de ação hormonal estrogênica, podem gerar testes com resultados "falsamente" sugestivos de isquemia10.

A CPM se torna ferramenta de grande importância na investigação diagnóstica no sexo feminino, em particular nas mulheres com eletrocardiograma basal com alterações inespecíficas e também com baixa capacidade funcional ou dificuldade para atingir a frequência cardíaca adequada, o que é muito comum no grupo de diabéticas e portadoras de doença vascular periférica11,12. Também a diminuição de artefatos por atenuação mamária e a aquisição de imagens sincronizadas com o eletrocardiograma (gated-SPECT) ajudam a aumentar a acurácia do teste, auxiliando na diferenciação de reais defeitos e artefatos13.

Em relação à proteção estrogênica quanto ao risco cardiovascular, estudos7,14 prévios documentaram que ela está associada à diminuição do risco; entretanto, pouco há na literatura sobre o papel dos métodos diagnósticos não invasivos, em especial a cintilografia de perfusão miocárdica com sestamibi-99mTc em mulheres no período pré/pós-menopausa, principalmente naquelas com múltiplos fatores de risco para DAC.

Objetivos

Os objetivos do presente estudo são comparar a presença de isquemia na cintilografia de perfusão miocárdica com sestamibi-99mTc em mulheres de alto risco para DAC, nos períodos pré/pós-menopausa, e também analisar se a menopausa é fator preditor independente de isquemia nesse grupo de pacientes.

Métodos

Estudo observacional, retrospectivo, realizado no setor de medicina nuclear do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, com revisão de prontuários, analisou 500 cintilografias de perfusão miocárdica em mulheres consecutivas que realizaram o exame em 2011 e 2012. O número de aprovação pelo comitê de pesquisa e ética foi 02020312.7.0000.5462. Todas as pacientes assinaram termo de consentimento informado antes de realizar a cintilografia de perfusão miocárdica.

As provas de estresse físico e farmacológico (com dipiridamol e dobutamina) e a aquisição e o processamento das imagens de medicina nuclear foram realizados pelas técnicas-padrão, conforme as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia/Departamento de Ergometria, Exercício, Cardiologia Nuclear e Reabilitação Cardiovascular15,16.

A cintilografia miocárdica foi realizada pela técnica de gated-SPECT, protocolo de um dia, sendo a fase basal seguida pela fase de estresse. As imagens foram adquiridas em gamacâmara cardiodedicada GE Ventri. Para a avaliação da perfusão miocárdica, o miocárdio foi dividido em 17 segmentos. Considerou-se perfusão normal na ausência de hipocaptação do radiofármaco em ambas as fases (basal e estresse), sugestiva de isquemia e fibrose, na presença de hipocaptação reversível e fixa do radiofármaco após a fase de estresse em relação à fase basal, ao menos em três dos 17 segmentos do miocárdio analisados15.

A análise visual qualitativa da presença ou não de alterações perfusionais foi realizada por dois observadores especialistas em cardiologia e em medicina nuclear, e, em caso de discordância entre os achados, era solicitado um terceiro observador, também com as duas especialidades.

Para este estudo levamos em consideração a presença de isquemia miocárdica na cintilografia. Entretanto, apenas a título de informação, do total, 69 pacientes apresentavam alteração perfusional sugestiva de fibrose miocárdica, das quais 41 encontravam-se no período pós-menopausa e 28 no período pré-menopausa (p = 0,069).

A divisão entre pacientes pré/pós-menopausa foi feita de acordo com a informação em prontuário médico.

Os fatores de risco cardiovasculares clássicos analisados foram hipertensão arterial, diabetes melito, dislipidemia, tabagismo e obesidade, sendo definidos conforme diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia17.

Foram considerados pacientes com DAC conhecida aquelas com diagnóstico prévio de infarto miocárdico, angina instável/estável e revascularização miocárdica percutânea ou cirúrgica. Além disso, consideramos como equivalentes de alto risco cardiovascular pacientes com acidente vascular cerebral, doença carotídea e de artérias periféricas, aneurisma de aorta abdominal e insuficiência renal crônica17.

Foram excluídas as pacientes com cardiopatias não isquêmicas e as que não tinham a informação sobre menopausa relatada no prontuário.

A análise estatística foi realizada pelo teste exato de Fisher e pelas análises univariada e multivariada, sendo considerados significativos valores de p < 0,05.

Resultados

Na Tabela 1, encontram-se as características clinicoepidemiológicas do grupo avaliado.

As cintilografias miocárdicas foram realizadas por indicação clínica dos médicos dos setores ambulatoriais de onde as pacientes eram acompanhadas na instituição.

As indicações foram divididas em pacientes sintomáticas e assintomáticas, conforme as Tabelas 2 e 3. A Tabela 4 divide o comportamento da CPM nas pacientes assintomáticas.

Em relação aos exames estressores, as frequências de teste ergométrico e estímulo com dipiridamol e dobutamina, assim como características clínicas, inclusive aptidão física ou capacidade funcional, são mostradas nas Tabelas 5 a 7.

 

O grau de aptidão física, mais conhecido como capacidade funcional, medido em equivalentes metabólicos (MET) pelo teste ergométrico se mostrou significativamente menor em mulheres na pós-menopausa. Do total, 91 das pacientes tinham 10 MET ou menos, 56 na pós-menopausa e 35 na pré-menopausa, com p < 0,005, tinham capacidade funcional reduzida (< 10 MET no teste ergométrico). A única variável que se mostrou preditora de isquemia na cintilografia miocárdica foi a presença de DAC prévia (p < 0,05).

Quando comparada a presença de isquemia na CPM nas 500 pacientes, 102 (58,5%) eram pós-menopausa e 72 (41,5%) eram pré-menopausa, sem significância estatística, com p = 0,395.

A Figura 1 ilustra o exemplo de uma paciente do estudo, de 46 anos, diabética, hipertensa, obesa, dislipidêmica, sedentária, com DAC conhecida (stent na artéria descendente anterior há três anos), que realizou cintilografia sob estímulo farmacológico com dipiridamol, sendo a prova funcional sugestiva de isquemia por infradesnivelamento do segmento ST durante a infusão de dipiridamol e na cintilografia por hipocaptação transitória do radiofármaco nas paredes anterior, anterosseptal e apical.


Discussão

O diagnóstico de doença arterial coronária apresenta um grande desafio no sexo feminino. Como os sintomas de DAC são menos típicos em mulheres, é inquestionável o valor das provas não invasivas para a investigação efetiva antes de submetê-las a exames invasivos, algumas vezes desnecessários. No estudo Coronary Artery Surgery (CASS), metade das mulheres submetidas à cinecoronariografia não apresentava lesões significativas17.

Por ser hospital terciário cardiológico, em geral, as mulheres acompanhadas em nossa instituição apresentam múltiplos fatores de risco para DAC e, em sua grande maioria, já apresentaram infarto do miocárdio prévio e/ou procedimentos de revascularização miocárdica (como visto neste estudo, 34% com DAC prévia conhecida). Por esse motivo, decidimos realizar estudo que refletisse a realidade do grupo feminino encaminhado para a cintilografia miocárdica, não sendo excluídas aquelas portadoras de DAC prévia.

Tivemos como objetivo verificar se a menopausa era preditora independente de isquemia nas mulheres de nossa instituição, com e sem DAC conhecida.

Vale ainda salientar que muitas mulheres de nosso estudo apresentavam alterações eletrocardiográficas prévias em ECG basal e baixa capacidade funcional, o que motivou o encaminhamento para a cintilografia miocárdica, para investigação diagnóstica e estratificação de risco cardiovascular.

Como afirmado, a escolha e a interpretação dos procedimentos não invasivos também não são tarefas fáceis. Sabe-se que o teste ergométrico tem menor sensibilidade e especificidade, em comparação ao sexo masculino18. A sensibilidade e a especificidade do teste farmacológico ou de exercício podem ser reforçadas por métodos de imagem que melhoram a acurácia diagnóstica10,11,18. Com a evolução da técnica observou-se diminuição dos artefatos de atenuação (mamária, por exemplo), levando a maior especificidade13.

No presente estudo, a cintilografia miocárdica mostrou-se ferramenta importante na investigação de isquemia. Como pode ser observado, 35% das mulheres apresentavam isquemia. Esses dados também são observados na literatura. Smanio e cols.11 encontraram, em 104 mulheres diabéticas assintomáticas, 34 (32,7%) com isquemia miocárdica na cintilografia.

A cintilografia miocárdica tem seu papel estabelecido no diagnóstico de DAC e na estratificação de risco cardiovascular em ambos os gêneros. Com essa técnica pode-se obter informações da perfusão miocárdica, da função ventricular esquerda e, ainda, se necessário, informações sobre a presença de viabilidade miocárdica. Sua adição ao teste ergométrico, em particular no sexo feminino, promove importante incremento na acurácia diagnóstica7,19.

Mieres e cols.20 avaliaram 46 mulheres no período pós-menopausa com teste ergométrico e cintilografia miocárdica, sendo os valores encontrados de sensibilidade e especificidade, respectivamente, de 67% e 69% para o teste ergométrico e, na cintilografia, de 88% e 87,5% (p < 0,0001).

Já é conhecida também a importância prognóstica da cintilografia no sexo feminino9,21. Há um grande corpo de evidências relativas à CM com estresse, mostrando que efetivamente estratifica o risco nas mulheres com suspeita de DAC. Em mulheres com estudo de perfusão miocárdica normal, a taxa de evento anual é muito baixa (0,6% ao ano), em contraste com uma taxa de eventos muito maior (5% ao ano) em mulheres com perfusão do miocárdio anormal22.

Atribui-se o menor risco cardiovascular na fase pré-menopausa à proteção dada pelos níveis de estrogênio plasmático23,24. Este promove vasodilatação arterial através do aumento da síntese de óxido nítrico pelas células endoteliais, aumenta as partículas de HDL-colesterol e diminui as de LDL-colesterol, além de diminuir os níveis séricos de fibrinogênio, antitrombina e proteína S24.

A hipoestrogenemia apresentada na fase pós-menopausa leva à disfunção endotelial microvascular e à consequente progressão da placa aterosclerótica23,24. Diferentemente dos efeitos endógenos, a terapia com hormônios exógenos mostrou aumento dos riscos de doença cardiovascular23-26.

O estudo WHI (Women's Health Initiative) mostrou, em 2002, que o benefício da terapia de reposição hormonal (TRH) se limitava a um pequeno grupo de mulheres na chamada "janela de oportunidade", no início da menopausa (entre 50-59 anos), quando associada à ausência de fatores de risco cardiovascular. Estudos mais novos confirmaram essas informações27. Entretanto, publicação recente da American Heart Association (AHA) contraindica o uso de TRH como prevenção primária e secundária de doenças cardiovasculares28.

Leuzzi e cols.29 relatam, em interessante editorial, que, apesar da maior prevalência de DAC após a menopausa, mais estudos são necessários para podermos dizer se a menopausa é um fator de risco cardiovascular.

Essa associação entre a entrada na menopausa e a presença de DAC talvez possa ser observada em mulheres de baixo risco, mas naquelas com múltiplos fatores de risco, como diabetes, hipertensão, dislipidemia, obesidade, sedentarismo, como observado em nosso estudo, a menopausa talvez não seja fator preditor de isquemia. Os mesmos achados foram observados por Sood e cols.14 avaliando 2.194 mulheres antes e após a menopausa, com risco intermediário para DAC pelo escore de Duke no teste ergométrico e pela CM. Nesse estudo, a menopausa não se mostrou preditora de eventos cardiovasculares, e a cintilografia mostrou-se bem superior ao escore de Duke na avaliação prognóstica. Estudo com maior número de pacientes deve ser realizado para que tal afirmação possa verdadeiramente ser comprovada.

Conclusão

Os resultados obtidos sugerem que, em mulheres com múltiplos fatores de risco para DAC, a menopausa não foi fator preditor independente de isquemia na cintilografia de perfusão miocárdica com sestamibi-99mTc. O único fator que se mostrou preditor nesse grupo foi a presença de DAC conhecida. Essas informações reforçam a ideia de que a investigação de isquemia pela cintilografia em mulheres com múltiplos fatores de risco para DAC talvez deva iniciar antes da menopausa.

Contribuição dos autores

Concepção e desenho da pesquisa, Obtenção de dados, Análise e interpretação dos dados, Análise estatística, Redação do manuscrito, Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual: Santos DAM, Sierraalta WY, Alexandre LM, Smanio PEP, Cestari PF.

Potencial Conflito de Interesses

Declaro não haver conflito de interesses pertinentes.

Fonte de Financiamento

O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Vinculação Acadêmica

Este artigo é parte de tese de conclusão de especialização em cardiologia de Daniel Augusto Massage dos Santos e Wendy Yasdin Sierraalta pelo Instituto Dante Pazzanese.

Artigo recebido em 26/02/13; revisado em 27/06/13; aceito em 28/06/13.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Nov 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      26 Fev 2013
    • Aceito
      28 Jun 2013
    • Revisado
      27 Jun 2013
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