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Avaliação da Disfunção Diastólica: Drogas Podem Alterar os Resultados

Volume sistólico / efeitos de drogas; Disfunção ventricular; Função atrial esquerda; Brasil

Ao editor,

Lemos com muito interesse o artigo de El Aouar e cols.11. El Aouar LM, Meyerfreud D, Magalhães P, Rodrigues SL, Baldo MP, Brasil Y, et al. Relationship between left atrial volume and diastolic dysfunction in 500 Brazilian patients. Arq Bras Cardiol. 2013;101(1):52-8., intitulado "Relação entre volume do átrio esquerdo e disfunção diastólica em 500 pacientes brasileiros", que foi publicado na edição anterior dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia. Os autores11. El Aouar LM, Meyerfreud D, Magalhães P, Rodrigues SL, Baldo MP, Brasil Y, et al. Relationship between left atrial volume and diastolic dysfunction in 500 Brazilian patients. Arq Bras Cardiol. 2013;101(1):52-8. tiveram como objetivo avaliar a relação entre o índice de volume do átrio esquerdo e diferentes graus de disfunção diastólica em pacientes brasileiros submetidos ao ecocardiograma. Embora elogiemos os autores pelas informações detalhadas e valiosas que eles fornecem, alguns comentários podem ser benéficos.

A disfunção diastólica está associada a resultados adversos e sua prevalência entre adultos hipertensos, hiperlipidêmicos e diabéticos é muito alta22. Mesquita ET, Jorge AJ. Understanding asymptomatic diastolic dysfunction in clinical practice. Arq Bras Cardiol. 2013;100(1):94-101.. Tem sido demonstrado que a redução da pressão arterial e da frequência cardíaca, a gestão do perfil lipídico comprometido e da glicemia poderia melhorar a disfunção diastólica22. Mesquita ET, Jorge AJ. Understanding asymptomatic diastolic dysfunction in clinical practice. Arq Bras Cardiol. 2013;100(1):94-101.. Além disso, a disfunção da tireoide tem sido associada ao desenvolvimento da disfunção diastólica, mesmo em pacientes sem doença cardíaca subjacente33. Biondi B. Mechanisms in endocrinology: Heart failure and thyroid dysfunction. Eur J Endocrinol. 2012;167(5):609-18..

Diuréticos, inibidores ACE e antagonistas do receptor da angiotensina - II, nitratos e os seus derivados, bloqueadores dos canais de cálcio, bloqueadores alfa, nicardipina e inibidores da fosfodiesterase reduzem as pressões de enchimento do ventrículo esquerdo22. Mesquita ET, Jorge AJ. Understanding asymptomatic diastolic dysfunction in clinical practice. Arq Bras Cardiol. 2013;100(1):94-101.,33. Biondi B. Mechanisms in endocrinology: Heart failure and thyroid dysfunction. Eur J Endocrinol. 2012;167(5):609-18..

As estatinas poderiam melhorar a disfunção diastólica atenuando a fibrose intersticial miocárdica e a angiogênese, independentemente de seus efeitos hipolipemiantes44. Mannheim D, Herrmann J, Bonetti PO, Lavi R, Lerman LO, Lerman A. Simvastatin preserves diastolic function in experimental hypercholesterolemia independently of its lipid lowering effect. Atherosclerosis. 2011;216(2):283-91..

Hormonoterapias tireóideas aumentam o débito cardíaco, afetando o volume sistólico e da frequência cardíaca, e reduzem a resistência vascular sistêmica, ativando o sistema renina-angiotensina-aldosterona, resultando em uma melhoria na disfunção diastólica33. Biondi B. Mechanisms in endocrinology: Heart failure and thyroid dysfunction. Eur J Endocrinol. 2012;167(5):609-18..

Tem sido demonstrado na cardiomiopatia diabética que a eplerenona, o bloqueador do receptor de mineralocorticoides, tem efeitos anti-fibróticos, que poderiam atenuar a esteatose cardíaca, a remodelação e a apoptose, bem como a disfunção diastólica55. Ramírez E, Klett-Mingo M, Ares-Carrasco S, Picatoste B, Ferrarini A, Rupérez FJ, et al. Eplerenone attenuated cardiac steatosis, apoptosis and diastolic dysfunction in experimental type-II diabetes. Cardiovasc Diabetol. 2013;12:172..

Em conclusão, se tivessem sido fornecidos os detalhes da medicação que poderia estar associada à disfunção diastólica, o estudo poderia ter sido mais valioso.

References

  • 1
    El Aouar LM, Meyerfreud D, Magalhães P, Rodrigues SL, Baldo MP, Brasil Y, et al. Relationship between left atrial volume and diastolic dysfunction in 500 Brazilian patients. Arq Bras Cardiol. 2013;101(1):52-8.
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    Ramírez E, Klett-Mingo M, Ares-Carrasco S, Picatoste B, Ferrarini A, Rupérez FJ, et al. Eplerenone attenuated cardiac steatosis, apoptosis and diastolic dysfunction in experimental type-II diabetes. Cardiovasc Diabetol. 2013;12:172.

Carta-resposta

Agradecemos suas observações em relação ao nosso artigo. A função diastólica do ventrículo esquerdo depende de uma série de fatores intrínsecos e extrínsecos ao coração. Dentre os fatores intrínsecos, o mais importante é a quantidade e disposição do colágeno depositado no miocárdio. Tanto a síntese das diferentes isoformas do colágeno, como a forma de deposição destas fibras no insterstício miocárdico e ao redor dos vasos coronarianos, têm importante influência na velocidade de relaxamento miocárdico que se traduz, do ponto de vista hemodinâmico, pela velocidade de queda da pressão ventricular no relaxamento isovolumétrico, pela velocidade de fluxo transmitral ou pela velocidade da movimentação do miocárdio a nível do anel mitral. O ecocardiograma tem sido um instrumento valioso na avaliação da função diastólica e, na medida em que os métodos de imagem se tornam mais acessíveis e aperfeiçoados, cresce o interesse dos cardiologistas clínicos pela aferição precisa do lusitropismo miocárdico. É importante a observação de que diferentes tipos de tratamentos para doenças cardíacas (iECA, inibidores de receptores de aldosterona, BRA, etc) ou condições clínicas associadas, tais como hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, hipotireoidismo, entre outras, se associam a diferentes graus de disfunção diastólica. A este respeito existe uma extensa literatura disponível. Contudo, o objetivo de nosso trabalho não foi o de explorar a etiopatogenia da disfunção diastólica, mas sim o de nos concentrarmos em duas vertentes: 1) avaliar a relação entre o volume do VAEi (átrio esquerdo indexado pela superfície corporal) e os diferentes graus de disfunção diastólica em uma série de pacientes ambulatórios com função sistólica preservada ou pouco reduzida e que foram submetidos ao exame de ecocardiografia transtorácico em um serviço de diagnóstico em cardiologia; 2) identificar as variáveis clinicas e ecocardiográficas associadas de forma independente ao aumento do VAEi.

Para atingirmos esses objetivos, a origem e o estágio de evolução da disfunção diastólica não seriam parâmetros relevantes para a proposta do estudo. No entanto, consideramos suas observações pertinentes e certamente poderão ser usadas em subestudos futuros dentro da própria amostra incluída em nosso artigo. Agradecemos as observações formuladas e o interesse pelo nosso trabalho.

Atenciosamente,

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2014

Histórico

  • Recebido
    11 Dez 2013
  • Revisado
    17 Jan 2014
  • Aceito
    17 Jan 2014
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