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Variabilidade de Frequência Cardíaca e Cardiopatia Chagásica

Frequência Cardíaca; Cardiomiopatia Chagásica, Amiodarona / uso terapêutico; Disfunção Ventricular

Apreciamos a relevância do artigo, que buscou investigar o efeito do treinamento físico na Variabilidade de Frequência Cardíaca (VFC) em pacientes com cardiopatia chagásica1Nascimento BR, Lima MM, Nunes Mdo C, de Alencar MC, Costa HS, Pinto Filho MM, et al. Efeitos do treinamento físico sobre a variabilidade da frequência cardíaca na cardiopatia chagásica. Arq Bras Cardiol. 2014;103(2):201-8.. No referido estudo, porém, alguns aspectos merecem aprofundamento na discussão.

O uso de amiodarona em cerca de 80% da amostra teria possivelmente “amortecido” a resposta autonômica2Malik M, Camm AJ, Janse MJ, Julian DJ, Frangin JA, Schwartz PJ. Depressed heart rate variability identifies postinfarction patients who might benefit from prophylactic treatment with amiodarone: a substudy of EMIAT (the European Myocardial Infarct Amiodarone Trial). J Am Coll Cardiol. 2000;35(5):1263-75., interferindo na validade desses parâmetros de VFC.

A fração de ejeção baixa (média de 37%) pode ter agido como elemento confundidor, o que precisaria ser esclarecido de algumas formas: inclusão de grupo controle com semelhante fração de ejeção, mas sem cardiopatia chagásica; inclusão de grupo controle com cardiopatia chagásica e fração ejeção próxima ao normal; ou, melhor ainda, inclusão de ambos.

O reduzido tamanho amostral (37 indivíduos divididos em dois grupos) mascara potenciais diferenças: para um poder de 80% e alfa bicaudal de 0,05, estimamos que o tamanho do efeito (“d”) a detectar teria de ser de enorme magnitude (d = 0,95).

De fato, mesmo quando se realiza o cálculo do tamanho amostral, underpowering tem sido um dos maiores empecilhos em estudos clínicos3Vickers AJ. Underpowering in randomized trials reporting a sample size calculation. J Clin Epidemiol. 2003;56(8):717-20.: ainda que não levemos em consideração o desvio padrão bastante elevado (algo que proporcionaria maiores dificuldades), o efetivo poder post hoc para detectar diferença de SDNN intergrupos igual a 0,15 seria, segundo calculamos, de apenas 7,3%.

Por fim, acreditamos que, ao invés do uso separado de testes pareados e testes para amostras independentes, a fim de responder à pergunta original, outros modelos (como, por exemplo, panel data ou mixed models), quedariam melhor ajustados ao delineamento e aos objetivos explicitados.

References

  • 1
    Nascimento BR, Lima MM, Nunes Mdo C, de Alencar MC, Costa HS, Pinto Filho MM, et al. Efeitos do treinamento físico sobre a variabilidade da frequência cardíaca na cardiopatia chagásica. Arq Bras Cardiol. 2014;103(2):201-8.
  • 2
    Malik M, Camm AJ, Janse MJ, Julian DJ, Frangin JA, Schwartz PJ. Depressed heart rate variability identifies postinfarction patients who might benefit from prophylactic treatment with amiodarone: a substudy of EMIAT (the European Myocardial Infarct Amiodarone Trial). J Am Coll Cardiol. 2000;35(5):1263-75.
  • 3
    Vickers AJ. Underpowering in randomized trials reporting a sample size calculation. J Clin Epidemiol. 2003;56(8):717-20.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan 2015

Histórico

  • Recebido
    09 Out 2014
  • Revisado
    13 Nov 2014
  • Aceito
    13 Nov 2014
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