Acessibilidade / Reportar erro

Identificando o Impacto da Síndrome Metabólica no Paciente Hipertenso

Palavras-chave
Síndrome Metabólica / diagnóstico; Doenças Cardiovasculares / mortalidade; Colesterol; Triglicérides; Circunferência da Cintura

As definições recentes de hipertensão arterial (HA) incluem alterações metabólicas, além dos níveis sustentadamente elevados de pressão arterial, visto a elevada associação da HA com dislipidemia, intolerância à glicose e obesidade.11 Malachias M, Plavnik FL, Machado CA, Malta D, Scala LC, Fuchs S. 7th Brazilian Guideline of Arterial Hypertension: Chapter 1 - Concept, Epidemiology and Primary Prevention. Arq Bras Cardiol. 2016;107(3 Suppl 3):1-6. Os mecanismos envolvidos nesta associação estão presentes na fisiopatologia da HA e das lesões de órgãos alvo, incluindo ativação do sistema nervoso simpático e do sistema renina angiotensina aldosterona, além de disfunção endotelial e inflamação.22 Kotsis V, Jordan J, Micic D, Finer N, Leitner DR, Toplak H, et al. Obesity and cardiovascular risk: a call for action from the European Society of Hypertension Working Group of Obesity, Diabetes and the High-risk Patient and European Association for the Study of Obesity: part A: mechanisms of obesity induced hypertension, diabetes and dyslipidemia and practice guidelines for treatment. J Hypertens. 2018 Apr 9. [Epub ahead of print]. Estas alterações metabólicas, junto à hipertensão, caracterizam a reconhecida síndrome metabólica (SM), condição clínica associada ao maior risco cardiovascular33 Kachur S, Morera R, De Schutter A, Lavie CJ. Cardiovascular risk in patients with prehypertension and the metabolic syndrome. Curr Hypertens Rep. 2018;20(2):15. e de doença renal crônica.44 Prasad GV. Metabolic syndrome and chronic kidney disease: current status and future directions. World J Nephrol. 2014;3(4):210-9. O estudo de Catharina et al.,55 Catharina AS, Modolo R, Sabbatini A, Lopes HF, Moreno Junior H, Faria AP. Características relacionadas à síndrome metabólica em indivíduos com hipertensão controlada e hipertensão resistente. Arq Bras Cardiol. 2018; 110(6):514-521. publicado neste número, acrescenta dados muito interessantes nessa relação entre a SM, repercussões da HA e a condição de hipertensão resistente(HR). O estudo compreendeu pacientes hipertensos de diferentes estágios e avaliou diferentes biomarcadores, incluindo adipocinas, bem como propriedades vasculares e cardíacas. O primeiro resultado de destaque é a observação de uma alta prevalência de SM nos pacientes hipertensos, tanto no grupo controlado quanto naqueles com HR, sendo um pouco maior nesse grupo. Esse resultado vai ao encontro com o que tem sido observado na prática clínica nos últimos anos: elevada prevalência de obesidade e anormalidades metabólicas associadas à hipertensão e as suas consequências.22 Kotsis V, Jordan J, Micic D, Finer N, Leitner DR, Toplak H, et al. Obesity and cardiovascular risk: a call for action from the European Society of Hypertension Working Group of Obesity, Diabetes and the High-risk Patient and European Association for the Study of Obesity: part A: mechanisms of obesity induced hypertension, diabetes and dyslipidemia and practice guidelines for treatment. J Hypertens. 2018 Apr 9. [Epub ahead of print]. A abordagem terapêutica desses pacientes tem que levar em conta esse perfil, e mudanças de estilo de vida devem ser estimuladas com o objetivo de melhor controlar a pressão arterial e prevenir as doenças cardiovasculares relacionadas.55 Catharina AS, Modolo R, Sabbatini A, Lopes HF, Moreno Junior H, Faria AP. Características relacionadas à síndrome metabólica em indivíduos com hipertensão controlada e hipertensão resistente. Arq Bras Cardiol. 2018; 110(6):514-521. O estudo também identificou que a presença da SM foi associada com lesão renal precoce (microalbuminúria), relação leptina/adiponectina (L/A) e a presença de HR. Não houve associação da SM com aumento da rigidez arterial ou hipertrofia ventricular esquerda. Chama a atenção a identificação precoce das lesões renais na presença da SM, independente do estágio de hipertensão, reforçando a importância das alterações metabólicas no desenvolvimento de microalbuminúria em pacientes hipertensos,66 DeBoer MD, Filipp SL, Musani SK, Sims M, Okusa MD, Gurka M. Metabolic Syndrome Severity and risk of CKD and Worsened GFR: the Jackson Heart Study. Kidney Blood Press Res. 2018;43(2):555-67. e da necessidade do controle dessas alterações para prevenção da lesão renal. De outro lado, a não existência de diferenças nas lesões vasculares e cardíacas de acordo com a presença de SM, sugere que a pressão arterial é o componente de maior impacto nestas lesões de órgão-alvo, e o controle da pressão é fundamental para preveni-las, como já tem sido demonstrado77 Tedla YG, Gepner AD, Vaidya D, Colangelo L, Stein JH, Liu K, et al. Association between long-term blood pressure control and ten-year progression in carotid arterial stiffness among hypertensive individuals: the multiethnic study of atherosclerosis. J Hypertens. 2017;35(4):862-9.,88 Lønnebakken MT, Izzo R, Mancusi C, Gerdts E, Losi MA, Canciello G, et al. Left ventricular hypertrophy regression during antihypertensive treatment in an outpatient clinic (the Campania Salute Network). J Am Heart Assoc. 2017 Mar 8;6(3). pii: e004152.. Como os autores destacam, o principal achado do estudo foi a associação da relação L/A com a SM nos pacientes hipertensos, destacando o papel do excesso de leptina e da redução de adiponectinas na fisiopatologia da SM, podendo ser um importante alvo de desenvolvimento terapêutico para estes pacientes. Além de alvo terapêutico, a relação L/A, como sugerido pelos autores, pode ser uma importante ferramenta para identificar aqueles pacientes hipertensos com mais chance de apresentar SM, e assim ter uma intervenção mais precoce para retardar, sobretudo as lesões renais e também aumentar a chance de um melhor controle da pressão arterial. No entanto, para comprovar o papel desta relação são necessários novos estudos prospectivos com maior número de indivíduos e de longo-prazo, visto que o trabalho de Catharina et al.55 Catharina AS, Modolo R, Sabbatini A, Lopes HF, Moreno Junior H, Faria AP. Características relacionadas à síndrome metabólica em indivíduos com hipertensão controlada e hipertensão resistente. Arq Bras Cardiol. 2018; 110(6):514-521. mostra apenas a associação entre a relação L/A e a presença de SM em pacientes hipertensos em um corte transversal. Em resumo, a presença de alterações metabólicas e obesidade piora repercussões e controle da pressão em pacientes hipertensos, e deve ser um foco da terapêutica nesses indivíduos.

  • Minieditorial referete ao artigo: Características Relacionadas à Síndrome Metabólica em Indivíduos com Hipertensão Controlada e Hipertensão Resistente

References

  • 1
    Malachias M, Plavnik FL, Machado CA, Malta D, Scala LC, Fuchs S. 7th Brazilian Guideline of Arterial Hypertension: Chapter 1 - Concept, Epidemiology and Primary Prevention. Arq Bras Cardiol. 2016;107(3 Suppl 3):1-6.
  • 2
    Kotsis V, Jordan J, Micic D, Finer N, Leitner DR, Toplak H, et al. Obesity and cardiovascular risk: a call for action from the European Society of Hypertension Working Group of Obesity, Diabetes and the High-risk Patient and European Association for the Study of Obesity: part A: mechanisms of obesity induced hypertension, diabetes and dyslipidemia and practice guidelines for treatment. J Hypertens. 2018 Apr 9. [Epub ahead of print].
  • 3
    Kachur S, Morera R, De Schutter A, Lavie CJ. Cardiovascular risk in patients with prehypertension and the metabolic syndrome. Curr Hypertens Rep. 2018;20(2):15.
  • 4
    Prasad GV. Metabolic syndrome and chronic kidney disease: current status and future directions. World J Nephrol. 2014;3(4):210-9.
  • 5
    Catharina AS, Modolo R, Sabbatini A, Lopes HF, Moreno Junior H, Faria AP. Características relacionadas à síndrome metabólica em indivíduos com hipertensão controlada e hipertensão resistente. Arq Bras Cardiol. 2018; 110(6):514-521.
  • 6
    DeBoer MD, Filipp SL, Musani SK, Sims M, Okusa MD, Gurka M. Metabolic Syndrome Severity and risk of CKD and Worsened GFR: the Jackson Heart Study. Kidney Blood Press Res. 2018;43(2):555-67.
  • 7
    Tedla YG, Gepner AD, Vaidya D, Colangelo L, Stein JH, Liu K, et al. Association between long-term blood pressure control and ten-year progression in carotid arterial stiffness among hypertensive individuals: the multiethnic study of atherosclerosis. J Hypertens. 2017;35(4):862-9.
  • 8
    Lønnebakken MT, Izzo R, Mancusi C, Gerdts E, Losi MA, Canciello G, et al. Left ventricular hypertrophy regression during antihypertensive treatment in an outpatient clinic (the Campania Salute Network). J Am Heart Assoc. 2017 Mar 8;6(3). pii: e004152.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jun 2018
Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC Avenida Marechal Câmara, 160, sala: 330, Centro, CEP: 20020-907, (21) 3478-2700 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil, Fax: +55 21 3478-2770 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@cardiol.br