Accessibility / Report Error

3ª Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco

Declaração de potencial conflito de interesses dos autores/colaboradores da 3ª Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco Se nos últimos 3 anos o autor/colaborador das Diretrizes: Nomes Integrantes da Diretriz Participou de estudos clínicos e/ou experimentais subvencionados pela indústria farmacêutica ou de equipamentos relacionados à diretriz em questão Foi palestrante em eventos ou atividades patrocinadas pela indústria relacionados à diretriz em questão Foi (é) membro do conselho consultivo ou diretivo da indústria farmacêutica ou de equipamentos Participou de comitês normativos de estudos científicos patrocinados pela indústria Recebeu auxílio pessoal ou institucional da indústria Elaborou textos científicos em periódicos patrocinados pela indústria Tem ações da indústria Alexandre Siciliano Colafranceschi Não Não Não Não Não Não Não Carlos Fernando Ramos Lavagnoli Não Não Não Não Não Não Não Cláudio Leo Gelape Não Não Não Não Não Não Não Dirceu Rodrigues Almeida Não Não Não Não Não Não Não Fabiana G. Marcondes-Braga Não Não Não Não Não Não Não Fábio Antônio Gaiotto Não Não Não Não Não Não Não Fernando Antibas Atik Não Não Abbott Não Não Não Não Fernando Augusto Marinho dos Santos Figueira Não Livanova, Gettinge, Nipro, Thoratec Não Não Livanova, Gettinge, Nipro, Thoratec Não Não Fernando Bacal Não Não Não Não Não Não Não Flávio de Souza Brito Não Não Não Não Não Não Não Germano Emílio Conceição Souza Não Não Não Não Não Não Não Hélcio Rodrigues Não Não Não Não Não Não Não Iascara Wozniak de Campos Não Não Não Não Não Não Não João David de Souza Neto Não Não Não Não Não Não Não João Manoel Rossi Neto Não Não Não Não Não Não Não José Leudo Xavier Júnior Não Não Não Não Não Não Não Juliano Gasparetto Não Não Não Não Não Não Não Lídia Ana Zytynski Moura Não Não Não Não Não Não Não Lívia Adams Goldraich Não Não Não Não Não Não Não Luis Eduardo Paim Rohde Não Não Não Não Não Não Não Luis Fernando Bernal da Costa Seguro Não Não Não Não Não Não Não Luiz Alberto Benvenuti Não Não Não Não Não Não Não Marcelo Botelho Ulhôa Júnior Não Não Não Não Não Não Não Maria da Consolação Vieira Moreira Não Não Não Não Não Não Não Mônica Samuel Avila Não Não Não Não Não Não Não Rodrigo Carneiro Não Não Não Não Não Não Não Sandrigo Mangini Não Não Não Não Novartis Não Não Sílvia Moreira Ayub Ferreira Não Novartis Abbott Não Baldacci, Abbott Não Não Tânia Mara Varejão Strabelli Não Não Não Não Não Não Não

1. Introdução

Prezados colegas,

Grandes avanços no diagnóstico, monitorização e tratamento da Insuficiência Cardíaca (IC) foram observados nos últimos anos, com impactos reais na qualidade de vida e na sobrevida dos pacientes. Nas fases mais avançadas da doença, ainda nos deparamos com altas taxas de mortalidade, hospitalizações e re-hospitalizações, impactando de forma clara no prognóstico dos pacientes. Neste contexto, o Transplante Cardíaco (TxC) ainda é o tratamento de escolha para a IC estágio D, com mais de 110 mil procedimentos realizados no mundo, especialmente a partir da década de 1980, com o advento da ciclosporina. Os problemas inerentes ao transplante, como baixa disponibilidade de órgãos, longa espera pelo procedimento, dificuldades na logística de captação, complicações relacionadas à imunossupressão, aumento de pacientes sensibilizados e em suporte circulatório mecânico são desafios diários enfrentados pelas equipes envolvidas com TxC.

Apresentamos aos senhores a 3ª Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco, que traz um panorama atual dos avanços adquiridos nos últimos anos e que foram incorporados na nossa rotina prática. Foram convidados a participar deste documento os profissionais atuantes na área, com comprovada experiência assistencial e de pesquisa, cujas contribuições foram determinantes para que tenhamos um documento atualizado e prático, que certamente será referência para médicos e profissionais de saúde interessados em TxC.

Passados 8 anos da última diretriz, vários conceitos novos foram incorporados, tanto na captação e cirurgia quanto nos pós-operatórios imediato e tardio. Na fase pré-operatória, destacamos a logística de captação à distância, as novas soluções cardioplégicas e de preservação do enxerto, a utilização do cross-match virtual para guiar a conduta e a aceitação de órgãos para pacientes sensibilizados. Na fase pós-operatória, temos a utilização de novos imunossupressores, os novos critérios de rejeição humoral e as estratégias de profilaxias infecciosas. Vários outros aspectos são também abordados e discutidos pelos profissionais que trabalham diretamente com o manejo clínico e cirúrgico dos pacientes com IC refratária, que têm no TxC a sua real esperança de conseguir viver mais e melhor.

Um grande abraço,

Fernando Bacal

Coordenador da 3ª Diretriz brasileira de Transplante Cardíaco do DEIC-SBC

2. Pré-transplante Cardíaco

2.1. Receptor

2.1.1. Indicações de Transplante Cardíaco

O TxC é opção terapêutica considerada em pacientes com IC avançada e refratária ao tratamento otimizado, de acordo com diretrizes nacionais e internacionais e com estimativa de prognóstico adverso.11 Fang JC, Ewald GA, Allen LA, Butler J, Westlake Canary CA, Colvin-Adams M, et al; Heart Failure Society of America Guidelines Committee. Advanced (Stage D) Heart Failure: a statement from the Heart Failure Society of America Guidelines Committee. J Cardiac Fail. 2015;21(6):519-34. doi: 10.1016/j.cardfail.2015.04.013.
https://doi.org/10.1016/j.cardfail.2015....
Na indicação do TxC, deve-se contemplar a relação risco-benefício individual e, idealmente, populacional. A alocação de órgãos para transplante possui implicações éticas, pois são recursos escassos que devem ser preferencialmente ofertados para aqueles com maior probabilidade de sobrevida no longo prazo.22 Ross HJ. The ethics of risk and innovation. J Heart Lung Transplant. 2016;35(1):24-5. doi: 10.1016/j.healun.2015.05.009.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.05...
As principais considerações relacionadas às indicações clássicas para TxC estão resumidas na tabela 2.1. A tabela 2.2 apresenta indicações para o TxC em situações clínicas especiais.

Tabela 2.1
Indicações de transplante cardíaco
Tabela 2.2
Indicações de transplantes em situações especiais

2.1.2. Contraindicações ao Transplante Cardíaco

Ainda existem algumas contraindicações consideradas absolutas para o TxC, entretanto grande parte das contraindicações outrora consideradas relativas tem sido satisfatoriamente manejadas em centros de referência, devido aos avanços diagnósticos e terapêuticos crescentes nesta área. Na avaliação de potenciais receptores (descrita em subitem 2.1.3), procura-se identificar condições clínicas e comorbidades associadas a risco cirúrgico muito elevado e/ou redução significativa da sobrevida pós-transplante. A tabela 2.3 enumera as principais contraindicações a serem consideradas durante a avaliação de potenciais candidatos a TxC. Dentre elas, merece destaque a discussão da idade limite para a realização de TxC. Pacientes selecionados acima dos 70 anos podem se beneficiar do procedimento. Estudos recentes têm demonstrado que candidatos com mais de 60 anos apresentam menores taxas de rejeição após o TxC e menor incidência de Doença Vascular do Enxerto (DVE).33 Demers P, Moffatt S, Oyer PE, Hunt SA, Reitz BA, Robbins RC. Long term results of heart transplantation in patient older than 60 years. J Thorac Cardiovasc Surg. 2003;126(1):224-31. PMID: 12878959. Em relação à sobrevida, ainda há controvérsia na literatura, porém considera-se atualmente que pacientes mais idosos não devem ser rotineiramente excluídos da avaliação para TxC.44 Goldstein D, Bello R, Shin JJ, Stevens G, Zolty R, Maybaum S, et al. Outcomes of cardiac transplantation in septuagenarians. J Heart Lung Transplant. 2012;31(7):679-85. doi: 10.1016/j.healun.2012.03.019. Erratum in: J Heart Lung Transplant. 2014;33(3):326.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2012.03...
,55 Cooper LB, Lu D, Mentz RJ, Rogers JG, Milano CA, Felker GM, et al. Cardiac transplantation for older patients: Characteristics and outcomes in the septuagenarian population. J Heart Lung Transplant. 2016;35(3):362-9. doi: 10.1016/j.healun.2015.10.028.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.10...

Tabela 2.3
Potenciais contraindicações para transplante cardíaco

2.1.3. Avaliação do Candidato ao Transplante Cardíaco

O paciente com IC avançada geralmente necessita de acompanhamento médico e multidisciplinar periódico e rigoroso. Este seguimento abrange inúmeras avaliações prognósticas a fim de detectar se o paciente é candidato ao TxC e em que momento ele deve ser incluído na fila do transplante.

A avaliação do candidato deve ser clínica, laboratorial, imunológica, hemodinâmica, psicológica e social (Figura 2.1 e Tabela 2.4).

Figura 2.1
Avaliação do candidato ao transplante cardíaco. HFSS: Heart Failure Survival Score; SHFM: Seattle Heart Failure Model; PSAP: pressão sistólica da artéria pulmonar; GTP: gradiente transpulmonar; RVP: resistência vascular pulmonar; GDP: gradiente diastólico pulmonar.Fonte: Bacal et al. 3ª Diretriz Brasileira de Transplante Cardíaco.

Tabela 2.4
Recomendações para avaliação e acompanhamento

2.1.3.1. Exames de Avaliação, Seleção e Acompanhamento dos Candidatos

Os pacientes candidatos a um transplante cardíaco devem, obrigatoriamente, passar por uma extensa avaliação clínica, que inclui exames de várias naturezas, com a intenção de melhor averiguar a condição do paciente para a cirurgia, detecção de comorbidades que eventualmente possam contraindicar ou dificultar o transplante, além de preparar o candidato para deixá-lo na melhor condição possível para o procedimento. Uma vez listados, e como o tempo de espera na fila pode ser longo, esses pacientes precisam ser acompanhados periodicamente, e, eventualmente, a depender do tempo em fila, alguns exames precisam ser repetidos.

A rotina de exames que devem ser solicitados para avaliação do paciente e sua periodicidade estão na tabela 2.4.

2.1.3.2. Avaliação Imunológica Pré-transplante

A avaliação imunológica deve ser realizada em todos os potenciais receptores e consiste na detecção de anticorpos circulantes contra Antígenos Leucocitários Humanos (HLA, sigla do inglês Human Leukocyte Antigen), por meio do Painel Imunológico (PRA, do inglês Panel-Reactive Antibodies).

A) Painel Imunológico

O PRA determina anticorpos que reagem contra antígenos do complexo de histocompatibilidade HLA, os quais são classificados de acordo com a localização de seus genes precursores no braço curto do cromossomo 6. São eles: de classe I (A, B e C) e de classe II (DP, DQ, DR). Para detecção de anticorpos pré-formados, o soro do potencial receptor é testado contra um painel de antígenos HLA representativos da população a qual o paciente pertence (a plataforma Luminex, altamente sensível e específica é a mais utilizada atualmente). O percentual de reatividade determina o PRA calculado (PRAc ) e define o grau de sensibilização HLA do paciente. Quanto maior a variedade de anticorpos contra antígenos HLA, mais elevado o PRA. Quanto mais elevado o PRA, maior a dificuldade em se encontrar um doador compatível, resultando, por conseguinte, um maior tempo e maior risco de morte em fila. A sensibilização HLA pode ocorrer por meio de várias situações, incluindo gestação, transfusão sanguínea, dispositivo de assistência circulatória e transplante prévio. O PRA acima de 10% era considerado contraindicação ao transplante cardíaco, no entanto, mais importante que a porcentagem, é a especificidade do anticorpo; mesmo que um antígeno tenha frequência de 1% na população, caso o receptor tenha anticorpo específico contra o doador (DSA), este doador deve ser evitado. Outro detalhe importante para determinação da positividade do PRA, através da técnica do Luminex, é o valor de corte utilizado da média da intensidade da fluorescência (MFI- mean fluorescence intensity); cada serviço estabelece seu corte de positividade levando em consideração que quanto mais baixo o corte, maior a positividade do PRA, maior risco de falsos positivos e maior a dificuldade em se encontrar um doador, e quanto maior o corte, menor o PRA, porém, maior risco de falsos negativos e rejeição mediada por anticorpos. A maioria dos serviços tem utilizado corte de mfi entre 2000 e 5000, baseado em análises de segurança através do crossmatch real demonstrando baixa frequência de eventos.66 Kittleson MM, Kobashigawa J. antibody-mediated rejection: review. Curr Opin Organ Transplant. 2012;17(5):551-7. doi: 10.1097/MOT.0b013e3283577fef.
https://doi.org/10.1097/MOT.0b013e328357...
,77 Kobashigawa J, Mehra M, West L, Kerman R, George J, Rose M, et al; Consensus Conference Participants. Report from a consensus conference on the sensitized patient awaiting heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2009;28(3):213-25. doi: 10.1016/j.healun.2008.12.017.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2008.12...

B) Cross-match Real e Virtual

A prova cruzada prospectiva (crossmatch real) é habitualmente realizada pela técnica da citotoxicidade dependente de complemento (CDC), na qual o soro do receptor é testado contra os linfócitos do doador obtidos de linfonodos retirados no processo de captação. Este processo pode levar até 6 horas, inviabilizando a espera em relação ao tempo máximo de isquemia de 4 horas. Neste sentido, visando minimizar o impacto da sensibilização HLA para o paciente em fila, o crossmatch virtual pode ajudar, uma vez que, através da informação do HLA do doador e dos anticorpos do receptor, é possível estabelecer se existe a presença de DSA. Esta técnica possibilita o aumento do número de doadores e a diminuição do tempo de espera e do óbito em fila.88 Appel JZ 3rd, Hartwig MG, Cantu E 3rd, Palmer SM, Reinsmoen NL, Davis RD. Role of flow cytometry to define unacceptable HLA antigens in lung transplant recipients with HLA-specific antibodies. Transplantation. 2006;81(7):1049-57. doi: 10.1097/01.tp.0000204046.89396.c5.
https://doi.org/10.1097/01.tp.0000204046...

C) Dessensibilização

A dessensibilização é uma opção para o aumento do número de doadores e uma maior chance do transplante em pacientes sensibilizados. O objetivo é reduzir ou eliminar os anticorpos HLA, facilitando o transplante, mesmo na presença de um DSA.99 Chih S, Patel J. Desensitization strategies in adult heart transplantation-Will persistence pay off? J Heart Lung Transplant. 2016;35(8):962-72. doi: 10.1016/j.healun.2016.03.021.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2016.03...

O alvo são os componentes da resposta humoral: anticorpos, linfócitos B, plasmócitos e sistema complemento. As principais opções terapêuticas da dessensibilização estão descritas na tabela 2.5.

Tabela 2.5
Opções terapêuticas para dessensibilização

Os dados disponíveis sobre dessensibilização no TxC vêm de estudos observacionais, com populações pequenas, seguimento curto e diversidade de protocolos.55 Cooper LB, Lu D, Mentz RJ, Rogers JG, Milano CA, Felker GM, et al. Cardiac transplantation for older patients: Characteristics and outcomes in the septuagenarian population. J Heart Lung Transplant. 2016;35(3):362-9. doi: 10.1016/j.healun.2015.10.028.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.10...
Existem duas abordagens: dessensibilização para reduzir os anticorpos do receptor com o objetivo de um cross-match virtual negativo, ou aceitar um doador cujo cross-match virtual é positivo e realizar a dessensibilização para minimizar o risco de uma Rejeição Hiperaguda (RHA). Ambas as abordagens demonstraram menor taxa de rejeição celular e humoral, sem diferença na mortalidade, aparecimento de DVE e infecção tratada.1010 Kobashigawa JA, Patel JK, Kittleson MM, Kawano MA, Kiyosaki KK, Davis SN, et al. The long-term outcome of treated sensitized patients who undergo heart transplantation. Clin Transplant 2011; 25(1):E61-7. doi: 10.1111/j.1399-0012.2010.01334.x.
https://doi.org/10.1111/j.1399-0012.2010...
,1111 Patel J, Everly M, Chang D, Kittleson M, Reed E, Kobashigawa J. Reduction of alloantibodies via proteasome inhibition in cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2011;30(12):1320-6. doi: 10.1016/j.healun.2011.08.009.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.08...

A figura 2.2 sugere um fluxograma e protocolo de dessensibilização baseado nas evidências atuais disponíveis na literatura.1212 Montgomery RA, Zachary AA, Racusen LC, Leffell MS, King KE, Burdick J, et al. Plasmapheresis and intravenous immune globulin provides effective rescue therapy for refractory humoral rejection and allows kidneys to be successfully transplanted into cross-match-positive recipients. Transplantation. 2000;70(6):887-95. PMID: 11014642.

13 Sonnenday CJ, Ratner LE, Zachary AA, Burdick JF, Samaniego MD, Kraus E, et al. Preemptive therapy with plasmapheresis/intravenous immunoglobulin allows successful live donor renal transplantation in patients with a positive cross-match. Transplant Proc. 2002;34(5):1614-6. PMID: 12176507.

14 Schweitzer EJ, Wilson JS, Fernandez-Vina M, Fox M, Gutierrez M, Wiland A, et al. A high panel-reactive antibody rescue protocol for cross-match-positive live donor kidney transplants. Transplantation. 2000;70(10):1531-6. PMID: 11118102.

15 Gloor JM, DeGoey SR, Pineda AA, Moore SB, Prieto M, Nyberg SL, et al. Overcoming a positive crossmatch in living-donor kidney transplantation. Am J Transplant. 2003;3(8):1017-23. PMID: 12859539.

16 Patel J, Everly M, Chang D, Kittleson M, Reed E, Kobashigawa J. Reduction of alloantibodies via proteasome inhibition in cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2011 Dec;30(12):1320-6. doi: 10.1016/j.healun.2011.08.009.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.08...

17 Jordan SC, Vo AA, Peng A, Toyoda M, Tyan D. Intravenous gammaglobulin (IVIG): a novel approach to improve transplant rates and outcomes in highly HLA-sensitized patients. Am J Transplant. 2006;6(3):459-66. doi: 10.1111/j.1600-6143.2005.01214.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2005...

18 Vo AA, Lukovsky M, Toyoda M, Wang J, Reinsmoen NL, Lai CH, et al. Rituximab and intravenous immune globulin for desensitization during renal transplantation. N Engl J Med. 2008;359(3):242-51. doi: 10.1056/NEJMoa0707894.
https://doi.org/10.1056/NEJMoa0707894...
-1919 Vo AA, Peng A, Toyoda M, Kahwaji J, Cao K, Lai CH, et al. Use of intravenous immune globulin and rituximab for desensitization of highly HLA-sensitized patients awaiting kidney transplantation. Transplantation. 2010;89(9):1095-102. doi: 10.1097/TP.0b013e3181d21e7f.
https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3181d21...

Figura 2.2
Fluxograma de dessensibilização. PRA: painel reatividade de anticorpos; TxC: transplante cardíaco; IVIG: imunoglobulina intravenosa; DSA: donor specific antibody. Fonte: Adaptado de Jordan SC et al.;1717 Jordan SC, Vo AA, Peng A, Toyoda M, Tyan D. Intravenous gammaglobulin (IVIG): a novel approach to improve transplant rates and outcomes in highly HLA-sensitized patients. Am J Transplant. 2006;6(3):459-66. doi: 10.1111/j.1600-6143.2005.01214.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2005...
Vo AA et al.1919 Vo AA, Peng A, Toyoda M, Kahwaji J, Cao K, Lai CH, et al. Use of intravenous immune globulin and rituximab for desensitization of highly HLA-sensitized patients awaiting kidney transplantation. Transplantation. 2010;89(9):1095-102. doi: 10.1097/TP.0b013e3181d21e7f.
https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3181d21...
e Patel J et al. JHLT 2011.1616 Patel J, Everly M, Chang D, Kittleson M, Reed E, Kobashigawa J. Reduction of alloantibodies via proteasome inhibition in cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2011 Dec;30(12):1320-6. doi: 10.1016/j.healun.2011.08.009.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.08...

2.1.3.3. Avaliação Hemodinâmica Pulmonar

A cateterização da artéria pulmonar ainda é essencial para a inclusão do paciente na fila de TxC, a fim de determinar a existência e o grau da hipertensão pulmonar, e sua reversibilidade a vasodilatadores. Além disso, a manometria cardiopulmonar pode ser de grande auxílio no manejo desses pacientes, já que muitos estão em dependência de drogas vasoativas e/ou de assistência ventricular. Esta medida deve ser realizada antes da inclusão do paciente em fila de TxC, periodicamente, de acordo com o protocolo de cada serviço, ou quando há mudança do quadro clínico do paciente. As recomendações para a avaliação hemodinâmica estão na tabela 2.6

Tabela 2.6
Recomendações para avaliação hemodinâmica pulmonar

Especificamente quanto à avaliação pré-TxC, os principais dados fornecidos pelo Cateter de Artéria Pulmonar (CAP) a serem levados em consideração são a Pressão Sistólica da Artéria Pulmonar (PSAP), a Pressão Média na Artéria Pulmonar (PMAP), a Pressão de Oclusão na Artéria Pulmonar (POAP) ou Pressão Capilar Pulmonar (PCP), o Gradiente Transpulmonar (GTP) e a Resistência Vascular Pulmonar (RVP) − este último obtido da divisão do GTP pelo Débito Cardíaco (DC). O GTP é definido como a diferença entre a PMAP e a POAP, e tem sido listado como indicador de remodelamento vascular pulmonar. A vasodilatação durante o exame, realizada com nitroprussiato de sódio, sildenafil ou óxido nítrico, visa à pronta redução da pressão na artéria pulmonar e da POAP. Como consequência, esperam-se uma redução do GTP e um aumento do DC (pela redução da pós-carga do ventrículo direito e da pré-carga do ventrículo esquerdo) e, por conseguinte, da RVP. O teste é considerado positivo para vasorreatividade quando a PSAP cai para menos de 50 mmHg, o GTP para menos de 15 e a RVP para 3 ou menos, sem que haja, porém, queda do DC e da pressão arterial sistólica (< 85mmHg). Valores de RVP acima de 5 conferem contraindicação absoluta para o transplante cardíaco. A hipervolemia, constatada pela Pressão Venosa Central (PVC) elevada, também deve ser tratada, visando à redução das pressões pulmonares.2020 Steimle AE, Stevenson LW, Chelimsky-Fallick C, Fonarow GC, Hamilton MA, Moriguchi JD, et al. Sustained hemodynamic efficacy of therapy tailored to reduce filling pressures in survivors with advanced heart failure. Circulation. 1997;96(4):1165. PMID: 9286945.

Estudos recentes propõem o uso do Gradiente Diastólico Pulmonar (GDP), que é a diferença entre a Pressão Diastólica Pulmonar (PDAP) e a POAP, como alternativa ao GTP. Esta medida pode ser uma nova ferramenta de avaliação da pressão pulmonar nos pacientes em avaliação para transplante. Estudo recente demonstrou que GDP ≥ 7 mmHg em pacientes com IC e GTP elevado está associado a maior mortalidade quando comparado a GDP < 7 mmHg.2121 Gerges C, Gerges M, Lang MB, Zhang Y, Jakowitsch J, Probst P, et al. Diastolic pulmonary vascular pressure gradient: a predictor of prognosis in "out-of-proportion" pulmonary hypertension. Chest. 2013;143(3):758-766. doi: 10.1378/chest.12-1653.
https://doi.org/10.1378/chest.12-1653...
,2222 Nagy AI, Venkateshvaran A, Merkely B, Lund LH, Manouras A. Determinants and prognostic implications of the negative diastolic pulmonary pressure gradient in patients with pulmonary hypertension due to left heart disease. Eur J Heart Fail. 2017;19(1):88-97. doi: 10.1002/ejhf.675.
https://doi.org/10.1002/ejhf.675...

2.1.3.4. Avaliação Renal

A Insuficiência Renal (IR) é comum nos pacientes com IC e tem importante papel prognóstico após o TxC. Todo paciente em avaliação para transplante deve ter a função renal avaliada por meio da estimativa da taxa de filtração glomerular ou do clearance de creatinina.

Os pacientes com IR necessitam de rastreamento de doença glomerular (proteinúria de 24 horas) e doença parenquimatosa (ultrassonografia de rins).

Na presença de doença renal estrutural, deve ser feita, se possível, uma avaliação em conjunto com transplante renal para definição de transplante único de coração ou duplo (coração-rim).

A) Transplante Duplo Coração-rim

No passado, doença renal concomitante era considerada uma contraindicação para o TxC. Por outro lado, nefropatas crônicos em diálise, que eram portadores de cardiopatia grave, também eram contraindicados para transplante renal. Com o avanço de técnicas operatórias e do manejo clínico destes pacientes, tem sido oferecida, em casos selecionados, a opção de Transplante Combinado Coração-Rim (TCCR).2323 Narula J, Bennett LE, DiSalvo T, Hosenpud JD, Semigran MJ, Dec GW. Outcomes in recipients of combined heart-kidney transplantation: multiorgan, same-donor transplant study of the International Society of Heart and Lung Transplantation/United Network for Organ Sharing Scientific Registry. Transplantation. 1997;63(6):861-7. PMID: 9089227. Resultados favoráveis desta abordagem têm sido reproduzidos em diversas partes do mundo.2424 Ruderman I, Sevastos J, Anthony C, Ruygrok P, Chan W, Javorsky G, et al. Outcomes of simultaneous heart-kidney and lung-kidney transplantations: the Australian and New Zealand experience. Intern Med J. 2015;45(12):1236-41. doi: 10.1111/imj.12865.
https://doi.org/10.1111/imj.12865...

Uma preocupação importante no contexto do TCCR é a escassez de órgãos, de modo que a seleção cuidadosa do paciente que idealmente se beneficiaria desta abordagem é crucial. Neste sentido, estudos direcionados para a seleção do candidato ideal para o TCCR têm sido conduzidos. Um estudo de coorte retrospectivo, que incluiu 19.373 transplantes cardíacos nos Estados Unidos, mostrou que 264 (1,4%) foram TCCR. Após análise multivariada, os fatores associados à sobrevida limitada e incluídos na elaboração de um escore de risco foram: doença vascular periférica avançada (peso 4), idade do receptor > 65 anos (peso 3,5), etiologia não isquêmica (peso 2), dependência de diálise no momento do transplante (peso 2) e uso de assistência ventricular esquerda no momento do transplante (peso 2,5). Os pacientes foram classificados em risco baixo (< 4 pontos), moderado (4 a 6 pontos) ou alto (> 6 pontos). A sobrevida após 1 ano do transplante dos pacientes com risco baixo (93,2%) foi comparável à de pacientes com TxC isolado, enquanto no grupo de alto risco foi de 61,9%. A combinação da taxa de filtração glomerular < 33 mL/min/1,73m2 e escore de baixo risco definiu o subgrupo com melhor prognóstico após TCCR naquela casuística.2525 Russo MJ, Rana A, Chen JM, Hong KN, Gelijns A, Moskowitz A, et al. Pretransplantation patient characteristics and survival following combined heart and kidney transplantation: an analysis of the United Network for Organ Sharing Database. Arch Surg. 2009;144(3):241-6. doi: 10.1001/archsurg.2008.559.
https://doi.org/10.1001/archsurg.2008.55...

A sequência de realização dos transplantes é motivo de debate. Um estudo unicêntrico com 30 pacientes mostrou que a taxa de sobrevida foi semelhante entre os pacientes com TCCR em relação aos transplantes cardíacos isolados, com baixa taxa de rejeição celular ou humoral. Nesse estudo, 21 pacientes foram submetidos a transplante em dois tempos (intervalo de tempo entre 4 e 24 horas). Sugere-se, como opinião, a abordagem em dois tempos, com o argumento de que haveria tempo para estabilização hemodinâmica para realizar o transplante renal. No entanto, pondera-se que tal abordagem aumenta o tempo de isquemia do rim e o potencial de imunogenicidade, pela elevação na expressão de complexos de imunocompatibilidade classes I e II.2626 Ruzza A, Czer LS, Trento A, Esmailian F. Combined heart and kidney transplantatiojn: what is the appropriate surgical sequence? Interact Cardiovasc Thorac Surg. 2013;17(2):416-8. doi: 10.1093/icvts/ivt172.
https://doi.org/10.1093/icvts/ivt172...
Estudos randomizados futuros são necessários para responder adequadamente a esta questão.

2.1.4. Paciente em Fila de Transplante

2.1.4.1. Avaliação Prognóstica

Pacientes listados ambulatorialmente devem ser periodicamente reavaliados, com avaliação clínica e marcadores prognósticos (teste cardiopulmonar, escores de sobrevida e biomarcadores). Quando houver melhora significativa e sustentada do quadro clínico e da estimativa de sobrevida, a retirada do paciente da lista de transplante deve ser considerada.

A) Fragilidade

A fragilidade é um estado de vulnerabilidade e está mais associado à idade biológica do que à cronológica. Ela pode estar associada ao aumento da mortalidade em pacientes com doença cardiovascular e, na IC, é um indicador de pior prognóstico.2727 Dunlay SM, Park SJ, Joyce LD, Daly RC, Stulak JM, McNallan SM, et al. Frailty and outcomes after implantation of left ventricular assist device as destination therapy. J Heart Lung Transplant. 2014;33(4):359-65. doi: 10.1016/j.healun.2013.12.014.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.12...
A fragilidade é definida com três dos cinco critérios descritos na tabela 2.7.2828 Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al; Cardiovascular Health Study Collaborative Research Group. Frailty in older adults: evidence of a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56. PMID: 11253156.

Tabela 2.7
Definição de fragilidade

A avaliação de fragilidade pode ser considerada em todo candidato ao TxC, sendo ferramenta importante na avaliação prognóstica da sobrevida após o transplante.

B) Classificação INTERMACS

Outra forma de avaliar o prognóstico de pacientes com IC é pela classificação Interagency Registry for Mechanically Assisted Circulatory Support (INTERMACS). Embora não tenha sido criada para definir critérios para TxC, esta pode ser útil nas avaliações clínica e prognóstica, no momento de indicar terapias para IC avançada e/ou choque cardiogênico.2929 Stevenson LW, Pagani FD, Young JB, Jessup M, Miller L, Kormos RL, et al. INTERMACS Profiles of Advanced Heart Failure: the current picture. J Heart Lung Transplant. 2009;28(6):535-41. doi: 10.1016/j.healun.2009.02.015.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2009.02...
É dividida em sete categorias, sendo que os pacientes em estado crítico (INTERMACS 1 e 2) configuram situações em que o risco perioperatório para transplante é muito desfavorável3030 Barge-Caballero E, Segovia-Cubero J, Almenar-Bonet L, Gonzalez-Vilchez F, Villa-Arranz A, Delgado-Jimenez J, et al. Preoperative INTERMACS profiles determine postoperative outcomes in critically ill patients undergoing emergency heart transplantation: analysis of the Spanish National Heart Transplant Registry. Circ Heart Fail. 2013;6(4):763-72. doi: 10.1161/CIRCHEARTFAILURE.112.000237.
https://doi.org/10.1161/CIRCHEARTFAILURE...
(Tabela 2.8).

Tabela 2.8
Classificação Interagency Registry for Mechanically Assisted Circulatory Support (INTERMACS)

2.1.4.2. Critérios de Priorização

Os pacientes com maior probabilidade de morte na lista de espera para TxC têm prioridade para serem submetidos ao procedimento operatório. Nesta condição clínica, estão os pacientes que necessitam de assistência circulatória mecânica, suporte inotrópico ou ventilação mecânica3131 Renlund D, Taylor D, Kfoury A, Shaddy R. New UNOS rules: historical background and implications for transplantation management. United Network for Organ Sharing. J Heart Lung Transplant. 1999;18(11):1065-70. PMID: 10598729. (Tabela 2.9).

Tabela 2.9
Critérios estabelecidos, que atualmente indicam prioridade em lista de transplante cardíaco

Existem outras condições clínicas, entretanto, que também estão associadas a maiores morbidade e mortalidade em fila de transplante, e que, embora ainda não figurem entre as indicações clássicas de priorização, merecem discussão mais aprofundada. Dentre estas condições, destacam-se as cardiomiopatias restritivas, o uso de dispositivo de longa permanência e as arritmias incessantes.

A) Cardiomiopatias Restritivas

A limitada resposta terapêutica exibida por pacientes com cardiomiopatias restritivas tem suscitado a possibilidade de priorização em lista, desde que, além do diagnóstico etiológico, exista algum sintoma ou anormalidade fisiológica característico de doença avançada.

B) Dispositivos de Assistência Ventricular Mecânica de Longa Duração

Como consequência do número crescente de pacientes suportados por Dispositivos de Assistência Circulatória Mecânica (DACM) de longa duração, principalmente na modalidade ponte para transplante, e da progressiva melhora de sobrevida desta situação, os critérios de priorização em lista para pacientes com DACM têm sido bastante discutidos. Sugere-se que a priorização em indivíduos com DACM como ponte para transplante seja restrita àqueles com complicações, na impossibilidade de troca do dispositivo: deterioração clínica apesar do dispositivo; infecção intratável relacionada ao dispositivo; disfunção mecânica do dispositivo; eventos tromboembólicos; trombose do dispositivo com comprometimento hemodinâmico; e arritmias ventriculares recorrentes.3232 Quader MA, Wolfe LG, Kasirajan V. Heart transplantation outcomes in patients with continuous-flow left ventricular assist device-related complications. J Heart Lung Transplant. 2015;34(1):75-81. doi: 10.1016/j.healun.2014.07.015.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.07...

C) Arritmia Incessante

Pacientes com arritmias ventriculares incessantes e refratárias ao manejo farmacológico ou intervencionista devem ser considerados para priorização. Particularmente, pacientes portadores de Cardiodesfibrilador Implantável (CDI), recebendo choques repetidos e/ou aqueles com instabilidade hemodinâmica decorrente do quadro arrítmico, caracterizam situações de maior risco.3333 Mehra MR, Canter CE, Hannan MM, Semigran MJ, Uber PA, Baran DA, et al; International Society for Heart Lung Transplantation (ISHLT) Infectious Diseases Council; International Society for Heart Lung Transplantation (ISHLT) Pediatric Transplantation Council; International Society for Heart Lung Transplantation (ISHLT) Heart Failure and Transplantation Council. The 2016 International Society for Heart Lung Transplantation listing criteria for heart transplantation: a 10-year update. J Heart Lung Transplant. 2016;35(1):1-23. doi: 10.1016/j.healun.2015.10.023.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.10...

2.1.4.3. Manejo Clínico-hemodinâmico do Paciente em Fila de Transplante

A) Drogas Vasoativas para Manutenção do Receptor

As drogas vasodilatadoras para uso intravenoso IC disponíveis no Brasil são o nitroprussiato de sódio e a nitroglicerina. Em pacientes com baixo débito cardíaco, com ou sem congestão, o emprego de terapia inotrópica pode ser necessário para melhorar a perfusão tecidual e a preservação de função de órgãos vitais (Tabela 2.10).

Tabela 2.10
Uso de inotrópicos e vasodilatadores no manejo de pacientes em lista para transplante cardíaco

B) Dispositivos de Assistência Circulatória Mecânica

B.1) Tipos

Os dispositivos de assistência ventricular mecânica são classificados por tempo de permanência (curta ou longa), tipo de técnica de implante (paracorpóreo ou totalmente implantável) e, ainda, tipo de fluxo (pulsátil ou contínuo).

Os dispositivos de curta permanência (temporários) são utilizados no resgate hemodinâmico para se obter estabilidade clínica em pacientes que se apresentem em choque cardiogênico refratário (Tabela 2.11). Já os dispositivos de longa permanência (Tabela 2.12), são indicados em pacientes estáveis, com um planejamento estratégico em longo prazo.3434 Gilotra NA, Stevens GR. Temporary mechanical circulatory support: a review of the options, indications, and outcomes. Clin Med Insights Cardiol. 2014;8(Suppl 1):75-85. doi: 10.4137/CMC.S15718.
https://doi.org/10.4137/CMC.S15718...
,3535 Kirklin JK, Naftel DC, Pagani FD, Kormos RL, Stevenson LW, Blume ED, et al. Seventh INTERMACS annual report: 15,000 patients and counting. J Heart Lung Transplant. 2015;34(12):1495-504. doi: 10.1016/j.healun.2015.10.003.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.10...

Tabela 2.11
Uso de inotrópicos e vasodilatadores no manejo de pacientes em lista para transplante cardíaco
Tabela 2.12
Dispositivo de longa permanência disponíveis no Brasil

B.2) Critérios de Indicação

B.2.1) Ponte para Transplante Cardíaco

Situação em que os dispositivos podem oferecer suporte hemodinâmico e estabilidade clínica até a realização do transplante, no contexto da gravidade progressiva dos pacientes e pela indisponibilidade de realização do transplante em um curto prazo. O uso de DACM temporários nesta condição é inquietante, já que o tempo de espera na fila pode ultrapassar o tempo de duração do dispositivo.

B.2.2) Ponte para Candidatura

DACM temporários: situação de necessidade de suporte hemodinâmico imediato, devido ao alto risco de morte por falência cardíaca. No momento do implante, não é possível estabelecer se haverá reversão de disfunções orgânicas e, então, não se tem certeza da elegibilidade para o TxC (Tabela 12.13).

Tabela 2.13
Recomendações para dispositivos de assistência circulatória mecânica temporários como ponte para transplante

DACM de longa permanência: situação clínica proibitiva ao TxC, porém, se modificável, permite que o paciente torne-se candidato ao transplante (por exemplo: hipertensão pulmonar e neoplasias com potencial cura) (Tabelas 2.14 e 2.15).

Tabela 2.14
Recomendações para dispositivos de assistência circulatória mecânica de longa permanência como ponte para transplante
Tabela 2.15
Recomendações para dispositivos de assistência circulatória mecânica de longa permanência como ponte para candidatura

2.2. Doador

2.2.1. Avaliação do Candidato a Doador

A seleção do possível doador é feita seguindo-se determinados critérios de inclusão e exclusão (Tabela 2.16).

Tabela 2.16
Critérios para seleção do doador

2.2.1.1. Estratégias para Confirmação do Potencial Doador

Definir a qualidade do enxerto cardíaco a ser aceito para o transplante é uma tarefa que frequentemente transcende a experiência clínica da equipe transplantadora, pelo fato de, muitas vezes, existir uma tênue separação entre o enxerto “ideal” e o enxerto dito “marginal”, ou não utilizável. Por isto, escores de risco baseados em variáveis clínicas do potencial doador, capazes de predizer a sobrevida do receptor pós-procedimento, são ferramentas de fundamental importância na tomada de decisão.3737 Feldman A, Marcelino CA, Beneli Prado L, Fusco CC, de Araújo MN, Ayoub AC, et al. Reasons for refusing a donor heart for transplantation in Brazil. Clin Transplant. 2016;30(7):774-8. doi: 10.1111/ctr.12747.
https://doi.org/10.1111/ctr.12747...
O Heart Donor Score, por meio de análise regressiva multivariada, comprova que os fatores idade, causa do óbito, hipertensão, parada cardíaca, fração de ejeção do ventrículo esquerdo, função valvar, Hipertrofia Ventricular Esquerda (HVE), cinecoronariografia, nível sérico de sódio e dose de noradrenalina/dopamina e dobutamina estão relacionados com o descarte do enxerto ofertado. Posteriormente, de acordo com a pontuação obtida pela soma das variáveis descritas, o escore estratifica os doadores em baixo (≤ 16 pontos) e alto risco (> 16 pontos). As taxas de sobrevida em 3 anos foram de 81,5% e 70%, respectivamente, nos grupos de baixo e alto risco.3838 Smits JM, De Pauw M, de Vries E, Rahmel A, Meiser B, Laufer G, et al. Donor scoring system for heart transplantation and the impact on patient survival. J Heart Lung Transplant. 2012;31(4):387-97. doi: 10.1016/j.healun.2011.11.005.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.11...

2.2.1.2. Estratégias para Avaliação da Condição do Órgão

A) Idade

Doadores com mais de 50 anos de idade podem ser utilizados seletivamente em casos de receptores de alto risco.

B) Tamanho

No caso de um doador pequeno, é melhor correlacionar os tamanhos entre o doador e o receptor, baseando-se, principalmente, no índice de massa corporal ou na própria altura, ao invés de basear-se apenas no peso. Esta proporção corresponde a um valor entre 0,8-1,2.

C) Anormalidades Estruturais

Em geral, todos os potenciais doadores devem apresentar ecocardiograma para avaliação da função ventricular e anormalidades estruturais.

C.1) Hipertrofia Ventricular Esquerda

HVE leve (espessura da parede entre 11 e 13 mm pelo ecocardiograma) não impede o transplante, particularmente com curto tempo de isquemia. Se a HVE estiver presente em ambos os critérios, no ecocardiograma (> 13 mm) e no Eletrocardiograma (ECG), o transplante estará desaconselhado.

C.2) Anomalias Cardíacas Congênitas e Valvulares

A presença da maioria das anomalias congênitas e valvulares é contraindicação para o transplante. Em certos casos, entretanto, alguns “reparos” podem ser realizados no coração de um doador com insuficiência mitral ou tricúspide, leve ou moderada, ou outras anomalias valvulares discretas, como uma válvula aórtica bicúspide, porém funcionando normalmente.

D) Cateterismo Cardíaco e Doença Arterial Coronariana

As indicações conservadoras de cinecoronarioangiografia que são realizadas em doadores masculinos > 45 anos e mulheres > 50 anos podem ser mais flexíveis quando:

D.1) Doador Masculino de 35 a 45 Anos e Doador Feminino com Idade Entre 35 e 50 Anos: realizar angiografia se houver história de uso de cocaína ou três ou mais fatores de risco para Doença Arterial Coronariana (DAC), como hipertensão, diabetes, tabagismo, dislipidemia ou história familiar de DAC prematura.

D.2) Doador Masculino de 46 a 55 Anos e Doador Feminino com Idade Entre 51 e 55 Anos: recomenda-se angiografia. Entretanto, alguns destes doadores podem ser considerados mesmo que a angiografia não seja realizada e se um paciente de alto risco está à espera deste coração. A existência de fatores de risco do doador para DAC deve ser avaliada para tomar esta decisão.

D.3) Idade > 55 anos: angiografia realmente recomendada. Ocasionalmente, um doador poderá ser utilizado sem angiografia se houver um receptor de alto risco à espera deste coração, como no caso da necessidade de um transplante urgente, devido a arritmias incontroláveis ou piora hemodinâmica de um paciente sem opção de suporte mecânico. A presença de fatores de risco para DAC neste doador deve ser considerada.

Em pacientes com ecocardiograma tecnicamente adequado, a ventriculografia esquerda poderia ser evitada devido à nefrotoxicidade causada pela substância de contraste utilizada neste procedimento. Doadores com DAC leve podem ser considerados para receptores de alto risco.

E) Enzimas Cardíacas

Há evidências que limitam a relação entre a elevação dos níveis de troponina e a falência precoce do enxerto. Níveis normais de enzimas cardíacas em doadores com disfunção do ventrículo esquerdo contrariam a possibilidade de lesão miocárdica recente. Porém, muitos doadores cardíacos têm enzimas cardíacas elevadas sem evidência de disfunção ventricular pelos critérios de imagem ou hemodinâmicos. Por esta razão, enzimas cardíacas elevadas vistas isoladamente de outros fatores do doador não justificam o não aproveitamento deste coração.3939 Braulio R, Sanches MD, Teixeira Junior AL, Costa PH, Moreira Mda C, Rocha MA et al. Associated clinical and laboratory markers of donor on allograft function after heart transplant. Braz J Cardiovasc Surg. 2016;31(2):89-97. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1678-9741.20160025.
http://dx.doi.org/10.5935/1678-9741.2016...

F) Tempo de Isquemia Prolongado

O tempo máximo de isquemia geralmente aceito em um TxC é de aproximadamente 4 horas. Se conseguíssemos obter um tempo de isquemia maior aceitável, na medida em que pudéssemos fazer uma melhor preservação do coração doado, isto permitiria uma expansão do número de doadores, assim como melhoraria a distribuição destes órgãos entre as diferentes centrais de transplante, sendo isto muito importante em países como o nosso, de extensão territorial praticamente continental e com distâncias muito grandes a transpor. No entanto, isquemias prolongadas, usando técnicas correntes de preservação dos órgãos, têm sido apresentadas como fator de risco independente para falência precoce do enxerto e morte. Ainda, um tempo de isquemia aumentado potencializa o peso de outros fatores de risco, como, por exemplo, doadores idosos ou doador com suporte inotrópico, resultando em diminuição da sobrevida pós-transplante.4040 Smith JW, O'Brien KD, Dardas T, Pal JD, Fishbein DP, Levy WC, et al. Systematic donor selection review process improves cardiac transplant volumes and outcomes. J Thorac Cardiovasc Surg. 2016;151(1):238-43. doi: 10.1016/j.jtcvs.2015.08.081.
https://doi.org/10.1016/j.jtcvs.2015.08....

G) Doadores Limítrofes (Marginais)

A definição de doadores limítrofes inclui um grupo heterogêneo de doadores que tenham apresentado aspectos sistêmicos ou órgão-específicos previamente considerados como uma contraindicação ao transplante. Um consenso do Reino Unido sugere expansão dos critérios de seleção do doador não somente para receptores clinicamente estáveis, como para aqueles em situação crítica. Normalmente, corações de doadores com infecção sistêmica, hipotensão prolongada, história de parada cardíaca, sobrecarga ventricular esquerda ao ECG, necessidade de doses altas de catecolaminas como suporte e evidência de função ventricular esquerda moderadamente deprimida têm sido usados com sucesso. Doadores com DAC documentada angiograficamente e com função ventricular preservada têm sido também usados, geralmente combinando cirurgia de revascularização do miocárdio ou angioplastia no pós-operatório imediato. Um número isolado de estudos também descreve o sucesso do TxC com doadores que morreram por envenenamento (monóxido de carbono, cianureto, metanol ou overdose de paracetamol).4141 Kilic A, Emani S, Sai-Sudhakar CB, Higgins RS, Whitson BA. Donor selection in heart transplantation. J Thorac Dis. 2014;6(8):1097-104. doi: 10.3978/j.issn.2072-1439.2014.03.23.
https://doi.org/10.3978/j.issn.2072-1439...
,4242 Samsky MD, Patel CB, Owen A, Schulte PJ, Jentzer J, Rosenberg PB, et al. Ten-year experience with extended criteria cardiac transplantation. Circ Heart Fail. 2013;6(6):1230-8. doi: 10.1161/CIRCHEARTFAILURE.113.000296.
https://doi.org/10.1161/CIRCHEARTFAILURE...

2.2.2. Cuidados ao Doador

2.2.2.1. Suporte Respiratório, Hemodinâmico e Drogas Vasoativas

Uma vez que a avaliação inicial tenha sido realizada e a doação considerada, o provável doador deve ter todos os cuidados de um paciente instável em unidade de tratamento intensivo (Figura 2.3).4343 Nelson HM, Glazier AK, Delmonico FL. Changing patterns of organ donation: brain dead donors are not being lost by donation after circulatory death. Transplantation. 2016;100(2):446-50. doi: 10.1097/TP.0000000000000954.
https://doi.org/10.1097/TP.0000000000000...
,4444 Pilcher D, Gladkis L, Arcia B, Bailey M, Cook D, Cass Y, et al. Estimating the number of organ donors in Australian Hospitals--implications for monitoring organ donation practices. Transplantation. 2015;99(10):2203-9. doi: 10.1097/TP.0000000000000716.
https://doi.org/10.1097/TP.0000000000000...

Figura 2.3
Manejo do candidato a doador. PVC: pressão venosa central; pO2: pressão parcial de oxigênio; StO2: saturação de oxigênio; Ht: hematócrito; Hb: hemoglobina; PAM: pressão arterial média; HVE: Hipertrofia Ventricular Esquerda; FEVE: fração de ejeção de ventrículo direito; PCP: pressão capilar pulmonar. Fonte: Nelson HM et al.4343 Nelson HM, Glazier AK, Delmonico FL. Changing patterns of organ donation: brain dead donors are not being lost by donation after circulatory death. Transplantation. 2016;100(2):446-50. doi: 10.1097/TP.0000000000000954.
https://doi.org/10.1097/TP.0000000000000...

Alguns dos aspectos de maior importância são:

  • Administração de metilprednisolona por via intravenosa 15 mg/kg em dose única.4545 Pinsard M, Ragot S, Mertes PM, Bleichner JP, Zitouni S, Cook F, et al. Interest of low-dose hydrocortisone therapy during brain-dead organ donor resuscitation: the CORTICOME study. Crit Care. 2014;18(4):R158. doi: 10.1186/cc13997.
    https://doi.org/10.1186/cc13997...

  • Controle da hipotermia, com uso de colchão térmico; fluidos endovenosos aquecidos à temperatura ao redor de 26 e 28ºC; e pelo aquecimento do ar inspirado do ventilador (32 e 35°C).

  • Ajuste da volemia: manter PVC entre 6 e12 mmHg.

  • Corrigir alterações respiratórias: hipoxemia (ideal pressão parcial de oxigênio − pO2 > 80 mmHg e Saturação de Oxigênio (SpO2) > 95%); hipercarbia (ideal pressão parcial de dióxido de carbono − pCO2 30 a 35 mmHg).

  • Corrigir alterações metabólicas e hematócrito: distúrbios eletrolíticos e acidobásicos; hiperglicemia; corrigir anemia com concentrado de hemácias (ideal hematócritos > 30% e hemoglobina > 10 g/dL).

  • Controle do diabetes insipidus, que ocorre devido à perda da regulação da pituitária, sendo necessária a reposição de Hormônio Antidiurético (ADH), clinicamente caracterizado por poliúria (> 7 mL/kg/hora); desidratação associada à perda de água livre (densidade urinária < 1.005); hipernatremia (sódio > 150 mEq/L); hiperosmolaridade (osmoralidade sérica > 310 mosmol/L). O tratamento para esta situação está exposto na tabela 2.17.

    Tabela 2.17
    Tratamento do diabetes insipidus no doador
  • Reposição hormonal: para T4, reposição via sonda enteral;4646 Joseph B, Aziz H, Pandit V, Kulvatunyou N, Sadoun M, Tang A, et al. Levothyroxine therapy before brain death declaration increases the number of solid organ donations. J Trauma Acute Care Surg. 2014;76(5):1301-5. doi: 10.1097/TA.0000000000000184.
    https://doi.org/10.1097/TA.0000000000000...
    para arginina vasopressina, 1-U in bolus e, então, em infusão contínua de 0,5 a 4 U/hora, titulando para uma resistência vascular sistêmica de 800 a 1.200 dyne.s-1.cm-5; metilprednisolona (15 mg/kg em bólus); para insulina, 1 U/hora mínimo, titulando para manter a glicemia entre 120 e 180 mg/dL.4747 Novitzky D, Mi Z, Videla LA, Collins JF, Cooper DK. Hormone resuscitation therapy for brain-dead donors - is insulin beneficial or detrimental? Clin Transplant. 2016;30(7):754-9. doi: 10.1111/ctr.12742.
    https://doi.org/10.1111/ctr.12742...

  • Manutenção hemodinâmica agressiva:4848 Citerio G, Cypel M, Dobb GJ, Dominguez-Gil B, Frontera JA, Greer DM, et al. Organ donation in adults: a critical care perspective. Intensive Care Med. 2016;42(3):305-15. doi: 10.1007/s00134-015-4191-5.
    https://doi.org/10.1007/s00134-015-4191-...
    iniciar simultaneamente com a reanimação hormonal; colocação do cateter arterial pulmonar em situações especiais; a duração da terapia é de 2 horas; ajuste de fluidos, inotrópicos e vasopressores a cada 15 minutos são baseados em uma série de medidas hemodinâmicas que minimizam o uso de alfa-agonistas, para conseguir os seguintes objetivos: Pressão Arterial Média (PAM) > 60 mmHg; PVC de 6 a 12 mmHg; PCP em cunha 8 a 12 mmHg; resistência vascular sistêmica 800 a 1.200 dyne.s-1. cm-5; índice cardíaco > 2,4 L.min-1. m-2.

2.2.2.2. Controle Infeccioso

É executado seguindo os seguintes passos: avaliar quanto à procedência de regiões com doenças infecciosas endêmicas (malária, esquistossomose e doença de Chagas); avaliar a presença de infecção ativa no momento do transplante, coletando hemoculturas no momento da retirada do órgão; avaliar a autópsia (infecção ou neoplasia oculta); fazer rastreamento sorológico; realizar posterior avaliação quanto à aceitação ou rejeição do enxerto; determinar condutas de acordo com o resultado (avaliar urgência, transmissão de infecção documentada); e utilizar antibiótico de amplo espectro.

Atenção: receptores negativos para Citomegalovírus (CMV), toxoplasmose e Epstein-Barr virus (EBV) deverão preferencialmente receber órgão de doador com sorologia conhecida para estes agentes infecciosos.

3. Perioperatório em Transplante Cardíaco

3.1. Captação

3.1.1. Atuação das Organizações de Procura de Órgãos e Alocação de Órgãos

Os transplantes no Brasil tiveram início na década de 1960, porém só foram regularizados em 1997, com a lei 9.434/19974949 Brasil. Lei n. 9434 de 04 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos e tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. [Acesso em 2017 abril 14]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9434.htm.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/lei...
e o decreto 2.268/1997,5050 Brasil. Decreto n. 2268 de 30 de junho de 1997. Regulamenta a Lei n. 9434 de 04 de fevereiro de 1997 que dispõe sobre a remoção de órgãos e tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. [Acesso em 2017 abril 14]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1997/d2268.htm.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/dec...
que regulamentaram esta atividade no país e criaram o Sistema Nacional de Transplantes (SNT).

Em 2009, a portaria 2.600,5151 Brasil. Ministério da Saúde. Portaria 2600 de 21 de outubro de 2009. Aprova regulamento técnico do Sistema Nacional de Transplantes. [Acesso em 2017 abril 14]. Disponível em: http://sbn.org.br/app/uploads/portaria2600.pdf.
http://sbn.org.br/app/uploads/portaria26...
a fim de atualizar, padronizar e aperfeiçoar o funcionamento do SNT, aprovou o detalhamento de seus componentes, conforme demonstrado na Figura 3.1.5252 Barsil. Planalto. Presidência da República [Internet]. [Acesso em 2017 abr 14. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10211.htm.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/lei...
A portaria altera dispositivos da lei 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que “dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento”.

Figura 3.1
Estrutura e funcionamento do Sistema Nacional de Transplantes (SNT). CGSNT: Coordenadoria Geral do Sistema Nacional de Transplantes; CNT: Central Nacional de Transplantes; CNCDO: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos; OPO: Organizações de Procura de Órgãos; CIHDOTT: Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e tecido para Transplantes.5252 Barsil. Planalto. Presidência da República [Internet]. [Acesso em 2017 abr 14. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10211.htm.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/lei...

A coordenação logística e a distribuição de órgãos e tecidos para transplantes são de responsabilidade da Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos (CNCDO), sendo realizadas em âmbito nacional pela Central Nacional de Transplantes (CNT) e, em âmbito estadual, pelas Secretarias de Saúde dos Estados/Secretaria Estadual de Transplantes.5353 Brasil. Ministério da Saúde. Saúde Legis. [Internet]. [Acesso em 2017 abr 14]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt2600_21_10_2009.html.
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis...
As Organizações de Procura de Órgãos (OPO) fazem parte deste processo de coordenação, e sua criação depende das CNCDO. Um dos objetivos de sua criação foi a desproporção entre o suprimento e a demanda de órgãos transplantados no país, que pode ser aliviada pela melhora da qualidade do manejo clínico de potenciais doadores.5454 Westphal GA. A simple bedside approach to therapeutic goals achievement during the management of deceased organ donors--An adapted version of the "VIP" approach. Clin Transplant. 2016;30(2):138-44. doi: 10.1111/ctr.12667.
https://doi.org/10.1111/ctr.12667...

As OPO atuam por região, em parceria com as Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), e têm como função a educação continuada na área da doação de órgãos, o auxílio aos hospitais para a identificação dos potencias doadores, o auxílio no processo de diagnóstico de morte encefálica, bem como na conclusão do processo de doação e transplante, sendo constituídas por um ou mais hospitais de sua região de atuação. No Brasil, a maioria das OPO está vinculada originalmente a hospitais-escola e recebe financiamento do Ministério da Saúde.

As CIHDOTT objetivam melhorar a identificação e a manutenção de potenciais doadores. Também têm caráter educativo e se articulam com as OPO, que, por sua vez, articulam-se com as CNCDO durante todo o processo de doação e transplante (Brasil. Portaria GM/MS n. 2.600, de 21 de outubro de 2009. Aprova o Regulamento Técnico do Sistema Nacional de Transplantes. Diário Oficial da União 2009: bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt2600_21_10_2009.html). A melhora em toda a logística da captação e distribuição de órgãos foi observada com a criação das CIHDOTT.5555 Arcanjo RA, Oliveira LC, Silva DD. Reflections about intra-hospital commission about organs and tissues donation for transplants. Rev Bioet. 2013;21(1):119-25. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1983-80422013000100014.
http://dx.doi.org/10.1590/S1983-80422013...

Com esta organização, há maior agilidade e segurança na abordagem familiar, aumentando o número de doações. Depois de obter o consentimento familiar, a OPO articula-se com o hospital e a CNCDO, a fim de organizar a captação dos órgãos e/ou tecidos a serem doados. São coletados exames e transmitidas informações clínicas, laboratoriais e antropométricas referentes ao paciente à CNCDO, para que esta realize a distribuição dos órgãos às equipes de transplante (Figura 3.2).

Figura 3.2
Fluxograma de transplante e doação de órgãos. ME: morte encefálica; OPO: Organizações de Procura de Órgãos; CIHDOTT: Comissões Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e tecido para Transplantes; CNCDO: Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos.

3.1.2. Captação à Distância

Para o coração, há consenso científico sugerindo que o tempo de isquemia fria não deve ultrapassar 4 horas, devendo existir sincronismo entre a preparação do doador e do receptor.5656 Ackemann J, Gross W, Mory M, Schaefer M, Gebhard MM. Celsior versus custodiol: early postischemic recovery after cardioplegia and ischemia at 5 degrees C. Ann Thorac Surg. 2002;74(2):522-9. PMID: 12173839. Existem evidências que correlacionam a disfunção do enxerto ao tempo de isquemia ao qual o órgão foi submetido.5757 Pickering JG, Boughner DR. Fibrosis in the transplanted heart and its relation to donor ischemic time. Assessment with polarized light microscopy and digital image analysis. Circulation. 1990;81(3):949-58. PMID: 2306841.

Captações com tempos de isquemia maiores que 4 horas ocorrem em aproximadamente 10% das captações realizadas na Europa, 20% das captações realizadas na América do Norte e 40% das captações em outros centros (América Central, América do Sul, África, Ásia e Oceania),5858 Benden C, Edwards LB, Kucheryavaya AY, Christie JD, Dipchand AI, Dobbels F, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation. The Registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: 29th adult lung and heart-lung transplant report-2012. J Heart Lung Transplant. 2012;31(10):1087-95. doi: 10.1016/j.healun.2012.08.005.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2012.08...
o que justifica as novas evidências favoráveis à aceitação de órgãos submetidos a tempos de anóxia prolongados, sem prejuízo ao resultado do transplante, principalmente no caso de receptores limítrofes, priorizados ou na população pediátrica.5959 Atik FA, Couto CF, Tirado FP, Moraes CS, Chaves RB, Vieira NW, et al. Addition of long-distance heart procurement promotes changes in heart transplant waiting list status. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2014;29(3):344-9. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1678-9741.20140046.
http://dx.doi.org/10.5935/1678-9741.2014...

60 Pfugfelder PW, Singh NR, McKenzie FN, Menkis AH, Novick RJ, Kostuk WJ. Extending cardiac allograft ischemic time and donor age: effect on survival and long-term cardiac function. J Heart Lung Transplant. 1991;10(3):394-400. PMID: 1854767.
-6161 Scheule AM, Zimmerman GJ, Johnston JK, Razzouk AJ, Gundry SR, Bailey LL. Duration of graft cold ischemia does not affect outcomes in pediatric heart transplant recipients. Circulation. 2002;106(12 Suppl 1): I163-7. PMID: 12354727.

Não existe definição precisa de captação à distância. Para fins acadêmicos, caracteriza-se captação à distância como aquela realizada fora da região metropolitana do centro transplantador e/ou que envolva tempo presumível de isquemia fria ≥ 2 horas, e/ou distâncias maiores que ±100 km entre doador e receptor, independente da logística de transporte requerida.

Baseado na distância entre o doador e o receptor, a seguinte logística pode ser utilizada:6262 Lynch RJ, Mathur AK, Hundley JC, Kubus J, Pietroski RE, Mattice BJ, et al. Improving organ procurement practices in Michigan. Am J Transplant. 2009;9(10):2416-23. doi: 10.1111/j.1600-6143.2009.02784.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2009...

  • Distância < 100 km - transporte terrestre/aéreo (helicóptero).

  • Distância entre 100 e 190 km - transporte terrestre/aéreo (helicóptero).

  • Distância > 190 km - transporte terrestre/aéreo (avião).

Pelo exposto, faz-se necessária a presença de um coordenador do transplante (podendo ser o cirurgião responsável pela captação do órgão) atuando como gestor das ações pertinentes à logística de transporte e deslocamento em todas as etapas da captação.6363 Bacal F, Souza-Neto JD, Fiorelli AI, Mejia J, Marcondes-Braga FG, Mangini S, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. [II Brazilian Guidelines for Cardiac Transplantation]. Arq Bras Cardiol. 2010;94(1 Suppl):e16-76. PMID: 20625634.

Recomenda-se transporte dos instrumentais e materiais descartáveis para a realização da captação à distância, com o objetivo de suprimir toda e qualquer necessidade do hospital de destino, onde, potencialmente, não existam rotinas estabelecidas para cirurgias de captação (Tabela 3.1).

Tabela 3.1
Recomendações para captação de órgãos

3.1.3. Técnica de Retirada do Enxerto e Peculiaridades na Retirada de Mais de Um Órgão

O doador de coração também pode ofertar pulmões, fígado, rins, ossos, córneas, pâncreas, intestino, vasos, pele e face. No TxC, o preparo do receptor é concomitante ao do doador, minimizando o tempo de isquemia.6464 Camp PC Jr. Heart transplantation: donor operation for heart and lung transplantation. Operative Techniques in Thoracic and Cardiovascular Surgery. 2010;15(2):125-37. doi:10.1053/j.optechstcvs.2010.04.003.
https://doi.org/10.1053/j.optechstcvs.20...

Após a heparinização plena, a aorta é clampeada na transição diafragmática e segue-se a descompressão do coração, pela abertura da veia pulmonar superior direita ou esquerda, e seccionando-se a cava inferior ou superior. A aorta ascendente é clampeada, e a solução cardioplégica, infundida. Prossegue-se a cardiectomia com a secção dos vasos o mais distalmente possível em relação ao coração, objetivando cotos vasculares longos. Quando há remoção concomitante dos pulmões, o remanescente de átrio esquerdo e artéria pulmonar são reduzidos. Nesta situação, deve-se ter cautela na escolha das técnicas de implante.6464 Camp PC Jr. Heart transplantation: donor operation for heart and lung transplantation. Operative Techniques in Thoracic and Cardiovascular Surgery. 2010;15(2):125-37. doi:10.1053/j.optechstcvs.2010.04.003.
https://doi.org/10.1053/j.optechstcvs.20...

3.1.4. Solução de Preservação e Novas Técnicas de Preservação de Órgãos

A hipotermia contínua e o uso de soluções cardioplégicas são os métodos ideais para a preservação do enxerto cardíaco.6565 Jahania MS, Sanchez JA, Narayan P, Lasley RD, Mentzer RM Jr. Heart preservation for transplantation: principles and strategies. Ann Thorac Surg. 1999;68(5):1983-7. PMID: 10585116.

São princípios estabelecidos para uma solução de preservação de órgãos: redução da atividade metabólica em hipotermia, manutenção das condições físicas e bioquímicas do meio de preservação, e modulação da resposta de reperfusão. As soluções cardioplégicas são classificadas em extracelulares ou intracelulares, conforme a concentração de sódio em sua composição, maior ou menor que 70 mEq/L, respectivamente. Não há evidências que confirmem a superioridade de um ou outro tipo de solução cardioplégica, no TxC.6666 Latchana N, Peck JR, Whitson B, Black SM. Preservation solutions for cardiac and pulmonary donor grafts: a review of the current literature. J Thorac Dis. 2014;6(8):1143-9. doi: 10.3978/j.issn.2072-1439.2014.05.14. Erratum in: J Thorac Dis. 2014;6(9):E207-8.
https://doi.org/10.3978/j.issn.2072-1439...

67 Wildhirt SM, Weis M, Schulze C, Conrad N, Rieder G, Enders G, et al. Effects of Celsior and University of Wisconsin preservation solutions on hemodynamics and endothelial function after cardiac transplantation in humans: a single-center, prospective, randomized trial. Transpl Int. 2000;13 Suppl 1:S203-11. PMID: 11111997.
-6868 Michel P, Vial R, Rodriguez C, Ferrera R. A comparative study of the most widely used solutions for cardiac graft preservation during hypothermia. J Heart Lung Transplant. 2002;21(9):1030-9. PMID: 12231375.

Nenhuma técnica provou ser eficaz em proteger um órgão por períodos superiores a 4 a 6 horas. Entretanto, há situações em que a isquemia pode ser tolerada acima deste limite, principalmente quando existem fatores favoráveis como idade do doador, baixa dose de droga inotrópica para manutenção hemodinâmica, função cardíaca preservada e exames laboratoriais com bons resultados.

Apesar da existência de modelos comerciais para captação ex-vivo à distância, e de órgãos em condições limítrofes para doação, seu emprego ainda não vem sendo utilizado por motivos de custos e disponibilidade.6969 Leprince P, Popov AF, Simon AR, Benk C, Siepe M. Ex vivo perfusion of the heart with the use of the Organ Care System. Eur J Cardiothorac Surg. 2016;49(5):1318-20. doi: 10.1093/ejcts/ezw075.
https://doi.org/10.1093/ejcts/ezw075...

A tabela 3.2 resume as principais recomendações para o uso de soluções de preservação no processo de captação.

Tabela 3.2
Recomendações para o uso de soluções de preservação

3.2. Aspectos Cirúrgicos

A cardiectomia do receptor inicia-se com o coração do doador na sala operatória e é realizada em consonância com a opção técnica de implante, especialmente nas reoperações.

A técnica clássica7070 Ranjit J, Liao K. Orthotopic heart transplantation. Operative Techniques in Thoracic and Cardiovascular Surgery. 2010;15(2):138-46. doi: 10.1053/j.optechstcvs.2010.04.001
https://doi.org/10.1053/j.optechstcvs.20...

71 Barnard CN. The operation. A human cardiac transplant: an interim report of a successful operation performed at Groote Schuur Hospital, Cape Town. S Afr Med J. 1967;41(48):1271-4. PMID: 4170370.
-7272 Hunt SA. Taking heart--cardiac transplantation past, present and future. N Engl J Med. 2006;355(3):231-5. doi: 10.1056/NEJMp068048. Erratum in: N Engl J Med. 2006;355(9):967.
https://doi.org/10.1056/NEJMp068048...
pressupõe a realização de quatro anastomoses: átrio esquerdo e direito, artéria pulmonar e aorta. Em virtude da maior incidência de arritmias atriais e insuficiência tricúspide, a técnica bicaval7171 Barnard CN. The operation. A human cardiac transplant: an interim report of a successful operation performed at Groote Schuur Hospital, Cape Town. S Afr Med J. 1967;41(48):1271-4. PMID: 4170370.,7272 Hunt SA. Taking heart--cardiac transplantation past, present and future. N Engl J Med. 2006;355(3):231-5. doi: 10.1056/NEJMp068048. Erratum in: N Engl J Med. 2006;355(9):967.
https://doi.org/10.1056/NEJMp068048...
tornou-se a mais utilizada. A sequência das anastomoses pode variar, dependendo do tempo de isquemia.

As abordagens bipulmonar e de Yacoub devem ser consideradas quando há trombose ou calcificação do átrio esquerdo e neoplasia cardíaca. Nestas opções, há mínimo remanescente do coração doente. O transplante heterotópico7171 Barnard CN. The operation. A human cardiac transplant: an interim report of a successful operation performed at Groote Schuur Hospital, Cape Town. S Afr Med J. 1967;41(48):1271-4. PMID: 4170370.,7272 Hunt SA. Taking heart--cardiac transplantation past, present and future. N Engl J Med. 2006;355(3):231-5. doi: 10.1056/NEJMp068048. Erratum in: N Engl J Med. 2006;355(9):967.
https://doi.org/10.1056/NEJMp068048...
tem indicação restrita para os corações provenientes de doadores pequenos e receptores com hipertensão pulmonar acentuada.

3.3. Aspectos Anestésicos e Monitoração Perioperatória

3.3.1. Suporte Hemodinâmico

A monitoração básica necessária é similar àquela de qualquer cirurgia cardíaca: ECG com cinco derivações, pressão arterial invasiva, oxímetro de pulso, capnógrafo, PVC, débito urinário e temperatura nasofaríngea.7373 Smith JA, Dunning JJ, McNeil K, Cave M, Large SR, Wallwork J. Post-operative management of the heart transplant patient. Clin Intensive Care.1994;5(4):180-5. PMID: 10150544.

Não existem estudos que justifiquem o uso rotineiro do CAP no TxC, apesar de sua vasta utilização nos serviços transplantadores, principalmente no manejo do pós-operatório imediato. O CAP está indicado no manejo perioperatório de pacientes com Hipertensão Pulmonar (HP), síndrome vasoplégica, Disfunção Primária do Enxerto (DPE) ou como monitor de resgate para pacientes em que falharam as medidas de suporte hemodinâmico de rotina.7373 Smith JA, Dunning JJ, McNeil K, Cave M, Large SR, Wallwork J. Post-operative management of the heart transplant patient. Clin Intensive Care.1994;5(4):180-5. PMID: 10150544.

74 Ramakrishna H, Jaroszewski DE, Arabia FA. Adult cardiac transplantation: a review of perioperative management Part-I. Ann Card Anaesth. 2009;12(1):71-8. PMID: 19136760.
-7575 Ramakrishna H, Jaroszewski DE, Arabia FA. Adult cardiac transplantation: a review of perioperative management (part-II). Ann Card Anaesth. 2009;12(2):155-65. doi: 10.4103/0971-9784.53441.
https://doi.org/10.4103/0971-9784.53441...

Tanto o manejo volêmico quanto o diagnóstico preciso do status hemodinâmico do paciente submetido ao TxC são desafios do perioperatório. Diante desta situação, tanto o risco de hipovolemia quanto a hipervolemia podem levar o paciente à queda do débito cardíaco e à piora da perfusão sistêmica. Monitorização de variáveis dinâmicas (Delta PP e variação de volume sistólico) são superiores às estáticas (PVC, DC e POAP). Quanto mais grave for o paciente, mais refinada deve ser a monitorização e cuidadosa a administração de fluidos no transoperatório.

Não há alvo de PAM padrão, mas a queda de 20% da PAM ou < 60% por tempo > 30 minutos aumenta a mortalidade em pacientes cirúrgicos.7474 Ramakrishna H, Jaroszewski DE, Arabia FA. Adult cardiac transplantation: a review of perioperative management Part-I. Ann Card Anaesth. 2009;12(1):71-8. PMID: 19136760.,7575 Ramakrishna H, Jaroszewski DE, Arabia FA. Adult cardiac transplantation: a review of perioperative management (part-II). Ann Card Anaesth. 2009;12(2):155-65. doi: 10.4103/0971-9784.53441.
https://doi.org/10.4103/0971-9784.53441...

Pacientes submetidos à cirurgia cardíaca são mais propensos a flutuações glicêmicas, mesmo na ausência de diabetes previamente. A meta glicêmica é < 180 mg/dL, com impacto em morbimortalidade.7676 Jacobi J, Bircher N, Krinsley J, Agus M, Braithwaite SS, Deutschman C, et al. Guidelines for the use of an insulin infusion for the management of hyperglycemia in critically ill patients. Crit Care Med. 2012;40(12):3251-76. doi: 10.1097/CCM.0b013e3182653269.
https://doi.org/10.1097/CCM.0b013e318265...

Outra variável que deve ser monitorizada (e servir como meta no perioperatório) é o clareamento do lactato. Mais que 70% dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca apresentam hiperlactatemia, sendo necessárias 6 a 12 horas para que a otimização terapêutica reduza seus níveis. Valores mantidos acima de 4,4 mmol/L e que persistem por mais de 30 horas no pós-operatório estão associados à piora da mortalidade.7777 Kogan A, Preisman S, Bar A, Sternik L, Lavee J, Malachy A, et al. The Impact of hyperlactatemia on postoperative outcome after adult cardiac surgery. J Anesth. 2012;26(2):174-8. doi: 10.1007/s00540-011-1287-0.
https://doi.org/10.1007/s00540-011-1287-...

78 Longrois D, Hoeft A, De Hert S. 2014 European Society of Cardiology/European Society of Anaesthesiology guidelines on non-cardiac surgery: cardiovascular assessment and management: a short explanatory statement from the European Society of Anaesthesiology members who participated in the European Task Force. Eur J Anaesthesiol. 2014;31(10):513-6. doi: 10.1097/EJA.0000000000000155.
https://doi.org/10.1097/EJA.000000000000...

79 Cecconi M, Corredor C, Arulkumaran N, Abuella G, Ball J, Grounds RM, et al. Clinical review: Goal-directed therapy-what is the evidence in surgical patients? The effect on different risk groups. Crit Care. 2013;17(2):209. doi: 10.1186/cc11823.
https://doi.org/10.1186/cc11823...
-8080 Grocott MP, Dushianthan A, Hamilton MA, Mythen MG, Harrison D, Rowan K; Optimisation Systematic Review Steering Group. Perioperative increase in global blood flow to explicit defined goals and outcomes after surgery: a Cochrane Systematic Review. Br J Anaesth. 2013;111(4):535-48. doi: 10.1093/bja/aet155.
https://doi.org/10.1093/bja/aet155...

São alvos hemodinâmicos a serem obtidos no pós-operatório imediato: PAM ≥ 65 mmHg; índice cardíaco > 2,8 L/minuto/m2; PVC ≤ 12 mmHg; PCP de 12 mmHg; Saturação Venosa Central (SVO2) > 65%; frequência cardíaca > 100 bpm; e diurese ≥ 0,5 mL/kg/hora.

3.3.1.1. Ventilação Mecânica Durante o Procedimento Cirúrgico

A pré-oxigenação com Fração Inspirada de Oxigênio (FiO2) ao redor de 100% visa aumentar a reserva de oxigênio e diminuir o risco de hipoxemia.8181 Smetana GW, Lawrence VA, Cornell JE; American College of Physicians. Preoperative pulmonary risk stratification for noncardiothoracic surgery: Systematic review for the American College of Physicians. Ann Intern Med. 2006;144(8):581-95. PMID: 16618956.

A utilização da Ventilação Mecânica Não Invasiva (VNI) durante a indução anestésica é recomendada em pacientes com redução da complacência abdominal e naqueles em que é necessária a utilização de FiO2 de 100% para pré-oxigenação, sendo capaz de prevenir a formação de atelectasias em pacientes com redução da complacência abdominal.8282 Canet J, Gallart L. Predicting postoperative pulmonary complications in the general population. Curr Opin Anaesthesiol. 2013;26(2):107-15. doi: 10.1097/ACO.0b013e32835e8acd.
https://doi.org/10.1097/ACO.0b013e32835e...
,8383 Hedenstierna G. Oxygen and anesthesia: what lung do we deliver to the post-operative ward? Acta Anaesthesiol Scand. 2012;56(6):675-85. doi: 10.1111/j.1399-6576.2012.02689.x.
https://doi.org/10.1111/j.1399-6576.2012...

Quanto aos cuidados no intraoperatório, não existe benefício comprovado de um modo ventilatório em detrimento de outro. Recomenda-se o emprego de ventilação mecânica com volume corrente de 6 mL/kg de peso predito. Diversos estudos em diversos cenários extrapolados (cirurgia abdominal, torácica e cardíaca) demonstraram o benefício da utilização de baixo volume corrente durante cirurgia. A utilização de manobras de recrutamento alveolar após o tempo cirúrgico principal para reverter colapso alveolar e melhorar a oxigenação, a utilização da mais baixa FiO2 capaz de manter a SpO2 ao redor de 96 a 98% e o controle da frequência respiratória visando manter PaCO2 entre 38 e 43 mmHg [Concentração de CO2 no ar exalado (ETCO2) ao redor de 35 a 40 mmHg[ são preconizados.8484 Heimberg C, Winterhalter M, Strüber M, Piepenbrock S, Bund M. Pressure-controlled versus volume-controlled one-lung ventilation for MIDCAB. Thorac Cardiovasc Surg. 2006;54(8):516-20. doi: 10.1055/s-2006-924413.
https://doi.org/10.1055/s-2006-924413...

85 Hemmes SN, Serpa Neto A, Schultz MJ. Intraoperative ventilatory strategies to prevent postoperative pulmonary complications: a meta-analysis. Curr Opin Anaesthesiol. 2013;26(2):126-33. doi: 10.1097/ACO.0b013e32835e1242.
https://doi.org/10.1097/ACO.0b013e32835e...

86 Serpa Neto A, Cardoso SO, Manetta JA, Pereira VG, Espósito DC, Pasqualucci Mde O, et al. Association between use of lung-protective ventilation with lower tidal volumes and clinical outcomes among patients without acute respiratory distress syndrome: a meta-analysis. JAMA. 2012;308(16):1651-9. doi: 10.1001/jama.2012.13730.
https://doi.org/10.1001/jama.2012.13730...

87 Futier E, Constantin JM, Paugam-Burtz C, Pascal J, Eurin M, Neuschwander A, et al; IMPROVE Study Group. A trial of intraoperative low-tidal-volume ventilation in abdominal surgery. N Engl J Med. 2013;369(5):428-37. doi: 10.1056/NEJMoa1301082.
https://doi.org/10.1056/NEJMoa1301082...

88 Unzueta C, Tusman G, Suarez-Sipmann F, Böhm S, Moral V. Alveolar recruitment improves ventilation during thoracic surgery: a randomized controlled trial. Br J Anaesth. 2012;108(3):517-24. doi: 10.1093/bja/aer415.
https://doi.org/10.1093/bja/aer415...
-8989 Neligan PJ. Postoperative noninvasive ventilation. Anesthesiol Clin. 2012;30(3):495-511. doi: 10.1016/j.anclin.2012.07.002.
https://doi.org/10.1016/j.anclin.2012.07...

Deve-se tentar a retirada da ventilação mecânica no pós-operatório de modo precoce, quando o paciente se apresentar hemodinamicamente compensado, preferencialmente nas primeiras 12 a 24 horas pós-operatórias.

3.3.2. Uso de Hemoderivados

Pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com Circulação Extracorpórea (CEC) são suscetíveis a perdas sanguíneas expressivas, tanto pelo uso frequente de antiagregantes plaquetários, quanto pelo uso da CEC. O foco no cuidado perioperatório deve incluir as seguintes questões: drogas e técnicas que reduzam as perdas sanguíneas; quais seriam os gatilhos para transfusão de hemoderivados; leucorredução de hemoderivados com o objetivo de reduzir a sensibilização do receptor.

A utilização de protocolos institucionais mostra que a tromboelastografia, quando comparada com testes tradicionais de coagulação [por exemplo: Razão Normalizada Internacional (RNI)], reduz o uso de hemoderivados. Estratégias restritivas de reposição de hemácias em cirurgia cardíaca, dentro das referências atuais, referem-se a níveis de hemoglobina de 8 g/dL e hematócrito de 21 a 24%. Casos de hemorragia maciça no perioperatório (necessidade de utilização de mais do que três unidades de hemácias em 1 hora) podem necessitar de associação de plasma fresco congelado e plaquetas, pelo risco de coagulopatia dilucional e perpetuação do sangramento. Com o objetivo de manter-se uma estratégia restritiva, podem ser usados dispositivos de reutilização e reinfusão do sangue perdido na cirurgia.9090 Murphy GJ, Pike K, Rogers CA, Wordsworth S, Stokes EA, Angelini GD, et al; TITRe2 Investigators. Liberal or restrictive transfusion after cardiac surgery. N Engl J Med. 2015;372(11):997-1008. doi: 10.1056/NEJMoa1403612. Erratum in: N Engl J Med. 2015;372(23):2274.
https://doi.org/10.1056/NEJMoa1403612...
,9191 Hajjar LA, Vincent JL, Galas FR, Nakamura RE, Silva CM, Santos MH, et al. Transfusion requirements after cardiac surgery: the TRACS randomized controlled trial. JAMA. 2010;304(14):1559-67. doi: 10.1001/jama.2010.1446.
https://doi.org/10.1001/jama.2010.1446...

Estudo recente, com 4.662 pacientes, demonstrou que a utilização do agente antifibrinolitico ácido tranexâmico no transoperatório de cirurgia de revascularização miocárdica reduz o risco de sangramento (dose de 50 a 100 mg/kg de peso), porém com risco de convulsão.9292 Myles PS, Smith JA, Forbes A, Silbert B, Jayarajah M, Painter T, et al; ATACAS Investigators of the ANZCA Clinical Trials Network. Tranexamic acid in patients undergoing coronary-atery surgery. N Engl J Med. 2017;376(2):136-148. doi: 10.1056/NEJMoa1606424.
https://doi.org/10.1056/NEJMoa1606424...
,9393 American Society of Anesthesiologists Task Force on Perioperative Blood Management. Practice guidelines for perioperative blood management: an updated report by the American Society of Anesthesiologists Task Force on Perioperative Blood Management. Anesthesiology. 2015;122(2):241-75. doi: 10.1097/ALN.0000000000000463.
https://doi.org/10.1097/ALN.000000000000...

A tabela 3.3 contém os critérios para transfusão perioperatória.

Tabela 3.3
Critérios de transfusão perioperatória

3.4. Disfunção Primária do Enxerto

3.4.1. Definição

Os parâmetros atuais que definem a DPE são: fração de ejeção ≤ 40% detectada nas primeiras 24 horas após o TxC, uso de doses progressivas de drogas vasoativas, e necessidade de dispositivos de assistência ventricular mecânica para suporte circulatório. São critérios de exclusão para o diagnóstico da DPE a presença de RHA, sepse, Disfunção Ventricular Direita (DVD) associada à hipertensão pulmonar e sangramento.9494 Kobashigawa J, Zuckermann A, Macdonald P, Leprince P, Esmailian F, Luu M, et al; Consensus Conference participants. Report from a consensus conference on primary graft dysfunction after cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2014;33(4):327-40. doi: 10.1016/j.healun.2014.02.027.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.02...

95 Christie JD, Carby M, Bag R, Corris P, Hertz M, Weill D; ISHLT Working Group on Primary Lung Graft Dysfunction. Report of the ISHLT Working Group on Primary Lung Graft Dysfunction part II: definition. A consensus statement of the International Society for Heart and Lung Transplantation. J Heart Lung Transplant. 2005;24(10):1454-9. doi: 10.1016/j.healun.2004.11.049.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2004.11...
-9696 Iyer A, Kumarasinghe G, Hicks M, Watson A, Gao L, Doyle A, et al. Primary graft failure after heart transplantation. J Transplant. 2011;2011:175768. doi: 10.1155/2011/175768.
https://doi.org/10.1155/2011/175768...

3.4.2. Importância

De acordo com os registros da International Society for Heart and Lung Transplantation (ISHLT), 66% dos óbitos registrados nos primeiros 30 dias pós-TxC são causados por “falência do enxerto” e “disfunção multiorgânica”. A maioria desses eventos provavelmente é resultado da DPE.9797 Wever-Pinzon O, Edwards LB, Taylor DO, Kfoury AG, Drakos SG, Selzman CH, et al. Association of recipient age and causes of heart transplant mortality: Implications for personalization of post-transplant management-An analysis of the International Society for Heart and Lung Transplantation Registry. J Heart Lung Transplant. 2017;36(4):407-17. doi: 10.1016/j.healun.2016.08.008.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2016.08...

3.4.3. Patogenia e Fatores de Risco

Apesar de ainda não completamente elucidada, a patogenia da DPE é multifatorial e envolve fatores relacionados ao enxerto, ao procedimento e ao receptor.9898 Russo MJ, Iribarne A, Hong KN, Ramlawi B, Chen JM, Takayama H, et al. Factors associated with primary graft failure after heart transplantation. Transplantation. 2010;90(4):444-50. doi: 10.1097/TP.0b013e3181e6f1eb.
https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3181e6f...

Os fatores de risco mais conhecidos estão descritos na tabela 3.4.9999 Hong KN, Iribarne A, Worku B, Takayama H, Gelijns AC, Naka Y, et al. Who is the high-risk recipient? Predicting mortality after heart transplant using pretransplant donor and recipient risk factors. Ann Thorac Surg. 2011;92(2):520-7. doi: 10.1016/j.athoracsur.2011.02.086.
https://doi.org/10.1016/j.athoracsur.201...
O modelo preditivo RADIAL inclui seis fatores com mesmo peso, quatro deles relacionados ao receptor (PVC > 10 mmHg, idade > 60 anos, presença de diabetes e dependência inotrópica) e dois relacionados ao doador (idade > 30 anos e tempo de isquemia > 240 minutos). A partir da coorte de validação, três grupos foram extraídos: o grupo de baixo risco para DPE (presença de zero a um fator), o de médio risco (presença de dois fatores) e de alto risco (três ou mais fatores). A incidência de DPE em cada grupo foi respectivamente de 12%, 19% e 28% (p < 0,001).100100 Segovia J, Cosio MD, Barcelo JM, Bueno MG, Pavía PG, Burgos R, et al. RADIAL: a novel primary graft failure risk score in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2011;30(6):644-51. doi: 10.1016/j.healun.2011.01.721.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.01...
,101101 Cosío-Carmena MD, Gómez Bueno M, Almenar L, Delgado JF, Arizón JM, González Vilchez F, et al. Primary graft failure after heart transplantation: characteristics in a contemporary cohort and performance of the RADIAL risk score. J Heart Lung Transplant. 2013;32(12):1187-95. doi: 10.1016/j.healun.2013.08.004.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.08...

Tabela 3.4
Fatores de risco para o desenvolvimento de falência primária do enxerto

3.4.5 Gravidade

Define-se a gravidade da DPE de acordo com parâmetros ecocardiográficos, hemodinâmicos e terapêuticos, de acordo com a tabela 3.5.102102 Boccheciampe N, Audibert G, Rangeard O, Charpentier C, Perrier JF, Lalot JM, et al. Serum troponin Ic values in organ donors are related to donor myocardial dysfunction but not to graft dysfunction or rejection in the recipients. Int J Cardiol. 2009;133(1):80-6. doi: 10.1016/j.ijcard.2007.12.006.
https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2007.12...

Tabela 3.5
Definição da gravidade da disfunção primária do enxerto (DPE)

3.4.6 Biomarcadores

Diversos biomarcadores têm sido testados com o intuito de predizer a DPE e desfechos clínicos em receptores. Muitos tipos de troponinas foram avaliadas com resultados controversos nos estudos.103103 Khush KK, Menza RL, Babcock WD, Zaroff JG. Donor cardiac troponin I levels do not predict recipient survival after cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2007;26(10):1048-53. doi: 10.1016/j.healun.2007.07.026.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2007.07...

104 Potapov EV, Ivanitskaia EA, Loebe M, Möckel M, Müller C, Sodian R, et al. Value of cardiac troponin I and T for selection of heart donors and as predictors of early graft failure. Transplantation. 2001;71(10):1394-400. PMID: 11391225.
-105105 Vorlat A, Conraads VM, Jorens PG, Aerts S, Van Gorp S, Vermeulen T, et al. Donor B-type natriuretic peptide predicts early cardiac performance after heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2012;31(6):579-84. doi: 10.1016/j.healun.2012.02.009.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2012.02...
Níveis de BNP > 160 pg/mL no doador cardíaco foi capaz de predizer baixa performance cardíaca no pós-transplante com 89% de acurácia. O Fator de Necrose Tumoral Alfa (TNF-a), a Interleucina 6 (IL-6) e a pró-calcitonina também têm demonstrado boa correlação com DPE em estudos preliminares.106106 Birks EJ, Burton PB, Owen V, Mullen AJ, Hunt D, Banner NR, et al. Elevated tumor necrosis factor- alpha and interleukin-6 in myocardium and serum of malfunctioning donor hearts. Circulation. 2000;102(19 Suppl 3):III352-8. PMID: 11082413.,107107 Wagner FD, Jonitz B, Potapov EV, Qedra N, Wegscheider K, Abraham K, et al. Procalcitonin, a donor- specific predictor of early graft failure-related mortality after heart transplantation. Circulation. 2001;104(12 Suppl1):I192-6. PMID: 11568054. Entretanto, é a Switich/Sucrose (SWI/SFN) não fermentável, matriz associada dependente da actina reguladora da subfamília a-like 1 da cromatina (SMARCAL1), uma proteína intracelular que age como uma DNA-ATPase no reparo da cromatina, que demonstrou melhor correlação com o risco de DPE. Expressa no tecido do ventrículo esquerdo, a variação de seus níveis pré e pós-clampeamento da aorta demonstrou a mais promissora correlação entre os marcadores conhecidos. A associação de biomarcadores, entre eles a troponina I e o BNP, assim como a troponina T e a pró-calcitonina, vem sendo testada também com resultados animadores.108108 Aharinejad S, Andrukhova O, Gmeiner M, Thomas A, Aliabadi A, Zuckermann A, et al. Donor serum SMARCAL1 concentrations predict primary graft dysfunction in cardiac transplantation. Circulation. 2009;120(11 Suppl):S198-205. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.108.842971.
https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.1...

109 Nicolas-Robin A, Salvi N, Medimagh S, Amour J, Le Manach Y, Coriat P, et al. Combined measurements of N-terminal pro-brain natriuretic peptide and cardiac troponins in potential organ donors. Intensive Care Med. 2007;33(6):986-92. doi: 10.1007/s00134-007-0601-7.
https://doi.org/10.1007/s00134-007-0601-...
-110110 Potapov EV, Wagner FD, Loebe M, Ivanitskaia EA, Müller C, Sodian R, et al. Elevated donor cardiac troponin T and procalcitonin indicate two independent mechanisms of early graft failure after heart transplantation. Int J Cardiol. 2003;92(2-3):163-7. PMID: 14659848.

3.4.7. Estratégias de Prevenção e Tratamento

A idade do doador e o tempo de isquemia são fatores de risco importantes para a redução da sobrevida do enxerto cardíaco. Reduzir o tempo de isquemia e otimizar a preservação do órgão podem diminuir o risco de DPE. Neste contexto, o estudo PROCEED II, prospectivamente e de forma aleatória, testou os desfechos clínicos (sobrevida do enxerto e do receptor em 30 dias), com o uso do sistema de cuidados do órgão (OSC®) vs. a preservação padrão do enxerto por meio de isquemia fria. O sistema OSC®, capaz de manter a perfusão ex-vivo do órgão ofertado, mostrou-se seguro, porém não impactou significativamente a sobrevida do enxerto/receptor em 30 dias.111111 Ardehali A, Esmailian F, Deng M, Soltesz E, Hsich E, Naka Y, et al; PROCEED II trial investigators. Ex-vivo perfusion of donor hearts for human heart transplantation (PROCEED II): a prospective, open-label, multicentre, randomised non-inferiority trial. Lancet. 2015;385(9987):2577-84. doi: 10.1016/S0140-6736(15)60261-6.
https://doi.org/10.1016/S0140-6736(15)60...

O tratamento padrão é composto de doses escalonadas de inotrópicos, vasodilatadores, vasopressores e óxido nítrico (Tabela 3.6).9494 Kobashigawa J, Zuckermann A, Macdonald P, Leprince P, Esmailian F, Luu M, et al; Consensus Conference participants. Report from a consensus conference on primary graft dysfunction after cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2014;33(4):327-40. doi: 10.1016/j.healun.2014.02.027.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.02...
Em casos de refratariedade ao tratamento clínico, a ECMO apresenta-se como o suporte circulatório temporário mais estudado no cenário de DPE. D’Alessandro et al. 112112 D'Alessandro C, Golmard JL, Barreda E, Laali M, Makris R, Luyt CE, et al. Predictive risk factors for primary graft failure requiring temporary extra-corporeal membrane oxygenation support after cardiac transplantation in adults. Eur J Cardiothorac Surg. 2011;40(4):962-9. doi: 10.1016/j.ejcts.2011.01.064.
https://doi.org/10.1016/j.ejcts.2011.01....
avaliaram 90 pacientes com DPE grave, sendo que, destes, 54 utilizaram Oxigenação por Membrana Extracorpórea (ECMO). A sobrevida em 1 ano dos pacientes que utilizaram ECMO foi de 50%, vs. 25% no grupo que utilizou outro tipo de dispositivo. Pacientes considerados menos graves foram submetidos somente à terapia inotrópica e tiveram sobrevida de 46%.112112 D'Alessandro C, Golmard JL, Barreda E, Laali M, Makris R, Luyt CE, et al. Predictive risk factors for primary graft failure requiring temporary extra-corporeal membrane oxygenation support after cardiac transplantation in adults. Eur J Cardiothorac Surg. 2011;40(4):962-9. doi: 10.1016/j.ejcts.2011.01.064.
https://doi.org/10.1016/j.ejcts.2011.01....
,113113 Taghavi S, Zuckermann A, Ankersmit J, Wieselthaler G, Rajek A, Laufer G, et al. Extracorporeal membrane oxygenation is superior to right ventricular assist device for acute right ventricular failure after heart transplantation. Ann Thorac Surg. 2004;78(5):1644-9. doi: 10.1016/j.athoracsur.2004.04.059.
https://doi.org/10.1016/j.athoracsur.200...
O uso de CentriMag VAS® foi reportado em 38 pacientes com DPE grave que apresentaram sobrevida de 50% em 30 dias e 32% em 1 ano.114114 Thomas HL, Dronavalli VB, Parameshwar J, Bonser RS, Banner NR; Steering Group of the UK Cardiothoracic Transplant Audit. Incidence and outcome of Levitronix CentriMag support as rescue therapy for early cardiac allograft failure: a United Kingdom national study. Eur J Cardiothorac Surg. 2011;40(6):1348-54. doi: 10.1016/j.ejcts.2011.02.045.
https://doi.org/10.1016/j.ejcts.2011.02....

Tabela 3.6
Diagnóstico e tratamento da disfunção primária do enxerto (DPE)

4. Pós-transplante Cardíaco

4.1. Imunossupressão

4.1.1. Terapia de Indução

A terapia de indução consiste no tratamento imunossupressor usado de forma intensa durante o transplante ou em seu pós-operatório imediato. É baseada na observação empírica de que uma maior potência imunossupressora é necessária para prevenir a rejeição aguda precoce. Protege o enxerto do dano inflamatório, do alorreconhecimento e da resposta imune, além de permitir o uso de doses menores de corticosteroides, como também retardar o uso de doses maiores de inibidores da calcineurina, minimizando o dano renal.115115 Rosenberg PB, Vriesendorp AE, Drazner MH, Dries DL, Kaiser PA, Hynan LS, et al. Induction therapy with basiliximab allows delayed initiation of cyclosporine and preserves renal function after cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2005;24(9):1327-31. doi: 10.1016/j.healun.2004.08.003.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2004.08...
,116116 Mehra MR, Zucker MJ, Wagoner L, Michler R, Boehmer J, Kovarik J, et al. A multicenter, prospective, randomized double-blind trial of basiliximab in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2005;24(9):1297-304. doi: 10.1016/j.healun.2004.09.010.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2004.09...

Embora aproximadamente 50% dos centros transplantadores utilizem a terapia de indução segundo dados dos registros da ISHLT, suas vantagens sobre o protocolo de imunossupressão sem indução ainda continuam controversas.117117 Stehlik J, Edwards LB, Kucheryavaya AY, Benden C, Christie JD, Dipchand AI, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation. The Registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: 29th official adult heart transplant report--2012. J Heart Lung Transplant. 2012;31(10):1052-64. doi: 10.1016/j.healun.2012.08.002.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2012.08...

Os medicamentos utilizados na indução padrão são imunoglobulinas antitimócitos policlonais (anticorpo policlonal − timoglobulina − ATS) e antagonistas dos receptores de IL-2 (anticorpo monoclonal IgG humanizado − basiliximab) (Tabela 4.1). Apesar da controvérsia sobre os resultados da terapia de indução, esta está indicada com mais evidência para pacientes sensibilizados (multíparas, transfusões prévias, retransplante e uso de dispositivos de assistência ventricular) e com IR ou com potencial para desenvolvê-la, como pacientes com idade avançada, hipertensão arterial ou diabetes melito.118118 Hershberger RE, Starling RC, Eisen HJ, Bergh CH, Kormos RL, Love RB, et al. Daclizumab to prevent rejection after cardiac transplantation. N Engl J Med. 2005;352(26):2705-13. doi: 10.1056/NEJMoa032953.
https://doi.org/10.1056/NEJMoa032953...

119 Teuteberg JJ, Shullo MA, Zomak R, Toyoda Y, McNamara DM, Bermudez C, et al. Alemtuzumab induction prior to cardiac transplantation with lower intensity maintenance immunosuppression: one-year outcomes. Am J Transplant. 2010;10(2):382-8. doi: 10.1111/j.1600-6143.2009.02856.x
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2009...
-120120 Segovia J, Rodríguez-Lambert JL, Crespo-Leiro MG, Almenar L, Roig E, Gómez-Sánchez MA, et al. A randomized multicenter comparison of basiliximab and muromonab (OKT3) in heart transplantation: SIMCOR study. Transplantation. 2006;81(11):1542-8. doi: 10.1097/01.tp.0000209924.00229.e5.
https://doi.org/10.1097/01.tp.0000209924...

Tabela 4.1
Principais terapias de indução

As recomendações para uso da terapia de indução encontram-se na tabela 4.2.

Tabela 4.2
Recomendações para terapia de indução

4.1.2. Terapia de Manutenção

O avanço dos transplantes nos últimos anos deveu-se à utilização e aos melhores conhecimentos dos imunossupressores. A terapia de manutenção tem como objetivo inibir seletivamente a ativação e a proliferação dos linfócitos, levando à maior sobrevida dos pacientes transplantados com diminuição dos episódios de rejeição e das infecções oportunistas.

A maioria dos esquemas de imunossupressão utiliza três fármacos, sendo um corticosteroide, um inibidor da calcineurina (ciclosporina ou tacrolimus) e um antiproliferativo (micofenolato ou azatioprina). O 33° Registro da ISHLT mostra uma preferência pelo esquema tacrolimus/micofenolato e, nos pacientes com mais de 5 anos de seguimento, a tendência ao uso de combinações que incluam os inibidores da m-Tor. Esquemas alternativos ou substitutivos podem ser necessários em três situações: falha no regime tríplice, toxicidade medicamentosa ou necessidade do uso de menor imunossupressão.121121 Lund LH, Edwards LB, Kucheryavaya AY, Benden C, Dipchand AI, Goldfarb S, et al. The Registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: Thirty-second Official Adult Heart Transplantation Report--2015; Focus Theme: Early Graft Failure. J Heart Lung Transplant. 2015;34(10):1244-54. doi: 10.1016/j.healun.2015.08.003.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.08...

A tabela 4.3 mostra os principais imunossupressores, e as tabelas 4.4 a 4.7 mostram as recomendações para o uso dos mesmos.

Tabela 4.3
Imunossupressores
Tabela 4.4
Recomendações para uso de corticosteroide
Tabela 4.5
Recomendações para uso de inibidores de calcineurina
Tabela 4.6
Recomendações para uso de antiproliferativos
Tabela 4.7
Recomendações para uso de inibidores do sinal de proliferação

4.1.2.1. Corticosteroides

Os corticosteroides são agentes anti-inflamatórios não específicos que interrompem múltiplas fases da ativação imunológica, incluindo a apresentação de antígenos, a produção de citocinas e a proliferação de linfócitos. Embora altamente efetivos na prevenção e no tratamento da rejeição aguda, seu uso prolongado está associado a inúmeros efeitos adversos, incluindo aparecimento e piora do diabetes melito, dislipidemia, hipertensão arterial, retenção hídrica, miopatia, osteoporose e predisposição às infecções oportunistas.

A maioria dos centros transplantadores utilizam o fármaco como um dos três principais agentes imunossupressores de manutenção, inicialmente em altas doses, no período pré-operatório precoce, e em doses progressivamente menores, até a descontinuação, geralmente entre o 6° e 12° mês pós-transplante.122122 Miller LW, Wolford T, McBride LR, Peigh P, Pennington DG. Successful withdrawal of corticosteroids in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 1992;11(2 Pt 1):431-4. PMID: 1571342.,123123 Teuteberg JJ, Shullo M, Zomak R, McNamara D, McCurry K, Kormos RL. Aggressive steroid weaning after cardiac transplantation is possible without the additional risk of significant rejection. Clin Transplant. 2008;22(6):730-7. doi: 10.1111/j.1399-0012.2008.00868.x.
https://doi.org/10.1111/j.1399-0012.2008...

4.1.2.2. Inibidores da Calcineurina

Desde a introdução da ciclosporina, em meados dos anos 1980, os inibidores da calcineurina mantêm-se como um dos pilares fundamentais da terapia de manutenção imunossupressora tríplice. Essa classe de imunossupressores, constituída por ciclosporina e tacrolimus, exerce seus efeitos por meio da inibição da calcineurina, que, em condições normais, é a responsável pela transcrição da IL-2, TNF-a, fator estimulador do crescimento de macrófagos e interferon gama. O resultado desta transcrição é a ativação maciça de linfócitos T e sua proliferação.124124 Groetzner J, Meiser BM, Schirmer J, vScheidt W, Klauss V, Cremer P, et al. Tacrolimus or cyclosporine for immunosuppression after cardiac transplantation: which treatment reveals more side effects during long-term follow-up? Transplant Proc. 2001;33(1-2):1461-4. PMID: 11267373.

A) Ciclosporina

Derivada do fungo Tolypocladium inflatum, possui ação imunossupressora potente, principalmente em sua formulação em cápsulas de microemulsão, o que garante absorção mais reprodutível do que a antiga formulação oleica. Em geral, os níveis séricos são mantidos em níveis mais elevados no primeiro ano pós-transplante e em níveis reduzidos nos anos subsequentes.

Os efeitos tóxicos principais são insuficiência renal, hipertensão arterial, dislipidemia, hipocalemia, hipomagnesemia e neurotoxicidade. Hiperplasia gengival e hirsutismo são outros efeitos colaterais associados.125125 Meiser BM, Uberfuhr P, Fuchs A, Schmidt D, Pfeiffer M, Paulus D, et al. Single-center randomized trial comparing tacrolimus (FK506) and cyclosporine in the prevention of acute myocardial rejection. J Heart Lung Transplant. 1998;17(8):782-8. PMID: 9730427.,126126 Rinaldi M, Pellegrini C, Martinelli L, Goggi C, Gavazzi A, Campana C, et al. FK506 effectiveness in reducing acute rejection after heart transplantation: a prospective randomized study. J Heart Lung Transplant. 1997;16(10):1001-10. PMID: 9361242.

B) Tacrolimus

Também conhecido como FK-506, é um macrolídeo derivado do fungo Streptomyces tsukubaensis, que age pela mesma via farmacológica da ciclosporina. Aprovada em 2006 pelo Food and Drug Administration (FDA) para o transplante de coração, seu uso tem crescido e, atualmente, é o inibidor da calcineurina mais utilizado no mundo. Múltiplos estudos randomizados comparando o tacrolimus e a ciclosporina demonstraram resultados similares em sobrevida. Dois estudos reportaram um modesto benefício na preservação da função renal, enquanto um estudo evidenciou maior incidência de diabetes com o uso do tacrolimus. No tocante à rejeição aguda, o uso do tacrolimus também demonstrou diminuição na incidência de rejeição aguda tratada e comprovada por biópsia. Assim, na presença de rejeição moderada à grave frequentes e persistentes, a conversão de ciclosporina para tacrolimus tem sido preconizada.127127 Reichart B, Meiser B, Viganò M, Rinaldi M, Martinelli L, Yacoub M, et al. European Multicenter Tacrolimus (FK506) Heart Pilot Study: one-year results--European Tacrolimus Multicenter Heart Study Group. J Heart Lung Transplant. 1998;17(8):775-81. PMID: 9730426.,128128 Kobashigawa JA, Patel J, Furukawa H, Moriguchi JD, Yeatman L, Takemoto S, et al. Five-year results of a randomized, single-center study of tacrolimus vs microemulsion cyclosporine in heart transplant patients. J Heart Lung Transplant. 2006;25(4):434-9. doi: 10.1016/j.healun.2005.11.452.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2005.11...

4.1.2.3. Antiproliferativos: Azatioprina e Micofenolato

Os antiproliferativos ou antimetabólicos interferem na síntese dos ácidos nucleicos e exercem seu efeito imunossupressor por meio da inibição da proliferação dos linfócitos T e B.

A) Azatioprina

A azatioprina é uma pró-droga rapidamente hidrolisada em sua forma ativa, a 6-mercaptopurina, na corrente sanguínea. Subsequentemente convertida em thio-inosina-monofosfato, incorpora-se ao DNA dos linfócitos T e B inibindo a síntese de nucleotídeos, prevenindo a mitose e a consequente proliferação destas células. Os principais efeitos colaterais são mielossupressão, hepatotoxicidade e pancreatite.129129 Palmer SM, Baz MA, Sanders L, Miralles AP, Lawrence CM, Rea JB, et al. Results of a randomized, prospective, multicenter trial of mycophenolate mofetil versus azathioprine in the prevention of acute lung allograft rejection. Transplantation. 2001;71(12):1772-6. PMID: 11455257.

B) Micofenolato

O micofenolato sódico (apresentação entérica do micofenolato de mofetila) é também uma pró-droga rapidamente hidrolisada na corrente sanguínea em sua forma ativa, o Micofenolato Ácido (MPA). O MPA age como um inibidor reversível da inosina fosfato desidrogenase, uma enzima crítica na síntese do nucleotídeo guanina. Na ausência desta enzima, os linfócitos T e B tornam-se incapazes de sintetizar RNA e DNA.

Os principais efeitos colaterais são mielotoxicidade e toxicidade gastrintestinal (incluindo náuseas, gastrite e diarreia). Não apresenta nefrotoxicidade e causa menor depleção medular do que a azatioprina.130130 Kobashigawa J, Miller L, Renlund D, Mentzer R, Alderman E, Bourge R, et al. A randomized active-controlled trial of mycophenolate mofetil in heart transplant recipients. Mycophenolate Mofetil Investigators. Transplantation. 1998;66(4):507-15. PMID: 9734496.

Estudo randomizado multicêntrico, comparando o micofenolato com a azatioprina demonstrou que, entre os pacientes tratados, o uso do micofenolato de mofetila resultou em menores taxas de óbito e rejeição tratada. Entretanto, quando analisados à luz do conceito de intenção de tratar, os mesmos efeitos foram neutralizados. Estudos recentes também demonstraram possível efeito protetor do micofenolato no que diz respeito à DVE e neoplasias. A azatioprina está relacionada a menores taxas de infecção por CMV, herpes simples e zoster, e à menor incidência de sintomas gastrintestinais.131131 Kobashigawa JA, Renlund DG, Gerosa G, Almenar L, Eisen HJ, Keogh AM, et al; ERL2401 Heart Study Investigators. Similar efficacy and safety of enteric-coated mycophenolate sodium (EC-MPS, myfortic) compared with mycophenolate mofetil (MMF) in de novo heart transplant recipients: results of a 12-month, single-blind, randomized, parallel-group, multicenter study. J Heart Lung Transplant. 2006;25(8):935-41. doi: 10.1016/j.healun.2006.04.005.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2006.04...
,132132 Lehmkuhl H, Hummel M, Kobashigawa J, Ladenburger S, Rothenburger M, Sack F, et al. Enteric-coated mycophenolate-sodium in heart transplantation: efficacy, safety, and pharmacokinetic compared with mycophenolate mofetil. Transplant Proc. 2008;40(4):953-5. doi: 10.1016/j.transproceed.2008.03.046.
https://doi.org/10.1016/j.transproceed.2...

Atualmente o micofenolato sódico é o antiproliferativo de escolha, entretanto, em pacientes chagásicos, Bacal et al.133133 Bacal F, Silva CP, Pires PV, Mangini S, Fiorelli AI, Stolf NG, et al. Transplantation for Chagas' disease: an overview of immunosuppression and reactivation in the last two decades. Clin Transplant. 2010;24(2):E29-34. doi: 10.1111/j.1399-0012.2009.01202.x.
https://doi.org/10.1111/j.1399-0012.2009...
demonstraram menor taxa de reativação da doença de Chagas e óbito em pacientes utilizando protocolo com azatioprina vs. micofenolato.

4.1.2.4. Inibidores do Sinal de Proliferação: Sirolimus e Everolimus

A mais recente classe de agentes imunossupressores é a dos inibidores da proliferação do sinal ou inibidores da mTOR (sigla do inglês Mammalian Target of Rapamycin). Os dois fármacos representativos da classe, sirolimus e everolimus, têm mecanismos de ação semelhantes. Estruturalmente, ambos são similares ao tacrolimus, porém exercem seus efeitos imunossupressores independentemente da via inibidora de calcineurina. Os fármacos formam um complexo intracelular com a enzima FKBP12, inibindo a atividade da proteína mTOR. Esta, por sua vez, está envolvida na transdução do sinal da IL-2 e, quando inibida, impede, consequentemente, a proliferação de linfócitos T e B.134134 Keogh A, Richardson M, Ruygrok P, Spratt P, Galbraith A, O'Driscoll G, et al. Sirolimus in de novo heart transplant recipients reduces acute rejection and prevents coronary artery disease at 2 years: a randomized clinical trial. Circulation. 2004;110(17):2694-700. doi: 10.1161/01.CIR.0000136812.90177.94.
https://doi.org/10.1161/01.CIR.000013681...

A) Sirolimus

O sirolimus ou rapamune é um antibiótico macrolídeo derivado do fungo Streptomyces hygroscopicus. Não apresenta efeito nefrotóxico inerente, porém pode aumentar os efeitos nefrotóxicos dos inibidores da calcineurina, quando utilizados em associação. Por isto, na terapia combinada, a dose do inibidor de calcineurina deve ser reduzida em 25% em relação à dose padrão. Os efeitos colaterais mais comuns são dislipidemia, ulceração oral, edema de membros inferiores, supressão medular, trombocitopenia e anemia. Raros casos de toxicidade pulmonar estão relatados.

Quando comparado à azatioprina, em pacientes sob regime associado de ciclosporina e corticoide, o sirolimus apresentou menores taxas de rejeição celular aguda e impacto protetor na evolução da DVE. A sobrevida em 12 meses foi comparável entre os dois grupos. Sua utilização precoce está relacionada a complicações da cicatrização da ferida operatória e ao aumento na incidência de infecções bacterianas. Recomenda-se que o uso seja evitado pelo menos nos primeiros 30 dias de pós-operatório.135135 García-Luque A, Cordero E, Torelló J, Lage E, Juan JM, Cisneros JM, et al. Sirolimus-associated pneumonitis in heart transplant recipients. Ann Pharmacother. 2008;42(7):1143-5. doi: 10.1345/aph.1L044.
https://doi.org/10.1345/aph.1L044...
,136136 Khalife WI, Kogoj P, Kar B. Sirolimus-induced alveolar hemorrhage. J Heart Lung Transplant. 2007;26(6):652-7. doi: 10.1016/j.healun.2007.02.010.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2007.02...

B) Everolimus

O everolimus é um análogo do sirolimus com meia-vida mais curta (30 horas vs. 60 horas do sirolimus). Os efeitos colaterais são comparáveis aos do sirolimus, embora estudos observacionais demonstrem melhor perfil de toxicidade.

Quando comparado ao micofenolato em pacientes com dose padrão de ciclosporina, o everolimus mostrou maior eficácia na prevenção de DVE em 12 meses de seguimento.

A associação de everolimus e baixas doses de ciclosporina vs. ciclosporina em dose padrão associada à micofenolato de mofetila demonstrou aumento de mortalidade precoce por infecção quando usada em dose equivalente a 3 mg/dia. Na dose de 1,5 mg/dia, comprovou-se a não inferioridade do everolimus em relação ao micofenolato nos desfechos rejeição e óbito. Entretanto, novamente, houve efeito protetor no desenvolvimento de DVE.137137 Eisen HJ, Kobashigawa J, Starling RC, Pauly DF, Kfoury A, Ross H, et al. Everolimus versus mycophenolate mofetil in heart transplantation: a randomized, multicenter trial. Am J Transplant. 2013;13(5):1203-16. doi: 10.1111/ajt.12181.
https://doi.org/10.1111/ajt.12181...

Quando utilizado em esquemas sem o uso de ciclosporina, visando à preservação da função renal, houve aumento da incidência de rejeições.138138 Watanabe T, Seguchi O, Nishimura K, Fujita T, Murata Y, Yanase M, et al. Suppressive effects of conversion from mycophenolate mofetil to everolimus for the development of cardiac allograft vasculopathy in maintenance of heart transplant recipients. Int J Cardiol. 2016 Jan 15;203:307-14. doi: 10.1016/j.ijcard.2015.10.082.
https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2015.10...

4.1.3. Terapia de Resgate

Terapia de resgate refere-se ao uso de drogas ou estratégias imunossupressoras diferenciadas para controle de rejeição crônica ou aguda de difícil manejo com as drogas habituais. A tabela 4.8 resume os mecanismos de ação, os efeitos colaterais e as doses das principais terapias utilizadas com este propósito.139139 Costanzo MR, Dipchand A, Starling R, Anderson A, Chan M, Desai S, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines. The International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines for the care of heart transplant recipients. J Heart Lung Transplant. 2010;29(8):914-56. doi: 10.1016/j.healun.2010.05.034.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2010.05...

Tabela 4.8
Principais terapias de resgate

4.2. Profilaxia

4.2.1. Profilaxias Contra Bactérias

A profilaxia antibacteriana deve sempre ser feita no pré-operatório do TxC, utilizando antibióticos com atividade contra a flora habitual de pele (em geral, cefalosporinas de primeira ou segunda geração). Nos pacientes hospitalizados previamente ao transplante e/ou sabidamente colonizados, a escolha do esquema antimicrobiano deve ser individualizada. Recomenda-se a coleta de amostra de hemocultura do doador, para identificação de possível infecção de corrente sanguínea140140 Mattner F, Kola A, Fischer S, Becker T, Haverich A, Simon A, et al. Impact of bacterial and fungal donor organ contamination in lung, heart-lung, heart and liver transplantation. Infection. 2008;36(3):207-12. doi: 10.1007/s15010-007-7157-x.
https://doi.org/10.1007/s15010-007-7157-...
(Tabela 4.9).

Tabela 4.9
Recomendaçòes para profilaxia contra bactérias

4.2.2. Profilaxias Contra Vírus

4.2.2.1. Citomegalovírus

CMV é o agente oportunista mais frequentemente relacionado à infecção no pós-transplante. A doença por CMV está relacionada à maior incidência de DVE e rejeição aguda, além do aumento de risco de infecções bacterianas, fúngicas ou virais, e do desenvolvimento de diabetes no pós-transplante.141141 Kotton CN, Kumar D, Caliendo AM, Asberg A, Chou S, Danziger-Isakov L, et al; Transplantation Society International CMV Consensus Group. Updated international consensus guidelines on the management of cytomegalovirus in solid-organ transplantation. Transplantation. 2013;96(4):333-60. doi: 10.1097/TP.0b013e31829df29d.
https://doi.org/10.1097/TP.0b013e31829df...

Até o momento, não há dados na literatura que demonstrem superioridade da profilaxia universal (administração de terapia antiviral para todos os pacientes) em relação à terapia preemptiva (monitorização laboratorial regular para detecção precoce de replicação viral e, quando atingido um corte preestabelecido, tratamento antiviral para prevenir doença clínica). A tabela 4.10 apresenta uma comparação entre as duas estratégias.

Tabela 4.10
Terapia preemptiva e profilaxia universal para citomegalovírus (CMV) em transplante de órgãos sólidos

A profilaxia primária é sempre indicada nos receptores soronegativos de doadores soropositivos ou sorologia desconhecida por 3 a 6 meses, podendo ser seguida por terapia preemptiva, pelo aumento do risco de infecção tardia. As drogas recomendadas para profilaxia são valganciclovir oral (900 mg/dia) ou ganciclovir endovenoso (5 mg/kg/dose três vezes na semana).

Na estratégia de terapia preemptiva, os dois métodos disponíveis para detecção de replicação viral são antigenemia para CMV (detecção do antígeno pp65 do vírus) ou Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) quantitativo para CMV (detecção do DNA do vírus).

A antigenemia para CMV é um teste semiquantitativo útil para diagnóstico de doença por CVM, guiar o tratamento preemptivo e monitorizar a resposta ao tratamento. No entanto, tem problemas, como baixa estabilidade do antígeno (amostra deve ser processada em até 6 a 8 horas), falta de padronização, não dever ser utilizado em pacientes com neutropenia inferior a 1.000/mm33 Demers P, Moffatt S, Oyer PE, Hunt SA, Reitz BA, Robbins RC. Long term results of heart transplantation in patient older than 60 years. J Thorac Cardiovasc Surg. 2003;126(1):224-31. PMID: 12878959., e subjetividade na interpretação dos resultados.141141 Kotton CN, Kumar D, Caliendo AM, Asberg A, Chou S, Danziger-Isakov L, et al; Transplantation Society International CMV Consensus Group. Updated international consensus guidelines on the management of cytomegalovirus in solid-organ transplantation. Transplantation. 2013;96(4):333-60. doi: 10.1097/TP.0b013e31829df29d.
https://doi.org/10.1097/TP.0b013e31829df...

A quantificação do DNA do CMV (PCR) é o método de escolha para diagnóstico, guiar o tratamento preemptivo e monitorar a resposta ao tratamento. A carga viral pode ser determinada no plasma ou sangue com boa correlação. A DNAemia é sujeita à variabilidade biológica, e uma gama de fatores contribuem para uma diferença interlaboratorial nos resultados da carga viral, fazendo com que seja necessária uma padronização internacional do método.

As recomendações para profilaxia e monitorização de replicação viral pelo CMV encontram-se nas tabelas 4.11 e 4.12.

Tabela 4.11
Recomendações para monitoração de citomegalovírus (CMV) após o transplante cardíaco
Tabela 4.12
Recomendações de profilaxia/tratamento preemptivo para citomegalovírus (CMV)

4.2.2.2. Herpes Vírus

Deve ser considerado o uso de aciclovir ou valaciclovir para profilaxia de herpes simples, por pelo menos 30 dias, nos pacientes que não irão receber profilaxia para CMV. Seu uso também deve ser considerado em pacientes que apresentam recorrência frequente de reativação clínica ou que forem submetidos a grau mais intenso de imunossupressão (sobretudo com uso de ATS) (Tabela 4.13).142142 Wilck MB, Zuckerman RA; AST Infectious Diseases Community of Practice. Herpes simplex virus in solid organ transplantation. Am J Transplant. 2013 Mar;13 Suppl 4:121-7. doi: 10.1111/ajt.12105.
https://doi.org/10.1111/ajt.12105...

Tabela 4.13
Recomendações de profilaxias contra herpes

4.2.3. Profilaxias Contra Fungos e Protozoários

4.2.3.1. Toxoplasmose

A toxoplasmose no paciente transplantado é uma infecção potencialmente grave e com alta letalidade. Pode se manifestar com miocardite, encefalite, pneumonite ou ainda com envolvimento de múltiplos órgãos. Ocorre principalmente nos 3 primeiros meses após o transplante, sendo mais comumente transmitida pelo enxerto neste período. Está indicada a profilaxia nos receptores soronegativos de doadores soropositivos. A profilaxia com sulfametoxazol-trimetropim (160 a 800 mg) diário ou por três vezes na semana mostrou-se eficaz e é a mais comumente utilizada. A profilaxia com pirimetamina isoladamente (25 mg/dia) é também uma opção eficaz. Recomenda-se realizar sorologia mensalmente até o final da profilaxia (6 meses). Em receptores soronegativos, medidas higiênicas devem ser tomadas para evitar a infecção por meio de carnes malcozidas ou vegetais crus (Tabela 4.14).143143 Derouin F, Pelloux H. ESCMID Study Group on Clinical Parasitology. Prevention of toxoplasmosis in transplant patients. Clin Microbiol Infect. 2008;14(12):1089-101. doi: 10.1111/j.1469-0691.2008.02091.x.
https://doi.org/10.1111/j.1469-0691.2008...
,144144 Strabelli TM, Siciliano RF, Vidal Campos S, Bianchi Castelli J, Bacal F, Bocchi EA, et al. Toxoplasma gondii myocarditis after adult heart transplantation: successful prophylaxis with pyrimethamine. J Trop Med. 2012;2012:853562. doi: 10.1155/2012/853562.
https://doi.org/10.1155/2012/853562...

Tabela 4.14
Recomendações para profilaxia contra toxosplamose

4.2.3.2 Pneumocistose

Pneumocystis jirovecii (anteriormente denominado Pneumocystis carinii) é um microrganismo presente universalmente no ambiente, sendo uma causa bem conhecida de infecção pulmonar no paciente imunossuprimido. O risco maior de infecção ocorre nos primeiros 6 meses após o transplante, sendo este o período no qual recomenda-se o uso de profilaxia. Alguns fatores podem aumentar o risco de infecção em outros períodos, devendo ser considerado o uso de profilaxia, com destaque para aumento de imunossupressão para tratamento de rejeição, infecção recorrente por CMV e neutropenia prolongada. Sulfametoxazol-trimetropim (160 a 800 mg) três vezes por semana é a droga de escolha para profilaxia (Tabela 4.15).145145 Martin SI, Fishman JA; AST Infectious Diseases Community of Practice. Pneumocystis pneumonia in solid organ transplantation. Am J Transplant. 2013 Mar;13 Suppl 4:272-9. doi: 10.1111/ajt.12119.
https://doi.org/10.1111/ajt.12119...

Tabela 4.15
Recomendações para profilaxia contra pneumocistose

4.2.3. Profilaxia Contra Estrongiloidíase

Estrongiloidíase pode ser uma doença devastadora no paciente transplantado, com mortalidade de até 50% na síndrome de hiperinfecção e 70% na infecção disseminada. Avaliação pré-transplante com pesquisa nas fezes deve ser realizada para avaliar necessidade de tratamento. Quando não disponível, o tratamento empírico com ivermectina 200 mcg/kg/dia por 2 dias deve ser considerado.146146 Schwartz BS, Mawhorter SD; AST Infectious diseases community of practice. Parasitic infections in solid organ transplantation. Am J Transplant. 2013 Mar;13 Suppl 4:280-303. doi: 10.1111/ajt.12120.
https://doi.org/10.1111/ajt.12120...

4.2.4. Imunização

Pacientes transplantados são de maior risco para complicações por infecções que podem ser prevenidas por vacina. Candidatos a transplante e seus cuidadores devem ser vacinados sempre que possível antes do transplante. Após o transplante, vacinas com agente inativado são seguras, enquanto as com agente vivo atenuado, em geral, não devem ser utilizadas. A maior parte dos centros reinicia vacinação 3 a 6 meses após o transplante, com a imunossupressão de base já reduzida. A tabela 4.16 resume as indicações de vacina para receptores adultos.147147 Danziger-Isakov L, Kumar D; AST Infectious Diseases Community of Practice. Vaccination in solid organ transplantation. Am J Transplant. 2013 Mar;13 Suppl 4:311-7. doi: 10.1111/ajt.12122.
https://doi.org/10.1111/ajt.12122...
,148148 Danzinger-Isakov L, Kumar D; AST Infectious Diseases Community of Practice. Guidelines for vaccination of solid organ transplant candidates and recipients. Am J Transplant. 2009 Dec;9 Suppl 4:S258-62. doi: 10.1111/j.1600-6143.2009.02917.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2009...

Tabela 4.16
Vacinas recomendadas antes e após o transplante cardíaco

4.3. Seguimento

No seguimento após TxC, além da vigilância infecciosa e das profilaxias, é preciso monitorar a ocorrência de rejeição celular e humoral, mais frequente no primeiro ano, e buscar ativamente complicações tardias, como DVE. A tabela 4.17 sugere uma rotina para acompanhamento do paciente no período pós-transplante, devendo-se sempre levar em consideração as particularidades de cada serviço.

Tabela 4.17
Rotina de consultas e exames no seguimento ambulatorial do paciente transplantado cardíaco

4.3.1. Monitorização de Rejeição

A Biópsia Endomiocárdica (BEM) é o exame padrão-ouro para o diagnóstico de rejeição celular e humoral após o transplante de coração (Tabela 4.18). A BEM pode ser realizada por punção de veia jugular ou femoral. Por ser um método invasivo, não é isenta de complicações, as quais incluem perfuração, tamponamento cardíaco, arritmias, pneumotórax, dano à valva tricúspide, dentre outros. Os riscos da BEM estão relacionados ao operador, estado clínico do paciente, tipo de biótomo e local de acesso. Deve ser realizada retirando-se cinco a sete fragmentos do septo interventricular direito, pois alguns fragmentos podem não conter tecido miocárdico.

Tabela 4.18
Recomendações para biópsia endomiocárdica (BEM) no seguimento do transplante cardíaco

Um estudo retrospectivo, que englobou 24.137 pacientes transplantados de coração no período de 1993 a 2002, demonstrou que menor idade, história de rejeição, tempo precoce após o procedimento e etnia afro-americana são fatores de risco para rejeição tardia. Este estudo demonstrou ainda que realizar BEM de seguimento no período entre 2 e 5 anos reduzia a mortalidade no transplante, sem benefício adicional após 5 anos em pacientes assintomáticos.149149 Stehlik J, Starling RC, Movsesian MA, Fang JC, Brown RN, Hess ML, et al; Cardiac Transplant Research Database Group. Utility of long-term surveillance endomyocardial biopsy: a multi-institutional analysis. J Heart Lung Transplant. 2006;25(12):1402-9. doi: 10.1016/j.healun.2006.10.003.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2006.10...

Mais recentemente, outro estudo comparou uma abordagem padrão, que mantinha biópsias regulares até o quinto ano, com outra conservadora, que parava as biópsias após 6 meses de transplante. Concluiu-se que, em pacientes com imunossupressão atual e na ausência de indicação clínica ou achados ecocardiográficos que sugiram rejeição clínica, existe pequena chance de uma BEM realizada após 6 meses identificar rejeição com necessidade de mudança no regime imunossupressor.150150 Orrego CM, Cordero-Reyes AM, Estep JD, Loebe M, Torre-Amione G. Usefulness of routine surveillance endomyocardial biopsy 6 months after heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2012;31(8):845-9. doi: 10.1016/j.healun.2012.03.015.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2012.03...

Testes não invasivos têm sido avaliados no rastreio de rejeição nos pacientes com mais de 6 meses a 1 ano de transplante. Dentre estes, destacamos a cintilografia com gálio-67, a qual tem sido bastante utilizada em nosso meio. O exame permite a detecção de inflamação no miocárdio e apresenta elevada sensibilidade e especificidade para o diagnóstico de rejeição, assim como boa sensibilidade para avaliação da gravidade da rejeição. O acompanhamento seriado com este método reduz significativamente a necessidade de BEM. Sugere-se a realização do exame a cada 6 meses, após 1 ano de transplante.151151 Badano LP, Miglioranza MH, Edvardsen T, Colafranceschi AS, Muraru D, Bacal F, et al. European Association of Cardiovascular Imaging/Cardiovascular Imaging Department of the Brazilian Society of Cardiology recommendations for the use of cardiac imaging to assess and follow patients after heart transplantation. Eur Heart J Cardiovasc Imaging. 2015;16(9):919-48. doi: 10.1093/ehjci/jev139.
https://doi.org/10.1093/ehjci/jev139...

4.3.2. Monitorização de Doença Vascular do Enxerto

A monitorização de doença vascular de enxerto é recomendada após o TxC. Sua identificação tem impacto no prognóstico e na decisão de terapia de manutenção do paciente transplantado. Este tema será abordado em tópico específico nesta diretriz.

4.3.3. Monitorização Imunológica

4.3.3.1. Detecção de Anticorpos Anti-HLA e Não HLA no Pós-transplante

O desenvolvimento da tecnologia de SPI (Solid-Phase Immunoassay) para detecção de anticorpos anti-HLA (Luminex) permite maior sensibilidade do que a técnica da CDC. Porém traz novo paradigma em relação à interpretação dos donor specific antibody (DSA), principalmente no seguimento pós-transplante.

Desde 1996, estudos demonstram que a persistência de anticorpos anti-HLA pré-formados no pós-transplante está associada ao maior risco de desenvolvimento de DSA e, deste modo, pior prognóstico.152152 Reed EF, Hong B, Ho E, Harris PE, Weinberger J, Suciu-Foca N. Monitoring of soluble HLA alloantigens and anti-HLA antibodies identifies heart allograft recipients at risk of transplant-associated coronary artery disease. Transplantation. 1996;61(4):566-72. PMID: 8610382. Estudo prospectivo realizado na Alemanha envolvendo 213 pacientes transplantados cardíacos mostrou menor sobrevida livre de DVE em 10 anos em pacientes com DSA quando comparados a transplantados sem DSA (26 vs. 65%; p = 0,025). Em análise multivariada, a presença de DSA foi o único fator preditor independente de DVE.153153 Kaczmarek I, Deutsch M, Kauke T, Beiras-Fernandez A, Schmoeckel M, Vicol C, et al. Donor-specific HLA alloantibodies: long-term impact on cardiac allograft vasculopathy and mortality after heart transplant. Exp Clin Transplant. 2008;6(3):229-35. PMID: 18954302. Considerando que pacientes sensibilizados pré-transplante apresentam maior risco rejeição humoral aguda e crônica, a monitoração do painel imunológico após transplante se faz necessária.

No entanto, a produção de DSA após transplante pode ocorrer tanto em pacientes sensibilizados quanto não sensibilizados. Estes anticorpos são denominados de novo DSA (dnDSA) e estão associados ao maior risco de rejeição mediada por anticorpos;154154 Ho EK, Vlad G, Vasilescu ER, de la Torre L, Colovai AI, Burke E, et al. Pre- and posttransplantation allosensitization in heart allograft recipients: major impact of de novo alloantibody production on allograft survival. Hum Immunol. 2011;72(1):5-10. doi: 10.1016/j.humimm.2010.10.013.
https://doi.org/10.1016/j.humimm.2010.10...
,155155 Reinsmoen NL, Lai CH, Mirocha J, Cao K, Ong G, Naim M, et al. Increased negative impact of donor HLA-specific together with non-HLA-specific antibodies on graft outcome. Transplantation. 2014;97(5):595-601. doi: 10.1097/01.TP.0000436927.08026.a8.
https://doi.org/10.1097/01.TP.0000436927...
principalmente na presença de anticorpos anti-HLA classe II ou na presença de anti-HLA I e II.156156 Fidler SJ, Irish AB, Lim W, Ferrari P, Witt CS, Christiansen FT. Pre-transplant donor specific anti-HLA antibody is associated with antibody-mediated rejection, progressive graft dysfunction and patient death. Transpl Immunol. 2013;28(4):148-53. doi: 10.1016/j.trim.2013.05.001.
https://doi.org/10.1016/j.trim.2013.05.0...
A força/intensidade (MFI) do anticorpo também parece influenciar no prognóstico, existindo relatos de que valores de MFI > 8.000 aumentam o risco de rejeição humoral em até 23 vezes em TxC e valores MFI < 2.000 têm baixa associação com eventos pós-transplante renal.157157 Susal C, Ovens J, Mahmoud K, Döhler B, Scherer S, Ruhenstroth A, et al. No association of kidney graft loss with human leukocyte antigen antibodies detected exclusively by sensitive Luminex single-antigen testing: a Collaborative Transplant Study report. Transplantation. 2011;91(8):883-7. doi: 10.1097/TP.0b013e3182100f77.
https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3182100...
A presença de dnDSA também está associada à pior sobrevida, sendo preditor independente de perda do enxerto e óbito em pacientes transplantados cardíacos.158158 Smith JD, Banner NR, Hamour IM, Ozawa M, Goh A, Robinson D, et al. De novo donor HLA-specific antibodies after heart transplantation are an independent predictor of poor patient survival. Am J Transplant. 2011;11(2):312-9. doi: 10.1111/j.1600-6143.2010.03383.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2010...

Dentre os DSA, os anti-HLA classe II parecem ter papel mais importante na associação com rejeição humoral. Dentre eles, destaca-se o papel do anti-HLA-DQ. Em transplantados renais, está bem estabelecida sua associação com rejeição mediada por anticorpos crônica e perda do enxerto tardia.159159 Lee H, Min JW, Kim JI, Moon IS, Park KH, Yang CW, et al. Clinical significance of HLA-DQ antibodies in the development of chronic antibody-mediated rejection and allograft failure in kidney transplant recipients. Medicine (Baltimore). 2016;95(11):e3094. doi: 10.1097/MD.0000000000003094.
https://doi.org/10.1097/MD.0000000000003...
No TxC, as evidências também apontam para associação entre anticorpos anti-HLA-DQ e maior incidência de rejeição humoral e DVE. Em uma série de casos de pacientes com rejeição humoral comprovada (biópsia/DSA/disfunção ventricular), todos apresentaram níveis elevados de anticorpos anti-HLA-DQ.160160 Ticehurst EH, Molina MR, Frank R, Kearns J, Lal P, Goldberg LR, et al. Antibody-mediated rejection in heart transplant patients: long-term follow up of patients with high levels of donor-directed anti-DQ antibodies. Clin Transpl. 2011:409-14. PMID: 22755439.

Visando prevenir a formação de DSA, deve-se promover imunossupressão adequada, bem como reforçar a necessidade de boa aderência ao tratamento. A tabela 4.19 161161 Brokhof MM, Sollinge HW, Hager DR, Muth BL, Pirsch JD, Fernandez LA, et al. Antithymocyte globulin is associated with a lower incidence of de novo donor-specific antibodies in moderately sensitized renal transplant recipients. Transplantation. 2014;97(6):612-7. doi: 10.1097/TP.0000000000000031.
https://doi.org/10.1097/TP.0000000000000...

162 Tydén G, Ekberg H, Tufveson G, Mjörnstedt L. A randomized, double-blind, placebo-controlled study of single dose rituximab as induction in renal transplantation: a 3-year follow-up. Transplantation. 2012; 94(3):e21-2. doi: 10.1097/01.tp.0000418580.88642.e1.
https://doi.org/10.1097/01.tp.0000418580...

163 Ejaz NS, Shields AR, Alloway RR, Sadaka B, Girnita AL, Mogilishetty G, et al. Randomized controlled pilot study of B cell-targeted induction therapy in HLA sensitized kidney transplant recipients. Am J Transplant. 2013;13(12):3142-54. doi: 10.1111/ajt.12493.
https://doi.org/10.1111/ajt.12493...

164 O'Leary JG, Samaniego M, Barrio MC, Potena L, Zeevi A, Djamali A, et al. The influence of immunosuppressive agents on the risk of De Novo donor-specific HLA antibody production in solid organ transplant recipients. Transplantation. 2016;100(1):39-53. doi: 10.1097/TP.0000000000000869.
https://doi.org/10.1097/TP.0000000000000...
-165165 Delgado JC, Fuller A, Ozawa M, Smith L, Terasaki PI, Shihab FS, et al. No occurrence of de novo HLA antibodies in patients with early corticosteroid withdrawal in a 5-year prospective randomized study. Transplantation. 2009;87(4):546-8. doi: 10.1097/TP.0b013e3181949d2e.
https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3181949...
descreve possíveis estratégias para o uso adequado da terapia imunossupressora, visando reduzir o risco de desenvolver DSA.

Tabela 4.19
Estratégias para prevenir a formação de de novo anticorpo doador-específico (dnDSA)

Diante das evidências referidas, é de suma importância realizar a monitorização de DSA, principalmente em pacientes de alto risco (sensibilizados ou após desensibilização) no primeiro ano após transplante.77 Kobashigawa J, Mehra M, West L, Kerman R, George J, Rose M, et al; Consensus Conference Participants. Report from a consensus conference on the sensitized patient awaiting heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2009;28(3):213-25. doi: 10.1016/j.healun.2008.12.017.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2008.12...
,166166 Cole RM, Kobashigawa JA. Desensitization strategies pre- and post-cardiac transplantation. Curr Treat Options Cardiovasc Med. 2016;18(2):8. doi: 10.1007/s11936-015-0431-9.
https://doi.org/10.1007/s11936-015-0431-...
No entanto, em estudo envolvendo 950 pacientes transplantados cardíacos seguidos por 15 anos, observou-se que os efeitos deletérios dos dnDSA em pacientes sensibilizados ou não ocorreram em média 8 anos após transplante. Isto sugere que o acompanhamento com painel imunológico pode ser relevante mesmo tardiamente.154154 Ho EK, Vlad G, Vasilescu ER, de la Torre L, Colovai AI, Burke E, et al. Pre- and posttransplantation allosensitization in heart allograft recipients: major impact of de novo alloantibody production on allograft survival. Hum Immunol. 2011;72(1):5-10. doi: 10.1016/j.humimm.2010.10.013.
https://doi.org/10.1016/j.humimm.2010.10...
A tabela 4.20 propõe estratégia para monitorização do painel imunológico após TxC.

Tabela 4.20
Recomendação para monitorização do painel imunológico

Além dos DSA, os anticorpos não HLA podem contribuir para os mecanismos da rejeição mediada por anticorpos. Os mais comuns são os anticorpos contra células endoteliais, autoantígenos (antivimentina e antimiosina), aloantígenos polimórficos, como MICA e MICB, e anticorpos antirreceptor AT1.167167 Fredrich R, Toyoda M, Czer L, Galfayan K, Galera O, Trento A, et al. The clinical significance of antibodies to human vascular endothelial cells after cardiac transplantation. Transplantation. 1999;67(3):385-91. PMID: 10030283.

168 Jurcevic S, Ainsworth ME, Pomerance A, Smith JD, Robinson DR, Dunn MJ, et al. Antivimentin antibodies are an independent predictor of transplant-associated coronary artery disease after cardiac transplantation. Transplantation. 2001;71(7):886-92. PMID: 11349721.

169 Suárez-Alvarez B, López-Vázquez A, Gonzalez MZ, Fdez-Morera JL, Díaz-Molina B, Blanco-Gelaz MA, et al. The relationship of anti-MICA antibodies and MICA expression with heart allograft rejection. Am J Transplant. 2007;7(7):1842-8. doi: 10.1111/j.1600-6143.2007.01838.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2007...
-170170 Barz D, Friedrich S, Schuller A, Rummler S. Antibodies against AT1-receptor in transplantation (diagnostics, treatment, clinical relevance). Atheroscler Suppl. 2015 May;18:112-8. doi: 10.1016/j.atherosclerosissup.2015.02.021
https://doi.org/10.1016/j.atherosclerosi...
Pequenos estudos sugerem possível associação com rejeição humoral aguda, DVE e pior sobrevida. Deve-se suspeitar da presença de anticorpos não HLA em pacientes com evidência clínica/anatomopatológica de rejeição mediada por anticorpos, porém sem evidência de DSA.171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...
Não há evidência científica para a monitorização de anticorpos não HLA como rotina após TxC.

4.3.3.2. Manejo de Pacientes Transplantados na Presença de Anticorpos

Apesar do avanço nas técnicas de detecção de DSA ter aumentado a possibilidade de transplante para pacientes sensibilizados, a detecção destes anticorpos no pós-transplante precisa ser analisada de forma ponderada, para auxiliar no manejo do paciente. A presença de DSA isolada não define o diagnóstico de rejeição mediada por anticorpos, porém, quando associada à deposição de complemento (presença de C4d ou C3d na biópsia) ou à disfunção do enxerto, sua presença suporta a ativação aloimune.171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...

Até o presente momento, não há evidência suficiente na literatura para definir quando tratar DSA. Sabe-se que a presença de dnDSA, assim como de DSA pré-formados pode ser deletéria. No entanto, há consenso de que nem todo DSA precisa ser tratado. A decisão terapêutica para pacientes com DSA pré-formados ou de novo deve levar em consideração dados anatomopatológicos, deposição de complemento e função ventricular.172172 Berry GJ, Burke MM, Andersen C, Bruneval P, Fedrigo M, Fishbein MC, et al. The 2013 International Society for Heart and Lung Transplantation Working Formulation for the standardization of nomenclature in the pathologic diagnosis of antibody-mediated rejection in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2013;32(12):1147-62. doi: 10.1016/j.healun.2013.08.011.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.08...
A tabela 4.21 sugere algumas recomendações para o tratamento de pacientes com DSA no pós-transplante. O tratamento específico está descrito na seção C do subitem 4.4.1.1.

Tabela 4.21
Orientação para o manejo clínico de pacientes com donor specific antibody (DSA) positivo

4.4. Complicações Pós-transplante

4.4.1. Complicações Precoces

4.4.1.1. Rejeição

A) Rejeição Hiperaguda

A rejeição humoral é considerada hiperaguda quando ocorre nos primeiros 7 dias pós-transplante pela presença de anticorpos preexistentes contra o doador. A rejeição humoral precoce ocorre principalmente no primeiro mês pela presença de anticorpos preexistentes ou desenvolvimento de anticorpos de novo. A rejeição humoral tardia pode ocorrer meses e até anos após o transplante.

RHA é uma rara e temida complicação, que ocorre em geral nas primeiras 24 horas após transplante, com taxa de mortalidade de aproximadamente 70%. Desde o uso da compatibilidade ABO e do PRA, e especialmente do cross-match virtual prospectivo, a RHA reduziu muito sua ocorrência, porém ainda há raros casos em que ela se apresenta. Trata-se de forma secundária de disfunção de enxerto, mediada por anticorpos pré-formados antidoador e ocorre tão rapidamente que o tecido nunca se torna vascularizado. É caracterizada pela deposição de complemento, influxo de neutrófilos e liberação de partículas lipídicas da membrana das células endoteliais e plaquetas, que levam à coagulação com trombose intraenxerto e à hemorragia difusa da vasculatura do enxerto.173173 Ibrahim M, Hendry P, Masters R, Rubens F, Lam BK, Ruel M, et al. Management of acute severe perioperative failure of cardiac allografts: a single-centre experience with a review of the literature. Can J Cardiol. 2007;23(5):363-7. PMID: 17440641.,174174 Crudele V, Picascia A, Infante T, Grimaldi V, Maiello C, Napoli C. Repeated immune and non immune insults to the graft after heart transplantation. Immunol Lett. 2011;141(1):18-27. doi: 10.1016/j.imlet.2011.07.004.
https://doi.org/10.1016/j.imlet.2011.07....

A RHA tem como diagnóstico diferencial a DPE e pode apresentar-se pela incapacidade de desmame do bypass da CEC ou uma disfunção precoce do enxerto, com baixa fração de ejeção, hipotensão com necessidade de progressivo e importante suporte inotrópico, e altas pressões de enchimento − dados estes observados por ecocardiografia, cateter cardíaco direito e exames laboratoriais (saturação central ou mista, lactato). Nem sempre é possível, diante da instabilidade hemodinâmica, a BEM para diagnóstico específico.9494 Kobashigawa J, Zuckermann A, Macdonald P, Leprince P, Esmailian F, Luu M, et al; Consensus Conference participants. Report from a consensus conference on primary graft dysfunction after cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2014;33(4):327-40. doi: 10.1016/j.healun.2014.02.027.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.02...

No caso de falência do enxerto associada à RHA, o uso de Dispositivo de Assistência Ventricular (DAV), com e sem ECMO, e de balão intra-aórtico é essencial para o suporte hemodinâmico, enquanto busca-se diagnóstico diferencial e implementam-se estratégias para eliminação/controle dos anticorpos circulantes implicados. Entre elas, estão plasmaférese associada, na maioria das vezes, ao uso de imunoglobulina intravenosa, em média por 3 a 5 dias, visando à retirada e à inativação de anticorpos circulantes, seguidos de anticorpo monoclonal anti-CD20 (rituximabe) por 1 a 4 semanas, visando agir sobre linfócitos B e, assim, dificultar a produção de novos anticorpos.175175 Kaczorowski DJ, Datta J, Kamoun M, Dries DL, Woo YJ. Profound hyperacute cardiac allograft rejection rescue with biventricular mechanical circulatory support and plasmapheresis, intravenous immunoglobulin, and rituximab therapy. J Cardiothorac Surg. 2013;8:48. doi: 10.1186/1749-8090-8-48.
https://doi.org/10.1186/1749-8090-8-48...
,176176 Kittleson MM. Changing role of heart transplantation. Heart Fail Clin. 2016;12(3):411-21. doi: 10.1016/j.hfc.2016.03.004.
https://doi.org/10.1016/j.hfc.2016.03.00...

B) Rejeição Aguda Celular

Este é um fenômeno caracterizado por uma resposta inflamatória predominantemente célula T mediada, com infiltração de linfócitos e macrófagos, e que pode levar à necrose de miócitos. A Rejeição Aguda Celular (RAC) pode ocorrer em qualquer momento após o transplante, porém o risco inicial de rejeição aumenta nos primeiros 1 a 3 meses após o transplante e, em seguida, diminui, culminando em um baixo risco constante após 1 ano. Quase 40% dos pacientes com TxC adulto têm um ou mais episódios agudos de rejeição em algum grau dentro do primeiro mês, e mais de 60% experimentam uma ou mais rejeições (ISHLT grau 1R) dentro de 6 meses.177177 Patel JK, Kittleson M, Kobashigawa JA. Cardiac allograft rejection. Surgeon. 2011;9(3):160-7. doi: 10.1016/j.surge.2010.11.023.
https://doi.org/10.1016/j.surge.2010.11....

B.1) Diagnóstico

Como o coração transplantado é denervado, os sintomas resultantes da RAC podem inicialmente ser insidiosos e pouco expressivos. Uma abordagem não invasiva, simples, com boa confiabilidade e que permita a detecção precoce do início da rejeição antes de ocorrer necrose miocárdica significativa tem sido buscada.

A ecocardiografia é uma ferramenta vital para a avaliação da função do enxerto, porém só tardiamente, no decurso da rejeição, é que a disfunção sistólica é detectada. Outros parâmetros, como a função diastólica e o Doppler tecidual, foram estudados na detecção de rejeição precoce com baixa especificidade, porém com valor preditivo negativo alto.178178 Mingo-Santos S, Moñivas-Palomero V, Garcia-Lunar I, Mitroi CD, Goirigolzarri-Artaza J, Rivero B, et al. Usefulness of Two-Dimensional Strain Parameters to Diagnose Acute Rejection after Heart Transplantation. J Am Soc Echocardiogr. 2015;28(10):1149-56. doi: 10.1016/j.echo.2015.06.005.
https://doi.org/10.1016/j.echo.2015.06.0...

Outros métodos, como Ressonância Magnética Cardíaca (RMC) e avaliação de anormalidades da condução elétrica, também vêm sendo estudados, mas ainda aguardam mais estudos para validação.179179 Simsek E, Nalbantgil S, Ceylan N, Zoghi M, Kemal HS, Engin Ç, et al. Diagnostic performance of late gadolinium enhancement in the assessment of acute cellular rejection after heart transplantation. Anatol J Cardiol. 2016;16(2):113-8. doi: 10.5152/AnatolJCardiol.2015.5961.
https://doi.org/10.5152/AnatolJCardiol.2...

Diversos biomarcadores foram avaliados na RAC, como troponina e BNP. A troponina, resultado da libertação de proteínas ultraestruturais pela necrose, geralmente só é detectada em episódios de rejeição severa, e seus baixos níveis são um achado inespecífico. O BNP sugere ser um marcador útil, apesar de possuir variabilidade significativa associada ao tempo de pós-operatório, o que limita sua interpretação. Por outro lado, as alterações temporais individualizadas nos níveis de BNP parecem ter bom resultado na predição de RAC.180180 Labarrere CA, Jaeger BR. Biomarkers of heart transplant rejection: the good, the bad, and the ugly. Transl Res. 2012;159(4):238-51. doi: 10.1016/j.trsl.2012.01.018.
https://doi.org/10.1016/j.trsl.2012.01.0...

Até o momento, apenas um teste não invasivo para a detecção de RAC atingiu o uso clínico rotineiro e foi aprovado pela FDA. Trata-se da pesquisa de marcadores genéticos que determinam o perfil de expressão genética, representativo do processo de rejeição celular aguda. Ele tem alto valor preditivo negativo, com possível associação prognóstica para RAC para pacientes com baixos níveis e ditos de baixo risco, apresentando, neste caso, inclusive, estudo de não inferioridade com a biópsia.181181 Fang K. Clinical utilities of peripheral blood gene expression profiling in the management of cardiac transplant patients. J Immunotoxicol. 2007;4(3):209-17. doi: 10.1080/15476910701385570.
https://doi.org/10.1080/1547691070138557...

O principal método diagnóstico permanece a BEM, a qual, associada ao status clínico, tem guiado a abordagem. No entanto, importante lembrar que as alterações inflamatórias podem ser esporádicas por meio do miocárdio, ou afetar predominantemente o subendocárdio. Nestes casos, a BEM, que, por necessidade, é limitada à amostragem de uma área especifica do endocárdio, pode perder acuidade.

B.2) Classificação

Histopatologicamente, a RAC é definida com infiltrado inflamatório predominantemente linfocitário, com evidência associada de injúria miocárdica, e é classificada em apenas três graus (Tabela 4.22).182182 Stewart S, Winters GL, Fishbein MC, Tazelaar HD, Kobashigawa J, Abrams J, et al. Revision of the 1990 working formulation for the standardization of nomenclature in the diagnosis of heart rejection. J Heart Lung Transplant. 2005;24(11):1710-20. doi: 10.1016/j.healun.2005.03.019.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2005.03...

Tabela 4.22
Classificação de rejeição celular em enxerto cardíaco

B.3) Tratamento

Na RAC, a terapêutica é baseada nos achados histológicos da BEM, status clínico e ecocardiograma, conforme segue (Tabela 4.23):

Tabela 4.23
Tratamento de rejeição aguda celular
  • Biópsia 0R (paciente estável clinicamente com função sistólica normal ao ecocardiograma): mantém-se o esquema atual de imunossupressão.

  • Biópsia 1R (paciente estável e função sistólica normal): em geral, ocorre resolução espontânea, porém recomendam-se reavaliar doses dos imunossupressores e seu nível sérico.

  • Biópsia 2R:

    • ·ž Sem disfunção de enxerto: quando a mesma se apresentar sem associação com disfunção do enxerto, indica-se uso de prednisona 100 mg ou 1,0 mg/kg/dia por via oral, por 5 a 7 dias e, após 1 a 2 semanas, repetir biópsia. Se a mesma ocorrer em paciente recentemente transplantado, indica-se pulsoterapia com metilprednisolona 1 g/dia por 3 dias, seguida da dose oral de 1 mg/kg/dia, até a nova biópsia em 7 dias.

    • ·ž Com disfunção do enxerto: neste caso indica-se a associação de pulsoterapia com metilprednisolona 1 g/dia por 3 dias, associada à terapia citolítica com uso de imunoglobulina antitimócito ou ATS, 1,5 mg/kg/dia, uma vez ao dia, por 5 a 7 dias (com interrupção baseada na contagem de linfócitos e ou células T: parar infusão quando contagem de CD3 < 30 cel/mm33 Demers P, Moffatt S, Oyer PE, Hunt SA, Reitz BA, Robbins RC. Long term results of heart transplantation in patient older than 60 years. J Thorac Cardiovasc Surg. 2003;126(1):224-31. PMID: 12878959., linfócitos < 100 cel/mm33 Demers P, Moffatt S, Oyer PE, Hunt SA, Reitz BA, Robbins RC. Long term results of heart transplantation in patient older than 60 years. J Thorac Cardiovasc Surg. 2003;126(1):224-31. PMID: 12878959., CD4 e CD8 < 50 cel/mm33 Demers P, Moffatt S, Oyer PE, Hunt SA, Reitz BA, Robbins RC. Long term results of heart transplantation in patient older than 60 years. J Thorac Cardiovasc Surg. 2003;126(1):224-31. PMID: 12878959.).

  • Biópsia 3R:

    • ž Sem disfunção de enxerto: neste caso, indica-se pulsoterapia com metilprednisolona 1g/dia, por 3 dias e ajuste da dose de imunossupressores. Timoglobulina pode ser considerado em associação ao pulso com corticoide. Nova biópsia é realizada em 2 semanas.

    • ž Com disfunção do enxerto: neste caso, indica-se a associação de pulsoterapia com metilprednisolona 1 g/dia, por 3 dias, com terapia citolítica, com uso de imunoglobulina antitimócito ou ATS, 1,5 mg/kg/dia, uma vez ao dia, por 5 a 7 dias (com interrupção baseada na contagem de linfócitos e ou células T: parar infusão quando contagem de CD3 < 30 cel/mm33 Demers P, Moffatt S, Oyer PE, Hunt SA, Reitz BA, Robbins RC. Long term results of heart transplantation in patient older than 60 years. J Thorac Cardiovasc Surg. 2003;126(1):224-31. PMID: 12878959., linfócitos < 100 cel/mm33 Demers P, Moffatt S, Oyer PE, Hunt SA, Reitz BA, Robbins RC. Long term results of heart transplantation in patient older than 60 years. J Thorac Cardiovasc Surg. 2003;126(1):224-31. PMID: 12878959., CD4 e CD8 < 50 cel/mm33 Demers P, Moffatt S, Oyer PE, Hunt SA, Reitz BA, Robbins RC. Long term results of heart transplantation in patient older than 60 years. J Thorac Cardiovasc Surg. 2003;126(1):224-31. PMID: 12878959.).

    • * Pesquisar rejeição humoral. PO: pós-operatório; EV: via endovenosa; VO: via oral; ATS: timoglobulina.

Nos casos de instabilidade hemodinâmica, o uso de dispositivos de suporte circulatório ou ventricular deve ser considerado.

Em casos de rejeição recorrente e refratária ao manejo terapêutico habitual, sugerem-se a conversão de ciclosporina para tacrolimus e uso de micofenolato como alternativas à azatioprina. Há relatos em literatura de experiências com conversão de um dos agentes para drogas inibidoras mTOR bem como seu acréscimo ao regime padrão como quarta droga (Figura 4.1).

Figura 4.1
Fluxograma de tratamento da rejeição celular aguda. EV: via endovenosa; VO via oral; ATS: timoglobulina.

Alguns centros ainda relatam uso, em associação, de metotrexato na dose de 5 a 15 mg/semana em cursos curtos de 3 até um máximo de 12 semanas, observando-se mielossupressão, bem como nefro/hepatotoxicidade. Outra droga citada é ciclofosfamida, em doses entre 0,5 a 1,5 mg/kg/dia, a serem avaliadas considerando tolerância e resposta do paciente.183183 De Bonis M, Reynolds L, Barros J, Madden BP. Tacrolimus as a rescue immunosuppressant after heart transplantation. Eur J Cardiothorac Surg. 2001;19(5):690-5. PMID: 11343954.

Para casos refratários, podemos ainda considerar o uso de fotoférese, que consiste em técnica de aférese na qual o plasma rico em leucócitos é tratado com agente fotossensibilizante exposto a radiação ultravioleta A. Esta técnica também foi avaliada na prevenção de rejeição com bons resultados e menor risco de infecção.184184 Barr ML, Meiser BM, Eisen HJ, Roberts RF, Livi U, Dall'Amico R, et al. Photopheresis for the prevention of rejection in cardiac transplantation. N Engl J Med. 1998;339:1744-1751. doi: 10.1056/NEJM199812103392404
https://doi.org/10.1056/NEJM199812103392...

C) Rejeição Aguda Humoral ou Mediada por Anticorpos

A rejeição aguda humoral ou mediada por anticorpos ocorre pela presença de pré-sensibilização a antígenos anti-HLA ou não HLA do doador ou pela produção de anticorpos de novo específicos contra o endotélio vascular do doador, que levam à fixação e à ativação da cascata do complemento e à consequente resposta imune. Esta resposta inclui a produção de citocinas, infiltração de macrófagos, o aumento da permeabilidade vascular e a trombose microvascular, podendo culminar na disfunção do enxerto, no desenvolvimento de DVE e na redução da sobrevida.171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...

Por se tratar de uma entidade com padronização recente, ainda com muitas dúvidas sobre a melhor estratégia para o diagnóstico, sua real incidência é desconhecida, variando de 3 a 85%.171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...
Estudo baseado na última classificação demonstrou presença de rejeição humoral em 34% das biópsias;186 dados nacionais não são disponíveis.

Do ponto de vista histológico, a rejeição humoral caracteriza-se pela presença de lesão dos capilares miocárdicos com edema das células endoteliais e acúmulo de macrófagos ativados no interior. Edema intersticial e hemorragia podem estar presentes, bem como neutrófilos na parede e ao redor dos capilares. Trombos intravasculares e necrose de miócitos, na ausência de infiltrado celular, também podem ser vistos, em especial nos casos mais graves.172172 Berry GJ, Burke MM, Andersen C, Bruneval P, Fedrigo M, Fishbein MC, et al. The 2013 International Society for Heart and Lung Transplantation Working Formulation for the standardization of nomenclature in the pathologic diagnosis of antibody-mediated rejection in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2013;32(12):1147-62. doi: 10.1016/j.healun.2013.08.011.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.08...

Atualmente, a fração do complemento C4d no capilar é o principal marcador para o diagnóstico imunopatológico da rejeição humoral, apesar de limitações.171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...
Esta proteína liga-se de forma covalente ao endotélio no local da ativação do complemento e persiste de forma mais duradoura que o C1q e C3. A presença da fração C3d do complemento também é usada para o diagnóstico de rejeição humoral, no entanto sua clivagem ocorre mais tardiamente, indicando progressão da ativação do complemento.171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...
A combinação de C4d e C3d por imunofluorescência parece predizer disfunção ventricular e mortalidade melhor que C4d isoladamente.185185 Tan CD, Sokos GG, Pidwell DJ, Smedira NG, Gonzalez-Stawinski GV, Taylor DO, et al. Correlation of donor-specific antibodies, complement and its regulators with graft dysfunction in cardiac antibody-mediated rejection. Am J Transplant. 2009;9(9):2075-84. doi: 10.1111/j.1600-6143.2009.02748.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2009...
O antígeno CD68, marcador de macrófago, acumulado nos vasos, também auxilia no diagnóstico de rejeição humoral.172172 Berry GJ, Burke MM, Andersen C, Bruneval P, Fedrigo M, Fishbein MC, et al. The 2013 International Society for Heart and Lung Transplantation Working Formulation for the standardization of nomenclature in the pathologic diagnosis of antibody-mediated rejection in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2013;32(12):1147-62. doi: 10.1016/j.healun.2013.08.011.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.08...
As técnicas de imunofluorescência (C4d e C3d) e imuno-histoquímica (C4d e CD68) podem ser utilizadas e parecem apresentar boa correlação, apesar de maior número de estudos com imunofluorescência.171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...
Devem ser consideradas positivas para rejeição humoral as alterações difusas ou multifocais, de intensidade fraca ou forte, quer seja por imunofluorescência ou imuno-histoquímica.172172 Berry GJ, Burke MM, Andersen C, Bruneval P, Fedrigo M, Fishbein MC, et al. The 2013 International Society for Heart and Lung Transplantation Working Formulation for the standardization of nomenclature in the pathologic diagnosis of antibody-mediated rejection in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2013;32(12):1147-62. doi: 10.1016/j.healun.2013.08.011.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.08...

Com base neste racional, a nomenclatura mais recente para o diagnóstico de rejeição humoral, segundo a ISHLT,172172 Berry GJ, Burke MM, Andersen C, Bruneval P, Fedrigo M, Fishbein MC, et al. The 2013 International Society for Heart and Lung Transplantation Working Formulation for the standardization of nomenclature in the pathologic diagnosis of antibody-mediated rejection in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2013;32(12):1147-62. doi: 10.1016/j.healun.2013.08.011.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.08...
,186186 Berry GJ, Angelini A, Burke MM, Bruneval P, Fishbein MC, Hammond E, et al. The ISHLT working formulation for pathologic diagnosis of antibody-mediated rejection in heart transplantation: evolution and current status (2005-2011). J Heart Lung Transplant. 2011;30(6):601-11. doi: 10.1016/j.healun.2011.02.015.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.02...
leva em consideração os achados anatomopatológicos, incluindo informações histológicas e imunopatológicas, sendo dividida em quatro graus de rejeição humoral ou mediada por anticorpos (pAMR, do inglês Pathologic Antibody Mediated Rejection) (Tabelas 4.24 e 4.25):

Tabela 4.24
Critérios para diagnóstico anatamopatológico de rejeição mediada por anticorpos
  • pAMR 0: negativa para rejeição humoral (estudos histológico e imunopatológicos negativos).

  • pAMR 1 (H+): rejeição humoral apenas histológica (ausência de achados imunopatológicos e presença de achados histológicos).

  • pAMR 1 (I+): rejeição humoral apenas pela imunopatologia (ausência de achados histológicos e presença de achados pela imunopatologia - C4d / C3d e/ou CD68 positivos).

  • pAMR 2: definida pela presença de achados histológicos e imunopatológicos para rejeição humoral.

  • pAMR 3: rejeição humoral grave caracterizada pela presença de hemorragia, fragmentação capilar, inflamação polimórfica, edema intersticial e marcadores de imunopatologia.

Apesar das limitações técnicas e dúvidas ainda pertinentes em relação à melhor estratégia para o diagnóstico de rejeição humoral, estudo recente utilizando esta classificação demonstrou que a melhor curva de sobrevida é da população com padrão pAMR 0, sendo pior, e muito semelhante entre si, quando classificada em pAMR 1 I+, H+ e pAMR 2, e muito grave quando pAMR3, validando a utilização desta classificação.187187 Hammond ME, Revelo MP, Miller DV, Snow GL, Budge D, Stehlik J, et al. ISHLT pathology antibody mediated rejection score correlates with increased risk of cardiovascular mortality: a retrospective validation analysis. J Heart Lung Transplant. 2016;35(3):320-5. doi: 10.1016/j.healun.2015.10.035.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.10...

Recomenda-se que a pesquisa imunopatológica de rejeição humoral deva ser realizada a partir da segunda semana e posteriormente, incluindo as biópsias de 1, 3, 6 e 12 meses, ou quando houver suspeita (por exemplo: disfunção ventricular).171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...
Na presença de positividade em algum momento, a pesquisa imunopatológica deve ser sempre realizada nas biópsias subsequentes, até sua negativação.186186 Berry GJ, Angelini A, Burke MM, Bruneval P, Fishbein MC, Hammond E, et al. The ISHLT working formulation for pathologic diagnosis of antibody-mediated rejection in heart transplantation: evolution and current status (2005-2011). J Heart Lung Transplant. 2011;30(6):601-11. doi: 10.1016/j.healun.2011.02.015.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.02...

Como a presença de anticorpos é a base para a ativação da resposta imune e lesão do enxerto, sua documentação é fundamental para complementar o diagnóstico de rejeição humoral, além de auxiliar na orientação do tratamento.171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...
O sistema HLA é o mais comumente envolvido, sendo recomendada a pesquisa de anticorpos anti-HLA específicos contra o doador, paralelamente à realização da pesquisa imunopatológica nas biópsias de 1, 3, 6 e 12 meses, ou quando houver suspeita,186186 Berry GJ, Angelini A, Burke MM, Bruneval P, Fishbein MC, Hammond E, et al. The ISHLT working formulation for pathologic diagnosis of antibody-mediated rejection in heart transplantation: evolution and current status (2005-2011). J Heart Lung Transplant. 2011;30(6):601-11. doi: 10.1016/j.healun.2011.02.015.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.02...
conforme tabela 4.21. Outros sistemas envolvidos devem ser considerados quando da presença de rejeição humoral do ponto de vista clinico e anatomopatológico, na ausência de anticorpos anti-HLA, incluindo anticorpos contra as células endoteliais,188188 Faulk WP, Rose M, Meroni PL, Del Papa N, Torry RJ, Labarrere CA, et al. Antibodies to endothelial cells identify myocardial damage and predict development of coronary artery disease in patients with transplanted hearts. Hum Immunol. 1999;60(9):826-32. PMID: 10527389. MICA e MICB,169169 Suárez-Alvarez B, López-Vázquez A, Gonzalez MZ, Fdez-Morera JL, Díaz-Molina B, Blanco-Gelaz MA, et al. The relationship of anti-MICA antibodies and MICA expression with heart allograft rejection. Am J Transplant. 2007;7(7):1842-8. doi: 10.1111/j.1600-6143.2007.01838.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2007...
vimentina,189189 Nath DS, Ilias Basha H, Tiriveedhi V, Alur C, Phelan D, Ewald GA, et al. Characterization of immune responses to cardiac self-antigens myosin and vimentin in human cardiac allograft recipients with antibody-mediated rejection and cardiac allograft vasculopathy. J Heart Lung Transplant. 2010;29(11):1277-85. doi: 10.1016/j.healun.2010.05.025.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2010.05...
angiotensina.190190 Reinsmoen NL. Role of angiotensin II type 1 receptor-activating antibodies in solid organ transplantation. Hum Immunol. 2013;74(11):1474-7. doi: 10.1016/j.humimm.2013.06.034.
https://doi.org/10.1016/j.humimm.2013.06...

Do ponto de vista clínico, o espectro do diagnóstico de rejeição humoral envolve alterações anatomopatológicas e/ou da presença de anticorpos específicos contra o doador, que não acarretam sintomas (com função cardíaca preservada), até quadros graves de choque cardiogênico, com necessidade de inotrópicos e dispositivos de assistência circulatória.171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...

Na presença de rejeição humoral sintomática grave (IC e/ou alteração da função cardíaca), este diagnóstico deve orientar tratamento intensivo,171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...
incluindo supressão das células T, eliminação de anticorpos circulantes e supressão das células B (corticosteroide em altas doses, anticorpos antilinfócitos, plasmaférese,191191 Wang SS, Chou NK, Ko WJ, Chi NH, Hung SC, Hsu RB, et al. Effect of plasmapheresis for acute humoral rejection after heart transplantation. Transplant Proc. 2006;38(10):3692-4. doi: 10.1016/j.transproceed.2006.10.060.
https://doi.org/10.1016/j.transproceed.2...
imunoglobulina192192 Jordan SC, Quartel AW, Czer LS, Admon D, Chen G, Fishbein MC, et al. Posttransplant therapy using high-dose human immunoglobulin (intravenous gammaglobulin) to control acute humoral rejection in renal and cardiac allograft recipients and potential mechanism of action. Transplantation. 1998;66(6):800-5. PMID: 9771846. e rituximabe193193 Garrett HE Jr, Duvall-Seaman D, Helsley B, Groshart K. Treatment of vascular rejection with rituximab in cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2005;24(9):1337-42. doi: 10.1016/j.healun.2004.09.003.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2004.09...
/bortezomibe194194 Everly MJ, Everly JJ, Susskind B, Brailey P, Arend LJ, Alloway RR, et al. Bortezomib provides effective therapy for antibody- and cell-mediated acute rejection. Transplantation. 2008;86(12):1754-61. doi: 10.1097/TP.0b013e318190af83.
https://doi.org/10.1097/TP.0b013e318190a...
). Apesar de parecer haver um pior prognóstico dos pacientes com diagnóstico de rejeição humoral assintomática (alterações anatomopatológicas e/ou anticorpos específicos contra o doador, sem disfunção ventricular),195195 Kfoury AG, Hammond ME, Snow GL, Drakos SG, Stehlik J, Fisher PW, et al. Cardiovascular mortality among heart tansplant recipients with asymptomatic antibody-mediated or stable mixed cellular and antibody-mediated rejection. J Heart Lung Transplant. 2009;28(8):781-4. doi: 10.1016/j.healun.2009.04.035.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2009.04...
,196196 Wu GW, Kobashigawa JA, Fishbein MC, Patel JK, Kittleson MM, Reed EF, et al. Asymptomatic antibody-mediated rejection after heart transplantation predicts poor outcomes. J Heart Lung Transplant. 2009;28(5):417-22. doi: 10.1016/j.healun.2009.01.015.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2009.01...
existe dúvida na literatura em relação ao seu tratamento,171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...
devido ao risco inerente de estratégias imunossupressoras mais intensivas (citadas anteriormente) e a possibilidade de estarmos diante de uma situação de acomodação.197197 Dijke EI, Platt JL, Blair P, Clatworthy MR, Patel JK, Kfoury AG, et al. B cells in transplantation. J Heart Lung Transplant. 2016;35(6):704-10. doi: 10.1016/j.healun.2016.01.1232.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2016.01...
Estes pacientes devem ser acompanhados de perto em relação a sintomas de insuficiência cardíaca, função ventricular e DVE, e recomenda-se que tacrolimus substitua ciclosporina, e que micofenolato substitua a azatioprina.171171 Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
https://doi.org/10.1161/CIR.000000000000...
Os antagonistas da mTOR como inibidores da produção de linfócitos B também podem ser considerados198198 Heidt S, Roelen DL, Eijsink C, van Kooten C, Claas FH, Mulder A. Effects of immunosuppressive drugs on purified human B cells: evidence supporting the use of MMF and rapamycin. Transplantation. 2008;86(9):1292-300. doi: 10.1097/TP.0b013e3181874a36.
https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3181874...
da mesma forma que outras drogas, como metotrexato199199 Bacal F, Sodré GL, Fernandes DA, Aiello VD, Stolf N, Bocchi E, et al. Methotrexate in acute persistent humoral rejection: an option for graft rescue. Ann Thorac Surg. 2003;76(2):607-10. PMID: 12902116. e ciclofosfamida.200200 Almuti K, Haythe J, Dwyer E, Itescu S, Burke E, Green P, et al. The changing pattern of humoral rejection in cardiac transplant recipients. Transplantation. 2007;84(4):498-503. doi: 10.1097/01.tp.0000278094.41131.9f.
https://doi.org/10.1097/01.tp.0000278094...
Fotoferese,201201 Barr ML, Baker CJ, Schenkel FA, McLaughlin SN, Stouch BC, Starnes VA, et al. Prophylactic photopheresis and chronic rejection: effects on graft intimal hyperplasia in cardiac transplantation. Clin Transplant. 2000;14(2):162-6. PMID: 10770423. irradiação total de linfócitos e esplenectomia são estratégias possíveis menos comuns. Drogas como eculizumabe202202 Wang H, Jiang J, Liu W, Kubelik D, Chen G, Gies D, et al. Prevention of acute vascular rejection by a functionally blocking anti-C5 monoclonal antibody combined with cyclosporine. Transplantation. 2005;79(9):1121-7. PMID: 15880054. e alemtuzumabe203203 Woodside KJ, Lick SD. Alemtuzumab (Campath 1H) as successful salvage therapy for recurrent steroid-resistant heart transplant rejection. J Heart Lung Transplant. 2007;26(7):750-2. doi: 10.1016/j.healun.2007.04.012.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2007.04...
têm sido aventadas para o tratamento da rejeição humoral (Tabela 4.26).

Tabela 4.26
Sumário de estratégias para o tratamento de rejeição mediada por anticorpos

Considerando o mecanismo de ativação da cascata de coagulação na gênese da rejeição humoral, existe o racional para utilização de anticoagulação em casos mais graves, no entanto pouca evidência suporta seu uso, além disso, em estudo experimental, a imunossupressão, e não a anticoagulação, demonstrou melhor resultado.204204 Byrne GW, Davies WR, Oi K, Rao VP, Teotia SS, Ricci D, et al. Increased immunosuppression, not anticoagulation, extends cardiac xenograft survival. Transplantation. 2006;82(12):1787-91. doi: 10.1097/01.tp.0000251387.40499.0f.
https://doi.org/10.1097/01.tp.0000251387...

As tabelas 4.27 e 4.28 reúnem as recomendações para o diagnóstico e o tratamento de rejeição mediada por anticorpos.

Tabela 4.27
Recomendação para o diagnóstico de rejeição
Tabela 4.28
Recomendação para tratamento da rejeição humoral (rejeição imunomediada)

4.4.1.2. Infecções

A) Aspectos Gerais

São inúmeras as etiologias possíveis para uma infecção no paciente transplantado cardíaco. Elas variam de bactérias ou vírus comumente vistos na comunidade a infecções associadas aos cuidados de saúde, passando por agentes menos frequentes, que, oportunisticamente, causam doença, porque o paciente está imunossuprimido. É este mesmo estado de imunodepressão que faz com que o indivíduo transplantado não se apresente com o quadro clínico típico, sendo comum o relato de sintomas frustros e inespecíficos, mesmo nas infecções graves. Devido a uma redução na resposta inflamatória, até mesmo os exames laboratoriais e de imagem podem estar pouco alterados. Deste modo, o diagnóstico de infecção neste perfil de pacientes frequentemente não é fácil. Mesmo assim, deve-se sempre ter o cuidado de buscar a localização e o agente infeccioso, por meio de exames laboratoriais, culturas de fluidos e tecidos, exame histopatológico, exames de imagem e endoscópicos. Sorologias geralmente não ajudam no diagnóstico de uma infecção aguda, tendo em vista a dificuldade do paciente imunodepletado em fazer viragem sorológica.205205 Fishman JA, Issa NC. Infection in organ transplantation: risk factors and evolving patterns of infection. Infect Dis Clin North Am. 2010;24(2):273-83. doi: 10.1016/j.idc.2010.01.005.
https://doi.org/10.1016/j.idc.2010.01.00...

Um dos principais determinantes do risco de infecção no paciente transplantado cardíaco é o net stage of immunosuppression (Tabela 4.29), termo designado para definir uma série de fatores, que, direta ou indiretamente, influenciam na probabilidade de o paciente transplantado evoluir com infecção.206206 Collins LA, Samore MH, Roberts MS, Luzzati R, Jenkins RL, Lewis WD, et al. Risk factors for invasive fungal infections complicating orthotopic liver transplantation. J Infect Dis. 1994;170(3):644-52. PMID: 8077723.

Tabela 4.25
Classificação anatomopatológia para o diagnóstico e tratamento de rejeição mediada por anticorpos
Tabela 4.29
Fatores associados ao net stage of immunosuppression

B) Abordagem de Acordo com o Período Pós-transplante

Nos 6 primeiros meses, os pacientes têm maior risco de rejeição. Logo, a imunossupressão deve ser intensificada, para evitar problemas com o enxerto. Este fato, associado aos riscos inerentes aos cuidados de saúde, fazem com que os 6 primeiros meses sejam também o período de maior risco de infecção. Didaticamente, pode-se dividir o perfil etiológico das infecções em três fases: precoce, ou seja, nos primeiros 30 dias após o transplante; intermediário, que é do primeiro até o sexto mês; e tardio, que é após os primeiros 6 meses (Figura 4.2). A partir do sexto mês, com a redução progressiva do risco de rejeição (tolerância imunológica) e, por conseguinte, do nível de imunossupressão, o risco de infecção é menor.207207 Ljungman P, Snydman D, Boeckh M. Transplant Infections. 4th ed. Boston: Springer International Publishing; 2016. p. 271-319. ISBN: 978-3-319-28795-9.

Figura 4.2
Perfil infeccioso conforme período pós-transplante. Fonte: Adaptado de Ljungman et al.207207 Ljungman P, Snydman D, Boeckh M. Transplant Infections. 4th ed. Boston: Springer International Publishing; 2016. p. 271-319. ISBN: 978-3-319-28795-9.

C) Abordagem Sindrômica das Infecções

As infecções do trato respiratório e gastrintestinal são as mais frequentes nos pacientes transplantados (Figuras 4.3 e 4.4).207207 Ljungman P, Snydman D, Boeckh M. Transplant Infections. 4th ed. Boston: Springer International Publishing; 2016. p. 271-319. ISBN: 978-3-319-28795-9. Dermatoses também são bem comuns (Tabela 4.30).208208 Lima AM, Reis Filho EG, Reis CM. Study of dermatoses in kidney transplant patients. An Bras Dermatol. 2013;88(3):361-7. doi: http://dx.doi.org/10.1590/abd1806-4841.20131859.
http://dx.doi.org/10.1590/abd1806-4841.2...
Já as infecções do sistema nervoso central se destacam mais por seu potencial de gravidade do que frequência (Tabela 4.31).209209 Beek DV, Patel R, Daly RC. Central nervous system infection in heart transplant recipients. Arch Neurol. 2007;64(12):1715-20. doi: 10.1001/archneur.64.12.noc70065.
https://doi.org/10.1001/archneur.64.12.n...

Figura 4.3
Fluxograma da abordagem sindrômica das infecções respiratórias. *A depender da gravidade, partir direto para a tomografia de tórax. IVAS: infecção de vias aéreas superiores; HMG: hemograma; PCR: proteína c reativa; IOT: intubação orotraqueal. Fonte: Adaptado de Ljungman et al.207207 Ljungman P, Snydman D, Boeckh M. Transplant Infections. 4th ed. Boston: Springer International Publishing; 2016. p. 271-319. ISBN: 978-3-319-28795-9.

Figura 4.4
Fluxograma da abordagem sindrômica das infecções grastrintestinais. CMV: citomegalovírus; HMG: hemograma; PCR: proteína C reativa; FR: frequência respiratória; EDA: endoscopia digestiva alta; US: ultrassom; ACMV: antigenemia para CMV; EPF: exame parasitológico de fezes; ATB: antibiótico. Fonte: Adaptado de Ljungman et al.207207 Ljungman P, Snydman D, Boeckh M. Transplant Infections. 4th ed. Boston: Springer International Publishing; 2016. p. 271-319. ISBN: 978-3-319-28795-9.

Tabela 4.30
Dermatoses em pacientes transplantados
Tabela 4.31
Infecção do sistema nervoso central em pacientes transplantados cardíaco

D) Abordagem das Infecções por Citomegalovírus

O CMV é um importante agente infeccioso no paciente transplantado cardíaco. Isto se deve não somente por sua alta frequência, mas também por sua propriedade de imunomodulação, favorecendo a rejeição imunológica ao coração transplantado e, mais tarde, o desenvolvimento da DVE (Figura 4.5). Sua patogenicidade justifica os protocolos de busca ativa de infecção por CMV. Nos 3 primeiros meses, a solicitação semanal, ou pelo menos quinzenal, de antigenemia (detecção do antígeno pp65, considerada positiva se > 10 células positivas/300.000 neutrófilos) para CMV ou pesquisa pela Reação em Cadeia de Polimerase (PCR) para CMV é altamente recomendada. Estes são os métodos mais eficazes para se diagnosticar infecção ativa pelo CMV, sendo a PCR mais sensível. Ainda não há padronização de um valor de (UI/mL) que seja considerado diagnóstico de infecção ativa.

Figura 4.5
Manifestações clínicas e manejo das infecções por citomegalovírus (CMV). PCR: reação em cadeia de polimerase; ACMV: antigenemia para CMV. Ramanan et al.210210 Ramanan P, Razonable R. Cytomegalovirus Infections in solid organ transplantation: a review. Infect Chemother. 2013;45(3):260-71. doi: 10.3947/ic.2013.45.3.260.
https://doi.org/10.3947/ic.2013.45.3.260...

O tratamento da infecção pelo CMV é feito com ganciclovir ou valganciclovir (Tabela 4.32). O foscarnet pode ser usado em caso de resistência do CMV ao tratamento padrão ou de grave toxicidade medular. Outras estratégias a serem adotadas, principalmente nos casos refratários, são o uso de inibidores de sinal no esquema de imunossupressão e a imunoglobulina específica para CMV.210210 Ramanan P, Razonable R. Cytomegalovirus Infections in solid organ transplantation: a review. Infect Chemother. 2013;45(3):260-71. doi: 10.3947/ic.2013.45.3.260.
https://doi.org/10.3947/ic.2013.45.3.260...
,211211 Grossi P, Mohacsi P, Szabolcs Z. cytomegalovirus immunoglobulin after thoracic transplantation: an overview. Transplantation. 2016 Mar;100 Suppl 3:S1-4. doi: 10.1097/TP.0000000000001094.
https://doi.org/10.1097/TP.0000000000001...

4.4.1.3. Disfunção Renal

A maioria dos pacientes com IC refratária e potenciais candidatos ao TxC apresentam algum grau de disfunção renal. A presença de IR (creatinina > 2,0 mg/dL e clearance < 50 mL/minuto) no pré e pós-operatório tem se destacado como fator independente para maior risco de morte precoce e, tardiamente, no pós-operatório.212212 Hillege HL, Nitsch D, Pfeffer MA, Swedberg K, McMurray JJ, Yusuf S, et al; Candesartan in Heart Failure: Assessment of Reduction in Mortality and Morbidity (CHARM) Investigators. Renal function as a predictor of outcome in a broad spectrum of patients with heart failure. Circulation. 2006;113(5):671-8. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.105.580506.
https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.1...
Isto tem particularmente maior importância, porque as principais drogas imunossupressoras, como a ciclosporina ou o tacrolimus, estão associadas a efeitos nefrotóxicos agudos e tardios.213213 Ganesh JS, Roger CA, Banner NR, Bonser RS, Steering Group of the UK Cardiothoracic Tarnsplant Audit. Development and validation of a model to predict perioperative mortality following heart transplantation in the UK. J Heart Lung Transplant. 2004;23(2 Suppl):S118-9.

Durante a cirurgia e no pós-operatório imediato, a baixa reserva renal é agravada pela hipoperfusão renal, durante a CEC, e pelo baixo débito cardíaco secundário à disfunção do enxerto, excesso de drogas vasoconstritoras (noradrenalina/vasopressina), hipovolemia ou hipervolemia, promovendo hipertensão venosa renal, congestão renal, edema intersticial e edema tubular renal. Cabe ressaltar que estes pacientes são usuários crônicos de diurético em altas doses e tendem a resistirem ao diurético, situação que requer um diurético de alça em doses mais elevadas, a curtos intervalos, ou mesmo uma infusão endovenosa contínua. Portanto, no intra e no pós-operatório imediatos, devemos manter as medidas de proteção renal como otimização e manutenção de bom débito cardíaco (maior determinante da recuperação da função renal), correção da hiper ou hipovolemia, e evitar ou retardar a utilização de drogas nefrotóxicas. Alguns centros recomendam a introdução da ciclosporina ou do tacrolimus somente no quarto ou quinto dia de pós-operatório. Diante da necessidade de terapia dialítica e ou ultrafiltração, é absolutamente necessária uma vigilância rigorosa, devido ao risco de infecção no acesso vascular para a diálise.139139 Costanzo MR, Dipchand A, Starling R, Anderson A, Chan M, Desai S, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines. The International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines for the care of heart transplant recipients. J Heart Lung Transplant. 2010;29(8):914-56. doi: 10.1016/j.healun.2010.05.034.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2010.05...

Tabela 4.32
Doses de ganciclovir e valganciclovir para tratamento de infecção por citomegalovírus
Tabela 4.33
Recomendações para tratamento da infecção por citomegalovírus

A deterioração da função renal após TxC é frequente, com ocorrência de 20% em 1 ano, de 40 a 50% em 5 anos e necessidade de diálise ou transplante renal em 5 a 10% dos pacientes após 10 anos.214214 Ojo AO, Held PJ, Port FK, Wolfe RA, Leichtman AB, Young EW, et al. Chronic renal failure after transplantation of a nonrenal organ. N Engl J Med. 2003;349(10):931-40. doi: 10.1056/NEJMoa021744.
https://doi.org/10.1056/NEJMoa021744...
São fatores de risco para esta deterioração a idade, doença renal pré-transplante e ocorrência de hipertensão arterial, diabetes, hiperuricemia e dislipidemia, que são frequentes na evolução dos pacientes transplantados. Sem dúvida, o determinante mais importante da disfunção renal crônica pós-transplante se deve aos efeitos nefrotóxicos dos inibidores da calcineurina (ciclosporina ou tacrolimus).215215 Shihab FS. Cyclosporine nephropathy: pathophysiology and clinical impact. Semin Nephrol 1996;16(6):536-47. PMID: 9125798. Embora controversos, os mecanismos de nefrotoxidade destas drogas se fazem inicialmente por aumento da atividade simpática e vasocostrição, por ativação do sistema renina-angiotensina, disfunção endotelial, e aumento de endotelina e tromboxano. Mais tardiamente, são observadas lesões estruturais, com apoptose, fibrose e atrofia tubular proximal, associada à fibrose intersticial e a lesões microvasculares. Embora controverso, pode ter relação com doses elevadas e manutenção de níveis séricos elevados de ciclosporina ou tacrolimus. A despeito da alta frequência, a IR fica estável por um longo período, até a perda total da função renal. O tratamento e o controle desta condição requerem o uso de dose menores dos inibidores da calcineurina, evitar níveis séricos elevados e tratamento rigoroso da hipertensão arterial, do diabetes, da hiperirucemia e da dislipidemia.139139 Costanzo MR, Dipchand A, Starling R, Anderson A, Chan M, Desai S, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines. The International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines for the care of heart transplant recipients. J Heart Lung Transplant. 2010;29(8):914-56. doi: 10.1016/j.healun.2010.05.034.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2010.05...
,213213 Ganesh JS, Roger CA, Banner NR, Bonser RS, Steering Group of the UK Cardiothoracic Tarnsplant Audit. Development and validation of a model to predict perioperative mortality following heart transplantation in the UK. J Heart Lung Transplant. 2004;23(2 Suppl):S118-9.,216216 Naesens M, Kuyoers DRJ, Sarwal M. Calcineurin inhibitor nephrotoxicity. Clin J Am Soc Nephrol. 2009;4(2):481-508. doi: 10.2215/CJN.04800908.
https://doi.org/10.2215/CJN.04800908...

O tratamento da hipertensão arterial pós-transplante deve ser feito preferencialmente com inibidor do canal de cálcio (diltiazem) e com antagonistas da angiotensina II, que podem ter efeito adicional de proteção renal dos efeitos nefrotóxicos dos inibidores da calcineurina. Evitar o uso de drogas nefrotóxicas ou que, por meio de interação desfavorável, aumentem os níveis séricos da ciclosporina ou do tacrolimus. A redução de doses de ciclosporina e a associação de micofenolato podem estabilizar ou retardar o desenvolvimento da lesão renal. A conversão dos inibidores da calcineurina para o sirolimus pode retardar ou atenuar a disfunção renal pós-transplante, embora o sirolimus esteja implicado no desenvolvimento tardio de proteinúria, síndrome nefrótica, microangiopatia e também no aumento do risco de rejeição. Para os pacientes com clearance < 20 mL/kg/minuto, o transplante renal deve merecer consideração, para se evitarem os riscos da terapia dialítica crônica em pacientes imunodeprimidos.139139 Costanzo MR, Dipchand A, Starling R, Anderson A, Chan M, Desai S, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines. The International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines for the care of heart transplant recipients. J Heart Lung Transplant. 2010;29(8):914-56. doi: 10.1016/j.healun.2010.05.034.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2010.05...
,217217 Bloom RD, Doyle AM. Kidney disease after heart and lung transplantation. Am J Transplant. 2006;6(4):671-9. doi: 10.1111/j.1600-6143.2006.01248.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2006...
,218218 Angermann CE, Stork S, Costard-Jackle A, Dengler TJ, Siebert U, Tenderich G, et al. Reduction of cyclosporine after introduction of mycophenolate mofetil improves chronic renal dysfunction in heart transplant recipients--the IMPROVED multi-centre study. Eur Heart J. 2004;25(18):1626-34. doi: 10.1016/j.ehj.2004.06.032.
https://doi.org/10.1016/j.ehj.2004.06.03...

4.4.1.4. Disfunção de Ventrículo Direito

A DVD é a complicação hemodinâmica mais frequente no pós-operatório do TxC e, em graus variados e de acordo com as definições, ocorre em 20 a 50% dos transplantes cardíacos, sendo a principal causa de insucesso imediato do procedimento.9494 Kobashigawa J, Zuckermann A, Macdonald P, Leprince P, Esmailian F, Luu M, et al; Consensus Conference participants. Report from a consensus conference on primary graft dysfunction after cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2014;33(4):327-40. doi: 10.1016/j.healun.2014.02.027.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.02...
Ocorre associada à falência do ventrículo esquerdo na disfunção primária do enxerto ou, mais frequentemente, de forma isolada ou predominantemente isolada. Está associada a vários fatores, como RVP elevada do receptor, receptor com desproporção maior de superfície corporal em relação ao doador, doador do sexo feminino, tempo de isquemia prolongado, proteção inadequada do enxerto, elevação da pressão positiva intratorácica, tromboembolismo pulmonar silencioso no receptor, aumento da pós-carga do ventrículo direito por excesso de drogas vasoconstritoras pulmonares, hipoxemia e baixa pressão de perfusão coronariana.139139 Costanzo MR, Dipchand A, Starling R, Anderson A, Chan M, Desai S, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines. The International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines for the care of heart transplant recipients. J Heart Lung Transplant. 2010;29(8):914-56. doi: 10.1016/j.healun.2010.05.034.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2010.05...

Os problemas hemodinâmicos com o ventrículo direito começam quando se verifica dificuldade para sair de CEC, após a otimização da volemia. Neste momento, devem-se afastar problemas mecânicos, como torção de artéria pulmonar (técnica clássica), torção de veia cava superior (técnica bicaval), insuficiência tricúspide importante e infarto do ventrículo direito por embolia coronária. Nesta hora, é muito importante termos uma avaliação da função do enxerto com o ecocardiograma transesofágico intraoperatório e medidas hemodinâmicas para avaliarmos as pressões de enchimento direita e esquerda, RVP e débito cardíaco. No manuseio da disfunção sistólica e/ou diastólica do ventrículo direito, é mandatória a presença da sincronia atrioventricular com eletrodos de marca-passo em átrio direito e ventrículo direito, e com adequação do intervalo atrioventricular em 150 ms. Suporte inotrópico e cronotrópico com isoproterenol ou dobutamina é muito importante e obrigatório desde a saída de CEC. Na presença de elevações de pressões de enchimento do lado direito, hipertensão pulmonar ou RVP elevada, pode ser necessária a utilização de vasodilatadores pulmonares como nitroprussiato de sódio em dose baixa, milrinona ou óxido nítrico. Na presença de hipotensão arterial persistente, com baixa pressão de perfusão coronária, é necessária a utilização de drogas vasoconstritoras, como a noradrenalina em doses baixas, e de balão intra-aórtico (aumenta a pressão de perfusão coronariana, facilita o enchimento ventricular esquerdo e reduz a resistência vascular sistêmica).219219 Bhatia SJ, Kirshembaum JM, Shemin RJ, Cohn LH, Collins JJ, Di Sesa VJ, et al. Time course of resolution of pulmonary hypertension and right ventricular remodelin after orthotopic cardiac transplantation. Circulation. 1987;76(4):819-26. PMID: 3308165.

Cabe ressaltar que, nas primeiras 12 horas de pós-operatório, devemos otimizar a volemia e procurar manter pressão atrial direita entre 10 e 15 mmHg. Vale ressaltar que a volemia excessiva causará distensão ventricular direita, elevação excessiva da pressão diastólica final do ventrículo direito, insuficiência tricúspide, aumento do consumo de oxigênio, redução da pressão de perfusão coronária para o ventrículo direito, edema do miocárdio, isquemia miocárdica e consequente agravamento da DVD. Neste contexto, após as primeiras 12 horas, são muito importantes a correção da hipervolemia com diurético e a restrição da infusão volêmica.

Na maioria dos casos, a DVD é transitória e pode ser resolvida com o suporte hemodinâmico básico. Nos casos graves, sem resposta para as medidas citadas, é necessária a assistência ventricular direita com ECMO e, nos casos de falência primária do enxerto associada à disfunção ventricular esquerda, pode ser necessária a assistência mecânica biventricular ou retransplante219219 Bhatia SJ, Kirshembaum JM, Shemin RJ, Cohn LH, Collins JJ, Di Sesa VJ, et al. Time course of resolution of pulmonary hypertension and right ventricular remodelin after orthotopic cardiac transplantation. Circulation. 1987;76(4):819-26. PMID: 3308165. (Figura 4.6).

Figura 4.5
Fluxograma de tratamento da disfunção aguda de ventrículo direito (VD). EV: via venosa; PVC: pressão venosa central; FC: frequência cardíaca; RS: ritmo sinusal; AV: atrioventricular; PEEP: pressão positiva expiratória final; ECMO: oxigenação por membrana extracorpórea; RVP: resistência vascular pulmonar. Fonte: Adaptado de Bhatia et al.219219 Bhatia SJ, Kirshembaum JM, Shemin RJ, Cohn LH, Collins JJ, Di Sesa VJ, et al. Time course of resolution of pulmonary hypertension and right ventricular remodelin after orthotopic cardiac transplantation. Circulation. 1987;76(4):819-26. PMID: 3308165.

4.4.2. Complicações Tardias

4.4.2.1. Rejeição Humoral Crônica - Doença Vascular do Enxerto

A DVE permanece como a principal causa de morbidade e mortalidade tardia após o TxC, sendo responsável por até uma em oito mortes após 1 ano do transplante. Os dados dos registros mostram alta incidência e mínima redução da DVE ao longo das últimas duas décadas, de 32% para 29%, com 5 anos, e de 46% a 40%, com 8 anos após o TxC. Quando a DVE foi detectada em até 3 anos após o transplante, a sobrevida em 5 anos melhorou para 76% na última década, porém abaixo dos 82% de sobrevida para os pacientes sem DVE.121121 Lund LH, Edwards LB, Kucheryavaya AY, Benden C, Dipchand AI, Goldfarb S, et al. The Registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: Thirty-second Official Adult Heart Transplantation Report--2015; Focus Theme: Early Graft Failure. J Heart Lung Transplant. 2015;34(10):1244-54. doi: 10.1016/j.healun.2015.08.003.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.08...
Em recente análise com mais de 50 mil transplantados, o risco de óbito por DVE (Hazard Ratio − HR 2,85; p < 0,01) foi maior nos mais jovens (18 a 29 anos), quando comparados com o grupo de referência (50 a 59 anos).9797 Wever-Pinzon O, Edwards LB, Taylor DO, Kfoury AG, Drakos SG, Selzman CH, et al. Association of recipient age and causes of heart transplant mortality: Implications for personalization of post-transplant management-An analysis of the International Society for Heart and Lung Transplantation Registry. J Heart Lung Transplant. 2017;36(4):407-17. doi: 10.1016/j.healun.2016.08.008.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2016.08...

A definição atual da DVE (Tabela 4.34) está baseada na ISHLT.220220 Mehra MR, Crespo-Leiro MG, Dipchand A, Ensminger SM, Hiemann NE, Kobashigawa JA, et al. International society for heart and lung transplantation working formulation of a standardized nomenclature for cardiac allograft vasculopathy-2010. J Heart Lung Transplant. 2010;29(7):717-27. doi: 10.1016/j.healun.2010.05.017. Erratum in: J Heart Lung Transplant. 2011;30(3):360.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2010.05...

Tabela 4.34
Nomenclatura recomendada para doença vascular do enxerto pela International Society for Heart and Lung Transplantation (ISHLT).

Proliferação difusa intimal, rapidamente progressiva, é a marca característica da DVE, por proliferação do músculo liso, acúmulo de células inflamatórias e deposição de lipídios, que, por fim, causam espessamento circunferencial da íntima. Em contraste com as lesões epicárdicas, focais excêntricas e proximais da aterosclerose, a DVE é difusa e afeta tanto vasos epicárdicos, quanto intramurais.221221 Tsutsui H, Ziada KM, Schoenhagen P, Iyisoy A, Magyar WA, Crowe TD, et al. Lumen loss in transplant coronary artery disease is a biphasic process involving early intimal thickening and late constrictive remodeling: results from a 5-year serial intravascular ultrasound study. Circulation. 2001;104(6):653-7. PMID: 11489770. A fisiopatologia da DVE envolve interação complexa entre fatores imunes e não imunes, causando inflamação vascular, o que desencadeia uma via final comum de lesão endotelial e respostas celulares de proliferação fibrosa.

A) Diagnóstico

A avalição não invasiva da DVE tem sido limitada tanto pela baixa sensibilidade como pela baixa correlação com os resultados adversos. Estudos iniciais mostraram que um ecocardiograma de estresse com dobutamina normal tinha valor preditivo negativo de 92 a 100% para eventos cardíacos.222222 Derumeaux G, Redonnet M, Mouton-Schleifer D, Bessou JP, Cribier A, Saoudi N, et al. Dobutamine stress echocardiography in orthotopic heart transplant recipients. VACOMED Research Group. J Am Coll Cardiol. 1995;25(7):1665-72. PMID: 7759721. Porém estudos mais recentes mostraram que a sensibilidade para detecção de DVE em qualquer estágio foi de apenas 7%223223 Chirakarnjanakorn S, Starling RC, Popovic ZB, Griffin BP, Desai MY. Dobutamine stress echocardiography during follow-up surveillance in heart transplant patients: Diagnostic accuracy and predictors of outcomes. J Heart Lung Transplant. 2015;34(5):710-7. doi: 10.1016/j.healun.2014.11.019.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.11...
e falha em detectar DVE leve e moderada nos primeiros 5 anos após o TxC.224224 Clerkin KJ, Farr MA, Restaino SW, Ali ZA, Mancini DM. Dobutamine stress echocardiography is inadequate to detect early cardiac allograft vasculopathy. J Heart Lung Transplant. 2016;35(8):1040-1. doi: 10.1016/j.healun.2016.05.012.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2016.05...
A maior limitação é a dependência de uma janela acústica favorável.

Imagens de perfusão miocárdica, como Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton Único (SPECT) têm acurácia diagnóstica moderada, provavelmente relacionada à habilidade limitada de detectar isquemia balanceada, devido a característica difusa da DVE, e apresentam como limitação a exposição à radiação.225225 Pollack A, Nazif T, Mancini D, Weisz G. Detection and imaging of cardiac allograft vasculopathy. JACC Cardiovasc Imaging. 2013;6(5):613-23. doi: 10.1016/j.jcmg.2013.03.001.
https://doi.org/10.1016/j.jcmg.2013.03.0...

A quantificação do fluxo pela Tomografia de Emissão de Pósitron (PET) tem o maior potencial para o diagnóstico precoce da DVE, porém necessita de estudos para confirmar esta hipótese, além da disponibilidade reduzida e apresentar exposição à radiação.

A angiografia coronária com contraste por Tomografia Computatorizada (TC) pode detectar bem precocemente DVE, e estudos prévios determinaram a sensibilidade na faixa de 71 a 93% e especificidade no intervalo de 80 a 98% para detectar estenose coronária > 50% na angiografia. Recente metanálise mostrou que a TC é uma alternativa segura, quando comparada à angiografia coronária, com excelente sensibilidade, especificidade e valor preditivo negativo para detecção de DVE.226226 Wever-Pinzon O, Romero J, Kelesidis I, Wever-Pinzon J, Manrique C, Budge D, et al. Coronary computed tomography angiography for the detection of cardiac allograft vasculopathy: a meta-analysis of prospective trials. J Am Coll Cardiol. 2014;63(19):1992-2004. doi: 10.1016/j.jacc.2014.01.071.
https://doi.org/10.1016/j.jacc.2014.01.0...
No entanto, o uso da TC coronária em pacientes transplantados pode ser limitado pela frequência cardíaca de repouso elevada (podem ser utilizados diltiazem ou ivabradina para controle da frequência cardíaca)227227 Rochitte CE, Azevedo GS, Shiozaki AA, Azevedo CF, Kalil Filho R. Diltiazem as an alternative to beta-blocker in coronary artery computed tomography angiography. Arq Bras Cardiol. 2012;99(2):706-13. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2012005000059.
http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2012...
,228228 Qiu S, Shi S, Ping H, Zhou S, Wang H, Yang B. Efficacy of ivabradine versus β-blockers for heart rate reduction during computed tomography coronary angiography: a meta-analysis of randomized controlled trials. Cardiology. 2016;135(3):133-40. doi: 10.1159/000447236.
https://doi.org/10.1159/000447236...
e função renal alterada (nefropatia induzida por contraste)229229 Javaheri A, Saha N, Lilly SM. How to approach the assessment of cardiac allograft vasculopathy in the modern era: review of invasive imaging modalities. Curr Heart Fail Rep. 2016;13(2):86-91. doi: 10.1007/s11897-016-0283-y.
https://doi.org/10.1007/s11897-016-0283-...
, além de exposição à radiação.

A RMC vem apresentando resultados animadores. Recentemente, a reserva de perfusão miocárdica semiquantitativa e a taxa de deformação (strain rate) na diástole inicial, ambas medidas pela RMC, foram independentemente associadas com a doença microvascular. As principais limitações se relacionam com custo, frequência cardíaca elevada em repouso do pacientes transplantados e impossibilidade de realização do exame na presença com perda de função renal importante (pelo risco de fibrose sistêmica nefrogênica) e de dispositivos implantáveis.230230 Erbel C, Mukhammadaminova N, Gleissner CA, Osman NF, Hofmann NP, Steuer C, et al. Myocardial perfusion reserve and strain-encoded CMR for evaluation of cardiac allograft microvasculopathy. JACC Cardiovasc Imaging. 2016;9(3):255-66. doi: 10.1016/j.jcmg.2015.10.012.
https://doi.org/10.1016/j.jcmg.2015.10.0...

A angiografia coronária continua o padrão-ouro para o diagnóstico de DVE e, embora mostre bem as lesões maiores, tem avaliação limitada dos vasos epicárdicos; não é sensível para detecção de DVE precoce ou doença difusa, e exposição à radiação; e pode gerar nefropatia induzida pelo contraste. Esta modalidade foi significativamente melhorada com o Ultrassom Intracoronário (IVUS) e Tomografia de Coerência Óptica (OCT).231231 Chih S, Chong AY, Mielniczuk LM, Bhatt DL, Beanlands RS. Allograft vasculopathy: the Achilles' Heel of heart transplantation. J Am Coll Cardiol. 2016;68(1):80-91. doi: 10.1016/j.jacc.2016.04.033.
https://doi.org/10.1016/j.jacc.2016.04.0...

Resumindo, existem múltiplas modalidades invasivas e não invasivas para avaliar DVE, cada uma com suas vantagens e limitações. A escolha de cada modalidade é multifatorial e depende da experiência institucional, da indicação, do custo, da disponibilidade, da reprodutibilidade, da conveniência e da segurança.

B) Prevenção e Tratamento

O manejo da DVE deve focalizar primariamente a prevenção, a vigilância por imagem e o tratamento precoce (Tabela 4.35). As medidas preventivas a serem adotadas devem contemplar a orientação para atividades físicas, redução de peso, controle da hipertensão e diabetes.

Tabela 4.35
Vigilância e manuseio da doença vascular do enxerto

Estatinas são o tratamento padrão nos cuidados de pós-operatório de transplante de coração, porque, além de reduzirem o colesterol, também inibem as respostas inflamatória e imunológica, incluindo a inibição da citotoxicidade das células Natural Killer. A mais recente metánalise de nove estudos e 2.270 transplantados mostrou que as estatinas podem prevenir episódios de rejeição fatais (Odds Raatio − OR = 0,37; Intervalo de Confiança de 95% − IC95% = 0,21-0,65; p = 0,0005), diminuir o risco de câncer terminal (OR = 0,30; IC95% = 0,15-0,63; p = 0,002) e reduzir a incidência de DVE (OR = 0,33; IC95% = 0,16-0,68; p = 0,003).232232 Vallakati A, Reddy S, Dunlap ME, Taylor DO. Impact of statin use after heart transplantation: a meta-analysis. Circ Heart Fail. 2016;9(10). pii: e003265. doi: 10.1161/CIRCHEARTFAILURE.116.003265.
https://doi.org/10.1161/CIRCHEARTFAILURE...
Pelo risco de rabdomiólise, quando associadas aos inibidores de calcineurina, doses acima de 20 mg de sinvastatina, atorvastatina e rosuvastatina devem ser evitadas (Tabela 4.36).

Tabela 4.36
Recomendações para diagnóstico, avaliação, prognóstica e tratamento de doença vascular do enxerto (DVE)

Os estudos com bloqueadores dos canais de cálcio e inibidores da enzima de conversão da angiotensina sugerem melhora na função microvascular e atraso no desenvolvimento da DVE.233233 Schroeder JS, Gao SZ, Alderman EL, Hunt SA, Johnstone I, Boothroyd DB, et al. A preliminary study of diltiazem in the prevention of coronary artery disease in heart-transplant recipients. N Engl J Med. 1993;328(3):164-70. doi: 10.1056/NEJM199301213280303.
https://doi.org/10.1056/NEJM199301213280...
A combinação entre Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina (IECA) e um bloqueador de canal de cálcio mostrou ser superior a qualquer medicação sozinha na redução do DVE.234234 Erinc K, Yamani MH, Starling RC, Crowe T, Hobbs R, Bott-Silverman C, et al. The effect of combined angiotensin-converting enzyme inhibition and calcium antagonism on allograft coronary vasculopathy validated by intravascular ultrasound. J Heart Lung Transplant. 2005;24(8):1033-8. doi: 10.1016/j.healun.2004.06.005.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2004.06...

Em relação aos imunossupressores, o ácido micofenólico reduz a progressão do espessamento intimal, comparado com azatioprina, e é o antimetabólico preferível em mais de 80% dos pacientes.121121 Lund LH, Edwards LB, Kucheryavaya AY, Benden C, Dipchand AI, Goldfarb S, et al. The Registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: Thirty-second Official Adult Heart Transplantation Report--2015; Focus Theme: Early Graft Failure. J Heart Lung Transplant. 2015;34(10):1244-54. doi: 10.1016/j.healun.2015.08.003.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.08...
O sirolimus e everolimus inibem a proliferação vascular do musculo liso e dos fibroblastos. Os estudos randomizados com inbidores da mTOR em receptores de transplante de coração demonstraram redução na incidência e na progressão da DVE.235235 Kobashigawa JA, Pauly DF, Starling RC, Eisen H, Ross H, Wang SS, et al; A2310 IVUS Substudy Investigators. Cardiac allograft vasculopathy by intravascular ultrasound in heart transplant patients: substudy from the everolimus versus mycophenolate mofetil randomized, multicenter trial. JACC Heart Fail. 2013;1(5):389-99. doi: 10.1016/j.jchf.2013.07.002.
https://doi.org/10.1016/j.jchf.2013.07.0...

236 Arora S, Andreassen AK, Andersson B, Gustafsson F, Eiskjaer H, Bøtker HE et al; SCHEDULE (SCandinavian HEart transplant everolimus De novo stUdy with earLy calcineurin inhibitors avoidancE) Investigators. The effect of everolimus initiation and calcineurin inhibitor elimination on cardiac allograft vasculopathy in de novo recipients: one-year results of a Scandinavian Randomized Trial. Am J Transplant. 2015;15(7):1967-75. doi: 10.1111/ajt.13214.
https://doi.org/10.1111/ajt.13214...

237 Guethoff S, Stroeh K, Grinninger C, Koenig MA, Kleinert EC, Rieger A, et al. De novo sirolimus with low-dose tacrolimus versus full-dose tacrolimus with mycophenolate mofetil after heart transplantation--8- year results. J Heart Lung Transplant. 2015;34(5):634-42. doi: 10.1016/j.healun.2014.11.025.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.11...
-238238 Masetti M, Potena L, Nardozza M, Prestinenzi P, Taglieri N, Saia F, et al. Differential effect of everolimus on progression of early and late cardiac allograft vasculopathy in current clinical practice. Am J Transplant. 2013;13(5):1217-26. doi: 10.1111/ajt.12208.
https://doi.org/10.1111/ajt.12208...
Outros estudos sugerem que a conversão tardia (> 2 anos) para esta classe de fármacos parece ser ineficaz para evitar a progressão da DVE.239239 Arora S, Ueland T, Wennerblom B, Sigurdadottir V, Eiskjær H, Bøtker HE, et al. Effect of everolimus introduction on cardiac allograft vasculopathy--results of a randomized, multicenter trial. Transplantation. 2011;92(2):235-43. doi: 10.1097/TP.0b013e31822057f1.
https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3182205...
,240240 Matsuo Y, Cassar A, Yoshino S, Flammer AJ, Li J, Gulati R, et al. Attenuation of cardiac allograft vasculopathy by sirolimus: relationship to time interval after heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2013;32(8):784-91. doi: 10.1016/j.healun.2013.05.015.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.05...
Importante notar que os potenciais benefícios dos inbidores da mTOR precisam ser balanceados contra os efeitos colaterais, já que até um terço dos pacientes necessita parar esta medicação. Os efeitos adversos no pós-operatório precoce incluem derrames pericárdicos, dificuldades de cicatrização da ferida operatória, serosites e infecções bacterianas. Por este motivo, sua introdução deve ser feita após três a seis meses após o transplante.231231 Chih S, Chong AY, Mielniczuk LM, Bhatt DL, Beanlands RS. Allograft vasculopathy: the Achilles' Heel of heart transplantation. J Am Coll Cardiol. 2016;68(1):80-91. doi: 10.1016/j.jacc.2016.04.033.
https://doi.org/10.1016/j.jacc.2016.04.0...

A terapia antiplaquetária não foi bem estudada no transplante de coração. A aspirina é usada empiricamente baseada em estudos mais antigos que mostraram haver hiperagregabilidade das plaquetas em corações transplantados e formação de microtrombos nos locais de lesão imunológica no endotélio coronário, porém um estudo demonstrou haver resistência a aspirina.241241 de Lorgeril M, Dureau G, Boissonnat P, Ovize M, Monnez C, Monjaud I, et al. Increased platelet aggregation after heart transplantation: influence of aspirin. J Heart Lung Transplant. 1991;10(4):600-3. PMID: 1911805.

A maioria dos pacientes com DVE não é candidata a procedimentos de revascularização, e este grupo está associado com maior risco de eventos cardíacos.242242 Prada-Delgado O, Estévez-Loureiro R, López-Sainz A, Gargallo-Fernández P, Paniagua-Martín MJ, Marzoa-Rivas R, et al. Percutaneous coronary interventions and bypass surgery in patients with cardiac allograft vasculopathy: a single-center experience. Transplant Proc. 2012;44(9):2657-9. doi: 10.1016/j.transproceed.2012.09.043.
https://doi.org/10.1016/j.transproceed.2...
A cirurgia de revascularização é limitada, pois a DVE é uma doença coronária difusa. A angioplastia percutânea é realizada somente na doença focal, apesar da falta de evidências para qualquer vantagem na sobrevida sobre a terapia medicamentosa. Uma revisão sistemática mostrou que stents farmacológicos reduzem a reestenose comparados aos não farmacológicos, mas sem diferença na sobrevida.243243 Dasari TW, Hennebry TA, Hanna EB, Saucedo JF. Drug eluting versus bare metal stents in cardiac allograft vasculopathy: a systematic review of literature. Catheter Cardiovasc Interv. 2011;77(7):962-9. doi: 10.1002/ccd.22975.
https://doi.org/10.1002/ccd.22975...

Finalmente, o retransplante deve ser indicado para pacientes selecionados com DVE avançada com disfunção sistólica ou fisiologia cardíaca restritiva.244244 Goldraich LA, Stehlik J, Kucheryavaya AY, Edwards LB, Ross HJ. Retransplant and Medical Therapy for Cardiac Allograft Vasculopathy: International Society for Heart and Lung Transplantation Registry Analysis. Am J Transplant. 2016;16(1):301-9. doi: 10.1111/ajt.13418.
https://doi.org/10.1111/ajt.13418...

4.4.2.2. Neoplasia

Juntamente da DVE, as neoplasias figuram entre os fatores de maior impacto na morbimortalidade do paciente em pós-operatório tardio de TxC. O uso contínuo das drogas imunossupressoras faz com que a chance de adquirir câncer seja maior entre os pacientes submetidos a transplante do que no público em geral. Além disto, a ocorrência de malignidades entre os pacientes transplantados cardíacos, em comparação, por exemplo, com os transplantados renais, é maior. Isto se justifica pelo regime mais intenso de imunossupressão.245245 Zafar SY, Howell DN, Gockerman JP. Malignancy after solid organ transplantation: an overview. Oncologist. 2008;13(7):769-78. doi: 10.1634/theoncologist.2007-0251.
https://doi.org/10.1634/theoncologist.20...
,246246 Engels EA, Pfeiffer RM, Fraumeni JF Jr, Kasiske BL, Israni AK, Snyder JJ, et al. Spectrum of cancer risk among US solid organ transplant recipients. JAMA. 2011;306(17):1891-901. doi: 10.1001/jama.2011.1592.
https://doi.org/10.1001/jama.2011.1592...

Em média, as neoplasias são diagnosticadas entre 3 e 5 anos após o transplante. Os principais fatores de risco para o desenvolvimento das malignidades são tipo, duração e dose dos imunossupressores, infecções por alguns tipos específicos de vírus e exposição solar. As malignidades mais frequentes são, nesta ordem, as neoplasias cutâneas (Tabela 4.37), as Desordens Linfoproliferativas Pós-Transplante (DLPT) (Tabela 4.38) e o sarcoma de Kaposi. Neoplasias em órgãos sólidos, como pulmão, fígado, rins e cólon também têm sua frequência aumentada.247247 Vajdic CM, van Leeuwen MT. Cancer incidence and risk factors after solid organ transplantation. Int J Cancer. 2009;125(8):1747-54. doi: 10.1002/ijc.24439.
https://doi.org/10.1002/ijc.24439...
,248248 Caillard S, Agodoa LY, Bohen EM, Abbott KC. Myeloma, Hodgkin disease, and lymphoid leukemia after renal transplantation: characteristics, risk factors and prognosis. Transplantation. 2006;81(6):888-95. doi: 10.1097/01.tp.0000203554.54242.56.
https://doi.org/10.1097/01.tp.0000203554...
Curiosamente, alguns tipos de câncer, como o de mama e o de próstata, têm sua ocorrência reduzida entre os pacientes transplantados.

Tabela 4.37
Características das neoplasias cutâneas no paciente transplantado
Tabela 4.38
Características das doenças linfoproliferativas pós-transplante (DLPT)

Embora seja o net stage of immunosuppression o principal determinante do risco de malignidade pós-transplante, algumas características específicas dos imunossupressores podem potencializar este risco. No caso dos inibidores de calcineurina, o estímulo à produção do Fator de Transformação do Crescimento Beta (TGF-b) induz comportamento invasivo a células ainda não cancerígenas. A azitromicina inibe reparo do DNA e induz erros nas leituras dos códons. Em contrapartida, estudos sugerem que o sirolimus suprime o crescimento e a proliferação de tumores, em modelos animais. Estudos em humanos, apesar de conflitantes, mostram redução do risco de desenvolver câncer nos pacientes em uso deste imunossupressor. O micofenolato, ao inibir a inosina-monofosfato desidrogenase, atua bloqueando o desenvolvimento de algumas neoplasias que cursam com elevados níveis dessa enzima. Estudos populacionais mostram que o risco de desenvolver câncer não é mais elevado em quem usa este antiproliferativo.249249 Dantal J, Soulillou JP. Immunosuppressive drugs and the risk of cancer after organ transplantation. N Engl J Med. 2005;352(13):1371-3. doi: 10.1056/NEJMe058018.
https://doi.org/10.1056/NEJMe058018...

A prevenção contra as neoplasias e as medidas terapêuticas, tantos as gerais como as específicas, estão listadas nas tabelas 4.39 e 4.40, respectivamente.

Tabela 4.39
Prevenção de neoplasias malignas

5. Transplante no Paciente Chagásico

5.1. Introdução

A emigração de milhões de latino-americanos para países mais desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá, países da Europa, entre outros, difundiu muitos casos detectados de infecção por Trypanosoma cruzi, gerando um problema não só de saúde pública, mas também epidemiológico, econômico, social e político.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638. A globalização da doença de Chagas, pela migração dos países endêmicos para os não endêmicos, tem demandado a expansão dos conhecimentos sobre a doença.

No Brasil a cardiomiopatia chagásica é a terceira causa mais comum de indicação de TxC, sendo precedida pelas cardiomiopatias dilatada e isquêmica, respectivamente.251251 Seguro LF, Braga FG, Avila MS, Mangini S, Beselli B, Franco GP, et al. Profile of heart transplant recipients in a Brazilian center: comparison with international registry. J Heart Lung Transplant. 2014;33(4 Suppl):S264. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.healun.2014.01695.
http://dx.doi.org/10.1016/j.healun.2014....
,252252 Mangini S, Alves BR, Silvestre OM, Pires PV, Pires LJ, Curiati MN, et al. Heart transplantation: review. Einstein (Sao Paulo). 2015;13(2):310-8. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1679-45082015RW3154
http://dx.doi.org/10.1590/S1679-45082015...

A etiologia chagásica apresenta pior prognóstico em pacientes com cardiomiopatia se comparada às outras etiologias.253253 Freitas HF, Chizzola PR, Paes AT, Lima AC, Mansur AJ. Risk stratification in a Brazilian hospital-based cohort of 1220 outpatients with heart failure: role of Chagas' heart disease. Int J Cardiol. 2005;102(2):239-47. doi: 10.1016/j.ijcard.2004.05.025.
https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2004.05...
,254254 Ayub-Ferreira SM, Mangini S, Issa VS, Cruz FD, Bacal F, Guimarães GV, et al. Mode of death on Chagas heart disease: comparison with other etiologies. a subanalysis of the REMADHE prospective trial. PLoS Negl Trop Dis. 2013;7(4):e2176. doi: 10.1371/journal.pntd.0002176.
https://doi.org/10.1371/journal.pntd.000...
No entanto, o resultado do transplante neste subgrupo de pacientes é melhor do que o de outras etiologias, já que os pacientes são mais jovens, possuem menos comorbidades e menores taxas de reoperações ou hipertensão pulmonar grave.255255 Bestetti RB, Theodoropoulos TA. A systematic review of studies on heart transplantation for patients with end-stage Chagas' heart disease. J Card Fail. 2009;15(3):249-55. doi: 10.1016/j.cardfail.2008.10.023.
https://doi.org/10.1016/j.cardfail.2008....
Em sua fase avançada e refratária, é uma indicação bem estabelecida para o TxC.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638.

Tabela 4.40
Tratamento das neoplasias malignas

5.2. Peculiaridades na Avaliação do Receptor Chagásico

5.2.1. Hipertensão Pulmonar

A apresentação clínica mais frequente no paciente com cardiopatia chagásica é a IC biventricular, com predomínio dos sintomas relacionados à disfunção do ventrículo direito (estase jugular, hepatomegalia, ascite e edema de membros inferiores), associada a arritmias ventriculares, atriais e distúrbios de condução atrioventricular e intraventricular.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638. Em geral, estes pacientes têm valores menores de resistência vascular pulmonar, pressões na artéria pulmonar e GTP, sendo a hipertensão pulmonar uma entidade pouco comum no paciente chagásico, diminuindo a probabilidade de disfunção do ventrículo direito, patologia frequente após o TxC em outras etiologias.

5.2.2. Avaliação do Ventrículo Direito

O acometimento do ventrículo direito na doença de Chagas é precoce e frequente. Diversos estudos morfofuncionais de pacientes chagásicos têm demonstrado a utilidade da ecocardiografia (modo M e bidimensional) na análise da contratilidade global e segmentar dos ventrículos, na avaliação da função sistólica e diastólica ventricular, e na detecção de aneurismas e trombos. Apesar da ecocardiografia representar um método diagnóstico não invasivo e versátil na avaliação morfofuncional cardíaca, a avaliação do ventrículo direito por este método é tecnicamente limitada e subjetiva.256256 Barros MV, Ribeiro AL, Machado FS, Rocha MO. Doppler tissue imaging to assess systolic function in Chagas disease. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):36-40. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2003000100004.
http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2003...

A RMC na doença de Chagas permite avaliar as alterações morfológicas e funcionais e detectar alterações da contração segmentar de maneira mais precisa. O aneurisma apical, às vezes de difícil visualização pelo ecocardiograma, fica muito bem definido pela RMC, assim como a possível presença de trombo em seu interior. Tem importância também na avaliação de quantificar e fornecer informações exclusivas para o estadiamento clínico da doença. A presença de fibrose ventricular parece ter implicações prognósticas na cardiopatia chagásica. Alguns trabalhos têm demonstrado correlação positiva entre a extensão da área de fibrose miocárdica com o estágio mais avançado da cardiopatia, mas sua influência na terapêutica ainda carece de estudos específicos.257257 Rochitte CE, Oliveira PF, Andrade JM, Ianni BM, Parga JR, Avila LF, et al. Myocardial delayed enhancement by magnetic resonance imaging in patients with Chagas' disease: a marker of disease severity. J Am Coll Cardiol. 2005;46(8):1553-8. doi: 10.1016/j.jacc.2005.06.067.
https://doi.org/10.1016/j.jacc.2005.06.0...
,259259 Rochitte CE, Nacif MS, de Oliveira Junior AC, Siqueira-Batista R, Marchiori E, Uellendahl M, et al. Cardiac magnetic resonance in Chagas' disease. Artif Organs. 2007;31(4):259-67. doi: 10.1111/j.1525-1594.2007.00373.x.
https://doi.org/10.1111/j.1525-1594.2007...

5.2.3. Megacólon e Megaesôfago

Em receptores chagásicos, existe a possibilidade de alterações no trato gastrintestinal, que, de acordo com sua gravidade, aumentam os riscos de complicações no pós-operatório e podem comprometer o resultado do TxC. Uma avaliação criteriosa e individualizada antes do transplante deve ser realizada, para que estratégias terapêuticas possam ser definidas de maneira precoce ou após o TxC.260260 Oliveira GC, Lopes LR, Andreollo NA, Braga Nda S, Coelho Neto Jde S. Surgical treatment of megaesophagus at UNICAMP Hospital of Clinics - associated factors with better and worse results. Rev Col Bras Cir. 2009;36(4):300-6. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0100-69912009000400005.
http://dx.doi.org/10.1590/S0100-69912009...
,261261 Garcia RL, Matos BM, Féres O, Rocha JJ. Surgical treatment of Chagas megacolon. Critical analysis of outcome in operative methods. Acta Cir Bras. 2008;23 Suppl 1:83-92. PMID: 18516454.

No megaesôfago, o sintoma predominante é a disfagia, e os exames diagnósticos principais são a radiografia de esôfago contrastado, endoscopia digestiva alta e exame manométrico. Dentre os tratamentos disponíveis, estão o tratamento clínico conservador, a dilatação endoscópica e a correção cirúrgica, que deve ser feita de acordo com as condições clínicas e a gravidade do caso.

No megacólon o sintoma de constipação é predominante, sendo a colonoscopia e o enema opaco os métodos diagnósticos mais utilizados. Nesta situação, há maior risco de perfuração intestinal, fecaloma e volvo sigmoide no período pós-operatório. Tanto o megaesôfago quanto o megacólon podem ser contraindicações ao TxC, de acordo com sua gravidade.

5.3. Peculiaridades no Protocolo de Imunossupressão

A imunossupressão padrão utilizada nos grandes centros transplantadores para os pacientes chagásicos transplantados compreende o uso de corticosteroide, inibidor de calcineurina e antiproliferativo.262262 Lund LH, Edwards LB, Kucheryavaya AY, Benden C, Christie JD, Dipchand AI, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation. The registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: thirty-first official adult heart transplant report--2014; focus theme: retransplantation. J Heart Lung Transplant. 2014;33(10):996-1008. doi: 10.1016/j.healun.2014.08.003.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.08...
O conceito preponderante é que, por ser portador de infecção por T. cruzi, o paciente chagásico deve receber a menor intensidade de imunossupressão possível.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638.

Estudos comparando azatioprina e micofenolato no TxC de pacientes não chagásicos revelam superioridade do micofenolato em relação à rejeição e sobrevida.131131 Kobashigawa JA, Renlund DG, Gerosa G, Almenar L, Eisen HJ, Keogh AM, et al; ERL2401 Heart Study Investigators. Similar efficacy and safety of enteric-coated mycophenolate sodium (EC-MPS, myfortic) compared with mycophenolate mofetil (MMF) in de novo heart transplant recipients: results of a 12-month, single-blind, randomized, parallel-group, multicenter study. J Heart Lung Transplant. 2006;25(8):935-41. doi: 10.1016/j.healun.2006.04.005.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2006.04...
Entretanto, estudos nacionais demonstraram maiores taxas de reativação chagásica com o uso do micofenolato, trazendo a discussão sobre a possibilidade de utilização de azatioprina ou doses menores de micofenolato nesta população. Em situações de rejeição grave ou persistente de pacientes que já utilizavam azatioprina cronicamente, a conversão por micofenolato tem sido orientada263263 Bestetti RB, Souza TR, Lima MF, Theodoropoulos TA, Cordeiro JA, Burdmann EA. Effects of a mycophenolate mofetil-based immunosuppressive regimen in Chagas' heart transplant recipients. Transplantation. 2007;84(3):441-2. doi: 10.1097/01.tp.0000277526.68754.02.
https://doi.org/10.1097/01.tp.0000277526...
,264264 Bacal F, Silva CP, Bocchi EA, Pires PV, Moreira LF, Issa VS, et al. Mycophenolate mofetil increased Chagas' disease reactivation in heart transplanted patients: comparison between two different protocols. Am J Transplant. 2005;5(8):2017-21. doi: 10.1111/j.1600-6143.2005.00975.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2005...
(Tabela 5.1). Em relação aos corticoesteroides, recomenda-se a descontinuação a partir do sexto mês, visando à menor carga imunossupressora.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638.,265265 Fiorelli AI, Santos RH, Oliveira JL Jr, Lourenço-Filho DD, Dias RR, Oliveira AS, et al. Heart transplantation in 107 cases of Chagas' disease. Transplant Proc. 2011;43(1):220-4. doi: 10.1016/j.transproceed.2010.12.046.
https://doi.org/10.1016/j.transproceed.2...

Tabela 5.1
Recomendação do uso dos imunossupressores para pacientes chagásicos transplantados

Não há evidência disponível para pacientes chagásicos em relação ao uso dos inibidores da mTOR, metotrexato e/ou terapias de indução. Assim, estas medicações devem ser utilizadas conforme os protocolos das demais etiologias. Usa-se como conceito que a menor imunossupressão deve ser utilizada, visando à prevenção da reativação da doença de Chagas, no entanto, deve-se particularizar o paciente, especialmente os sensibilizados.

5.4. Diagnóstico e Tratamento da Reativação

5.4.1 Apresentação Clínica

A terapia imunossupressora instituída aumenta o risco de reativação da infecção pelo T. cruzi, cuja incidência após TxC varia de 21 a 45%.265265 Fiorelli AI, Santos RH, Oliveira JL Jr, Lourenço-Filho DD, Dias RR, Oliveira AS, et al. Heart transplantation in 107 cases of Chagas' disease. Transplant Proc. 2011;43(1):220-4. doi: 10.1016/j.transproceed.2010.12.046.
https://doi.org/10.1016/j.transproceed.2...
,266266 Godoy HL, Guerra CM, Viegas RF, Dinis RZ, Branco JN, Neto VA, et al. Infections in heart transplant recipients in Brazil: the challenge of Chagas' disease. J Heart Lung Transplant. 2010;29(3):286-90. doi: 10.1016/j.healun.2009.08.006.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2009.08...
Considerando a morbidade e a mortalidade potencial, o diagnóstico e o manejo apropriado da reativação da doença de Chagas no contexto de transplante de órgãos são extremamente importantes. Este procedimento deve ser realizado dentro de um protocolo clínico e laboratorial estruturado para monitorar a reativação da infecção e seu subsequente tratamento.267267 Bern C. Antitrypanosomal therapy for chronic Chagas' disease. N Engl J Med. 2011;364(26):2527-34. doi: 10.1056/NEJMct1014204.
https://doi.org/10.1056/NEJMct1014204...

268 Maldonado C, Albano S, Vettorazzi L, Salomone O, Zlocowski JC, Abiega C, et al. Using polymerase chain reaction in early diagnosis of re-activated Trypanosoma cruzi infection after heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2004;23(12):1345-8. doi: 10.1016/j.healun.2003.09.027.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2003.09...
-269269 Diez M, Favaloro L, Bertolotti A, Burgos JM, Vigliano C, Lastra MP, et al. Usefulness of PCR strategies for early diagnosis of Chagas' disease reactivation and treatment follow-up in heart transplantation. Am J Transplant. 2007;7(6):1633-40. doi: 10.1111/j.1600-6143.2007.01820.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2007...
O diagnóstico da reativação se baseia em sinais e sintomas clínicos e/ou presença de parasitas no sangue, líquor, medula óssea ou outros tecidos.270270 Bocchi EA, Fiorelli A; First guideline group for heart transplantation of the Brazilian Society of Cardiology. The Brazilian experience with heart transplantation: a multicenter report. J Heart Lung Transplant. 2001;20(6):637-45. PMID: 11404169.

A monitoração clínica tem como objetivo identificar os primeiros sinais de reativação e estabelecer tratamento anti-Trypanosoma cruzi prontamente. A reativação clínica tem manifestações cardíacas e extracardíacas, incluindo miocardite, disfunção ventricular, arritmias, bloqueios atrioventriculares/intraventriculares novos no ECG, lesões cutâneas (nódulos subcutâneos, paniculite etc.), febre, acometimento de medula óssea ou manifestações neurológicas.267267 Bern C. Antitrypanosomal therapy for chronic Chagas' disease. N Engl J Med. 2011;364(26):2527-34. doi: 10.1056/NEJMct1014204.
https://doi.org/10.1056/NEJMct1014204...
,270270 Bocchi EA, Fiorelli A; First guideline group for heart transplantation of the Brazilian Society of Cardiology. The Brazilian experience with heart transplantation: a multicenter report. J Heart Lung Transplant. 2001;20(6):637-45. PMID: 11404169. O diagnóstico diferencial entre a miocardite da rejeição e da reativação ainda constitui um grande desafio. A miocardite da reativação pode ser equivocadamente diagnosticada como rejeição do enxerto e ser tratada com intensificação do tratamento imunossupressor, conduta que pode agravar a reativação.271271 de Souza MM, Franco M, Almeida DR, Diniz RV, Mortara RA, da Silva S, et al. Comparative histopathology of endomyocardial biopsies in chagasic and nonchagasic heart transplant recipients. J Heart Lung Transplant. 2001;20(5):534-43. doi: 11343980.
https://doi.org/11343980...
Na presença de infiltrado inflamatório, ninhos de amastigotas e ou PCR positiva para T. cruzi no miocárdio, podemos afirmar que existe reativação, mas não é possível excluir com segurança rejeição do enxerto associada. Apesar desta complexidade, as taxas de sobrevida dos pacientes chagásicos submetidos a TxC não difere das outras etiologias.(250,270, 271)

5.4.2. Diagnóstico Parasitológico da Reativação

O objetivo da monitoração laboratorial é identificar qualquer sinal subclínico de reativação, antes do estabelecimento de sintomas cardíacos e extracardíacos.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638.,267267 Bern C. Antitrypanosomal therapy for chronic Chagas' disease. N Engl J Med. 2011;364(26):2527-34. doi: 10.1056/NEJMct1014204.
https://doi.org/10.1056/NEJMct1014204...

As provas sorológicas têm utilidade somente em potenciais doadores, no diagnóstico de cardiomiopatia chagásica em potenciais receptores e em receptores soronegativos que recebem órgãos de doadores soropositivo.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638. Não têm papel no diagnóstico da reativação.

Tradicionalmente, o monitoramento laboratorial utilizava métodos parasitológicos (pesquisa direta do T. cruzi e hemoculturas) e exames histológicos seriados de BEM, na procura de amastigotas de T. cruzi − testes estes com baixa sensibilidade.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638. Nos últimos anos, vários estudos demonstraram o valor do teste da PCR no sangue periférico e miocárdio em detectar reativação precoce, antes do surgimento de sintomas e/ou disfunção do enxerto.268268 Maldonado C, Albano S, Vettorazzi L, Salomone O, Zlocowski JC, Abiega C, et al. Using polymerase chain reaction in early diagnosis of re-activated Trypanosoma cruzi infection after heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2004;23(12):1345-8. doi: 10.1016/j.healun.2003.09.027.
https://doi.org/10.1016/j.healun.2003.09...
,269269 Diez M, Favaloro L, Bertolotti A, Burgos JM, Vigliano C, Lastra MP, et al. Usefulness of PCR strategies for early diagnosis of Chagas' disease reactivation and treatment follow-up in heart transplantation. Am J Transplant. 2007;7(6):1633-40. doi: 10.1111/j.1600-6143.2007.01820.x.
https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2007...
,272272 Qvarnstrom Y, Schijman AG, Veron V, Aznar C, Steurer F, da Silva AJ. Sensitive and specific detection of Trypanosoma cruzi DNA in clinical specimens using a multitarget real-time PCR approach. PLoS Negl Trop Dis. 2012;6(7):e1689. doi: 10.1371/journal.pntd.0001689.
https://doi.org/10.1371/journal.pntd.000...
Quanto à frequência das visitas clínicas e da monitoração laboratorial, ainda não há consenso na literatura. A tabela 5.2 constitui sugestão de um protocolo de monitoração clínica, laboratorial e histológica para pacientes chagásicos submetidos a TxC e tratamento etiológico.

Tabela 5.2
Monitorização clínica e laboratorial da reativação de infecção pelo Trypanosoma cruzi, após transplante cardíaco na doença de Chagas e no tratamento etiológico

5.4.3. Tratamento Etiológico da Reativação

Na presença de sinais/sintomas e/ou identificação do parasito no sangue, liquor ou tecido, recomenda-se iniciar tratamento etiológico imediatamente. No Brasil, o benzonidazol (derivado nitroimidazólico) é o medicamento recomendado como tratamento de primeira linha e deve ser obtido via Ministério da Saúde.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638.,273273 Dias JCP, Ramos Jr. NA, Gontigo ED, Luquetti A, Shikamai-Yasuda MA, Coura JR, et al. II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas. Epidemiol Serv Saúde, Brasília; 2016;25(num esp):7-86. doi: 10.5123/S1679-49742016000500002.
https://doi.org/10.5123/S1679-4974201600...

Os comprimidos têm 100 mg da substância ativa. Sua absorção se dá pelo trato gastrintestinal, e a excreção é predominantemente renal, com meia-vida de 12 horas. A dose recomendada é de 5 mg/kg/dia, por 60 dias de tratamento, sendo a dose diária dividida em duas ou três vezes.273273 Dias JCP, Ramos Jr. NA, Gontigo ED, Luquetti A, Shikamai-Yasuda MA, Coura JR, et al. II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas. Epidemiol Serv Saúde, Brasília; 2016;25(num esp):7-86. doi: 10.5123/S1679-49742016000500002.
https://doi.org/10.5123/S1679-4974201600...
Seu efeito colateral mais importante é a dermatite do urticariforme, que ocorre em cerca de 30 a 60% dos pacientes, já no final da primeira semana de tratamento, apresentando boa resposta terapêutica com o uso de anti-histamínicos ou pequenas doses de corticosteroides.

Poucos são os casos que se acompanham de febre e adenomegalia, condições em que a medicação deve ser suspensa. Outros efeitos adversos incluem polineuropatia (mais tardia), com dor e/ou formigamento nos membros inferiores e anorexia. Leucopenia significativa e agranulocitose são raras e, quando presentes, também determinam interrupção do tratamento.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638.,273273 Dias JCP, Ramos Jr. NA, Gontigo ED, Luquetti A, Shikamai-Yasuda MA, Coura JR, et al. II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas. Epidemiol Serv Saúde, Brasília; 2016;25(num esp):7-86. doi: 10.5123/S1679-49742016000500002.
https://doi.org/10.5123/S1679-4974201600...
O nifurtimox não está disponível no Brasil. Estas medicações tripanossomicidas estão contraindicadas em gestantes e em pacientes com IR ou hepática.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638.,273273 Dias JCP, Ramos Jr. NA, Gontigo ED, Luquetti A, Shikamai-Yasuda MA, Coura JR, et al. II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas. Epidemiol Serv Saúde, Brasília; 2016;25(num esp):7-86. doi: 10.5123/S1679-49742016000500002.
https://doi.org/10.5123/S1679-4974201600...
Alopurinol na dose de 600 mg/dia durante 60 dias, para lesões cutâneas, e 900 mg/dia por 60 dias em casos de miocardite é uma alternativa em casos de reações adversas ao benzonidazol embora seus benefícios ainda necessitem de confirmação em maior número de pacientes 274274 Almeida DR, Carvalho AC, Branco JN, Pereira AP, Correa L, Vianna PV, et al. Chagas' disease reactivation after heart transplantation: efficacy of allopurinol treatment. J Heart Lung Transplant. 1996;15(10):988-92. PMID: 8913915..

Não existe evidência que suporte a estratégia de tratamento anti T. cruzi profilático da reativação. Estas drogas anti-Trypanosoma têm efeitos colaterais importantes e não levam a cura da infecção crônica. Um paciente pode ter mais de um episódio de reativação após tratamento. Portanto, é preciso manter a monitoração da reativação mesmo após tratamento anti anti-Trypanosoma.250250 Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638.,267267 Bern C. Antitrypanosomal therapy for chronic Chagas' disease. N Engl J Med. 2011;364(26):2527-34. doi: 10.1056/NEJMct1014204.
https://doi.org/10.1056/NEJMct1014204...

  • Nota: estas Diretrizes se prestam a informar e não a substituir o julgamento clínico do médico que, em última análise, deve determinar o tratamento apropriado para seus pacientes.
  • Errata

    Considerar correta a seguinte numeração de página do sumário para os itens: onde se lê pág. 4, considerar 231; respectivamente: 5, 234; 6, 235; 7, 236; 10, 239; 11, 240; 13, 242; 15, 244; 16, 245; 18, 247; 19, 248; 20, 249; 21, 250; 22, 251; 23, 252; 30, 259; 33, 262; 34, 263; 35, 264; 37, 266; 39, 268; 41, 272; 44, 273; 46, 275; 47, 276; 48, 277; 49, 278; 50, 50; 51, 280. Para os itens indicados com as páginas 24-28 e 31-32, considerar: 4.1.2, 4.1.2.1, 4.1.2.2, A) Ciclosporina – pág. 253; B) Tacrolimus, 4.1.2.3, A) Azatioprina, B) Micofenolato, 4.1.2.4, A) Sirolimus – pág. 255; B) Evrrolimus, 4.1.3, 4.2, 4.2.1, 4.2.2, 4.2.2.1 – pág. 256; 4.2.2.2 – pág. 257; 4.2.3 – pág. 258; 4.2.3.1 – pág. 258; 4.2.3.2 – pág. 258; 4.3.2, 4.3.3, 4.3.3.1 – pág. 260; 4.3.3.2 – pág. 261.
    Na página 251, a numeração correta dos itens “Gravidade" e "Biomarcadores”, respectivamente, é 3.4.4 e 3.4.5. Na página 252, a numeração correta do item “Estratégias de Prevenção e Tratamento” é 3.4.6.

Referências

  • 1
    Fang JC, Ewald GA, Allen LA, Butler J, Westlake Canary CA, Colvin-Adams M, et al; Heart Failure Society of America Guidelines Committee. Advanced (Stage D) Heart Failure: a statement from the Heart Failure Society of America Guidelines Committee. J Cardiac Fail. 2015;21(6):519-34. doi: 10.1016/j.cardfail.2015.04.013.
    » https://doi.org/10.1016/j.cardfail.2015.04.013
  • 2
    Ross HJ. The ethics of risk and innovation. J Heart Lung Transplant. 2016;35(1):24-5. doi: 10.1016/j.healun.2015.05.009.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.05.009
  • 3
    Demers P, Moffatt S, Oyer PE, Hunt SA, Reitz BA, Robbins RC. Long term results of heart transplantation in patient older than 60 years. J Thorac Cardiovasc Surg. 2003;126(1):224-31. PMID: 12878959.
  • 4
    Goldstein D, Bello R, Shin JJ, Stevens G, Zolty R, Maybaum S, et al. Outcomes of cardiac transplantation in septuagenarians. J Heart Lung Transplant. 2012;31(7):679-85. doi: 10.1016/j.healun.2012.03.019. Erratum in: J Heart Lung Transplant. 2014;33(3):326.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2012.03.019
  • 5
    Cooper LB, Lu D, Mentz RJ, Rogers JG, Milano CA, Felker GM, et al. Cardiac transplantation for older patients: Characteristics and outcomes in the septuagenarian population. J Heart Lung Transplant. 2016;35(3):362-9. doi: 10.1016/j.healun.2015.10.028.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.10.028
  • 6
    Kittleson MM, Kobashigawa J. antibody-mediated rejection: review. Curr Opin Organ Transplant. 2012;17(5):551-7. doi: 10.1097/MOT.0b013e3283577fef.
    » https://doi.org/10.1097/MOT.0b013e3283577fef
  • 7
    Kobashigawa J, Mehra M, West L, Kerman R, George J, Rose M, et al; Consensus Conference Participants. Report from a consensus conference on the sensitized patient awaiting heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2009;28(3):213-25. doi: 10.1016/j.healun.2008.12.017.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2008.12.017
  • 8
    Appel JZ 3rd, Hartwig MG, Cantu E 3rd, Palmer SM, Reinsmoen NL, Davis RD. Role of flow cytometry to define unacceptable HLA antigens in lung transplant recipients with HLA-specific antibodies. Transplantation. 2006;81(7):1049-57. doi: 10.1097/01.tp.0000204046.89396.c5.
    » https://doi.org/10.1097/01.tp.0000204046.89396.c5
  • 9
    Chih S, Patel J. Desensitization strategies in adult heart transplantation-Will persistence pay off? J Heart Lung Transplant. 2016;35(8):962-72. doi: 10.1016/j.healun.2016.03.021.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2016.03.021
  • 10
    Kobashigawa JA, Patel JK, Kittleson MM, Kawano MA, Kiyosaki KK, Davis SN, et al. The long-term outcome of treated sensitized patients who undergo heart transplantation. Clin Transplant 2011; 25(1):E61-7. doi: 10.1111/j.1399-0012.2010.01334.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1399-0012.2010.01334.x
  • 11
    Patel J, Everly M, Chang D, Kittleson M, Reed E, Kobashigawa J. Reduction of alloantibodies via proteasome inhibition in cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2011;30(12):1320-6. doi: 10.1016/j.healun.2011.08.009.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.08.009
  • 12
    Montgomery RA, Zachary AA, Racusen LC, Leffell MS, King KE, Burdick J, et al. Plasmapheresis and intravenous immune globulin provides effective rescue therapy for refractory humoral rejection and allows kidneys to be successfully transplanted into cross-match-positive recipients. Transplantation. 2000;70(6):887-95. PMID: 11014642.
  • 13
    Sonnenday CJ, Ratner LE, Zachary AA, Burdick JF, Samaniego MD, Kraus E, et al. Preemptive therapy with plasmapheresis/intravenous immunoglobulin allows successful live donor renal transplantation in patients with a positive cross-match. Transplant Proc. 2002;34(5):1614-6. PMID: 12176507.
  • 14
    Schweitzer EJ, Wilson JS, Fernandez-Vina M, Fox M, Gutierrez M, Wiland A, et al. A high panel-reactive antibody rescue protocol for cross-match-positive live donor kidney transplants. Transplantation. 2000;70(10):1531-6. PMID: 11118102.
  • 15
    Gloor JM, DeGoey SR, Pineda AA, Moore SB, Prieto M, Nyberg SL, et al. Overcoming a positive crossmatch in living-donor kidney transplantation. Am J Transplant. 2003;3(8):1017-23. PMID: 12859539.
  • 16
    Patel J, Everly M, Chang D, Kittleson M, Reed E, Kobashigawa J. Reduction of alloantibodies via proteasome inhibition in cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2011 Dec;30(12):1320-6. doi: 10.1016/j.healun.2011.08.009.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.08.009
  • 17
    Jordan SC, Vo AA, Peng A, Toyoda M, Tyan D. Intravenous gammaglobulin (IVIG): a novel approach to improve transplant rates and outcomes in highly HLA-sensitized patients. Am J Transplant. 2006;6(3):459-66. doi: 10.1111/j.1600-6143.2005.01214.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2005.01214.x
  • 18
    Vo AA, Lukovsky M, Toyoda M, Wang J, Reinsmoen NL, Lai CH, et al. Rituximab and intravenous immune globulin for desensitization during renal transplantation. N Engl J Med. 2008;359(3):242-51. doi: 10.1056/NEJMoa0707894.
    » https://doi.org/10.1056/NEJMoa0707894
  • 19
    Vo AA, Peng A, Toyoda M, Kahwaji J, Cao K, Lai CH, et al. Use of intravenous immune globulin and rituximab for desensitization of highly HLA-sensitized patients awaiting kidney transplantation. Transplantation. 2010;89(9):1095-102. doi: 10.1097/TP.0b013e3181d21e7f.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3181d21e7f
  • 20
    Steimle AE, Stevenson LW, Chelimsky-Fallick C, Fonarow GC, Hamilton MA, Moriguchi JD, et al. Sustained hemodynamic efficacy of therapy tailored to reduce filling pressures in survivors with advanced heart failure. Circulation. 1997;96(4):1165. PMID: 9286945.
  • 21
    Gerges C, Gerges M, Lang MB, Zhang Y, Jakowitsch J, Probst P, et al. Diastolic pulmonary vascular pressure gradient: a predictor of prognosis in "out-of-proportion" pulmonary hypertension. Chest. 2013;143(3):758-766. doi: 10.1378/chest.12-1653.
    » https://doi.org/10.1378/chest.12-1653
  • 22
    Nagy AI, Venkateshvaran A, Merkely B, Lund LH, Manouras A. Determinants and prognostic implications of the negative diastolic pulmonary pressure gradient in patients with pulmonary hypertension due to left heart disease. Eur J Heart Fail. 2017;19(1):88-97. doi: 10.1002/ejhf.675.
    » https://doi.org/10.1002/ejhf.675
  • 23
    Narula J, Bennett LE, DiSalvo T, Hosenpud JD, Semigran MJ, Dec GW. Outcomes in recipients of combined heart-kidney transplantation: multiorgan, same-donor transplant study of the International Society of Heart and Lung Transplantation/United Network for Organ Sharing Scientific Registry. Transplantation. 1997;63(6):861-7. PMID: 9089227.
  • 24
    Ruderman I, Sevastos J, Anthony C, Ruygrok P, Chan W, Javorsky G, et al. Outcomes of simultaneous heart-kidney and lung-kidney transplantations: the Australian and New Zealand experience. Intern Med J. 2015;45(12):1236-41. doi: 10.1111/imj.12865.
    » https://doi.org/10.1111/imj.12865
  • 25
    Russo MJ, Rana A, Chen JM, Hong KN, Gelijns A, Moskowitz A, et al. Pretransplantation patient characteristics and survival following combined heart and kidney transplantation: an analysis of the United Network for Organ Sharing Database. Arch Surg. 2009;144(3):241-6. doi: 10.1001/archsurg.2008.559.
    » https://doi.org/10.1001/archsurg.2008.559
  • 26
    Ruzza A, Czer LS, Trento A, Esmailian F. Combined heart and kidney transplantatiojn: what is the appropriate surgical sequence? Interact Cardiovasc Thorac Surg. 2013;17(2):416-8. doi: 10.1093/icvts/ivt172.
    » https://doi.org/10.1093/icvts/ivt172
  • 27
    Dunlay SM, Park SJ, Joyce LD, Daly RC, Stulak JM, McNallan SM, et al. Frailty and outcomes after implantation of left ventricular assist device as destination therapy. J Heart Lung Transplant. 2014;33(4):359-65. doi: 10.1016/j.healun.2013.12.014.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.12.014
  • 28
    Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al; Cardiovascular Health Study Collaborative Research Group. Frailty in older adults: evidence of a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56(3):M146-56. PMID: 11253156.
  • 29
    Stevenson LW, Pagani FD, Young JB, Jessup M, Miller L, Kormos RL, et al. INTERMACS Profiles of Advanced Heart Failure: the current picture. J Heart Lung Transplant. 2009;28(6):535-41. doi: 10.1016/j.healun.2009.02.015.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2009.02.015
  • 30
    Barge-Caballero E, Segovia-Cubero J, Almenar-Bonet L, Gonzalez-Vilchez F, Villa-Arranz A, Delgado-Jimenez J, et al. Preoperative INTERMACS profiles determine postoperative outcomes in critically ill patients undergoing emergency heart transplantation: analysis of the Spanish National Heart Transplant Registry. Circ Heart Fail. 2013;6(4):763-72. doi: 10.1161/CIRCHEARTFAILURE.112.000237.
    » https://doi.org/10.1161/CIRCHEARTFAILURE.112.000237
  • 31
    Renlund D, Taylor D, Kfoury A, Shaddy R. New UNOS rules: historical background and implications for transplantation management. United Network for Organ Sharing. J Heart Lung Transplant. 1999;18(11):1065-70. PMID: 10598729.
  • 32
    Quader MA, Wolfe LG, Kasirajan V. Heart transplantation outcomes in patients with continuous-flow left ventricular assist device-related complications. J Heart Lung Transplant. 2015;34(1):75-81. doi: 10.1016/j.healun.2014.07.015.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.07.015
  • 33
    Mehra MR, Canter CE, Hannan MM, Semigran MJ, Uber PA, Baran DA, et al; International Society for Heart Lung Transplantation (ISHLT) Infectious Diseases Council; International Society for Heart Lung Transplantation (ISHLT) Pediatric Transplantation Council; International Society for Heart Lung Transplantation (ISHLT) Heart Failure and Transplantation Council. The 2016 International Society for Heart Lung Transplantation listing criteria for heart transplantation: a 10-year update. J Heart Lung Transplant. 2016;35(1):1-23. doi: 10.1016/j.healun.2015.10.023.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.10.023
  • 34
    Gilotra NA, Stevens GR. Temporary mechanical circulatory support: a review of the options, indications, and outcomes. Clin Med Insights Cardiol. 2014;8(Suppl 1):75-85. doi: 10.4137/CMC.S15718.
    » https://doi.org/10.4137/CMC.S15718
  • 35
    Kirklin JK, Naftel DC, Pagani FD, Kormos RL, Stevenson LW, Blume ED, et al. Seventh INTERMACS annual report: 15,000 patients and counting. J Heart Lung Transplant. 2015;34(12):1495-504. doi: 10.1016/j.healun.2015.10.003.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.10.003
  • 36
    Ayub-Ferreira SM, Souza Neto JD, Almeida DR, Biselli B, Avila MS, Colafranceschi AS, et al. Diretriz de assistência circulatória mecânica da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2016;107(2 Supl 2):1-33. doi: http://dx.doi.org/10.5935/abc.20160128
    » http://dx.doi.org/10.5935/abc.20160128
  • 37
    Feldman A, Marcelino CA, Beneli Prado L, Fusco CC, de Araújo MN, Ayoub AC, et al. Reasons for refusing a donor heart for transplantation in Brazil. Clin Transplant. 2016;30(7):774-8. doi: 10.1111/ctr.12747.
    » https://doi.org/10.1111/ctr.12747
  • 38
    Smits JM, De Pauw M, de Vries E, Rahmel A, Meiser B, Laufer G, et al. Donor scoring system for heart transplantation and the impact on patient survival. J Heart Lung Transplant. 2012;31(4):387-97. doi: 10.1016/j.healun.2011.11.005.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.11.005
  • 39
    Braulio R, Sanches MD, Teixeira Junior AL, Costa PH, Moreira Mda C, Rocha MA et al. Associated clinical and laboratory markers of donor on allograft function after heart transplant. Braz J Cardiovasc Surg. 2016;31(2):89-97. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1678-9741.20160025
    » http://dx.doi.org/10.5935/1678-9741.20160025
  • 40
    Smith JW, O'Brien KD, Dardas T, Pal JD, Fishbein DP, Levy WC, et al. Systematic donor selection review process improves cardiac transplant volumes and outcomes. J Thorac Cardiovasc Surg. 2016;151(1):238-43. doi: 10.1016/j.jtcvs.2015.08.081.
    » https://doi.org/10.1016/j.jtcvs.2015.08.081
  • 41
    Kilic A, Emani S, Sai-Sudhakar CB, Higgins RS, Whitson BA. Donor selection in heart transplantation. J Thorac Dis. 2014;6(8):1097-104. doi: 10.3978/j.issn.2072-1439.2014.03.23.
    » https://doi.org/10.3978/j.issn.2072-1439.2014.03.23
  • 42
    Samsky MD, Patel CB, Owen A, Schulte PJ, Jentzer J, Rosenberg PB, et al. Ten-year experience with extended criteria cardiac transplantation. Circ Heart Fail. 2013;6(6):1230-8. doi: 10.1161/CIRCHEARTFAILURE.113.000296.
    » https://doi.org/10.1161/CIRCHEARTFAILURE.113.000296
  • 43
    Nelson HM, Glazier AK, Delmonico FL. Changing patterns of organ donation: brain dead donors are not being lost by donation after circulatory death. Transplantation. 2016;100(2):446-50. doi: 10.1097/TP.0000000000000954.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0000000000000954
  • 44
    Pilcher D, Gladkis L, Arcia B, Bailey M, Cook D, Cass Y, et al. Estimating the number of organ donors in Australian Hospitals--implications for monitoring organ donation practices. Transplantation. 2015;99(10):2203-9. doi: 10.1097/TP.0000000000000716.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0000000000000716
  • 45
    Pinsard M, Ragot S, Mertes PM, Bleichner JP, Zitouni S, Cook F, et al. Interest of low-dose hydrocortisone therapy during brain-dead organ donor resuscitation: the CORTICOME study. Crit Care. 2014;18(4):R158. doi: 10.1186/cc13997.
    » https://doi.org/10.1186/cc13997
  • 46
    Joseph B, Aziz H, Pandit V, Kulvatunyou N, Sadoun M, Tang A, et al. Levothyroxine therapy before brain death declaration increases the number of solid organ donations. J Trauma Acute Care Surg. 2014;76(5):1301-5. doi: 10.1097/TA.0000000000000184.
    » https://doi.org/10.1097/TA.0000000000000184
  • 47
    Novitzky D, Mi Z, Videla LA, Collins JF, Cooper DK. Hormone resuscitation therapy for brain-dead donors - is insulin beneficial or detrimental? Clin Transplant. 2016;30(7):754-9. doi: 10.1111/ctr.12742.
    » https://doi.org/10.1111/ctr.12742
  • 48
    Citerio G, Cypel M, Dobb GJ, Dominguez-Gil B, Frontera JA, Greer DM, et al. Organ donation in adults: a critical care perspective. Intensive Care Med. 2016;42(3):305-15. doi: 10.1007/s00134-015-4191-5.
    » https://doi.org/10.1007/s00134-015-4191-5
  • 49
    Brasil. Lei n. 9434 de 04 de fevereiro de 1997. Dispõe sobre a remoção de órgãos e tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. [Acesso em 2017 abril 14]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9434.htm
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9434.htm
  • 50
    Brasil. Decreto n. 2268 de 30 de junho de 1997. Regulamenta a Lei n. 9434 de 04 de fevereiro de 1997 que dispõe sobre a remoção de órgãos e tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras providências. [Acesso em 2017 abril 14]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1997/d2268.htm
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1997/d2268.htm
  • 51
    Brasil. Ministério da Saúde. Portaria 2600 de 21 de outubro de 2009. Aprova regulamento técnico do Sistema Nacional de Transplantes. [Acesso em 2017 abril 14]. Disponível em: http://sbn.org.br/app/uploads/portaria2600.pdf
    » http://sbn.org.br/app/uploads/portaria2600.pdf
  • 52
    Barsil. Planalto. Presidência da República [Internet]. [Acesso em 2017 abr 14. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10211.htm
    » http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10211.htm
  • 53
    Brasil. Ministério da Saúde. Saúde Legis. [Internet]. [Acesso em 2017 abr 14]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt2600_21_10_2009.html
    » http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/prt2600_21_10_2009.html
  • 54
    Westphal GA. A simple bedside approach to therapeutic goals achievement during the management of deceased organ donors--An adapted version of the "VIP" approach. Clin Transplant. 2016;30(2):138-44. doi: 10.1111/ctr.12667.
    » https://doi.org/10.1111/ctr.12667
  • 55
    Arcanjo RA, Oliveira LC, Silva DD. Reflections about intra-hospital commission about organs and tissues donation for transplants. Rev Bioet. 2013;21(1):119-25. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1983-80422013000100014
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1983-80422013000100014
  • 56
    Ackemann J, Gross W, Mory M, Schaefer M, Gebhard MM. Celsior versus custodiol: early postischemic recovery after cardioplegia and ischemia at 5 degrees C. Ann Thorac Surg. 2002;74(2):522-9. PMID: 12173839.
  • 57
    Pickering JG, Boughner DR. Fibrosis in the transplanted heart and its relation to donor ischemic time. Assessment with polarized light microscopy and digital image analysis. Circulation. 1990;81(3):949-58. PMID: 2306841.
  • 58
    Benden C, Edwards LB, Kucheryavaya AY, Christie JD, Dipchand AI, Dobbels F, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation. The Registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: 29th adult lung and heart-lung transplant report-2012. J Heart Lung Transplant. 2012;31(10):1087-95. doi: 10.1016/j.healun.2012.08.005.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2012.08.005
  • 59
    Atik FA, Couto CF, Tirado FP, Moraes CS, Chaves RB, Vieira NW, et al. Addition of long-distance heart procurement promotes changes in heart transplant waiting list status. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2014;29(3):344-9. doi: http://dx.doi.org/10.5935/1678-9741.20140046
    » http://dx.doi.org/10.5935/1678-9741.20140046
  • 60
    Pfugfelder PW, Singh NR, McKenzie FN, Menkis AH, Novick RJ, Kostuk WJ. Extending cardiac allograft ischemic time and donor age: effect on survival and long-term cardiac function. J Heart Lung Transplant. 1991;10(3):394-400. PMID: 1854767.
  • 61
    Scheule AM, Zimmerman GJ, Johnston JK, Razzouk AJ, Gundry SR, Bailey LL. Duration of graft cold ischemia does not affect outcomes in pediatric heart transplant recipients. Circulation. 2002;106(12 Suppl 1): I163-7. PMID: 12354727.
  • 62
    Lynch RJ, Mathur AK, Hundley JC, Kubus J, Pietroski RE, Mattice BJ, et al. Improving organ procurement practices in Michigan. Am J Transplant. 2009;9(10):2416-23. doi: 10.1111/j.1600-6143.2009.02784.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2009.02784.x
  • 63
    Bacal F, Souza-Neto JD, Fiorelli AI, Mejia J, Marcondes-Braga FG, Mangini S, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. [II Brazilian Guidelines for Cardiac Transplantation]. Arq Bras Cardiol. 2010;94(1 Suppl):e16-76. PMID: 20625634.
  • 64
    Camp PC Jr. Heart transplantation: donor operation for heart and lung transplantation. Operative Techniques in Thoracic and Cardiovascular Surgery. 2010;15(2):125-37. doi:10.1053/j.optechstcvs.2010.04.003.
    » https://doi.org/10.1053/j.optechstcvs.2010.04.003
  • 65
    Jahania MS, Sanchez JA, Narayan P, Lasley RD, Mentzer RM Jr. Heart preservation for transplantation: principles and strategies. Ann Thorac Surg. 1999;68(5):1983-7. PMID: 10585116.
  • 66
    Latchana N, Peck JR, Whitson B, Black SM. Preservation solutions for cardiac and pulmonary donor grafts: a review of the current literature. J Thorac Dis. 2014;6(8):1143-9. doi: 10.3978/j.issn.2072-1439.2014.05.14. Erratum in: J Thorac Dis. 2014;6(9):E207-8.
    » https://doi.org/10.3978/j.issn.2072-1439.2014.05.14
  • 67
    Wildhirt SM, Weis M, Schulze C, Conrad N, Rieder G, Enders G, et al. Effects of Celsior and University of Wisconsin preservation solutions on hemodynamics and endothelial function after cardiac transplantation in humans: a single-center, prospective, randomized trial. Transpl Int. 2000;13 Suppl 1:S203-11. PMID: 11111997.
  • 68
    Michel P, Vial R, Rodriguez C, Ferrera R. A comparative study of the most widely used solutions for cardiac graft preservation during hypothermia. J Heart Lung Transplant. 2002;21(9):1030-9. PMID: 12231375.
  • 69
    Leprince P, Popov AF, Simon AR, Benk C, Siepe M. Ex vivo perfusion of the heart with the use of the Organ Care System. Eur J Cardiothorac Surg. 2016;49(5):1318-20. doi: 10.1093/ejcts/ezw075.
    » https://doi.org/10.1093/ejcts/ezw075
  • 70
    Ranjit J, Liao K. Orthotopic heart transplantation. Operative Techniques in Thoracic and Cardiovascular Surgery. 2010;15(2):138-46. doi: 10.1053/j.optechstcvs.2010.04.001
    » https://doi.org/10.1053/j.optechstcvs.2010.04.001
  • 71
    Barnard CN. The operation. A human cardiac transplant: an interim report of a successful operation performed at Groote Schuur Hospital, Cape Town. S Afr Med J. 1967;41(48):1271-4. PMID: 4170370.
  • 72
    Hunt SA. Taking heart--cardiac transplantation past, present and future. N Engl J Med. 2006;355(3):231-5. doi: 10.1056/NEJMp068048. Erratum in: N Engl J Med. 2006;355(9):967.
    » https://doi.org/10.1056/NEJMp068048
  • 73
    Smith JA, Dunning JJ, McNeil K, Cave M, Large SR, Wallwork J. Post-operative management of the heart transplant patient. Clin Intensive Care.1994;5(4):180-5. PMID: 10150544.
  • 74
    Ramakrishna H, Jaroszewski DE, Arabia FA. Adult cardiac transplantation: a review of perioperative management Part-I. Ann Card Anaesth. 2009;12(1):71-8. PMID: 19136760.
  • 75
    Ramakrishna H, Jaroszewski DE, Arabia FA. Adult cardiac transplantation: a review of perioperative management (part-II). Ann Card Anaesth. 2009;12(2):155-65. doi: 10.4103/0971-9784.53441.
    » https://doi.org/10.4103/0971-9784.53441
  • 76
    Jacobi J, Bircher N, Krinsley J, Agus M, Braithwaite SS, Deutschman C, et al. Guidelines for the use of an insulin infusion for the management of hyperglycemia in critically ill patients. Crit Care Med. 2012;40(12):3251-76. doi: 10.1097/CCM.0b013e3182653269.
    » https://doi.org/10.1097/CCM.0b013e3182653269
  • 77
    Kogan A, Preisman S, Bar A, Sternik L, Lavee J, Malachy A, et al. The Impact of hyperlactatemia on postoperative outcome after adult cardiac surgery. J Anesth. 2012;26(2):174-8. doi: 10.1007/s00540-011-1287-0.
    » https://doi.org/10.1007/s00540-011-1287-0
  • 78
    Longrois D, Hoeft A, De Hert S. 2014 European Society of Cardiology/European Society of Anaesthesiology guidelines on non-cardiac surgery: cardiovascular assessment and management: a short explanatory statement from the European Society of Anaesthesiology members who participated in the European Task Force. Eur J Anaesthesiol. 2014;31(10):513-6. doi: 10.1097/EJA.0000000000000155.
    » https://doi.org/10.1097/EJA.0000000000000155
  • 79
    Cecconi M, Corredor C, Arulkumaran N, Abuella G, Ball J, Grounds RM, et al. Clinical review: Goal-directed therapy-what is the evidence in surgical patients? The effect on different risk groups. Crit Care. 2013;17(2):209. doi: 10.1186/cc11823.
    » https://doi.org/10.1186/cc11823
  • 80
    Grocott MP, Dushianthan A, Hamilton MA, Mythen MG, Harrison D, Rowan K; Optimisation Systematic Review Steering Group. Perioperative increase in global blood flow to explicit defined goals and outcomes after surgery: a Cochrane Systematic Review. Br J Anaesth. 2013;111(4):535-48. doi: 10.1093/bja/aet155.
    » https://doi.org/10.1093/bja/aet155
  • 81
    Smetana GW, Lawrence VA, Cornell JE; American College of Physicians. Preoperative pulmonary risk stratification for noncardiothoracic surgery: Systematic review for the American College of Physicians. Ann Intern Med. 2006;144(8):581-95. PMID: 16618956.
  • 82
    Canet J, Gallart L. Predicting postoperative pulmonary complications in the general population. Curr Opin Anaesthesiol. 2013;26(2):107-15. doi: 10.1097/ACO.0b013e32835e8acd.
    » https://doi.org/10.1097/ACO.0b013e32835e8acd
  • 83
    Hedenstierna G. Oxygen and anesthesia: what lung do we deliver to the post-operative ward? Acta Anaesthesiol Scand. 2012;56(6):675-85. doi: 10.1111/j.1399-6576.2012.02689.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1399-6576.2012.02689.x
  • 84
    Heimberg C, Winterhalter M, Strüber M, Piepenbrock S, Bund M. Pressure-controlled versus volume-controlled one-lung ventilation for MIDCAB. Thorac Cardiovasc Surg. 2006;54(8):516-20. doi: 10.1055/s-2006-924413.
    » https://doi.org/10.1055/s-2006-924413
  • 85
    Hemmes SN, Serpa Neto A, Schultz MJ. Intraoperative ventilatory strategies to prevent postoperative pulmonary complications: a meta-analysis. Curr Opin Anaesthesiol. 2013;26(2):126-33. doi: 10.1097/ACO.0b013e32835e1242.
    » https://doi.org/10.1097/ACO.0b013e32835e1242
  • 86
    Serpa Neto A, Cardoso SO, Manetta JA, Pereira VG, Espósito DC, Pasqualucci Mde O, et al. Association between use of lung-protective ventilation with lower tidal volumes and clinical outcomes among patients without acute respiratory distress syndrome: a meta-analysis. JAMA. 2012;308(16):1651-9. doi: 10.1001/jama.2012.13730.
    » https://doi.org/10.1001/jama.2012.13730
  • 87
    Futier E, Constantin JM, Paugam-Burtz C, Pascal J, Eurin M, Neuschwander A, et al; IMPROVE Study Group. A trial of intraoperative low-tidal-volume ventilation in abdominal surgery. N Engl J Med. 2013;369(5):428-37. doi: 10.1056/NEJMoa1301082.
    » https://doi.org/10.1056/NEJMoa1301082
  • 88
    Unzueta C, Tusman G, Suarez-Sipmann F, Böhm S, Moral V. Alveolar recruitment improves ventilation during thoracic surgery: a randomized controlled trial. Br J Anaesth. 2012;108(3):517-24. doi: 10.1093/bja/aer415.
    » https://doi.org/10.1093/bja/aer415
  • 89
    Neligan PJ. Postoperative noninvasive ventilation. Anesthesiol Clin. 2012;30(3):495-511. doi: 10.1016/j.anclin.2012.07.002.
    » https://doi.org/10.1016/j.anclin.2012.07.002
  • 90
    Murphy GJ, Pike K, Rogers CA, Wordsworth S, Stokes EA, Angelini GD, et al; TITRe2 Investigators. Liberal or restrictive transfusion after cardiac surgery. N Engl J Med. 2015;372(11):997-1008. doi: 10.1056/NEJMoa1403612. Erratum in: N Engl J Med. 2015;372(23):2274.
    » https://doi.org/10.1056/NEJMoa1403612
  • 91
    Hajjar LA, Vincent JL, Galas FR, Nakamura RE, Silva CM, Santos MH, et al. Transfusion requirements after cardiac surgery: the TRACS randomized controlled trial. JAMA. 2010;304(14):1559-67. doi: 10.1001/jama.2010.1446.
    » https://doi.org/10.1001/jama.2010.1446
  • 92
    Myles PS, Smith JA, Forbes A, Silbert B, Jayarajah M, Painter T, et al; ATACAS Investigators of the ANZCA Clinical Trials Network. Tranexamic acid in patients undergoing coronary-atery surgery. N Engl J Med. 2017;376(2):136-148. doi: 10.1056/NEJMoa1606424.
    » https://doi.org/10.1056/NEJMoa1606424
  • 93
    American Society of Anesthesiologists Task Force on Perioperative Blood Management. Practice guidelines for perioperative blood management: an updated report by the American Society of Anesthesiologists Task Force on Perioperative Blood Management. Anesthesiology. 2015;122(2):241-75. doi: 10.1097/ALN.0000000000000463.
    » https://doi.org/10.1097/ALN.0000000000000463
  • 94
    Kobashigawa J, Zuckermann A, Macdonald P, Leprince P, Esmailian F, Luu M, et al; Consensus Conference participants. Report from a consensus conference on primary graft dysfunction after cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2014;33(4):327-40. doi: 10.1016/j.healun.2014.02.027.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.02.027
  • 95
    Christie JD, Carby M, Bag R, Corris P, Hertz M, Weill D; ISHLT Working Group on Primary Lung Graft Dysfunction. Report of the ISHLT Working Group on Primary Lung Graft Dysfunction part II: definition. A consensus statement of the International Society for Heart and Lung Transplantation. J Heart Lung Transplant. 2005;24(10):1454-9. doi: 10.1016/j.healun.2004.11.049.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2004.11.049
  • 96
    Iyer A, Kumarasinghe G, Hicks M, Watson A, Gao L, Doyle A, et al. Primary graft failure after heart transplantation. J Transplant. 2011;2011:175768. doi: 10.1155/2011/175768.
    » https://doi.org/10.1155/2011/175768
  • 97
    Wever-Pinzon O, Edwards LB, Taylor DO, Kfoury AG, Drakos SG, Selzman CH, et al. Association of recipient age and causes of heart transplant mortality: Implications for personalization of post-transplant management-An analysis of the International Society for Heart and Lung Transplantation Registry. J Heart Lung Transplant. 2017;36(4):407-17. doi: 10.1016/j.healun.2016.08.008.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2016.08.008
  • 98
    Russo MJ, Iribarne A, Hong KN, Ramlawi B, Chen JM, Takayama H, et al. Factors associated with primary graft failure after heart transplantation. Transplantation. 2010;90(4):444-50. doi: 10.1097/TP.0b013e3181e6f1eb.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3181e6f1eb
  • 99
    Hong KN, Iribarne A, Worku B, Takayama H, Gelijns AC, Naka Y, et al. Who is the high-risk recipient? Predicting mortality after heart transplant using pretransplant donor and recipient risk factors. Ann Thorac Surg. 2011;92(2):520-7. doi: 10.1016/j.athoracsur.2011.02.086.
    » https://doi.org/10.1016/j.athoracsur.2011.02.086
  • 100
    Segovia J, Cosio MD, Barcelo JM, Bueno MG, Pavía PG, Burgos R, et al. RADIAL: a novel primary graft failure risk score in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2011;30(6):644-51. doi: 10.1016/j.healun.2011.01.721.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.01.721
  • 101
    Cosío-Carmena MD, Gómez Bueno M, Almenar L, Delgado JF, Arizón JM, González Vilchez F, et al. Primary graft failure after heart transplantation: characteristics in a contemporary cohort and performance of the RADIAL risk score. J Heart Lung Transplant. 2013;32(12):1187-95. doi: 10.1016/j.healun.2013.08.004.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.08.004
  • 102
    Boccheciampe N, Audibert G, Rangeard O, Charpentier C, Perrier JF, Lalot JM, et al. Serum troponin Ic values in organ donors are related to donor myocardial dysfunction but not to graft dysfunction or rejection in the recipients. Int J Cardiol. 2009;133(1):80-6. doi: 10.1016/j.ijcard.2007.12.006.
    » https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2007.12.006
  • 103
    Khush KK, Menza RL, Babcock WD, Zaroff JG. Donor cardiac troponin I levels do not predict recipient survival after cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2007;26(10):1048-53. doi: 10.1016/j.healun.2007.07.026.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2007.07.026
  • 104
    Potapov EV, Ivanitskaia EA, Loebe M, Möckel M, Müller C, Sodian R, et al. Value of cardiac troponin I and T for selection of heart donors and as predictors of early graft failure. Transplantation. 2001;71(10):1394-400. PMID: 11391225.
  • 105
    Vorlat A, Conraads VM, Jorens PG, Aerts S, Van Gorp S, Vermeulen T, et al. Donor B-type natriuretic peptide predicts early cardiac performance after heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2012;31(6):579-84. doi: 10.1016/j.healun.2012.02.009.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2012.02.009
  • 106
    Birks EJ, Burton PB, Owen V, Mullen AJ, Hunt D, Banner NR, et al. Elevated tumor necrosis factor- alpha and interleukin-6 in myocardium and serum of malfunctioning donor hearts. Circulation. 2000;102(19 Suppl 3):III352-8. PMID: 11082413.
  • 107
    Wagner FD, Jonitz B, Potapov EV, Qedra N, Wegscheider K, Abraham K, et al. Procalcitonin, a donor- specific predictor of early graft failure-related mortality after heart transplantation. Circulation. 2001;104(12 Suppl1):I192-6. PMID: 11568054.
  • 108
    Aharinejad S, Andrukhova O, Gmeiner M, Thomas A, Aliabadi A, Zuckermann A, et al. Donor serum SMARCAL1 concentrations predict primary graft dysfunction in cardiac transplantation. Circulation. 2009;120(11 Suppl):S198-205. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.108.842971.
    » https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.108.842971
  • 109
    Nicolas-Robin A, Salvi N, Medimagh S, Amour J, Le Manach Y, Coriat P, et al. Combined measurements of N-terminal pro-brain natriuretic peptide and cardiac troponins in potential organ donors. Intensive Care Med. 2007;33(6):986-92. doi: 10.1007/s00134-007-0601-7.
    » https://doi.org/10.1007/s00134-007-0601-7
  • 110
    Potapov EV, Wagner FD, Loebe M, Ivanitskaia EA, Müller C, Sodian R, et al. Elevated donor cardiac troponin T and procalcitonin indicate two independent mechanisms of early graft failure after heart transplantation. Int J Cardiol. 2003;92(2-3):163-7. PMID: 14659848.
  • 111
    Ardehali A, Esmailian F, Deng M, Soltesz E, Hsich E, Naka Y, et al; PROCEED II trial investigators. Ex-vivo perfusion of donor hearts for human heart transplantation (PROCEED II): a prospective, open-label, multicentre, randomised non-inferiority trial. Lancet. 2015;385(9987):2577-84. doi: 10.1016/S0140-6736(15)60261-6.
    » https://doi.org/10.1016/S0140-6736(15)60261-6
  • 112
    D'Alessandro C, Golmard JL, Barreda E, Laali M, Makris R, Luyt CE, et al. Predictive risk factors for primary graft failure requiring temporary extra-corporeal membrane oxygenation support after cardiac transplantation in adults. Eur J Cardiothorac Surg. 2011;40(4):962-9. doi: 10.1016/j.ejcts.2011.01.064.
    » https://doi.org/10.1016/j.ejcts.2011.01.064
  • 113
    Taghavi S, Zuckermann A, Ankersmit J, Wieselthaler G, Rajek A, Laufer G, et al. Extracorporeal membrane oxygenation is superior to right ventricular assist device for acute right ventricular failure after heart transplantation. Ann Thorac Surg. 2004;78(5):1644-9. doi: 10.1016/j.athoracsur.2004.04.059.
    » https://doi.org/10.1016/j.athoracsur.2004.04.059
  • 114
    Thomas HL, Dronavalli VB, Parameshwar J, Bonser RS, Banner NR; Steering Group of the UK Cardiothoracic Transplant Audit. Incidence and outcome of Levitronix CentriMag support as rescue therapy for early cardiac allograft failure: a United Kingdom national study. Eur J Cardiothorac Surg. 2011;40(6):1348-54. doi: 10.1016/j.ejcts.2011.02.045.
    » https://doi.org/10.1016/j.ejcts.2011.02.045
  • 115
    Rosenberg PB, Vriesendorp AE, Drazner MH, Dries DL, Kaiser PA, Hynan LS, et al. Induction therapy with basiliximab allows delayed initiation of cyclosporine and preserves renal function after cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2005;24(9):1327-31. doi: 10.1016/j.healun.2004.08.003.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2004.08.003
  • 116
    Mehra MR, Zucker MJ, Wagoner L, Michler R, Boehmer J, Kovarik J, et al. A multicenter, prospective, randomized double-blind trial of basiliximab in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2005;24(9):1297-304. doi: 10.1016/j.healun.2004.09.010.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2004.09.010
  • 117
    Stehlik J, Edwards LB, Kucheryavaya AY, Benden C, Christie JD, Dipchand AI, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation. The Registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: 29th official adult heart transplant report--2012. J Heart Lung Transplant. 2012;31(10):1052-64. doi: 10.1016/j.healun.2012.08.002.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2012.08.002
  • 118
    Hershberger RE, Starling RC, Eisen HJ, Bergh CH, Kormos RL, Love RB, et al. Daclizumab to prevent rejection after cardiac transplantation. N Engl J Med. 2005;352(26):2705-13. doi: 10.1056/NEJMoa032953.
    » https://doi.org/10.1056/NEJMoa032953
  • 119
    Teuteberg JJ, Shullo MA, Zomak R, Toyoda Y, McNamara DM, Bermudez C, et al. Alemtuzumab induction prior to cardiac transplantation with lower intensity maintenance immunosuppression: one-year outcomes. Am J Transplant. 2010;10(2):382-8. doi: 10.1111/j.1600-6143.2009.02856.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2009.02856.x
  • 120
    Segovia J, Rodríguez-Lambert JL, Crespo-Leiro MG, Almenar L, Roig E, Gómez-Sánchez MA, et al. A randomized multicenter comparison of basiliximab and muromonab (OKT3) in heart transplantation: SIMCOR study. Transplantation. 2006;81(11):1542-8. doi: 10.1097/01.tp.0000209924.00229.e5.
    » https://doi.org/10.1097/01.tp.0000209924.00229.e5
  • 121
    Lund LH, Edwards LB, Kucheryavaya AY, Benden C, Dipchand AI, Goldfarb S, et al. The Registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: Thirty-second Official Adult Heart Transplantation Report--2015; Focus Theme: Early Graft Failure. J Heart Lung Transplant. 2015;34(10):1244-54. doi: 10.1016/j.healun.2015.08.003.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.08.003
  • 122
    Miller LW, Wolford T, McBride LR, Peigh P, Pennington DG. Successful withdrawal of corticosteroids in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 1992;11(2 Pt 1):431-4. PMID: 1571342.
  • 123
    Teuteberg JJ, Shullo M, Zomak R, McNamara D, McCurry K, Kormos RL. Aggressive steroid weaning after cardiac transplantation is possible without the additional risk of significant rejection. Clin Transplant. 2008;22(6):730-7. doi: 10.1111/j.1399-0012.2008.00868.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1399-0012.2008.00868.x
  • 124
    Groetzner J, Meiser BM, Schirmer J, vScheidt W, Klauss V, Cremer P, et al. Tacrolimus or cyclosporine for immunosuppression after cardiac transplantation: which treatment reveals more side effects during long-term follow-up? Transplant Proc. 2001;33(1-2):1461-4. PMID: 11267373.
  • 125
    Meiser BM, Uberfuhr P, Fuchs A, Schmidt D, Pfeiffer M, Paulus D, et al. Single-center randomized trial comparing tacrolimus (FK506) and cyclosporine in the prevention of acute myocardial rejection. J Heart Lung Transplant. 1998;17(8):782-8. PMID: 9730427.
  • 126
    Rinaldi M, Pellegrini C, Martinelli L, Goggi C, Gavazzi A, Campana C, et al. FK506 effectiveness in reducing acute rejection after heart transplantation: a prospective randomized study. J Heart Lung Transplant. 1997;16(10):1001-10. PMID: 9361242.
  • 127
    Reichart B, Meiser B, Viganò M, Rinaldi M, Martinelli L, Yacoub M, et al. European Multicenter Tacrolimus (FK506) Heart Pilot Study: one-year results--European Tacrolimus Multicenter Heart Study Group. J Heart Lung Transplant. 1998;17(8):775-81. PMID: 9730426.
  • 128
    Kobashigawa JA, Patel J, Furukawa H, Moriguchi JD, Yeatman L, Takemoto S, et al. Five-year results of a randomized, single-center study of tacrolimus vs microemulsion cyclosporine in heart transplant patients. J Heart Lung Transplant. 2006;25(4):434-9. doi: 10.1016/j.healun.2005.11.452.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2005.11.452
  • 129
    Palmer SM, Baz MA, Sanders L, Miralles AP, Lawrence CM, Rea JB, et al. Results of a randomized, prospective, multicenter trial of mycophenolate mofetil versus azathioprine in the prevention of acute lung allograft rejection. Transplantation. 2001;71(12):1772-6. PMID: 11455257.
  • 130
    Kobashigawa J, Miller L, Renlund D, Mentzer R, Alderman E, Bourge R, et al. A randomized active-controlled trial of mycophenolate mofetil in heart transplant recipients. Mycophenolate Mofetil Investigators. Transplantation. 1998;66(4):507-15. PMID: 9734496.
  • 131
    Kobashigawa JA, Renlund DG, Gerosa G, Almenar L, Eisen HJ, Keogh AM, et al; ERL2401 Heart Study Investigators. Similar efficacy and safety of enteric-coated mycophenolate sodium (EC-MPS, myfortic) compared with mycophenolate mofetil (MMF) in de novo heart transplant recipients: results of a 12-month, single-blind, randomized, parallel-group, multicenter study. J Heart Lung Transplant. 2006;25(8):935-41. doi: 10.1016/j.healun.2006.04.005.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2006.04.005
  • 132
    Lehmkuhl H, Hummel M, Kobashigawa J, Ladenburger S, Rothenburger M, Sack F, et al. Enteric-coated mycophenolate-sodium in heart transplantation: efficacy, safety, and pharmacokinetic compared with mycophenolate mofetil. Transplant Proc. 2008;40(4):953-5. doi: 10.1016/j.transproceed.2008.03.046.
    » https://doi.org/10.1016/j.transproceed.2008.03.046
  • 133
    Bacal F, Silva CP, Pires PV, Mangini S, Fiorelli AI, Stolf NG, et al. Transplantation for Chagas' disease: an overview of immunosuppression and reactivation in the last two decades. Clin Transplant. 2010;24(2):E29-34. doi: 10.1111/j.1399-0012.2009.01202.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1399-0012.2009.01202.x
  • 134
    Keogh A, Richardson M, Ruygrok P, Spratt P, Galbraith A, O'Driscoll G, et al. Sirolimus in de novo heart transplant recipients reduces acute rejection and prevents coronary artery disease at 2 years: a randomized clinical trial. Circulation. 2004;110(17):2694-700. doi: 10.1161/01.CIR.0000136812.90177.94.
    » https://doi.org/10.1161/01.CIR.0000136812.90177.94
  • 135
    García-Luque A, Cordero E, Torelló J, Lage E, Juan JM, Cisneros JM, et al. Sirolimus-associated pneumonitis in heart transplant recipients. Ann Pharmacother. 2008;42(7):1143-5. doi: 10.1345/aph.1L044.
    » https://doi.org/10.1345/aph.1L044
  • 136
    Khalife WI, Kogoj P, Kar B. Sirolimus-induced alveolar hemorrhage. J Heart Lung Transplant. 2007;26(6):652-7. doi: 10.1016/j.healun.2007.02.010.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2007.02.010
  • 137
    Eisen HJ, Kobashigawa J, Starling RC, Pauly DF, Kfoury A, Ross H, et al. Everolimus versus mycophenolate mofetil in heart transplantation: a randomized, multicenter trial. Am J Transplant. 2013;13(5):1203-16. doi: 10.1111/ajt.12181.
    » https://doi.org/10.1111/ajt.12181
  • 138
    Watanabe T, Seguchi O, Nishimura K, Fujita T, Murata Y, Yanase M, et al. Suppressive effects of conversion from mycophenolate mofetil to everolimus for the development of cardiac allograft vasculopathy in maintenance of heart transplant recipients. Int J Cardiol. 2016 Jan 15;203:307-14. doi: 10.1016/j.ijcard.2015.10.082.
    » https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2015.10.082
  • 139
    Costanzo MR, Dipchand A, Starling R, Anderson A, Chan M, Desai S, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines. The International Society of Heart and Lung Transplantation Guidelines for the care of heart transplant recipients. J Heart Lung Transplant. 2010;29(8):914-56. doi: 10.1016/j.healun.2010.05.034.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2010.05.034
  • 140
    Mattner F, Kola A, Fischer S, Becker T, Haverich A, Simon A, et al. Impact of bacterial and fungal donor organ contamination in lung, heart-lung, heart and liver transplantation. Infection. 2008;36(3):207-12. doi: 10.1007/s15010-007-7157-x.
    » https://doi.org/10.1007/s15010-007-7157-x
  • 141
    Kotton CN, Kumar D, Caliendo AM, Asberg A, Chou S, Danziger-Isakov L, et al; Transplantation Society International CMV Consensus Group. Updated international consensus guidelines on the management of cytomegalovirus in solid-organ transplantation. Transplantation. 2013;96(4):333-60. doi: 10.1097/TP.0b013e31829df29d.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0b013e31829df29d
  • 142
    Wilck MB, Zuckerman RA; AST Infectious Diseases Community of Practice. Herpes simplex virus in solid organ transplantation. Am J Transplant. 2013 Mar;13 Suppl 4:121-7. doi: 10.1111/ajt.12105.
    » https://doi.org/10.1111/ajt.12105
  • 143
    Derouin F, Pelloux H. ESCMID Study Group on Clinical Parasitology. Prevention of toxoplasmosis in transplant patients. Clin Microbiol Infect. 2008;14(12):1089-101. doi: 10.1111/j.1469-0691.2008.02091.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1469-0691.2008.02091.x
  • 144
    Strabelli TM, Siciliano RF, Vidal Campos S, Bianchi Castelli J, Bacal F, Bocchi EA, et al. Toxoplasma gondii myocarditis after adult heart transplantation: successful prophylaxis with pyrimethamine. J Trop Med. 2012;2012:853562. doi: 10.1155/2012/853562.
    » https://doi.org/10.1155/2012/853562
  • 145
    Martin SI, Fishman JA; AST Infectious Diseases Community of Practice. Pneumocystis pneumonia in solid organ transplantation. Am J Transplant. 2013 Mar;13 Suppl 4:272-9. doi: 10.1111/ajt.12119.
    » https://doi.org/10.1111/ajt.12119
  • 146
    Schwartz BS, Mawhorter SD; AST Infectious diseases community of practice. Parasitic infections in solid organ transplantation. Am J Transplant. 2013 Mar;13 Suppl 4:280-303. doi: 10.1111/ajt.12120.
    » https://doi.org/10.1111/ajt.12120
  • 147
    Danziger-Isakov L, Kumar D; AST Infectious Diseases Community of Practice. Vaccination in solid organ transplantation. Am J Transplant. 2013 Mar;13 Suppl 4:311-7. doi: 10.1111/ajt.12122.
    » https://doi.org/10.1111/ajt.12122
  • 148
    Danzinger-Isakov L, Kumar D; AST Infectious Diseases Community of Practice. Guidelines for vaccination of solid organ transplant candidates and recipients. Am J Transplant. 2009 Dec;9 Suppl 4:S258-62. doi: 10.1111/j.1600-6143.2009.02917.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2009.02917.x
  • 149
    Stehlik J, Starling RC, Movsesian MA, Fang JC, Brown RN, Hess ML, et al; Cardiac Transplant Research Database Group. Utility of long-term surveillance endomyocardial biopsy: a multi-institutional analysis. J Heart Lung Transplant. 2006;25(12):1402-9. doi: 10.1016/j.healun.2006.10.003.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2006.10.003
  • 150
    Orrego CM, Cordero-Reyes AM, Estep JD, Loebe M, Torre-Amione G. Usefulness of routine surveillance endomyocardial biopsy 6 months after heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2012;31(8):845-9. doi: 10.1016/j.healun.2012.03.015.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2012.03.015
  • 151
    Badano LP, Miglioranza MH, Edvardsen T, Colafranceschi AS, Muraru D, Bacal F, et al. European Association of Cardiovascular Imaging/Cardiovascular Imaging Department of the Brazilian Society of Cardiology recommendations for the use of cardiac imaging to assess and follow patients after heart transplantation. Eur Heart J Cardiovasc Imaging. 2015;16(9):919-48. doi: 10.1093/ehjci/jev139.
    » https://doi.org/10.1093/ehjci/jev139
  • 152
    Reed EF, Hong B, Ho E, Harris PE, Weinberger J, Suciu-Foca N. Monitoring of soluble HLA alloantigens and anti-HLA antibodies identifies heart allograft recipients at risk of transplant-associated coronary artery disease. Transplantation. 1996;61(4):566-72. PMID: 8610382.
  • 153
    Kaczmarek I, Deutsch M, Kauke T, Beiras-Fernandez A, Schmoeckel M, Vicol C, et al. Donor-specific HLA alloantibodies: long-term impact on cardiac allograft vasculopathy and mortality after heart transplant. Exp Clin Transplant. 2008;6(3):229-35. PMID: 18954302.
  • 154
    Ho EK, Vlad G, Vasilescu ER, de la Torre L, Colovai AI, Burke E, et al. Pre- and posttransplantation allosensitization in heart allograft recipients: major impact of de novo alloantibody production on allograft survival. Hum Immunol. 2011;72(1):5-10. doi: 10.1016/j.humimm.2010.10.013.
    » https://doi.org/10.1016/j.humimm.2010.10.013
  • 155
    Reinsmoen NL, Lai CH, Mirocha J, Cao K, Ong G, Naim M, et al. Increased negative impact of donor HLA-specific together with non-HLA-specific antibodies on graft outcome. Transplantation. 2014;97(5):595-601. doi: 10.1097/01.TP.0000436927.08026.a8.
    » https://doi.org/10.1097/01.TP.0000436927.08026.a8
  • 156
    Fidler SJ, Irish AB, Lim W, Ferrari P, Witt CS, Christiansen FT. Pre-transplant donor specific anti-HLA antibody is associated with antibody-mediated rejection, progressive graft dysfunction and patient death. Transpl Immunol. 2013;28(4):148-53. doi: 10.1016/j.trim.2013.05.001.
    » https://doi.org/10.1016/j.trim.2013.05.001
  • 157
    Susal C, Ovens J, Mahmoud K, Döhler B, Scherer S, Ruhenstroth A, et al. No association of kidney graft loss with human leukocyte antigen antibodies detected exclusively by sensitive Luminex single-antigen testing: a Collaborative Transplant Study report. Transplantation. 2011;91(8):883-7. doi: 10.1097/TP.0b013e3182100f77.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3182100f77
  • 158
    Smith JD, Banner NR, Hamour IM, Ozawa M, Goh A, Robinson D, et al. De novo donor HLA-specific antibodies after heart transplantation are an independent predictor of poor patient survival. Am J Transplant. 2011;11(2):312-9. doi: 10.1111/j.1600-6143.2010.03383.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2010.03383.x
  • 159
    Lee H, Min JW, Kim JI, Moon IS, Park KH, Yang CW, et al. Clinical significance of HLA-DQ antibodies in the development of chronic antibody-mediated rejection and allograft failure in kidney transplant recipients. Medicine (Baltimore). 2016;95(11):e3094. doi: 10.1097/MD.0000000000003094.
    » https://doi.org/10.1097/MD.0000000000003094
  • 160
    Ticehurst EH, Molina MR, Frank R, Kearns J, Lal P, Goldberg LR, et al. Antibody-mediated rejection in heart transplant patients: long-term follow up of patients with high levels of donor-directed anti-DQ antibodies. Clin Transpl. 2011:409-14. PMID: 22755439.
  • 161
    Brokhof MM, Sollinge HW, Hager DR, Muth BL, Pirsch JD, Fernandez LA, et al. Antithymocyte globulin is associated with a lower incidence of de novo donor-specific antibodies in moderately sensitized renal transplant recipients. Transplantation. 2014;97(6):612-7. doi: 10.1097/TP.0000000000000031.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0000000000000031
  • 162
    Tydén G, Ekberg H, Tufveson G, Mjörnstedt L. A randomized, double-blind, placebo-controlled study of single dose rituximab as induction in renal transplantation: a 3-year follow-up. Transplantation. 2012; 94(3):e21-2. doi: 10.1097/01.tp.0000418580.88642.e1.
    » https://doi.org/10.1097/01.tp.0000418580.88642.e1
  • 163
    Ejaz NS, Shields AR, Alloway RR, Sadaka B, Girnita AL, Mogilishetty G, et al. Randomized controlled pilot study of B cell-targeted induction therapy in HLA sensitized kidney transplant recipients. Am J Transplant. 2013;13(12):3142-54. doi: 10.1111/ajt.12493.
    » https://doi.org/10.1111/ajt.12493
  • 164
    O'Leary JG, Samaniego M, Barrio MC, Potena L, Zeevi A, Djamali A, et al. The influence of immunosuppressive agents on the risk of De Novo donor-specific HLA antibody production in solid organ transplant recipients. Transplantation. 2016;100(1):39-53. doi: 10.1097/TP.0000000000000869.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0000000000000869
  • 165
    Delgado JC, Fuller A, Ozawa M, Smith L, Terasaki PI, Shihab FS, et al. No occurrence of de novo HLA antibodies in patients with early corticosteroid withdrawal in a 5-year prospective randomized study. Transplantation. 2009;87(4):546-8. doi: 10.1097/TP.0b013e3181949d2e.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3181949d2e
  • 166
    Cole RM, Kobashigawa JA. Desensitization strategies pre- and post-cardiac transplantation. Curr Treat Options Cardiovasc Med. 2016;18(2):8. doi: 10.1007/s11936-015-0431-9.
    » https://doi.org/10.1007/s11936-015-0431-9
  • 167
    Fredrich R, Toyoda M, Czer L, Galfayan K, Galera O, Trento A, et al. The clinical significance of antibodies to human vascular endothelial cells after cardiac transplantation. Transplantation. 1999;67(3):385-91. PMID: 10030283.
  • 168
    Jurcevic S, Ainsworth ME, Pomerance A, Smith JD, Robinson DR, Dunn MJ, et al. Antivimentin antibodies are an independent predictor of transplant-associated coronary artery disease after cardiac transplantation. Transplantation. 2001;71(7):886-92. PMID: 11349721.
  • 169
    Suárez-Alvarez B, López-Vázquez A, Gonzalez MZ, Fdez-Morera JL, Díaz-Molina B, Blanco-Gelaz MA, et al. The relationship of anti-MICA antibodies and MICA expression with heart allograft rejection. Am J Transplant. 2007;7(7):1842-8. doi: 10.1111/j.1600-6143.2007.01838.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2007.01838.x
  • 170
    Barz D, Friedrich S, Schuller A, Rummler S. Antibodies against AT1-receptor in transplantation (diagnostics, treatment, clinical relevance). Atheroscler Suppl. 2015 May;18:112-8. doi: 10.1016/j.atherosclerosissup.2015.02.021
    » https://doi.org/10.1016/j.atherosclerosissup.2015.02.021
  • 171
    Colvin MM, Cook JL, Chang P, Francis G, Hsu DT, Kiernan MS, et al; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiopulmonary Critical Care, Perioperative and Resuscitation; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Disease in the Young; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Clinical Cardiology, Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Radiology and Intervention; American Heart Association Heart Failure and Transplantation Committee of the Council on Cardiovascular Surgery and Anesthesia. Antibody-mediated rejection in cardiac transplantation: emerging knowledge in diagnosis and management: a scientific statement from the American Heart Association. Circulation. 2015;131(18):1608-39. doi: 10.1161/CIR.0000000000000093.
    » https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000000093
  • 172
    Berry GJ, Burke MM, Andersen C, Bruneval P, Fedrigo M, Fishbein MC, et al. The 2013 International Society for Heart and Lung Transplantation Working Formulation for the standardization of nomenclature in the pathologic diagnosis of antibody-mediated rejection in heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2013;32(12):1147-62. doi: 10.1016/j.healun.2013.08.011.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.08.011
  • 173
    Ibrahim M, Hendry P, Masters R, Rubens F, Lam BK, Ruel M, et al. Management of acute severe perioperative failure of cardiac allografts: a single-centre experience with a review of the literature. Can J Cardiol. 2007;23(5):363-7. PMID: 17440641.
  • 174
    Crudele V, Picascia A, Infante T, Grimaldi V, Maiello C, Napoli C. Repeated immune and non immune insults to the graft after heart transplantation. Immunol Lett. 2011;141(1):18-27. doi: 10.1016/j.imlet.2011.07.004.
    » https://doi.org/10.1016/j.imlet.2011.07.004
  • 175
    Kaczorowski DJ, Datta J, Kamoun M, Dries DL, Woo YJ. Profound hyperacute cardiac allograft rejection rescue with biventricular mechanical circulatory support and plasmapheresis, intravenous immunoglobulin, and rituximab therapy. J Cardiothorac Surg. 2013;8:48. doi: 10.1186/1749-8090-8-48.
    » https://doi.org/10.1186/1749-8090-8-48
  • 176
    Kittleson MM. Changing role of heart transplantation. Heart Fail Clin. 2016;12(3):411-21. doi: 10.1016/j.hfc.2016.03.004.
    » https://doi.org/10.1016/j.hfc.2016.03.004
  • 177
    Patel JK, Kittleson M, Kobashigawa JA. Cardiac allograft rejection. Surgeon. 2011;9(3):160-7. doi: 10.1016/j.surge.2010.11.023.
    » https://doi.org/10.1016/j.surge.2010.11.023
  • 178
    Mingo-Santos S, Moñivas-Palomero V, Garcia-Lunar I, Mitroi CD, Goirigolzarri-Artaza J, Rivero B, et al. Usefulness of Two-Dimensional Strain Parameters to Diagnose Acute Rejection after Heart Transplantation. J Am Soc Echocardiogr. 2015;28(10):1149-56. doi: 10.1016/j.echo.2015.06.005.
    » https://doi.org/10.1016/j.echo.2015.06.005
  • 179
    Simsek E, Nalbantgil S, Ceylan N, Zoghi M, Kemal HS, Engin Ç, et al. Diagnostic performance of late gadolinium enhancement in the assessment of acute cellular rejection after heart transplantation. Anatol J Cardiol. 2016;16(2):113-8. doi: 10.5152/AnatolJCardiol.2015.5961.
    » https://doi.org/10.5152/AnatolJCardiol.2015.5961
  • 180
    Labarrere CA, Jaeger BR. Biomarkers of heart transplant rejection: the good, the bad, and the ugly. Transl Res. 2012;159(4):238-51. doi: 10.1016/j.trsl.2012.01.018.
    » https://doi.org/10.1016/j.trsl.2012.01.018
  • 181
    Fang K. Clinical utilities of peripheral blood gene expression profiling in the management of cardiac transplant patients. J Immunotoxicol. 2007;4(3):209-17. doi: 10.1080/15476910701385570.
    » https://doi.org/10.1080/15476910701385570
  • 182
    Stewart S, Winters GL, Fishbein MC, Tazelaar HD, Kobashigawa J, Abrams J, et al. Revision of the 1990 working formulation for the standardization of nomenclature in the diagnosis of heart rejection. J Heart Lung Transplant. 2005;24(11):1710-20. doi: 10.1016/j.healun.2005.03.019.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2005.03.019
  • 183
    De Bonis M, Reynolds L, Barros J, Madden BP. Tacrolimus as a rescue immunosuppressant after heart transplantation. Eur J Cardiothorac Surg. 2001;19(5):690-5. PMID: 11343954.
  • 184
    Barr ML, Meiser BM, Eisen HJ, Roberts RF, Livi U, Dall'Amico R, et al. Photopheresis for the prevention of rejection in cardiac transplantation. N Engl J Med. 1998;339:1744-1751. doi: 10.1056/NEJM199812103392404
    » https://doi.org/10.1056/NEJM199812103392404
  • 185
    Tan CD, Sokos GG, Pidwell DJ, Smedira NG, Gonzalez-Stawinski GV, Taylor DO, et al. Correlation of donor-specific antibodies, complement and its regulators with graft dysfunction in cardiac antibody-mediated rejection. Am J Transplant. 2009;9(9):2075-84. doi: 10.1111/j.1600-6143.2009.02748.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2009.02748.x
  • 186
    Berry GJ, Angelini A, Burke MM, Bruneval P, Fishbein MC, Hammond E, et al. The ISHLT working formulation for pathologic diagnosis of antibody-mediated rejection in heart transplantation: evolution and current status (2005-2011). J Heart Lung Transplant. 2011;30(6):601-11. doi: 10.1016/j.healun.2011.02.015.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2011.02.015
  • 187
    Hammond ME, Revelo MP, Miller DV, Snow GL, Budge D, Stehlik J, et al. ISHLT pathology antibody mediated rejection score correlates with increased risk of cardiovascular mortality: a retrospective validation analysis. J Heart Lung Transplant. 2016;35(3):320-5. doi: 10.1016/j.healun.2015.10.035.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2015.10.035
  • 188
    Faulk WP, Rose M, Meroni PL, Del Papa N, Torry RJ, Labarrere CA, et al. Antibodies to endothelial cells identify myocardial damage and predict development of coronary artery disease in patients with transplanted hearts. Hum Immunol. 1999;60(9):826-32. PMID: 10527389.
  • 189
    Nath DS, Ilias Basha H, Tiriveedhi V, Alur C, Phelan D, Ewald GA, et al. Characterization of immune responses to cardiac self-antigens myosin and vimentin in human cardiac allograft recipients with antibody-mediated rejection and cardiac allograft vasculopathy. J Heart Lung Transplant. 2010;29(11):1277-85. doi: 10.1016/j.healun.2010.05.025.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2010.05.025
  • 190
    Reinsmoen NL. Role of angiotensin II type 1 receptor-activating antibodies in solid organ transplantation. Hum Immunol. 2013;74(11):1474-7. doi: 10.1016/j.humimm.2013.06.034.
    » https://doi.org/10.1016/j.humimm.2013.06.034
  • 191
    Wang SS, Chou NK, Ko WJ, Chi NH, Hung SC, Hsu RB, et al. Effect of plasmapheresis for acute humoral rejection after heart transplantation. Transplant Proc. 2006;38(10):3692-4. doi: 10.1016/j.transproceed.2006.10.060.
    » https://doi.org/10.1016/j.transproceed.2006.10.060
  • 192
    Jordan SC, Quartel AW, Czer LS, Admon D, Chen G, Fishbein MC, et al. Posttransplant therapy using high-dose human immunoglobulin (intravenous gammaglobulin) to control acute humoral rejection in renal and cardiac allograft recipients and potential mechanism of action. Transplantation. 1998;66(6):800-5. PMID: 9771846.
  • 193
    Garrett HE Jr, Duvall-Seaman D, Helsley B, Groshart K. Treatment of vascular rejection with rituximab in cardiac transplantation. J Heart Lung Transplant. 2005;24(9):1337-42. doi: 10.1016/j.healun.2004.09.003.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2004.09.003
  • 194
    Everly MJ, Everly JJ, Susskind B, Brailey P, Arend LJ, Alloway RR, et al. Bortezomib provides effective therapy for antibody- and cell-mediated acute rejection. Transplantation. 2008;86(12):1754-61. doi: 10.1097/TP.0b013e318190af83.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0b013e318190af83
  • 195
    Kfoury AG, Hammond ME, Snow GL, Drakos SG, Stehlik J, Fisher PW, et al. Cardiovascular mortality among heart tansplant recipients with asymptomatic antibody-mediated or stable mixed cellular and antibody-mediated rejection. J Heart Lung Transplant. 2009;28(8):781-4. doi: 10.1016/j.healun.2009.04.035.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2009.04.035
  • 196
    Wu GW, Kobashigawa JA, Fishbein MC, Patel JK, Kittleson MM, Reed EF, et al. Asymptomatic antibody-mediated rejection after heart transplantation predicts poor outcomes. J Heart Lung Transplant. 2009;28(5):417-22. doi: 10.1016/j.healun.2009.01.015.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2009.01.015
  • 197
    Dijke EI, Platt JL, Blair P, Clatworthy MR, Patel JK, Kfoury AG, et al. B cells in transplantation. J Heart Lung Transplant. 2016;35(6):704-10. doi: 10.1016/j.healun.2016.01.1232.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2016.01.1232
  • 198
    Heidt S, Roelen DL, Eijsink C, van Kooten C, Claas FH, Mulder A. Effects of immunosuppressive drugs on purified human B cells: evidence supporting the use of MMF and rapamycin. Transplantation. 2008;86(9):1292-300. doi: 10.1097/TP.0b013e3181874a36.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0b013e3181874a36
  • 199
    Bacal F, Sodré GL, Fernandes DA, Aiello VD, Stolf N, Bocchi E, et al. Methotrexate in acute persistent humoral rejection: an option for graft rescue. Ann Thorac Surg. 2003;76(2):607-10. PMID: 12902116.
  • 200
    Almuti K, Haythe J, Dwyer E, Itescu S, Burke E, Green P, et al. The changing pattern of humoral rejection in cardiac transplant recipients. Transplantation. 2007;84(4):498-503. doi: 10.1097/01.tp.0000278094.41131.9f.
    » https://doi.org/10.1097/01.tp.0000278094.41131.9f
  • 201
    Barr ML, Baker CJ, Schenkel FA, McLaughlin SN, Stouch BC, Starnes VA, et al. Prophylactic photopheresis and chronic rejection: effects on graft intimal hyperplasia in cardiac transplantation. Clin Transplant. 2000;14(2):162-6. PMID: 10770423.
  • 202
    Wang H, Jiang J, Liu W, Kubelik D, Chen G, Gies D, et al. Prevention of acute vascular rejection by a functionally blocking anti-C5 monoclonal antibody combined with cyclosporine. Transplantation. 2005;79(9):1121-7. PMID: 15880054.
  • 203
    Woodside KJ, Lick SD. Alemtuzumab (Campath 1H) as successful salvage therapy for recurrent steroid-resistant heart transplant rejection. J Heart Lung Transplant. 2007;26(7):750-2. doi: 10.1016/j.healun.2007.04.012.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2007.04.012
  • 204
    Byrne GW, Davies WR, Oi K, Rao VP, Teotia SS, Ricci D, et al. Increased immunosuppression, not anticoagulation, extends cardiac xenograft survival. Transplantation. 2006;82(12):1787-91. doi: 10.1097/01.tp.0000251387.40499.0f.
    » https://doi.org/10.1097/01.tp.0000251387.40499.0f
  • 205
    Fishman JA, Issa NC. Infection in organ transplantation: risk factors and evolving patterns of infection. Infect Dis Clin North Am. 2010;24(2):273-83. doi: 10.1016/j.idc.2010.01.005.
    » https://doi.org/10.1016/j.idc.2010.01.005
  • 206
    Collins LA, Samore MH, Roberts MS, Luzzati R, Jenkins RL, Lewis WD, et al. Risk factors for invasive fungal infections complicating orthotopic liver transplantation. J Infect Dis. 1994;170(3):644-52. PMID: 8077723.
  • 207
    Ljungman P, Snydman D, Boeckh M. Transplant Infections. 4th ed. Boston: Springer International Publishing; 2016. p. 271-319. ISBN: 978-3-319-28795-9.
  • 208
    Lima AM, Reis Filho EG, Reis CM. Study of dermatoses in kidney transplant patients. An Bras Dermatol. 2013;88(3):361-7. doi: http://dx.doi.org/10.1590/abd1806-4841.20131859
    » http://dx.doi.org/10.1590/abd1806-4841.20131859
  • 209
    Beek DV, Patel R, Daly RC. Central nervous system infection in heart transplant recipients. Arch Neurol. 2007;64(12):1715-20. doi: 10.1001/archneur.64.12.noc70065.
    » https://doi.org/10.1001/archneur.64.12.noc70065
  • 210
    Ramanan P, Razonable R. Cytomegalovirus Infections in solid organ transplantation: a review. Infect Chemother. 2013;45(3):260-71. doi: 10.3947/ic.2013.45.3.260.
    » https://doi.org/10.3947/ic.2013.45.3.260
  • 211
    Grossi P, Mohacsi P, Szabolcs Z. cytomegalovirus immunoglobulin after thoracic transplantation: an overview. Transplantation. 2016 Mar;100 Suppl 3:S1-4. doi: 10.1097/TP.0000000000001094.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0000000000001094
  • 212
    Hillege HL, Nitsch D, Pfeffer MA, Swedberg K, McMurray JJ, Yusuf S, et al; Candesartan in Heart Failure: Assessment of Reduction in Mortality and Morbidity (CHARM) Investigators. Renal function as a predictor of outcome in a broad spectrum of patients with heart failure. Circulation. 2006;113(5):671-8. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.105.580506.
    » https://doi.org/10.1161/CIRCULATIONAHA.105.580506
  • 213
    Ganesh JS, Roger CA, Banner NR, Bonser RS, Steering Group of the UK Cardiothoracic Tarnsplant Audit. Development and validation of a model to predict perioperative mortality following heart transplantation in the UK. J Heart Lung Transplant. 2004;23(2 Suppl):S118-9.
  • 214
    Ojo AO, Held PJ, Port FK, Wolfe RA, Leichtman AB, Young EW, et al. Chronic renal failure after transplantation of a nonrenal organ. N Engl J Med. 2003;349(10):931-40. doi: 10.1056/NEJMoa021744.
    » https://doi.org/10.1056/NEJMoa021744
  • 215
    Shihab FS. Cyclosporine nephropathy: pathophysiology and clinical impact. Semin Nephrol 1996;16(6):536-47. PMID: 9125798.
  • 216
    Naesens M, Kuyoers DRJ, Sarwal M. Calcineurin inhibitor nephrotoxicity. Clin J Am Soc Nephrol. 2009;4(2):481-508. doi: 10.2215/CJN.04800908.
    » https://doi.org/10.2215/CJN.04800908
  • 217
    Bloom RD, Doyle AM. Kidney disease after heart and lung transplantation. Am J Transplant. 2006;6(4):671-9. doi: 10.1111/j.1600-6143.2006.01248.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2006.01248.x
  • 218
    Angermann CE, Stork S, Costard-Jackle A, Dengler TJ, Siebert U, Tenderich G, et al. Reduction of cyclosporine after introduction of mycophenolate mofetil improves chronic renal dysfunction in heart transplant recipients--the IMPROVED multi-centre study. Eur Heart J. 2004;25(18):1626-34. doi: 10.1016/j.ehj.2004.06.032.
    » https://doi.org/10.1016/j.ehj.2004.06.032
  • 219
    Bhatia SJ, Kirshembaum JM, Shemin RJ, Cohn LH, Collins JJ, Di Sesa VJ, et al. Time course of resolution of pulmonary hypertension and right ventricular remodelin after orthotopic cardiac transplantation. Circulation. 1987;76(4):819-26. PMID: 3308165.
  • 220
    Mehra MR, Crespo-Leiro MG, Dipchand A, Ensminger SM, Hiemann NE, Kobashigawa JA, et al. International society for heart and lung transplantation working formulation of a standardized nomenclature for cardiac allograft vasculopathy-2010. J Heart Lung Transplant. 2010;29(7):717-27. doi: 10.1016/j.healun.2010.05.017. Erratum in: J Heart Lung Transplant. 2011;30(3):360.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2010.05.017
  • 221
    Tsutsui H, Ziada KM, Schoenhagen P, Iyisoy A, Magyar WA, Crowe TD, et al. Lumen loss in transplant coronary artery disease is a biphasic process involving early intimal thickening and late constrictive remodeling: results from a 5-year serial intravascular ultrasound study. Circulation. 2001;104(6):653-7. PMID: 11489770.
  • 222
    Derumeaux G, Redonnet M, Mouton-Schleifer D, Bessou JP, Cribier A, Saoudi N, et al. Dobutamine stress echocardiography in orthotopic heart transplant recipients. VACOMED Research Group. J Am Coll Cardiol. 1995;25(7):1665-72. PMID: 7759721.
  • 223
    Chirakarnjanakorn S, Starling RC, Popovic ZB, Griffin BP, Desai MY. Dobutamine stress echocardiography during follow-up surveillance in heart transplant patients: Diagnostic accuracy and predictors of outcomes. J Heart Lung Transplant. 2015;34(5):710-7. doi: 10.1016/j.healun.2014.11.019.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.11.019
  • 224
    Clerkin KJ, Farr MA, Restaino SW, Ali ZA, Mancini DM. Dobutamine stress echocardiography is inadequate to detect early cardiac allograft vasculopathy. J Heart Lung Transplant. 2016;35(8):1040-1. doi: 10.1016/j.healun.2016.05.012.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2016.05.012
  • 225
    Pollack A, Nazif T, Mancini D, Weisz G. Detection and imaging of cardiac allograft vasculopathy. JACC Cardiovasc Imaging. 2013;6(5):613-23. doi: 10.1016/j.jcmg.2013.03.001.
    » https://doi.org/10.1016/j.jcmg.2013.03.001
  • 226
    Wever-Pinzon O, Romero J, Kelesidis I, Wever-Pinzon J, Manrique C, Budge D, et al. Coronary computed tomography angiography for the detection of cardiac allograft vasculopathy: a meta-analysis of prospective trials. J Am Coll Cardiol. 2014;63(19):1992-2004. doi: 10.1016/j.jacc.2014.01.071.
    » https://doi.org/10.1016/j.jacc.2014.01.071
  • 227
    Rochitte CE, Azevedo GS, Shiozaki AA, Azevedo CF, Kalil Filho R. Diltiazem as an alternative to beta-blocker in coronary artery computed tomography angiography. Arq Bras Cardiol. 2012;99(2):706-13. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2012005000059
    » https://doi.org/http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2012005000059
  • 228
    Qiu S, Shi S, Ping H, Zhou S, Wang H, Yang B. Efficacy of ivabradine versus β-blockers for heart rate reduction during computed tomography coronary angiography: a meta-analysis of randomized controlled trials. Cardiology. 2016;135(3):133-40. doi: 10.1159/000447236.
    » https://doi.org/10.1159/000447236
  • 229
    Javaheri A, Saha N, Lilly SM. How to approach the assessment of cardiac allograft vasculopathy in the modern era: review of invasive imaging modalities. Curr Heart Fail Rep. 2016;13(2):86-91. doi: 10.1007/s11897-016-0283-y.
    » https://doi.org/10.1007/s11897-016-0283-y
  • 230
    Erbel C, Mukhammadaminova N, Gleissner CA, Osman NF, Hofmann NP, Steuer C, et al. Myocardial perfusion reserve and strain-encoded CMR for evaluation of cardiac allograft microvasculopathy. JACC Cardiovasc Imaging. 2016;9(3):255-66. doi: 10.1016/j.jcmg.2015.10.012.
    » https://doi.org/10.1016/j.jcmg.2015.10.012
  • 231
    Chih S, Chong AY, Mielniczuk LM, Bhatt DL, Beanlands RS. Allograft vasculopathy: the Achilles' Heel of heart transplantation. J Am Coll Cardiol. 2016;68(1):80-91. doi: 10.1016/j.jacc.2016.04.033.
    » https://doi.org/10.1016/j.jacc.2016.04.033
  • 232
    Vallakati A, Reddy S, Dunlap ME, Taylor DO. Impact of statin use after heart transplantation: a meta-analysis. Circ Heart Fail. 2016;9(10). pii: e003265. doi: 10.1161/CIRCHEARTFAILURE.116.003265.
    » https://doi.org/10.1161/CIRCHEARTFAILURE.116.003265
  • 233
    Schroeder JS, Gao SZ, Alderman EL, Hunt SA, Johnstone I, Boothroyd DB, et al. A preliminary study of diltiazem in the prevention of coronary artery disease in heart-transplant recipients. N Engl J Med. 1993;328(3):164-70. doi: 10.1056/NEJM199301213280303.
    » https://doi.org/10.1056/NEJM199301213280303
  • 234
    Erinc K, Yamani MH, Starling RC, Crowe T, Hobbs R, Bott-Silverman C, et al. The effect of combined angiotensin-converting enzyme inhibition and calcium antagonism on allograft coronary vasculopathy validated by intravascular ultrasound. J Heart Lung Transplant. 2005;24(8):1033-8. doi: 10.1016/j.healun.2004.06.005.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2004.06.005
  • 235
    Kobashigawa JA, Pauly DF, Starling RC, Eisen H, Ross H, Wang SS, et al; A2310 IVUS Substudy Investigators. Cardiac allograft vasculopathy by intravascular ultrasound in heart transplant patients: substudy from the everolimus versus mycophenolate mofetil randomized, multicenter trial. JACC Heart Fail. 2013;1(5):389-99. doi: 10.1016/j.jchf.2013.07.002.
    » https://doi.org/10.1016/j.jchf.2013.07.002
  • 236
    Arora S, Andreassen AK, Andersson B, Gustafsson F, Eiskjaer H, Bøtker HE et al; SCHEDULE (SCandinavian HEart transplant everolimus De novo stUdy with earLy calcineurin inhibitors avoidancE) Investigators. The effect of everolimus initiation and calcineurin inhibitor elimination on cardiac allograft vasculopathy in de novo recipients: one-year results of a Scandinavian Randomized Trial. Am J Transplant. 2015;15(7):1967-75. doi: 10.1111/ajt.13214.
    » https://doi.org/10.1111/ajt.13214
  • 237
    Guethoff S, Stroeh K, Grinninger C, Koenig MA, Kleinert EC, Rieger A, et al. De novo sirolimus with low-dose tacrolimus versus full-dose tacrolimus with mycophenolate mofetil after heart transplantation--8- year results. J Heart Lung Transplant. 2015;34(5):634-42. doi: 10.1016/j.healun.2014.11.025.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.11.025
  • 238
    Masetti M, Potena L, Nardozza M, Prestinenzi P, Taglieri N, Saia F, et al. Differential effect of everolimus on progression of early and late cardiac allograft vasculopathy in current clinical practice. Am J Transplant. 2013;13(5):1217-26. doi: 10.1111/ajt.12208.
    » https://doi.org/10.1111/ajt.12208
  • 239
    Arora S, Ueland T, Wennerblom B, Sigurdadottir V, Eiskjær H, Bøtker HE, et al. Effect of everolimus introduction on cardiac allograft vasculopathy--results of a randomized, multicenter trial. Transplantation. 2011;92(2):235-43. doi: 10.1097/TP.0b013e31822057f1.
    » https://doi.org/10.1097/TP.0b013e31822057f1
  • 240
    Matsuo Y, Cassar A, Yoshino S, Flammer AJ, Li J, Gulati R, et al. Attenuation of cardiac allograft vasculopathy by sirolimus: relationship to time interval after heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2013;32(8):784-91. doi: 10.1016/j.healun.2013.05.015.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2013.05.015
  • 241
    de Lorgeril M, Dureau G, Boissonnat P, Ovize M, Monnez C, Monjaud I, et al. Increased platelet aggregation after heart transplantation: influence of aspirin. J Heart Lung Transplant. 1991;10(4):600-3. PMID: 1911805.
  • 242
    Prada-Delgado O, Estévez-Loureiro R, López-Sainz A, Gargallo-Fernández P, Paniagua-Martín MJ, Marzoa-Rivas R, et al. Percutaneous coronary interventions and bypass surgery in patients with cardiac allograft vasculopathy: a single-center experience. Transplant Proc. 2012;44(9):2657-9. doi: 10.1016/j.transproceed.2012.09.043.
    » https://doi.org/10.1016/j.transproceed.2012.09.043
  • 243
    Dasari TW, Hennebry TA, Hanna EB, Saucedo JF. Drug eluting versus bare metal stents in cardiac allograft vasculopathy: a systematic review of literature. Catheter Cardiovasc Interv. 2011;77(7):962-9. doi: 10.1002/ccd.22975.
    » https://doi.org/10.1002/ccd.22975
  • 244
    Goldraich LA, Stehlik J, Kucheryavaya AY, Edwards LB, Ross HJ. Retransplant and Medical Therapy for Cardiac Allograft Vasculopathy: International Society for Heart and Lung Transplantation Registry Analysis. Am J Transplant. 2016;16(1):301-9. doi: 10.1111/ajt.13418.
    » https://doi.org/10.1111/ajt.13418
  • 245
    Zafar SY, Howell DN, Gockerman JP. Malignancy after solid organ transplantation: an overview. Oncologist. 2008;13(7):769-78. doi: 10.1634/theoncologist.2007-0251.
    » https://doi.org/10.1634/theoncologist.2007-0251
  • 246
    Engels EA, Pfeiffer RM, Fraumeni JF Jr, Kasiske BL, Israni AK, Snyder JJ, et al. Spectrum of cancer risk among US solid organ transplant recipients. JAMA. 2011;306(17):1891-901. doi: 10.1001/jama.2011.1592.
    » https://doi.org/10.1001/jama.2011.1592
  • 247
    Vajdic CM, van Leeuwen MT. Cancer incidence and risk factors after solid organ transplantation. Int J Cancer. 2009;125(8):1747-54. doi: 10.1002/ijc.24439.
    » https://doi.org/10.1002/ijc.24439
  • 248
    Caillard S, Agodoa LY, Bohen EM, Abbott KC. Myeloma, Hodgkin disease, and lymphoid leukemia after renal transplantation: characteristics, risk factors and prognosis. Transplantation. 2006;81(6):888-95. doi: 10.1097/01.tp.0000203554.54242.56.
    » https://doi.org/10.1097/01.tp.0000203554.54242.56
  • 249
    Dantal J, Soulillou JP. Immunosuppressive drugs and the risk of cancer after organ transplantation. N Engl J Med. 2005;352(13):1371-3. doi: 10.1056/NEJMe058018.
    » https://doi.org/10.1056/NEJMe058018
  • 250
    Andrade JP, Marin-Neto JA, Paola AA, Vilas-Boas F, Oliveira GM, Bacal F, et al; Sociedade Brasileira de Cardiologia. I Diretriz Latino Americana para o Diagnóstico e Tratamento da Cardiopatia Chagásica. [I Latin American guidelines for the diagnosis and treatment of Chagas cardiomyopathy]. Arq Bras Cardiol. 2011;97(2 Suppl 3):1-48. PMID: 21952638.
  • 251
    Seguro LF, Braga FG, Avila MS, Mangini S, Beselli B, Franco GP, et al. Profile of heart transplant recipients in a Brazilian center: comparison with international registry. J Heart Lung Transplant. 2014;33(4 Suppl):S264. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.healun.2014.01695
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.healun.2014.01695
  • 252
    Mangini S, Alves BR, Silvestre OM, Pires PV, Pires LJ, Curiati MN, et al. Heart transplantation: review. Einstein (Sao Paulo). 2015;13(2):310-8. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S1679-45082015RW3154
    » http://dx.doi.org/10.1590/S1679-45082015RW3154
  • 253
    Freitas HF, Chizzola PR, Paes AT, Lima AC, Mansur AJ. Risk stratification in a Brazilian hospital-based cohort of 1220 outpatients with heart failure: role of Chagas' heart disease. Int J Cardiol. 2005;102(2):239-47. doi: 10.1016/j.ijcard.2004.05.025.
    » https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2004.05.025
  • 254
    Ayub-Ferreira SM, Mangini S, Issa VS, Cruz FD, Bacal F, Guimarães GV, et al. Mode of death on Chagas heart disease: comparison with other etiologies. a subanalysis of the REMADHE prospective trial. PLoS Negl Trop Dis. 2013;7(4):e2176. doi: 10.1371/journal.pntd.0002176.
    » https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0002176
  • 255
    Bestetti RB, Theodoropoulos TA. A systematic review of studies on heart transplantation for patients with end-stage Chagas' heart disease. J Card Fail. 2009;15(3):249-55. doi: 10.1016/j.cardfail.2008.10.023.
    » https://doi.org/10.1016/j.cardfail.2008.10.023
  • 256
    Barros MV, Ribeiro AL, Machado FS, Rocha MO. Doppler tissue imaging to assess systolic function in Chagas disease. Arq Bras Cardiol. 2003;80(1):36-40. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2003000100004
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2003000100004
  • 257
    Rochitte CE, Oliveira PF, Andrade JM, Ianni BM, Parga JR, Avila LF, et al. Myocardial delayed enhancement by magnetic resonance imaging in patients with Chagas' disease: a marker of disease severity. J Am Coll Cardiol. 2005;46(8):1553-8. doi: 10.1016/j.jacc.2005.06.067.
    » https://doi.org/10.1016/j.jacc.2005.06.067
  • 258
    Regueiro A, Garcia-Alvarez A, Sitges M, Ortiz-Pérez JT, De Caralt MT, Pinazo MJ, et al. Myocardial involvement in Chagas disease: Insights from cardiac magnetic resonance. Int J Cardiol. 2013;165(1):107-12. doi: 10.1016/j.ijcard.2011.07.089.
    » https://doi.org/10.1016/j.ijcard.2011.07.089
  • 259
    Rochitte CE, Nacif MS, de Oliveira Junior AC, Siqueira-Batista R, Marchiori E, Uellendahl M, et al. Cardiac magnetic resonance in Chagas' disease. Artif Organs. 2007;31(4):259-67. doi: 10.1111/j.1525-1594.2007.00373.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1525-1594.2007.00373.x
  • 260
    Oliveira GC, Lopes LR, Andreollo NA, Braga Nda S, Coelho Neto Jde S. Surgical treatment of megaesophagus at UNICAMP Hospital of Clinics - associated factors with better and worse results. Rev Col Bras Cir. 2009;36(4):300-6. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0100-69912009000400005
    » http://dx.doi.org/10.1590/S0100-69912009000400005
  • 261
    Garcia RL, Matos BM, Féres O, Rocha JJ. Surgical treatment of Chagas megacolon. Critical analysis of outcome in operative methods. Acta Cir Bras. 2008;23 Suppl 1:83-92. PMID: 18516454.
  • 262
    Lund LH, Edwards LB, Kucheryavaya AY, Benden C, Christie JD, Dipchand AI, et al; International Society of Heart and Lung Transplantation. The registry of the International Society for Heart and Lung Transplantation: thirty-first official adult heart transplant report--2014; focus theme: retransplantation. J Heart Lung Transplant. 2014;33(10):996-1008. doi: 10.1016/j.healun.2014.08.003.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2014.08.003
  • 263
    Bestetti RB, Souza TR, Lima MF, Theodoropoulos TA, Cordeiro JA, Burdmann EA. Effects of a mycophenolate mofetil-based immunosuppressive regimen in Chagas' heart transplant recipients. Transplantation. 2007;84(3):441-2. doi: 10.1097/01.tp.0000277526.68754.02.
    » https://doi.org/10.1097/01.tp.0000277526.68754.02
  • 264
    Bacal F, Silva CP, Bocchi EA, Pires PV, Moreira LF, Issa VS, et al. Mycophenolate mofetil increased Chagas' disease reactivation in heart transplanted patients: comparison between two different protocols. Am J Transplant. 2005;5(8):2017-21. doi: 10.1111/j.1600-6143.2005.00975.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2005.00975.x
  • 265
    Fiorelli AI, Santos RH, Oliveira JL Jr, Lourenço-Filho DD, Dias RR, Oliveira AS, et al. Heart transplantation in 107 cases of Chagas' disease. Transplant Proc. 2011;43(1):220-4. doi: 10.1016/j.transproceed.2010.12.046.
    » https://doi.org/10.1016/j.transproceed.2010.12.046
  • 266
    Godoy HL, Guerra CM, Viegas RF, Dinis RZ, Branco JN, Neto VA, et al. Infections in heart transplant recipients in Brazil: the challenge of Chagas' disease. J Heart Lung Transplant. 2010;29(3):286-90. doi: 10.1016/j.healun.2009.08.006.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2009.08.006
  • 267
    Bern C. Antitrypanosomal therapy for chronic Chagas' disease. N Engl J Med. 2011;364(26):2527-34. doi: 10.1056/NEJMct1014204.
    » https://doi.org/10.1056/NEJMct1014204
  • 268
    Maldonado C, Albano S, Vettorazzi L, Salomone O, Zlocowski JC, Abiega C, et al. Using polymerase chain reaction in early diagnosis of re-activated Trypanosoma cruzi infection after heart transplantation. J Heart Lung Transplant. 2004;23(12):1345-8. doi: 10.1016/j.healun.2003.09.027.
    » https://doi.org/10.1016/j.healun.2003.09.027
  • 269
    Diez M, Favaloro L, Bertolotti A, Burgos JM, Vigliano C, Lastra MP, et al. Usefulness of PCR strategies for early diagnosis of Chagas' disease reactivation and treatment follow-up in heart transplantation. Am J Transplant. 2007;7(6):1633-40. doi: 10.1111/j.1600-6143.2007.01820.x.
    » https://doi.org/10.1111/j.1600-6143.2007.01820.x
  • 270
    Bocchi EA, Fiorelli A; First guideline group for heart transplantation of the Brazilian Society of Cardiology. The Brazilian experience with heart transplantation: a multicenter report. J Heart Lung Transplant. 2001;20(6):637-45. PMID: 11404169.
  • 271
    de Souza MM, Franco M, Almeida DR, Diniz RV, Mortara RA, da Silva S, et al. Comparative histopathology of endomyocardial biopsies in chagasic and nonchagasic heart transplant recipients. J Heart Lung Transplant. 2001;20(5):534-43. doi: 11343980.
    » https://doi.org/11343980
  • 272
    Qvarnstrom Y, Schijman AG, Veron V, Aznar C, Steurer F, da Silva AJ. Sensitive and specific detection of Trypanosoma cruzi DNA in clinical specimens using a multitarget real-time PCR approach. PLoS Negl Trop Dis. 2012;6(7):e1689. doi: 10.1371/journal.pntd.0001689.
    » https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0001689
  • 273
    Dias JCP, Ramos Jr. NA, Gontigo ED, Luquetti A, Shikamai-Yasuda MA, Coura JR, et al. II Consenso Brasileiro em Doença de Chagas. Epidemiol Serv Saúde, Brasília; 2016;25(num esp):7-86. doi: 10.5123/S1679-49742016000500002.
    » https://doi.org/10.5123/S1679-49742016000500002
  • 274
    Almeida DR, Carvalho AC, Branco JN, Pereira AP, Correa L, Vianna PV, et al. Chagas' disease reactivation after heart transplantation: efficacy of allopurinol treatment. J Heart Lung Transplant. 1996;15(10):988-92. PMID: 8913915.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Ago 2018
Sociedade Brasileira de Cardiologia - SBC Avenida Marechal Câmara, 160, sala: 330, Centro, CEP: 20020-907, (21) 3478-2700 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil, Fax: +55 21 3478-2770 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista@cardiol.br