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Redução na Ativação Plaquetária: Um Potencial Efeito Benéfico do Exercício Regular na Doença Arterial Coronariana

Palavras-chave
Doença de Artéria Coronariana; Doenças Cardiovasculares; Exercício; Atividade Física; Reabilitação; Plaquetas

A reabilitação cardíaca baseada em exercício (RCBE) leva a reduções significativas na mortalidade e no risco de eventos cardiovasculares adversos em pacientes com doença arterial coronariana (DAC).11. Kachur S, Chongthammakun V, Lavie CJ, De Schutter A, Arena R, Milani RV, et al. Impact of cardiac rehabilitation and exercise training programs in coronary heart disease. Prog Cardiovasc Dis. 2017;60(1):103-14.,22. Lawler PR, Filion KB, Eisenberg MJ. Efficacy of exercise-based cardiac rehabilitation post-myocardial infarction: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Am Heart J. 2011;162(4):571-84.e2. Como resultado, a RCBE é atualmente uma intervenção Classe 1A para prevenção secundária em DAC.33. Carvalho T, Milani M, Ferraz AS, Silveira ADD, Herdy AH, Hossri CAC, et al. Brazilian Cardiovascular Rehabilitation Guideline - 2020. Arq Bras Cardiol. 2020;114(5):943-87. Entretanto, apesar de esforços consideráveis em pesquisa nas últimas décadas, os mecanismos multidimensionais associados aos efeitos cardioprotetores do exercício físico regular ainda não estão totalmente elucidados.44. Winzer EB, Woitek F, Linke A. Physical Activity in the Prevention and Treatment of Coronary Artery Disease. J Am Heart Assoc. 2018;7(4):e007725.

Por outro lado, o aumento da atividade plaquetária tem sido cada vez mais reconhecido como um elemento-chave na patogênese e progressão da aterosclerose. Através da liberação de citocinas e quimiocinas, as plaquetas ativadas realizam a função de mediadoras do recrutamento de leucócitos para o endotélio vascular, favorecendo não apenas a ruptura da placa e trombose, mas também contribuindo para as etapas iniciais da aterosclerose e para os estágios subsequentes da progressão da placa aterosclerótica.55. Bakogiannis C, Sachse M, Stamatelopoulos K, Stellos K. Platelet-derived chemokines in inflammation and atherosclerosis. Cytokine. 2019;122:154157.

Portanto, um interesse especial foi despertado em relação ao papel do exercício físico na função plaquetária, e resultados conflitantes foram observados. Embora sessões agudas de exercícios extenuantes pareçam aumentar a ativação plaquetária e, portanto, aumentar o risco de eventos trombóticos, a prática regular de exercício físico demonstrou diminuir a adesão e agregação plaquetárias, possivelmente contribuindo para a redução do risco aterotrombótico observada em indivíduos fisicamente ativos.66. Hvas AM, Neergaard-Petersen S. Influence of Exercise on Platelet Function in Patients with Cardiovascular Disease. Semin Thromb Hemost. 2018;44(8):802-12.,77. van der Vorm LN, Huskens D, Kicken CH, Remijn JA, Roest M, de Laat B, et al. Effects of Repeated Bouts of Exercise on the Hemostatic System. Semin Thromb Hemost. 2018;44(8):710-22.

Para avançar no conhecimento sobre esse assunto, na edição atual dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Durmuş et al.88. Durmuş I, Kalaycıoğlu K, Çetin M, Şahin HB, Kırış T. Exercise-Based Cardiac Rehabilitation Has a Strong Relationship with Mean Platelet Volume Reduction. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(3):434-440. relatam os efeitos de um programa de RCBE na ativação plaquetária em pacientes com DAC estável. O volume plaquetário médio (VPM) foi avaliado no início do estudo e após seis semanas, e os valores basal e final foram comparados de acordo com a participação no programa de RCBE. Os autores observaram que, enquanto os não participantes exibiram uma redução não significativa do VPM (8,7 vs. 8,6 fL), uma redução de 13% no VPM foi vista nos participantes que completaram o programa de RCBE (9,1 vs. 7,9 fL) (p <0,01). Além disso, foi observada uma forte correlação positiva entre a variação do VPM e a participação na RCBE (r = 0,75). Portanto, os autores concluíram que essa diminuição no VPM observada com a participação na RCBE pode desempenhar um papel importante na redução do risco trombótico em pacientes com DAC estável.

Esses resultados significativos encontrados por Durmuş et al.88. Durmuş I, Kalaycıoğlu K, Çetin M, Şahin HB, Kırış T. Exercise-Based Cardiac Rehabilitation Has a Strong Relationship with Mean Platelet Volume Reduction. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(3):434-440. entretanto, requerem alguma cautela. O tamanho das plaquetas, quando medido pelo VPM, demonstrou ser um marcador da função plaquetária e foi positivamente associado aos indicadores de atividade plaquetária.99. Korniluk A, Koper-Lenkiewicz OM, Kamiska J, Kemona H, Dymicka-Piekarska V. Mean Platelet Volume (MPV): New Perspectives for an Old Marker in the Course and Prognosis of Inflammatory Conditions. Mediators Inflamm. 2019;2019:9213074. Portanto, o VPM é considerado uma ferramenta valiosa para a avaliação da ativação das plaquetas. No entanto, a análise e interpretação do VPM não é simples. Uma série de variáveis pré-analíticas e analíticas, incluindo o tempo entre a coleta de sangue e a análise e a temperatura de armazenamento da amostra, são conhecidas por afetar significativamente as medidas do VPM e, como tal, representam desvantagens importantes ao usar o VPM como uma medida indireta da atividade plaquetária.1010. Lancé MD, Sloep M, Henskens YM, Marcus MA. Mean platelet volume as a diagnostic marker for cardiovascular disease: drawbacks of preanalytical conditions and measuring techniques. Clin Appl Thromb Hemost. 2012;18(6):561-8. Portanto, mais estudos utilizando marcadores padronizados e mais confiáveis de ativação plaquetária devem ser realizados para superar essas questões metodológicas e confirmar os resultados relatados.

Em conclusão, o estudo conduzido por Durmuş et al.88. Durmuş I, Kalaycıoğlu K, Çetin M, Şahin HB, Kırış T. Exercise-Based Cardiac Rehabilitation Has a Strong Relationship with Mean Platelet Volume Reduction. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(3):434-440. abre um novo caminho para pesquisas futuras com o objetivo de expandir nossa compreensão sobre o efeito da prática de exercício físico regular no comportamento funcional das plaquetas e o potencial mecanismo protetor induzido pelo exercício em pacientes com DAC que participam de programas de RCBE.

  • Minieditorial referente ao artigo: Reabilitação Cardíaca Baseada em Exercícios Fortemente Relacionada com Redução do Volume Plaquetário Médio

Referências

  • 1
    Kachur S, Chongthammakun V, Lavie CJ, De Schutter A, Arena R, Milani RV, et al. Impact of cardiac rehabilitation and exercise training programs in coronary heart disease. Prog Cardiovasc Dis. 2017;60(1):103-14.
  • 2
    Lawler PR, Filion KB, Eisenberg MJ. Efficacy of exercise-based cardiac rehabilitation post-myocardial infarction: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Am Heart J. 2011;162(4):571-84.e2.
  • 3
    Carvalho T, Milani M, Ferraz AS, Silveira ADD, Herdy AH, Hossri CAC, et al. Brazilian Cardiovascular Rehabilitation Guideline - 2020. Arq Bras Cardiol. 2020;114(5):943-87.
  • 4
    Winzer EB, Woitek F, Linke A. Physical Activity in the Prevention and Treatment of Coronary Artery Disease. J Am Heart Assoc. 2018;7(4):e007725.
  • 5
    Bakogiannis C, Sachse M, Stamatelopoulos K, Stellos K. Platelet-derived chemokines in inflammation and atherosclerosis. Cytokine. 2019;122:154157.
  • 6
    Hvas AM, Neergaard-Petersen S. Influence of Exercise on Platelet Function in Patients with Cardiovascular Disease. Semin Thromb Hemost. 2018;44(8):802-12.
  • 7
    van der Vorm LN, Huskens D, Kicken CH, Remijn JA, Roest M, de Laat B, et al. Effects of Repeated Bouts of Exercise on the Hemostatic System. Semin Thromb Hemost. 2018;44(8):710-22.
  • 8
    Durmuş I, Kalaycıoğlu K, Çetin M, Şahin HB, Kırış T. Exercise-Based Cardiac Rehabilitation Has a Strong Relationship with Mean Platelet Volume Reduction. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(3):434-440.
  • 9
    Korniluk A, Koper-Lenkiewicz OM, Kamiska J, Kemona H, Dymicka-Piekarska V. Mean Platelet Volume (MPV): New Perspectives for an Old Marker in the Course and Prognosis of Inflammatory Conditions. Mediators Inflamm. 2019;2019:9213074.
  • 10
    Lancé MD, Sloep M, Henskens YM, Marcus MA. Mean platelet volume as a diagnostic marker for cardiovascular disease: drawbacks of preanalytical conditions and measuring techniques. Clin Appl Thromb Hemost. 2012;18(6):561-8.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Abr 2021
  • Data do Fascículo
    Mar 2021
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