Perfil Aterosclerótico da Artéria Carótida como Marcador de Progressão para Doença Cardiovascular

Palavras-chave
Doenças Cardiovasculares; Aterosclerose; Mortalidade; Doença Arterial Coronariana; Acidente Vascular Cerebral; Placa Aterosclerótica

As doenças diretamente ligadas à aterosclerose estão entre as principais causas de mortalidade em todo o mundo, com destaque para o acidente vascular cerebral isquêmico e a doença arterial coronariana (DAC).¹ O diagnóstico de doença cardiovascular ou sua progressão em seus estágios iniciais, com o objetivo de aplicar medidas que possam prevenir ou retardar sua progressão e complicações subsequentes é atualmente um grande desafio.² A identificação e caracterização das placas ateroscleróticas permitem identificar um número significativo de pacientes com escores de risco baixo ou intermediário.² Muitos desses pacientes não seriam identificados pelos algoritmos disponíveis para doenças cardiovasculares, o que poderia resultar na falta do manejo correto.

A quantificação da placa da artéria carótida pode ser uma medida de aterosclerose que deve estar associada ao futuro risco de doença cardiovascular aterosclerótica, abrangendo doenças coronárias, cerebrovasculares e arteriais periféricas.³ Sabe-se que a função endotelial deficiente e o aumento da espessura da camada íntima da carótida são eventos substanciais no processo aterosclerótico,^4,5 com imagens de características da carótida sendo utilizadas para prever o risco de eventos cardiovasculares.³

A aterosclerose é um processo inflamatório difuso que afeta a camada íntima arterial com extensa deposição de lípides, formação de células espumosas e migração de células do músculo liso vascular.⁶ A placa resultante pode causar sintomas devido ao estreitamento progressivo dos vasos ou migração de pequenos fragmentos.

O diagnóstico da placa aterosclerótica carotídea mudou da quantificação da estenose pura para a caracterização da placa, o que permite uma melhor compreensão fisiopatológica e uma estratificação de risco e manejo do paciente mais precisos.³ A medida da espessura da camada íntima-média (CIM) e do escore da placa (EP) - ambos utilizando ultrassonografia de carótida - fornecem informações sobre a extensão do dano vascular estrutural,⁵ refletindo um possível envolvimento cardíaco coronário.

Assim, o uso de ultrassom para a detecção e avaliação da aterosclerose, particularmente através da avaliação da placa carotídea e, mais recentemente, a avaliação da placa femoral, está se tornando cada vez mais utilizado na tomada de decisão clínica para pacientes com DAC prevalente e em risco.⁷ Entretanto, pesquisas limitadas baseadas em desfechos confirmaram a associação entre a carga da placa carotídea avaliada por ultrassom e eventos cardiovasculares.⁷ Representando um comprometimento sistêmico, o estudo das placas carotídeas fornece informações indiretas sobre o perfil aterosclerótico e também sobre o maior ou menor risco associado à DAC.⁶

No artigo “Perfil aterosclerótico da artéria carótida como preditor de risco para reestenose após implante de stent coronário”, os autores vão além da utilização usual de imagens da carótida para o rastreamento de risco cardiovascular.⁸ Ao avaliar mais de 100 pacientes submetidos à intervenção coronária percutânea, eles correlacionam a presença de placas ateroscleróticas ecolucentes na artéria carótida com um risco aumentado de reestenose coronária intra-stent. Esse achado pode introduzir uma nova ferramenta no seguimento de pacientes com DAC e, talvez, influenciar na decisão quanto ao tipo de stent a ser implantado na angioplastia coronariana.

• Minieditorial referente ao artigo: Perfil Aterosclerótico da Artéria Carótida como Preditor de Risco para Reestenose após Implante de Stent Coronário

Referências

• ¹
  Corrado E, Camarda P, Coppola G, Muratori I, Ciaramitaro G, Farinella M, et al. Prognostic role of endothelial dysfunction and carotid intima-media thickness in patients undergoing coronary stent implantation. Int Angiol 2009; 28(1):12-9.
• ²
  Zhu G, Hom J, Li Y, Jiang B, Rodriguez F, Fleischmann D, et al. Carotid plaque imaging and the risk of atherosclerotic cardiovascular disease. Cardiovasc Diagn Ther 2020; 10(4):1048-67.
• ³
  Ojima S, Kubozono T, Kawasoe S, Kawabata T, Miyata M, Miyahara H, et al. Association of risk factors for atherosclerosis, including high-sensitivity C-reactive protein, with carotid intima-media thickness, plaque score, and pulse wave velocity in a male population. Hypertens Res 2020; 43(5):422-30.
• ⁴
  Grubic N, Colledanchise KN, Liblik K, Johri AM. The Role of Carotid and Femoral Plaque Burden in the Diagnosis of Coronary Artery Disease. Curr Cardiol Rep 2020; 22(10):121.
• ⁵
  Moreyra E Jr, Moreyra C, Tibaldi MA, Crespo F, Arias V, Lepori AJ, et al Concordance and prevalence of subclinical atherosclerosis in different vascular territories. Vascular 2020; 28(3):285-94.
• ⁶
  Negrão EM, Freitas MCDNB, Marinho PBC, Hora TF, Montanaro VVA, Martins BJAF, et al. Coronary Calcium Score and Stratification of Coronary Artery Disease Risk in Patients with Atherosclerotic and Non-Atherosclerotic Ischemic Stroke. Arq Bras Cardiol 2020; 115(6):1144-51.
• ⁷
  Daghem M, Bing R, Fayad ZA, Dweck MR. Noninvasive Imaging to Assess Atherosclerotic Plaque Composition and Disease Activity: Coronary and Carotid Applications. JACC Cardiovasc Imaging 2020; 13(4):1055-68.
• ⁸
  Rodrigues CSA, Bazan R, Reis FM, Silveira CFSMP, Hueb LMS, Carvalho FC, et al. Perfil Aterosclerótico da Artéria Carótida como Preditor de Risco para Reestenose após Implante de Stent Coronário. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(4):727-733.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  16 Abr 2021
• Data do Fascículo
  Abr 2021