Teste de Exercício Cardiopulmonar em Pacientes Pós-COVID-19: Novos Insights sobre a Intolerância ao Exercício

Pós Covid-19/complicações; Pneumopatias; Pandemia; Síndrome do Desconforto Respiratório do Adulto/reabilitação; Espirometria/métodos; Teste de Esforço; Medidas de Volume Pulmonar; Atividade Física

COVID-19 afetou milhares de pessoas em todo o mundo, e uma porcentagem considerável deles se queixa de limitação persistente ao exercício, sem relação com a gravidade da doença e persistindo mesmo meses após a infecção.¹,² Sabe-se que a forma grave da COVID-19 envolve predominantemente o sistema respiratório, apresentando síndrome do desconforto respiratório agudo. Pode-se especular que a limitação funcional persistente observada após a infecção pode ter origem no sistema respiratório, fato reforçado por estudos que mostraram limitação ventilatória na espirometria após a alta hospitalar.³,⁴

O teste cardiopulmonar de exercício (TECP) permite uma avaliação completa do sistema cardiorrespiratório. É o exame padrão-ouro para definir o prognóstico em diversas doenças cardíacas e pulmonares e pode discriminar os mecanismos subjacentes associados à redução da capacidade funcional.⁵,⁶

Nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Milani et al.⁷ avaliaram 144 pacientes sem doença cardiovascular ou pulmonar prévia, com sintomas persistentes após a infecção por COVID, em média 11,5 semanas após a infecção, que foram comparados com 144 controles pareados adultos saudáveis. A maioria dos pacientes (92%) teve o teste do TCPE limitado pela fadiga muscular periférica, com mínima limitação pulmonar (6%) e cardiovascular (2%). A frequência e a magnitude da redução da capacidade funcional foram relacionadas à gravidade da doença, com 56% dos pacientes com COVID grave apresentando redução da capacidade funcional com menor VO₂% em relação aos grupos menos graves. O VO₂ nos limiares ventilatórios também foi reduzido nos indivíduos mais doentes.⁷

Os autores também fizeram uma abordagem diferente para uma análise de subgrupo em que pacientes que haviam se submetido a TCPE antes da covid por outro motivo tiveram testes pré e pós-COVID comparados. No grupo covid moderado, houve redução de 0,4 km/h na velocidade máxima e pequeno aumento no percentual de FC máxima prevista. No grupo moderado/grave, houve maior redução da velocidade máxima (1 mk/h) e redução significativa do VO₂ pico (7,4%), provocando redução da capacidade física nos mesmos pacientes após COVID.⁷

O principal mecanismo de limitação funcional após COVID parece ter etiologia muscular periférica, embora respiração disfuncional e insuficiência cronotrópica também foram descritas como possíveis causas.⁸A redução da capacidade funcional por fadiga muscular decorrente da extração anormal de oxigênio na periferia pelo catabolismo muscular não parece estar relacionada apenas a períodos de repouso e isolamento e sim à própria doença COVID, fato verificado por estudos que mostraram redução no VO₂ de pico associado, extração pobre de O₂ periférico com índice cardíaco normal.⁹

Diante desses achados, é provável que a reabilitação cardiopulmonar com exercícios físicos prescritos e executados por profissionais qualificados possa melhorar os sintomas e as medidas objetivas da capacidade funcional. No entanto, são necessários ensaios clínicos randomizados com exercícios ou reabilitação cardiopulmonar.¹⁰

Referências

• ¹
  Groff D, Sun A, Ssentongo AE, Ba DM, Parsons N, Poudel GR, et al. Short-term and long-term rates of post-acute sequelae of SARS-CoV-2 infection: a systematic review. JAMA Netw Open. 2021;4(10):e2128568. doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.28568.
• ²
  Xie Y, Bowe B, Al-Aly Z. Burdens of post-acute sequelae of COVID-19 by severity of acute infection, demographics, and health status. Nat Commun. 2021;12(1):6571. doi:10.1038/s41467-021-26513-3.
• ³
  Huang Y, Tan C, Wu J, Chen M, Wang Z, Luo L, et.al. Impact of coronavirus disease 2019 on pulmonary function in early convalescence phase. Respir Res. 2020;21(1):163. doi: 10.1186/s12931-020-01429-6.
• ⁴
  Telles AC, Romero SL, Hurtado EF, Aguilar YN, Wong AW, Milne KM, et al. Pulmonary function and functional capacity in COVID-19 survivors with persistent dyspnea. Respir Physiol Neurobiol. 2021;288:103644. doi: 10.1016/j.resp.2021.103644
• ⁵
  Adachi H. Cardiopulmonary exercise test: The most powerful tool to detect hidden pathophysiology. Int Heart J. 2017; 58(5):654–65. doi: 10.1536/ihj.17-264
• ⁶
  Vogiatzis I, Zakynthinos G, Andrianopoulos V. Mechanisms of physical activity limitation in chronic lung diseases. Pulm Med; 2012. doi: 10.1155/2012/634761.
• ⁷
  Milani M, Milani JGPO, Cipriano GFB, Cahalin LP, Stein R, Cipriano Jr G. Cardiopulmonary Exercise Testing in Post-COVID-19 Patients: Where Does Exercise Intolerance Come From? Arq Bras Cardiol. 2023; 120(2):e20220150.
• ⁸
  Durstenfeld MS, Sun K, Tahir P, Peluso MJ, Deeks SG, Aras MA, et al. JAMA Network Open. 2022;5(10):e2236057. doi:10.1001/jamanetworkopen.2022.36057
• ⁹
  Singh I, Joseph P, Heerdt PM, Cullinan M, Lutchmansingh DD, Gulati M, et al. Persistent Exertional Intolerance After COVID-19: Insights From Invasive Cardiopulmonary Exercise Testing. Chest. 2021;161(1):54-63. doi: 10.1016/j.chest.2021.08.010
• ¹⁰
  Besnier F, Bérubé B, Malo J, Gagnon C, Grégoire CA, Juneau M, et al. Cardiopulmonary Rehabilitation in Long-COVID-19 Patients with Persistent Breathlessness and Fatigue: The COVID-Rehab Study. Int J Environ Res Public Health. 2022;19(7):4133. doi: 10.3390/ijerph19074133

• Minieditorial referente ao artigo: Teste Cardiopulmonar em Pacientes Pós-COVID-19: De Onde vem a Intolerância ao Exercício?

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  20 Mar 2023
• Data do Fascículo
  2023