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Fibrilação Atrial e Sepse em Pacientes Idosos e sua Associação com Mortalidade Intra-hospitalar

Resumo

Fundamento

A fibrilação atrial (FA) acomete cerca de 2% a 4% da população mundial. Nos pacientes internados em unidades de terapia intensiva, esta incidência pode chegar em até 23% naqueles com choque séptico. O impacto da FA nos pacientes sépticos se reflete em piores desfechos clínicos e o reconhecimento dos fatores desencadeantes pode ser alvo para estratégias de tratamento e prevenção futuras.

Objetivos

Verificar a relação entre desenvolvimento de FA e mortalidade nos pacientes acima de 80 anos incluídos no protocolo sepse e identificar fatores de risco que contribuam para o desenvolvimento de FA nesta população.

Métodos

Estudo observacional retrospectivo, com revisão de prontuários eletrônicos e inclusão de 895 pacientes com 80 anos ou mais, incluídos no protocolo sepse de um hospital privado de alta complexidade em São Paulo/SP, no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2020. Todos os testes foram realizados com nível de significância de 5%.

Resultados

A incidência de FA na amostra foi de 13%. Após análise multivariada por regressão logística múltipla, foi possível demonstrar associação de mortalidade na população estudada, com o escore SOFA ( odds ratio [OR] 1,21 [1,09 – 1,35]), valores mais altos de proteína C-reativa (OR 1,04 [1,01 – 1,06]), necessidade de droga vasoativa (OR 2,4 [1,38 – 4,18]), uso de ventilação mecânica (OR 3,49 [1,82 – 6,71]) e principalmente FA (OR 3,7 [2,16 – 6,31).

Conclusões

No paciente grande idoso (80 anos ou mais) com sepse, o desenvolvimento de FA se mostrou como fator de risco independente para mortalidade intra-hospitalar.

Arritmias Cardíacas; Fibrilação Atrial; Idoso; Sepse; Hospitalização; Mortalidade Hospitalar

Abstract

Background

Atrial fibrillation (AF) affects about 2% to 4% of the world population, and in patients hospitalized in intensive care units, this incidence can reach up to 23% in those with septic shock. The impact of AF in patients with sepsis is reflected in worse clinical outcomes, and the identification of the triggering factors can be a target for future prevention and treatment strategies.

Objectives

To verify the relationship between the development of AF and mortality in patients over 80 years of age included in the sepsis protocol and to identify the risk factors that contribute to the development of AF in this population.

Methods

Retrospective observational study, with a review of electronic medical records and inclusion of 895 patients aged 80 years or older, included in the sepsis protocol of a high-complexity private hospital in São Paulo, SP, from January 2018 to December 2020. All tests were performed with a significance level of 5%.

Results

The incidence of AF in the sample was 13%. After multivariate analysis, using multiple logistic regression, it was possible to demonstrate an association of mortality, in the studied population, with the SOFA score (odds ratio [OR] 1.21 [1.09 – 1.35]), higher values of C-reactive protein (OR 1.04 [1.01 – 1.06]), need for vasoactive drugs (OR 2.4 [1.38 – 4.18]), use of mechanical ventilation (OR 3.49 [1.82 – 6.71]), and mainly AF (OR 3.7 [2.16 – 6.31])

Conclusion

In very elderly patients (80 years of age and older) with sepsis, the development of AF was shown to be an independent risk factor for in-hospital mortality.

Arrhythmias, Cardiac; Atrial Fibrillation; Sepsis; Hospitalization; Hospital Mortality

Introdução

A fibrilação atrial (FA) é a arritmia cardíaca sustentada mais comum, acometendo cerca de 2% a 4% da população mundial, o que implica em grande morbimortalidade e altos custos para os serviços de saúde.11. Hindricks G, Potpara T, Dagres N, Arbelo E, Bax JJ, m-Lundqvist CB, et l. 2020 ESC Guidelines for the diagnosis and management of atrial fibrillation developed in collaboration with the European Association of Cardio-Thoracic Surgery (EACTS). Eur Heart J.2021;42(5):373-498. doi:10.1093/eurheartj/ehaa612
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, 22. Zimerman LI, Fenelon G, Martinelli Filho M, Grupi C, Atié J, Lorga Filho A, et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes Brasileiras de Fibrilação Atrial. Arq Bras Cardiol. 2009;92(6 Supl.1):1-39. Dentre os pacientes que necessitam de internação hospitalar por qualquer outro motivo, a FA segue como a arritmia cardíaca mais detectada, especialmente em pacientes críticos. O risco de desenvolvimento de FA em pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva varia entre 4,5% e 11%, chegando até 23% naqueles com choque séptico.33. Arrigo M, Ishihara S, Feliot E, Rudiger A, Deye N, Cariou A, et al. New-onset atrial fibrillation in critically ill patients and its association with mortality: a report from the FROG-ICU study. Int J Cardiol. 2018;266:95–9. DOI: 10.1016/j.ijcard.2018.03.051 , 44. Bedford J, Harford M, Petrinic T, Young JD, Watkinson PJ. Risk factors for new-onset atrial fibrillation on the general adult ICU: A systematic review. J Crit care. 2019;53:169-75. DOI: 10.1016/j.jcrc.2019.06.015

Dentre os vários fatores de risco estabelecidos para FA, talvez a idade seja o mais proeminente, e o aumento da longevidade da população deve produzir um crescente número de novos casos,11. Hindricks G, Potpara T, Dagres N, Arbelo E, Bax JJ, m-Lundqvist CB, et l. 2020 ESC Guidelines for the diagnosis and management of atrial fibrillation developed in collaboration with the European Association of Cardio-Thoracic Surgery (EACTS). Eur Heart J.2021;42(5):373-498. doi:10.1093/eurheartj/ehaa612
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, 22. Zimerman LI, Fenelon G, Martinelli Filho M, Grupi C, Atié J, Lorga Filho A, et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Diretrizes Brasileiras de Fibrilação Atrial. Arq Bras Cardiol. 2009;92(6 Supl.1):1-39. o que torna os idosos, principalmente os grandes idosos (aqueles com idade acima de 80 anos), mais suscetíveis aos efeitos deletérios e riscos já conhecidos decorrentes da doença, agravados inclusive por outras comorbidades, frequentes nesta população, e sua potencial fragilidade.

Apesar de já existir uma relação bem estabelecida entre idade e FA,55. Bosch NA, Cimini J, Walkey AJ. Atrial fibrillation in the ICU. Chest. 2018;154(6):1424- 34. DOI: 10.1016/j.chest.2018.03.040 os mecanismos responsáveis pelo desenvolvimento da arritmia em pacientes críticos não são totalmente compreendidos. Provavelmente decorrem de um remodelamento atrial acelerado em combinação com fatores desencadeantes da arritmogênese, habitualmente encontrados em doentes mais graves,44. Bedford J, Harford M, Petrinic T, Young JD, Watkinson PJ. Risk factors for new-onset atrial fibrillation on the general adult ICU: A systematic review. J Crit care. 2019;53:169-75. DOI: 10.1016/j.jcrc.2019.06.015 como inflamação, distúrbios hidroeletrolíticos e medicações pró-arrítmicas, dentre elas vasopressores e inotrópicos.66. Fernando SM, Mathew R, Hibbert B, Rochwerg B, Munshi L, Walkey AJ, et al. New-onset atrial fibrillation and associated outcomes and resource use among critically ill adults—a multicenter retrospective cohort study. Crit Care.2020;24(1):15. DOI: 10.1186/s13054-020-2730-0

O impacto da FA nesta população se reflete em piores desfechos clínicos, destacando-se por sua importância o aumento no tempo de internação hospitalar, o que infere inclusive em custos, aumento no tempo de ventilação mecânica e suas consequências, e maior mortalidade.77. Christian S-A, Schorr C, Ferchau L, Jarbrink ME, Parrillo JE, Gerber DR: Clinical characteristics and outcomes of septic patients with new-onset atrial fibrillation. J Crit Care. 2008, 23(4):532–6. DOI: 10.1016/j.jcrc.2007.09.005

8. Kanjanahattakij N, Rattanawong P, Krishnamoorthy P, Horn B, Chongsathidkiet P, Garvia V, et al. New-onset atrial fibrillation is associated with increased mortality in critically ill patients: a systematic review and meta-analysis. Acta Cardiol.2018;74(2):1-8. DOI: 10.1080/00015385.2018.1477035

9. Meierhenrich R, Steinhilber E, Eggermann C, Weiss M, Voglic S, Bogelein D, et al. Incidence and prognostic impact of new-onset atrial fibrillation in patients with septic shock: at prospective observational study. Crit Care. 2010;14(3):R108. DOI: 10.1186/cc9057.
- 1010. Gandhi S, Litt D, Narula N. New-onset atrial fibrillation in sepsis is associated with increased morbidity and mortality. Neth Heart J. 2015;23(2):82–8. DOI: 10.1007/s12471-014-0641-x Entretanto, a sua importância no ambiente crítico ainda não está totalmente clara, ora funcionando como um determinante da piora do paciente, ora como um marcador de gravidade de doenças de base, podendo ser utilizada inclusive como um fator prognóstico.33. Arrigo M, Ishihara S, Feliot E, Rudiger A, Deye N, Cariou A, et al. New-onset atrial fibrillation in critically ill patients and its association with mortality: a report from the FROG-ICU study. Int J Cardiol. 2018;266:95–9. DOI: 10.1016/j.ijcard.2018.03.051 , 66. Fernando SM, Mathew R, Hibbert B, Rochwerg B, Munshi L, Walkey AJ, et al. New-onset atrial fibrillation and associated outcomes and resource use among critically ill adults—a multicenter retrospective cohort study. Crit Care.2020;24(1):15. DOI: 10.1186/s13054-020-2730-0

Dentro ainda de várias incertezas existentes no ambiente crítico alusivas à FA, a relação entre a arritmia e sepse, principalmente em idosos, ainda suscita diversas teorias. Apesar de estudos crescentes sobre sepse na última década, poucos trabalhos abordaram sua relação com FA em uma população muito idosa (80 anos ou mais). Estes pacientes talvez sejam os mais beneficiados em se manter em ritmo sinusal ou terem a FA revertida o mais breve possível, visto que são habitualmente mais frágeis e têm menor reserva funcional.

Diante do que foi posto anteriormente, torna-se importante e extremamente relevante um estudo que aborde o tema, trazendo informações adicionais que possam contribuir com a literatura vigente. Baseado nisso, este trabalho tem como objetivo primário verificar a associação de mortalidade intra-hopitalar com o desenvolvimento de FA nos pacientes com sepse e, entre os objetivos secundários, identificar potenciais fatores de risco que contribuam para o desenvolvimento de FA nesta população e comparar o tempo de internação entre os pacientes que desenvolveram FA e aqueles que permaneceram em ritmo sinusal.

Métodos

Trata-se de um estudo observacional retrospectivo, com coleta de dados secundários a partir de prontuários eletrônicos revisados de pacientes com 80 anos ou mais, incluídos no protocolo sepse de um hospital privado de alta complexidade em São Paulo/SP, no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2020. O Trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Sírio Libanês, Protocolo CAAE 47665721.9.0000.546.

Para definir FA, foram utilizados dados do ritmo cardíaco descritos nos prontuários e, quando disponíveis, registros de eletrocardiograma de 12 derivações anexados.

O protocolo sepse utilizado pelo serviço, o qual foi baseado na definição da diretriz da Surviving Sepsis Campaign (SEPSIS-3) de 2016,1111. Rodhes A, Evans LE, Alhazzani W, Levy MM, Antonelli M, Ferrer R, Kumar A, et al. Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Sepsis and Septic Shock: 2016. Intensive Care Med. 2017;43(3):304-77. DOI: 10.1007/s00134-017-4683-6
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consistia em foco infeccioso possível ou provável associado a dois dos seguintes marcadores de síndrome da resposta inflamatória sistêmica: frequência cardíaca > 90 bpm, temperatura corporal > 38°C ou < 36°C, frequência respiratória > 20 irpm, leucócitos > 12.000/mm3 ou < 4000/mm3; ou pelo menos um marcador de disfunção orgânica, caracterizados por: lactato > 22 mg/dL, creatinina > 2,0 mg/dL, bilirrubina > 2,0 mg/dL, índice de normalização internacional > 1,5, tempo de tromboplastina ativada > 60 segundos ou plaquetas < 100.000/mm3.

Estavam aptos à inclusão 1339 prontuários e foram excluídos 444 que se apresentavam em arritmia à admissão ou eram portadores de marca-passo cardíaco. Restaram 895 pacientes admitidos em ritmo sinusal, dentre os quais, 14,9% já tinham apresentado FA paroxística previamente ( Figura 1 ).

Figura Central
: Fibrilação Atrial e Sepse em Pacientes Idosos e sua Associação com Mortalidade Intra-hospitalar

As seguintes variáveis foram analisadas: sexo, idade, índice de massa corporal, tempo de internação hospitalar, mortalidade intra-hospitalar, comorbidades associadas (hipertensão arterial sistêmica, insuficiência cardíaca, diabetes mellitus, acidente vascular cerebral, doença arterial coronariana crônica, FA prévia, doença renal crônica dialítica, obesidade ou outras — demais comorbidades não citadas), uso de antiarrítmico prévio (amiodarona, betabloqueador e outros — bloqueador de canal de cálcio, digoxina, propafenona, etc.), dados ecocardiográficos como tamanho do átrio esquerdo e fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE), foco da sepse (pulmonar, urinário, abdominal, cutâneo e outros — cateter, sistema nervoso central, etc.), escore SOFA (caracterizado pela soma de valores atribuídos de 0 a 4 a cada uma das seguintes variáveis: relação PaO2/FiO2, contagem plaquetária, valores de bilirrubinas totais, pressão arterial média, escala de coma de Glasgow, níveis de creatinina ou quantidade do débito urinário),1111. Rodhes A, Evans LE, Alhazzani W, Levy MM, Antonelli M, Ferrer R, Kumar A, et al. Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Sepsis and Septic Shock: 2016. Intensive Care Med. 2017;43(3):304-77. DOI: 10.1007/s00134-017-4683-6
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valor de proteína C-reativa (PCR) na admissão, uso de drogas vasoativas (noradrenalina, vasopressina e/ou dobutamina) e necessidade de ventilação mecânica.

A definição de insuficiência cardíaca baseou-se nas comorbidades prévias descritas em prontuários e/ou nos exames de ecocardiografia prévios do paciente demonstrando FE < 40% (Simpsom ou Teicholz), valor que, de acordo com a Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda, a caracteriza como insuficiência cardíaca de fração de ejeção reduzida.1212. Rohde LEP, Montera MW, Bocchi EA, Clausell NO, Albuquerque DC, Rassi S, et al. Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda. Arq Bras Cardiol. 2018;111(3):436-539. DOI: 10.5935/abc.20180190
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Átrio esquerdo aumentado foi definido como a medida linear > 40 mm (valor de referência entre 28 e 40 mm). Resultados de PCR acima de 1 mg/dL, obtido pelo método imunoturbidimetria ultrassensível, devem ser interpretados como indicativos de possível processo infeccioso ou inflamatório.

Análise estatística

As características qualitativas foram descritas com o uso de frequências absolutas e relativas, baseadas no desenvolvimento de FA e foi verificada a associação das características com os grupos com uso de testes qui-quadrado ou testes exatos (teste exato de Fisher ou teste da razão de verossimilhanças).1313. Gupta S, Tiruvoipati R, Green C. Atrial fibrillation and mortality in critically ill patients: a retrospective study. Am J Crit Care. 2015;24(4):336-41. DOI: 10.4037/ajcc2015319 As características quantitativas foram descritas, segundo o desenvolvimento de FA, com uso de média e desvio padrão quando a distribuição dos dados foi normal ou mediana e quartis quando a distribuição dos dados não apresentou normalidade, sendo avaliada a normalidade com uso do teste Kolmogorov-Smirnov, e comparadas com uso do teste t-Student não pareado ou testes Mann-Whitney, respectivamente.

Foram estimados os odds ratios (OR) não ajustados para cada característica avaliada para o desfecho com uso de regressão logística bivariada e foi estimado o modelo de regressão logística múltipla, selecionando-se as variáveis que nos testes bivariados apresentaram níveis de significância inferiores a 0,20 (p < 0,20), sendo todas as variáveis inseridas no modelo, mantidas no modelo final ( full model ).

As análises foram realizadas com uso do software IBM-SPSS para Windows versão 22.0 e tabuladas com uso do software Microsoft-Excel 2010; os testes foram realizados com nível de significância de 5%.

Resultados

A média de idade da população estudada foi de 88,3 anos (± 5,3), sendo 52,4% mulheres. Durante a internação 118 pacientes evoluíram com FA, representando aproximadamente 13% do total de indivíduos acompanhados retrospectivamente ( Figura 1 ).

Como esperado, os pacientes que desenvolveram FA tinham uma frequência maior de insuficiência cardíaca e FA prévia em seu histórico, bem como um átrio esquerdo aumentado e FEVE reduzida no ecocardiograma.

Foi observado, entre os pacientes que evoluíram com FA, valores maiores do escore SOFA e níveis mais elevados de PCR.

Estes pacientes com arritmia permaneceram mais tempo internados, necessitaram mais frequentemente de drogas vasoativas e ventilação mecânica. Todos os dados acima encontram-se detalhados na Tabela 1 .

Tabela 1
– Descrição das características avaliadas segundo desenvolvimento de fibrilação atrial e resultado dos testes estatísticos

A taxa de mortalidade intra-hospitalar entre os pacientes que desenvolveram FA foi de 34,1% ( Figura 1 ). Estes pacientes permaneceram mais tempo internados, e os seguintes fatores contribuíram para o desfecho desfavorável, segundo análise estatística: comorbidades como insuficiência cardíaca prévia, o foco inicial da sepse, escore SOFA mais alto, valores mais elevados de PCR, necessidade de droga vasoativa, necessidade de ventilação mecânica e como suspeitado, o desenvolvimento de FA. Todos os dados acima encontram-se detalhados na Tabela 2 .

Tabela 2
– Descrição dos desfechos dos pacientes segundo as características avaliadas e resultado das análises não ajustadas

Após análise multivariada por regressão logística múltipla, foi possível demonstrar associação de mortalidade na população estudada com o escore SOFA, valores mais altos de PCR, necessidade de droga vasoativa, uso de ventilação mecânica e principalmente FA ( Tabela 3 ) ( Figura 1 ).

Tabela 3
– Resultado do modelo ajustado para explicar o óbito nos pacientes do protocolo sepse com 80 anos ou mais

Discussão

A incidência global de FA nova ou recorrente encontrada em nossa população, durante a internação, foi de 13,2%. O que se percebe na literatura é uma grande variabilidade de resultados, por exemplo, em uma metanálise conduzida por Kuipers et al.,1414. Kuipers S, Klein Klouwenberg PM, Cremer OL. Incidence, risk factors and outcomes of new-onset atrial fibrillation in patients with sepsis: a systematic review. Critical Care. 2014;18(6):688. DOI: 10.1186/s13054-014-0688-5. a incidência de FA em pacientes com sepse, sepse grave e choque séptico foi respectivamente de 8%, 10% e 23%.1515. Shaver CM, Chen W, Janz DR, May AK, Darbar D, Bernard GR, et al. Atrial Fibrillation Is an Independent Predictor of Mortality in Critically Ill Patients. Crit Care Med. 2015;43(10):2104–11. DOI: 10.1097/CCM.0000000000001166. , 1616. Liu WC, Lin WY, Lin CS, Huang HB, Lin TZ, Cheng SM, et al. Prognostic impact of restored sinus rhythm in patients with sepsis and new-onset atrial fibrillation. Crit Care.2016;20(1):373. DOI: 10.1186/s13054-016-1548-2. No estudo de Walkey et al.,1717. Walkey AJ, Wiener RS, Ghobrial JM, Curtis LH, Benjamin EJ. Incident stroke and mortality associated with new-onset atrial fibrillation in patients hospitalized with severe sepsis. JAMA. 2011;306(20):2248-54. DOI: 10.1001/jama.2011.1615. incluindo mais de 40 mil pacientes, mas apenas com sepse grave (classificação antiga), foi encontrada uma incidência de 5,9% de FA nova. Já em Meierhenrich et al.,99. Meierhenrich R, Steinhilber E, Eggermann C, Weiss M, Voglic S, Bogelein D, et al. Incidence and prognostic impact of new-onset atrial fibrillation in patients with septic shock: at prospective observational study. Crit Care. 2010;14(3):R108. DOI: 10.1186/cc9057. foram selecionados apenas pacientes com choque séptico e foi encontrada uma incidência de 46% de FA nova, 10 vezes mais do que aqueles pacientes com sepse sem evolução para choque. Entretanto, mais recentemente, a metanálise conduzida por Corica et al.,1818. Corica B, Romiti GF, Basili S, Proietti M. Prevalence of New-Onset Atrial Fibrillation and Associated Outcomes in Patients with Sepsis: A Systematic Review and Meta-Analysis. J Pers Med. 2022;12(4):547. https://doi.org/10.3390/jpm12040547.
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demonstrou prevalência de FA nova em pacientes sépticos de 13,5%, semelhante à do presente estudo. Essa variabilidade pode ser explicada pelos inúmeros critérios de inclusão e diferentes populações abordadas. Este estudo, por sua vez, representa uma parcela muito específica da população idosa cuja incidência de FA é maior, além de não diferenciar aqueles com sepse e choque séptico.

Dentre os fatores de risco que contribuíram para o desenvolvimento de FA durante a internação, destacaram-se o histórico prévio de insuficiência cardíaca e FA e achados ecocardiográficos que caracterizavam aumento do átrio esquerdo e redução da FEVE. Diversos trabalhos que abordaram o tema também tiveram impressões semelhantes,44. Bedford J, Harford M, Petrinic T, Young JD, Watkinson PJ. Risk factors for new-onset atrial fibrillation on the general adult ICU: A systematic review. J Crit care. 2019;53:169-75. DOI: 10.1016/j.jcrc.2019.06.015 , 66. Fernando SM, Mathew R, Hibbert B, Rochwerg B, Munshi L, Walkey AJ, et al. New-onset atrial fibrillation and associated outcomes and resource use among critically ill adults—a multicenter retrospective cohort study. Crit Care.2020;24(1):15. DOI: 10.1186/s13054-020-2730-0 , 1515. Shaver CM, Chen W, Janz DR, May AK, Darbar D, Bernard GR, et al. Atrial Fibrillation Is an Independent Predictor of Mortality in Critically Ill Patients. Crit Care Med. 2015;43(10):2104–11. DOI: 10.1097/CCM.0000000000001166. mas há controvérsias. Salman et al.,1919. Salman S, Bajwa A, Gajic O, Afessa B. Paroxysmal atrial fibrillation in critically ill patients with sepsis. J Intensive Care Med. 2008;23(3):178-83. DOI: 10.1177/0885066608315838 analisando uma coorte prospectiva, não demonstraram relação entre a apresentação de FA e o tamanho do átrio esquerdo, apesar de associar a queda na FEVE com maior chance de evolução para arritmia. Já Shaver et al.,1515. Shaver CM, Chen W, Janz DR, May AK, Darbar D, Bernard GR, et al. Atrial Fibrillation Is an Independent Predictor of Mortality in Critically Ill Patients. Crit Care Med. 2015;43(10):2104–11. DOI: 10.1097/CCM.0000000000001166. em direção oposta, conseguiram demonstrar associação com o tamanho do átrio esquerdo, mas não com a FEVE. Apesar de não ser alvo deste trabalho, ensaios laboratoriais com o peptídeo natriurético cerebral o colocam em posição de marcador independente no desenvolvimento de FA, como cita Augusto et al.,2020. Augusto JB, Fernandes A, Freitas PT, Gil V, Morais C. Predictors of de novo atrial fibrillation in a non-cardiac intensive care unit. Rev Bras Ter Intensiva. 2018;30(2):166-73. DOI: 10.5935/0103-507X.20180022 Isso mais uma vez corrobora que a insuficiência cardíaca é um preditor para o surgimento da arritmia tanto ambulatorialmente como no ambiente crítico.2121. Walkey AJ, Greiner MA, Heckbert SR, Jensen PN, Piccini JP, Sinner MF, et al. Atrial fibrillation among Medcare beneficiaries hospitalized with sepsis: incidence and risk factors. Am Heart J. 2013; 165(6) 949-55.e3. DOI: 10.1016/j.ahj.2013.03.020.

22. Moss TJ, Calland JF, Enfield KB, Gomez-Manjarres DC, Ruminski C, DiMarco JP, et al. New-Onset Atrial Fibrillation in the Critically Ill. Crit Care Med. 2017;45(5):790–7. DOI: 10.1097/CCM.0000000000002325
- 2323. Launey Y, Lasocki S, Asehnoune K, Gaudriot B, Chassier C, Cinotti R, et al. Impact of low-dose hydrocortisone on the incidence of atrial fibrillation in patients with septic shock. J Intensive Care Med. 2019;34(3):238-44. DOI: 10.1177/0885066617696847

Também foi observado neste trabalho, entre os pacientes que evoluíram com FA, valores maiores do escore SOFA e níveis mais elevados de PCR. Hoje, o papel inflamatório gerado pela sepse tem significativa importância no desenvolvimento e manutenção da FA. Steinber et al.,2424. Steinberg I, Brogi E, Pratali L, Trunfio D, Giuliano G, Bignami E, et al. Atrial Fibrillation in Patients with Septic Shock: A One-Year Observational Pilot Study. Turk J Anaesthesiol Reanim. 2019; 47(3): 213-9. DOI: 10.5152/TJAR.2019.44789 destacam que o processo inflamatório predispõe ao estresse oxidativo, apoptose e fibrose, gerando um substrato importante para desencadear a arritmia. Outro agravante nesse contexto é o ambiente pró-trombótico produzido pela inflamação, capaz de induzir disfunção endotelial, ativação plaquetária e a cascata de coagulação. Ambos os efeitos podem ser responsáveis não só pelo início e manutenção da FA, mas também piorar os desfechos trombóticos associados à arritmia.2424. Steinberg I, Brogi E, Pratali L, Trunfio D, Giuliano G, Bignami E, et al. Atrial Fibrillation in Patients with Septic Shock: A One-Year Observational Pilot Study. Turk J Anaesthesiol Reanim. 2019; 47(3): 213-9. DOI: 10.5152/TJAR.2019.44789 Estes achados foram reforçados por Harada et al.,2525. Harada M, Van Wagoner DR, Nattel S. Role of inflammation in atrial fibrillation pathophysiology and management. Circ J. 2015;79(3):495-502. DOI: 10.1253/circj.CJ-15-0138 que também associaram maiores valores de PCR e escore SOFA ao desenvolvimento de FA, inclusive a mortalidade, após análise ajustada. Launey et al.,2323. Launey Y, Lasocki S, Asehnoune K, Gaudriot B, Chassier C, Cinotti R, et al. Impact of low-dose hydrocortisone on the incidence of atrial fibrillation in patients with septic shock. J Intensive Care Med. 2019;34(3):238-44. DOI: 10.1177/0885066617696847 também encontraram valores maiores de escore de SOFA em pacientes que evoluíram com FA. Meierhenrich et al.,99. Meierhenrich R, Steinhilber E, Eggermann C, Weiss M, Voglic S, Bogelein D, et al. Incidence and prognostic impact of new-onset atrial fibrillation in patients with septic shock: at prospective observational study. Crit Care. 2010;14(3):R108. DOI: 10.1186/cc9057. evidenciaram que pacientes que desenvolveram FA, sépticos ou não, apresentaram níveis mais altos de PCR antes do evento arrítmico. Chung et al.,2626. Chung MK, Martin DO, Sprecher D, Wazni O, Kanderian A, Carnes CA, et al. C-reative protein elevation in patients with atrial arrhythmias: inflammatory mechanisms and persistence of atrial fibrillation. Circulation. 2001;104(24):2886-91 DOI: 10.1161/hc4901.101760 também demonstraram associação entre valores elevados de PCR e ocorrência e manutenção da FA. Nestes casos, o PCR elevado aponta para um estado inflamatório que promove o desenvolvimento ou a persistência de FA.

Inicialmente, sepse de foco abdominal ou outro (não urinário, pulmonar ou cutâneo) foi associado a maior mortalidade, entretanto, na análise multivariada, não foi encontrada diferença estatística. Apesar de existirem dados que apontem maior incidência de FA com infecções do trato respiratório e foco urinário,1010. Gandhi S, Litt D, Narula N. New-onset atrial fibrillation in sepsis is associated with increased morbidity and mortality. Neth Heart J. 2015;23(2):82–8. DOI: 10.1007/s12471-014-0641-x , 1414. Kuipers S, Klein Klouwenberg PM, Cremer OL. Incidence, risk factors and outcomes of new-onset atrial fibrillation in patients with sepsis: a systematic review. Critical Care. 2014;18(6):688. DOI: 10.1186/s13054-014-0688-5. , 1616. Liu WC, Lin WY, Lin CS, Huang HB, Lin TZ, Cheng SM, et al. Prognostic impact of restored sinus rhythm in patients with sepsis and new-onset atrial fibrillation. Crit Care.2016;20(1):373. DOI: 10.1186/s13054-016-1548-2. , 2323. Launey Y, Lasocki S, Asehnoune K, Gaudriot B, Chassier C, Cinotti R, et al. Impact of low-dose hydrocortisone on the incidence of atrial fibrillation in patients with septic shock. J Intensive Care Med. 2019;34(3):238-44. DOI: 10.1177/0885066617696847 em nosso estudo, não foi possível determinar a relação entre os sítios de infecção e a incidência de FA.

Além de permanecerem mais tempo internados neste estudo, pacientes que desenvolveram FA também necessitaram mais frequentemente de droga vasoativa e ventilação mecânica. O uso de ventilação mecânica já foi evidenciado como fator de risco para FA em diversos estudos,44. Bedford J, Harford M, Petrinic T, Young JD, Watkinson PJ. Risk factors for new-onset atrial fibrillation on the general adult ICU: A systematic review. J Crit care. 2019;53:169-75. DOI: 10.1016/j.jcrc.2019.06.015 , 77. Christian S-A, Schorr C, Ferchau L, Jarbrink ME, Parrillo JE, Gerber DR: Clinical characteristics and outcomes of septic patients with new-onset atrial fibrillation. J Crit Care. 2008, 23(4):532–6. DOI: 10.1016/j.jcrc.2007.09.005 , 2121. Walkey AJ, Greiner MA, Heckbert SR, Jensen PN, Piccini JP, Sinner MF, et al. Atrial fibrillation among Medcare beneficiaries hospitalized with sepsis: incidence and risk factors. Am Heart J. 2013; 165(6) 949-55.e3. DOI: 10.1016/j.ahj.2013.03.020. mas ainda não é um consenso.1515. Shaver CM, Chen W, Janz DR, May AK, Darbar D, Bernard GR, et al. Atrial Fibrillation Is an Independent Predictor of Mortality in Critically Ill Patients. Crit Care Med. 2015;43(10):2104–11. DOI: 10.1097/CCM.0000000000001166. Em pacientes com sepse que evoluem para choque, a necessidade de droga vasoativa se torna imperativa pela falha na compensação entre a demanda e a oferta de oxigênio aos tecidos, portanto, por si só, já é um fator de pior prognóstico. Esta instabilidade pode resultar em FA assim como a própria arritmia gera necessidade de doses mais altas de vasopressores. Esta relação já foi reproduzida em alguns estudos.44. Bedford J, Harford M, Petrinic T, Young JD, Watkinson PJ. Risk factors for new-onset atrial fibrillation on the general adult ICU: A systematic review. J Crit care. 2019;53:169-75. DOI: 10.1016/j.jcrc.2019.06.015 , 1515. Shaver CM, Chen W, Janz DR, May AK, Darbar D, Bernard GR, et al. Atrial Fibrillation Is an Independent Predictor of Mortality in Critically Ill Patients. Crit Care Med. 2015;43(10):2104–11. DOI: 10.1097/CCM.0000000000001166. , 2222. Moss TJ, Calland JF, Enfield KB, Gomez-Manjarres DC, Ruminski C, DiMarco JP, et al. New-Onset Atrial Fibrillation in the Critically Ill. Crit Care Med. 2017;45(5):790–7. DOI: 10.1097/CCM.0000000000002325

Diversos trabalhos anteriores falharam em encontrar uma associação direta de FA nova ou recorrente com o desfecho de morte durante a internação, mas os resultados encontrados aqui, sugerem que o desenvolvimento de FA em pacientes sépticos, nesta faixa etária, tem forte impacto sobre a mortalidade intra-hospitalar. Tal achado vai de encontro a outros trabalhos recentes, incluindo metanálises de pacientes críticos, com sepse e/ou choque séptico que desenvolveram FA nova, os quais exibiram resultados semelhantes.88. Kanjanahattakij N, Rattanawong P, Krishnamoorthy P, Horn B, Chongsathidkiet P, Garvia V, et al. New-onset atrial fibrillation is associated with increased mortality in critically ill patients: a systematic review and meta-analysis. Acta Cardiol.2018;74(2):1-8. DOI: 10.1080/00015385.2018.1477035 , 1010. Gandhi S, Litt D, Narula N. New-onset atrial fibrillation in sepsis is associated with increased morbidity and mortality. Neth Heart J. 2015;23(2):82–8. DOI: 10.1007/s12471-014-0641-x , 1313. Gupta S, Tiruvoipati R, Green C. Atrial fibrillation and mortality in critically ill patients: a retrospective study. Am J Crit Care. 2015;24(4):336-41. DOI: 10.4037/ajcc2015319 , 1414. Kuipers S, Klein Klouwenberg PM, Cremer OL. Incidence, risk factors and outcomes of new-onset atrial fibrillation in patients with sepsis: a systematic review. Critical Care. 2014;18(6):688. DOI: 10.1186/s13054-014-0688-5.

Houve sempre uma grande discussão se a FA tinha um papel a desempenhar na evolução ou desfecho da sepse, ou simplesmente refletia a severidade da doença, como um marcador de gravidade. Como outros trabalhos referidos anteriormente aqui, a FA representou sim uma disfunção orgânica que implicou em piora do desfecho clínico. Diante do que foi exposto, a abordagem adequada da arritmia deve ser elevada a outro patamar de importância no contexto da evolução deste grupo de pacientes, sendo necessário o desenvolvimento de estratégias adequadas de prevenção e tratamento, visando redução de danos.1515. Shaver CM, Chen W, Janz DR, May AK, Darbar D, Bernard GR, et al. Atrial Fibrillation Is an Independent Predictor of Mortality in Critically Ill Patients. Crit Care Med. 2015;43(10):2104–11. DOI: 10.1097/CCM.0000000000001166. Especificamente sobre este tópico, já existem resultados que mostraram que a falha na manutenção do ritmo sinusal em pacientes com sepse foi associada a piores taxas de mortalidade em comparação com aqueles pacientes que obtiveram sucesso na reversão da FA.99. Meierhenrich R, Steinhilber E, Eggermann C, Weiss M, Voglic S, Bogelein D, et al. Incidence and prognostic impact of new-onset atrial fibrillation in patients with septic shock: at prospective observational study. Crit Care. 2010;14(3):R108. DOI: 10.1186/cc9057. , 1616. Liu WC, Lin WY, Lin CS, Huang HB, Lin TZ, Cheng SM, et al. Prognostic impact of restored sinus rhythm in patients with sepsis and new-onset atrial fibrillation. Crit Care.2016;20(1):373. DOI: 10.1186/s13054-016-1548-2.

Este estudo possui algumas limitações, como a definição de FA, que foi baseada em registros clínicos em prontuários e, quando disponíveis, eletrocardiograma de 12 derivações. Isto deixa espaço para possíveis episódios de FA paroxística não diagnosticada ou registrada pelo médico responsável. Também foram incluídos pacientes com FA recorrente, mas isto não se mostrou como viés de amostragem com implicação nos desfechos. Tal fato já tinha sido abordado em trabalhos realizados por Arrigo et al.,33. Arrigo M, Ishihara S, Feliot E, Rudiger A, Deye N, Cariou A, et al. New-onset atrial fibrillation in critically ill patients and its association with mortality: a report from the FROG-ICU study. Int J Cardiol. 2018;266:95–9. DOI: 10.1016/j.ijcard.2018.03.051 e Shaver et al.,1515. Shaver CM, Chen W, Janz DR, May AK, Darbar D, Bernard GR, et al. Atrial Fibrillation Is an Independent Predictor of Mortality in Critically Ill Patients. Crit Care Med. 2015;43(10):2104–11. DOI: 10.1097/CCM.0000000000001166. que evidenciaram maiores taxas de mortalidade em pacientes com FA nova, provavelmente por menor tolerância às alterações hemodinâmicas provocadas pela arritmia, diferente de pacientes com FA recorrente, melhor adaptados. Além disso, por se tratar de estudo retrospectivo baseado em coleta de dados de prontuários eletrônicos e, também, por não dispor da causa mortis definitiva dos pacientes que evoluíram a óbito, são necessários novos estudos para elucidação dos resultados obtidos.

Conclusão

No paciente grande idoso (80 anos ou mais) com sepse, o desenvolvimento de FA se mostrou como fator de risco independente para mortalidade intra-hospitalar. Devido às evidências, é cada vez mais urgente abordar este tema nesta população em que a FA incide e tem seu maior impacto. Estes talvez sejam os mais beneficiados ao se manterem no ritmo sinusal ou terem a FA revertida o mais breve possível, visto que são habitualmente mais frágeis e têm menor reserva funcional. Além disso, a identificação de fatores de risco associados à FA no contexto crítico pode servir para eventuais estratégias de controle para prevenção.

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  • Vinculação acadêmica
    Este artigo é parte de conclusão de curso de Michele Ouriques Honorato pelo Programa de residência médica – Hospital Sírio Libanês.
  • Fontes de financiamento: O presente estudo não teve fontes de financiamento externas.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Mar 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    18 Abr 2022
  • Revisado
    13 Set 2022
  • Aceito
    16 Nov 2022
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