Acessibilidade / Reportar erro

Nova espécie de Anacanthus do Brasil (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae, Callipogonini)

New species of Anachanthus from Brazil (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae, Callipogonini)

Resumo

Anacanthus biramiguelus sp. nov., from Brazil (Rondônia and Mato Grosso), is described and illustrated. A key to the Brazilian species of Anacanthus is added.

Anacanthus; Cerambycidae; Prioninae; taxonomy


Anacanthus; Cerambycidae; Prioninae; taxonomy

Nova espécie de Anacanthus do Brasil (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae, Callipogonini)

New species of Anachanthus from Brazil (Coleoptera, Cerambycidae, Prioninae, Callipogonini)

Antonio Santos-Silva

Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, Caixa Postal 42494, 04218-970 São Paulo, SP, Brasil

ABSTRACT

Anacanthus biramiguelus sp. nov., from Brazil (Rondônia and Mato Grosso), is described and illustrated. A key to the Brazilian species of Anacanthus is added.

Keywords:Anacanthus, Cerambycidae, Prioninae, taxonomy.

INTRODUÇÃO

LAMEERE (1904) colocou Anacanthus Audinet-Serville, 1832 como subgênero de Stictosomus Audinet-Serville, 1832, condição mantida até recentemente. MONNÉ (2002) considerou-os gêneros distintos.

Descreve-se uma nova espécie de Anacanthus, elevando para quatro o número de espécies conhecidas, das quais apenas A. aquilus Thomson, 1865 não ocorre no Brasil (MONNÉ, 1995).

As siglas mencionadas correspondem às seguintes instituições: MNRJ, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro; MZSP, Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.

Anacanthus biramiguelus sp. nov.

(Figs. 1, 2)


Etimologia. A espécie é dedicada ao Dr. Ubirajara R. Martins (MZSP) e ao Dr. Miguel A. Monné (MNRJ).

Macho (fig. 1). Tegumento castanho de matiz variável. Região dorsal da cabeça longitudinalmente sulcada desde as suturas frontais até a região do occipício (sulco profundo entre os olhos); área entre a borda posterior dos olhos e o occipício com pontuação grossa, cerrada e confluente; área entre os olhos com pontos grossos e dispersos, principalmente em direção ao sulco; pilosidade muito curta e esparsa. Região posterior dos olhos com pontuação densa e anastomosada. Tubérculos anteníferos cerradamente pontuados; ápice arredondado. Fronte e área do clípeo deprimidos, com escultura igual à dos tubérculos anteníferos. Borda anterior do clípeo côncava. Superfície dorsal do labro côncava, pontuada e com pêlos moderadamente longos e abundantes; ápice aguçado. Ápice da gena pouco projetado e aguçado, ou apenas arredondado. Submento suavemente áspero, com pêlos longos e abundantes (mais longos e concentrados em direção à margem anterior); margem anterior obliquamente elevada. Mento com pilosidade e escultura iguais às do submento. Palpos maxilares com pêlos pouco concentrados; segundo artículo mais longo que os demais. Gálea digitiforme, com pilosidade densa, atinge a metade do segundo artículo dos palpos maxilares.

Mandíbulas com carena dorsal larga; pontuação dorsal e lateral grossa e abundante, confluente em direção à base; terço centro-lateral nitidamente expandido e bi-anguloso próximo à base do dente apical externo; dente apical externo maior e mais aguçado do que o interno; margem interna com um dente grande, de ápice arredondado, próximo ao dente apical interno; pilosidade esparsa e curta nas laterais e relativamente longa e concentrada próximo à margem interna, entre o dente e o côndilo; face ventral suavemente escavada nas laterais.

Antenas glabras, atingem o quinto apical dos élitros. Escapo ultrapassa a borda posterior do olho; face dorsal rugosa na metade anterior, com pontuação anastomosada no quarto seguinte e com pontos grossos e esparsos, entremeados por pontos finos, no quarto apical; face látero-externa fortemente áspera; face látero-interna com pontuação relativamente fina e cerrada; face ventral com pontos grossos na metade anterior e pontos finos na metade posterior, entremeados por grânulos esparsos. Antenômero III atinge, ou quase, o úmero; antenômeros III-IX fina e cerradamente pontuados na região dorsal; III-XI com áreas sensoriais (mais conspícuas em direção ao último antenômero).

Protórax transverso, mais largo na região dos ângulos laterais; ângulos anteriores, laterais e posteriores aguçados e salientes, principalmente os anteriores. Pronoto convexo; borda anterior sinuosa, freqüentemente crenada próxima aos ângulos anteriores; bordas laterais irregularmente crenadas; borda posterior convexa e sinuosa; disco com pontos abundantes nas áreas anteriores e posteriores e quase liso ou liso na área média; laterais com grânulos circunvizinhos aos ângulos anteriores, pontuadas no restante (pontos anastomosados junto aos ângulos posteriores) e com pêlos longos e esparsos próximos às bordas. Prosterno e proepisternos glabros e com grânulos esparsos, mais abundantes e cerrados nos proepisternos. Processo prosternal projetado, destacado e com sulco longitudinal em quase toda extensão; ápice arredondado. Mesosterno subliso, glabro, saliente e elevado na região central em direção ao prosterno. Mesepisternos com pontos grandes, rasos e moderadamente abundantes. Mesepimeros micropontuados. Metasterno com pontos relativamente grandes e esparsos no disco; laterais com pontos finos abundantes, entremeados por pontos grossos. Metepisternos com escultura igual a das laterais do metasterno. Élitros com pontuação grossa e abundante e quatro carenas fortes e estreitas: a primeira, sutural; a segunda e a terceira estendem-se da base até próximo ao ápice, onde são fundidas, formando um arco; a quarta, apenas indicada até o terço basal, nítida dessa área até sua fusão com a terceira, em geral, pouco antes do ápice do arco formado pela segunda e terceira carenas; ápice sutural com espinho.

Urosternitos I-IV pontuados (pontuação cerrada e anastomosada nas laterais); urosternitos I-III glabros; urosternito IV com pêlos muito curtos e esparsos nas laterais. Urosternito V com pontos abundantes, mais concentrados lateralmente e no terço apical; pilosidade curta e esparsa nos três quartos basais e longa e abundante no quarto apical; bordas laterais e apical com pêlos longos (mais longos e cerrados na borda apical); ápice com reentrância central. Profêmures ásperos; face dorsal dos mesofêmures com pontos finos e a ventral pontuada na base e gradualmente áspera em direção ao ápice; face dorsal dos metafêmures sublisa, a ventral finamente pontuada (pontos mais cerrados em direção ao ápice). Protíbias largas; face dorsal áspera e com sulco longitudinal nos dois terços basais; face látero-interna fortemente áspera (às vezes, com espinhos curtos) e com escova de pêlos, mais densa e longa em direção ao ápice. Meso- e metatíbias pontuadas; pilosidade da face látero-interna curta, principalmente nas metatíbias. Protarsômeros expandidos.

Fêmea (fig. 2). Pilosidade do submento muito esparsa. Mandíbulas sem ângulos na face externa junto à base do dente apical externo. Antenas atingem o meio dos élitros; escapo apenas pontuado, não alcança a borda posterior do olho. Crenulado lateral do pronoto mais fraco; ângulos anteriores e posteriores mais salientes e aguçados. Ápice do último urosternito truncado. Protíbias não-alargadas e apenas cerradamente pontuadas; pilosidade curta e esparsa na face látero-interna. Protarsômeros não-expandidos.

Variabilidade. Nos machos, os ângulos posteriores do protórax podem ser suavemente obtusos e pouco salientes e a área circunvizinha áspera; o sulco longitudinal do processo prosternal é profundo nos espécimes maiores e quase nulo nos de pequeno porte. Em alguns espécimes (machos e fêmeas), a partir do arco formado pela segunda e terceira carenas elitrais, projeta-se uma pequena carena em direção ao ápice sutural, podendo ou não atingi-lo (mais raramente, há outra carena projetada a partir da região de fusão da quarta com a terceira carena, em direção à margem lateral).

Dimensões em mm (). Comprimento total, 28,8-47,2 / 35,8-39,5; comprimento do pronoto no centro, 4,2-7,2 / 4,1-5,2; largura do pronoto (entre os ápices dos ângulos laterais), 6,8-12,8 / 8,4-8,8; comprimento elitral, 20,0-31,5 / 25,0-28,5.

Material-tipo. Holótipo , BRASIL, Mato Grosso: Sinop (12°31'S, 55°37'W - BR 163, km 500 a 600, 350 m), X.1974, Alvarenga & Roppa col. (MNRJ). Parátipos: da mesma localidade do holótipo, , , X.1974, Alvarenga & Roppa col. (MZSP); 7 , 6 , X.1974, Alvarenga & Roppa col. (MNRJ); 2 , 2 , X.1976, Alvarenga & Roppa col. (MNRJ). Rondônia: Vilhena, , XI.1987, O. Roppa & P. Magno col. (MNRJ); 2 , , X.1990, O. Roppa & J. Becker col. (MNRJ).

Discussão. Anacanthus biramiguelus assemelha-se a A. espiritosantensis (Campos Seabra, 1941) pela forma dos ângulos do protórax, mas difere pela cabeça mais alongada, submento piloso e o metasterno glabro. De A. reticulatus (Dalman, 1817), difere pela cabeça mais alongada, mandíbulas alargadas na face látero-externa, margens laterais do pronoto crenadas e explanadas e protíbias mais longas e gradualmente alargadas para o ápice. A. aquilus Thomson, 1865, registrada apenas para a Colômbia, distingue-se facilmente da nova espécie pela pilosidade conspícua nas antenas.

Chave para as espécies de Anacanthus do Brasil

1. Metasterno piloso............................A. espiritosantensis (Campos Seabra, 1941)

Metasterno glabro...................................................................................2

2. Margens laterais do pronoto lisas; ápice elitral inerme .....................................

.................................................................. A. reticulatus (Dalman, 1817)

Margens laterais do pronoto crenadas; ápice elitral com espinho .......................

............................................................................. A. biramiguelus sp. nov.

Agradecimentos. Ao Dr. Miguel A. Monné (MNRJ) pelo empréstimo do material para estudo e ao Dr. Ubirajara R. Martins (MZSP) pelo apoio, incentivo e esclarecimentos.

Recebido em maio de 2003. Aceito em abril de 2004.

  • LAMEERE, A. A. 1904. Révision des prionides (Neuvième mémoire Callipogonines). Annales de la Société entomologique de Belgique, Bruxelles, 48:7-78.
  • MONNÉ, M. A. 1995. Catalogue of the Cerambycidae (Coleoptera) of the Western Hemisphere Part XXII. São Paulo, Sociedade Brasileira de Entomologia. 115p.
  • __. 2002. Catalogue of the Neotropical Cerambycidae (Coleoptera) with known host plant - Part V: subfamilies Prioninae, Parandrinae, Oxypeltinae, Anoplodermatinae, Aseminae and Lepturinae. Publicações Avulsas do Museu Nacional, Rio de Janeiro, 96:1-72.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Fev 2005
  • Data do Fascículo
    Set 2004

Histórico

  • Recebido
    Maio 2003
  • Aceito
    Abr 2004
Museu de Ciências Naturais Museu de Ciências Naturais, Secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura, Rua Dr. Salvador França, 1427, Jardim Botânico, 90690-000 - Porto Alegre - RS - Brasil, Tel.: + 55 51- 3320-2039 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: iheringia-zoo@fzb.rs.gov.br