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Um novo gênero e espécie de Schizomyiina (Diptera, Cedidomyiidae) associados com Piperaceae no Brasil

A new genus and species of Schizomyiina (Diptera, Cecidomyiidae) associated with Piperaceae from Brazil

Resumos

Parametasphondylia piperis (Diptera, Cecidomyiidae, Asphondyliini, Schizomyiina), um novo gênero e espécie galhadora associada com Piper sp. (Piperaceae) é descrita e ilustrada (larva, pupa, macho e fêmea) com base em material obtido em Minas Gerais, Brasil.

Galhadores; novos táxons; Piperaceae; taxonomy


Parametasphondylia piperis (Diptera, Cecidomyiidae, Asphondyliini, Schizomyiina), a new gall maker genus and species associated with Piper sp. (Piperaceae) is described and illustrated (larva, pupa, male and female) based on material obtained from Minas Gerais, Brazil.

Gall makers; new taxa; Piperaceae; taxonomy


Um novo gênero e espécie de Schizomyiina (Diptera, Cedidomyiidae) associados com Piperaceae no Brasil

A new genus and species of Schizomyiina (Diptera, Cecidomyiidae) associated with Piperaceae from Brazil

Valéria Cid Maia; Bianca de Oliveira Santos

Departamento de Entomologia, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Quinta da Boa Vista, São Cristóvão, 20940-040 Rio de Janeiro, RJ. (maiavcid@acd.ufrj.br)

RESUMO

Parametasphondylia piperis (Diptera, Cecidomyiidae, Asphondyliini, Schizomyiina), um novo gênero e espécie galhadora associada com Piper sp. (Piperaceae) é descrita e ilustrada (larva, pupa, macho e fêmea) com base em material obtido em Minas Gerais, Brasil.

Palavras-chave: Galhadores, novos táxons, Piperaceae, taxonomy.

ABSTRACT

Parametasphondylia piperis (Diptera, Cecidomyiidae, Asphondyliini, Schizomyiina), a new gall maker genus and species associated with Piper sp. (Piperaceae) is described and illustrated (larva, pupa, male and female) based on material obtained from Minas Gerais, Brazil.

Keywords: Gall makers, new taxa, Piperaceae, taxonomy.

MAIA & FERNANDES (2004) registraram 137 morfotipos de galhas de insetos na Serra de São José (Minas Gerais, Brasil), cinco das quais em Piper spp. (Piperaceae). O cecidomiídeo indutor de galhas cônicas foliares foi identificado em nível de tribo (Asphondyliini). Estudos morfológicos posteriores indicaram tratar-se de um gênero e espécie nova de Schizomyiina, que são descritos neste artigo.

Os Schizomyiina são caracterizados por apresentar palpo com um a quatro artículos; primeiro tarsômero de cada perna geralmente sem esporão; tergito 8 da fêmea desprovido de lobo na extremidade posterior (ou ocasionalmente com um lobo muito pequeno); ovipositor macio ou em forma de agulha; macho com parâmeros presentes; dentículos do gonóstilo não fusionados; pupa com chifres frontais reduzidos ou ausentes, e espinhos pequenos dorsais cobrindo apenas a parte anterior dos segmentos abdominais 3 a 8; larva com seis ou menos papilas laterais e ânus ventral (GAGNÉ, 1994, 2004). Na região Neotropical, os Schizomyiina são conhecidos por 12 gêneros e cerca de 50 espécies, e no mundo por 24 gêneros e cerca de 150 espécies (GAGNÉ, 2004).

MATERIAL E MÉTODOS

O material estudado faz parte da coleção de Diptera do Museu Nacional (MNRJ) e foi coletado no período de agosto de 2001 a julho de 2002, por VCM, na Serra de São José (Minas Gerais). Esta serra inclui diferentes fisionomias vegetais como campos rupestres, cerrado e mata de galeria. O material em questão foi coletado em áreas de campo rupestre e cerrado.

Todos os espécimes estudados estão montados em lâminas permanentes de microscopia, em bálsamo de Canadá, incluindo adultos de ambos os sexos e imaturos (exúvias da pupa, pupas e larva).

Foi utilizada a terminologia de McALIPINE et al. (1981) para os adultos e a de GAGNÉ (1994) para os imaturos.

Parametasphondylia gen. nov.

Espécie-tipo: Parametasphondylia piperis Maia & Santos.

Diagnose. Antena: flagelômeros 9 a 11 na fêmea subiguais em comprimento, flagelômero 12 um pouco mais curto que o precedente, último flagelômero com um processo terminal curto, circunfilos femininos levemente ondulados; palpo com três artículos; pernas: primeiro tarsômero de cada perna com uma pequena projeção; garras tarsais curvas após a metade de seu comprimento, empódio curto; terminália masculina: edeago estreito, parâmeros presentes; terminália feminina: tergito 8 desprovido de lobos posteriores, segmento abdominal 9 alongado e rígido; pupa com chifre antenal desenvolvido e espinhos dorsais bem desenvolvidos nos segmentos abdominais 3 a 8; larva com espátula protorácica bidenteada e haste reduzida. Transformação em pupa na galha.

Descrição. Adulto. Cabeça: pico pós-vertical ausente; antenas com flagelômeros cilíndricos com haste nua, último flagelômero com um processo terminal curto (com 1/8 do comprimento total do flagelômero no macho e com 1/5 do comprimento total do flagelômero nas fêmeas), circunfila sinuosa no macho e levemente ondulada na fêmea; palpos com três artículos. Asa: R5 reta, encontrando C antes do ápice; Rs presente; M3 presente; CuA bifurcada; CuP presente; pernas: primeiro tarsômero com uma pequena projeção apical; garras tarsais simples e robustas, curvas após a metade de seu comprimento; empódio menor que as garras. Abdômen – macho: cerco arredondado; hipoprocto bilobado; parâmeros curtos (com menos da metade do comprimento do hipoprocto); edeago alongado, afilando para o ápice; fêmea: tergito 8 desprovido de lobos posteriores; ovipositor muito protráctil, estriado, rígido e em forma de agulha; cercos fusionados.

Pupa. Cabeça: tegumento granuloso; chifres antenais bem desenvolvidos e serreados; cerda apical curta; chifres frontais ausentes; dois pares de papilas faciais inferiores (um par com cerda e o outro nu); três pares de papilas faciais laterais (um par com cerda e os outros dois nus). Tórax: espiráculo protorácico bem desenvolvido, digitiforme e levemente curvo. Abdômen: segmentos abdominais 1 e 2 com alguns espinhos pouco desenvolvidos na parte anterior, seis papilas dorsais com cerda e espinhos diminutos distribuídos no restante de sua extensão; segmentos abdominais 3 a 9 com uma fileira de espinhos bem desenvolvidos na parte anterior, seis papilas dorsais com cerda, uma fileira de espinhos curtos (ausente no segmento 9) e espinhos diminutos distribuídos no restante de sua extensão. Espiráculos abdominais alongados nos segmentos 1 a 7. Segmento terminal afilando em direção à extremidade e com duas projeções triangulares apicais.

Larva. Corpo cilíndrico, conspicuamente afilado na extremidade posterior; tegumento espinhoso; espátula protorácica com dois dentes apicais e haste reduzida.

Comentários. Parametasphondylia pertence a Schizomyiina por apresentar palpo com três artículos; tergito 8 da fêmea sem lobo na extremidade posterior; ovipositor em forma de agulha; macho com parâmeros presentes e dentículos do gonóstilo não fusionados. Geralmente os representantes dessa subtribo não possuem esporão no primeiro tarsômero de cada perna. A única exceção conhecida, até então, era uma espécie de Schizomyia Kieffer, 1889, com registro apenas para os Estados Unidos da América. Parametasphondylia representa, portanto, a segunda exceção. Outra diferença do gênero novo em relação aos demais Schizomyiina refere-se ao arranjo de espinhos dorsais na pupa. Os representantes dessa subtribo apresentam espinhos pequenos cobrindo apenas a parte anterior dos segmentos abdominais 3 a 8; Parametasphondylia possui espinhos grandes na parte anterior dos segmentos abdominais 3 a 8 e espinhos pequenos na parte anterior dos segmentos abdominais 1 e 2.

Em função da presença do esporão, Parametasphondylia não prossegue na única chave de gêneros de Cecidomyiidae elaborada por GAGNÉ (1994) para a região Neotropical. Desconsiderando esse caráter, Parametasphondylia prossegue na chave até a dicotomia 14, onde as opções são: palpo com três artículos e larva sem espátula protorácica, que conduz para os gêneros Ameliomyia Mohn, 1960 e Pisoniamyia Mohn, 1960 e palpo com quatro artículos e larva com espátula protorácica, que conduz para Burseramyia Mohn, 1960, Anasphondylia Tavares, 1920, Metasphondylia Tavares, 1918 e Schizomyia Kieffer, 1889. Parametasphondylia não se enquadra nessas opções, porque apresenta palpo com três artículos e larva com espátula protorácica.

Parametasphondylia difere de Ameliomyia por não possuir chifres frontais superiores, passar a fase de pupa dentro da galha e apresentar espátula protorácica na fase de larva.

Difere de Pisoniamyia por não apresentar chifres frontais superiores na pupa, possuir espinhos dorsais na parte anterior dos segmentos abdominais 1 a 9 na fase de pupa, pela presença da espátula protorácica e pela forma alongada do segmento terminal da larva (em Pisoniamyia o segmento terminal é arredondado).

Distingue-se de Burseramyia no número de artículos do palpo (três no gênero novo e quatro em Burseramyia), no aspecto dos circunfilos antenais da fêmea (ondulados no gênero novo e reto em Burseramyia), no tamanho relativo dos flagelômeros 9 a 12 da fêmea (gradualmente menores em Burseramyia, enquanto que em Parametasphondylia apenas o flagelômero 12 é menor) e no comprimento relativo do empódio (tão longo quanto as garras em Burseramyia e reduzido em Parametasphondylia).

Em relação a Anasphondylia e a Metasphondylia , as principais diferenças encontram-se no número de artículos do palpo (quatro nas duas primeiras e três no gênero novo), no aspecto dos circunfilos da fêmea (reticulados em ambas e ondulados em Parametasphondylia) e no tamanho relativo dos flagelômeros 9 a 12 da fêmea (gradualmente menores nas primeiras, e sub-iguais em Parametasphondylia, com exceção do flagelômero 12, que é menor).

Finalmente, distingue-se de Schizomyia principalmente por possuir chifres antenais desenvolvidos, passar a fase de pupa na galha, no tamanho relativo dos flagelômeros 9 a 12 da fêmea (gradualmente menores em Schizomyia) e no número de artículos do palpo (quatro em Schizomyia e três no gênero novo).

De todos os gêneros citados, Parametasphondylia assemelha-se mais morfologicamente a Metasphondylia. Ambos apresentam ovipositor similar, pupa com chifre antenal desenvolvido e espinhos frontais ausentes, larva com espátula bidenteada, curta e ampla, macho com edeago estreito e fase de pupa na galha.

Etimologia. Parametasphondylia é um nome composto pelo prefixo latino para (que significa próximo) + Metasphondylia, em alusão à sua proximidade morfológica com Metasphondylia.

Parametasphondylia piperis sp. nov.

(Figs. 1-22)



Etimologia. O epíteto específico piperis refere-se ao gênero da planta hospedeira.

Adulto. Comprimento do corpo: 3,2 a 3,8 mm (macho, n=4); 3,5 a 3,6 mm (fêmea, n=2). Cabeça (Fig. 1): antenas com haste medindo em ambos os sexos cerca de 0,12 vezes o comprimento total do flagelômero, flagelômero 12 com um processo terminal curto medindo cerca de 1/9 do comprimento total do flagelômero, circunfilos como nas Figs. 2 e 3; proporção entre os flagelômeros 9 a 12 como nas Figs. 4 e 5; palpos com três artículos curtos, globulosos e com cerdas. Asa (Fig. 6): com 2,4 a 2,5 mm de comprimento (macho, n=4); 3,3 mm de comprimento (fêmea, n=1); venação - Sc completa, R1 curta, R5 reta, encontrando C antes do ápice; Rs encontrando R1 antes da metade de seu comprimento; M3 presente; CuA bifurcada; CuP presente. Pernas: primeiro tarsômero com uma pequena projeção látero-apical ("esporão") (Fig. 7); garras tarsais simples, robustas e curvas após a metade de seu comprimento; empódio menor que as garras (Fig. 8). Macho, abdômen (Figs. 9, 10): tergitos 1 a 7 retangulares, com uma fileira de cerdas caudais, um par basal de sensilas tricóides e escamas no restante de sua extensão; tergito 8 esclerotizado com apenas um par basal de sensilas tricóides; esternitos 2-8 retangulares, com uma fileira de cerdas caudais, cerdas mesais abundantes, um par basal de sensilas tricóides e escamas no restante de sua extensão; fêmea (Figs. 11, 12): tergitos 1 a 8 como tergitos 1 a 7 do macho; esternitos 2 a 7 como no macho; esternito 8 quadrado, cerca de duas vezes mais longo que o esternito 7, com cerdas distribuídas em toda a sua extensão, exceto basalmente, e com um par basal de sensilas tricóides. Terminália masculina (Fig. 13): gonocoxito largo; gonóstilo curto, cerca de uma vez e meia mais longo que largo; cerco amplo, mais longo que o hipoprocto, com margem arredondada e cerdas; hipoprocto profundamente bilobado, estreito e com cerdas; parâmeros curtos e digitiformes, cerca de 0,4 vezes o comprimento do hipoprocto; edeago alongado, afilando para o ápice. Fêmea, ovipositor (Fig. 14): porção em forma de agulha, medindo 1,05 mm de comprimento e cerca de duas vezes mais longo que o esternito 7.







Pupa. Cabeça (Fig. 15): chifres antenais bem desenvolvidos, com cerca de 0,04-0,05 mm de comprimento (n=3); cerda apical com cerca de 0,01 mm de comprimento (n=3) (Fig. 16); dois pares de papilas faciais inferiores (um par com uma cerda muito curta e o outro nu); três pares de papilas faciais laterais (um par com uma cerda muito curta e os outros dois nus). Tórax: espiráculo protorácico com cerca de 0,04 mm de comprimento (n=4) (Fig. 17).


Abdômen (Fig. 18): Segmento abdominal 1 com dois a quatro espinhos curtos na parte anterior, seis papilas dorsais com cerda e espinhos diminutos no restante de sua extensão; segmento abdominal 2 com quatro espinhos curtos, seis papilas dorsais com cerda e espinhos diminutos no restante de sua extensão; segmentos abdominais 3 a 9 com uma fileira de espinhos bem desenvolvidos na parte anterior variando em número (Tab. I), seis papilas dorsais com cerda, uma fileira de espinhos curtos variando em número nos segmentos 3 a 8 (ausente no segmento 9) (Tab. II) e espinhos diminutos distribuídos no restante de sua extensão. Segmento terminal acentuadamente afilado na extremidade e, em ambos os sexos, com duas projeções triangulares apicais (Fig. 19).


Larva (Fig. 20). Comprimento do corpo: 2,5 mm (n=1); tegumento espinhoso (Fig. 21); espátula protorácica com 0,11 mm de comprimento, dentes apicais bem desenvolvidos, medindo 0,06 mm de comprimento e afastados entre si (Fig. 22).



Galha. Foliar, cônica, verde e avermelhada, pilosa, com uma única câmara interna (MAIA & FERNANDES, 2004: fig. 91).

Material-tipo. Holótipo: , BRASIL, Minas Gerais: Tiradentes, 24.X.2001, V. Maia col. (MNRJ). Parátipos: 1 , 2 , 8 exúvias da pupa e 1 pupa, mesmos dados do holótipo; 1 larva de terceiro instar e 1 pupa, mesma localidade, 31.VIII.2001, mesmo coletor; 2 , 6 pupas e 5 exúvias da pupa, mesma localidade, 28.IX.2001, mesmo coletor; 7 exúvias da pupa e 1 pupa, mesma localidade, 21.XI.2001, mesmo coletor.

Recebido em junho de 2006. Aceito em setembro de 2006.

  • MCALPINE, J. F. 1981. Manual of Nearctic Diptera. Quebec, Research Branch Agriculture of Canada. v. 1, 674p.
  • GAGNÉ, R. J. 1994. The gall midges of the Neotropical region Ithaca, Cornell University. 352p.
  • ___. 2004. A catalog of the Cecidomyiidae (Diptera) of the world. Memoirs of the Entomological Society of Washington 25:1-408.
  • MAIA, V. C. & FERNANDES, G. W. 2004. Insect galls from Serra de São José (Tiradentes, MG, Brazil). Brazilian Journal of Biology 64(3A):423-445.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Ago 2007
    • Data do Fascículo
      Jun 2007

    Histórico

    • Aceito
      Set 2006
    • Recebido
      Jun 2006
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