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Atividade nictimeral e tempo de digestão de Aegla longirostri (Crustacea, Decapoda, Anomura)

Diel activity and digestion time of Aegla longirostri (Crustacea, Decapoda, Anomura)

Resumos

O objetivo do presente trabalho foi caracterizar o ritmo de atividade e tempo de digestão em Aegla longirostri Bond-Buckup & Buckup, 1994. Os animais foram coletados em Santa Maria, RS, Brasil. Em laboratório, os animais foram transferidos para aquários individuais (5L). Para testar a atividade locomotora e alimentar dos aeglídeos um grupo de animais permaneceu sob luminosidade constante durante 12 horas, enquanto outro grupo permanecia no escuro, essa condição sendo invertida a cada 12 horas. As observações foram realizadas a cada 6 horas. Para determinar o tempo de digestão os animais foram alimentados e a cada 30 minutos um indivíduo era sacrificado. Aegla longirostri mostrou menor atividade em períodos de luminosidade, o que aconteceu nos dois grupos de animais. Essa espécie leva aproximadamente 5 horas para concluir a digestão extracelular. Os resultados sugerem que A. longirostri possui hábitos noturnos e provavelmente se alimenta sempre que há recursos disponíveis.

Padrão de atividade; digestão extracelular; Aeglidae


The aim of this work was to characterize the diel activity rhythm and time of digestion in Aegla longirostri Bond-Buckup & Buckup, 1994. The individuals were collected in Santa Maria, RS, Brazil. In laboratory, the animals were kept in individuals glass aquariums (5L). To test locomotor and feeding activity of the aeglids, a group remained under constant luminosity for 12 hours, while another group was mantained in the dark, this condition being reversed at each 12 hours. The observations were taken at every 6 hours. For the determination of digestion's time the animals were fed, and one individual was sacrificed at each 30 minutes. Aegla longirostri showed lower activity in periods of light time. This condition was recorded for both groups of animals. This species takes approximately 5 hours to conclude its extracellular digestion. The results suggest that A. longirostri has nocturnal habits and probably feeds whenever resources are available.

Activity pattern; extracellular digestion; Aeglidae


Atividade nictimeral e tempo de digestão de Aegla longirostri (Crustacea, Decapoda, Anomura)

Diel activity and digestion time of Aegla longirostri (Crustacea, Decapoda, Anomura)

Carolina C. SokolowiczI; Luciane Ayres-PeresII; Sandro SantosII

IPrograma de Pós-Graduação em Biologia Animal, Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Avenida Bento Gonçalves, 9500, prédio 43435, 91501-970 Porto Alegre, RS, Brasil. (carolinasokolowicz@hotmail.com)

IIDepartamento de Biologia, Centro de Ciências Naturais e Exatas, Universidade Federal de Santa Maria, 97105-900 Santa Maria, RS, Brasil. (lucianeayres@hotmail.com, ssantos@smail.ufsm.br)

RESUMO

O objetivo do presente trabalho foi caracterizar o ritmo de atividade e tempo de digestão em Aegla longirostri Bond-Buckup & Buckup, 1994. Os animais foram coletados em Santa Maria, RS, Brasil. Em laboratório, os animais foram transferidos para aquários individuais (5L). Para testar a atividade locomotora e alimentar dos aeglídeos um grupo de animais permaneceu sob luminosidade constante durante 12 horas, enquanto outro grupo permanecia no escuro, essa condição sendo invertida a cada 12 horas. As observações foram realizadas a cada 6 horas. Para determinar o tempo de digestão os animais foram alimentados e a cada 30 minutos um indivíduo era sacrificado. Aegla longirostri mostrou menor atividade em períodos de luminosidade, o que aconteceu nos dois grupos de animais. Essa espécie leva aproximadamente 5 horas para concluir a digestão extracelular. Os resultados sugerem que A. longirostri possui hábitos noturnos e provavelmente se alimenta sempre que há recursos disponíveis.

Palavras-chave: Padrão de atividade, digestão extracelular, Aeglidae.

ABSTRACT

The aim of this work was to characterize the diel activity rhythm and time of digestion in Aegla longirostri Bond-Buckup & Buckup, 1994. The individuals were collected in Santa Maria, RS, Brazil. In laboratory, the animals were kept in individuals glass aquariums (5L). To test locomotor and feeding activity of the aeglids, a group remained under constant luminosity for 12 hours, while another group was mantained in the dark, this condition being reversed at each 12 hours. The observations were taken at every 6 hours. For the determination of digestion's time the animals were fed, and one individual was sacrificed at each 30 minutes. Aegla longirostri showed lower activity in periods of light time. This condition was recorded for both groups of animals. This species takes approximately 5 hours to conclude its extracellular digestion. The results suggest that A. longirostri has nocturnal habits and probably feeds whenever resources are available.

Keywords: Activity pattern, extracellular digestion, Aeglidae.

INTRODUÇÃO

A exposição à luz pode afetar diversos processos fisiológicos nos crustáceos, tais como a locomoção, alimentação, acasalamento, mudança de cor e metabolismo (MEYER-ROCHOW, 1994). O estudo sobre o comportamento dos crustáceos em relação aos períodos de luz e escuridão, assim como a estimativa do tempo de digestão, é essencial para o conhecimento da biologia do grupo. Através de tais estudos, pode-se demonstrar o período do dia em que o animal apresenta maior atividade, inclusive alimentar, permitindo inferir sobre período de forrageamento e maior suscetibilidade a predadores.

Investigações que levam em consideração o ritmo de atividade em crustáceos têm sido realizadas freqüentemente com caranguejos e camarões, destacando-se os estudos de PALMER (1971), que analisou o padrão de atividade de três espécies de braquiúros e um anomuro semi-terrestre. REBACH (1974) estudou a influência da temperatura na atividade de escavação do ermitão Pagurus longicarpus Say, 1817. BARNES (1997) observou a atividade de Coenobita rugosus H. Milne Edwards, 1837 e C. cavipes Stimpson, 1858 em função da luminosidade. REIGADA (2002) investigou a atividade nictimeral durante o período de claro e escuro em Callinectes ornatus Ordway, 1863 e C. danae Smith, 1869; WILLINER & COLLINS (2002) estudaram a variação espaço-temporal da atividade de Macrobrachium jelskii (Miers, 1877). Mais recentemente, PONTES & ARRUDA (2005) analisaram o comportamento de Litopenaeus vannamei (Boone, 1931) durante as fases clara e escura.

Os aeglídeos são crustáceos peculiares por serem os únicos anomuros de águas continentais. Este é um grupo endêmico do sul da América do Sul, restrito à região temperada e subtropical, ocorrendo em arroios, rios de correnteza e lagos, desde o município de Franca, SP, Brasil, até a Ilha Madre de Díos, no Chile (BOND - BUCKUP & BUCKUP, 1994). Estes anomuros têm papel fundamental, por serem elos nas cadeias alimentares dos ambientes limnícos, integrando a dieta de peixes, rãs e aves (ARENAS, 1976) e predando larvas de alguns insetos (MAGNI & PY-DANIEL, 1989).

Aegla longirostri Bond-Buckup & Buckup, 1994 é uma espécie de distribuição restrita ao nordeste, centro e leste do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil (BOND-BUCKUP & BUCKUP, 1999). O presente estudo teve como objetivo analisar, em laboratório, a atividade nictimeral de A. longirostri, avaliando a influência da luminosidade em suas atividades locomotoras e alimentares, e estimar o tempo de digestão extracelular da espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

Atividade nictimeral. Os aeglídeos foram coletados manualmente e com auxílio de puçá, em julho de 2002, no município de Santa Maria, RS, Brasil, em arroio tributário do Rio Vacacaí-Mirim (29°40'13"S, 53°45'44"W). No Laboratório de Carcinologia, Departamento de Biologia (CCNE – UFSM), os crustáceos permaneceram individualizados em aquários (30 x 15 x 20 cm) com rochas retiradas do local de coleta e aeração constante, passando por um período de aclimatação de 5 dias.

Para testar a atividade locomotora e alimentar de A. longirostri, os animais, todos em intermuda, foram divididos em dois grupos de seis indivíduos. Um grupo permaneceu com luminosidade constante por 12 horas, enquanto o outro ficou sem iluminação, sempre um grupo seguindo o fotoperíodo normal (FN) do dia e outro permanecia em fotoperíodo inverso (FI), sendo essa condição invertida a cada de 12 horas. Para possibilitar a observação do comportamento dos animais no período de escuridão, foram utilizadas lâmpadas incandescentes vermelhas, amplamente utilizadas em trabalhos de observação noturna em crustáceos (TURRA & DENADAI, 2003). Durante a realização dos experimentos, a cada observação, foram feitas medidas da temperatura da água nos aquários.

As observações foram conduzidas em intervalos de seis horas (com início às 2 h) durante sete dias. Em cada observação o comportamento dos animais foi acompanhado por 30 minutos; registrando-se o tempo em que se deslocavam, o tempo em que se mantinham abrigados nas rochas ou embaixo do aerador, e o período em que ficavam desabrigados.

Os dois grupos foram alimentados diariamente, com filé de peixe, às 14 h, durante 25 minutos. Após esse tempo o restante do alimento foi retirado. Foi observado quanto tempo os animais permaneciam em atividade alimentar.

Para testar possíveis diferenças significativas do deslocamento e alimentação dos animais nos períodos de claro/escuro, nos grupos FN e FI separadamente, foi aplicado o teste t de "Student" (ZAR, 1996).

Tempo de digestão. Para o estudo do tempo de digestão, os experimentos foram realizados em replicata. Foram realizadas duas coletas manuais de A. longirostri, nos meses de julho/2001 (experimento I) e agosto/2001 (experimento II). Os indivíduos coletados, todos em intermuda, foram acondicionados em uma caixa térmica contendo água e rochas retiradas do local e transportados para o laboratório. Foram realizadas medidas da temperatura da água nos aquários para mantê-la o mais próximo possível da temperatura do ambiente natural.

Nesse estudo, todos os animais utilizados estavam no período de intermuda, isto é, o intervalo de tempo entre uma muda e outra. Durante a fase de pós muda, antes do novo exoesqueleto tornar-se rígido, o animal torna-se vulnerável a danos como predação e estresse osmótico. Nesse período, podem permanecer reclusos, escondendo-se em locais protegidos, sem se alimentar (BRUSCA & BRUSCA, 2003), bem como na fase de pré muda, em que os crustáceos deixam de se alimentar e diminuem sua atividade. Pelo fato de os períodos que antecedem e se seguem a muda serem fases de grande estresse para os crustáceos, esses animais não foram utilizados nesse estudo, pois poderiam comprometer os resultados obtidos.

No laboratório, os aeglídeos foram individualizados em aquários (30x15x20 cm) contendo rochas e aeração constante. Os animais permaneceram nos aquários em aclimatação durante 48 horas sem receber alimento, para que evacuassem totalmente o conteúdo dos estômagos.

Em cada experimento foram utilizados 11 animais. Para cada um foi oferecido cerca de 0,4 grama de filé de peixe. O alimento permaneceu nos aquários por um período de uma hora, em seguida o restante foi retirado. Na seqüência, a cada 30 minutos, um indivíduo foi sacrificado por meio de congelamento em freezer.

O congelamento dos animais é uma técnica amplamente utilizada em estudos que levam em conta os itens alimentares na dieta de crustáceos (BROGIM & LANA, 1997; GUAN & WILES, 1998; MANTELATTO & CHRISTOFOLETTI, 2001; ALBERTONI et al., 2003); e, segundo MANTELATTO & CHRISTOFOLETTI (2001), em seu estudo com Callinectes ornatus, o congelamento dos animais imediatamente após a captura é utilizado para retardar a digestão e cessar a maceração no moinho gástrico.

Após o descongelamento cada animal foi dissecado; o estômago foi removido e observado sob estereomicroscópio. Para que houvesse padronização da observação dos estômagos, o Grau de Repleção Estomacal (G.R.) foi registrado, comparando-se o volume de alimento presente com o volume total do estômago. Os estômagos foram classificados em quatro categorias (modificado de WILLIAMS, 1981): zero = estômago totalmente vazio; 0,25 = até 25% do estômago ocupado pelo alimento; 0,5 = entre 26 e 50% e 1 = entre 51 e 100%.

RESULTADOS

Atividade nictimeral. Foram feitas 14 horas de observação para cada fotoperíodo (FN, FI). A temperatura da água nos aquários variou de 11,5°C a 16°C, como observada em ambiente natural nesse período do ano (inverno), na região estudada.

A maior atividade locomotora (20,16%) no grupo FN foi registrada às 2 h (escuro) e no FI às 8 h (18,57%), também no escuro. Os menores valores de atividade locomotora foram observados no fotoperíodo normal (3,65%) às 14 h (claro) e no inverso (0,08%) às 2 h (claro) (Fig. 1).


Houve diferença significativa (p < 0,01) entre os valores de deslocamento nos períodos de claro e escuro, para os dois grupos. Aegla longirostri apresentou maior atividade locomotora no período de menor luminosidade, padrão corroborado no grupo mantido com fotoperíodo inverso.

Observou-se, em ambos fotoperíodos, que durante os períodos em que os animais não estavam expostos à luz, permaneciam mais tempo longe das rochas (deslocando-se ou parados) do que abrigados sob ou próximos às mesmas (Tab. I).

Não houve diferença significativa entre a atividade alimentar para os dois grupos (p>0,05). Os animais do grupo FI passaram 74,8% do tempo se alimentando, e os do FN, 76,2% do tempo em que o alimento estava disponível.

Tempo de digestão. Foram examinados 10 fêmeas e 12 machos. O tempo que A. longirostri levou para digerir extracelularmente o alimento, ou seja, o tempo necessário para que os estômagos ficassem totalmente vazios (G.R.= zero), em ambos os experimentos, foi de até 5 horas (Figs. 2, 3).


DISCUSSÃO

A maior atividade locomotora observada no período de menor luminosidade indica que A. longirostri apresenta hábitos preferencialmente noturnos. Porém, a atividade alimentar pode ser independente da fotofase (claro/escuro), ou seja, sempre que houve alimento disponível os animais fizeram uso do mesmo.

ZIMMER-FAUST et al. (1996), trabalhando com o siri azul, Callinectes sapidus Rathbun, 1896, verificaram que os animais apresentam um ritmo de atividade endógeno, no qual o comportamento locomotor ocorre principalmente à noite, porém, esse modelo pode mudar na presença de estímulo químico. REIGADA (2002) observou que para os siris Callinectes ornatus e C. danae, a atividade do animal na presença do alimento também é alterada, independente do fotoperíodo. PONTES & ARRUDA (2005) verificaram que, para o camarão Litopenaeus vannamei, a alimentação foi mais freqüente nos períodos de luminosidade. No entanto, também observaram que a exploração do substrato foi intensificada após a disponibilidade de alimento em ambos fotoperíodos, indicando uma relação com a busca de alimento. O fato de que para A. longirostri os animais tornaram-se ativos tanto na fase clara como na escura na presença de alimento pode indicar um comportamento semelhante, sugerindo que a presença de alimento desencadeia a atividade.

BUENO & BOND-BUCKUP (2004), em estudo sobre ecologia alimentar de Aegla platensis Schmitt, 1942 e A. ligulata Bond-Buckup & Buckup, 1994 coletaram os animais em diversos horários e analisaram o conteúdo estomacal, concluindo que, no horário das 24 h, A. platensis apresentou maior grau de repleção estomacal, indicando uma tendência maior da atividade alimentar à noite. Aegla ligulata mostrou maior atividade alimentar ao entardecer, com altos valores de repleção estomacal às 18 h.

A atividade noturna também é conhecida para outros crustáceos. PALMER (1971), nas observações em campo e em condições controladas no laboratório, observou que a atividade locomotora dos caranguejos Geocarcinus lateralis (Freminville, 1835), Cardisoma guanhumi (Latreille, 1825), Ocypode quadrata (Fabricius, 1787) e o anomuro semi-terrestre Coenobita clypeatus (Herbst, 1794) ocorrem no escuro. O autor também constatou que a atividade locomotora foi independente da temperatura.

Em observações preliminares, em que a temperatura nos aquários variou de 26 a 30°C, foram obtidos os mesmos resultados que nesse trabalho, corroborando os resultados de PALMER (1971).

Para Callinectes ornatus e C. danae, foi observado que indivíduos de ambas as espécies apresentaram maior atividade, ou seja, ficaram mais tempo sobre o sedimento (desenterrados) durante os períodos de baixa intensidade luminosa (REIGADA, 2002). O mesmo também ocorre em Litopenaeus vannamei (PONTES & ARRUDA, 2005).

É conhecido que os aeglídeos servem de fonte alimentar para aves, rãs, peixes e jacarés (ARENAS, 1976), todos animais com orientação visual e hábitos preferencialmente diurnos. Considerando-se estes fatos, pode-se inferir que o hábito noturno de A. longirostri representa uma das estratégias de adaptação destes anomuros para evitar a predação.

Entre os trabalhos em que se analisou o tempo de digestão de crustáceos, com base na digestão de tecidos animais, destacam-se os de HILL (1976), que observou o tempo de digestão de Scylla serrata (Forskal, 1775) em no máximo 12 horas, PAUL (1981), que registrou o tempo de 6 horas para que Callinectes arcuatus Ordway, 1836 evacuasse completamente o conteúdo do seu estômago, e CHOY (1986), o qual, estudando Liocarcinus puber (Linnaeus, 1767) e L. holsatus (Fabricius, 1798), registrou um tempo de 25 horas para a digestão completa nessas espécies.

Além do item alimentar a ser digerido e da espécie em questão, outros fatores também podem influenciar o tempo de digestão de um crustáceo, como por exemplo a temperatura do ambiente. Espécies tropicais e subtropicais apresentam um metabolismo mais rápido do que espécies de clima temperado (CHOY, 1986). A temperatura da água nos aquários, durante os dois experimentos, ficou em 16 ± 2°C, semelhante à temperatura do ambiente natural, para esta época do ano no Rio Grande do Sul, Brasil, 13°C no inverno e 22°C no verão. Essas médias foram estimadas através de medidas mensais da temperatura durante 15 meses de amostragem (BUENO & BOND-BUCKUP, 2000).

Considerando-se o hábito noturno dos animais e o tempo de digestão, é possível inferir que A. longirostri deixa o abrigo para se alimentar ao entardecer. Levando-se em conta que o animal não se alimente enquanto todo o alimento não for digerido (o que deverá ocorrer por volta de meia noite), provavelmente em seguida à digestão, ele é capaz de realizar outro processo de busca por alimento antes que o dia comece a clarear novamente, quando então ele busca abrigo sob as rochas (Fig. 4).


Corroborando a hipótese levantada podemos citar o trabalho de WOLF & CERDA (1992), com Cancer polyodon Poeppig, 1836, um braquiúro chileno. Os autores concluíram que a maior atividade alimentar ocorre à noite, porém os caranguejos cessam a alimentação ao nascer do sol ou apenas a diminuem, e voltam a se alimentar quando os resíduos são eliminados, o que acontece por volta das 6 horas.

Os resultados obtidos entre associação de um estudo comportamental com o experimento de tempo de digestão podem traçar uma hipótese a respeito do ciclo diário de A. longirostri, permitindo inferir sobre aspectos como períodos de maior e menor atividade e forrageamento, essas informações podem ser importantes em futuros estudos a serem desenvolvidos não apenas com A. longirostri, mas com outros membros da família Aeglidae.

Agradecimentos. Aos Biólogos Maríndia Deprá, Sonia Cechin, Alberto S. Gonçalves e Cássio F. Puerari, pelo auxílio durante a análise preliminar desse trabalho. Aos Biólogos Marcia R. Spies e Tiago Gomes dos Santos, pelas sugestões e críticas ao trabalho.

Recebido em junho de 2006. Aceito em novembro de 2006.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Dez 2007
  • Data do Fascículo
    Set 2007

Histórico

  • Aceito
    Nov 2006
  • Recebido
    Jun 2006
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