Assembleia de Alticini (Coleoptera, Chrysomelidae, Galerucinae) em fragmentos florestais no sudoeste do Paraná, Brasil

Alticini (Coleoptera, Chrysomelidae, Galerucinae) assemblage in forests fragments in Southwestern Paraná, Brazil

RESUMO

Alticini é a maior tribo de Chrysomelidae e representa grande parte da fauna de insetos fitófagos. Entretanto, o conhecimento dessa tribo no sudoeste do Paraná é inexistente e neste estudo o objetivo foi buscar informações sobre a riqueza, abundância, diversidade e composição das assembleias nesta região. O estudo foi realizado semanalmente, com armadilha Malaise, de outubro/2016 a março/2017 em fragmentos de mata nos municípios de Planalto, Realeza e Santa Izabel do Oeste. Foram coletados 1.657 indivíduos de Alticini pertencentes a 20 gêneros e 59 espécies sendo que a maioria delas apresentou poucos indivíduos. As espécies mais abundantes foram Trichaltica sp. 2, Margaridisa sp., Omophoita octoguttata e Epitrix sp. 1, correspondendo a 85,8% de todos os Alticini coletados. Margaridisa sp. foi a espécie dominante nos fragmentos de Santa Izabel do Oeste e Realeza. Trichaltica sp. 2 foi coletada somente no fragmento de Planalto. Quanto à composição de espécies, a similaridade foi baixa e apenas quatro espécies foram compartilhadas entre todos os fragmentos. Este foi o primeiro inventário desenvolvido no sudoeste do Paraná que contribui para o conhecimento das espécies de Alticini dessa região.

PALAVRAS-CHAVE
Biodiversidade; levantamento; entomofauna; besouro-pulga; Malaise

ABSTRACT

Alticini is the largest tribe of Chrysomelidae and represents a large amount of the phytophagous insects’ fauna. However, the knowledge of this tribe in the southwest of Paraná is inexistent and, in this study, we aimed to seek information about the richness, abundance, diversity and composition of the assemblages in this region. The study was carried out weekly from October/2016 to March/2017 in forest fragments in the municipalities of Planalto, Realeza and Santa Izabel do Oeste, where Malaise traps were used. A total of 1,657 individuals of Alticini were collected, distributed in 20 genera and 59 species, with the majority of them showing few individuals. The most abundant species were Trichaltica sp. 2, Margaridisa sp., Omophoita octoguttata and Epitrix sp. 1, corresponding to 85.8% of all Alticini sampled. Margaridisa sp. was the dominant species in the fragments of Santa Izabel do Oeste and Realeza. Trichaltica sp. 2 was collected only in the Planalto fragment. Regarding to the species composition, the similarity was low, and only four species were shared among all fragments. This was the first survey developed in southwest Paraná, which contributed to knowledge of Alticini species in this region.

KEYWORDS
Biodiversity; survey; entomological fauna; flea beetle; Malaise trap

Os galerucíneos da tribo Alticini são conhecidos popularmente como “besouros saltadores” ou “besouros-pulga”. Os adultos e os estágios larvais podem se alimentar de caules, folhas, raízes e flores de quase todas as famílias de plantas superiores (Konstantinov & Vandenberg, 1996), como Solanaceae, Brassicaceae, Resedaceae, Capparidaceae, Verbenaceae, Lamiaceae e Asteraceae (Jolivet, 1988). Essa tribo apresenta o maior número de espécies dentre os Chrysomelidae, cerca de 10.000, com 1.407 delas registradas para o Brasil (Linzmeier, 2017). Além disso, tem sido abundantemente registrada em diversos estudos tanto no Brasil quanto no exterior (Novotný et al., 1999; Linzmeier et al., 2006; Linzmeier & Ribeiro-Costa, 2012; Niño-Maldonado et al., 2014; Peck et al., 2014; Sánchez-Reyes et al., 2016, 2019).

No Paraná, dois grandes inventários entomofaunísticos foram realizados na década de 1980 e final da década de 1990 - o Levantamento da Fauna Entomológica no Estado do Paraná (PROFAUPAR) (Marinoni & Dutra, 1991) e o Projeto Vila Velha (PROVIVE) (Ganho & Marinoni, 2003), respectivamente. Tais projetos geraram grande quantidade de material e apresentaram muita informação sobre a fauna de Coleoptera, Chrysomelidae e também de Alticini do Paraná, tanto em estudos ecológicos das comunidades amostradas (Marinoni & Dutra, 1997; Marinoni & Ganho, 2003, 2006; Ganho & Marinoni, 2005; Linzmeier et al., 2006; Linzmeier & Ribeiro-Costa, 2009) quanto em estudos taxonômicos nos quais muitas espécies foram descritas e vários novos registros para o estado e para o Brasil foram confirmados (Araújo-Siqueira & Almeida, 2006; Linzmeier & Konstantinov, 2009; Fernandes & Linzmeier, 2012; Albuquerque et al., 2014; Roza & Mermudes, 2017; Gonçalves & Leivas, 2017). No entanto, não existem estudos que abordem a fauna de Alticini da região sudoeste do Paraná. Mesmo no PROFAUPAR, que foi o projeto mais amplo realizado no estado, não houve pontos de amostragem nessa região. O sudoeste paranaense, assim como em outras áreas do Brasil e do Paraná, sofreu com a exploração seletiva de espécies vegetais de interesse econômico, além da exploração agrícola, determinando uma redução nos recursos florestais, revelando um alto grau de comprometimento ambiental da região e escassas áreas protegidas por Unidades de Conservação (Ipardes, 2004). Assim, as constantes ameaças aos remanescentes florestais e a escassez de trabalhos sobre a fauna de Chrysomelidae, e por sua vez de Alticini na região, reforçam a necessidade urgente de estudos visando conhecer e quantificar esse grupo biológico.

Dessa forma, inventariamentos de espécies constituem um importante passo no entendimento dos padrões de distribuição e diversidade das espécies, fornecendo respostas sobre a condição do ambiente e a relação com as diferentes fitofisionomias (Silveira et al., 2010). Com isso, neste estudo objetiva-se buscar informações sobre a riqueza, abundância, diversidade e composição das assembleias de Alticini amostradas, colaborando com a construção de um cenário sobre essa tribo no Paraná.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo. O estudo foi realizado em três municípios da região sudoeste do estado do Paraná: Planalto, Realeza e Santa Izabel do Oeste, os quais apresentam formação fitogeográfica do tipo Ombrófila Mista Montana e Submontana com presença de Araucaria angistifolia (Bertol.) Kuntze, Ocotea pulchella (Ness e Mart.) Mez e Ilex paraguariensis A.St., Hil acompanhada de Cryptocarya aschersoniana Mez e Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez (ITCG, 2009; Veloso et al., 2012) e clima Cfa segundo Köppen (Wrege et al., 2012). Em cada município foi selecionado um fragmento de mata onde foram instaladas cinco armadilhas do tipo Malaise (Townes, 1972) como segue e assim denominados:

Santa Isabel do Oeste. O fragmento é isolado e estreito, inserido em uma matriz agrícola de culturas como soja e milho. Apesar disso, apresenta-se em estado avançado de sucessão, com árvores de maior porte, baixo nível de luminosidade no sub-bosque e presença de poucas herbáceas. Área total 3,90 ha (25°49’48.2”S, 53°24’56.8”W; 584 m). Neste fragmento foi instalada apenas uma armadilha devido ao seu tamanho e formato.

Realeza. Área em estágio intermediário de sucessão, heterogêneo, com ervas, plântulas, subosque, epífitas e serrapilheira, bem como árvores antigas. Está localizada próxima à área urbana em desenvolvimento. Área total 5,81 ha. Foram instaladas duas armadilhas com distância de 122 m entre elas (armadilha 1: 25°47’21.2”S, 53°31’31.8”W; 495 m; armadilha 2: 25°47’25.5”S, 53°31’31.2”W; 492 m).

Planalto. Fragmento com relevo mais acidentado localizado entre dois morros; é o que sofre menor impacto de áreas agrícolas e possui área de pastagem próxima. Apresenta mata em estágio intermediário de sucessão, com árvores de pequeno porte, maior luminosidade no sub-bosque, presença de herbáceas e gramíneas e pouca serrapilheira. Área total 10,0 ha. Foram instaladas duas armadilhas com distância de 84 m entre elas (armadilha 1: 25°47’06.0”S, 53°38’43.6”W; 395 m; armadilha 2: 25°46’51.2”S, 53°32’04.1”W; 367 m). Os fragmentos de Planalto e Santa Izabel do Oeste são, em linha reta, equidistantes ao de Realeza (12 km); entre eles distam 23 km.

Coleta de dados. As armadilhas permaneceram instaladas ininterruptamente entre outubro de 2016 e março de 2017, com frascos coletores removidos semanalmente, totalizando 25 semanas de coleta. As coletas foram realizadas nesse período, pois de acordo com estudos prévios (Linzmeier & Ribeiro-Costa, 2008, 2013) é quando ocorre a maior riqueza e abundância de crisomelídeos. Coleópteros, e entre os crisomelídeos, foram triados e os Alticini alfinetados, etiquetados e identificados ao menor nível taxonômico possível com utilização de chave para gêneros neotropicais (Scherer, 1983), comparação com exemplares identificados da Coleção Entomológica Pe J. S. Moure (DZUP) e através de informações disponíveis nos sítios online Insect Type Database (MCZ, 2010) e Chrysomelidae@MIZA (MIZA, 2017). Os exemplares estão depositados na coleção Entomológica do Laboratório de Zoologia da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Realeza, Paraná.

Análise de dados. A assembleia de Alticini foi avaliada através da riqueza, abundância, diversidade e composição das espécies. Para verificar a uniformidade nos fragmentos amostrados foi calculado o índice de Berger & Parker. A diversidade nos locais também foi determinada através da Diversidade Real (DR), obtida a partir da exponencial do valor de Entropia de Shannon (Jost, 2006).

A estimativa da riqueza foi calculada com estimador Chao 1 que é mais indicado para assembleias com elevado número de espécies raras, e verificado o número de singletons e doubletons (Colwell et al., 2004). Esta análise, assim como o cálculo da Entropia de Shannon, foi conduzida no programa Estimate S: Richness Estimator, versão 9.1 (Colwell et al., 2014). Como os fragmentos possuem tamanhos amostrais diferentes, também foram estimadas curvas de rarefação e extrapolação para a riqueza através do iNEXT Online, projetadas para o dobro do tamanho da amostra (Chao et al., 2016). Assim, para avaliar se as curvas atingiram a assíntota, o ponto de comparação utilizado foi o de 500 indivíduos coletados.

A similaridade entre os fragmentos em relação à composição de espécies foi verificado com o coeficiente de Jaccard (Magurran, 2004), utilizando o método UPGM (Unweighted Pair Group Method Averages) para a formação dos agrupamentos. Estas análises foram realizadas no programa NTSyspc 2.02i (Rohlf, 1997).

RESULTADOS

Foram coletados 1.657 exemplares de Alticini pertencentes a 20 gêneros e 59 espécies, os quais representaram 77,5% de todos os crisomelídeos coletados. No fragmento de Planalto foi registrado abundância de 1.020 indivíduos e riqueza de 38 espécies; em Santa Izabel do Oeste foram capturados 286 alticínios pertencentes a nove espécies e em Realeza 351 indivíduos de 27 espécies (Tab. I). As maiores abundâncias ocorreram em dezembro no fragmento de Planalto, fevereiro em Santa Izabel do Oeste e novembro em Realeza. Quanto à riqueza, no fragmento de Planalto foi registrado o maior número de espécies no mês de outubro, diferentemente de Realeza e Santa Izabel do Oeste, que ocorreu em novembro.

Tab. I
Abundância (N) de Coleoptera, Chrysomelidae, Alticini, riqueza (S) de Alticini, Diversidade Real (DR) e índice de dominância de Berger & Parker (BP) para Alticini coletados com armadilha Malaise em três fragmentos no Sudoeste do Paraná, Brasil, de outubro/2016 a março/2017.

Fragmentos	Coleoptera (N)	Chrysomelidae (N)	Alticini (N)	Alticini (S)	DR	BP
Sta I. do Oeste	2.672	339	286	9	3,8	0,94
Realeza	3.559	483	351	27	31,1	0,76
Planalto	4.894	1.315	1.020	38	139,7	0,59
Total	11.124	2.137	1.657	59

Cinco gêneros foram registrados em todos os fragmentos: Epitrix Foudras, 1859, Omophoita Chevrolat, 1836, Syphraea Baly, 1876, Systena Melsheimer, 1847 e Trichaltica Harold, 1876. No que se refere à abundância de tais gêneros, em Planalto Trichaltica foi dominante, com 608 indivíduos coletados e Syphraea prevaleceu quanto à riqueza, 13 espécies, totalizando 62 indivíduos. Nos fragmentos de Realeza e Santa Izabel do Oeste Margaridisa foi mais abundante e, mesmo tendo sido registrados Trichaltica e Syphraea, estes apresentaram número de espécies (ambas com uma espécie) e a abundância baixos (sete e quatro indivíduos, respectivamente).

Quanto às espécies amostradas, apenas quatro delas foram obtidas em todos os fragmentos [Epitrix sp. 1, Epitrix argentinensis Bryant, 1940, Omophoita octoguttata (Fabricius, 1775) e Syphraea sp. 3]; 30 espécies foram amostradas exclusivamente em Planalto, 16 em Realeza e duas em Santa Izabel do Oeste; quatro espécies foram compartilhadas entre Planalto e Realeza, ou seja, coletadas apenas nesses dois fragmentos; três espécies foram comuns a Realeza e Santa Izabel do Oeste e nenhuma espécie foi compartilhada entre Planalto e Santa Izabel do Oeste.

As espécies mais abundantes foram Trichaltica sp. 2, Margaridisa sp., Omophoita octoguttata e Epitrix sp. 1, correspondendo a 85,8% de todos os Alticini coletados (^{Apêndice 1}, Fig.1). Trichaltica sp. 2 foi coletada somente em Planalto, representando 59,6% do total deste fragmento, com pico de abundância em fevereiro. Margaridisa sp. foi a espécie dominante tanto em Santa Izabel do Oeste (94,7% do total coletado) quanto em Realeza (76,1%), sendo a única espécie registrada em todas as semanas de coleta no fragmento de Santa Izabel do Oeste; seu pico de abundância ocorreu em dezembro no fragmento de Realeza e em fevereiro em Santa Izabel do Oeste. Omophoita octoguttata, coletada em todos os fragmentos, teve maior abundância também em Planalto com pico de captura no mês de novembro. Epitrix sp. 1 ocorreu em todos os pontos amostrados, mas a maior abundância foi registrada em Planalto no mês de outubro.

Fig. 1
Abundância (Log10) e fragmentos onde foram amostradas as quatro espécies dominantes de Alticini amostradas no Sudoeste do Paraná, Brasil, de outubro/2016 a março/2017 (Sta, Santa Izabel do Oeste; Rea, Realeza; Pla, Planalto).

Das 59 espécies amostradas, oito tiveram abundância superior a 10 indivíduos enquanto 83% foram representadas por espécies com menos de dez exemplares. Dentre elas, 19 são singletons e 11 são doubletons (Tab. II).

Tab. II
Número de espécies de Alticini total, singletons, doubletons e seus percentuais em relação ao total, coletado em três fragmentos no sudoeste do Paraná, Brasil no período de outubro/2016 a março/2017.

Espécies	Planalto	Realeza	Santa Izabel do Oeste	Total
Total	38	27	9	59
Singleton(s)	14 (36,8%)	8 (29,6%)	1 (11,1%)	19 (32,2%)
Doubleton(s)	3 (7,8%)	7 (25,9%)	5 (55,5%)	11 (18,6%)

Quanto à diversidade real (DR), o maior valor foi obtido em Planalto (Tab. I). A curva de extrapolação de espécies para o fragmento de Realeza apresentou estabilização (Fig. 2). Por outro lado, nos fragmentos de Planalto e Santa Izabel do Oeste um número maior de espécies ainda pode ser obtido e é no primeiro que há uma maior riqueza a ser registrada, de acordo com o estimador Chao 1 (Planalto: 60,72±16,69dp; Realeza: 30,49±3,43dp e Santa Izabel do Oeste: 13,98±6,02dp). Em Planalto 62,6% das espécies foram coletadas, em Realeza 88,5% e em Santa Izabel do Oeste 64,4%.

Fig. 2
Curva de rarefação de espécies de Alticini (Chrysomelidae) coletadas em três fragmentos no Sudoeste do Paraná, Brasil (PLAN, Planalto; REAL, Realeza; STA, Santa Izabel do Oeste).

No que tange à dominância (BP), o menor valor foi obtido para Planalto, indicando que as espécies deste fragmento estão distribuídas mais homogeneamente quanto à sua abundância. Em Santa Izabel do Oeste ocorreu o inverso, devido à dominância de Margaridisa sp. (Tab. I). No que se refere à composição de espécies, mesmo que os fragmentos integrem a mesma região geográfica e estejam inseridos na mesma formação florestal, foi verificada baixa similaridade (Fig. 3), com Realeza e Santa Izabel do Oeste se mostrando mais similares (0,24).

Fig. 3
Dendograma de similaridade de Alticini (Chrysomelidae) coletados com armadilha Malaise em três fragmentos no Sudoeste do Paraná, Brasil de outubro/2016 a março/2017. Coeficiente de Jaccard (cc=0,93).

Dentre as espécies identificadas em nível específico, dezenove são registradas pela primeira vez para a região sudoeste do Paraná: Alagoasa scissa, Chaetocnema brasiliensis, Epitrix argentinensis, Genaphthona yasmina, Heikertingerella bimaculata, Heikertingerella domenica, Heikertingerella wittmeri, Hypolampsis ambiguus, Hypolampsis nigripes, Neodiphaulaca itapiranga, Omophoita octoguttata, Omophoita personata, Rhinotmetus sulcicollis, Stegnea inflatipes, Systena brasiliensis, Trichaltica micros, Walterianella interruptovittata, Wanderbiltiana misionea e Wanderbiltiana sejuncta.

DISCUSSÃO

Os levantamentos entomofaunísticos são importantes para o conhecimento e compreensão da biodiversidade, principalmente em regiões pouco estudadas como o sudoeste do Paraná. Neste inventário, exemplares de Alticini foram coletados abundantemente, representando 77,5% de todos os crisomelídeos e 14,9% dos coleópteros capturados. Outros estudos realizados com armadilha Malaise no estado também registraram percentuais semelhantes, com Alticini sendo o principal grupo de Chrysomelidae capturado (Linzmeier et al., 2006; Linzmeier & Ribeiro-Costa, 2008, 2009, 2012).

O fragmento de Planalto se revelou por ter a maior riqueza e três das quatro espécies mais abundantes, com Trichaltica sp. 2 sendo dominante e exclusiva nesse fragmento. Sua dominância deve estar relacionada com a presença e fenologia de sua planta hospedeira, provavelmente com o período de floração, já que T. elegantula Baly, 1876, espécie abundantemente registrada por Linzmeier et al. (2006), foi associada com flores de Allophylus edulis (A. St. Hil. & al.) Radlk (Sapindaceae) (Linzmeier & Ribeiro-Costa, 2009).

Os gêneros Epitrix e Omophoita também tiveram destaque em Planalto, o primeiro representado por cinco espécies e com picos de abundância no mês de outubro, de forma similar ao relatado por Linzmeier & Ribeiro-Costa (2013). Apesar das autoras terem registrado pico de abundância de uma espécie de Epitrix em maio - período no qual não foram realizadas amostragens neste estudo -, apontaram também um segundo pico em outubro, como o aqui observado; de acordo com esta mesma contribuição, isso pode estar relacionado ao fato de representantes de Epitrix serem generalistas e/ou multivoltinos, já que a espécie foi registrada ao longo de todo o período de amostragem. Para Omophoita o pico de abundância foi em novembro e as duas espécies obtidas apresentaram abundância muito superior àquelas registradas nos levantamentos PROFAUPAR e PROVIVE (Linzmeier et al., 2006; Linzmeier & Ribeiro-Costa, 2012), não existindo outras informações sobre a flutuação populacional de suas espécies.

Em Santa Izabel do Oeste houve a dominância de Margaridisa sp., que correspondeu a 94,7% dos indivíduos amostrados no fragmento. Espécies de Margaridisa também têm sido abundantemente coletadas em diversos estudos. No PROFAUPAR, em Antonina, uma espécie de Margaridisa foi a mais numerosa (Linzmeier & Ribeiro-Costa, 2012); representantes desse gênero estão entre os mais abundantes em estudos realizados no Cerrado de Goiás (Pimenta & De Marco, 2015), no México (Niño-Maldonado et al., 2014, Sánchez-Reyes et al., 2019) e na Costa Rica (Hanson et al., 2010). Mesmo sendo dominante em todos os estudos citados, não foi possível identificar Margaridisa em nível específico, o que sugere que tais espécies possam ser comuns e mesmo assim pouco se conhece sobre elas. Isso reforça a necessidade de mais estudos taxonômicos em Alticini visando auxiliar na identificação das espécies, além daqueles que busquem trazer informações sobre a biologia, planta hospedeira e, desta forma, colaborando para o entendimento dos padrões revelados em trabalhos ecológicos.

As curvas de extrapolação de espécies atingiram a assíntota nos fragmentos de Realeza e Santa Izabel do Oeste; considerando o dobro da amostra, no fragmento de Planalto a tendência em continuar aumentando demonstra que não foram realizadas coletas suficientes para amostrar a fauna no local. Tal fato pode ainda ser reforçado pelo valor da Diversidade Real, que indica o valor de 140 espécies para este fragmento, valor bem superior ao observado. Além disso, segundo os valores estimados, ainda podem ser coletadas em média aproximadamente quatro espécies em Santa Izabel do Oeste, três em Realeza e 22 em Planalto. Apesar da indicativa de amostras insuficientes, devemos considerar o elevado número de espécies raras, padrão este apontado por Novotný & Basset (2000) como característico para assembleias de insetos em florestas tropicais e que aqui foi confirmado pela numerosa quantidade de singletons e doubletons registrada (50,8%). Este fato também contribuiu para a baixa similaridade entre os fragmentos, indicando que estes são notadamente heterogêneos e que devem comportar uma fauna diferenciada. Além disso, Linzmeier & Ribeiro-Costa (2009) também indicaram baixa similaridade, mesmo as armadilhas estando no mesmo fragmento e próximas (entre 70 e 1.200 m); segundo as autoras, a similaridade está relacionada com as características do ambiente e não com a distância entre os pontos amostrados. Porém, outros fatores podem contribuir para os padrões de similaridade em um determinado ambiente como o voo dos insetos. Em trabalhos realizados com Chrysomelidae em laboratório foi verificado que a maioria dos indivíduos analisados voa curtas distâncias, entre cinco e 50 metros (Ferro et al., 1991; Krell et al., 2003), o que pode significar uma fauna diferente, devido à movimentação reduzida entre diferentes pontos de um mesmo fragmento.

A realização de inventários em diferentes regiões com a mesma metodologia permite estabelecer padrões de ocorrência das espécies. Considerando os estudos prévios, realizados principalmente no Paraná e os resultados apresentados neste estudo, Epitrix, Margaridisa, Omophoita e Trichaltica parecem estar relacionados a ambientes mais degradados ou a estágios iniciais a intermediários de sucessão. Porém, ainda não temos dados suficientes para afirmar que tais gêneros possam ser considerados bioindicadores. Mesmo sendo a primeira contribuição que aborda crisomelídeos Alticini na região sudoeste do Paraná, mais estudos deverão ser conduzidos para subsidiar o conhecimento sobre as espécies e a biodiversidade do local, visando auxiliar na definição de estratégias para a conservação destas áreas.

Agradecimentos

À CAPES pela bolsa concedida ao primeiro autor; aos Srs. Manoel Henrique de Araújo, Barbina Bueno de Araújo, Santo Conte e Berta Lucia Villagra pelo acesso às áreas pesquisadas; aos avaliadores pelas sugestões no manuscrito.

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Apêndice 1

Table 1
Lista de espécies de Alticini (Chrysomelidae, Galerucinae) coletadas com Armadilha Malaise nos cinco pontos de três fragmentos na região sudoeste do Paraná, Brasil entre outubro/2016 a março/2017 (Sta, Santa Izabel do Oeste; Pla1, ponto 1 de Planalto; Pla2, ponto 2 de Planalto; Rea1, ponto 1 de Realeza; Rea2, ponto 2 de Realeza).

Espécies	Sta	Pla1	Pla2	Rea1	Rea2	Total
Alagoasa scissa Bechyné, 1955		1				1
Alticini sp. 1	1					1
Alticini sp. 2					1	1
Brasilaphthona sp. 1		7	2			9
Brasilaphthona sp. 2		1	2			3
Brasilaphthona sp. 3		4	6			10
Brasilaphthona sp. 4					1	1
Chaetocnema brasiliensis Baly, 1877				2		2
Coroicona sp.				1	4	5
Epitrix sp. 1	4	14	94	8	4	124
Epitrix sp. 2		4	2			6
Epitrix argentinensis Bryant, 1940	2	1		1	2	6
Epitrix sp. 4		2	14			16
Epitrix sp. 5		2	4		6	12
Genaphthona sp. 1		8				8
Genaphthona yasmina Bechyné, 1955		2	2			4
Heikertingerella wittmeri Bechyné, 1951		4				4
Heikertingerella bimaculata (Baly, 1877)				1	1	2
Heikertingerella domenica Bechyné, 1955		1				1
Heikertingerella sp. 4				1	1	2
Hypolampsis ambiguus (Clark, 1860)		1				1
Hypolampsis nigripes (Clark, 1860)				2		2
Hypolampsis sp. 1				5	1	6
Hypolampsis sp. 2		1				1
Laselva sp.		1			1	2
Longitarsus sp.		1	6		1	8
Margaridisa sp.	271			267	1	539
Neodiphaulaca itapiranga (Bechyné, 1957)					3	3
Omophoita octoguttata (Fabricius, 1775)	1	65	81	4		151
Omophoita personata (Illiger,1807)			1			1
Rhinotmetus sulcicollis Clark, 1860			6			6
Stegnea inflatipes (Bechyné, 1955)					1	1
Syphraea sp. 1			21			21
Syphraea sp. 2		1	8			9
Syphraea sp. 3	1	3	3	1	2	10
Syphraea sp. 4		9				9
Syphraea sp. 5		4				4
Syphraea sp. 6		3				3
Syphraea sp. 7		2				2
Syphraea sp. 8			2			2
Syphraea sp. 9			1			1
Syphraea sp. 10			1			1
Syphraea sp. 11			1			1
Syphraea sp. 12		1	1			2
Syphraea bicolor Baly		1				1
Systena brasiliensis Jacoby, 1902	1					1
Systena sp. 2				2		2
Systena sp. 3			1			1
Systena sp. 4	1			1		2
Systena sp. 5					1	1
Trichaltica micros Bechyné, 1954	4			2	1	7
Trichaltica sp. 2		608				608
Walterianella sp. 1		7			2	9
Walterianella sp. 2		1				1
Walterianella interruptovittata (Jacoby, 1905)			1			1
Wanderbiltiana sp. 1				8	5	13
Wanderbiltiana sp. 2				2		2
Wanderbiltiana sejuncta (Harold, 1880)				2	1	3
Wanderbiltiana sp. 4					1	1
59 espécies	286	760	260	310	41	1657

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  15 Jul 2019
• Data do Fascículo
  2019

Histórico

• Recebido
  26 Fev 2019
• Aceito
  17 Maio 2019