Acessibilidade / Reportar erro

Causas e consequências da dívida no cartão de crédito: uma análise multifatores

Causes and consequences of debt in credit card: a multifactor analysis

Causas y consecuencias de la deuda en la tarjeta de crédito: un análisis multifactorial

RESUMO

Neste estudo, o objetivo é avaliar as causas e as consequências da dívida no cartão de crédito a partir de fatores comportamentais. Realizou-se uma pesquisa com 1.831 usuários de cartão de crédito dos estados de Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Maranhão por meio da aplicação de questionários. Inicialmente, observou-se que os respondentes mantêm baixos índices de endividamento no cartão de crédito. Nos resultados obtidos com a modelagem de equações estruturais, apontam-se como determinantes da dívida os construtos materialismo, compras compulsivas, comportamento de uso no cartão de crédito e alfabetização financeira; e como consequências, o baixo nível de bem-estar financeiro e as emoções negativas.

Palavras-chave:
endividamento; cartão de crédito; fatores comportamentais

ABSTRACT

This study aims to evaluate the causes and consequences of debt in the credit card through behavioral factors. A research with 1,831 credit card clients in Rio Grande do Sul, Minas Gerais and Maranhão has been made by applying questionnaires. Initially, it has been observed that the respondents maintain a low level of indebtedness in credit cards. The results obtained by the structural equation modeling show as indebtedness determinants the constructs materialism, compulsive shopping, behavior to use credit card and financial literacy, and, as consequences, the low level of financial well-being and negative emotions.

Keywords:
indebtedness; credit cards; behavioral factors

RESUMEN

El objetivo en este estudio es evaluar las causas y las consecuencias de la deuda en la tarjeta de crédito a partir de factores relacionados con el comportamiento. Se llevó a cabo una encuesta con 1.831 usuarios de tarjetas de crédito de los estados de Rio Grande do Sul, Minas Gerais y Maranhão, por medio de la aplicación de cuestionarios. Inicialmente, se observó que los encuestados mantienen bajos índices de endeudamiento en la tarjeta de crédito. Los resultados obtenidos mediante modelos de ecuaciones estructurales apuntan como determinantes de la deuda los constructos materialismo, compras compulsivas, comportamiento de uso en la tarjeta de crédito y alfabetización financiera; y como consecuencias, el bajo nivel de bienestar financiero y las emociones negativas.

Palabras clave:
endeudamiento; tarjeta de crédito; factores de comportamiento

1. INTRODUÇÃO

A crescente disponibilidade e aceitabilidade do crédito nas economias mundiais tem estimulado o desenvolvimento econômico e facilitado o cotidiano dos indivíduos (Silva, 2011Silva, P. R. (2011). Psicologia do risco de crédito: análise da contribuição de variáveis psicológicas em modelos de credit scoring. Tese de Doutorado, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, SP, Brasil.). No âmbito brasileiro não é diferente, visto que o crescimento e a estabilidade econômica têm levado o governo a expandir a oferta de crédito e ampliar os prazos de pagamento possibilitando, dessa forma, a participação das classes sociais menos favorecidas no mercado consumidor e provocando, consequentemente, o crescimento acelerado nos níveis de consumo (Claudino, Nunes & Silva, 2009Claudino, L. P., Nunes, M. B., & Silva, F. C. da. (2009). Finanças pessoais: um estudo de caso com servidores públicos. Anais do Seminários em Administração – SemeAd. São Paulo, SP, Brasil, 9.).

Para Bertaut e Haliassos (2005)Bertaut, C. C., & Haliassos, M. (2005). Credit cards: facts and theories. Social Science Research Network. Recuperado em 15 abril, 2014, de http://ssrn.com/abstract=931179 DOI: 10.2139/ssrn.931179
http://ssrn.com/abstract=931179...
, entre outros motivos, o acesso do consumidor ao crédito foi facilitado a partir da propagação e da aceitação dos cartões de crédito, que se tornaram, em pouco tempo, um dos principais instrumentos financeiros utilizados pelos indivíduos. De acordo com estudos da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços [ABECS] (2012), a quantidade de cartões de crédito em circulação no mercado brasileiro atingiu o patamar de 178,8 milhões de unidades, sendo realizadas ao longo do ano 4,5 bilhões de operações. Tais números comprovam a crescente inserção do cartão de crédito no cotidiano dos brasileiros e sua grande difusão como meio de pagamento.

A rápida popularização do cartão de crédito, segundo Kim e DeVaney (2001)Kim, H., & DeVaney, S. A. (2001). The determinants of outstanding balances among credit card revolvers. Financial Counseling and Planning, 12(1), 67-78. Recuperado em 10 abril, 2014, de http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216.pdf
http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216....
, está atrelada a sua multifuncionalidade ao atuar como ferramenta de pagamento e recurso de crédito. Em termos individuais, o acesso ao cartão de crédito tem exercido forte influência sobre o estilo de vida e o poder de compra (Mendes-da-Silva, Nakamura & De Moraes, 2012Mendes-da-Silva, W. M., Nakamura, W. T., & De Moraes, D. C. (2012). Credit card risk behavior on college campuses: evidence from Brazil. Brazilian Administration Review, 9(3), 351-373. DOI: 10.1590/S1807-76922012000300007
https://doi.org/10.1590/S1807-7692201200...
), provendo aos usuários facilidade, conveniência e segurança nas transações (Bertaut & Haliassos, 2005Bertaut, C. C., & Haliassos, M. (2005). Credit cards: facts and theories. Social Science Research Network. Recuperado em 15 abril, 2014, de http://ssrn.com/abstract=931179 DOI: 10.2139/ssrn.931179
http://ssrn.com/abstract=931179...
). No entanto, o uso indiscriminado e/ou o mau gerenciamento do crédito são capazes de conduzir à acumulação de dívidas que, por sua vez, podem comprometer a saúde financeira doméstica (Norvilitis, Merwin, Osberg, Roehling, Young, & Kamas, 2006Norvilitis, J. M., Merwin, M. M., Osberg, T. M., Roehling, P. V., Young, P., & Kamas, M. M. (2006). Personality factors, money attitudes, financial knowledge, and credit-card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 36(6), 1395-1413. DOI: 10.1111/j.0021-9029.2006.00065.x
https://doi.org/10.1111/j.0021-9029.2006...
; MacGee, 2012MacGee, J. (2012). The rise in consumer credit and bankruptcy: cause for concern? Social Science Research Network. Recuperado em 14 abril, 2014, de http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2046574 DOI: 10.2139/ssrn.2046574
http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?a...
) e o bem-estar físico e mental (Lyons, 2004Lyons, A. C. (2004). A profile of financially at-risk college students. The Journal of Consumer Affairs, 38(1), 56-80. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2004.tb00465.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2004...
). O cartão de crédito promove o aumento do endividamento pessoal e familiar devido à eliminação da necessidade imediata de dinheiro e à facilidade de pagamento (Wang, Wei Lu & Malhotra, 2011Wang, L. B., Wei Lu, A., & Malhotra, N. K. (2011). Demographics, attitude, personality and credit card features correlate with credit card debt: a view from China. Journal of Economic Psychology, 32(1), 179-193. DOI: 10.1016/j.joep.2010.11.006
https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.11.0...
).

O crescimento acelerado do número de indivíduos que utilizam cartão de crédito e, principalmente, o aumento dos níveis de endividamento e inadimplência têm feito com que o governo e a indústria financeira passem a tratar tal questão com maior atenção (Mendes-da-Silva et al., 2012Mendes-da-Silva, W. M., Nakamura, W. T., & De Moraes, D. C. (2012). Credit card risk behavior on college campuses: evidence from Brazil. Brazilian Administration Review, 9(3), 351-373. DOI: 10.1590/S1807-76922012000300007
https://doi.org/10.1590/S1807-7692201200...
). A maior preocupação está atrelada ao nível de responsabilidade financeira no uso do cartão de crédito e aos prováveis riscos de problemas financeiros e psicológicos decorrentes do mau gerenciamento (Lyons, 2004Lyons, A. C. (2004). A profile of financially at-risk college students. The Journal of Consumer Affairs, 38(1), 56-80. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2004.tb00465.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2004...
). Apesar de vários estudos sobre a dívida no cartão de crédito já terem sido desenvolvidos e já ter sido comprovado que essa questão ultrapassa o universo econômico e social, ainda persiste muita incerteza sobre quais são efetivamente suas causas e consequências. Nesse sentido, o grande desafio que se apresenta à academia e, especificamente, o foco deste estudo é buscar uma resposta para a seguinte questão: Quais são os fatores determinantes e consequentes da dívida no cartão de crédito? Para responder a esse questionamento, estabeleceram-se os seguintes objetivos: desenvolver e validar um modelo para mensuração da dívida pessoal no cartão de crédito; identificar e validar os fatores associados à dívida no cartão de crédito; construir e validar um modelo estrutural para as relações entre os fatores.

A realização deste estudo contribui para a ampliação do acervo de pesquisas empíricas acerca do uso e do endividamento no cartão de crédito gerando um conhecimento mais aprofundado sobre o assunto que ainda é incipiente em âmbito brasileiro. A importância do estudo também está em seu caráter inovador, dado que, em âmbito brasileiro, não há registros de pesquisas que busquem compreender os determinantes da dívida e suas implicações. Ademais, raras são as pesquisas, tanto em contexto internacional quanto nacional, que se dedicam ao estudo dos fatores comportamentais associados à dívida em uma população heterogênea composta por indivíduos de diferentes idades, rendas e ocupações. Destaca-se ainda que o tema é extremamente atual e faz parte da pauta de discussões dos meios governamental, empresarial e acadêmico. Em suma, a realização desta pesquisa oferecerá subsídios aos organizadores das políticas de crédito e aos educadores financeiros para auxiliar os consumidores a melhor gerenciarem o uso do crédito evitando, assim, as armadilhas embutidas no uso indevido e exagerado do cartão.

Este trabalho está dividido em cinco seções, incluindo a introdução. Na segunda seção apresenta-se a base teórica e empírica. Na terceira parte contemplam-se os procedimentos metodológicos. Na sequência, são apresentados os resultados e, por fim, as considerações mais relevantes sobre a temática, as limitações e as principais sugestões para estudos futuros.

2. DÍVIDA NO CARTÃO DE CRÉDITO E SEUS FATORES DETERMINANTES E CONSEQUENTES

A dívida no cartão de crédito refere-se a um tipo de passivo a descoberto, constituído mediante um empréstimo rotativo de curto prazo (Lamcobe, 2012Lamcobe, F. (2012). Dicionário de negócios. Porto Alegre: Saraiva.). Tecnicamente, todas as compras realizadas no cartão de crédito criam dívida para o usuário; no entanto, sobre tais dívidas não há incidência de juros caso o pagamento seja realizado até a data de tolerância máxima. Dessa forma, os usuários que pagam devidamente as faturas mensais não são considerados endividados. Já os usuários que mantêm um saldo devedor sobre o qual passam a incidir juros após o encerramento do prazo de tolerância são considerados detentores de dívida no cartão de crédito. Nesse sentido, dívida no cartão de crédito pode ser compreendida como o saldo devedor remanescente após o pagamento da fatura mensal. Dependendo do nível da dívida, os indivíduos podem comprometer uma parcela significativa de sua renda, tornando-se incapazes de honrar os compromissos financeiros assumidos.

Levando em conta a ascensão do número de indivíduos endividados, diversos estudos vêm sendo desenvolvidos, tanto pela academia quanto pelo governo e pelo mercado financeiro, para avaliar o nível de propensão à dívida e seus fatores determinantes e consequentes (Kim & DeVaney, 2001Kim, H., & DeVaney, S. A. (2001). The determinants of outstanding balances among credit card revolvers. Financial Counseling and Planning, 12(1), 67-78. Recuperado em 10 abril, 2014, de http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216.pdf
http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216....
; Lyons, 2004Lyons, A. C. (2004). A profile of financially at-risk college students. The Journal of Consumer Affairs, 38(1), 56-80. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2004.tb00465.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2004...
; Norvilitis et al., 2006Norvilitis, J. M., Merwin, M. M., Osberg, T. M., Roehling, P. V., Young, P., & Kamas, M. M. (2006). Personality factors, money attitudes, financial knowledge, and credit-card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 36(6), 1395-1413. DOI: 10.1111/j.0021-9029.2006.00065.x
https://doi.org/10.1111/j.0021-9029.2006...
; Mendes-da-Silva et al., 2012Mendes-da-Silva, W. M., Nakamura, W. T., & De Moraes, D. C. (2012). Credit card risk behavior on college campuses: evidence from Brazil. Brazilian Administration Review, 9(3), 351-373. DOI: 10.1590/S1807-76922012000300007
https://doi.org/10.1590/S1807-7692201200...
). Segundo Davies e Lea (1995)Davies, E., & Lea, S. E. G. (1995). Student attitudes to student debt. Journal of Economic Psychology, 16(4), 663-679. DOI: 10.1016/0167-4870(96)80014-6
https://doi.org/10.1016/0167-4870(96)800...
, a investigação sobre os aspectos associados ao endividamento obteve destaque a partir do estudo de Katona (1975)Katona, G. (1975). Psychological economics. New York: Elsevier.. A importância desse trabalho está na avaliação da origem dos problemas de crédito, os quais são avaliados não apenas pelo viés econômico, mas também por meio de fatores psicológicos e comportamentais. É sobre esses aspectos comportamentais que a pesquisa se debruça.

O primeiro construto a ser investigado refere-se à alfabetização financeira, a qual pode ser entendida como uma combinação de conhecimentos, habilidades, atitudes e comportamentos necessários para a tomada de decisão e o alcance do bem-estar financeiro (OECD, 2013Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). (2013). Financial literacy and inclusion: Results of OECD/INFE survey across countries and by gender. Paris, France: OECD Centre.). Neste estudo, seguindo modelo adotado por Jorgensen e Savla (2010)Jorgensen, B. L., & Savla, J. (2010). Financial literacy of young adults: The importance of parental socialization. Family Relations, 59(4), 465-478. DOI: 10.1111/j.1741-3729.2010.00616.x
https://doi.org/10.1111/j.1741-3729.2010...
, a alfabetização financeira é a relação entre os conceitos de conhecimento financeiro, atitude financeira e comportamento financeiro. A dimensão do conhecimento financeiro é um tipo particular de capital humano que se adquire ao longo do ciclo de vida, por meio da aprendizagem de assuntos que afetam a capacidade para gerir receitas, despesas e poupança de forma eficaz (Delavande, Rohwedder & Willis, 2008Delavande, A., Rohwedder, S., & Willis, R. J. (2008). Preparation for retirement, financial literacy and cognitive resources [Working Paper Nº 2008-190]. Michigan Retirement Research Center. Social Science Research Network. Recuperado em 25 abril, 2014, de http://www.mrrc.isr.umich.edu/publications/papers/pdf/wp190.pdf DOI: 10.2139/ssrn.1337655
http://www.mrrc.isr.umich.edu/publicatio...
). O comportamento financeiro é um elemento essencial da alfabetização financeira e, sem dúvida, o mais importante (OECD, 2013Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). (2013). Financial literacy and inclusion: Results of OECD/INFE survey across countries and by gender. Paris, France: OECD Centre.). Segundo Atkinson e Messy (2012)Atkinson, A., & Messy, F. (2012). Measuring financial literacy: results of the OECD / International Network on Financial Education (INFE) pilot study. Working Paper Nº 15. OECD Publishing. Recuperado em 5 abril, 2014, de http://dx.doi.org/10.1787/5k9csfs90fr4-en
http://dx.doi.org/10.1787/5k9csfs90fr4-e...
, os resultados positivos de ser financeiramente alfabetizado são movidos pelo comportamento, tais como o planejamento de despesas e a construção da segurança financeira; por outro lado, certos comportamentos, tais como o uso excessivo de crédito, podem reduzir o bem-estar financeiro. Já as atitudes financeiras são estabelecidas por meio de crenças econômicas e não econômicas que um tomador de decisão tem sobre o resultado de determinado comportamento e são, portanto, um fator-chave no processo de tomada de decisão pessoal (Ajzen, 1991Ajzen, I. (1991). The theory of planned behavior. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50(2), 179-211. DOI: 10.1016/0749-5978(91)90020-T
https://doi.org/10.1016/0749-5978(91)900...
).

A grande oferta de produtos financeiros, segundo Amadeu (2009)Amadeu, J. R. (2009). A educação financeira e sua influência nas decisões de consumo e investimento: proposta de inserção da disciplina na matriz curricular. Dissertação de Mestrado, Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente, SP, Brasil., exige dos indivíduos a habilidade de compreender as características de cada opção, de calcular os custos embutidos nas diferentes ofertas de crédito e de administrar a capacidade de endividamento. É dentro desse contexto que pode ser verificada a importância da alfabetização financeira, uma vez que ela auxilia os consumidores, mediante o fornecimento de informações e instruções, a melhorar seu entendimento acerca dos conceitos e produtos financeiros e a aumentar a autoconfiança, tornando-os mais conscientes dos riscos e das oportunidades financeiras (OECD, 2013Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). (2013). Financial literacy and inclusion: Results of OECD/INFE survey across countries and by gender. Paris, France: OECD Centre.). Segundo Vitt, Anderson, Kent, Lyter, Siegenthaler, & Ward (2000)Vitt, L. A., Anderson, C., Kent, J., Lyter, D. M., Siegenthaler, J. K., & Ward, J. (2000). Personal finance and the rush to competence: Financial literacy dducation in the U.S. 2000. Middleburg, Virginia: Institute for Socio-Financial Studies. Recuperado em 24 abril, 2014, de http://www.isfs.org/documents-pdfs/rep-finliteracy.pdf
http://www.isfs.org/documents-pdfs/rep-f...
, a alfabetização financeira somente é capaz de auxiliar no desenvolvimento das capacidades necessárias para fazer escolhas bem informadas ao inter-relacionar conhecimentos, atitudes e comportamentos financeiros. É no esforço sistemático e contínuo de desenvolvimento desses aspectos que a alfabetização financeira desempenha papel-chave para a tomada de decisões responsáveis (Xiao, Tang, Serido, & Shim, 2011Xiao, J. J., Tang, C., Serido, J., & Shim, S. (2011). Antecedents and consequences of risky credit behavior among college students: application and extension of the theory of planned behavior. Journal of Public Policy & Marketing, 30(2), 239-258. DOI: 10.1509/jppm.30.2.239
https://doi.org/10.1509/jppm.30.2.239...
). Tendo por base tais fundamentos, elaboraram-se as hipóteses apontadas a seguir.

  • H1 — O conhecimento financeiro impacta positivamente o comportamento financeiro.

  • H2 — A atitude financeira impacta positivamente o comportamento financeiro.

  • H3 — O conhecimento financeiro impacta positivamente a atitude financeira.

Para Lyons (2004)Lyons, A. C. (2004). A profile of financially at-risk college students. The Journal of Consumer Affairs, 38(1), 56-80. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2004.tb00465.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2004...
, indivíduos inexperientes ou com conhecimentos financeiros limitados e com atitudes e comportamentos irresponsáveis podem não entender conceitos financeiros básicos como, por exemplo, o efeito cumulativo da taxa de juros sobre a dívida no cartão de crédito, aumentando o risco de má gestão dos recursos e de problemas financeiros. Nesse sentido, Disney e Gathergood (2011)Disney, R., & Gathergood, J. (2011). Financial literacy and indebtedness: new evidence for UK consumers. EconPapers (discussion papers), Nottingham, UK: University of Nottingham, Centre for Finance, Credit and Macroeconomics (CFCM). Recuperado em 10 abril, 2014, de http://econpapers.repec.org/paper/notnotcfc/11_2f05.htm
http://econpapers.repec.org/paper/notnot...
afirmam que o conhecimento, a atitude e o comportamento financeiro desempenham um importante papel na redução de problemas de gestão financeira no uso do cartão de crédito. Com base em tais estudos, espera-se que maiores níveis de conhecimento e melhores comportamentos propiciem comportamentos responsáveis no uso do cartão e levem a um menor risco de endividamento (Matta, 2007Matta, R. C. B. (2007). Oferta e demanda de informação financeira pessoal: o Programa de Educação Financeira do Banco Central do Brasil e os universitários do Distrito Federal. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.).

  • H4 — O conhecimento financeiro impacta positivamente o uso responsável do cartão de crédito.

  • H5 — O conhecimento financeiro impacta negativamente a dívida no cartão de crédito.

  • H6 — A atitude financeira impacta positivamente o uso responsável do cartão de crédito.

  • H7 — A atitude financeira impacta negativamente a dívida no cartão de crédito.

  • H8 — O comportamento impacta positivamente o uso responsável do cartão de crédito.

  • H9 — O comportamento financeiro impacta negativamente a dívida no cartão de crédito.

O segundo construto a ser considerado no modelo foi o materialismo, o qual é definido por Richins e Dawson (1992) como a importância atribuída pelo indivíduo à posse e à aquisição de bens materiais no alcance dos principais objetivos da vida. Indivíduos altamente materialistas acreditam que a aquisição e a posse de bens materiais representem o objetivo central da vida, são um indicador de sucesso e status social e a chave para a felicidade (Richins, 2004Richins, M. L. (2004). The material values scale: a re-inquiry into its measurement properties and the development of a short form. Journal of Consumer Research, 31(4), 209-219. DOI: 10.1086/383436
https://doi.org/10.1086/383436...
). Consumidores materialistas, independentemente de sua condição financeira, valorizam a posse e consideram-na um importante instrumento para nortear suas atitudes e ações (Richins & Dawson, 1992Richins, M. L., & Dawson, S. (1992). A consumer values orientation for materialism and its measurement: scale development and validation. Journal of Consumer Research, 19(3), 303-316. DOI: 10.1086/209304
https://doi.org/10.1086/209304...
). Nesse sentido, a acessibilidade ao cartão de crédito pode ser prejudicial aos materialistas, uma vez que lhes oferece um meio para alcançar seus objetivos de consumo (Richins, 2011Richins, M. L. (2011). Materialism, transformation expectations, and spending: implications for credit use. Journal of Public Policy & Marketing, 30(2), 141-156. DOI: 10.1509/jppm.30.2.141
https://doi.org/10.1509/jppm.30.2.141...
). Portanto, o desejo de alcançar status social por meio de bens materiais, atrelado à facilidade de obtenção de recursos, via cartão de crédito, pode facilmente levar o indivíduo a gastar mais e, provavelmente, a utilizar indevidamente o cartão de crédito incorrendo em dívidas (Pirog & Roberts, 2007Pirog, S. F., & Roberts, J. A. (2007). Personality and credit card misuse among college students: the mediating role of impulsiveness. Journal of Marketing Theory and Practice, 15(1), 65-77. DOI: 10.2753/MTP1069-6679150105
https://doi.org/10.2753/MTP1069-66791501...
).

  • H10 — O materialismo impacta negativamente o uso responsável do cartão de crédito.

  • H11 — O materialismo impacta positivamente a dívida no cartão de crédito.

O materialismo também vem sendo relacionado com o fator compras compulsivas. Para Dittmar (2004)Dittmar, H. (2004). Understanding and diagnosing compulsive buying. In R. Coombs (Ed.), Handbook of addictive disorders: a practical guide to diagnosis and treatment. New York: Wiley., indivíduos materialistas, por serem mais emotivos e apresentarem menor autoestima seriam mais propensos a exibir comportamentos de compra compulsiva, como forma de minimizar sentimentos negativos e melhorar o bem-estar pessoal (Dittmar, 2004Dittmar, H. (2004). Understanding and diagnosing compulsive buying. In R. Coombs (Ed.), Handbook of addictive disorders: a practical guide to diagnosis and treatment. New York: Wiley.). Assim, espera-se uma relação positiva entre materialismo e compras compulsivas.

  • H12 — O materialismo impacta positivamente as compras compulsivas.

Ainda no campo do consumo, investigaram-se as compras compulsivas, definidas como uma vontade crônica de comprar diferentes itens visando minimizar eventos ou sentimentos negativos (Leite, Rangé, Ribas, Filomensky, & Oliveira e Silva, 2011Leite, P. L., Rangé, B. P., Ribas, R. C. JR., Filomensky, T. Z., & Oliveira e Silva, A. C. (2011). Tradução e adaptação semântica da compulsive buying scale para o português brasileiro. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 60(3), 176-181.). Os consumidores compulsivos têm uma vontade irresistível de comprar sobre a qual não têm domínio, o que os leva à continuidade do consumo mesmo após o conhecimento das consequências adversas sobre sua vida pessoal e social e sobre sua situação financeira (Dittmar, Long, & Bond, 2007Dittmar, H., Long, K., & Bond, R. (2007). When a better self is only a button click away: associations between materialistic values, emotional and identity – related buying motives, and compulsive buying tendency online. Journal of Social and Clinical Psychology, 26(3), 334-361. DOI: 10.1521/jscp.2007.26.3.334
https://doi.org/10.1521/jscp.2007.26.3.3...
). Dentro desse escopo, Koram, Faber, Aboujaoude, Large e Serpe (2006)Koram, L. M., Faber, R. J., Aboujaoude, E., Large, M. D., & Serpe, R. T. (2006). Estimated prevalence of compulsive buying behavior in the United States. The American Journal of Psychiatry, 163(10), 1806-1812. DOI: 10.1176/appi.ajp.163.10.1806 e 10.1176/ajp.2006.163.10.1806
https://doi.org/10.1176/appi.ajp.163.10....
afirmam que, uma vez que tenham perdido sua capacidade para controlar o processo de compra, os consumidores irão comprar coisas que talvez não utilizem, em quantidade superior ao necessário e superior ao permitido por seus recursos financeiros, ocasionando consequências adversas como sofrimento e problemas financeiros. Para Veludo-de-Oliveira, Ikeda e Santos (2004)Veludo-de-Oliveira, T. M., Ikeda, A. A., & Santos, R. C. (2004). Compra compulsiva e a influência do cartão de crédito. Revista de Administração de Empresas (RAE), 44(3), 89-99., indivíduos com comportamento mais próximo à compulsividade tendem a apresentar maior quantidade de cartões, utilizá-los de forma mais intensa e menos regrada e possuir maior nível de dívidas no cartão (Roberts & Jones, 2001Roberts, J. A., & Jones, E. (2001). Money attitudes, credit card use, and compulsive buying among American college students. Journal of Consumer Affairs, 35(2), 213-240. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2001.tb00111.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2001...
). Com base em tais estudos, espera-se que indivíduos com comportamentos de compra compulsiva sejam mais irresponsáveis no uso do cartão de crédito e, por consequência, mais propensos a contrair dívidas, conforme as hipóteses 13 e 14.

  • H13 — As compras compulsivas impactam negativamente o uso responsável do cartão de crédito.

  • H14 — As compras compulsivas impactam positivamente a dívida no cartão de crédito.

Afora a problematização acerca dos comportamentos materialistas e de consumo compulsivo, pesquisadores têm considerado o impacto do valor do dinheiro. Para Macedo Jr., Kolinski e De Morais (2011)Macedo Jr., J. S., Kolinski, R., & De Morais, J. C. J. (2011). Finanças comportamentais: como o desejo, o poder, o dinheiro e as pessoas influenciam nossas decisões. São Paulo: Atlas., nenhuma pessoa é indiferente ao dinheiro, cada qual atribui ao dinheiro um significado de acordo com o esforço e a satisfação que ele lhe proporciona. Mudanças na atitude em relação ao dinheiro são um importante catalisador por trás da propagação da cultura consumista, a qual é definida como a cultura na qual os indivíduos desejam comprar e consumir bens buscando felicidade, prazer e prestígio social (Roberts & Jones, 2001Roberts, J. A., & Jones, E. (2001). Money attitudes, credit card use, and compulsive buying among American college students. Journal of Consumer Affairs, 35(2), 213-240. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2001.tb00111.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2001...
). Para os autores, a valorização do dinheiro como uma ferramenta de poder e prestígio social tem o potencial de conduzir a comportamentos materialistas e de compra compulsiva. Já a visualização do dinheiro como fonte de insegurança e preocupação torna os indivíduos menos propensos ao consumo. Tendo isso em mente, constata-se que o fator valores do dinheiro influencia o materialismo e as compras compulsivas de maneira distinta, dependendo do significado que o indivíduo atribui ao dinheiro.

  • H15 — O valor do dinheiro impacta as compras compulsivas.

  • H16 — O valor do dinheiro impacta o materialismo.

Concluindo a investigação dos fatores determinantes da dívida no cartão de crédito, tem-se o comportamento de uso do cartão de crédito, entendido como o grau de responsabilidade mantido pelo indivíduo na gestão do cartão (Roberts & Jones, 2001Roberts, J. A., & Jones, E. (2001). Money attitudes, credit card use, and compulsive buying among American college students. Journal of Consumer Affairs, 35(2), 213-240. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2001.tb00111.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2001...
). Ao observarem que o uso responsável do cartão proporciona ao indivíduo um meio conveniente de pagamento, uma ferramenta útil para gestão dos recursos financeiros e um meio de estabelecer um bom histórico de crédito, Bertaut e Haliassos (2005)Bertaut, C. C., & Haliassos, M. (2005). Credit cards: facts and theories. Social Science Research Network. Recuperado em 15 abril, 2014, de http://ssrn.com/abstract=931179 DOI: 10.2139/ssrn.931179
http://ssrn.com/abstract=931179...
concluem que ele diminui a probabilidade de contração de dívidas.

  • H17 — O uso responsável do cartão de crédito impacta negativamente a dívida no cartão de crédito.

A fim de uma melhor compreensão acerca da dívida, deve-se verificar, além de seus determinantes, suas consequências econômicas, sociais e psicológicas. Neste estudo, foram investigadas a redução do bem-estar financeiro e a presença de emoções negativas. O bem-estar financeiro pode ser compreendido como a percepção do indivíduo sobre sua situação financeira atual e futura (Norvilitis, Szablicki & Wilson, 2003Norvilitis, J. M., Szablicki, P. B., & Wilson, S. D. (2003). Factors influencing levels of credit card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 33(5), 935-947. DOI: 10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2003...
). Conforme destacado por Sevim, Temizel e Sayilir (2012)Sevim, N., Temizel, F., & Sayilir, O. (2012). The effects of financial literacy on the borrowing behavior of Turkish financial consumers. International Journal of Consumer Studies, 36(5), 573-579. DOI: 10.1111/j.1470-6431.2012.01123.x
https://doi.org/10.1111/j.1470-6431.2012...
, a tomada de decisões de empréstimo incorreta pode conduzir a um excesso de endividamento o qual pode ser, por sua vez, prejudicial à credibilidade do consumidor perante o mercado, bem como ao bem-estar financeiro tanto no curto quanto no longo prazo. A posse de um número elevado de cartões, atrelado a seu uso indiscriminado e ao não pagamento da fatura integral, reduz significativamente a sensação de bem-estar financeiro (Norvilitis & MacLean, 2010Norvilitis, J. M., & MacLean, M. G. (2010). The role of parents in college students' financial behaviors and attitudes. Journal of Economic Psychology, 31(1), 55-63. DOI: 10.1016/j.joep.2009.10.003
https://doi.org/10.1016/j.joep.2009.10.0...
).

  • H18 — A dívida no cartão de crédito impacta negativamente o bem-estar financeiro.

Na última hipótese do modelo teórico, buscou-se mensurar a relação entre dívida no cartão de crédito e emoções. As emoções são encaradas como um elemento essencial na vida e na experiência humana, sendo consideradas fundamentais para a compreensão do comportamento e do funcionamento dos seres humanos, uma vez que preparam respostas comportamentais necessárias, harmonizam a tomada de decisões e facilitam as relações interpessoais (Dias, Cruz & Fonseca, 2010Dias, C. S., Cruz, J. F., & Fonseca, A. M. (2010). Emoções: passado, presente e futuro. Revista Psicologia, 22(2), 11-31.). Diversos estudos (Nelson, Lust, Story & Ehlinger, 2008Nelson, M. C., Lust, K., Story, M., & Ehlinger, E. (2008). Credit card debt, stress and key health risk behaviors among college students. American Journal of Health Promotion, 22(6), 400-407. DOI: 10.4278/ajhp.22.6.400
https://doi.org/10.4278/ajhp.22.6.400...
; Sevim et al., 2012Sevim, N., Temizel, F., & Sayilir, O. (2012). The effects of financial literacy on the borrowing behavior of Turkish financial consumers. International Journal of Consumer Studies, 36(5), 573-579. DOI: 10.1111/j.1470-6431.2012.01123.x
https://doi.org/10.1111/j.1470-6431.2012...
) têm documentado que indivíduos endividados e sobre-endividados são mais propensos a vivenciar problemas físicos, sintomas de depressão, sentimentos de incapacidade e impotência. Por exemplo, Nelson et al. (2008)Nelson, M. C., Lust, K., Story, M., & Ehlinger, E. (2008). Credit card debt, stress and key health risk behaviors among college students. American Journal of Health Promotion, 22(6), 400-407. DOI: 10.4278/ajhp.22.6.400
https://doi.org/10.4278/ajhp.22.6.400...
constataram associação positiva entre altos níveis de dívida no cartão de crédito e excesso de peso, atividade física insuficiente, hábitos alimentares incorretos, consumo excessivo de álcool, pensamento suicida, sentimentos de desamparo, desempenho profissional insatisfatório e estresse. Com base nessa perspectiva, espera-se encontrar uma relação negativa entre dívida no cartão de crédito e emoções.

  • H19 — A dívida no cartão de crédito impacta negativamente as emoções.

Tendo em mente a teoria de base e as hipóteses, foi construído o modelo teórico ilustrado na Figura 1.

Figura 1
Diagrama do Modelo Teórico com Construtos e Hipóteses

3. MÉTODO

Visando responder ao questionamento levantado neste estudo, realizou-se uma pesquisa descritiva de cunho quantitativo. O estudo considerou como universo de pesquisa toda a população brasileira usuária de cartão de crédito. De acordo com dados divulgados pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC BRASIL, 2013), o número de brasileiros que utiliza cartão de crédito corresponde a 77% da população, ou seja, corresponde a, aproximadamente, 147 milhões de pessoas.

No processo de amostragem, considerou-se um nível de confiança de 95% e um erro amostral de 2,5% obtendo-se uma amostra mínima de 1.538 indivíduos. Pela dificuldade em aplicar os questionários em todo o território nacional, definiu-se, a critério do pesquisador, que o estudo seria realizado em três estados, sendo escolhidos, por conveniência, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Maranhão. A decisão de investigar esses três estados está atrelada à diversidade econômica, cultural e social encontrada. Os questionários foram aplicados de forma aleatória, em ambiente externo, entre os meses de março e setembro de 2013, por meio de contato com moradores dispostos a participar da pesquisa. Como pré-requisito para participação no estudo, o indivíduo deveria ser usuário e utilizar de forma ativa pelo menos um cartão de crédito. Ao final da pesquisa, foram coletados 1.831 instrumentos válidos. Desse total, 945 foram coletados no estado do Rio Grande do Sul; 602, no Maranhão; e 284, no estado de Minas Gerais. Ressalta-se que o estudo foi submetido ao Sistema Nacional de Ética em Pesquisa (SISNEP), sendo aprovado sob Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) nº 13265013.3.0000.5346.

O instrumento de coleta de dados foi um questionário estruturado composto por 114 questões divididas em dez seções, as quais abordaram:

  • aspectos relacionados ao cartão de crédito (Kim & DeVaney, 2001Kim, H., & DeVaney, S. A. (2001). The determinants of outstanding balances among credit card revolvers. Financial Counseling and Planning, 12(1), 67-78. Recuperado em 10 abril, 2014, de http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216.pdf
    http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216....
    ; Wang et al., 2011Wang, L. B., Wei Lu, A., & Malhotra, N. K. (2011). Demographics, attitude, personality and credit card features correlate with credit card debt: a view from China. Journal of Economic Psychology, 32(1), 179-193. DOI: 10.1016/j.joep.2010.11.006
    https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.11.0...
    ; Mendes-da-Silva et al., 2012Mendes-da-Silva, W. M., Nakamura, W. T., & De Moraes, D. C. (2012). Credit card risk behavior on college campuses: evidence from Brazil. Brazilian Administration Review, 9(3), 351-373. DOI: 10.1590/S1807-76922012000300007
    https://doi.org/10.1590/S1807-7692201200...
    );

  • perfil da amostra, representado por aspectos demográficos, culturais e econômicos;

  • fatores comportamentais:

    • - comportamento de uso do cartão de crédito avaliado com base na escala proposta por Roberts e Jones (2001)Roberts, J. A., & Jones, E. (2001). Money attitudes, credit card use, and compulsive buying among American college students. Journal of Consumer Affairs, 35(2), 213-240. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2001.tb00111.x
      https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2001...
      ,

    • - alfabetização financeira por meio de seus fatores integrantes: conhecimento financeiro (Rooij, Lusardi & Alessie, 2011Rooij, M. C. J. V., Lusardi, A., & Alessie, R. J. M. (2011). Financial literacy and retirement planning in the Netherlands. Journal of Economic Psychology, 32(4), 593-608. DOI: 10.1016/j.joep.2011.02.004
      https://doi.org/10.1016/j.joep.2011.02.0...
      ), atitude financeira (Shockey, 2002Shockey, S. S. (2002). Low-wealth adults financial literacy. Money management behavior and associates factors, including critical thinking. Tese, Universidade de Utah, Estados Unidos.) e comportamento financeiro (Matta, 2007Matta, R. C. B. (2007). Oferta e demanda de informação financeira pessoal: o Programa de Educação Financeira do Banco Central do Brasil e os universitários do Distrito Federal. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.),

    • - dívida no cartão de crédito analisado mediante questões adaptadas de Wang et al. (2011)Wang, L. B., Wei Lu, A., & Malhotra, N. K. (2011). Demographics, attitude, personality and credit card features correlate with credit card debt: a view from China. Journal of Economic Psychology, 32(1), 179-193. DOI: 10.1016/j.joep.2010.11.006
      https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.11.0...
      ,

    • - materialismo, fundamentado na escala de valores materialistas proposta por Moura (2005)Moura, A. G. (2005). Impacto dos diferentes níveis de materialismo na atitude ao endividamento e no nível de dívida para financiamento do consumo nas famílias de baixa renda do município de São Paulo. Dissertação de Mestrado, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, SP, Brasil.,

    • - valores do dinheiro com base em uma versão adaptada da escala do significado do dinheiro desenvolvida por Moreira (2000)Moreira, A. S. (2000). Valores e dinheiros: um estudo transcultural das relações entre prioridades de valores e significado do dinheiro para indivíduos. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.,

    • - compras compulsivas por meio da escala desenvolvida por Leite et al. (2011)Leite, P. L., Rangé, B. P., Ribas, R. C. JR., Filomensky, T. Z., & Oliveira e Silva, A. C. (2011). Tradução e adaptação semântica da compulsive buying scale para o português brasileiro. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 60(3), 176-181.,

    • - bem-estar financeiro com base na escala proposta por Norvilitis et al. (2003)Norvilitis, J. M., Szablicki, P. B., & Wilson, S. D. (2003). Factors influencing levels of credit card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 33(5), 935-947. DOI: 10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
      https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2003...
      ,

    • - emoções, a partir de questões obtidas do estudo de Disney e Gathergood (2011)Disney, R., & Gathergood, J. (2011). Financial literacy and indebtedness: new evidence for UK consumers. EconPapers (discussion papers), Nottingham, UK: University of Nottingham, Centre for Finance, Credit and Macroeconomics (CFCM). Recuperado em 10 abril, 2014, de http://econpapers.repec.org/paper/notnotcfc/11_2f05.htm
      http://econpapers.repec.org/paper/notnot...
      .

Para a análise dos dados, foram utilizados dois software: SPSS 18.0® e Amos™. Em um primeiro momento, realizou-se a estatística descritiva dos dados com o objetivo de conhecer o perfil da amostra. Na sequência, realizaram-se testes de diferença de média, teste t e Anova, visando verificar se há diferença no construto dívidas no cartão de crédito se considerados fatores demográficos, culturais e características do cartão de crédito.

Para a estimação e a validação do modelo integrado, utilizou-se a modelagem de equações estruturais (MEE). A avaliação do modelo foi realizada em duas etapas, conforme sugestão de Kline (1998)Kline, R. B. (1998). Principles and practice of structural equation modeling. New York: The Guilford Press.. Inicialmente realizou-se uma análise fatorial confirmatória (AFC) para validar os construtos. Os relacionamentos entre as variáveis observadas e seus construtos foram estimados utilizando o método da máxima verossimilhança. Na segunda etapa, o modelo híbrido foi validado por meio dos índices de ajuste do modelo global e da significância e magnitude dos coeficientes das regressões estimadas. Seguindo a recomendação de Garver e Mentzer (1999)Garver, N. S., & Mentzer, J. T. (1999). Logistics research methods: employing structural equation modeling to test for construct validity. Journal of Business Logistics, 20(1), 33-57., a validade do modelo foi ponderada por meio da verificação da validade convergente, unidimensionalidade e confiabilidade dos construtos.

A validade convergente foi analisada pela observação da magnitude e significância estatística dos coeficientes padronizados e pelos índices de ajuste absolutos: estatística qui-quadrado (Χ2), Root Mean Squares Residual(RMR, < 0,05), Root Mean Square Error of Aproximation (RMSEA, < 0,08), Goodness -of-Fit Index (GFI > 0,95) e índices de ajuste comparativos: Comparative Fit Index (CFI, > 0,95), Normed Fit Index (NFI, > 0,95), Tucker-Lewis Index (TLI, > 0,95) (Garver & Mentzer, 1999Garver, N. S., & Mentzer, J. T. (1999). Logistics research methods: employing structural equation modeling to test for construct validity. Journal of Business Logistics, 20(1), 33-57.). Para mensurar a confiabilidade, utilizou-se o alfa de Cronbach que, segundo Hair, Black, Babin, Anderson e Tatham (2009)Hair, J. R., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Multivariate data analysis (6th ed.). New Jersey: Pearson., deve possuir um valor superior a 0,6. A verificação da unidimensionalidade foi realizada mediante avaliação dos resíduos padronizados. Nesse procedimento, consideraram-se unidimensionais os construtos que apresentaram, para todos os pares formados por variáveis observadas, resíduos padronizados inferiores a 2,58 (Hair et al., 2009Hair, J. R., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Multivariate data analysis (6th ed.). New Jersey: Pearson.).

Para a análise do modelo integrado, que agrega o modelo de mensuração e o modelo estrutural, optou-se pela estratégia de aprimoramento, na qual, a partir de um modelo inicialmente proposto, são feitas modificações para chegar-se a um modelo ajustado. No procedimento de ajuste, os coeficientes de regressão não significativos foram retirados, sendo incorporadas covariâncias não previstas no início.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A pesquisa compreendeu os usuários de cartão de crédito dos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Maranhão, sendo a amostra final composta por 1.831 indivíduos. Quanto ao perfil, a maioria dos respondentes pertence ao gênero feminino (59,1%); tem, em média, 31 anos; é solteira (60,9%); de ascendência brasileira (68,4%); raça branca (66,1%); e não tem filhos/dependentes (71,5%). Quanto às características financeiras, 66,8% possuem renda média mensal de até três salários mínimos. Já em relação ao grau de escolaridade, verificou-se que representativa parcela apresenta um bom nível de instrução educacional, uma vez que 51% estão cursando ou já concluíram um curso técnico ou curso de graduação. No que tange à ocupação, os respondentes distribuíram-se entre empregado assalariado (32,3%), funcionário público (21,6%) e autônomo (9,8%).

Em relação ao número de cartões de crédito, significativa parcela relatou possuir somente um (46,9%) ou dois cartões de crédito (32,6%). Entre aqueles que possuem três ou mais cartões, somente 10,4% costumam utilizá-los ativamente. Segundo Kim e DeVaney (2001)Kim, H., & DeVaney, S. A. (2001). The determinants of outstanding balances among credit card revolvers. Financial Counseling and Planning, 12(1), 67-78. Recuperado em 10 abril, 2014, de http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216.pdf
http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216....
, a posse de maior quantidade de cartões contribui para a elevação do endividamento, tendo em vista que indivíduos detentores de maior quantidade de cartões possuem uma fonte de crédito muito superior àqueles que detêm um menor número. Quando questionados acerca da continuidade de utilização do cartão de crédito, caso a taxa de juros incidente sofresse uma elevação, 66,8% declararam que diminuiriam a frequência de uso. Apesar desse indicativo de prudência, somente 26,4% declararam conhecer o valor da taxa mensal de juros incidente sobre a dívida no cartão.

Considerando que gastar mais de 30% da renda mensal com o pagamento do cartão aumenta a propensão de o indivíduo ter dificuldades para pagar integralmente suas contas (Lyons, 2004Lyons, A. C. (2004). A profile of financially at-risk college students. The Journal of Consumer Affairs, 38(1), 56-80. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2004.tb00465.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2004...
), os participantes da pesquisa mostraram-se cautelosos e coerentes no uso do crédito, uma vez que expressiva porcentagem (67%) costuma gastar menos de 30% do salário com esse instrumento de crédito. Investigando, especificamente, a posse de dívidas no cartão de crédito, verificou-se que os indivíduos são responsáveis na hora de utilizar esse tipo de cartão, pois a maior parcela raramente ou nunca deixou de pagar o valor integral da fatura, recorreu ao saque do cartão ou ultrapassou o limite disponível considerando o período dos últimos doze meses. Importante também destacar que parcela considerável dos respondentes (70,3%) não depende do cartão para pagar despesas corriqueiras. O uso consciente e controlado do cartão de crédito fez com que 67,2% não apresentassem dívidas resultantes do não pagamento do valor integral da fatura. Dentre a parcela que apresentou dívidas, 17,8% têm dívidas entre R$ 0,01 e R$ 500,00; 6,8% entre R$ 501,00 e R$ 1.000,00; e somente 8,1% têm dívidas superiores a R$ 1.001,00. Em média, os respondentes exibem dívidas no valor de R$ 334,00. O estudo realizado por Mendes-da-Silva et al. (2012)Mendes-da-Silva, W. M., Nakamura, W. T., & De Moraes, D. C. (2012). Credit card risk behavior on college campuses: evidence from Brazil. Brazilian Administration Review, 9(3), 351-373. DOI: 10.1590/S1807-76922012000300007
https://doi.org/10.1590/S1807-7692201200...
com 769 estudantes de universidades públicas e privadas do estado de São Paulo reafirma os resultados obtidos nesta pesquisa. Para os autores, os usuários de cartão de crédito, em sua maioria, não apresentam comportamentos de risco de crédito, uma vez que não costumam utilizar o limite total disponibilizado, não costumam deixar de pagar o valor integral da fatura nem manter elevados níveis de dívida.

Verificando possíveis diferenças entre os grupos para o construto dívida no cartão de crédito, se consideradas variáveis demográficas, culturais e aspectos de uso do cartão de crédito, observaram-se diferenças de média significativas para as variáveis gênero, idade, dependentes, filhos, nível de escolaridade, renda, número de cartões de crédito, conhecimento da taxa de juros e limite do cartão, além de que indivíduos do gênero masculino, jovens, com filhos/dependentes, com menor nível de escolaridade, menor nível de renda, maior número de cartões de crédito, desconhecedores do valor da taxa de juros, alto limite de crédito são mais propensos a contrair dívidas no cartão de crédito.

Para Baek e Hong (2004)Baek, E., & Hong, G. (2004). Effects of family life-cycle stages on consumer debts. Journal of Family and Economic Issues, 25(3), 359-385. DOI: 10.1023/B:JEEI.0000039946.59422.5f
https://doi.org/10.1023/B:JEEI.000003994...
, o maior endividamento masculino e de pessoas jovens está atrelado ao fato de serem eles mais imprudentes em suas decisões financeiras e de não gerenciarem adequadamente o orçamento financeiro. Quanto ao fato de indivíduos com dependentes serem mais propensos à dívida, Wang et al. (2011)Wang, L. B., Wei Lu, A., & Malhotra, N. K. (2011). Demographics, attitude, personality and credit card features correlate with credit card debt: a view from China. Journal of Economic Psychology, 32(1), 179-193. DOI: 10.1016/j.joep.2010.11.006
https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.11.0...
apontam que a presença de um membro adicional no agregado familiar contribui para a presença de mais compromissos financeiros e, por consequência, para a maior necessidade de recursos, os quais são obtidos, em muitas ocasiões, por intermédio do cartão de crédito. Para Davies e Lea (1995)Davies, E., & Lea, S. E. G. (1995). Student attitudes to student debt. Journal of Economic Psychology, 16(4), 663-679. DOI: 10.1016/0167-4870(96)80014-6
https://doi.org/10.1016/0167-4870(96)800...
, indivíduos de baixa renda costumam endividar-se mais no cartão de crédito devido à necessidade de mais recursos financeiros para saldar compromissos ou, ainda, pelo fato de o aumento de renda não ser suficiente para acompanhar o aumento das despesas, fazendo com que continuem dispostos a usar o crédito rotativo para atender às demandas. Por fim, quanto ao fato de indivíduos com maior quantidade de cartões e maior limite de crédito serem mais propensos a contrair dívidas, Kim e DeVaney (2001)Kim, H., & DeVaney, S. A. (2001). The determinants of outstanding balances among credit card revolvers. Financial Counseling and Planning, 12(1), 67-78. Recuperado em 10 abril, 2014, de http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216.pdf
http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216....
ressaltam que a disponibilização de maior quantidade de recursos de crédito influencia os consumidores a emprestar/gastar mais dinheiro, elevando o valor da dívida.

Dando seguimento às análises, realizou-se a validação individual dos construtos. Para essa etapa foi realizada a AFC, os relacionamentos entre as variáveis observadas e seus construtos foram estimados pelo método da máxima verossimilhança. Depois de realizados todos os procedimentos cabíveis à etapa de validação, confirmou-se o ajuste de todos os construtos inicialmente propostos, com exceção do construto valores do dinheiro, uma vez que os coeficientes padronizados das variáveis mostraram-se significativos, a estatística qui-quadrado mostrou-se não significativa e foram confirmados os pressupostos de:

  • validade convergente, dado que os índices CFI, GFI, NFI e TLI foram superiores a 0,95 e os índices RMR e RMSEA foram inferiores a 0,05 e 0,08, respectivamente;

  • confiabilidade, tendo em vista que o alfa de Cronbach e a variância média extraída foram superiores ao valor mínimo de 0,6 e 0,5, respectivamente;

  • unidimensionalidade, dado que o valor de todos os resíduos padronizados foi inferior a 2,58 (p < 0,05).

Por não ter se mostrado ajustado, o construto valores do dinheiro foi retirado do modelo integrado.

Depois de realizado o processo de validação individual dos construtos, partiu-se para a construção e a avaliação do modelo integrado, o qual agrega tanto o modelo de mensuração quanto o modelo estrutural. Nesta etapa, teve-se por objetivo avaliar a estrutura teórica das hipóteses, isto é, as relações entre os construtos e as variáveis propostas no modelo. A avaliação da estrutura teórica foi feita a partir da análise da significância estatística dos coeficientes de regressão estimados e dos índices de ajuste do modelo.

A partir da análise do protótipo inicialmente proposto, verificou-se que algumas das relações estabelecidas mostraram-se não significativas e alguns índices de ajuste apresentaram-se insatisfatórios, exigindo alterações, as quais foram realizadas com base no relatório de modificações sugeridas pelo software Amos. Primeiramente, foram inseridas novas relações entre os construtos para, na sequência, serem incluídas correlações entre os erros das questões. A realização de todas essas modificações possibilitou a validação do modelo integrado, cujos resultados estão expostos na Figura 2 e nas Tabelas 1 e 2.

Figura 2
Resultado Final do Modelo Integrado
Tabela 1
Índices de Ajuste Finais do Modelo Integrado
Tabela 2
Coeficientes Padronizados e Significância das Relações do Modelo Final

Pela avaliação da Tabela 1, percebe-se que todos os índices de ajuste ficaram dentro do limite considerado ideal e a estatística qui-quadrado, apesar de ter se mantido significativa (p=0,000), apresentou razão χ2/graus de liberdade inferior a 3 (1.043,04/350 = 2,98), valor considerado aceitável (Hair et al., 2009Hair, J. R., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Multivariate data analysis (6th ed.). New Jersey: Pearson.), confirmando o ajuste do modelo.

Das 19 hipóteses inicialmente estabelecidas, seis foram rejeitadas (atitude financeira – conhecimento financeiro; dívida no cartão de crédito – conhecimento financeiro; comportamento de uso do cartão de crédito – materialismo; dívida no cartão de crédito – materialismo; compras compulsivas – valor do dinheiro; materialismo – valor do dinheiro) por não apresentarem coeficientes estatisticamente significativos a um nível de 5%.

A aceitação das hipóteses H1 e H2 confirma a influência positiva exercida pelo conhecimento financeiro e pela atitude financeira sobre o comportamento financeiro. Em outras palavras, o conhecimento e as atitudes financeiras, positivas ou negativas, desenvolvidos em relação a determinadas práticas financeiras influem no comportamento que o sujeito terá quando exposto a situações similares (Robb & Sharpe, 2009Robb, C. A., & Sharpe, D. L. (2009). Effect of personal financial knowledge on college students' credit card behavior. Journal of Financial Counseling and Planning, 20(1), 26-43.). Segundo Xiao et al. (2011)Xiao, J. J., Tang, C., Serido, J., & Shim, S. (2011). Antecedents and consequences of risky credit behavior among college students: application and extension of the theory of planned behavior. Journal of Public Policy & Marketing, 30(2), 239-258. DOI: 10.1509/jppm.30.2.239
https://doi.org/10.1509/jppm.30.2.239...
, o conhecimento financeiro influencia positivamente o comportamento de crédito, principalmente quando esse conhecimento é internalizado e incorporado por meio de atitudes financeiras positivas e desenvolvimento de um maior senso de controle. Analisando a relação dos construtos comportamento de uso do cartão de crédito – conhecimento financeiro, comportamento de uso do cartão de crédito – atitude financeira, e comportamento de uso do cartão de crédito – comportamento financeiro, constatou-se que todas se mostraram significativas e positivas, validando as hipóteses H4, H6 e H8 e confirmando a importância da alfabetização financeira para a gestão adequada do crédito. Para Xiao et al. (2011)Xiao, J. J., Tang, C., Serido, J., & Shim, S. (2011). Antecedents and consequences of risky credit behavior among college students: application and extension of the theory of planned behavior. Journal of Public Policy & Marketing, 30(2), 239-258. DOI: 10.1509/jppm.30.2.239
https://doi.org/10.1509/jppm.30.2.239...
, quanto maior for o conhecimento e melhor a atitude e o comportamento ante o uso do cartão de crédito, melhores serão as escolhas e as ações de utilização do cartão.

A significância e os sinais negativos dos coeficientes das hipóteses H7 e H9 confirmaram que a presença de atitudes e comportamentos financeiros saudáveis diminui a propensão de o indivíduo incorrer em dívidas no cartão de crédito. Esses resultados estão em linha com a ideia de que a manutenção de boas atitudes e bons comportamentos proveem as ferramentas básicas para a gestão eficaz e responsável do crédito (Mendes-da-Silva et al., 2012Mendes-da-Silva, W. M., Nakamura, W. T., & De Moraes, D. C. (2012). Credit card risk behavior on college campuses: evidence from Brazil. Brazilian Administration Review, 9(3), 351-373. DOI: 10.1590/S1807-76922012000300007
https://doi.org/10.1590/S1807-7692201200...
). Apesar de a relação entre os construtos dívida no cartão de crédito e conhecimento financeiro não ter se perpetuado, levando à rejeição da hipótese H5, constatou-se uma relação indireta entre os construtos, uma vez que o conhecimento impacta o comportamento de uso do cartão de crédito e este, por sua vez, impacta o construto dívida. Nessa perspectiva, Joo, Grable e Bagwell (2003)Joo, S. H., Grable, J. E., & Bagwell, D. C. (2003). Credit attitudes and behaviors of college students. College Student Journal, 37(3), 405-419. ratificam a necessidade de os indivíduos serem educados formalmente acerca dos riscos e consequências da má gestão do cartão de crédito de modo que consigam melhorar sua habilidade na tomada de decisões financeiras conscientes.

A aceitação da hipótese H12 confirma a existência de uma relação positiva entre os construtos compras compulsivas e materialismo, o último explicando 51% da variância do primeiro. É por meio dessa influência sobre o construto compras compulsivas que o materialismo exerce um efeito indireto sobre os construtos comportamento de uso do cartão de crédito e dívida. Para Garðarsdóttir e Dittmar (2012)Garðarsdóttir, R. B., & Dittmar, H. (2012). The relationship of materialism to debt and financial well-being: the case of Iceland's perceived prosperity. Journal of Economic Psychology, 33(6), 471-481. DOI: 10.1016/j.joep.2011.12.008
https://doi.org/10.1016/j.joep.2011.12.0...
, há um consenso quanto às implicações do materialismo sobre a força e o crescimento da economia em um contexto macroeconômico e sobre o comportamento financeiro dos indivíduos em um contexto microeconômico. Para satisfazer o forte desejo de aquisição de bens, os indivíduos materialistas assumem comportamentos de consumo compulsivos, o que os leva a comportamentos financeiros mais favoráveis ao gasto e à dívida (Xiao et al., 2011Xiao, J. J., Tang, C., Serido, J., & Shim, S. (2011). Antecedents and consequences of risky credit behavior among college students: application and extension of the theory of planned behavior. Journal of Public Policy & Marketing, 30(2), 239-258. DOI: 10.1509/jppm.30.2.239
https://doi.org/10.1509/jppm.30.2.239...
).

As próximas hipóteses, H13 e H14, que avaliaram a relação entre comportamento de uso do cartão de crédito – compras compulsivas, e dívida no cartão de crédito – compras compulsivas, foram confirmadas a um nível de significância de 5% e 1%, nessa ordem. O sinal negativo vigente na primeira relação revela que indivíduos com comportamento de consumo compulsivo tendem a ser menos responsáveis na hora de utilizar o cartão de crédito. Por outro lado, o sinal positivo da segunda relação mostra que a presença de comportamentos de compra compulsiva leva o indivíduo a incorrer mais fortemente na dívida. Segundo Roberts (1998)Roberts, J. (1998). Compulsive buying among college students: an investigation of its antecedents, consequences, and implications for public policy. Journal of Consumer Affairs, 32(2), 295-308. DOI: 10.1111/j.1745-6606.1998.tb00411.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.1998...
, não é de estranhar que os compradores compulsivos sejam mais propensos a gastar mais e a apresentar algum tipo de dívida, uma vez que buscam lidar com a baixa autoestima e o humor negativo por meio da realização de compras. A associação significativa e negativa encontrada entre os construtos comportamento de uso do cartão de crédito e dívida no cartão de crédito (β= - 0,179 p=0,000) valida a hipótese H17 e confirma a tese defendida pela literatura especializada de que bons comportamentos de gestão do crédito diminuem a probabilidade de o indivíduo tornar-se endividado. Para Robb e Pinto (2010)Robb, C. A., & Pinto, M. B. (2010, December). College students and credit card use: an analysis of financially at-risk students. College Student Journal, 44(4), 823-835., indivíduos detentores de bons comportamentos de crédito são mais propensos a gerenciar adequadamente o uso do cartão, não utilizando, por exemplo, o crédito rotativo. Por fim, a confirmação das hipóteses H18 e H19 revela a presença de relações negativas entre os construtos bem-estar financeiro – dívida no cartão de crédito, e emoções – dívida no cartão de crédito. Circunstâncias financeiras, como a má gestão do cartão de crédito e/ou a acumulação de dívidas no cartão, conforme Norvilitis et al. (2006)Norvilitis, J. M., Merwin, M. M., Osberg, T. M., Roehling, P. V., Young, P., & Kamas, M. M. (2006). Personality factors, money attitudes, financial knowledge, and credit-card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 36(6), 1395-1413. DOI: 10.1111/j.0021-9029.2006.00065.x
https://doi.org/10.1111/j.0021-9029.2006...
, têm um efeito negativo sobre o bem-estar e a satisfação dos indivíduos.

Estendendo a análise para as relações inseridas no modelo, verificou-se a existência de relações positivas entre os construtos emoções – compras compulsivas, e bem-estar financeiro – comportamento financeiro. Quanto à primeira, Roberts (1998)Roberts, J. (1998). Compulsive buying among college students: an investigation of its antecedents, consequences, and implications for public policy. Journal of Consumer Affairs, 32(2), 295-308. DOI: 10.1111/j.1745-6606.1998.tb00411.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.1998...
acredita que a realização de compras em caráter compulsivo conduza o indivíduo a graves problemas financeiros, os quais contribuem para o estresse e a presença de emoções negativas. Em relação à segunda, Norvilitis e MacLean (2010)Norvilitis, J. M., & MacLean, M. G. (2010). The role of parents in college students' financial behaviors and attitudes. Journal of Economic Psychology, 31(1), 55-63. DOI: 10.1016/j.joep.2009.10.003
https://doi.org/10.1016/j.joep.2009.10.0...
afirmam que indivíduos com fortes intenções para realizar comportamentos financeiros positivos tendem a apresentar maiores níveis de satisfação financeira e menor probabilidade de incorrer em dívidas. Também foram incluídas e validadas as relações negativas entre os construtos compras compulsivas – comportamento financeiro, materialismo – comportamento financeiro, e compras compulsivas – atitude financeira, confirmando a tese de que a presença de atitudes e comportamentos financeiros saudáveis diminui a probabilidade de o indivíduo adotar comportamentos materialistas. A adoção de práticas de gerenciamento financeiro é recomendada por especialistas como um caminho para evitar os gastos excessivos (Roberts, 1998Roberts, J. (1998). Compulsive buying among college students: an investigation of its antecedents, consequences, and implications for public policy. Journal of Consumer Affairs, 32(2), 295-308. DOI: 10.1111/j.1745-6606.1998.tb00411.x
https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.1998...
). A última associação confirmada foi a relação negativa entre os construtos bem-estar financeiro – emoções. Como no estudo avaliou-se a presença de emoções negativas, justifica-se a existência de ligação negativa entre os construtos, uma vez que, quanto mais emoções negativas o indivíduo vivenciar em virtude de dificuldades financeiras, menor será seu nível de bem-estar financeiro.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No trabalho, o propósito central foi desenvolver e validar um modelo para mensuração da dívida pessoal no cartão de crédito. Com base na literatura consultada e na técnica de modelagem de equações estruturais, mensurou-se a relação da dívida no cartão de crédito com os fatores comportamentais investigados sendo levantadas 19 hipóteses, das quais oito envolveram diretamente o construto dívida. Em termos de resultados, confirmou-se a robustez do modelo integral, na medida em que todos os índices de ajuste atingiram os níveis recomendados pela literatura e os coeficientes padronizados mostraram-se significativos, validando as relações estabelecidas. Tendo em mente as relações causais, verificou-se a validação de 13 das 19 hipóteses inicialmente propostas. Do total de hipóteses confirmadas, seis relacionam diretamente o construto dívida aos fatores comportamentais.

Nessa perspectiva, notou-se que a dívida no cartão de crédito pode ser influenciada por fatores comportamentais como o comportamento financeiro, a atitude financeira, o comportamento de uso do cartão de crédito, as compras compulsivas, o materialismo e o conhecimento financeiro, estes dois últimos de forma indireta. As pessoas detentoras de atitudes e comportamentos de gestão orçamentária, creditícia e de gestão do investimento satisfatórios, ou seja, pessoas financeiramente alfabetizadas tendem a melhor controlar e gerenciar suas finanças, evitando incorrer em dívidas. Tal conclusão traz sérias implicações, pois ratifica a necessidade de desenvolvimento de programas de educação financeira que consigam, por meio de um esforço sistemático, melhorar o conhecimento financeiro dos indivíduos e, principalmente, suas habilidades financeiras de modo que possam tomar decisões informadas e usar os serviços financeiros de forma responsável.

Num cenário de níveis exorbitantes de consumo e de estímulo ao uso do crédito, destacam-se o comportamento mantido na hora de utilizar o cartão de crédito e o comportamento de consumo compulsivo. Aqueles indivíduos que sabem aproveitar os benefícios do cartão de crédito e sabem, igualmente, utilizá-lo de forma responsável e equilibrada, não extrapolando os limites do orçamento, são menos predispostos a se endividarem. De forma similar, aqueles com bons comportamentos de compra, isto é, aqueles que não consideram central para sua vida a aquisição e a posse de bens materiais, tendem a apresentar menores níveis de dívida no cartão de crédito. Considerando-se as consequências da dívida, no estudo comprovou-se sua influência sobre o bem-estar financeiro e sobre as emoções. Dessa forma, pessoas endividadas sentem-se menos satisfeitas com sua situação financeira presente e menos confiantes em uma situação financeira futura confortável. Além disso, a presença de dívidas acarreta sensações de tristeza, ansiedade, nervosismo, podendo, inclusive, afetar as relações sociais, profissionais e familiares dos endividados.

Antes de discutir as contribuições e implicações do estudo, algumas limitações devem ser mencionadas. Em termos metodológicos, alerta-se sobre a não generalização da amostra, a qual, apesar de heterogênea e representativa de diferentes culturas, precisa ser ampliada, a fim de fornecer resultados mais completos e densos. Quanto à técnica de coleta de dados, a pesquisa survey baseada em um questionário estruturado, apesar das vantagens, como possibilitar a investigação de grande número de pessoas, abre brecha para a omissão de dados e o preenchimento de informações inverídicas, que ocasionam desvios no resultado e diminuem a credibilidade da pesquisa.

Apesar dos problemas ressaltados, os resultados obtidos confirmam as conjecturas defendidas pela teoria das finanças comportamentais. Um dos trabalhos seminais nesse campo de estudo foi desenvolvido por Kahneman e Tversky (1979)Kahneman, D., & Tversky, A. (1979). Prospect theory: an analysis of decision under risk. Econometrica, 47(2), 263-292. DOI: 10.2307/1914185
https://doi.org/10.2307/1914185...
, que identificaram diversas situações nas quais os agentes são afetados por vícios emocionais e fatores cognitivos e tendem a utilizar atalhos mentais para simplificar o processo decisório. Tais situações acabam por colocar em xeque alguns dos principais axiomas que sustentam a teoria da racionalidade plena do decisor. Assim, no presente trabalho, também se demonstrou que o processo de tomada de decisões financeiras não é plenamente racional, sendo influenciado por questões comportamentais.

Como uma das principais contribuições, destaca-se o desenvolvimento de um modelo de mensuração das causas e consequências da dívida no cartão de crédito. O reconhecimento das variáveis associadas à dívida pode ajudar na construção de modelos de concessão de crédito mais robustos e, por consequência, contribuir para a prevenção e redução dos níveis de endividamento.

Para trabalhos futuros, sugere-se que o assunto seja explorado em pesquisas de caráter longitudinal, necessárias para acompanhar mais de perto o nível de utilização e endividamento no cartão de crédito. Temáticas que liguem o estudo a partir de um corte longitudinal e incorporem novas perspectivas devem ser objeto de estudos acadêmicos em face de suas implicações gerenciais. Novos estudos com vistas a compreender a(s) melhor(es) maneira(s) de evitar a sobrecarga de dívidas no cartão de crédito e examinar o efeito de grandes saldos devedores no cartão sobre o consumo e o bem-estar das famílias com dados longitudinais são possibilidades interessantes de pesquisa.

REFERÊNCIAS

  • Ajzen, I. (1991). The theory of planned behavior. Organizational Behavior and Human Decision Processes, 50(2), 179-211. DOI: 10.1016/0749-5978(91)90020-T
    » https://doi.org/10.1016/0749-5978(91)90020-T
  • Amadeu, J. R. (2009). A educação financeira e sua influência nas decisões de consumo e investimento: proposta de inserção da disciplina na matriz curricular Dissertação de Mestrado, Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente, SP, Brasil.
  • Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito (ABECS). (2012). Mercado de cartões consolidado. Recuperado em 16 janeiro, 2014, de http://www.abecs.org.br
    » http://www.abecs.org.br
  • Atkinson, A., & Messy, F. (2012). Measuring financial literacy: results of the OECD / International Network on Financial Education (INFE) pilot study. Working Paper Nº 15. OECD Publishing. Recuperado em 5 abril, 2014, de http://dx.doi.org/10.1787/5k9csfs90fr4-en
    » http://dx.doi.org/10.1787/5k9csfs90fr4-en
  • Baek, E., & Hong, G. (2004). Effects of family life-cycle stages on consumer debts. Journal of Family and Economic Issues, 25(3), 359-385. DOI: 10.1023/B:JEEI.0000039946.59422.5f
    » https://doi.org/10.1023/B:JEEI.0000039946.59422.5f
  • Bertaut, C. C., & Haliassos, M. (2005). Credit cards: facts and theories. Social Science Research Network Recuperado em 15 abril, 2014, de http://ssrn.com/abstract=931179 DOI: 10.2139/ssrn.931179
    » https://doi.org/10.2139/ssrn.931179» http://ssrn.com/abstract=931179
  • Claudino, L. P., Nunes, M. B., & Silva, F. C. da. (2009). Finanças pessoais: um estudo de caso com servidores públicos. Anais do Seminários em Administração – SemeAd São Paulo, SP, Brasil, 9.
  • Davies, E., & Lea, S. E. G. (1995). Student attitudes to student debt. Journal of Economic Psychology, 16(4), 663-679. DOI: 10.1016/0167-4870(96)80014-6
    » https://doi.org/10.1016/0167-4870(96)80014-6
  • Delavande, A., Rohwedder, S., & Willis, R. J. (2008). Preparation for retirement, financial literacy and cognitive resources [Working Paper Nº 2008-190]. Michigan Retirement Research Center. Social Science Research Network Recuperado em 25 abril, 2014, de http://www.mrrc.isr.umich.edu/publications/papers/pdf/wp190.pdf DOI: 10.2139/ssrn.1337655
    » https://doi.org/10.2139/ssrn.1337655» http://www.mrrc.isr.umich.edu/publications/papers/pdf/wp190.pdf
  • Dias, C. S., Cruz, J. F., & Fonseca, A. M. (2010). Emoções: passado, presente e futuro. Revista Psicologia, 22(2), 11-31.
  • Disney, R., & Gathergood, J. (2011). Financial literacy and indebtedness: new evidence for UK consumers. EconPapers (discussion papers), Nottingham, UK: University of Nottingham, Centre for Finance, Credit and Macroeconomics (CFCM). Recuperado em 10 abril, 2014, de http://econpapers.repec.org/paper/notnotcfc/11_2f05.htm
    » http://econpapers.repec.org/paper/notnotcfc/11_2f05.htm
  • Dittmar, H. (2004). Understanding and diagnosing compulsive buying. In R. Coombs (Ed.), Handbook of addictive disorders: a practical guide to diagnosis and treatment. New York: Wiley.
  • Dittmar, H., Long, K., & Bond, R. (2007). When a better self is only a button click away: associations between materialistic values, emotional and identity – related buying motives, and compulsive buying tendency online. Journal of Social and Clinical Psychology, 26(3), 334-361. DOI: 10.1521/jscp.2007.26.3.334
    » https://doi.org/10.1521/jscp.2007.26.3.334
  • Garðarsdóttir, R. B., & Dittmar, H. (2012). The relationship of materialism to debt and financial well-being: the case of Iceland's perceived prosperity. Journal of Economic Psychology, 33(6), 471-481. DOI: 10.1016/j.joep.2011.12.008
    » https://doi.org/10.1016/j.joep.2011.12.008
  • Garver, N. S., & Mentzer, J. T. (1999). Logistics research methods: employing structural equation modeling to test for construct validity. Journal of Business Logistics, 20(1), 33-57.
  • Hair, J. R., Black, W. C., Babin, B. J., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Multivariate data analysis (6th ed.). New Jersey: Pearson.
  • Joo, S. H., Grable, J. E., & Bagwell, D. C. (2003). Credit attitudes and behaviors of college students. College Student Journal, 37(3), 405-419.
  • Jorgensen, B. L., & Savla, J. (2010). Financial literacy of young adults: The importance of parental socialization. Family Relations, 59(4), 465-478. DOI: 10.1111/j.1741-3729.2010.00616.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1741-3729.2010.00616.x
  • Kahneman, D., & Tversky, A. (1979). Prospect theory: an analysis of decision under risk. Econometrica, 47(2), 263-292. DOI: 10.2307/1914185
    » https://doi.org/10.2307/1914185
  • Katona, G. (1975). Psychological economics New York: Elsevier.
  • Kim, H., & DeVaney, S. A. (2001). The determinants of outstanding balances among credit card revolvers. Financial Counseling and Planning, 12(1), 67-78. Recuperado em 10 abril, 2014, de http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216.pdf
    » http://www.afcpe.org/assets/pdf/vol1216.pdf
  • Kline, R. B. (1998). Principles and practice of structural equation modeling New York: The Guilford Press.
  • Koram, L. M., Faber, R. J., Aboujaoude, E., Large, M. D., & Serpe, R. T. (2006). Estimated prevalence of compulsive buying behavior in the United States. The American Journal of Psychiatry, 163(10), 1806-1812. DOI: 10.1176/appi.ajp.163.10.1806 e 10.1176/ajp.2006.163.10.1806
    » https://doi.org/10.1176/appi.ajp.163.10.1806» https://doi.org/10.1176/ajp.2006.163.10.1806
  • Lamcobe, F. (2012). Dicionário de negócios Porto Alegre: Saraiva.
  • Leite, P. L., Rangé, B. P., Ribas, R. C. JR., Filomensky, T. Z., & Oliveira e Silva, A. C. (2011). Tradução e adaptação semântica da compulsive buying scale para o português brasileiro. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 60(3), 176-181.
  • Lyons, A. C. (2004). A profile of financially at-risk college students. The Journal of Consumer Affairs, 38(1), 56-80. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2004.tb00465.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2004.tb00465.x
  • Macedo Jr., J. S., Kolinski, R., & De Morais, J. C. J. (2011). Finanças comportamentais: como o desejo, o poder, o dinheiro e as pessoas influenciam nossas decisões São Paulo: Atlas.
  • MacGee, J. (2012). The rise in consumer credit and bankruptcy: cause for concern? Social Science Research Network Recuperado em 14 abril, 2014, de http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2046574 DOI: 10.2139/ssrn.2046574
    » https://doi.org/10.2139/ssrn.2046574» http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=2046574
  • Matta, R. C. B. (2007). Oferta e demanda de informação financeira pessoal: o Programa de Educação Financeira do Banco Central do Brasil e os universitários do Distrito Federal Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.
  • Mendes-da-Silva, W. M., Nakamura, W. T., & De Moraes, D. C. (2012). Credit card risk behavior on college campuses: evidence from Brazil. Brazilian Administration Review, 9(3), 351-373. DOI: 10.1590/S1807-76922012000300007
    » https://doi.org/10.1590/S1807-76922012000300007
  • Moreira, A. S. (2000). Valores e dinheiros: um estudo transcultural das relações entre prioridades de valores e significado do dinheiro para indivíduos Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.
  • Moura, A. G. (2005). Impacto dos diferentes níveis de materialismo na atitude ao endividamento e no nível de dívida para financiamento do consumo nas famílias de baixa renda do município de São Paulo Dissertação de Mestrado, Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, SP, Brasil.
  • Nelson, M. C., Lust, K., Story, M., & Ehlinger, E. (2008). Credit card debt, stress and key health risk behaviors among college students. American Journal of Health Promotion, 22(6), 400-407. DOI: 10.4278/ajhp.22.6.400
    » https://doi.org/10.4278/ajhp.22.6.400
  • Norvilitis, J. M., & MacLean, M. G. (2010). The role of parents in college students' financial behaviors and attitudes. Journal of Economic Psychology, 31(1), 55-63. DOI: 10.1016/j.joep.2009.10.003
    » https://doi.org/10.1016/j.joep.2009.10.003
  • Norvilitis, J. M., Merwin, M. M., Osberg, T. M., Roehling, P. V., Young, P., & Kamas, M. M. (2006). Personality factors, money attitudes, financial knowledge, and credit-card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 36(6), 1395-1413. DOI: 10.1111/j.0021-9029.2006.00065.x
    » https://doi.org/10.1111/j.0021-9029.2006.00065.x
  • Norvilitis, J. M., Szablicki, P. B., & Wilson, S. D. (2003). Factors influencing levels of credit card debt in college students. Journal of Applied Social Psychology, 33(5), 935-947. DOI: 10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1559-1816.2003.tb01932.x
  • Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). (2013). Financial literacy and inclusion: Results of OECD/INFE survey across countries and by gender Paris, France: OECD Centre.
  • Pirog, S. F., & Roberts, J. A. (2007). Personality and credit card misuse among college students: the mediating role of impulsiveness. Journal of Marketing Theory and Practice, 15(1), 65-77. DOI: 10.2753/MTP1069-6679150105
    » https://doi.org/10.2753/MTP1069-6679150105
  • Richins, M. L. (2004). The material values scale: a re-inquiry into its measurement properties and the development of a short form. Journal of Consumer Research, 31(4), 209-219. DOI: 10.1086/383436
    » https://doi.org/10.1086/383436
  • Richins, M. L. (2011). Materialism, transformation expectations, and spending: implications for credit use. Journal of Public Policy & Marketing, 30(2), 141-156. DOI: 10.1509/jppm.30.2.141
    » https://doi.org/10.1509/jppm.30.2.141
  • Richins, M. L., & Dawson, S. (1992). A consumer values orientation for materialism and its measurement: scale development and validation. Journal of Consumer Research, 19(3), 303-316. DOI: 10.1086/209304
    » https://doi.org/10.1086/209304
  • Robb, C. A., & Pinto, M. B. (2010, December). College students and credit card use: an analysis of financially at-risk students. College Student Journal, 44(4), 823-835.
  • Robb, C. A., & Sharpe, D. L. (2009). Effect of personal financial knowledge on college students' credit card behavior. Journal of Financial Counseling and Planning, 20(1), 26-43.
  • Roberts, J. (1998). Compulsive buying among college students: an investigation of its antecedents, consequences, and implications for public policy. Journal of Consumer Affairs, 32(2), 295-308. DOI: 10.1111/j.1745-6606.1998.tb00411.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.1998.tb00411.x
  • Roberts, J. A., & Jones, E. (2001). Money attitudes, credit card use, and compulsive buying among American college students. Journal of Consumer Affairs, 35(2), 213-240. DOI: 10.1111/j.1745-6606.2001.tb00111.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1745-6606.2001.tb00111.x
  • Rooij, M. C. J. V., Lusardi, A., & Alessie, R. J. M. (2011). Financial literacy and retirement planning in the Netherlands. Journal of Economic Psychology, 32(4), 593-608. DOI: 10.1016/j.joep.2011.02.004
    » https://doi.org/10.1016/j.joep.2011.02.004
  • Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) (2013). Pesquisa de inadimplência. Recuperado em 16 abril, 2014, de http://www.acsp.com.br/indicadores/indicadores.html
    » http://www.acsp.com.br/indicadores/indicadores.html
  • Sevim, N., Temizel, F., & Sayilir, O. (2012). The effects of financial literacy on the borrowing behavior of Turkish financial consumers. International Journal of Consumer Studies, 36(5), 573-579. DOI: 10.1111/j.1470-6431.2012.01123.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1470-6431.2012.01123.x
  • Shockey, S. S. (2002). Low-wealth adults financial literacy. Money management behavior and associates factors, including critical thinking Tese, Universidade de Utah, Estados Unidos.
  • Silva, P. R. (2011). Psicologia do risco de crédito: análise da contribuição de variáveis psicológicas em modelos de credit scoring. Tese de Doutorado, Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, SP, Brasil.
  • Veludo-de-Oliveira, T. M., Ikeda, A. A., & Santos, R. C. (2004). Compra compulsiva e a influência do cartão de crédito. Revista de Administração de Empresas (RAE), 44(3), 89-99.
  • Vitt, L. A., Anderson, C., Kent, J., Lyter, D. M., Siegenthaler, J. K., & Ward, J. (2000). Personal finance and the rush to competence: Financial literacy dducation in the U.S. 2000 Middleburg, Virginia: Institute for Socio-Financial Studies. Recuperado em 24 abril, 2014, de http://www.isfs.org/documents-pdfs/rep-finliteracy.pdf
    » http://www.isfs.org/documents-pdfs/rep-finliteracy.pdf
  • Xiao, J. J., Tang, C., Serido, J., & Shim, S. (2011). Antecedents and consequences of risky credit behavior among college students: application and extension of the theory of planned behavior. Journal of Public Policy & Marketing, 30(2), 239-258. DOI: 10.1509/jppm.30.2.239
    » https://doi.org/10.1509/jppm.30.2.239
  • Wang, L. B., Wei Lu, A., & Malhotra, N. K. (2011). Demographics, attitude, personality and credit card features correlate with credit card debt: a view from China. Journal of Economic Psychology, 32(1), 179-193. DOI: 10.1016/j.joep.2010.11.006
    » https://doi.org/10.1016/j.joep.2010.11.006

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2015

Histórico

  • Recebido
    06 Set 2014
  • Aceito
    14 Jan 2015
Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo Avenida Professor Luciano Gualberto, 908, sala F184, 05508-900 São Paulo / SP Brasil, Tel./Fax 55 11 3818-4002 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rausp@usp.br