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Antecedentes à transição de carreira dos profissionais de Tecnologia da Informação

Antecedents to career transition of Information Technology professional

Antecedentes a la transición de carrera de profesionales de Tecnología de la Información

RESUMO

Na pesquisa aqui relatada, investigou-se a migração dos profissionais de Tecnologia da Informação (TI) para outras áreas funcionais, fenômeno denominado turnaway, por meio da identificação dos antecedentes associados à intenção dos profissionais de TI em abandonar essa área. Para atingir esse objetivo, realizou-se uma pesquisa explanatória, operacionalizada por meio de uma revisão bibliográfica, visando à proposição de um modelo estrutural que explicasse tal fenômeno, assim como à elaboração das respectivas hipóteses de pesquisa associadas à transição de carreira do profissional de TI. Em seguida, por meio de investigação empírica operacionalizada via web-survey e aplicação de técnicas estatísticas multivariadas de modelagem de equações estruturais, testaram-se o modelo proposto e as hipóteses elencadas. Como resultado, foram suportados como antecedentes estatisticamente significantes da transição de carreira do profissional de TI para outras áreas funcionais: exaustão com o trabalho na área de TI, insatisfação com a área de TI em geral, necessidade de adquirir novas experiências profissionais para se manter atrativo ao mercado de trabalho, necessidade de crescimento profissional, assim como prévia e consciente capacitação e desenvolvimento gerenciais. Ao final, foram apresentadas as implicações gerenciais oriundas deste trabalho e as limitações da pesquisa.

Palavras-chave:
transição de carreira; profissionais de TI; turnaway; carreira em Tecnologia da Informação

ABSTRACT

This research investigates the transition of Information Technology (IT) professionals to other functional areas, a phenomenon named as "turn away", via the identification of the antecedents associated with IT professionals' intention to abandon this area. In order to achieve this purpose, an explanatory research was conducted and operationalized literature review, aiming the proposition of a structural model that could explain that phenomenon, as well as the development of respective research hypothesis associated with the IT professional career transition. Then, by adopt­ing an empirical approach operationalized by means of a web-survey and the application of multivariate statistics techniques based on structural equations modelling, the proposed model, as well as the research hypothesis, were tested. As a result, exhaustion with work in the IT area, dissatisfaction with the IT area in general, the need to acquire further professional experience to remain attractive to the job market, the need for professional growth, as well as previous and conscious managerial training and development, were supported as statistically significant antecedents of IT professional career transition to other functional areas. Lastly, managerial implications arising from this work, as well as the research limitations were presented.

Keywords:
career transition; IT professionals; turn away; career in Information Technology

RESUMEN

En este trabajo se analiza la migración de los profesionales de Tecnología de la Información (TI) a otras áreas funcionales, fenómeno conocido como turnaway, por medio de la identificación de los antecedentes relacionados con la intención de los profesionales de TI de dejar esta área. Para ello, se ha llevado a cabo una investigación explicativa a partir de una revisión bibliográfica, con el fin de proponer un modelo estructural que explicara dicho fenómeno y elaborar las respectivas hipótesis de investigación relativas a la transición de carrera del profesional de TI. A continuación, mediante una investigación empírica realizada por medio de un web-survey y la aplicación de técnicas estadísticas multivariadas de modelos de ecuaciones estructurales, se han puesto a prueba el modelo propuesto y las hipótesis de investigación elaboradas. Como resultado, se han confirmado como antecedentes estadísticamente significativos de la transición de carrera del profesional de TI a otras áreas funcionales: el agotamiento con el trabajo en el área de TI; la insatisfacción con el área de TI en general; la necesidad de obtener nuevas experiencias profesionales para mantenerse atractivo al mercado de trabajo; la necesidad de desarrollo profesional; así como el consciente y previo desarrollo gerencial. Por último, se presentan implicaciones gerenciales oriundas de este trabajo y las limitaciones de la investigación.

Palabras clave:
transición de carrera; profesionales de TI; turnaway; carrera profesional en Tecnología de la Información

1. INTRODUÇÃO

Na medida em que as organizações investem crescentemente em tecnologia da informação (TI) e tal tecnologia influencia cada vez mais os seus processos de negócios (Kretschmer, 2012Kretschmer, T. (2012). Information and communication technologies and productivity growth: A survey of the literature. OECD Digital Economy Papers, n. 195. OECD Publishing.), tem aumentado a preocupação com o gerenciamento de profissionais de TI, pois a sua contratação e a sua capacitação envolvem investimentos significativos. Segundo alguns autores, a gestão dos recursos humanos é a variável crítica da gestão de TI (Barton & Martin, 1982Barton, K. M., & Martin, D. C. (1982). Managing information systems personnel: A review of the literature and managerial implications. MIS Quarterly, 6(4), 49-70. doi: 10.2307/248991
https://doi.org/10.2307/248991...
; Lounsbury, Moffitt, Gibson, Drost, & Stevenson, 2007Lounsbury, J. W., Moffitt, L., Gibson, L. W., Drost, A. W., & Stevenson, M. W. (2007). An investigation of personality traits in relation to the job and career satisfaction of information technology professionals. Journal of Information Technology, 22, 174-183. doi: 10.1177/1069072703254501
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). Por outro lado, em meio à intensa dinâmica da área de TI, os profissionais desse setor têm sido fortemente exigidos profissionalmente, sendo obrigados a possuir elevada capacidade técnica, flexibilidade e mobilidade (Loogma, Umarik, & Vilu, 2004Loogma, K., Umarik, M., & Vilu, R. (2004). Identification-flexibility dilemma of IT specialists. Career Development International, 9(3), 323-348. Disponível em http://dx.doi.org/10.1108/13620430410535878
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; Vreuls & Joia, 2012Vreuls, E. H., & Joia, L. A. (2012). Proposição de um modelo exploratório dos fatores relevantes para o desempenho profissional do CIO brasileiro. Revista de Administração [RAUSP], 47(2), 307-324. Disponível em http://dx.doi.org/10.5700/rausp1041
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). Assim, as empresas têm tido dificuldade para motivar e reter seus profissionais de TI, bem como para alcançar o desejado alinhamento estratégico de TI com o negócio (Tallon & Pinsonneault, 2011Tallon, P.P., & Pinsonneault, A. (2011). Competing perspectives on the link between strategic information technology alignment and organizational agility: Insights from a mediation model. MIS Quarterly, 35(2), 463-484.), já que o profissional de TI tem dificuldade em se manter motivado e responder aos intensos desafios que enfrenta, tendo que aprender, simultaneamente, a ter forte identificação com a área técnica e a ser flexível (Loogma et al., 2004Loogma, K., Umarik, M., & Vilu, R. (2004). Identification-flexibility dilemma of IT specialists. Career Development International, 9(3), 323-348. Disponível em http://dx.doi.org/10.1108/13620430410535878
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; Vreuls & Joia, 2012Vreuls, E. H., & Joia, L. A. (2012). Proposição de um modelo exploratório dos fatores relevantes para o desempenho profissional do CIO brasileiro. Revista de Administração [RAUSP], 47(2), 307-324. Disponível em http://dx.doi.org/10.5700/rausp1041
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).

Nesse contexto, dois problemas extremos têm sido observados com alguma frequência em relação a esses profissionais: o turnover - situação em que o profissional muda de emprego, mas ainda se mantém na área de TI - e o turnaway - situação em que o profissional abandona a área, assumindo posição em outra área funcional da empresa ou fora dela, muitas vezes evoluindo para uma posição gerencial (Joseph, & Ang, 2001Joseph, D., & Ang, S. (2001). The threat-rigidity model of professional obsolescence and its impact on occupational mobility behaviors of IT professionals. Proceedings of the International Conference on Information Systems, New Orleans, LA, USA, 22.; Joseph, Boh, Ang, & Slaughter, 2012Joseph, D., Boh, W. F., Ang, S., & Slaughter, S. (2012). The career paths less (or more) traveled: A sequence analysis of it career histories, mobility patterns, and career success. MIS Quarterly, 36(2), 427-452.).

A relevância desta pesquisa é fundamentada pela atual falta de profissionais de TI adequadamente capacitados para trabalhar no setor produtivo nacional. Isso pode ser comprovado pelos dados divulgados pela Brasscom - Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação -, que calculou, em 2014, no Brasil, um déficit de mais de 45.000 profissionais de TI. Além disso, a projeção da Brasscom indica que oito estados analisados - São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Paraná, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Sul - precisavam de 78 mil profissionais de tecnologia da informação em 2014, mas apenas 33 mil concluíram os cursos de TI naquele ano. De acordo com a entidade, para reverter esse cenário, é necessário reter os alunos nos cursos superiores, já que a média da evasão escolar em TI foi de 87% em 2010 (disponível em http://bit.ly/jluxkf).

Dessa forma, pode-se imaginar que o fenômeno do turn­away não esteja sendo mensurado no País e, ainda, que esse fenômeno esteja passando despercebido pelos órgãos governamentais, o que corrobora, ainda mais, a importância de estudos que investiguem as causas de tal fenômeno (Mangia, 2013Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.).

Assim, neste trabalho visa-se responder à seguinte pergunta de pesquisa: "Quais os antecedentes da transição de carreira dos profissionais de TI para outras áreas?" Em outras palavras, no artigo tem-se por objetivo principal identificar as razões que levam os profissionais de TI a mudarem dessa área para outras áreas funcionais, em fenômeno denominado de turnaway. Além disso, como objetivo intermediário, no trabalho visam-se elencar as implicações associadas à transição de carreira em TI, tanto para o profissional de TI como para as organizações, listando recomendações que evitem essa transição de carreira.

O artigo estrutura-se como apresentado a seguir. Após esta introdução, apresenta-se o referencial teórico usado no trabalho e as hipóteses de pesquisa dele derivadas, as quais são testadas posteriormente. Em seguida, descrevem-se os procedimentos metodológicos adotados. A metodologia baseia-se em survey realizado com profissionais de TI brasileiros, analisando-se os dados coletados via abordagem quantitativa, fundamentada em modelagem de equações estruturais. Na seção seguinte, os resultados obtidos, a partir do teste das hipóteses, são apresentados e, em seguida, discutem-se esses resultados e apresentam-se as implicações gerenciais derivadas deste trabalho, tanto para os profissionais de TI como para as empresas em geral. Finalmente, na última seção, são apresentadas as conclusões finais e descritas as limitações da pesquisa.

2. REFERENCIAL TEÓRICO E HIPÓTESES DE PESQUISA

Nesta seção, examina-se o referencial teórico a respeito da transição de carreira empreendida por profissionais de TI. Ao longo desta análise, serão levantadas diversas hipóteses de pesquisa para investigação e teste por meio dos procedimentos metodológicos explicitados adiante.

2.1. A transição de carreira do profissional de TI

A área de pesquisa em que o problema de pesquisa deste artigo se localiza - gerenciamento da carreira do profissional de TI -, tem literatura científica desenvolvida desde a década de 1980 (por exemplo, Ang & Slaughter, 2000Ang, S., & Slaughter, S. (2000). The missing context of information technology personnel: A review and future directions for research. In R.W. Zmud (Ed.), Framing the domains of it management: Projecting the future through the past (pp. 305-327). Cincinnati: Pinnaflex Educational Resources.; Barton & Martin, 1982Barton, K. M., & Martin, D. C. (1982). Managing information systems personnel: A review of the literature and managerial implications. MIS Quarterly, 6(4), 49-70. doi: 10.2307/248991
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; Igbaria, Greenhaus, & Parasuraman, 1991Igbaria, M., Greenhaus, J. H., & Parasuraman, S. (1991). Career orientations of MIS employees: an empirical analysis. MIS Quarterly, 15(2), 151-169. doi: 10.2307/249376
https://doi.org/10.2307/249376...
; Joseph et al., 2012Joseph, D., Boh, W. F., Ang, S., & Slaughter, S. (2012). The career paths less (or more) traveled: A sequence analysis of it career histories, mobility patterns, and career success. MIS Quarterly, 36(2), 427-452.; Joseph, Ng, Koh, & Ang, 2007Ng, T. W. H., & Feldman, D. C. (2007). Organizational embeddedness and occupational embeddedness across career stages. Journal of Vocational Behavior, 70(2), 336-351. doi: 10.1016/j.jvb.2006.10.002
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2006.10.00...
; Joseph, Tan, & Ang, 2011Joseph, D., Tan, M.L., & Ang, S. (2011). Is updating play or work? The mediating role of updating orientation in the threat of profesional obsolescence-mobility intentions link. International Journal of Social and Organizational Dynamics, 1(4), 37-47. doi: 10.4018/ijsodit.2011100103
https://doi.org/10.4018/ijsodit.20111001...
; Lee, 2002Lee, P. C. B. (2002). Career goals and career management strategy among information technology professionals. Career Development International, 7(1), 6-13. doi: 10.1108/13620430210414829
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; Lounsbury et al., 2007Lounsbury, J. W., Moffitt, L., Gibson, L. W., Drost, A. W., & Stevenson, M. W. (2007). An investigation of personality traits in relation to the job and career satisfaction of information technology professionals. Journal of Information Technology, 22, 174-183. doi: 10.1177/1069072703254501
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; Nelson, Darais, Buche, & Rice, 2001Nelson, K. M., Darais, K. M., Buche, M., & Rice, S. (2001). Identifying the constructs of IT personnel transition. Proceedings of the Americas Conference on Information Systems, Boston, MA, 7.; Turner & Baroudi, 1986Turner, J., & Baroudi, J. (1986). The management of information systems occupations: A research agend. ACM SIGCPR Computer Personnel, 10(4), 2-11. doi: 10.1145/15467.15468
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). Entretanto, a maior parte dessa literatura analisa o fenômeno do turnover do profissional de TI, isto é, sua transição para a área de TI de outras organizações. Em relação ao fenômeno do turnaway do profissional de TI, ou seja, sua transição para outra área funcional na mesma ou em outra organização, a situação é mais complexa, já que o problema não é bem entendido nem adequadamente investigado na literatura científica em Sistemas de Informação (Ang & Slaughter, 2000Ang, S., & Slaughter, S. (2000). The missing context of information technology personnel: A review and future directions for research. In R.W. Zmud (Ed.), Framing the domains of it management: Projecting the future through the past (pp. 305-327). Cincinnati: Pinnaflex Educational Resources.; Nelson et al., 2001Nelson, K. M., Darais, K. M., Buche, M., & Rice, S. (2001). Identifying the constructs of IT personnel transition. Proceedings of the Americas Conference on Information Systems, Boston, MA, 7.; Shropshire & Kadlec, 2012Shropshire, J., & Kadlec, C. (2012). I'm leaving the IT field: the impact of stress, job insecurity, and burnout on IT professionals. International Journal of Information and Communication Technology Research, 2(1), 6-16.).

Kaiser (1983)Kaiser, K.M. (1983). Dp career paths. Datamation, 29(12), 178-188., por exemplo, percebeu que os profissionais de TI mudavam de carreira dentro das suas organizações pelas restritas oportunidades de crescimento profissional que lhes eram oferecidas. Por sua vez, Reich e Kaarst-Brown (1999Reich, B. H., & Kaarst-Brown (1999). Seeding the line: Understanding the transition from IT to non-IT careers. MIS Quarterly, 3(3), 337-364. doi: 10.2307/249467
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, 2003)Reich, B. H., & Kaarst-Brown (2003). Creating social and intellectual capital through it career transitions. Journal of Strategic Information Systems, 12(4), 91-109. doi: 10.1016/S0963-8687(03)00017-9
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ofereceram uma explicação alternativa à transição de carreira de profissionais de TI para outras áreas funcionais. Para esses autores, devido à ubiquidade da TI nas empresas e ao fato de muitos profissionais de TI ganharem experiência e vivência em outras áreas funcionais enquanto desenvolvem sistemas para essas áreas, as próprias empresas estimulam a transição de carreira de alguns de seus profissionais de TI para outras áreas funcionais. Adicionalmente, Joseph et al. (2012)Joseph, D., Boh, W. F., Ang, S., & Slaughter, S. (2012). The career paths less (or more) traveled: A sequence analysis of it career histories, mobility patterns, and career success. MIS Quarterly, 36(2), 427-452. procuraram mapear a trajetória de carreira de profissionais de TI. No entanto, os autores afirmam que seu estudo tem várias limitações, as quais impedem a generalização dos resultados encontrados (p. 447).

Assim, não obstante alguns autores terem investigado especificamente a transição de carreira do profissional de TI para outras áreas funcionais, há ainda muito pouca pesquisa desenvolvida nessa área do conhecimento (Shropshire & Kadlec, 2012Shropshire, J., & Kadlec, C. (2012). I'm leaving the IT field: the impact of stress, job insecurity, and burnout on IT professionals. International Journal of Information and Communication Technology Research, 2(1), 6-16., p. 6). Além disso, os resultados obtidos nas pesquisas existentes sobre esse assunto são limitados, seja pela tipologia da amostra analisada, seja pelo contexto específico em que as pesquisas foram desenvolvidas (Joseph et al., 2012Joseph, D., Boh, W. F., Ang, S., & Slaughter, S. (2012). The career paths less (or more) traveled: A sequence analysis of it career histories, mobility patterns, and career success. MIS Quarterly, 36(2), 427-452., p. 447).

Embora pouco estudadas no âmbito de TI, áreas como Saúde (Flinkman, Laine, Leino-Kilpi, Hasselhorn, & Salanterä, 2008Flinkman, M., Laine, M., Leino-Kilpi, H., Hasselhorn, H.-M., & Salanterä, S. (2008). Explaining young finnish nurses' intention to leave the profession: A questionnaire survey. International Journal of Nursing Studies, 45(5), 727-739. doi: 10.1016/j.ijnurstu.2006.12.006
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), Engenharia (Emison, 2011Emison, G. (2011). Transformative leadership for engineering in a time of complexity. Leadership & Management in Engineering, 11(2), 97-102.), Contabilidade (Carleton, 2011Carleton, K. (2011). How to motivate and retain knowledge workers in organizations: A review of the literature. International Journal of Management, 28(2), 459-468.), Seguros (Miley, 2011Miley, J. (2011). Turning a passion into a second career. Kiplinger's Personal Finance, 65(7), 80-81.), entre outras, têm, há anos, estudado o fenômeno da transição de carreira de seus profissionais. Dessa forma, segundo Shropshire e Kadlec (2012)Shropshire, J., & Kadlec, C. (2012). I'm leaving the IT field: the impact of stress, job insecurity, and burnout on IT professionals. International Journal of Information and Communication Technology Research, 2(1), 6-16., torna-se importante procurar estudos nessas áreas, os quais possam ser adaptados ao fenômeno do turnaway de profissionais de TI, assim como se valer da vasta literatura científica sobre turnover em TI [Joseph et al. (2007)Joseph, D., Ng, K., Koh, C., & Ang, S. (2007). Turnover of information technology professionals: A narrative review, meta-analytic structural equation modeling, and model development. MIS Quarterly, 31(3), 547-577. desenvolveram uma meta-análise de 31 estudos sobre turnover dos profissionais de TI], identificando similaridades com o fenômeno de turnaway dos profissionais de TI.

Assim, procedeu-se à revisão de literatura sobre a carreira do profissional de TI, por meio da busca por artigos acerca dessa temática em bases de dados científicas, sendo a literatura científica coletada, utilizada de forma adequada, para analisar especificamente o fenômeno do turnaway do profissional de TI, de modo que hipóteses de pesquisa relativas aos antecedentes a esse fenômeno pudessem ser formuladas, como apresentado a seguir, para serem testadas segundo os procedimentos metodológicos adotados neste trabalho.

2.2. Hipóteses de pesquisa

Segundo vários autores, a necessidade de crescimento profissional é um dos fatores que pode levar um profissional de TI a desejar mudar de emprego, já que a literatura científica tem comprovado que, na área técnica, o espaço para crescimento é pequeno, o que leva os profissionais de TI tanto a mudar de empresa - buscando outra em que ainda possam crescer tecnicamente - quanto a mudar de área dentro de sua empresa -, buscando áreas nas quais as oportunidades de crescimento estejam mais disponíveis (Kaiser, 1983Kaiser, K.M. (1983). Dp career paths. Datamation, 29(12), 178-188.; Karahanna & Watson, 2006Karahanna, E., & Watson, R.T. (2006). Information systems leadership. IEEE Transactions on Engineering Management, 53(2), 171-176. doi: 10.1109/TEM.2006.872247
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; Katz & Allen, 1997Katz, R., & Allen, T.J. (1997). Managing dual career ladder systems in RD&E settings. In R. Katz (Ed.), The human side of managing technological innovation. New York: Oxford University Press.; Lee, Ang, & Slaughter, 1997Lee, P., Ang, S., & Slaughter, S. (1997). Turning over versus turning away of information systems professionals. Proceedings of the International Conference on Information Systems, Atlanta, GA, USA, 18.; Mangia, 2013Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.; Ramos & Joia, 2011Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2.; Turner & Baroudi, 1986Turner, J., & Baroudi, J. (1986). The management of information systems occupations: A research agend. ACM SIGCPR Computer Personnel, 10(4), 2-11. doi: 10.1145/15467.15468
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). A partir daí, pode-se propor a seguinte hipótese de pesquisa:

H1: A necessidade de crescimento profissional leva o profissional de TI à intenção de mudar da área de TI.

Zabusky e Barley (1996)Zabusky, S. E., & Barley, S. R. (1996). Redefining success: Ethnographic observations on the careers of technicians (pp.185-213). In P. Osterman (Ed.), Broken ladders. New York: Oxford University Press., Lee et al. (1997)Lee, P., Ang, S., & Slaughter, S. (1997). Turning over versus turning away of information systems professionals. Proceedings of the International Conference on Information Systems, Atlanta, GA, USA, 18., Reich e Kaarst-Brown (1999)Reich, B. H., & Kaarst-Brown (1999). Seeding the line: Understanding the transition from IT to non-IT careers. MIS Quarterly, 3(3), 337-364. doi: 10.2307/249467
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e Ramos e Joia (2011)Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2. constataram que os profissionais que mudam da área de TI para outras áreas na mesma empresa são aqueles que possuem uma afiliação maior à empresa do que à carreira de TI. Essa conclusão também é compatível com as descobertas de Joseph e Ang (2001)Joseph, D., & Ang, S. (2001). The threat-rigidity model of professional obsolescence and its impact on occupational mobility behaviors of IT professionals. Proceedings of the International Conference on Information Systems, New Orleans, LA, USA, 22., que constataram uma maior ocorrência de turnover sobre turnaway em profissionais altamente comprometidos com a área de TI. A partir daí, pode-se propor a seguinte hi­pó­tese de pesquisa:

  • H2: Os profissionais de TI que têm intenção de mudar da área de TI para outras áreas são mais afiliados à empresa do que à área de TI.

Lee et al. (1997)Lee, P., Ang, S., & Slaughter, S. (1997). Turning over versus turning away of information systems professionals. Proceedings of the International Conference on Information Systems, Atlanta, GA, USA, 18. e Ituma e Simpson (2009)Ituma, A., & Simpson, R. (2009). The "boundaryless" career and career boundaries: Applying an institutional perspective to ICT workers in the context of Nigeria. Human Relations, 62(5), 727-761. doi: 10.1177/0018726709103456
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aprofundam a questão, defendendo que o que levaria o profissional de TI a adotar um comportamento ou outro seria a sua maneira de encarar o sucesso profissional. Os indivíduos podem encarar o sucesso profissional e suas carreiras sob duas óticas distintas (Greenhaus, Callanan, & DiRenzo, 2008Greenhaus, M. J., Callanan, G.A., & DiRenzo, M. A (2008). Boundaryless perspective on careers. In J. Barling, & C.L. Cooper (Eds.), The sage handbook of organizational behavior (vol. I - Micro Appproaches, pp. 277-299). Londres: Sage Publications.; Lee et al., 1997Lee, P., Ang, S., & Slaughter, S. (1997). Turning over versus turning away of information systems professionals. Proceedings of the International Conference on Information Systems, Atlanta, GA, USA, 18.; Ng & Feldman, 2007Ng, T. W. H., & Feldman, D. C. (2007). Organizational embeddedness and occupational embeddedness across career stages. Journal of Vocational Behavior, 70(2), 336-351. doi: 10.1016/j.jvb.2006.10.002
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). Pelo paradigma da carreira de realização, normalmente associado a funções mais técnicas, o sucesso vem do reconhecimento dentro de uma comunidade de pares, geralmente fechada, com pouca estrutura hierárquica e pouco inteligível para quem não faz parte dela. Já pelo paradigma da carreira de avanço, o sucesso vem com a obtenção de novas posições de autoridade e com o crescimento dentro de uma hierarquia de poder de uma organização (Greenhaus et al., 2008Greenhaus, M. J., Callanan, G.A., & DiRenzo, M. A (2008). Boundaryless perspective on careers. In J. Barling, & C.L. Cooper (Eds.), The sage handbook of organizational behavior (vol. I - Micro Appproaches, pp. 277-299). Londres: Sage Publications.; Ng & Feldman, 2007Ng, T. W. H., & Feldman, D. C. (2007). Organizational embeddedness and occupational embeddedness across career stages. Journal of Vocational Behavior, 70(2), 336-351. doi: 10.1016/j.jvb.2006.10.002
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2006.10.00...
; Zabusky & Barley, 1996Zabusky, S. E., & Barley, S. R. (1996). Redefining success: Ethnographic observations on the careers of technicians (pp.185-213). In P. Osterman (Ed.), Broken ladders. New York: Oxford University Press.). Zabusky e Barley (1996)Zabusky, S. E., & Barley, S. R. (1996). Redefining success: Ethnographic observations on the careers of technicians (pp.185-213). In P. Osterman (Ed.), Broken ladders. New York: Oxford University Press. e Lee et al. (1997)Lee, P., Ang, S., & Slaughter, S. (1997). Turning over versus turning away of information systems professionals. Proceedings of the International Conference on Information Systems, Atlanta, GA, USA, 18. mostram que os profissionais de TI que são mais orientados pela visão da carreira de realização têm menos chance de abandonar a área de TI do que os profissionais de TI orientados pela visão da carreira de avanço. A partir daí, pode-se propor a seguinte hipótese de pesquisa:

  • H3: Os profissionais de TI que têm intenção de mudar de área encaram o sucesso profissional mais pela ótica do avanço do que pela ótica da realização.

A literatura também indica que profissionais que mudam de uma área profissional para outra devem ter certo grau de insatisfação com a sua área profissional anterior (Joseph & Ang, 2001Joseph, D., & Ang, S. (2001). The threat-rigidity model of professional obsolescence and its impact on occupational mobility behaviors of IT professionals. Proceedings of the International Conference on Information Systems, New Orleans, LA, USA, 22.; Mangia, 2013Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.; McLean, Smits, & Turner, 1996McLean, E. R., Smits, S. J., & Tanner, J. R. (1996). The career dynamics of information systems professionals: A longitudinal study. ACM SIGCPR Computer Personnel, 17(4), 3-26. doi: 10.1145/244934.244935
https://doi.org/10.1145/244934.244935...
; Ng & Feldman, 2007Ng, T. W. H., & Feldman, D. C. (2007). Organizational embeddedness and occupational embeddedness across career stages. Journal of Vocational Behavior, 70(2), 336-351. doi: 10.1016/j.jvb.2006.10.002
https://doi.org/10.1016/j.jvb.2006.10.00...
; Ramos & Joia, 2011Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2.; Stevens, 1992Stevens, P. (1992). Career planning for the individual. The International Journal of Career Management, 4(1), 30-49. Disponível em http://dx.doi.org/10.1108/09556219210009533
http://dx.doi.org/10.1108/09556219210009...
). Essa insatisfação poderia ocorrer por várias razões, tais como: conflito família/trabalho (Adams, King, & King, 1996Adams, G. A., King L. A., & King D. W. (1996). Relationships of job and family involvement, family social support, and work-family conflict with job and life satisfaction. Journal of Applied Psychology, 81(4), 411-420. doi: 10.1037//0021-9010.81.4.411
https://doi.org/10.1037//0021-9010.81.4....
; Messersmith, 2007Messersmith, J. (2007). Managing work-life conflict among information technology workers. Human Resource Management. 46(3), 429-451. doi: 10.1002/hrm.20172
https://doi.org/10.1002/hrm.20172...
), exaustão com o trabalho (Mangia, 2013Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.; Moore, 2000Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168. doi: 10.2307/3250982
https://doi.org/10.2307/3250982...
), elevada carga de trabalho percebida (Moore, 2000Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168. doi: 10.2307/3250982
https://doi.org/10.2307/3250982...
) e insatisfação em geral (Carayon, Schoepke, Hoonakker, Haims, & Brunette, 2006Carayon, P., Schoepke, J., Hoonakker, P. L. T., Haims, M. C., & Brunette, M. (2006). Evaluating causes and consequences of turnover intention among IT workers: The development of a questionnaire survey. Behaviour & Information Technology, 25(5), 381-397. doi: 10.1080/01449290500102144
https://doi.org/10.1080/0144929050010214...
; Mangia, 2013Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.). A partir daí, pode-se propor a seguinte hipótese de pesquisa:

  • H4: Os profissionais de TI que têm intenção de mudar de área estão insatisfeitos com a área de TI.

Como visto, muitos fatores influenciam a insatisfação com a área ou com o trabalho; assim, optou-se por segmentar a hipótese referente à insatisfação com a área (H4) em quatro sub-hipóteses descritas a seguir:

  • H4_1: Os profissionais de TI que têm intenção de mudar de área estão insatisfeitos com a área de TI devido a conflitos entre a vida familiar e o trabalho (Adams et al., 1996Adams, G. A., King L. A., & King D. W. (1996). Relationships of job and family involvement, family social support, and work-family conflict with job and life satisfaction. Journal of Applied Psychology, 81(4), 411-420. doi: 10.1037//0021-9010.81.4.411
    https://doi.org/10.1037//0021-9010.81.4....
    ; Messersmith, 2007Messersmith, J. (2007). Managing work-life conflict among information technology workers. Human Resource Management. 46(3), 429-451. doi: 10.1002/hrm.20172
    https://doi.org/10.1002/hrm.20172...
    ).

  • H4_2: Os profissionais de TI que têm intenção de mudar de área estão insatisfeitos com a área de TI devido à exaustão com o trabalho (Mangia, 2013Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.; Moore, 2000Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168. doi: 10.2307/3250982
    https://doi.org/10.2307/3250982...
    ).

  • H4_3: Os profissionais de TI que têm intenção de mudar de área estão insatisfeitos com a área de TI devido a altas cargas de trabalho (Moore, 2000Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168. doi: 10.2307/3250982
    https://doi.org/10.2307/3250982...
    ).

  • H4_4: Os profissionais de TI que têm intenção de mudar de área estão insatisfeitos, em geral, com a área de TI (Carayon et al., 2006Carayon, P., Schoepke, J., Hoonakker, P. L. T., Haims, M. C., & Brunette, M. (2006). Evaluating causes and consequences of turnover intention among IT workers: The development of a questionnaire survey. Behaviour & Information Technology, 25(5), 381-397. doi: 10.1080/01449290500102144
    https://doi.org/10.1080/0144929050010214...
    ; Mangia, 2013Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.).

Além disso, a literatura de mobilidade de carreira afirma que os profissionais mudam de carreira para aprender novas habilidades e se manter mais empregáveis em um contexto no qual as organizações têm feito reiterados movimentos de reorganização, que, com frequência, resultam em demissões (Brown, 2006Brown, B. L. (2006). Career mobility: A choice or necessity? ERIC clearinghouse on adult career and vocational education. Columbus OH. Disponível em http://www.vtaide.com/png/ERIC/Career-Mobility.htm
http://www.vtaide.com/png/ERIC/Career-Mo...
; Mangia, 2013Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.; Martins, 2001Martins, H. T. (2001). Gestão de carreiras na era do conhecimento. Rio de Janeiro: Qulitymark.; Ramos & Joia, 2011Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2.). A partir daí, pode-se propor a seguinte hipótese de pesquisa:

H5: Os profissionais de TI que têm intenção de mudar de área desejam colecionar novas experiências para se manterem atrativos para os empregadores.

A mobilidade entre carreiras é um fenômeno crescente e a literatura tem sustentado que os profissionais devem se preparar para mudar de área (Mainieiro & Sullivan, 2005Mainieiro, L.A., & Sullivan, S.E. (2005). Kaleidoscope careers: an alternate explanation for the "opt-out" revolution. Academy of Management Executive, 19(1), 106-123. doi: 10.5465/AME.2005.15841962
https://doi.org/10.5465/AME.2005.1584196...
; Mangia, 2013Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.; Stevens, 1992Stevens, P. (1992). Career planning for the individual. The International Journal of Career Management, 4(1), 30-49. Disponível em http://dx.doi.org/10.1108/09556219210009533
http://dx.doi.org/10.1108/09556219210009...
). Corroborando tal possibilidade, a maioria dos estudantes de cursos de MBA nos Estados Unidos, em 2009, usou o curso para mudar de indústria ou de função (GMAC, 2009Graduate Management Admission Council [GMAC]. (2009). MBA degree key to career mobility, new survey says. Disponível em http://www.gmac.com/surveys
http://www.gmac.com/surveys...
), e sites da Internet especializados recomendam a preparação para a mudança de carreira, enfatizando especialmente a importância do networking (Niznik, 2012Niznik, J. S. (2012). How do I make a career change? Disponível em http://jobsearchtech.about.com/cs/careerplanning1/a/career_change.htm
http://jobsearchtech.about.com/cs/career...
). A partir daí, pode-se propor a seguinte hipótese de pesquisa:

H6: Os profissionais de TI que têm intenção de mudar de área se capacitam gerencialmente, prévia e conscientemente para a transição.

Além disso, Kanfer e Ackerman (2004)Kanfer, R., & Ackerman, P. (2004). Aging, adult development, and work motivation. Academy of Management Review, 29(2), 440-458. e Ramos e Joia (2011)Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2. argumentam que a transição de carreira dos profissionais de TI, para outras áreas, pode estar associada a uma crise de meia-idade. Segundo Ramos e Joia (2011)Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2., essa transição é devida à própria área de atuação do profissional de TI (desenvolvimento, infraestrutura, suporte etc.). A partir daí, pode-se propor as seguintes hipóteses de pesquisa:

  • H7: A transição de carreira dos profissionais de TI, para outras áreas, está associada a uma crise de meia-idade.

  • H8: A intenção de turnaway dos profissionais de TI está relacionada à área de atuação desses profissionais (desenvolvimento, infraestrutura, suporte etc.).

Finalmente, Weisberg e Kirschenbaum (1993Weisberg, J., & Kirschenbaum, A. (1993). Gender and turnover: A re-examination of the impact of sex on intent and actual job changes. Human Relations, 46(8), 987-1006. doi: 10.1177/001872679304600805
https://doi.org/10.1177/0018726793046008...
) identificaram que a variável gênero poderia ser um antecedente da transição de carreira de um profissional, e Trauth, Cain, Joshl, Kvasny, e Booth (2012)Trauth, E., Cain, C., Joshl, K., Kvasny, L., & Booth, K. (2012). Embracing intersectionality in gender and IT career choice research. SIGMIS-CPR '12 Proceedings of the Annual Conference on Computers and People Research, Milwaukee, WI, USA, 50. e Clayton, Beekhuyzen, e Nielsen (2012) chegaram à mesma conclusão, no que tange especificamente ao profissional de TI. A partir daí, pode-se propor a seguinte hipótese de pesquisa:

H9: A transição de carreira dos profissionais de TI para outras áreas está associada ao gênero deles.

A Figura 1 consolida as hipóteses geradas, apresentando as fontes referenciais que as fundamentam. A partir daí, gerou-se um modelo estrutural que pudesse representar os antecedentes na intenção de turnaway dos profissionais de TI (Figura 2).

Figura 1
Hipóteses de Pesquisa e Referências Associadas
Figura 2
Modelo Estrutural Inicial

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa relatada tem natureza explanatória ou causal, visando identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência de determinado fenômeno. Assim, em linha com Gil (2008)Gil, A. C. (2008). Como elaborar projetos de pesquisa (4.ed.). São Paulo: Atlas., neste trabalho visa-se explicar a razão e o porquê das coisas, ou seja, os antecedentes à transição de carreira dos profissionais de TI, no Brasil, para outras áreas funcionais.

Nessa linha, usou-se um survey envolvendo os profissionais de TI, e aplicaram-se técnicas estatísticas multivariadas para teste das hipóteses formuladas anteriormente. A seguir, apresentam-se os procedimentos metodológicos seguidos neste trabalho.

3.1. Coleta de dados

Os pesquisadores elaboraram um questionário para entender a ótica do pesquisado (Gil, 2008Gil, A. C. (2008). Como elaborar projetos de pesquisa (4.ed.). São Paulo: Atlas.). No questionário, foram apresentadas afirmações possíveis de serem classificadas em escala Likert de cinco pontos, de acordo com o grau de concordância do respondente com cada afirmação. A população-alvo da pesquisa foi constituída por profissionais de TI de diferentes empresas e segmentos de atuação, que atuassem na área. Os respondentes foram selecionados de forma não aleatória por meio da técnica de amostragem não probabilística, conhecida na literatura como amostragem por conveniência, em que os participantes são escolhidos por estarem disponíveis para responder o questionário (Malhotra, 2001Malhotra, N. (2001). Pesquisa de marketing: Uma orientação aplicada. Porto Alegre: Bookman.). Para essa seleção de respondentes, foram contactados profissionais de TI participantes de cursos de educação executiva e cursos de natureza tecnológica, aos quais os autores tiveram acesso. O questionário de pesquisa foi disponibilizado eletronicamente aos profissionais contactados por 70 dias - de 26 de setembro de 2012 a 05 de dezembro de 2012. Para coletar os dados empíricos, foi encaminhado à população-alvo da pesquisa, via e-mail, um convite que continha o link com o endereço eletrônico do questionário. Adicionalmente, o link foi também postado em grupos de discussões sobre TI, em redes sociais.

De forma a eliminar a possibilidade de haver respondentes fora do interesse da pesquisa, foram incluídas, no questionário, perguntas que visavam captar os anos de experiência e a área de TI em que o respondente atuava. Essas variáveis permitiram filtrar apenas os indivíduos com experiência em TI e que atuavam na área, de acordo com a população-alvo do presente estudo.

No total, 375 profissionais de TI responderam à pesquisa, mas, desse número, 52 questionários não foram considerados válidos, ficando a pesquisa com uma amostra de 323 respondentes. Os dados obtidos foram, então, tratados quantitativamente.

3.2. Instrumentos de medida

Os itens do questionário foram oriundos, principalmente, de escalas já existentes, as quais foram validadas e aplicadas, previamente, em outros estudos. Algumas delas sofreram pequenas adaptações para refletir o tema do presente trabalho, conforme descrito a seguir.

  • Crescimento Profissional (CP). Construto medido por meio de sete itens da escala Career Advancement do estudo de Nixon (1985)Nixon, R. (1985). Climbing the corporate ladder: Some perceptions among black managers. Washington, DC: National Urban League. sobre avanço de carreira de gerentes negros nas empresas. Essa escala foi adaptada para este trabalho com a inclusão da "área de TI" nas questões, a fim de refletir o tema desta pesquisa (Figura 3).

    Figura 3
    Indicadores do Fator Crescimento Profissional

  • Afiliação à Empresa (AE). Construto medido por meio de quatro itens da escala Organizational Affective Commitment, extraída de Meyer e Allen (1991)Meyer, J. P., & Allen, N. J. (1991). A three-component conceptualization of organizational commitment. Human Resource Management Review, 1(1), 61-89. doi: 10.1016/1053-4822(91)90011-Z
    https://doi.org/10.1016/1053-4822(91)900...
    ; quatro itens da escala Organizational Continuance Commitment, do estudo de Shafer (2002)Shafer, W. E. (2002). Professionalism, organizational-professional conflict and work outcomes: A study of certified management accountants. Accounting, Auditing & Accountability Journal, 15(1), 46-68. doi: 10.1108/09513570210418888
    https://doi.org/10.1108/0951357021041888...
    ; dois itens da escala Intention to Leave an Organization for Professional Advancement, de Meyer e Allen (1991)Meyer, J. P., & Allen, N. J. (1991). A three-component conceptualization of organizational commitment. Human Resource Management Review, 1(1), 61-89. doi: 10.1016/1053-4822(91)90011-Z
    https://doi.org/10.1016/1053-4822(91)900...
    ; e, por fim, mais dois itens elaborados a partir do referencial teórico de Ramos e Joia (2011)Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2., totalizando 12 indicadores (Figura 4).

    Figura 4
    Indicadores do Fator Afiliação à Empresa

  • Paradigma de Carreira (PC). Construto medido por meio de três itens elaborados a partir do referencial teórico de Ramos e Joia (2011)Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2. (Figura 5).

    Figura 5
    Indicadores do Fator Paradigma de Carreira

  • Insatisfação com a Área de TI_1 (IA_1). Construto medido por meio de cinco itens da escala Work-Family Conflict, extraídos de Adams et al. (1996)Adams, G. A., King L. A., & King D. W. (1996). Relationships of job and family involvement, family social support, and work-family conflict with job and life satisfaction. Journal of Applied Psychology, 81(4), 411-420. doi: 10.1037//0021-9010.81.4.411
    https://doi.org/10.1037//0021-9010.81.4....
    que, em seus estudos, identificaram existir uma relação inversa entre o conflito família/trabalho e o grau de satisfação do empregado com o seu trabalho.

  • Insatisfação com a Área de TI_2 (IA_2). Construto medido por meio de quatro itens da escala Work Exhaustion, extraídos de Moore (2000)Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168. doi: 10.2307/3250982
    https://doi.org/10.2307/3250982...
    que, em seu estudo, sugere que a exaustão com o trabalho impacta negativamente a satisfação com o trabalho que, por sua vez, influencia o empregado na sua intenção de turnover (Moore, 2000Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168. doi: 10.2307/3250982
    https://doi.org/10.2307/3250982...
    ).

  • Insatisfação com a Área de TI_3 (IA_3). Construto medido por meio de quatro itens da escala Perceived Work Overload, extraídos de Moore (2000)Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168. doi: 10.2307/3250982
    https://doi.org/10.2307/3250982...
    que, em seu estudo, identificou que a percepção de alta carga de trabalho impacta negativamente a satisfação com o trabalho que, por sua vez, influencia o empregado na sua intenção de turnover (Moore, 2000Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168. doi: 10.2307/3250982
    https://doi.org/10.2307/3250982...
    ).

  • Insatisfação com a Área de TI_4 (IA_4). Construto medido por meio de cinco itens da escala Satisfaction with Job, extraídos de Sohi, Smith e Ford (apudBruner II, 2009Bruner II, G. C. (2009). Marketing scales handbook (V.5). USA: GCBII Productions., p. 1.505). Essa escala foi usada em uma pesquisa que tinha como objetivo medir o grau de satisfação com o trabalho de pessoas da área de vendas. Foi realizada uma pequena adaptação, incluindo-se "área de TI" nas questões, a fim de reforçar que o foco da pesquisa é o trabalho na área de TI.

A Figura 6 consolida os indicadores de insatisfação com a área de TI.

Figura 6
Indicadores do Fator Insatisfação com a Área de TI
  • Novas Experiências (NE). Construto medido por meio de três itens, elaborados a partir do referencial teórico do estudo de Ramos e Joia (2011)Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2. (Figura 7).

    Figura 7
    Indicadores do Fator Novas Experiências

  • Capacitação Gerencial (CG). Construto medido por meio de três itens, elaborados a partir do referencial teórico do estudo de Ramos e Joia (2011)Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2. (Figura 8).

    Figura 8
    Indicadores do Fator Capacitação Gerencial

  • Intenção de Turnaway (IT). Construto medido por meio de cinco itens da escala Turnover Intentions, de Genesan e Weitz (apudBruner II, 2009Bruner II, G. C. (2009). Marketing scales handbook (V.5). USA: GCBII Productions., p. 1.619), usada para avaliar a intenção de turnover de compradores do mercado de varejo. Essa escala foi, então, adaptada para este trabalho, substituindo-se a palavra "organização" por "área de TI" (Figura 9).

    Figura 9
    Indicadores do Fator Intenção de Turnaway

Na Figura 10 apresenta-se a visualização de todos os fatores (construtos) mencionados anteriormente e os seus respectivos indicadores.

Figura 10
Modelo Estrutural: Construtos e Seus Respectivos Indicadores

3.3. Modelo de equações estruturais

Os dados foram analisados via modelagem de equações estruturais, também conhecida como Structural Equation Mod­eling (SEM), uma técnica estatística multivariada que combina análise fatorial com regressões múltiplas, usada para estimar os parâmetros de um modelo estrutural. O principal objetivo da SEM é explicar o padrão de uma série de relações simultâneas de interdependência entre variáveis latentes, medidas por meio de variáveis observáveis ou indicadores (Reisinger & Turner, 1999Reisinger, Y., & Turner, L. (1999). Structural equation modeling with Lisrel: Application in tourism. Tourism Management, 20(1), 71-88. doi: 10.1016/S0261-5177(98)00104-6
https://doi.org/10.1016/S0261-5177(98)00...
).

Nesse sentido, no presente trabalho utilizou-se o software WarpPLS 3.0, uma ferramenta que permite a estimação de modelos de equações estruturais baseada em variância (PLS - Variance Based View).

Primeiramente, realizou-se a mensuração dos construtos propostos. Os fatores analisados foram extraídos pelo método dos componentes principais e rotacionados por meio de rotação PROMAX - rotação oblíqua, ou seja, que leva em consideração a correlação existente entre os construtos extraídos (Kock, 2012Kock, N. (2012). WarpPLS 3.0 user manual. Laredo, TX: ScriptWarp Systems.). Com base nos resultados da extração dos fatores, foram avaliadas as validades convergente e discriminante do instrumento de mensuração, assim como sua confiabilidade. A segunda etapa da análise de resultados consistiu na avaliação da existência de multicolinearidade e outliers nos modelos estimados, com o intuito de assegurar maior confiabilidade nas análises dos parâmetros estimados pela PLS e, consequentemente, nos testes das hipóteses. Finalmente, em linha com a natureza explanatória do trabalho em questão, as hipóteses foram testadas por meio das análises dos betas estimados e os respectivos valores p, obtidos pelo método de reamostragem bootstrapping. Para obter essas estimativas, o software WarpPLS utiliza o algoritmo de PLS Regression (Kock, 2012Kock, N. (2012). WarpPLS 3.0 user manual. Laredo, TX: ScriptWarp Systems.).

4. RESULTADOS

4.1. Estatística descritiva da amostra

A amostra inicial deste estudo contou com 375 profissionais da área de TI. Entretanto, 52 desses participantes não responderam ao questionário até o fim, o que resultou numa amostra final, para a estimação dos modelos propostos, de 323 profissionais da área de TI. Desses 323 respondentes, 82,4% (ou 266 indivíduos) são do gênero masculino. O resultado não surpreende, uma vez que a área é dominada por homens (Trauth et al., 2012Trauth, E., Cain, C., Joshl, K., Kvasny, L., & Booth, K. (2012). Embracing intersectionality in gender and IT career choice research. SIGMIS-CPR '12 Proceedings of the Annual Conference on Computers and People Research, Milwaukee, WI, USA, 50.). Os profissionais entrevistados têm idade média de 39,1 anos e experiência média na área de 16,7 anos, e 43,7% (ou 141 indivíduos) estão na fase denominada "Meia-Idade", ou seja, indivíduos que têm entre 35 e 45 anos de idade. O grupo de entrevistados é caracterizado, em sua maioria, de pós-graduados (67,5%), que atuam, predominantemente, dentro da área de gestão de projetos e gestão de TI (49,5%). Apesar dessa predominância de área de atuação, a distribuição dos profissionais entre cargos foi relativamente equitativa, à exceção do cargo de Diretor/CIO, o qual constituiu apenas 4,3% da amostra coletada. Por fim, os profissionais de TI entrevistados são, em grande maioria (73,1%), funcionários de grandes empresas.

Na Tabela 1, apresenta-se, de forma consolidada, a estatística descritiva da amostra coletada.

Tabela 1
Estatística Descritiva da Amostra Coletada

4.2. Mensuração dos construtos

Foi avaliada a validade convergente, validade discriminante, assim como a confiabilidade da mensuração de cada um dos constructos.

Hair, Anderson, Tatham e Black (2005)Hair, J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L., & Black, W. C. (2005). Análise multivariada de dados (5.ed.). Porto Alegre: Bookman. argumentam que, para se obter uma aceitável validade convergente, os valores-p, associados com as cargas, devem ser menores do que o nível de significância de 5%, e as cargas devem ser maiores ou iguais a 0,5. Com base nesse critério, os indicadores CP002, AE004, AE007, AE008, AE009 foram excluídos da análise. Mesmo com a exclusão de quatro indicadores do construto Afiliação à Empresa, ele não perdeu a sua validade. Os oito indicadores que permaneceram permitem medir a influência desse fator na intenção de turnaway.

Assim, um novo modelo de mensuração foi estimado, após a exclusão dos indicadores supracitados, o que resultou em uma aceitável validade convergente dos construtos.

A matriz de correlações entre as variáveis latentes foi utilizada para avaliar a validade discriminante do instrumento de mensuração. Um instrumento de medida tem boa validade discriminante se todas as perguntas do questionário forem entendidas e respondidas corretamente de acordo com seu real significado, ou seja, os respondentes associarem as perguntas às suas respectivas variáveis latentes (Kock, 2012Kock, N. (2012). WarpPLS 3.0 user manual. Laredo, TX: ScriptWarp Systems.).

O critério usual para se avaliar a validade discriminante é comparar a raiz quadrada da variância média extraída (AVE) com as correlações entre as variáveis latentes. A raiz quadrada da AVE deve ser maior do que qualquer correlação envolvendo a variável latente analisada (Fornell & Larcker, 1981Fornell, C., & Larcker, D.F. (1981). Evaluating structural equation models with unobservable variables and measurement error. Journal of Marketing Research, 18(1), 39-50. doi: 10.2307/3151312
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). Seguindo essa lógica, o instrumento de mensuração apresentou boa validade discriminante.

Finalmente, a análise da confiabilidade dos construtos foi avaliada por meio da análise do composite reliability e do Alpha de Cronbach Segundo Kock (2012)Kock, N. (2012). WarpPLS 3.0 user manual. Laredo, TX: ScriptWarp Systems., um instrumento de mensuração apresenta aceitável confiabilidade se os indicadores associados a cada variável latente foram entendidos da mesma maneira por diferentes entrevistados. Valores acima de 0,7, para o composite reliability e o Alpha de Cronbach do construto, atestam a existência de confiabilidade (ou consistência interna) das variáveis latentes mensuradas. Apenas o construto Paradigma de Carreira (PC) não apresentou valor satisfatório, o que sugere a sua exclusão das análises e a impossibilidade de testar a Hipótese 3 deste trabalho.

Os resultados apresentados nesta seção fornecem subsídios para que as relações que serão testadas no modelo estrutural sejam válidas, já que o instrumento de mensuração apresentou validade discriminante, validade convergente e, exceto pelo construto Paradigma de Carreira, todos apresentaram confiabilidade aceitável.

4.3. Teste das hipóteses e aderência do modelo estrutural

Dois modelos foram estimados com o objetivo de testar as hipóteses do estudo. O primeiro modelo (Modelo 1) teve por objetivo explicar a variância da intenção de turnaway a partir de cinco variáveis de controle, das quais quatro são qualitativas (cargo que ocupa em TI, área de atuação em TI, escolaridade e porte da empresa) e uma quantitativa (experiência em anos na área de TI). As variáveis qualitativas foram representadas no modelo por variáveis dummy. A inclusão dessas variáveis permite levar em consideração especificidades da área de TI, que não se relacionam com a percepção do profissional quanto à sua intenção de deixar a área. No segundo modelo (Modelo 2), as variáveis de controle e as variáveis envolvidas nas hipóteses (variáveis de interesse) foram incluídas no modelo.

Antes de avaliar a significância estatística dos coeficientes estimados (Tabela 2), é necessário verificar se os modelos não têm indícios de multicolinearidade, assim como avaliar a presença de outliers (Hair et al., 2005Hair, J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L., & Black, W. C. (2005). Análise multivariada de dados (5.ed.). Porto Alegre: Bookman.). Segundo Hair et al. (2005)Hair, J. F., Anderson, R. E., Tatham, R. L., & Black, W. C. (2005). Análise multivariada de dados (5.ed.). Porto Alegre: Bookman., variáveis que apresentam VIF (Variance Inflation Factor) acima de dez são inaceitáveis no modelo. Os resultados dos modelos indicam a não existência de indícios de multicolinearidade, uma vez que nenhum dos valores de VIF ultrapassou o valor dez. Da mesma forma, não foram identificados outliers entre os dados.

Tabela 2
Resultados do Modelo Estrutural Estimado

O ajuste global dos modelos estimados foi avaliado por meio do R2, que representa a fração da variabilidade da variável dependente, explicada pela variabilidade das variáveis independentes incluídas no modelo. Os resultados evidenciaram um aumento significativo do R2, após a inclusão das variáveis de interesse, para explicar a variabilidade da intenção de turn­away. O modelo composto apenas pelas variáveis de controle (Modelo 1) apresentou um R2 de apenas 6,4%, contra um R2 de 47,8%, após a inclusão das variáveis de interesse (Modelo 2). Esse aumento de 41,4% é um resultado bastante significativo, já que mostra que as variáveis indicadas pela teoria são boas preditoras da intenção de turnaway. Entretanto, é necessário avaliar a significância estatística dessas variáveis de interesse, a fim de identificar quais delas são responsáveis por esse aumento do R2. Essa identificação é feita no momento do teste das hipóteses e apresentada na sequência.

A Hipótese 1 previu que a necessidade de crescimento profissional (CP) leva o indivíduo a mudar de área de atuação. Conforme consta na Tabela 2, essa hipótese pode ser suportada (b = 0,14, valor-p = 0,002), ou seja, quanto maior a percepção da necessidade de crescimento profissional (CP) do indivíduo que trabalha na área de TI, maior é a sua intenção de turnaway (IT).

A variável Afiliação à Empresa não apresentou significância estatística (b = 0,059, valor-p = 0,165). Nesse caso, a Hipótese 2 foi rejeitada, ou seja, o grau de afiliação à empresa (AE) do profissional de TI não tem efeito sobre sua intenção de mudar de área (IT).

A Hipótese 4, que pretende testar o efeito da insatisfação do profissional de TI com a área de TI (IA), na sua intenção de turnaway, foi segmentada em quatro diferentes sub-hipóteses, das quais duas foram suportadas. A H4_1 indica que quanto mais conflituosa, para o profissional de TI, é a relação entre trabalho e família (IA_1), maior é a sua intenção de turnaway. Esta Hipótese H4_1 não foi suportada, uma vez que o coeficiente estimado não apresentou significância estatística (b = -0,024, valor-p = 0,353). Os dados também não dão suporte a H4_3, ou seja, a carga de trabalho percebida (IA_3) pelo profissional de TI não tem impacto na sua intenção de turnaway (b = -0,052, valor-p = 0,198)

Comportamento contrário apresentaram os constructos que representam a Exaustão com o Trabalho (IA_2) e a Insatisfação em Geral com a Área (IA_4). Profissionais de TI, com maior percepção de exaustão relacionada ao trabalho que realizam, têm maior intenção de mudar de área (b = 0,385, valor-p < 0,001). Além disso, a insatisfação em geral com a área tem impacto positivo sobre a intenção de turnaway (b = 0,223, valor-p < 0,001). Esses resultados dão suporte às Sub-Hipóteses H4_2 e H4_4.

Os resultados também indicam que a Hipótese 5 foi suportada. O desejo dos profissionais de TI de colecionar novas experiências e de se manter atrativos para os empregadores (NE) teve efeito positivo e significante sobre a intenção de mudar de área (b = 0,223, valor-p < 0,001), ou seja, quanto mais experiências o indivíduo que trabalha na área de TI acumula, maior é a sua intenção de turnaway (IT).

A Hipótese 6 teve por objetivo testar se os profissionais de TI que têm intenção de mudar de área se preparam prévia e conscientemente para essa transição. O construto Capacitação Gerencial (CG), que permitiu mensurar essa capacitação prévia, teve efeito positivo e significante na intenção de turnaway (b = 0,116, valor-p = 0,008). Em outras palavras, a Hipótese 6 foi suportada.

A Hipótese 7 prevê que a transição de carreira dos profissionais de TI está associada a uma crise de meia-idade, representada pelo grupo de indivíduos que têm entre 35 e 45 anos. Assim, para testar essa hipótese, foi criada uma variável dummy que assumiu valor 1, quando a idade dos profissionais da área de TI situava-se entre 35 e 45 anos de idade, e 0, caso contrário, sendo tal variável incluída no Modelo 2. O resultado obtido não suporta essa hipótese. Embora positivo, o coeficiente estimado não apresentou significância estatística (b= 0,045, valor-p = 0,136), indicando que não se pode suportar que a intenção de turnaway difira entre os profissionais de TI que estão, ou não, na meia-idade.

A Hipótese 8 visa testar se a intenção de turnaway dos profissionais de TI está relacionada à área de atuação desses profissionais: desenvolvimento, infraestrutura, suporte etc. (Ramos & Joia, 2011Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2.). Para testar essa hipótese, é necessário analisar a magnitude e a significância estatística dos coeficientes associados às dummies criadas para representar a variável qualitativa Área de Atuação. Nesse sentido, conclui-se, a partir do Modelo 1, que os profissionais da área de Desenvolvimento (b = 0,193, valor-p = 0,016), Gestão de Projetos (b = 0,193, valor-p = 0,005) e Governança (b = 0,107, valor-p = 0,038) têm intenção de turnaway significante. Já no Modelo 2, apenas os profissionais da área de Governança tiveram intenção de turnaway significante (b = 0,087, valor-p = 0,030). Diante dessa constatação, os resultados obtidos suportam a Hipótese 8.

Finalmente, a Hipótese 9 previu que existem diferenças no construto Intenção de Turnaway entre homens e mulheres. Essa hipótese não tem suporte nos resultados obtidos, uma vez que a variável Gênero não foi significante (b = -0,036, valor-p = 0,237), ou seja, não existe diferença significativa na intenção de mudar de área entre profissionais de TI homens e mulheres. Portanto, a Hipótese 9 foi rejeitada.

4.4. Magnitude da influência das variáveis antecedentes na intenção de turnaway

Após a apresentação dos resultados obtidos a partir do processamento do modelo estrutural, torna-se necessário avaliar a magnitude da influência das variáveis antecedentes na intenção de transição de carreira dos profissionais de TI (variável dependente). Para tal, Cohen (1988)Cohen, J. (1988). Statistical power analysis for the behavioral sciences. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum. recomenda a utilização do coeficiente ƒ-quadrado, defendendo que, para a influência ser considerada grande, em termos práticos e não somente em termos estatísticos, o f-quadrado deve ser igual ou superior a 0,35. A influência é considerada média para f-quadrado entre 0,15 e 0,35, e pequena para valores entre 0,02 e 0,15. Valores menores que 0,02 sugerem que a influência da variável independente na variável dependente é muito fraca para ser considerada relevante do ponto de vista prático, mesmo havendo significância estatística (Kock, 2012Kock, N. (2012). WarpPLS 3.0 user manual. Laredo, TX: ScriptWarp Systems.).

Com base no critério acima exposto, pode-se constatar que, embora as variáveis de controle Mestrado (Modelo 2), Desenvolvimento (Modelo 1), GestProjetos (Modelo 1) e Governança (Modelos 1 e 2) apresentem significância estatística, o seu efeito na explicação da intenção de turnaway, na prática, é muito reduzido, levando a desconsiderar a influência dessas variáveis na intenção de turnaway do profissional de TI. Ademais, ao se analisar a magnitude da influência das variáveis de interesse significantes no Modelo 2 sobre a intenção de turnaway, constata-se que a variável IA_2 tem o maior f-quadrado (0,192), ou seja, a exaustão com o trabalho na área de TI tem um efeito médio na intenção de turnaway do profissional de TI. As outras variáveis significantes estatisticamente (CP, IA_4, NE e CG) apresentaram um efeito pequeno na intenção de turnaway do profissional de TI (Tabela 2). Ao ordenar essas variáveis pelo seu effect size, das mais às menos relevantes, obtêm-se as variáveis antecedentes da intenção de turnaway do profissional de TI sob o ponto de vista prático, a saber: exaustão com o trabalho na área de TI (f2 = 0,192); insatisfação em geral com a área de TI (f2 = 0,096); necessidade dos profissionais de TI de colecionarem novas experiências e manterem-se atrativos para os empregadores (f2=0,077); necessidade de crescimento profissional (f2 = 0,049); e capacitação gerencial prévia e consciente (f2=0,033).

Assim, por meio do modelo estrutural final (Figura 11), foi possível responder à pergunta de pesquisa. Isto é, os principais antecedentes que levam o profissional de TI à intenção de turnaway são, em ordem decrescente de relevância prática:

Figura 11
Modelo Estrutural Final
  • insatisfação com a área de TI devido à exaustão com o trabalho (H4_2);

  • insatisfação em geral com a área de TI (H4_4);

  • desejo por colecionar novas experiências profissionais (H5);

  • necessidade de crescimento profissional (H1);

  • capacitação gerencial prévia e consciente para a transição de carreira (H6).

5. DISCUSSÃO

Nesta seção, são discutidos os resultados obtidos e apresentadas as respectivas implicações gerenciais derivadas deste trabalho.

A hipótese de o turnaway do profissional de TI ser causado pela sua insatisfação com a área, devido à exaustão com o trabalho, sai especialmente fortalecida neste trabalho. Segundo Moore (2000)Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168. doi: 10.2307/3250982
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, exaustão com o trabalho é um construto mais abrangente que a carga de trabalho percebida, englobando ambiguidade e conflito de papéis, falta de autonomia para desempenhar tarefas, capacitação insuficiente se comparada a outras áreas e ausência de recompensa pelo atingimento de objetivos. Interessantemente, a hipótese de pesquisa relativa à carga de trabalho percebida pelo profissional de TI não foi suportada, o que poderia indicar uma contradição, não fosse o fato de o primeiro construto ser bem mais amplo do que o segundo (Moore, 2000).

Já a insatisfação geral do profissional de TI com a área de TI - também um antecedente significante à transição de carreira na área de TI - pode estar ligada à percepção que esse profissional tem de que a área de TI não está permitindo que suas aspirações profissionais sejam atingidas (Locke, 1976Locke, E. A. (1976). The nature and causes of job satisfaction. In M.D. Dunnette (Ed.), Handbook of industrial and organizational psychology (pp.1297-1349). Chicago: Rand McNally.), podendo relacionar-se ao baixo status que a área de TI tem, tanto no Brasil como no mundo, segundo Orlikowski e Baroudi (1988)Orlikowski, W. J., & Baroudi, J. J. (1988). The information systems profession: Myth or reality? Information Technology and People, 4(1), 13-30. Disponível em http://dx.doi.org/10.1108/eb022652
http://dx.doi.org/10.1108/eb022652...
e Moura Jr. e Helal (2014)Moura Jr., P. J., & Helal, D. H. (2014). Profissionais e profissionalização em Tecnologia da Informação: Indicativos de controvérsias e conflitos. Cadernos EBAPE.BR, 12(2), artigo 8. Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/1679-39519889
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. Além disso, as empresas e a própria área de TI parecem não proporcionar aos profissionais de TI novas e diversas experiências que lhes permitam crescer profissionalmente, como também descrito por Brown (2006)Brown, B. L. (2006). Career mobility: A choice or necessity? ERIC clearinghouse on adult career and vocational education. Columbus OH. Disponível em http://www.vtaide.com/png/ERIC/Career-Mobility.htm
http://www.vtaide.com/png/ERIC/Career-Mo...
, Ituma e Simpson (2009)Ituma, A., & Simpson, R. (2009). The "boundaryless" career and career boundaries: Applying an institutional perspective to ICT workers in the context of Nigeria. Human Relations, 62(5), 727-761. doi: 10.1177/0018726709103456
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e Mangia (2013)Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil., entre outros. Tal fato acena para a possibilidade de que a carreira em Y não seja algo efetivamente consolidado na área de TI de muitas organizações, o que impede que os profissionais de TI migrem de uma área técnica para uma área gerencial, mantendo-se na organização (Fleury, 1991Fleury, M. T. (1991). Cultura organizacional e estratégias de mudança: Recolocando estas questões no cenário brasileiro atual. Revista de Administração [RAUSP], 26(2), 3-11.).

A necessidade de crescimento profissional do profissional de TI é também um antecedente significante ao seu turnaway. Mais uma vez, tal constatação alinha-se à literatura científica sobre a falta de oportunidade de crescimento na área de TI (ver, por exemplo, Joseph et al., 2012Joseph, D., Boh, W. F., Ang, S., & Slaughter, S. (2012). The career paths less (or more) traveled: A sequence analysis of it career histories, mobility patterns, and career success. MIS Quarterly, 36(2), 427-452.). Esse fato tanto pode levar os profissionais de TI a mudar para empresas em que o crescimento em TI é possível, quanto pode conduzi-los a abandonar a área, como demonstrado por Karahanna e Watson (2006)Karahanna, E., & Watson, R.T. (2006). Information systems leadership. IEEE Transactions on Engineering Management, 53(2), 171-176. doi: 10.1109/TEM.2006.872247
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, por exemplo. Assim, este trabalho parece apontar, mais uma vez, para uma fragilidade na implementação de uma verdadeira carreira em Y na área de TI (Fleury, 1991Fleury, M. T. (1991). Cultura organizacional e estratégias de mudança: Recolocando estas questões no cenário brasileiro atual. Revista de Administração [RAUSP], 26(2), 3-11.), fato que estimula o turnaway de profissionais de TI para outras áreas funcionais.

Adicionalmente, o estudo mostra que muitos profissionais de TI estão conscientes da necessidade de abandonar a área e, para tal, preparam-se e capacitam-se via cursos executivos e interação com profissionais da área de negócios. Assim, não se pode afirmar que a transição de carreira do profissional de TI seja algo intempestivo; pelo contrário, o estudo indica que um processo consciente e planejado parece ser levado a cabo por esse profissional.

As hipóteses de pesquisa elencadas na sequência não foram suportadas, merecendo análise detalhada em estudos futuros.

O grau de afiliação do profissional de TI a suas empresas (H2) não foi considerado antecedente ao turnaway desse profissional. Embora vários autores sustentem essa hipótese (por exemplo, Lee et al., 1997Lee, P., Ang, S., & Slaughter, S. (1997). Turning over versus turning away of information systems professionals. Proceedings of the International Conference on Information Systems, Atlanta, GA, USA, 18.; Ramos & Joia, 2011Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2.), ela parece depender do tipo de organização (pública, estatal, privada etc.) à qual o profissional de TI está vinculado, sua política de gestão de pessoas e o grau de estabilidade que o profissional de TI tem na sua organização. Assim, parece claramente que essa hipótese H2 não pode ser testada adequadamente sem que se introduza alguma variável que represente o modelo de gestão organizacional.

O conflito trabalho/família também não se mostrou antecedente significante da transição de carreira do profissional de TI, diferentemente do apregoado por Adams et al. (1996)Adams, G. A., King L. A., & King D. W. (1996). Relationships of job and family involvement, family social support, and work-family conflict with job and life satisfaction. Journal of Applied Psychology, 81(4), 411-420. doi: 10.1037//0021-9010.81.4.411
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e Messersmith (2007)Messersmith, J. (2007). Managing work-life conflict among information technology workers. Human Resource Management. 46(3), 429-451. doi: 10.1002/hrm.20172
https://doi.org/10.1002/hrm.20172...
. Uma das razões para tal, segundo Dinger, Thatcher e Stepina (2010Dinger, M., Thatcher, J. B., & Stepina, L. P. (2010). A study of work-family conflict among IT professionals: job characteristics, individual values, and management practices. Journal of Organizational Computing and Electronic Commerce, 20(1), 91-121. doi: 10.1080/10919390903482341
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), pode ser a natureza íntima dessa questão, o que pode levar os respondentes a não serem completamente sinceros quando confrontados com essa matéria.

Embora Kanfer e Ackerman (2004)Kanfer, R., & Ackerman, P. (2004). Aging, adult development, and work motivation. Academy of Management Review, 29(2), 440-458. e Ramos e Joia (2011)Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2. apontem uma crise de meia-idade como um possível antecedente da transição de carreira do profissional de TI para outra área, tal não se confirmou neste trabalho, o que deve ser investigado em trabalhos futuros, principalmente porque o percentual de profissionais de TI com idade entre 35 e 45 anos (considerada neste estudo como a faixa de meia-idade) foi de 43,7% da amostra.

De modo semelhante, o tipo de função que o profissional de TI tem nessa área não se mostra antecedente significante da transição de carreira desse profissional. O Modelo 2, no entanto, indica que os profissionais de governança de TI parecem mais inclinados ao turnaway do que os demais, possivelmente pela sua natural aproximação com a área de negócios. No entanto, essa hipótese não foi confirmada do ponto de vista prático (Cohen, 1988Cohen, J. (1988). Statistical power analysis for the behavioral sciences. Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum.), merecendo, da mesma forma, ser alvo de pesquisas futuras.

Embora Trauth et al. (2009)Trauth, E., Cain, C., Joshl, K., Kvasny, L., & Booth, K. (2012). Embracing intersectionality in gender and IT career choice research. SIGMIS-CPR '12 Proceedings of the Annual Conference on Computers and People Research, Milwaukee, WI, USA, 50. e Clayton et al. (2012)Clayton, K., Beekhuyzen J., & Nielsen, S. (2012). Now I know what ICT can do for me!Information Systems Journal, 22(5), 375-390. doi: 10.1111/j.1365-2575.2012.00414.x
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afirmem que a rotina da profissional de TI mulher seja difícil de conciliar com seu papel de mãe, esposa, dona de casa etc., o estudo não indicou que o gênero do profissional de TI é um antecedente significante da sua intenção de turnaway. Stewart, Bing, Gruys e Helford (2007)Stewart, S., Bing, M., Gruys, M., & Helford, M. (2007). Men, women, and perceptions of work environments, organizational commitment, and turnover intentions. Journal of Business and Public Affairs, 1(1). Disponível em http://www.scientificjournals.org/journals2007/articles/1035.htm
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já tinham encontrado resultados divergentes na ligação causal de gênero com a intenção de turnover. Tal fato parece estar se repetindo aqui, necessitando, no entanto, de investigações futuras específicas.

Finalmente, como o construto Paradigma de Carreira (PC) foi excluído do modelo estrutural por apresentar coeficientes insatisfatórios (principalmente o Alpha de Cronbach que foi muito baixo), a Hipótese 3 deste trabalho não pôde ser testada. Dessa forma, recomenda-se, em trabalhos posteriores, uma redefinição teórica sobre o paradigma da carreira de avanço e da carreira de realização, a fim de identificar a influência desses paradigmas na intenção de turnaway do profissional de TI.

5.1. Implicações gerenciais

Em vista do que foi apresentado, algumas implicações gerenciais podem ser consideradas pelas empresas e seus gestores de TI, de modo a minimizar a transição de carreira do profissional de TI, tais como:

  • Avaliar frequentemente como está o nível de estresse físico e mental da equipe de TI. Essa ação está intrinsecamente relacionada com a percepção de exaustão com o trabalho, a qual leva o profissional de TI ao turnaway de carreira.

  • Identificar os fatores que causam esse estresse nos profissionais de TI e buscar ações para resolver ou minimizar o problema. Da mesma forma que a ação anterior, esta também visa melhorar a relação do profissional de TI com seu trabalho na área.

  • Definir, esclarecer e comunicar, objetivamente, quais são os papéis e responsabilidades dos profissionais de TI que trabalham na empresa, evitando ambiguidade de papéis e conflito de responsabilidades. Foi dito anteriormente que um dos geradores de exaustão com o trabalho é a falta de definição clara do papel do profissional de TI na organização, bem como das suas efetivas responsabilidades. Essa ação, portanto, tende a diminuir esse conflito.

  • Implementar ações para melhorar as condições de trabalho e a motivação dos profissionais de TI, reconhecendo o trabalho desses profissionais de forma justa, por meio de programas de recompensas por mérito. Essa ação visa diminuir a insatisfação do profissional de TI com sua área, por meio de sua valorização na organização.

  • Ofertar novas oportunidades aos profissionais de TI, permitindo a ascensão dentro da área, tanto na vertente técnica quanto na gerencial (carreira em Y), o que resultaria em novas experiências, minimizando, assim, a busca do profissional de TI por crescimento em outras áreas dentro ou fora da empresa. Essa ação tanto visa incentivar o crescimento do profissional de TI na sua área, como lhe oferecer novas experiências profissionais, que o motivem a permanecer na área.

Finalmente, uma observação deve ser feita. O oferecimento de cursos gerenciais ao profissional de TI é algo que poderia motivá-lo. No entanto, essa ação, implantada de forma isolada, pode levar o profissional de TI a se capacitar para uma consequente transição de carreira. Além disso, como se observou anteriormente, os profissionais de TI preparam-se para seu turnaway prévia e conscientemente. Portanto, o oferecimento, pelas empresas, de cursos gerenciais para os profissionais de TI só tem sentido se acompanhado de algumas (ou todas as) ações anteriormente explicitadas.

6. CONCLUSÕES

O dinamismo inerente à área de Tecnologia da Informação, com suas constantes inovações e o surgimento de novas soluções que substituem outras rapidamente, tornando-as obsoletas, faz com que o profissional de TI seja permanentemente desafiado a manter-se atualizado, a moldar as suas habilidades e a desenvolver novas competências de acordo com as exigências da profissão e do mercado de trabalho (Vreuls & Joia, 2012Vreuls, E. H., & Joia, L. A. (2012). Proposição de um modelo exploratório dos fatores relevantes para o desempenho profissional do CIO brasileiro. Revista de Administração [RAUSP], 47(2), 307-324. Disponível em http://dx.doi.org/10.5700/rausp1041
http://dx.doi.org/10.5700/rausp1041...
). Tal fato, segundo Moore (2000)Moore, J. E. (2000). One road to turnover: An examination of work exhaustion in technology professionals. MIS Quarterly, 24(1), 141-168. doi: 10.2307/3250982
https://doi.org/10.2307/3250982...
e Mangia (2013)Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil., na maioria das vezes expõe os profissionais de TI a situações extremas e recorrentes, levando-os ao desgaste físico e emocional, assim como existem as limitações das organizações em permitir que seus profissionais de TI cresçam profissionalmente dentro dessa área, o que é corroborado por Turner e Baroudi (1986)Turner, J., & Baroudi, J. (1986). The management of information systems occupations: A research agend. ACM SIGCPR Computer Personnel, 10(4), 2-11. doi: 10.1145/15467.15468
https://doi.org/10.1145/15467.15468...
, Katz e Allen (1997)Katz, R., & Allen, T.J. (1997). Managing dual career ladder systems in RD&E settings. In R. Katz (Ed.), The human side of managing technological innovation. New York: Oxford University Press., Lee et al. (1997)Lee, P., Ang, S., & Slaughter, S. (1997). Turning over versus turning away of information systems professionals. Proceedings of the International Conference on Information Systems, Atlanta, GA, USA, 18., Karahanna e Watson (2006)Karahanna, E., & Watson, R.T. (2006). Information systems leadership. IEEE Transactions on Engineering Management, 53(2), 171-176. doi: 10.1109/TEM.2006.872247
https://doi.org/10.1109/TEM.2006.872247...
, Ramos e Joia (2011)Ramos, E. A. A., & Joia, L. A. (2011). Profissionais de tecnologia da informação e sua transição para funções não técnicas. Anais do ENADI, Porto Alegre, RS, Brasil, 2. e Mangia (2013)Mangia, U. (2013). Antecedentes à transição de carreira na área de tecnologia da informação. Dissertação de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, RJ, Brasil..

Esta pesquisa mostrou que a transição de carreira na área de Tecnologia da Informação está intimamente ligada ao dinamismo da área e às condições de trabalho associadas, levando os profissionais a uma insatisfação com a área de TI, o que os faz buscar capacitação gerencial e novas experiências de trabalho, de modo a ampliar a sua rede de relacionamento interpessoal e as oportunidades profissionais em diferentes campos de trabalho. Essa atitude possibilitaria a migração desses profissionais para outras áreas funcionais, as quais oferecem ao profissional de TI melhores condições de trabalho, maior reconhecimento e concretas possibilidades de crescimento profissional na organização.

6.1. Limitações do trabalho

Como todo trabalho científico, este também apresenta suas limitações, expostas a seguir.

Inicialmente, a amostra utilizada nesta pesquisa foi de conveniência. Tal se deu pela impossibilidade de se ter acesso a uma base de dados secundária consolidadora dos profissionais de TI atuantes no Brasil. A consolidação do universo de profissionais de TI, no Brasil, é bastante complexa, dada a diversidade de funções desempenhadas por eles, as distintas formações acadêmicas que possuem, os variados órgãos de classe que representam a categoria, etc.

Além disso, não foram levadas em consideração, neste estudo, as características das organizações em que os respondentes estavam inseridos, por meio de suas políticas e práticas na área de recursos humanos, remuneração e planos de benefícios.

Por fim, durante a realização desta pesquisa, houve grande dificuldade em encontrar, na literatura científica, estudos sobre turnaway e sobre a carreira do profissional da área de Tecnologia da Informação. Existe ampla discussão em blogs na Internet, a partir de depoimentos de profissionais de TI, porém, no âmbito acadêmico e especialmente no Brasil, é notória a escassez de estudos sobre o tema.

Diante disso e em face dos resultados obtidos, espera-se que este trabalho leve o profissional de TI a uma maior conscientização acerca de sua carreira e do fenômeno do turnaway, e a empresa a uma melhor compreensão a respeito de como reter o profissional de TI em seu quadro profissional, de modo que o Brasil possa, em breve, ter profissionais de TI em número condizente com a sua demanda e os desafios como País. 

  • Sistema de Avaliação: Double Blind Review
    Editor Científico: Nicolau Reinhard
  • COMO REFERENCIAR ESTE ARTIGO
    (De acordo com as normas da American Psychological Association [APA])
    Mangia, U. B., & Joia, L. A. (2015, outubro/novembro/dezembro). Antecedentes à transição de carreira dos profissionais de Tecnologia da Informação. Revista de Administração [RAUSP], 50(4), 541-560. doi: 10.5700/rausp1218

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Oct-Dec 2015

Histórico

  • Recebido
    21 Out 2014
  • Aceito
    27 Jul 2015
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