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Evolução da demanda ao Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos

Evolution of demand for the nursing undergraduate course of Federal University of São Carlos

Resumos

O estudo analisa a evolução da procura pelo Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), desde o 1º vestibular em 1977 até 1996. Nessa análise serão utilizados comparativamente os dados dos Cursos da Universidade de São Paulo (USP) e da Escola Paulista de Medicina, atualmente denominada Uiversidade Federal de São Paulo (UNIFESP). A crise econômica e do setor da saúde influíram significativamente na queda súbita da procura pelos Cursos na década de 80. Em 1990 o vestibular da UFSCar passou a ser realizado pela Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST). Nesse ano a relação candidato/ vaga atingiu seu nível mais baixo, desde 1977. A partir de 1991, a tendência de retomada do crescimento econômico, e a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) determinaram o crescimento da demanda. Dos três cursos da carreira da Enfermagem na FUVEST, o da UFSCar que é o único do interior do Estado, ainda é o mais procurado em 3ª opção, apesar da procura em 1ª opção ter passado de 2,0 em 1990 para 6,0 em 1995, caindo para 4,6 em 1996. A pouca procura em 1990; os critérios de corte e o procedimento de chamada dos candidatos classificados concorreram para que das 30 vagas oferecidas fossem repreenchidas apenas 15, mesmo com dois vestibulares.

Opção profissional; Demanda aos cursos de enfermagem; Vestibular


This study analyzes the evolution of demand for the nursing undergraduate course of Federal University of Sao Carlos (UFSCar), from the first entrance examination in 1977 to 1996. The economic crises and the crises in health social programs affected significantly the demand for this entrance examination which declined abruptly 1980. During 1990, the demand for this nursing program was two candidates per chair, the lowest level since its foundation in 1977. From 1991, the recovery of the Brazilian economy associated with a change in the health care system were responsible for the increasing in the demand of nursing professionals. In 1990 the entrance examination started to be done by another institution (FUVEST, one state foundation responsible for this examination). The FUVEST was already responsible for the entrance examination for two others São Paulo State Universities. Starting in 1990 the candidates could compete simultaneously for the nursing program at the three universities through the same entrance examination. The UFSCar always was the last option for the candidates among those universities. However, the candidate demand for that program at UFSCar, as the first option, increased to six candidates per chair in 1995 with a small decrease in 1996 (4,6 candidates/chair). During 1982 and 1986, respectively three and six chairs, out of 30 offered by UFSCar, were not taken, this number increased to 15 during 1990. This great decrease in the interest for this nursing program, during 1990 could be attributed to three factors: First, the decrease in the candidate numbers that applied for this examination (around 2/1). Second, the degree of difficulty of the examination requirement. Third, the bureaucratic procedures that the candidates had to fultill, after being approved, to get enrolled in the program.

Choose professional; Demand to the nursing courses; First entrance examination


ARTIGOS ORIGINAIS

Evolução da demanda ao Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos

Evolution of demand for the nursing undergraduate course of Federal University of São Carlos

Edmar Vieira dos Santos; Sonia Maria Arantes Almeida

Enfermeiras. Professoras Assistentes do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos

RESUMO

O estudo analisa a evolução da procura pelo Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), desde o 1º vestibular em 1977 até 1996. Nessa análise serão utilizados comparativamente os dados dos Cursos da Universidade de São Paulo (USP) e da Escola Paulista de Medicina, atualmente denominada Uiversidade Federal de São Paulo (UNIFESP). A crise econômica e do setor da saúde influíram significativamente na queda súbita da procura pelos Cursos na década de 80. Em 1990 o vestibular da UFSCar passou a ser realizado pela Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST). Nesse ano a relação candidato/ vaga atingiu seu nível mais baixo, desde 1977. A partir de 1991, a tendência de retomada do crescimento econômico, e a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) determinaram o crescimento da demanda. Dos três cursos da carreira da Enfermagem na FUVEST, o da UFSCar que é o único do interior do Estado, ainda é o mais procurado em 3ª opção, apesar da procura em 1ª opção ter passado de 2,0 em 1990 para 6,0 em 1995, caindo para 4,6 em 1996. A pouca procura em 1990; os critérios de corte e o procedimento de chamada dos candidatos classificados concorreram para que das 30 vagas oferecidas fossem repreenchidas apenas 15, mesmo com dois vestibulares.

Unitermos: Opção profissional. Demanda aos cursos de enfermagem. Vestibular.

ABSTRACT

This study analyzes the evolution of demand for the nursing undergraduate course of Federal University of Sao Carlos (UFSCar), from the first entrance examination in 1977 to 1996. The economic crises and the crises in health social programs affected significantly the demand for this entrance examination which declined abruptly 1980. During 1990, the demand for this nursing program was two candidates per chair, the lowest level since its foundation in 1977. From 1991, the recovery of the Brazilian economy associated with a change in the health care system were responsible for the increasing in the demand of nursing professionals. In 1990 the entrance examination started to be done by another institution (FUVEST, one state foundation responsible for this examination). The FUVEST was already responsible for the entrance examination for two others São Paulo State Universities. Starting in 1990 the candidates could compete simultaneously for the nursing program at the three universities through the same entrance examination. The UFSCar always was the last option for the candidates among those universities. However, the candidate demand for that program at UFSCar, as the first option, increased to six candidates per chair in 1995 with a small decrease in 1996 (4,6 candidates/chair). During 1982 and 1986, respectively three and six chairs, out of 30 offered by UFSCar, were not taken, this number increased to 15 during 1990. This great decrease in the interest for this nursing program, during 1990 could be attributed to three factors: First, the decrease in the candidate numbers that applied for this examination (around 2/1). Second, the degree of difficulty of the examination requirement. Third, the bureaucratic procedures that the candidates had to fultill, after being approved, to get enrolled in the program.

Unitermos: Choose professional. Demand to the nursing courses. First entrance examination.

1 INTRODUÇÃO

O ideário neoliberal que propõe um Estado mínimo, via privatização dos serviços públicos e implantação de uma economia de mercado, segundo FERNANDES (1994), não constitui uma novidade. A autora exemplifica essa afirmação analisando a privatização do ensino de Enfermagem desde sua implantação na década de 20 até os anos 90.

Mas, foi durante o Governo do Presidente Fermando Collor de Mello, como em nenhum outro anterior, que se pode verificar a exata dimensão das idéias neoliberais. Nas Universidades - só para citar um dos serviços públicos - houve redução drástica de verbas para manutenção, achatamento dos salários dos servidores via ausência de reajustes e pressão para que fossem feitos cortes de pessoal.

Ainda como parte da estratégia para conter os gastos públicos, especificamente na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), foi proposto que os Departamentos e Coordenações de Curso estudassem a extinção dos cursos com baixa demanda sua passagem para o período noturno.

O Curso de Enfermagem, cuja demanda estava em queda, era um sério candidato extinção ou à passagem para o período noturno. Os docentes do Departamento de Enfermagem rejeitavam essa alternativa, por considerarem que as soluções deveriam ser precedidas de um estudo sobre as razões da queda na demanda. Para isso foi realizado em abril de 1991 o seminário A Procura pelos Cursos de Graduação em Enfermagem.

Por outro lado, já se tinha informação da realização do Workshop Baixa Procura - Implicações para os Órgãos Formadores, realizado em abril de 1990 em Ribeirão Preto, indicando que o problema não se limitava a um Curso, nem tampouco era atual, como se verá a seguir.

A baixa demanda aos Cursos de Graduação em Enfermagem, já na década de 40, constituía motivo de preocupação de enfermeiras como VERDERESE (1949), pelo fato de ser limitado o aumento do contingente desse profissional nos serviços de saúde e, conseqüentemente, a sua atuação.

Na década de 50 essa preocupação é evidenciada no trabalho realizado em 1956 pela Associação Brasileira de Enfermagem "Levantamento de Recursos e Necessidades de Enfermagem". Constata-se que o problema permanecia sem solução, só que passara a ser encarado como da categoria, através de sua Associação.

A situação da pouca procura pela Enfermagem era e continua sendo explicada em função o desprestígio da profissão na sociedade e/ou pela falta de informação dos jovens acerca da mesma - (ALCANTARA, 1963; MANZOLI, 1977; RESENDE; RIVERA, 1978). Entretanto, diferentemente das décadas anteriores, a de 60 e principalmente a de 70 marcaram o aumento progressivo da demanda pelos Cursos de Enfermagem. Esse fato é constatado por MISHIMA; ALMEIDA, (1994) ao analisarem a evolução da procura pelo Curso de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. Ou ainda por PEDRAZZANI (1990), em cujo trabalho se verifica que, entre 1977 e 1981, a procura pelos Cursos de Enfermagem da UFSCar e do Departamento de Enfermagem da Escola Paulista de Medicina* * A Escola Paulista de Medicina, em dezembro de 1994, passou a ser denominada Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Esse será o nome/sigla utilizado nas próximas referências a essa instituição independente da época foi superior a 15 candidatos por vaga, chegando a atingir 28 em 1979 e 1980 respectivamente.

Na década de 80 e início da de 90, o problema ressurge, parece que com maior intensidade, como se pode observar nos trabalhos de BRANDI et al (1989), PEDRAZZANI (1990) e MISHIMA; ALMEIDA (1994). A intensificação do problema pode ser creditada em parte à expansão das vagas para a Enfermagem a partir de 1975. Só no período de 1975 a 1977 foram criadas 22 escolas, o que elevou o número total de 41 para 63 (FERNANDES, 1994). Além disso, as escolas já existentes ampliaram suas vagas, como ocorreu com os cursos da Universidade de São Paulo na Capital e em Ribeirão Preto e com o Curso da UNIFESP, que dobraram o número de vagas.

Não se pode negar que o prestígio, a informação ou o número de vagas oferecidas determinem o grau de procura por uma profissão. Entretanto, esses fatores não parecem suficientes para explicar, por exemplo, o aumento significativo da demanda pela Enfermagem na década de 70 e sua queda repentina na de 80. A explicação certamente extrapola os limites da Enfermagem, tendo em vista que esta, enquanto prática socialmente determinada, está subordinada à estrutura econômica, política e ideológica vigente. Por outro lado, mesmo considerando apenas os Cursos de Enfermagem do Estado de São Paulo, verifica-se que, apesar da tendência ser de aumento da demanda na década de 70 e de queda na de 80, sua ocorrência não se deu de maneira uniforme nas escolas como mostram os trabalhos de BRANDI et al (1989) e PEDRAZZANI (1990). Isso significa que as circunstâncias em que o Curso estava inserido influiu em sua demanda, muito embora essa influência fosse hierarquicamente inferior estrutural ou mesmo à decorrente desta.

Assim, o presente trabalho tem como objetivo analisar a evolução da demanda pelo Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), desde seu 1º vestibular em 1977 até 1996, ou seja, durante os 20 anos de existência do Curso. Nessa análise serão utilizados comparativamente, os dados referentes a demanda aos Cursos da USP e da UNIFESP.

2 METODOLOGIA

2.1 FONTES DE INFORMAÇÃO

a) Manual da Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST)

b) Relatórios emitidos pela FUVEST contendo: relação de carreiras, respectivas vagas oferecidas, número de inscritos em 1ª, 2ª e 3ª opções e relação candidato/ vaga

c) Lista de espera dos candidatos classificados para os Cursos de Enfermagem

d) Coordenador do vestibular da UFSCar

e) Funcionária da Divisão de Controle Acadêmico (DICA) que realizou e/ou coordenou a chamada dos candidatos classificados na lista de espera

f) O estudo de Pedrazzani (1990) "Perspectivas para a enfermagem: relação candidato/vaga em exames vestibulares".

2.2 PROCEDIMENTO

a) Do manual da FUVEST e da lista de espera foram destacadas as seguintes informações: critérios de corte, peso das provas, número de inscritos em 1ª, 2ª e 3ª opções, relação candidato/vaga, número de classificados na lista de espera com 2º grau completo, procedimento de chamada dos candidatos classificados na lista de espera com 2º grau completo e número de matrículas por tipo de chamada.

b) Entrevista com o Coordenador de Vestibular na UFSCar, com o objetivo de obter respostas às seguintes indagações: como o aluno fica sabendo que está na lista de espera? As listas de espera de diferentes cursos de uma mesma carreira são iguais? O remanejamento é feito entre carreiras ou entre cursos?

c) Entrevista com a funcionária da DICA para obtenção de informações detalhadas sobre o procedimento de divulgação e chamada dos candidatos classificados na lista de espera.

d) Do estudo de PEDRAZZANI (1990) foi extraída a relação candidato/vaga, em primeira opção, no vestibular para os Cursos de Graduação em Enfermagem da USP, UNIFESP e UFSCar, nos anos de 1977 a 1988.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Até 1986, o vestibular para os Cursos da UFSCar era realizado pela própria Universidade no mês de julho. Em 1987 não houve vestibular e em 1988 os exames passaram a ser realizados no começo do ano, ainda pela Universidade. Foi a partir de 1990 que sua realização ficou a cargo da FUVEST.

O vestibular da FUVEST de 1996 ofereceu para a Enfermagem um total de 270 vagas, sendo portanto, o segundo Curso da área de saúde em número de vagas, já que para a medicina foram oferecidas 485. Para os demais Cursos da área foram oferecidas as seguintes vagas: Odontologia 263, Farmácia e Bioquímica 185, Psicologia 150, Fonoaudiologia 83, Fisioterapia 65, Terapia Ocupacional 55, Nutrição 40 e Ortóptica 13.

As 270 vagas dos Cursos de Enfermagem estão distribuídas em duas Carreiras, ou seja, Enfermagem e Enfermagem - Ribeirão Preto: a Carreira Enfermagem incluindo os Cursos da USP-SP e UNIFESP, ambos localizados na capital, com 160 vagas, ou seja, 80 para cada um deles e o Curso da UFSCar, na Cidade de São Carlos, com 30 vagas, perfazendo um total de 190; a Carreira Enfermagem - Ribeirão Preto incluindo apenas o Curso da USP - Ribeirão Preto, com 80 vagas.

3.1 RELAÇÃO CANDIDATO/VAGA

A Fig. 1 apresenta a evolução da relação candidato/vaga dos Cursos de Enfermagem da USP, UNIFESP e UFSCar no período de 1977 a 1996. Os dados referentes às duas escolas da USP são apresentados juntos no período de 1977 a 1988 e separados a partir de 1989. A lacuna observada nos dados da UFSCar, entre 1986 e 1988, corresponde à suspensão do vestibular em 1987.


A década de 80 se inicia com uma súbita queda na relação candidato/vaga para os cursos em questão, queda mais evidente na UNIFESP, seguida da UFSCar, e por último da USP, conforme mostra a Fig. 1. Essa redução perdurou por toda a década, ensaiando uma leve reação entre os anos de 86 e 87, porém permanecendo muito longe dos valores observados nos anos iniciais da década, para em seguida manter a tendência de queda. Nesse sentido PEDRAZZANI (1990) conclui, com base em uma análise estatística em que foi utilizado o método biparamétrico de Hold, que para o ano 2000 a relação candidato/vaga seria menor que 1, o que parece não se confirmar, pelo menos no que diz respeito aos dados disponíveis até o vestibular de 96.

A situação econômica do País na década de 80, diferentemente dos anos 70, foi marcada por profunda recessão. O crescimento real per capita passou dos quase 7% ao ano entre 1976 e 1980 para 2% em 1984 (GOLDSMITH, 1986: p.505), considerado por esse autor como um fato sem precedentes na história econômica do País desde meados do século XIX. Além disso, a recessão foi acompanhada de aumento crescente de inflação, que passou de 102,8 em 1981 para 195,8 em 1984 (FUNDAP, 1994). Dessa forma, parece ficar claro o efeito devastador da crise econômica sobre a procura pelos Cursos de Enfermagem, quando se observa na Fig. 1 a queda vertiginosa da relação candidato/vaga a partir dos primeiros anos da década de 80.

Ainda considerando o aspecto econômico e tendo como referência o ano de 1980, a Fig. 2 mostra que em 1984 se inicia um período de recuperação que toma impulso em 1985 e se mantém em 1986, sob o advento do Plano Cruzado. Já em 1987 retoma-se a tendência de queda que atinge seu nível mais baixo em 1990, sendo precedida de breve recuperação em 1989, que foi retomada a partir de 1993. Portanto, o vaivém da retomada do crescimento, estagnação e recessão influiu de forma significativa na procura pelos Cursos de Enfermagem. É o que seria de se esperar, tendo em vista que cerca de 60% das mães e 45% dos pais dos candidatos ao vestibular pela FUVEST possuem até o 1º Grau (BRANDI et al, 1989). Com essa escolaridade supõe-se que esses pais, inseridos no mercado de trabalho como trabalhadores assalariados não manuais, artesãos, pequenos e micro-empresários, sofrem mais diretamente os efeitos da recessão. Dessa forma, a luta pela sobrevivência é mais premente que a continuidade dos estudos dos filhos, principalmente se for considerado que: a) os Cursos de Enfermagem das Escolas Públicas são em tempo integral e exigem dos pais a manutenção econômica dos filhos e b) as exigências do vestibular supõem um maior preparo do candidato, em geral fornecido nos cursinhos, que são pagos, e cuja mensalidade não é desprezível.


Os anos 90 se iniciaram com uma reação de aumento progressivo da relação candidato/vaga na USP-São Paulo, UNIFESP e UFSCar. No caso da UFSCar essa reação se dá a partir de 91, sendo que no ano anterior a relação candidato/ vaga tinha sido a menor desde a criação do Curso. Esse foi o ano de estréia da UFSCar na FUVEST. Dessa forma combinaram-se: a) o pouco conhecimento do Curso por ser estreante; b) a concorrência com os demais Cursos, principalmente o da USP-São Paulo e o da UNIFESP que fazem parte da mesma carreira junto com o da UFSCar; c) a suspensão do vestibular em 1987 (até 86 a menor relação candidato/vaga tinha sido 6,7 e em 1988, ou seja, após a suspensão do vestibular e sua passagem do mês de julho para o começo do ano, foi de 2,5) e d) a queda vertiginosa da procura pelo Curso no início dos anos 80, que só se fez acentuar com o decorrer da década.

Por outro lado, a crise na saúde que já se fazia sentir no final da década de 70, em função dos altos custos da assistência médica decorrentes da privatização do setor, o que levou ao consumo de tecnologia sofisticada dirigida à assistência curativa, se acirra na década seguinte com a crise econômica (TEIXEIRA, 1989). Urgiam, portanto, alternativas para evitar que o setor entrasse em colapso. Além disso, e como parte da luta pela democratização que desembocou nas "Diretas Já", crescia o movimento por direitos sociais, entre eles o direito à saúde. Assim é que em 1987 foi criado o SUDS como resultado do processo de reestruturação do INAMPS, que visava à descentralização da assistência à saúde, cuja execução passaria à competência de Estados e Municípios (POSSAS, 1989). No ano seguinte a nova Constituição em seu Art. 196 instituía "A saúde como direito de todos e dever do estado...". Dessa forma, pelo menos legalmente, foi assegurada a conquista desse direito.

Todo esse processo fez ampliar a rede pública de saúde, manter e até mesmo reduzir, em algumas regiões, a rede privada, como mostra a Fig. 3. A zona urbana da cidade de São Carlos, por exemplo, que até 83, contava apenas com um pronto socorro, na rede municipal de saúde, a partir de então passou a construir os primeiros postos de saúde, que em 93 já eram 9, número que permaneceu até hoje.


Mesmo não contando com dados quantitativos, é possível deduzir que esse processo tenha levado a um aumento nos níveis de emprego na área de saúde em geral, e de enfermagem em particular. Esse aumento com certeza contribuiu significativamente para o crescimento da procura pelos cursos de enfermagem na década de 90, apesar de as condições econômicas em termos de crescimento não terem sido muito diferentes das da década de 80.

Situação peculiar é a do Curso da USP-Ribeirão Preto, cuja tendência na década de 90 é a irregularidade na sua procura, o que, apesar de não ser objetivo desse trabalho, suscita a busca de explicações. Uma delas é a condição de o Curso estar localizado em uma cidade onde a área de saúde se destaca como referência. Por isso, talvez, qualquer alteração sofrida nessa área tenha repercussões imediatas favoráveis ou não à procura pela enfermagem. A outra diz respeito ao fato de o Curso constituir uma carreira na FUVEST, o que possibilita aos candidatos optarem por ele quando a procura no ano anterior foi menor que para os demais cursos. Aumenta dessa forma a procura, ocorrendo o inverso no ano seguinte. Essa explicação está baseada no depoimento do pai de uma candidata que lhe deu essa informação. Assim sendo, caberia testar até que ponto os candidatos estão utilizando esse procedimento ou se foi apenas um caso esporádico.

3.2 INSCRIÇÃO NA FUVEST, POR OPÇÃO, NA CARREIRA ENFERMAGEM

A Fig. 4 mostra que o Curso mais procurado em 1ª opção na Carreira Enfermagem é o da USP-SP, em seguida aparece o da UNIFESP e por último o da UFSCar. Essa seqüência é praticamente mantida quando se trata da 3ª opção. Os Cursos da USP-SP e da UNIFESP são procurados em 2ª opção praticamente na mesma proporção, enquanto que o Curso da UFSCar apresenta uma procura semelhante A da 1ª opção.


Pode-se dizer que de modo geral o Curso da UFSCar é eleito pelos candidatos da FUVEST como 3ª opção. Essa escolha faz sentido quando se considera que: a) a USP-SP e UNIFESP são mais antigas, conhecidas e identificadas por sua área de saúde, b) a cidade de São Carlos não possui tradição de assistência na área de saúde como acontece, por exemplo, com Ribeirão Preto e c) cerca de 70% dos candidatos são da capital, portanto estão mais próximos da USP e da UNIFESP. Resta saber se realmente os candidatos da capital optam pelas escolas ali localizadas e se os do interior fazem o mesmo com aquelas que estão mais próximas.

3.3 MATRÍCULA NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM DA UFSCar

No período compreendido entre 1977 e 1989, pode ser observado na Fig. 5 que em 1982 sobraram três vagas das 30 oferecidas pelo Curso de Enfermagem da UFSCar, ocorrendo o mesmo em 1986 com cinco vagas. Essa tendência observada na década de 80 é confirmada pelos trabalhos de BRANDI et al (1989) e MISHIMA; ALMEIDA (1994) no que se refere As escolas públicas do Estado de São Paulo. A ociosidade de vagas, portanto, não foi um fenômeno limitado ao Curso de Enfermagem em questão. Ele ocorreu até com menor intensidade neste curso do que, por exemplo, na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, que em 1982 não preencheu 12 das 80 vagas oferecidas e de 1986 a 1989 não chegou a preencher metade de suas vagas, conforme apontam MISHIMA; ALMEIDA (1994).


O fato de a queda nas matriculas no Curso de Enfermagem da UFSCar não ter assumido as dimensões da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, talvez se deva: a) ao menor número de vagas ofertadas, b) o vestibular para a UFSCar ser específico para os cursos da própria universidade e c) menor número de opções em carreiras da área de saúde (Enfermagem, Fisioterapia e Terapia Ocupacional), em relação ao vestibular da FUVEST.

O pequeno número de inscritos no vestibular de 90, com certeza, concorreu para que o número de matrículas fosse de apenas 15, mesmo com dois vestibulares (no primeiro houve 3 matrículas e no segundo 12), não restando inclusive aprovados para a 3ª chamada do 1º vestibular e para a 2ª chamadas do 2º vestibular. Os critérios de corte também contribuíram para o pequeno número de aprovados e conseqüentemente de matriculados, tendo em vista que incluíram:a) redação e biologia eliminatórias, com nota mínima 3 e peso 2 e b) média aritmética de no mínimo 3 nas demais provas e peso 1.

Em 1991 foi mantido o critério de redação eliminatória com nota mínima 3 e peso 2; biologia permaneceu com peso 2, porém sem o caráter de eliminação e retirou-se a média aritmética das demais provas, que permaneceram com peso 1. Esse procedimento, aliado a um aumento da relação candidato/vaga de 2,0 para 3,0 resultou em 17 matrículas e uma lista de espera de cerca de 250 candidatos classificados com 2º grau completo.

Em 1992, o critério de corte foi o mesmo de 1991, mesmo assim conseguiu-se preencher todas as vagas, apesar da procura ter sido até um pouco menor que em 1991. Com certeza, isso ocorreu em função do Departamento de Enfermagem e da Coordenação do Curso terem tido acesso a lista de espera integral. Dessa forma, foi possível informar os candidatos, por telefone, que eles estavam na lista de classificados e ao mesmo tempo convoca-los para a matrícula, caso tivessem interesse. No ano anterior, a chamada inclusive da lista de espera era feita pela DICA, que não teve acesso a lista integral. Os nomes dos candidatos classificados eram solicitados à FUVEST à medida que as vagas iam sendo preenchidas. Os candidatos eram informados de sua aprovação e convocados para a matrícula através de telefonema a cobrar. Esse procedimento, muito provavelmente retardava a chamada, além de que telefonemas a cobrar nem sempre são completadas, conseqüentemente os prazos de matrícula se esgotavam sem o preenchimento das vagas.

Diferentemente do ano anterior, em 1993 não houve necessidade de informar os candidatos por telefone, eles próprios telefonavam e/ou compareciam à DICA para saberem se estavam ou não na lista de espera. Essa mudança de atitude leva a supor entre outros fatores que: a) a maior procura significou maior interesse, b) o curso foi se tornando conhecido, portanto, procurado e c) as informações contidas no Manual da FUVEST de 1993, descreviam com mais clareza o procedimento de chamada da lista de espera. Em 1990, no Manual da FUVEST constava a seguinte redação: "no dia 20/02/90 será divulgada pela imprensa* a LISTA DE ESPERA para os Cursos que não tiverem suas vagas preenchidas". p.135. Como não houve lista, nada foi divulgado. Em 1991 e 1992, foi mantida a mesma redação, porém a lista de espera com cerca de 249 e 317 candidatos respectivamente, com 2º Grau completo não foi divulgada, portanto se algum candidato ficou esperando a lista pela imprensa, não a viu. Em 1993, a redação foi alterada para "no dia 25/02/93 será divulgada a LISTA DE ESPERA para os cursos que não tiverem suas vagas preenchidas". p.49. e em 1994 a redação explícita com maior clareza o procedimento de chamada quando diz "no dia 24/02/94 será divulgada LISTA DE ESPERA para os Cursos que não tiverem preenchido suas vagas. As LISTAS DE ESPERA estarão à disposição nas escolas participantes da FUVEST 94. p.28.

A preocupação com a descrição clara do procedimento de divulgação da lista de espera pode parecer supérflua aos cursos que têm alta demanda, mas não o é para um curso cujo preenchimento de vagas se dá em boa parte através da lista de espera, conforme mostra a Fig. 5. Isto ocorre em razão do Curso de Enfermagem da UFSCar fazer parte da mesma carreira junto com a USP-SP e UNIFESP, que além de serem mais antigas e conhecidas, estão localizadas na cidade de onde provêm cerca de 70% dos candidatos, o que os fazem optar por estas escolas quando são chamados e as vagas das mesmas ainda não foram preenchidas, o que possibilita o remanejamento. Essa situação começa a se alterar à partir de 94, quando a maioria das vagas da UFSCar foram preenchidas com a 1ª chamada e aqui vale considerar: a) o crescente aumento da procura pela carreira Enfermagem em 93 e 94 e, em particular pelo Curso da UFSCar; b) aumento de candidatos da cidade de São Carlos e região e c) a crescente dificuldade dos pais em manter seus filhos estudando fora da cidade de origem.

Para 1996, considerando a redução da relação candidato/vaga para todos os Cursos da Carreira Enfermagem, a perspectiva é de que a lista de espera seja mais intensamente utilizada para o preenchimento das vagas do Curso da UFSCar.

4 CONCLUSÕES

A relação candidato/vaga para a Enfermagem da UFSCar, que de 1977 a 1982 variou de 16 a 22, caiu para 7 em 1985, acompanhando a crise econômica e do setor saúde nos anos 80. Essa queda foi maior ainda na UNIFESP e menor na USP.

A suspensão do vestibular da UFSCar em 1987, com sua passagem para o início do ano em 1988; a recessão de 1990 e a estréia da UFSCar na FUVEST na mesma carreira da UNIFESP e USP-SP, concorreram para que a procura pela Enfermagem em 1990 atingisse seu nível mais baixo, desde seu 1º vestibular em 1977.

A partir de 1991 a tendência de retomada do crescimento; a implantação do SUS e o maior conhecimento do Curso, concorreram para que a demanda para a Enfermagem UFSCar passasse de 2,0 em 1990 para 6,0 em 1995.

Dos três Cursos da Carreira. Enfermagem, o da UFSCar que é o único do interior do Estado, ainda é o mais procurado em 3ª opção, apesar da procura em 1ª opção ter passado de 2,0 em 1990 para 6,0 em 1995.

A Enfermagem é a 3ª Carreira da Área de Saúde em número de vagas na FUVEST (270). Dessa forma, carreiras com alta demanda, como exemplo a Fisioterapia, se forem consideradas as vagas oferecidas (65), teria demanda próxima da Enfermagem.

A queda súbita na procura pela Enfermagem nos anos 80, levou a ociosidade de 3 e 5 vagas nos anos de 1982 e 1986 respectivamente. Essa ociosidade foi bem menor que da USP-Ribeirão Preto, talvez em função de: a) o vestibular da UFSCar ser realizado no meio do ano para os próprios Cursos; b) menor número de vagas; c) menor número de opções em carreiras da área de saúde.

A pouca procura em 1990; os critérios de corte do vestibular da FUVEST e o procedimento da chamada dos candidatos classificados, concorreram para que das 30 vagas oferecidas fossem preenchidas apenas 15 mesmo em dois vestibulares.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Mar 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 1997
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