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Caracterizaçao de um grupo de idosas hospitalizadas e seus cuidadores visando o cuidado pós alta hospitalar

Caracterización de un grupo de ancianas hospitalizadas y sus cuidadores con vistas al cuidado post-alta hospitalaria

Characterization for a group of hospitalized old women and their cares vising the care after discharge

Resumos

No presente estudo foram estudadas 50 idosas internadas em unidade de clínica médica e seus respectivos cuidadores. Verificou-se que a maioria das idosas apresentavam dependências diversas e, portanto, necessitavam da presença de um cuidador para sua sobrevivência. Os cuidadores, em sua maioria, eram do sexo feminino, pertenciam à família da idosa, tinham algum grau de escolaridade e apontaram diversas dificuldades no cuidado da mesma. Constata-se, portanto, que durante a hospitalização, há necessidade de se adotarem medidas visando ao preparo do cuidador para assumir a complexa assistência requerida pelo idoso, principalmente após a alta hospitalar.

Cuidadores; Idoso; Assistência a idosos


La presente investigación trata del estudio de 50 mujeres ancianas internadas en clínica médica y sus respectivos cuidadores. Se verifico que la mayoría de las ancianas presentaban dependencias diversas y, por tanto, necesitaban de la presencia de un cuidador para sobrevivir. Los cuidadores, en su mayoría, eran del sexo femenino, pertenecían a la familia de la anciana, tenían algún grado de escolaridad e indicaron varias dificultades en el cuidado de la misma. Se constató que durante la hospitalización hay la necesidad de adoptar medidas con vistas al preparo del cuidador para asumir la compleja atención que requiere el anciano, principalmente después del alta hospitalaria.

Cuidador; Anciano hospitalizado


In the present study 50 old women interned in a medical treatment unity and their respective caregivers were studied. It was verified that most of the women preseted various dependencies and, threfore, they needed the presence of a caregiver for their survival. The caregivers, most of them female, belonged to the old women's family, had some scholarship degree and pointed out several difficulties en caring for the women. It is verified, consequently, that during hospitalization there is the need to take measures aiming at preparing the caregiver to take on the complex aid required by the old person, especially after hospital discharge.

Caregivers; Aged; Old age assistance


ARTIGO ORIGINAL

Caracterizaçao de um grupo de idosas hospitalizadas e seus cuidadores visando o cuidado pós alta hospitalar

Characterization for a group of hospitalized old women and their cares vising the care after discharge

Caracterización de un grupo de ancianas hospitalizadas y sus cuidadores con vistas al cuidado post-alta hospitalaria

Maria José Sanches MarinI; Emilia Luigia Saporiti AngeramiII

IEnfermeira Docente Assistêncial do Curso de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Marília e Doutoranda em Enfermagem pelo Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Universidade de são Paulo de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, Brasil

IIProfessora Titular do Departamento de Enfermagem Geral e Especializada da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, Brasil.Email - marnadia@zaz.com.br

RESUMO

No presente estudo foram estudadas 50 idosas internadas em unidade de clínica médica e seus respectivos cuidadores. Verificou-se que a maioria das idosas apresentavam dependências diversas e, portanto, necessitavam da presença de um cuidador para sua sobrevivência. Os cuidadores, em sua maioria, eram do sexo feminino, pertenciam à família da idosa, tinham algum grau de escolaridade e apontaram diversas dificuldades no cuidado da mesma. Constata-se, portanto, que durante a hospitalização, há necessidade de se adotarem medidas visando ao preparo do cuidador para assumir a complexa assistência requerida pelo idoso, principalmente após a alta hospitalar.

PALAVRAS-CHAVE: Cuidadores. Idoso. Assistência a idosos.

ABSTRACT

In the present study 50 old women interned in a medical treatment unity and their respective caregivers were studied. It was verified that most of the women preseted various dependencies and, threfore, they needed the presence of a caregiver for their survival. The caregivers, most of them female, belonged to the old women's family, had some scholarship degree and pointed out several difficulties en caring for the women. It is verified, consequently, that during hospitalization there is the need to take measures aiming at preparing the caregiver to take on the complex aid required by the old person, especially after hospital discharge.

KEYWORDS: Caregivers. Aged. Old age assistance.

RESUMEN

La presente investigación trata del estudio de 50 mujeres ancianas internadas en clínica médica y sus respectivos cuidadores. Se verifico que la mayoría de las ancianas presentaban dependencias diversas y, por tanto, necesitaban de la presencia de un cuidador para sobrevivir. Los cuidadores, en su mayoría, eran del sexo femenino, pertenecían a la familia de la anciana, tenían algún grado de escolaridad e indicaron varias dificultades en el cuidado de la misma. Se constató que durante la hospitalización hay la necesidad de adoptar medidas con vistas al preparo del cuidador para asumir la compleja atención que requiere el anciano, principalmente después del alta hospitalaria.

PALABRAS-CLAVE: Cuidador. Anciano hospitalizado.

INTRODUÇÃO

Nossa atuação em Unidade de Clínica Médica permite o contato freqüente com idosos e a vivência da intensidade de seus problemas, uma vez que são propensos a dependências diversas, com conseqüente necessidade de apoio de um cuidador em sua manutenção.

A preocupação com a velhice, apesar de constituir-se em questão antiga, vem aumentando no mundo todo nos últimos decênios devido à constatação do aumento da média de vida da população, atribuída às melhores condições sanitárias, à profilaxia de doenças, ao surgimento de novas drogas e ao planejamento familiar.(1-4)

No Brasil, a modificação da expectativa de vida ao nascer ao longo do século chama a atenção. Em 1900, os indivíduos com mais de 60 anos perfaziam um percentual de 3% e a expectativa de vida era de 33,7 anos. Em 1970, verificou-se um percentual de 5,2% e uma expectativa de vida de 57,1 anos, sendo que, no censo de 1980, esse percentual subiu para 6,5% e a expectativa de vida, para 63,5.(1,5)Dados daFundação Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística(6)confirmam que em 1990 a população de idosos representava 7,05% da população do Brasil e, conforme Veras(5), a expectativa de vida era de 68,6 anos para esse período.

Tem-se constatado que as pessoas envelhecidas, mesmo as que têm boa saúde, debilitam-se paulati-namente devido às alterações fisiológicas que, com o avanço da idade, limitam as funções do organismo, tornando-as cada vez mais predispostas à dependênciapara a realização do autocuidado, à perda daautonomia e da qualidade de vida. Tornam-se também, mais suscetíveis a doenças e, decorrente disso, vem a hospitalização.

Walters(7)reconhece que a assistência oferecida no ambiente hospitalar cria dependências que dificultam o retorno ao lar. Assim, se por causa de uma enfermidade o idoso precisa ser hospitalizado, o hospital deve prepará-lo o mais eficientemente para que ele possa retornar ao lar em condições físicas, psíquicas e sociais de independência.

Como o sistema de saúde brasileiro, que se encontra centrado na assistência hospitalar, vem passando atualmente por mudanças, novas propostas de atenção visando à desospitalização têm surgido. Entre elas destaca-se a internação domiciliar que visa, além da humanização da assistência, a otimização dosleitos hospitalares e a redução dos custos daassistência.

Observa-se que, atualmente, quem temassumido a responsabilidade pelo cuidado do idoso é algum elemento da família ou alguém contratado pela mesma. Esse indivíduo que assiste o idoso tem sido denominado pela literatura como "cuidador", distinguindo-se, conforme citação de Duarte(8)dois tipos: "cuidador formal", aquele elemento contratado pelo idoso e/ou família para exercer ações de cuidado, estabelecendo-se nesse caso um vínculo empregatício e o denominado "cuidador informal", aquele elemento da família do idoso ou a ele relacionado que passa a assumir o desenvolvimento das ações do cuidado.

O cuidador do idoso, muitas vezes parte da família, além de ser fundamental para sua qualidade de vida, precisa estar preparado por profissionais da saúde para assumir a complexa assistência exigida, principalmente quando esse é dependente para as atividades de vida diária.

A família moderna, porém, tem-se deparado com dificuldades para essa assistência por encontrar-se menos numerosa e estar a mulher integrando o mercado de trabalho fora do lar. O aumento do número de divórcios e/ou separações também faz diminuir o apoio ao idosos.

Barusch(9)constatou que, em vários países, já existem incentivos governamentais, na forma de pagamento, para os membros da família que proporcionam assistência ao idoso. No Brasil esse aspecto não se encontra contemplado na política nacional do idoso, regulamentada pelo decreto n. 1.948, de 3 de julho de l.996 o qual, no entanto, determina que os programas de amparo aos idosos sejam executados, preferencialmente, em seus lares.(10)

O cuidador, como se sabe, tem recebido, dos profissionais de saúde que atuam na área hospitalar, pouca atenção no sentido de capacitá-los para a continuidade da assistência, embora assuma papel de grande importância na assistência ao idoso em cujo processo deveria estar envolvido desde o momento da admissão. Ao acompanhar o idoso, há maior possibilidade de comunicação dele com os profissionais da equipe de saúde. Além disso, este contato pode proporcior maior suporte emocional e estímulo psicológico a quem passa a maior parte do tempo inativo.

Laitinen(11)reconheceu diversas ações relacionadas com as atividades de vida diária ( banho, alimentação, auxílio na deambulação, cuidados com cabelos, unhas, dentes e pele) desenvolvidas pelo cuidador ao idoso hospitalizado, com benefícios ao seu bem-estar e qualidade de vida. Segundo ela, os profissionais envolvidos com tal assistência devem estar preparados e atentos para as orientações, treinamento de habilidade e suporte emocional de que podem precisar.

A nosso ver, essa constatação não deixa dúvidas quanto a necessidade de se envolver o cuidador na assistência ao idoso, visto que muito facilitaria a proposta de planejamento de alta. Quem vai assumira responsabilidade pelo idoso deve receber preparopara lhe prestar cuidados de forma adequada. Desta forma, um plano de ação visando ao atendimento do idoso, além de identificar-lhes as necessidades, deve prever também as orientações e desenvolvimento de habilidades do cuidador.

Considerando então a relevância do cuidador enquanto integrante do processo de assistência ao idoso, o presente estudo propõe-se a caracterizar um grupo de idosas hospitalizadas quanto à idade, escolaridade, condições de comunicação e dependência para atividades de vida diária, bem como seus cuidadores quanto à faixa etária, escolaridade, sexo, grau de parentesco e dificuldades na prática de cuidados com a idosa.

METODOLOGIA

Local

A presente pesquisa foi realizada na unidade de Clínica Médica e Cirúrgica Feminina (unidade D) do Hospital das Clínicas I da Faculdade de Medicina de Marília.

O Hospital das ClínicasIconta atualmente com 148 leitos de internação, distribuídos entre as sub unidades de pediatria, berçário, unidade de terapiaintensiva, moléstias infecciosas, psiquiatria,ginecologia, obstetrícia, clínica médica e cirúrgica, geral e especializada. Do total de leitos, 86 são destinados a pacientes clínicos e cirúrgicos, no atendimento geral e especializado, encontrando-se distribuídos nas subunidades A,B,C,e D, nas quais a proporção média de idosos atendidos representa 40% do total de pacientes.

A unidade D (Unidade de Clínica Médica e Cirúrgica Feminina) foi escolhida como campo deestudo por tratar-se do local de atuação dapesquisadora há alguns anos. A referida Unidade conta, atualmente, com 16 leitos destinados ao atendimento de idosas, com alterações clínicas e cirúrgicas de urgência e emergência, provenientes do pronto socorro.

População do estudo

O estudo contou com a participação de 50 idosasque residiam em Marília e foram internadas nareferida unidade, no período de abril a junho de 1998e, sempre que necessário, acompanhadas de seusrespectivos cuidadores, por solicitação da enfermeira da unidade ou pelo desejo dos próprios familiares.

Considerou-se como idosa, quem tivesse 60 anos ou mais de idade, de acordo com critérios estabelecidos pela Lei nº8.842 que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso(12)

Foram excluídas do estudo as idosas que seinternaram em estado grave com forte ameaça à vida.

Os cuidadores participaram do estudo sempre que a idosa apresentava algum grau de dependência física e/ou cognitiva. Das 50 idosas que participaram do estudo, 42 (82%) apresentaram algum grau de dependência. Somente 8 (16%) eram totalmente independentes par as atividades de vida diária e, assim, conseguiam assumir toda a responsabilidade pelos cuidados. Os cuidadores foram entrevistados no momento da internação. Em alguns casos, quando isso não era possível, o serviço social solicitava seu comparecimento ao hospital.

Instrumento de coleta de dados

Para a coleta de dados utilizou-se um instrumento estruturado (anexo_I anexo_I )contendo dados da idosa (idade, escolaridade, condições de comunicação e dependência para as atividades de vida diária) e do cuidador (idade, escolaridade, sexo, grau de parentesco com a idosa e dificuldades para cuidar da idosa após a alta hospitalar, incluindo a habilidade para cuidar da idosa, as acomodações da casa, a cooperação de outros, o relacionamento familiar a situação financeira, a mudança no estilo de vida, o retorno ao serviço de saúde e outras).

Aspectos éticos

Para efetivar a coleta de dados foi solicitada autorização à comissão de ética da Faculdade de Medi-cina de Marília, a qual manifestou-se favorável à mesma.

Antes de iniciar a coleta de dados as idosas e/ ou cuidadores foram orientados quanto à finalidade, ao procedimento e informados de que estariam livres para participar ou não do estudo. Quando houve interesse em participar, solicitou-se a assinatura da pessoa para o termo de consentimento.

Procedimento

A coleta de dados da idosa e do cuidador foi realizada no momento da internação.

Os dados foram coletados através da entrevista face a face o que segundo Polit; Hangler(13)permite a observação do entrevistado, o que garante maior profundidade e qualidade dos dados colhidos

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização do grupo de idosas

Ao observar o gráfico I, constata-se, entre asidosas em estudo, 13 (26%) pertencentes à faixa etária dos 70 a 74 anos, 12 (24%) na faixa etária entre60e64 anos, dez (20%) na faixa etária entre 65 e 69 anos,sendo que apenas quatro (8%) delas tinham 90 anos ou mais. A faixa de idade a que o idoso pertence representaum aspecto importante a se considerar devido ao maiorrisco de adoecer e de apresentar maior grau dedependência,quanto mais avançada ela se apresenta.


Quanto ao grau de comunicação, 35 (70%) dasidosas apresentaram-se em boas condições de comunicação verbal, expressando dessa forma seumodo de pensar e sentir, enquanto cinco delas (10%) eram pouco comunicativas, respondendo apenas o quelhes era questionado e manifestavam, ao mesmotempo, expressão facial triste, mantendo-se isoladas. Ainda 10 (20%) das idosas não apresentavam condições de comunicação verbal, devido à alterações cognitivas, sensoriais, emocionais e de memória. Note-se que acapacidade de comunicação representa importante indicativo da qualidade de vida, uma vez que permite as pessoas cumprimento de seus papéis sociais.

Em estudo realizado com 1661 idosos acima de65 anos residentes no município de São Paulo, entrevistados domiciliarmente, foi constatado que 32,7% deles referiram dificuldades na conversaçãodevido a problemas auditivos(14). Esses dados remetemà necessidade de relacionar entre si as alteraçõesencontradas, uma vez que uma poderá funcionar como desencadeadora de outras.

Quanto à escolaridade, o gráfico II mostra que31 (62%) das idosas eram analfabetas, 16 (32%)tinham o primeiro grau incompleto e apenas três (6%)tinham o primeiro grau completo. Esses índices mostram o grande número de analfabetos existente na população brasileira, principalmente quando se refere às idosas que viveram sua infância em época na qual o ensino não era prioridade e a mulher seencontrava marginalizada em relação à educação, ao trabalho e à política, haja vista a citação de Wright; Carneiro(15) "em 1929, as mulheres que ingressavamno curso superior iam para os cursos de farmácia, porque era uma profissão que tinha sofrido grande desvalorização e não interessava para os homens".Somente por volta da metade do século XX, o ensino primário tornou-se obrigatório para a mulher.


O analfabetismo no idoso, segundo Kinsella(18), representa uma realidade dos países em desenvolvimento como por exemplo o Brasil com 50% em 1980, 64% em Honduras em 1988 e 38% no Peruem 1986. Na Guatemala, em 1981, menos de 3% haviam completado a escola secundária. Há de se considerar ainda que as mulheres estão emdesvantagem em relação aos homens.

O grau de escolaridade tem implicações naassistência de enfermagem as quais necessitam ser consideradas ao se realizarem atividades educativas, juntamente com outras alterações próprias doprocesso de envelhecimento, como a diminuição da acuidade visual e auditiva, por interferirem naaprendizagem.


A avaliação da dependência para a realização das atividades de vida diária é considerada, em geriatria, oponto básico para o estabelecimento de programas deassistência, uma vez que tais atividades revelam ashabilidades, a independência, o bem-estar, a auto-estima e, consequentemente, a qualidade de vida dessas pessoas.

A capacidade funcional do idoso, quando afetada,interfere em outros aspectos de sua vida como estabilidade financeira e integração social. Paramensurar o grau de dependência funcional do idoso, muitas escalas têm sido desenvolvidas e adaptadas. Ramos(16)utilizaram a técnica de desenvolvimento de escalas proposta por Guttman(17)e validaram uma escala com 12 indicadores de dependência para o idoso a qual considera as atividades instrumentais de vida diária (fazer compras, pegar ônibus, administrar as finanças e tomar os medicamentos adequadamente) e as atividadesde vida diária básica (continência, vestir-se, tomarbanho, comer, pentear-se, ir ao banheiro, passar para a cama e sair dela), organizadas hierarquicamente.

De acordo com as doze atividades de vida diária citadas acima, Ramos(16)classifica os idosos em quatro categorias: 1- independente totalmente - idoso capaz derealizar todas as atividades; 2 - dependente leve - idosoque necessita de ajuda para realizar de uma a trêsatividades de vida diária; 3 - dependente moderado - idoso que necessita de ajuda para realizar de quatro a seis atividades de vida diária e 4 - dependente severo, aquele que necessita de ajuda para realizar sete ou mais dessas atividades.

Considerando tal classificação, encontraram-se, no estudo, 19 (38%) idosas com dependência severa, sete (14%) com dependência moderada, 15 (30%) com depen-dência leve e nove (18%) independentes para as atividades de vida diária básica e instrumental. Esses dados revelam o alto grau de dependência das idosas e, consequen-temente, a necessidade de atuação interdisciplinar coma finalidade de proporciona-lhes reabilitação, tornandotais pacientes mais ativos e produtivos. Além disso destaca-se a importância de um cuidador capaz deauxiliar e estimular a independência dessas pessoas.

Montesant(19)estudaram 76 pacientes acima de 60 anos internados em enfermaria de clínica médica eidentificaram 24 (35,8%) independentes, 17 (25.4%) dependentes leves, seis (9%) dependentes moderados e 20 (29,9%) com dependência grave. Tais dados confirmam a existência de grande número de idosos dependentes, do que se depreende a necessidade de um cuidador para o atendimento de suas necessidades.

Caracterização dos cuidadores

No que diz respeito ao cuidadores dos idosos,num total de 42 (100%), 10 (23,8%) eram do sexomasculino, sendo oito (19%) o próprio companheiro.

Já 32 (76,2%) eram do sexo feminino, quase sempre a filha — 25 (59,4%); encontraram-se, porém, idosas que eram cuidadas pela irmã, sobrinha ou nora.

No gráfico IV, relativo à faixa etária dos cuidadores, observa-se que dezesseis (32%) situam-se na faixa etária dos 31 ao 40 anos de idade, dez (20%)na faixa dos 41 aos 50 anos e nove (18%) são indivíduos com idade entre 61 e 70 anos, o quedemonstra muitos idosos sendo cuidados por outros.


Quanto à escolaridade, 13 (31%) tinham oprimeiro grau completo; dez (23,8%), o primeiro grauincompleto; três dos cuidadores (7,1%) eram analfabetos, e os demais tinham o segundo graucompleto ou o terceiro grau.

Given(20)ao revisar a literatura sobre ascaracterísticas de cuidadores de idosos identificaram que normalmente trata-se de mulheres, com idade emtorno de 55 anos e que recebem suporte de outrosmembros da família, amigos e vizinhos. Além disso, a maior longevidade da mulher, faz com que os homens sejam cuidados pos suas esposas, enquanto que asmulheres têm sido cuidadas por filhas, netas esobrinhas.

Quanto às dificuldades referidas peloscuidadores para cuidar das idosas pertencentes ao estudo, observa-se no gráfico V que 13 (31%) apontaram a situação financeira, 12 (28,5%) verbalizaram falta de habilidade para cuidar da idosa, conforme segue: "também sou muito doente e não tenho forças para cuidar de minha mãe da forma como se deve", "eu sinto muita fraqueza", "tenho pressão alta, doença de chagas e sinto muita tontura". Mudança no estilo de vida foi referida por nove dos cuidadores (21,4%), os quais declararam que teriam de alterar sua forma de trabalho e/ou lazer e adaptar o espaço físico da residência para acomodar o idoso.


Dos cuidadores entrevistados, seis (14,3%) afirmaram que o relacionamento familiar seria uma dificuldade pois nem todos os filhos estariam dispostos a contribuir com a assistência ao idoso. A dificuldade de retornar ao serviço de saúde foi mencionada por seis (14,6%). Entre os cuidadores, 22 (52,4%) julgaram que não iriam encontrar dificuldades após a alta hospitalar.

Foi possível constatar que os familiares, de uma forma ou outra, organizam-se, na maioria das vezes, para prestar a ele os cuidados necessários ao idoso e procuram passar-lhe uma visão otimista e não como um "peso" à família. Ao internar o idoso, a família, exceto em alguns casos, pareceu-nos querer se organizar e ganhar forças para continuar a batalha de cuidados com os mesmos, principalmente com aqueles idosos mais dependentes, cujo cuidado sabemos ser uma tarefa intensa.

Mesmo assim, observa-se que o encargo decuidar do idoso quase sempre recai nas mãos de uma só pessoa, enquanto que os demais membros da família afastam-se e omitem-se da responsabilidade.

Os filhos alegam falta de tempo devido a outros compromissos assumidos ou falta de condições financeiras, já os netos costumam afastar-se do idoso devido às implicâncias e às desavenças próprias dos conflitos das distintas gerações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente estudo, foram incluídas 50 idosas, sendo 13 (26%) pertencentes à faixa etária de 70 a 74 anos, 12 (24%) dos 60 a 64 anos , dez (20%) dos 65 a 69 ano e as demais encontravam-se com 75 anos ou mais. Entre elas, 35 (70%) tinham boas condições de comunicação 31 (62%) eram analfabetas.

Ao verificar o grau de dependência , houve predomínio daquelas com dependência severa 19 (38%) sendo que apenas oito (16%) eram totalmente independentes para as atividades instrumentais e físicas da vida diária.

As idosas, devido ao grau de dependência apresentado, contavam com o auxílio de um cuidador, normalmente uma pessoa da família. A maioria dos cuidadores, 32 (76,2%) eram do sexo feminino, tinham algum grau de escolaridade e eram suas filhas. Os cuidadores apontaram, como dificuldades para cuidar da idosa, a situação financeira, a falta de habilidade, a mudança no estilo de vida e o relacionamento familiar.

Sabemos da enorme carga que o cuidado ao idoso representa tanto do ponto de vista físico quanto emocional, decorrente do grau de dependência que exige atenção, carinho e cuidado físico.

Notamos que os cuidadores, cada um de acordo com suas possibilidades, participaram, demonstraram interesse e contribuíram com o processo de assistência proposto. O cuidador representa, então, um recurso importante a ser utilizado no processo de assistência intra-hospitalar com a finalidade de prepará-lo para a continuidade da assistência.

Quando a família não dispõe de recursos mínimos necessários para a sobrevivência digna do idoso, torna-se quase impossível, em nossa realidade, oferecer outra alternativa de assistência, senão a domiciliar.

Acreditamos, assim, ser necessário um trabalho de conscientização dos familiares para haver união de esforços e divisão das responsabilidades, tornando mais amena essa assistência. Um trabalho com essa dimensão necessita de atuação interdisciplinar, que enfoque os múltiplos aspectos como a saúde, bem-estar e qualidade de vida do idoso, no seu contexto social, considerando principalmente sua família.

Outras medidas, como prescrever medicamentos existentes na rede básica, encaminhar para utilizar recursos fornecidos pela Secretaria do Bem Estar Social e contato com recursos da comunidade ( Pastoral da Saúde e Vicentinos), podem auxiliar de alguma forma a assistência ao idoso após a hospitalização. Além disso, é necessária a conscientização das autoridades de saúde para adoção de novas modalidades de assistência, bem como da sociedade, de maneira geral, para as questões do idoso.

Artigo recebido em 12/11/99

Artigo aprovado em 04/04/02

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anexo_I

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2008
  • Data do Fascículo
    Mar 2002

Histórico

  • Aceito
    04 Abr 2002
  • Recebido
    12 Nov 1999
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