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Validação da nomenclatura diagnóstica de enfermagem direcionada ao pré-natal: base CIPESC® em Curitiba - PR

Validating the nomenclature diagnosis of pre-natal nursing: base CIPESC® in Curitiba

Validación de la nomenclatura diagnóstica de enfermería direccionada al periodo de embarazo: base CIPESC® en Curitiba - PR

Resumos

É de fundamental importância uma linguagem específica da profissão e a CIPESC® -Classificação Internacional para as Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva tem como um dos objetivos desvelar a atuação dos enfermeiros na saúde coletiva. No Brasil, a ABEn, responsável pela classificação, encontrou na Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba - PR aliada para efetiva implantação. O objetivo deste artigo foi validar a nomenclatura dos 52 diagnósticos de enfermagem do pré-natal - base CIPESC® - Curitiba. É um estudo exploratório-descritivo, desenvolvido com enfermeiras assistenciais e com experts na área de gineco-obstetrícia e terminologia. Os resultados foram apresentados pelo Índice de Concordância por meio de freqüência absoluta, todas as definições foram validadas, porém necessitam de adequações à linguagem cotidiana. As enfermeiras apresentam dificuldades para inter-pretar intervenção de enfermagem na promoção do bem-estar, sendo premente a discussão do conceito de promoção à saúde e o processo saúde-doença na saúde coletiva.

Enfermagem em saúde pública; Diagnóstico de enfermagem; Enfermagem obstétrica; Enfermagem


The existence of a specific language for the profession is essential, and the International Nursing Practice Classification in Collective Health (CIPESC, in the Portuguese-language acronym) has as one of its goals the classification of the work of nurses in collective health. In Brazil, the Brazilian Nursing Association (ABEn, in the Portuguese-language acronym), responsible for the classification, found in the Municipal Secretary of Health of Curitiba, in the State of Paraná, an ally for its effective implantation. The purpose of this article was to validate the nomenclature of the 52 diagnoses of pre-natal Nursing - CIPESC base - in Curitiba. It is an exploratory-descriptive study developed with assisting nurses and experts in the area of gynecology obstetrics and terminology. The results were presented through the Consonance Index through absolute frequency. All the definitions were validated, but they need to be adjusted to the daily language. The nurses show difficulty in interpret nursing intervention in the promotion of well-being, and it is urgent to discuss the concept of health promotion and the health-illness process in collective health.

Public health nursing; Nursing diagnosis; Obstetrical nursing; Nursing


Es de fundamental importancia un lenguaje específico de la profesión y la CIPESC® -Clasificación Internacional para las Prácticas de Enfermería en Salud Colectiva que tiene como uno de los objetivos desvedar la actuación de los enfermeros en la salud colectiva. En Brasil, la ABEn, responsable por la clasificación, encontró como aliada para realizar la efectiva implantación la Secretaria Municipal de la Salud de Curitiba - PR. El objetivo de este artículo fue validar la nomenclatura de los 52 diagnósticos de enfermería del periodo de embarazo - base CIPESC® - Curitiba. Es un estudio exploratorio-descriptivo, desarrollado con enfermeras asistenciales y con experts en el sector de ginecología-obstetricia y terminología. Los resultados fueron presentados por el Índice de Concordancia por medio de la frecuencia absoluta, todas las definiciones fueron validadas, sin embargo, necesitan de adecuaciones para el lenguaje cotidiano. Las enfermeras presentan dificultades para interpretar la intervención de enfermería en la promoción del bienestar, siendo apremiante la discusión del concepto de promoción a la salud y el proceso salud-enfermedad en la salud colectiva.

Enfermería en salud pública; Diagnóstico de enfermería; Enfermería obstétrica; Enfermería


ARTIGO ORIGINAL

Validação da nomenclatura diagnóstica de enfermagem direcionada ao pré-natal - Base CIPESC® em Curitiba - PR* * Extraído do trabalho de conclusão do Curso de Enfermagem, PUCPR, 2005.

Validating the nomenclature diagnosis of pre-natal nursing – Base CIPESC® in Curitiba

Validación de la nomenclatura diagnóstica de enfermería direccionada al periodo de embarazo - Base CIPESC® en Curitiba – PR

Marcia Regina CubasI; Ana Cláudia KoproskiII; Andrei MuchinskiIII; Giane Severo AnorozoIV; Nátaly de Fátima Perin DondéV

IEnfermeira. Mestre em Saúde Pública. Doutoranda em Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP). Professora Assistente do Curso de Enfermagem da PUCPR. Curitiba, PR, Brasil. m.cubas@pucpr.br

IIEnfermeira da Secretaria Municipal da Saúde de Balsa Nova-PR.Balsa Nova, PR, Brasil. anaclavenF@hotmail.com

IIIEnfermeiro, professor do Curso Técnico de Enfermagem da Secretaria de Educação do Estado do Paraná.Curitiba, PR, Brasil. andreimuchinski@hotmail.com

IVEnfermeira.Curitiba, PR, Brasil. giane_anorozo@hotmail.com

VEnfermeira do Hospital de Caridade Santa Casa de Misericórdia de Curitiba-PR. Curitiba, PR, Brasil. Janatily@oi.com.br

Correspondência Correspondência: Márcia Regina Cubas Rua Arthur Leinig, 561 CEP 80810-300 - Curitiba, PR, Brasil

RESUMO

É de fundamental importância uma linguagem específica da profissão e a CIPESC® -Classificação Internacional para as Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva tem como um dos objetivos desvelar a atuação dos enfermeiros na saúde coletiva. No Brasil, a ABEn, responsável pela classificação, encontrou na Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba - PR aliada para efetiva implantação. O objetivo deste artigo foi validar a nomenclatura dos 52 diagnósticos de enfermagem do pré-natal - base CIPESC® - Curitiba. É um estudo exploratório-descritivo, desenvolvido com enfermeiras assistenciais e com experts na área de gineco-obstetrícia e terminologia. Os resultados foram apresentados pelo Índice de Concordância por meio de freqüência absoluta, todas as definições foram validadas, porém necessitam de adequações à linguagem cotidiana. As enfermeiras apresentam dificuldades para inter-pretar intervenção de enfermagem na promoção do bem-estar, sendo premente a discussão do conceito de promoção à saúde e o processo saúde-doença na saúde coletiva.

Descritores: Enfermagem em saúde pública. Diagnóstico de enfermagem. Enfermagem obstétrica. Enfermagem/classificação.

ABSTRACT

The existence of a specific language for the profession is essential, and the International Nursing Practice Classification in Collective Health (CIPESC, in the Portuguese-language acronym) has as one of its goals the classification of the work of nurses in collective health. In Brazil, the Brazilian Nursing Association (ABEn, in the Portuguese-language acronym), responsible for the classification, found in the Municipal Secretary of Health of Curitiba, in the State of Paraná, an ally for its effective implantation. The purpose of this article was to validate the nomenclature of the 52 diagnoses of pre-natal Nursing – CIPESC base – in Curitiba. It is an exploratory-descriptive study developed with assisting nurses and experts in the area of gynecology obstetrics and terminology. The results were presented through the Consonance Index through absolute frequency. All the definitions were validated, but they need to be adjusted to the daily language. The nurses show difficulty in interpret nursing intervention in the promotion of well-being, and it is urgent to discuss the concept of health promotion and the health-illness process in collective health.

Key words: Public health nursing. Nursing diagnosis. Obstetrical nursing. Nursing/classification.

RESUMEN

Es de fundamental importancia un lenguaje específico de la profesión y la CIPESC® -Clasificación Internacional para las Prácticas de Enfermería en Salud Colectiva que tiene como uno de los objetivos desvedar la actuación de los enfermeros en la salud colectiva. En Brasil, la ABEn, responsable por la clasificación, encontró como aliada para realizar la efectiva implantación la Secretaria Municipal de la Salud de Curitiba – PR. El objetivo de este artículo fue validar la nomenclatura de los 52 diagnósticos de enfermería del periodo de embarazo - base CIPESC® - Curitiba. Es un estudio exploratorio-descriptivo, desarrollado con enfermeras asistenciales y con experts en el sector de ginecología-obstetricia y terminología. Los resultados fueron presentados por el Índice de Concordancia por medio de la frecuencia absoluta, todas las definiciones fueron validadas, sin embargo, necesitan de adecuaciones para el lenguaje cotidiano. Las enfermeras presentan dificultades para interpretar la intervención de enfermería en la promoción del bienestar, siendo apremiante la discusión del concepto de promoción a la salud y el proceso salud-enfermedad en la salud colectiva.

Descriptores: Enfermería en salud pública. Diagnóstico de enfermería. Enfermería obstétrica. Enfermería/classificación.

INTRODUÇÃO

A existência de uma linguagem específica para a profissão, contemplando o trabalho da enfermagem na saúde coletiva, que seja utilizada por profissionais em todo o mundo, é uma tentativa para visibilizar o enfermeiro no processo de trabalho em saúde.

A proposta para o desenvolvimento de uma Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem – CIPE® foi apresentada ao Conselho Internacional de Enfermeiros - CIE, durante o Congresso Quadrienal, em Seul-Coréia - 1989, justificada pela

impossibilidade de designar os fenômenos específicos da Enfermagem, o que impedia o reconhecimento adequado da sua contribuição para a saúde e, conseqüentemente, para os cuidados de saúde(1)

e, desde então, o conselho realiza estudos para uma Classificação Internacional, agregando todas as classificações já desenvolvidas mundialmente.

Pode-se considerar o sistema classificatório da prática de enfermagem como uma busca na definição

de novos saberes/fazeres de intervenção, centrados nos conhecimentos da ciência da enfermagem que estão surgindo das descrições, explicações e prescrições dos investigadores da enfermagem em todo o mundo. Ciência esta que traz os paradigmas da integralidade do ser humano e da determinação social da saúde e da doença(2).

As primeiras edições da CIPE® já foram lançadas e sua construção trata-se de processo contínuo. Na revisão da versão Alfa da CIPE®(3) percebeu-se um direcionamento da nomenclatura para a área hospitalar, o que determinou que o CIE orientasse a realização de um projeto internacional para o âmbito da saúde pública e coletiva, em 1994, na cidade de Tlaxcala/México.

No Brasil, como resultado da Reforma Sanitária, ocorreram mudanças paradigmáticas no campo da saúde, surgindo o Sistema Único de Saúde - SUS, avançado enquanto proposta e dependente de um novo esforço de todas as pessoas envolvidas à sua devida implantação(4). Por esta razão o país passa a ser considerado campo fértil para aplicação de modelos direcionados à Saúde Coletiva, justificando a escolha do mesmo como um dos contribuintes para a CIPE®.

A entidade responsável pela colaboração neste processo foi a Associação Brasileira de Enfermagem-ABEn por meio do projeto CIPESC-Classificação Internacional para as Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva, desenvolvido de 1996 a 2000, cujas principais propostas eram: o estabelecimento de mecanismos de cooperação para a classificação, uma revisita às práticas de enfermagem diante da realidade do SUS, assim como permitir a troca de experiências e interlocução nacional e internacional(5).

Para atender às demandas originárias do desenvolvimento do projeto, a ABEn propôs continuidade do Projeto CIPESC®, este seguimento tem como propósito promover a sensibilização dos profissionais de enfermagem para a reflexão do seu trabalho na perspectiva da resolutividade, eqüidade, integralidade e qualidade da atenção à saúde nos serviços de saúde utilizando, como instrumento de sistematização do trabalho, a CIPESC®. Deve-se apontar que dentre os objetivos do projeto pontua-se a validação da linguagem especial nas práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva(6)

Acredita-se que a continuidade da segunda fase do projeto CIPESC, após 2000, é trabalho contínuo da ABEn e de suas associadas ligadas à assistência, gerência, docência e pesquisa em saúde e enfermagem para alcançar oportunidade, efetividade e qualidade dos cuidados de enfermagem à população brasileira ligados ao trabalho em saúde no SUS(2).

A partir desta premissa, um grupo de enfermeiras da Secretaria Municipal da Saúde-SMS de Curitiba-PR percebeu o valor do trabalho desenvolvido pela Associação e concluiu que este seria o marco inicial e base estrutural para a Sistematização das Práticas de Enfermagem na rede. Adaptou, por meio de exaustivo trabalho coletivo, a classificação para o sistema informatizado utilizado no município(7).

Dentre as ações programáticas desenvolvidas na cidade, o Programa Mãe Curitibana(8) propõe a garantia do suporte à saúde durante a gestação, parto e puerpério, tendo importante inserção da prática assistencial do enfermeiro. Por esta razão o grupo de construção da Sistematização das Práticas de Enfermagem de Curitiba decidiu começar seu constructo pela assistência à Mulher.

Em julho de 2004, o resultado deste trabalho foi implantado no prontuário eletrônico e enfermeiros da rede municipal usam a base CIPESC®, no tema saúde da mulher, totalizando 92 diagnósticos de enfermagem e 220 intervenções decorrentes destes(9), sendo que 52 diagnósticos são específicos do Pré-natal.

Após a implantação, desenvolveram-se oficinas de avaliação em sete distritos sanitários do município de Curitiba entre agosto e setembro de 2004, nas quais 109 enfermeiros (assistenciais e gerenciais) participaram e auxiliaram na identificação dos pontos positivos e dos que ainda precisavam ser aprimorados na implantação da CIPESC®- Curitiba, demonstrando uma análise coletiva do trabalho do enfermeiro com a utilização de um instrumento inovador(10), neste momento um dos assuntos abordados referia-se a necessidade do uso de uma linguagem unificada.

A validação de nomenclatura deste processo de construção é necessária, pois, os diagnósticos de enfermagem geralmente nascem de processos indutivos e dedutivos, sem o apoio de literatura(11). Cabe ressaltar que 54 novos termos identificados no projeto CIPESC®/ABEn (1996/2000) foram submetidos à validação de conteúdo e a metodologia utilizada em um estudo(12), realizado em 2002, serviu como base metodológica para presente investigação.

A validação de conteúdo(13) tem por finalidade identificar condições, as quais devem estar idênticas com as definições dos diagnósticos de enfermagem, ou seja, confirmar se a prática cotidiana identifica-se ou não com o significado atribuído aos termos diagnósticos, de forma a aprovar se os conceitos propostos são reconhecidos pelas pessoas que exercem a consulta de enfermagem.

Ao denominar um diagnóstico a enfermeira emprega conceitos e, na maioria das vezes, seus significados estão ligados a fenômenos abstratos e complexos. Portanto é necessário que conceitos introduzidos numa determinada prática e/ou cultura sejam deliberadamente e sistematicamente analisados, por pesquisadores, e validados pela prática de enfermeiros assistenciais(14).

OBJETIVO

Validar as definições elaboradas para os cinqüenta e dois diagnósticos de enfermagem, com base CIPESC® - Curitiba, construídos para saúde da mulher - pré-natal.

MÉTODO

A descrição dos diagnósticos de enfermagem a serem utilizados na SMS de Curitiba passou por um processo de construção envolvendo uma média de 35 enfermeiras assistenciais, em discussões quinzenais, no decorrer do ano de 2003. Utilizou-se da metodologia retrospectiva(15), em que pequenos grupos de cinco enfermeiras partiam da descrição de situações do cotidiano, a seguir identificavam as Necessidades Humanas presentes, buscando o Foco da Prática e Julgamento/Probabilidade correspondente na CIPE®/CIPESC®. Composto o diagnóstico passava-se para o estabelecimento das intervenções de enfermagem, baseando-se na lista de ações da CIPESC®.

Uma aproximação ao processo de validação foi realizada no decorrer desta construção, pois, cada construto semanal dos pequenos grupos era corrigido pela equipe condutora do processo (composta de seis enfermeiras) e devolvido a outro pequeno grupo para que este avaliasse a pertinência do diagnóstico e da intervenção. O resultado desta edificação é utilizado em oitenta e quatro Unidades de Saúde básicas e do programa de saúde da família da SMS, desde julho de 2004, por 210 enfermeiras assistenciais(7) .

As construções das 52 definições, contidas no instrumento de coleta de dados desta pesquisa, foram realizadas pelos acadêmicos responsáveis pelo estudo usando como base as seguintes referências: CIPE® versão Beta, Branden e Larousse dicionário(16-18).

Esta pesquisa, de caráter exploratória-descritiva, teve como campo as Unidades de Saúde da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, onde a nomenclatura CIPESC® estivesse implantada desde julho de 2004 e utilizada ininter-ruptamente. Foram incluídos na pesquisa quinze sujeitos, assim distribuídos: dez enfermeiras assistenciais da SMS; quatro experts na área de gineco-obstetrícia, professoras de instituições de ensino superior de enfermagem de Curitiba, com titulação mínima de mestre; e uma professora-enfermeira expert em terminologia da Universidade Federal da Paraíba -UFPB, com titulação de doutora.

Os critérios de inclusão para as enfermeiras assistenciais da rede municipal foram: maior número de consultas de enfermagem à mulher/pré-natal com utilização do sistema CIPESC®, no período de julho de 2004 a junho de 2005; ter realizado o curso de atualização sobre Sistematização da Assistência de Enfermagem(a) (a) Um curso teórico-prático de 195 horas abrangendo aspectos assistenciais do enfermeiro, com ênfase na consulta de enfermagem, promovido em conjunto com a ABEn-PR e UFPR. ; e apresentar, no mínimo, dois anos de trabalho na instituição.

O instrumento de coleta de dados foi baseado numa ferramenta para avaliação de conceitos(19) adaptada à realidade curitibana. Os itens avaliados restringiram-se à: clareza das frases; possibilidade de observação, medição ou verificação dos sinais e sintomas; possibilidade de intervenção da enfermagem; e aplicação na prática atual.

Os participantes responderam sua concordância com os termos propostos pela nomenclatura CIPESC® – Curitiba, com os seguintes passos: a) leitura da definição proposta; b) marcação da concordância ou discordância com o conceito nos quatro itens propostos para cada definição(12). Em caso de discordância nos itens relativos à clareza da frase e a possibilidade de verificação ou medição dos sinais e sintomas apresentou-se um formulário para alteração sugerida, indicando, se possível, a referência que a respaldou.

Os resultados foram organizados em freqüência absoluta e calculados pela fórmula do Índice de Concordância - IC: IC= NC/ NC+ND, onde NC é o número de concordâncias e ND o número de discordância(12). A definição que atingiu um IC geral de 0,80 foi considerada validada.

Os critérios de validação correspondem aos seguintes itens: A - esta nomenclatura contém frase clara sobre as condições de saúde, problema e/ou necessidade; B - os sinais e sintomas relatados são observáveis, medidos ou verificáveis; C - esta condição pode ser modificada por intervenção de enfermagem; D - este diagnóstico se aplica à prática cotidiana da enfermagem.

Os preceitos éticos foram resguardados pela apreciação do Projeto pelo Comitê de Ética da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba e propiciando aos sujeitos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, dando cumprimento à Resolução nº196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Obtivemos os resultados descritos nos Quadros 1, 2 e 3 (Anexos Anexos ), os termos definidos foram apresentados conforme a árvore classificatória da nomenclatura de diagnósticos e intervenções de enfermagem organizados para a CIPESCÒ Curitiba(20).

Cinco definições obtiveram o IC de 1,0 representando validação unânime, ou seja, todos os integrantes da pesquisa concordaram com a definição apresentada (Quadro 1). Trinta e cinco definições obtiveram IC entre 0,90 a 0,99 representando 90 a 99% de aceitação (Quadro 2) e doze definições obtiveram IC entre 0,80 a 0,89 representando 80 a 89% de concordância (Quadro 3).

Dentre as definições que obtiveram um IC de 0,80 a 0,89, percebe-se que o critério que foi apreciado como menor concordância é o referente a esta condição pode ser modificada por intervenção de enfermagem (Item C), principalmente nos diagnósticos referentes a normalidade, como exemplo: Mamas íntegras, Gestação normal (1º,2º e 3º trimestre) e Desenvolvimento fetal adequado. Este fato também pode ser observado nas definições com IC de 0,90 a 0,99, nos diagnósticos de: Eliminação urinária adequada, Auto-cuidado adequado, Pressão arterial normal e Vínculo Mãe e filho preservado.

Tomando como base que as intervenções de enfermagem são ações realizadas pela enfermeira com a finalidade de: monitorar o estado de saúde; reduzir os riscos; solucionar, prevenir ou controlar um agravo à condição de saúde; facilitar a independência ou auxiliar nas atividades da vida cotidiana; e promover uma potencialização do bem-estar psico-bio-espiritual(21), é indispensável e inquestionável aplicar diagnósticos de normalidade, para que dessa maneira se atinja as finalidades citadas.

Neste caso, uma questão histórica e principalmente cultural na enfermagem deve ser discutida: as profissionais trabalham com foco na doença, no Modelo Biomédico. Diante disso, faz-se necessário rever o papel do profissional enfermeiro e sua intervenção, principalmente na saúde coletiva, cujo foco não deve ser indivíduo-centrado, mas focado no cuidado ao processo saúde doença determinado pelas intersecções do ambiente e da sociedade em que este se insere.

Outro ponto a ser discutido refere-se ao critério: os sinais e sintomas relatados são observáveis, medidos ou verificáveis (Item B). Dos 35 conceitos cujo IC foi de 0,90 a 0,99, apenas 5 deles não obtiveram unanimidade de concordância: Edema postural de MMII em gestante, Desmame precoce do lactente; Amamentação inadequada, Vínculo mãe e filho preservado e Vínculo mãe e filho comprometido. Dos 12 conceitos cujo IC foi de 0,80 a 0,88, 2 deles não obtiveram concordância unânime: Amamentação adequada e Atividade sexual satisfatória.

Nestes casos, os envolvidos na pesquisa poderiam apresentar contribuições para melhoria do conceito, estes aportes foram encaminhados ao Grupo de Sistematização das Práticas de Enfermagem da SMS para que, na seqüência avalie, coletivamente, a pertinência das propostas recomendadas. Ressalta-se que, em consonância com o aferido no estudo(12), a despeito da validação, pode-se acatar sugestões para alteração de redação das definições, melhorando a compreensão da mesma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A enfermagem carece de conceituações dos fenômenos que trata/cuida, neste sentido, estudos para validar definições são imprescindíveis para que a prática seja fundamentada e supere a situação de construção de diagnósticos indutivos/dedutivos, refletindo em aumento da qualidade do cuidado e visibilidade da prática profissional, conseqüentemente a tão almejada autonomia.

O processo de validação bem como a própria nomenclatura é contínuo, pois, realidades e experiências de cada enfermeiro são colocadas como modelo para concepção de diagnósticos. Pesquisas abordando este assunto ainda são incipientes em nossa profissão, particularmente a CIPESC® , como instrumento inovador, necessita ser fortalecida para que os enfermeiros possam utilizá-la de forma a potencializar sua ação de cuidar.

Não obstante todos os conceitos terem sido validados, compreende-se o processo de constante construção, quer seja porque, na dimensão estrutural, as realidades modificam-se a cada dia e em cada locais da prática, quer seja porque existe, na dimensão local curitibana, diagnósticos de enfermagem construídos e não validados neste estudo.

Enfim, é premente ressaltar que este processo precisa ser aprofundado, ampliado e potencializado com outras metodologias de validação, focadas na responsabilidade da formação de uma linguagem específica da profissão, construída coletivamente e com o devido respeito à nossa cultura de cuidar.

Recebido: 08/03/2006

Aprovado: 13/06/2006

ANEXOS

Quadro 1
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Quadro 2
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Quadro 3
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  • 1. Nóbrega MML, Gutierrez MGR. Classificação internacional das práticas de enfermagem CIPE/CIE: uma visão geral da Versão Alpha e considerações sobre a construção da versão Beta In: Chianca TCM, Antunes MJM. A Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva - CIPESC. Brasília: ABEn; 1999. p. 8-33.
  • 2. Antunes MJ. A prática de enfermagem e os sistemas de classificação: ótica da ABEN. In: Garcia TR, Nóbrega MML. Sistemas de classificação da prática de enfermagem: um trabalho coletivo. João Pessoa: Idéia, 2000. p. 9-18.
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  • 5. Egry EY, Antunes MJM, Sena-Chomprè RR, Almeida MCP, Silva IA. Classificação das práticas de enfermagem em saúde coletiva: a experiência brasileira. In: Chianca TCM, Antunes MJM. A Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva - CIPESC. Brasília: ABEn; 1999. p. 34-45.
  • 6. Garcia TR, Nóbrega MML. Sistemas de classificação da prática de enfermagem: um trabalho coletivo. João Pessoa: Idéia, 2000.
  • 7. Cubas MR, Lopes MG, Vaz LA, Albuquerque LM, Perotta SM. Sistematizando a prática da enfermagem na SMS Curitiba. In: Zagonel IPS, Lacerda MR, Lopes MG. Experiência de enfermeiros da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba: subsídios para a sistematização do processo de cuidar em saúde coletiva. Curitiba: ABEn; 2004. p. 59-65.
  • 8
    Curitiba. Secretaria Municipal da Saúde. Pré-natal, parto, puerpério e atenção ao recém-nascido: programa mãe curitibana. Curitiba; 2004.
  • 9. Albuquerque LM, Vaz LA, Cubas MR, Lopes MGD, Perotta SM. Cipescando em Curitiba: uma visita aos resultados da classificação internacional de práticas de enfermagem. In: Anais do 56º Congresso Brasileiro de Enfermagem; 2004 out. 24-29; Gramado, RS [texto na Internet]. Gramado: ABEn-Seção RS; 2004. [citado 2005 mar. 29]. Disponível em: http://www.abennacional. org.br/eventos_aben_realizados.html
  • 10. Cubas MR, Albuquerque LM, Martins SK, Nóbrega MML. Implantação da nomenclatura CIPESC® em unidades de saúde de Curitiba: primeira aproximação com o processo de avaliação. Rev Esc Enferm USP. No prelo 2006.
  • 11. Guedes MVC, Araújo TL, organizadoras. O uso do diagnóstico na prática da enfermagem. 2Ş ed. Brasília: ABEn; 1997.
  • 12. Garcia TR, Nóbrega MML, Sousa MCM. Validação das definições de termos identificados no projeto CIPESC® para o eixo foco da prática em enfermagem da CIPE. Rev Bras Enferm 2002;55(1):52-63.
  • 13. Coler MS. Validação dos diagnósticos de enfermagem. In: Guedes MVC, Araújo TL, organizadoras. O uso do diagnóstico na prática da enfermagem. 2Ş ed. Brasília: ABEn; 1997. p. 94-9.
  • 14. Braga CG, Cruz DALM. Sentimento de impotência: diferenciação de outros diagnósticos e conceitos. Rev Esc Enferm USP. 2005;39(3):350-7.
  • 15. Clark DJ. How nurses can participate in the development of ICNP. Int Nurs Rev. 1996;43(6):171-4.
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  • 17. Branden PS. Enfermagem materno-infantil. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso; 2000. p. 57-8.
  • 18
    Larousse dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Ática; 2001.
  • 19. Clark J, Craft-Rosenberg M, Delaney C. An international methodology to describe clinical nursing phenomena: a team approach. Int J Nurs Stud. 2000;37(6):541-53.
  • 20. Albuquerque LM, Cubas MR, Martins SK. Nomenclatura de diagnósticos e intervenções de enfermagem da Rede Básica de Saúde do Município de Curitiba. In: Albuquerque LM, Cubas MR. Cipescando em Curitiba: construção e implementação da nomenclatura de diagnóstico e intervenções de enfermagem na rede básica de saúde. Curitiba: ABEn; 2005. p. 65-120.
  • 21. Alfaro-Lefevre R. Aplicação do processo de enfermagem: promoção do cuidado colaborativo. 5Ş ed. Porto Alegre: Artmed; 2005. p. 159, 216.

Anexos

  • Correspondência:
    Márcia Regina Cubas
    Rua Arthur Leinig, 561
    CEP 80810-300 - Curitiba, PR, Brasil
  • *
    Extraído do trabalho de conclusão do Curso de Enfermagem, PUCPR, 2005.
  • (a)
    Um curso teórico-prático de 195 horas abrangendo aspectos assistenciais do enfermeiro, com ênfase na consulta de enfermagem, promovido em conjunto com a ABEn-PR e UFPR.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      30 Nov 2007
    • Data do Fascículo
      Set 2007

    Histórico

    • Recebido
      08 Mar 2006
    • Aceito
      13 Jun 2006
    Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
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