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Produção do conhecimento em Enfermagem: da idéia da pesquisa à publicação em periódico qualificado

Producción del conocimiento en enfermería: de la idea de la investigación a la publicación en periódicos calificados

Resumos

As dificuldades para produção de conhecimento em Enfermagem e para publicação dessa produção motivaram a criação deste texto que apresenta aos autores de publicações científicas sugestões para agilizar e otimizar o processo de elaborar e sintetizar o conhecimento, resultado de suas pesquisas e reflexões. Além da descrição do conteúdo dos componentes que formam a estrutura do texto científico, são apresentadas as diretrizes do processo de escolha do periódico para publicação, as características desejáveis da linguagem na construção do texto e os procedimentos para encaminhamento do manuscrito para publicação. Evidencia-se também a parceria de autores, pareceristas e editores no processo de criação de artigos para publicação, nem sempre percebida e valorizada por esses atores principais do desenvolvimento e divulgação dos textos científicos que retratam o desenvolvimento e a atuação da profissão.

Pesquisa em enfermagem; Publicações de divulgação científica; Publicações periódicas como assunto; Sistemas de avaliação das publicações; Publicações científicas e técnicas; Componentes de publicações


Las dificultades para producción de conocimiento en Enfermería y para publicación de esa producción motivaron la creación de este texto que presenta a los autores de publicaciones científicas, sugerencias para agilizar e optimizar el proceso de elaboración y síntesis del conocimiento, resultado de sus investigaciones y reflexiones. Más allá de la descripción del contenido de los componentes que forman la estructura del texto científico, se presentan directrices del proceso de elección del periódico para publicación, las características deseadas del lenguaje en la construcción del texto y los procedimientos de encaminamiento del manuscrito para publicación. Se evidencia también la agrupación de autores, consultores y editores en el proceso de creación de artículos para publicación, que ni siempre es percibida y valorada por los autores principales del desarrollo y difusión de los textos científicos que retratan el desenvolvimiento y actuación de la profesión.

Investigación em enfermería; Publicaciones de divulgación científica; Publicaciones periódicas como assunto; Sistemas de evaluación de las publicaciones; Publicaciones científicas y técnicas; Componentes de publicaciones


The motivations for writing this article were the difficulties found in producing and publishing Nursing knowledge and also to present scientific authors with suggestions that improve and streamline the process of elaborating and synthesizing knowledge, research results and reflections. Besides discussing the content of components that form the structure of a scientific text, this article will also provide publishing policies that assist authors in choosing the correct journal for publishing, the desirable characteristics of language and text elaboration, and the procedures for publishing a manuscript. This article will also evidence the partnership between authors, reviewers and editors on the process of creating and publishing articles, which is not always appraised by the main agents of the development and publishing of scientific texts that portray the development and the performance of the profession.

Nursing research; Publications for science diffusion; Periodicals as topic; Systems for evaluation of publications; Scientific and technical publications; Publication components


RELATO DE EXPERIÊNCIA

Produção do conhecimento em Enfermagem: da idéia da pesquisa à publicação em periódico qualificado

Producción del conocimiento en enfermería: de la idea de la investigación a la publicación en periódicos calificados

Maria Júlia Paes da SilvaI; Emiko Yoshikawa EgryII; Margareth ÂngeloIII; Miriam Aparecida Merighi BarbosaIV; Regina Márcia Cardoso de SousaV; Valéria CastilhoVI; Nadir Aparecida LopesVII; Arlete de Oliveira BatistaVIII

IEnfermeira. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Editora Científica da Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, SP, Brasil. juliaps@usp.br

IIEnfermeira. Professora Titular do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Editora Associada da Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, SP, Brasil. emiyegry@usp.br

IIIEnfermeira. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Editora Associada da Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, SP, Brasil. angelm@usp.br

IVEnfermeira. Professora Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Editora Associada da Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, SP, Brasil. merighi@usp.br

VEnfermeira. Doutora do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Editora Associada da Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, SP, Brasil. vian@usp.br

VIEnfermeira. Doutora do Departamento de Orientação Profissional da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Editora Associada da Revista da Escola de Enfermagem da USP. São Paulo, SP, Brasil. valeriac@usp.br

VIIBibliotecária. Editora Técnica da Revista da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. nadir.lopes@usp.br

VIIIBibliotecária. Editora Administrativa da Revista da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. abatista@usp.br

Correspondência Correspondência: Maria Júlia Paes da Silva Av. Dr. Enéas de Aguiar, 419 - Cerqueira César CEP 05403-000 - São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

As dificuldades para produção de conhecimento em Enfermagem e para publicação dessa produção motivaram a criação deste texto que apresenta aos autores de publicações científicas sugestões para agilizar e otimizar o processo de elaborar e sintetizar o conhecimento, resultado de suas pesquisas e reflexões. Além da descrição do conteúdo dos componentes que formam a estrutura do texto científico, são apresentadas as diretrizes do processo de escolha do periódico para publicação, as características desejáveis da linguagem na construção do texto e os procedimentos para encaminhamento do manuscrito para publicação. Evidencia-se também a parceria de autores, pareceristas e editores no processo de criação de artigos para publicação, nem sempre percebida e valorizada por esses atores principais do desenvolvimento e divulgação dos textos científicos que retratam o desenvolvimento e a atuação da profissão.

Descritores: Pesquisa em enfermagem. Publicações de divulgação científica. Publicações periódicas como assunto. Sistemas de avaliação das publicações. Publicações científicas e técnicas. Componentes de publicações.

RESUMEN

Las dificultades para producción de conocimiento en Enfermería y para publicación de esa producción motivaron la creación de este texto que presenta a los autores de publicaciones científicas, sugerencias para agilizar e optimizar el proceso de elaboración y síntesis del conocimiento, resultado de sus investigaciones y reflexiones. Más allá de la descripción del contenido de los componentes que forman la estructura del texto científico, se presentan directrices del proceso de elección del periódico para publicación, las características deseadas del lenguaje en la construcción del texto y los procedimientos de encaminamiento del manuscrito para publicación. Se evidencia también la agrupación de autores, consultores y editores en el proceso de creación de artículos para publicación, que ni siempre es percibida y valorada por los autores principales del desarrollo y difusión de los textos científicos que retratan el desenvolvimiento y actuación de la profesión.

Descriptores: Investigación em enfermería. Publicaciones de divulgación científica. Publicaciones periódicas como assunto. Sistemas de evaluación de las publicaciones. Publicaciones científicas y técnicas. Componentes de publicaciones.

A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO NA CIÊNCIA DA ENFERMAGEM

A produção científica de uma profissão espera-se, retrata essa profissão. E qual é o tamanho da profissão Enfermagem? Suas teorias buscam construir as ações de assistir/cuidar/educar, de forma a deslocar o eixo de ciências empíricas (com ênfase na biologia) em direção às ciências humanas.

O fazer da Enfermagem não é unicamente técnico, não se resume a rotinas executadas em série, mas focaliza aspectos comportamentais (de adaptações e independências, por exemplo) e das relações humanas (interações enfermeiro/paciente, orientações, diálogos, famílias...). Apesar dessa abrangência, pode-se elencar alguns aspectos de convergência que permitem que os periódicos tenham a riqueza de saberes que, na atual conjuntura brasileira, com a maioria das revistas sendo de caráter geral (oriundas de Programas de Pós-Graduação), fica explícito em seus números:

• Se aceita que a realidade é multifacetada; que esquemas totalizantes não abarcam toda sua grandeza;

• Se aceita que a linguagem é fator constituinte dos sujeitos e dos sistemas de significação, representação e organização; portanto, demonstram os muitos mundos do objeto de sua ação: o ser humano;

• Se aceita que existem relações entre saber, poder e verdade, que implicam na produção e organização da vida social e dos sujeitos.

Diante disso, pergunta-se: qual é a abrangência dos nossos periódicos? É possível colocar algum limite? Se a resposta é afirmativa e necessária, o limite é Técnico?

A participação das revistas de Enfermagem nas bases de dados ISI (Web of Science) e SciELO (Scientific Electronic Library Online) demonstram um aumento quantitativo e qualitativo na produção do conhecimento da área. Mesmo o aumento do número de revistas brasileiras em outras bases (como MEDLINE e LILACS) confirma esse fato.

Quanto maior o acesso ao que está sendo produzido, maiores as críticas também, sobre a qualidade dessa produção e, pode-se afirmar, não há consenso internacional sobre como avaliar a produção científica(1). Esse fato é interessante, visto que o conhecimento científico é aquele que é gerado pelo método científico (seja como for concebido) e aceito por parcela significativa da comunidade científica. Uma pesquisa é feita para ser lida, utilizada, criticada e motivar reflexões sobre a prática da profissão.

Os periódicos têm aceitado o desafio de publicar pesquisas de diferentes grupos/comunidades científicas, que interpretam a realidade de variadas formas, que focam sua atenção em (quase) inúmeros aspectos de um mesmo fato ou situação. Para isso, buscam artigos estruturados com boa técnica de redação, simples, claros, bem apresentados e, pode-se afirmar, bonitos. Que no título já expressem a essência do trabalho (o objetivo ou a conclusão), na introdução direcionam o leitor para as premissas que levam ao seu objetivo, no método o passo-a-passo descrito permita sua replicação fidedigna, no resultado e discussão forneça informações que permitam sua clara conclusão. Esse cuidado gera textos sintéticos, fundamentais atualmente, dado o alto custo da publicação.

Os autores almejam o reconhecimento e compreensão internacional. Inglês é a língua da ciência na área da saúde; portanto, a clareza do seu raciocínio (independente do seu estilo) deve gerar um texto breve, onde as frases são construídas com as causas antes dos efeitos.

Os editores de revista também têm buscado o reconhecimento internacional sabedores de que o alcance de um texto científico é definido pelas conclusões geradas; que o argumento de que um texto é de interesse específico para um único local, pode ser rebatido com o fato de que os trabalhos geralmente citam estudos feitos em várias partes, com diferentes modelos de investigação, pois o mais comum na ciência, é que as amostras estudadas sejam modelos que gerem conclusões válidas para populações mais amplas. Uma boa discussão de dados permite conclusões de interesse internacional.

COMO PREPARAR A DIVULGAÇÃO

Conduzir uma pesquisa com rigor metodológico e confiante nos resultados obtidos, esperar que os manuscritos gerados a partir do trabalho sejam publicados. Esta é a intenção de todos os pesquisadores e profissionais vinculados à vida acadêmica. Entretanto a realidade é bastante diferente, nem todas as pesquisas resultam em sucesso de publicação. O índice de rejeição de manuscritos é grande, superando muitas vezes a marca dos 50%. É sabido que revistas de prestígio possuem um índice de aceitação baixo (10 a 35%) em relação às submissões(2). O número crescente de submissões às revistas e o espaço reduzido disponível para publicações reduz o índice de aceitação dos manuscritos. Na Revista da Escola de Enfermagem da USP, nos últimos 2 anos, o índice de aceitação foi de 55,9%. As razões da rejeição de um manuscrito são basicamente duas: (1) aspectos relativos à qualidade do trabalho em relação à revista selecionada, seja o trabalho uma pesquisa ou outra modalidade, que envolve fragilidades metodológicas, idéias mal apresentadas, falta de discussão dos resultados, entre outros, e (2) aspectos técnicos no preparo do manuscrito, seja em relação a manuscritos muito longos ou muito curtos, sem equilíbrio entre as diferentes partes, com muitas ou poucas citações, para citar uma infinidade de possibilidades neste domínio.

A grande fonte dos artigos publicados hoje pelas revistas especializadas são os produtos dos programas de pós-graduação, com destaque às teses de doutorado e dissertações de mestrado. O que muitos autores talvez desconheçam é que a divulgação deste material deve ser cuidadosamente planejada. Há perguntas que devem ser respondidas mesmo quando o trabalho está em curso, portanto não finalizado. Qual a melhor maneira de divulgar o conhecimento obtido? Quantos artigos serão gerados da tese ou dissertação? Responder a estas perguntas significa que um plano de publicação tem início durante o desenvolvimento da pesquisa. Após completar a revisão da literatura, um artigo pode ser elaborado, lembrando que este tipo de artigo deve ser uma síntese do conhecimento disponível e não uma bibliografia comentada. Depois do estudo concluído o autor deve decidir se a pesquisa será dividida em vários artigos ou se será apresentada como uma única peça. Obviamente o potencial para a geração de um ou de múltiplos artigos é determinado pela consistência da pesquisa. Há pesquisas que não possibilitam mais do que um artigo, pois os riscos de duplicação de publicação podem tornar o autor vulnerável. Assim, no planejamento das publicações, o autor deve considerar a capacidade da pesquisa e sua capacidade de escrever bem o suficiente para ter os seus trabalhos aceitos e publicados.

Um foco importante refere-se aos artigos gerados por pesquisa qualitativa. O autor precisa saber que há certos critérios para apresentação de manuscritos derivados de estudos desta natureza. Os estudos qualitativos representam uma parcela expressiva de produção acadêmica atualmente e correspondem à parcela igualmente expressiva de manuscritos rejeitados, por que os autores não estão atentos aos critérios que determinam a qualidade do trabalho e que devem ser observados. Há critérios que são essenciais a todos os relatos qualitativos, como o rigor apropriado a estes estudos, mas há critérios essenciais específicos a cada método qualitativo, como a amostragem teórica da Teoria Fundamentada nos Dados, ou a descrição de temas culturais na Etnografia. A falta de atenção ou desconhecimento acerca destes detalhes essenciais pode gerar manuscritos vulneráveis e inespecíficos, metodologicamente falando, já que todos podem ter o mesmo aspecto de análise de conteúdo.

Formatar um estudo qualitativo em relação aos padrões de revistas não específicas para este tipo de relato, pode ser difícil para o autor inexperiente, que ao ajustar o seu texto aos critérios da revista, pode desconsiderar aspectos essenciais desta modalidade de pesquisa.

O QUE SE DEVE SABER SOBRE O JULGAMENTO DO MANUSCRITO

Enviar um manuscrito para uma revista gera uma grande expectativa ao autor, que aguarda sempre uma resposta positiva: O manuscrito foi aceito para publicação. Ocorre que esta é uma resposta que poucos autores recebem nas primeiras interações com a revista, pois a publicação de um manuscrito é um processo complexo de avaliação e revisão. Poucos autores podem afirmar que seus manuscritos foram aceitos sem qualquer revisão na primeira submissão, mesmo aqueles que publicam sistematicamente grandes volumes de trabalhos.

Os revisores examinam os manuscritos em termos de sua qualidade como um produto de divulgação, atentando aos aspectos do conteúdo em si e de como foi construído, seja pesquisa ou não. Além disso, verificam também se o trabalho está adequado à missão da revista e ao perfil dos seus leitores e, hoje, o que se considera um aspecto importante, é se o tópico do manuscrito está limitado ao leitor local ou possui interesse internacional. É interessante pensar no processo de revisão como a assistência acadêmica que damos uns aos outros. É um trabalho voluntário e recíproco, pois enquanto o revisor trabalha em um manuscrito, outro revisor trabalha no dele(3) .

O trabalho de revisão é coletivo e o autor precisa se sentir envolvido nele. Um manuscrito para o qual são solicitadas revisões, não está aceito ainda, mas continua no processo de análise, até que seja considerado apto para a publicação ou rejeitado, a despeito de todos os esforços para aprimorar o manuscrito.

A rejeição pode ferir o autor, que sente algum nível de sofrimento e que pode, se não trabalhado adequadamente, tornar-se fatal para o autor ou para o manuscrito. Neste processo é útil considerar o seguinte: manuscritos rejeitados ainda possuem grandes chances de serem publicados, o processo de peer-review significa que quase todos os autores recebem críticas e os revisores gratuitamente deram sugestões úteis para o aprimoramento do manuscrito(4).

Se por algum motivo o autor discordar dos comentários e considerar inadequadas as alterações sugeridas, pode argumentar ao editor, apresentando as evidências da literatura, dos dados ou da análise que só o autor tem domínio.

Ter um artigo publicado é uma grande experiência de aprendizagem. O autor não deve se considerar vítima de uma rede que conspira contra sua visibilidade acadêmica, mas parte de uma rede de colaboração para dar visibilidade ao melhor que a ciência tem produzido e ao melhor que o leitor deve consumir para aprimorar a qualidade do seu pensar, sentir e agir, como profissional e como pessoa.

ESCOLHENDO PERIÓDICO PARA PUBLICAÇÃO

Para que a comunicação expressa na redação de um artigo alcance seu público-alvo é necessário estar bem definida a audiência que se pretende alcançar, pois é ela que comandará o estilo e a linguagem da redação(5). Deve-se consultar as Instruções aos Autores do periódico escolhido para saber se o seu artigo atende a sua política editorial. Outro ponto importante é escolher um periódico de cada vez. Um artigo não deve ser submetido simultaneamente a mais de um periódico, pois contraria a ética de publicação de artigos(5).

O periódico selecionado para a publicação do trabalho deve ser confiável e ter qualidade de forma e conteúdo. É aconselhável dar preferência aos periódicos indexados por fontes de informações nacionais e internacionais com critérios rígidos de excelência e regularidade(5).

Deve-se consultar também a lista de periódicos avaliados pela área e suas classificações(6). Uma revista bem classificada tem melhor apresentação (normalização), gerenciamento e visibilidade(6). Aquelas que estão presentes em bases de dados e disponibilizadas em várias bibliotecas poderão divulgar melhor o seu trabalho. Atualmente, tal condição é igualmente assegurada pela veiculação em formato eletrônico, com metadados e textos integrais disponíveis na Internet(6).

Caso o autor tenha interesse é possível consultar o fator de impacto científico do periódico, medido pelo número de citações de seus artigos. Essa medida é feita internacionalmente pelo Institute for Scientific Information (ISI/Thomson Reuters), e nacionalmente pela SciELO (BIREME).

DICAS DO PROCESSO DE ESCREVER O MANUSCRITO

O artigo científico não deve ser extenso, totalizando normalmente entre 5 e 10 páginas, podendo alcançar, dependendo do tipo de publicação, da natureza da pesquisa ou das normas do periódico até 20 páginas, garantindo-se, em todos os casos, que a abordagem temática seja a mais completa possível, com a exposição dos procedimentos metodológicos e discussão dos resultados nas pesquisas de campo, caso seja necessário a repetição da mesma por outros pesquisadores(7).

Em função do tamanho reduzido exigido (o custo é alto de toda publicação), a economia e a objetividade são fundamentais na exposição das informações, procurando manter a profundidade do tema. Assim, os aspectos relacionados devem ser observados.

• O título deve ser inteligível, conciso, que chame a atenção, e além de tudo, que reflita o tema principal do artigo (retratar o conteúdo do trabalho);

• Geralmente o leitor baseia-se no resumo, resumen ou no abstract para decidir ler ou não o restante de um artigo; deve contemplar os passos do trabalho: introdução, objetivos, metodologia, resultados e discussão;

• O abstract deve ser uma tradução científica do resumo, com versão precisa dos termos e expressões técnicas;

• Quanto aos descritores, pode-se verificar no Nursing Thesaurus do international Nursing Index, como lista suplementar, a palavra ou expressão que melhor identificar o assunto, caso ela não seja encontrada no DECs (Descritores em Ciências da Saúde);

• A introdução deve apresentar uma revisão da literatura pertinente, atualizada (de preferência publicada nos últimos 5 anos) e específica sobre o tópico abordado, além de indicar a finalidade do tema, destacando a relevância e a natureza do problema/inquietações do autor, apresentando os objetivos e os argumentos principais que justificam o trabalho;

• A falta de clareza no método é um dos principais motivos de recusa dos trabalhos. Além de o método precisar estar apropriado ao tipo de estudo proposto, explicitando a utilização do referencial teórico metodológico, os princípios éticos utilizados na coleta de dados, os critérios de inclusão dos sujeitos (claros e condizentes com o propósito do estudo), a construção da amostra dos sujeitos deve apresentar-se metodologicamente fundamentada e bem escrita. É necessário fazer referência no método sobre a aprovação do estudo por comitês de ética ou de pesquisa, quando necessários, com o número do protocolo;

• A maioria dos periódicos tem solicitado que a apresentação dos resultados anteceda sua discussão. Na discussão deve ficar claro a confrontação dos achados com a literatura atual. É desejável se mencionar possíveis generalizações e/ou aplicações práticas ou limitações a partir dos dados obtidos;

• Pode-se iniciar a conclusão expondo o que foi aprendido por meio do estudo. Deve ser analítica, interpretativa, e incluir argumentos explicativos, fornecendo fornecer evidências da solução do problema/inquietações por meio dos resultados obtidos do artigo. Cabe comentar sobre um trabalho futuro com relação ao mesmo problema, ou modificações a serem feitas e/ou limitações do método utilizado que poderão ou não ser superadas;

• Quando presente, o item Considerações Finais, deve limitar-se a explicar brevemente as idéias que predominaram no texto como um todo, sem muitas polêmicas ou controvérsias, incluindo as principais considerações decorrentes da análise dos resultados. Evita-se novos cotejamentos com a literatura. O autor pode, conforme o tipo e objetivo da pesquisa, incluir algumas recomendações gerais acerca de novos estudos, sensibilizar os leitores sobre fatos importantes, sugerir decisões urgentes ou práticas mais coerentes de pessoas ou grupos, incluindo possíveis contribuições que a publicação pode trazer à sociedade.

Esses cuidados com certeza abreviarão o tempo do processo de avaliação do conteúdo dos manuscritos pelos pares e editores, evitando sucessivas devoluções aos autores para revisão, ou pior, ser recusado.

Escrever um artigo científico não é uma tarefa fácil, exige por parte do autor capacidade e síntese na redação e muita atenção à política editorial do periódico, suas instruções e forma de julgamento dos trabalhos submetidos. Esses cuidados evitam perda de tempo e decepções quando a resposta do editor não for favorável(1) .

Recentemente uma matéria, publicada na revista Pesquisa Fapesp (28 de agosto de 2009), discute a relação entre a proficiência em inglês e a produtividade científica. O texto salienta que estamos fora do eixo da língua inglesa e o mundo científico fala inglês e quem só publica em português não consegue ser lido e muito menos citado. Discute, ainda, que o problema não diz respeito somente à dificuldade com o idioma, pois se fosse apenas esta questão seria resolvido com uma boa assessoria para tradução. Faltam, nos pesquisadores brasileiros, conhecimentos e treinamentos para compreender o que é um artigo científico e o tipo de abordagem trabalhada para publicação em revistas internacionais(8).

Um estudo comenta(9) que

[...] um exercício que deve ser proposto aos alunos de Programas de Pós-Graduação é detectar a pergunta do artigo. Muitos não conseguem fazer isso. Acrescenta que o problema é que o trabalho científico está apenas repetindo algo que já foi feito; falta domínio da linguagem científica, além da criatividade e ousadia para produzir contribuições originais; quando estes pontos são atingidos, o menor dos problemas é arrumar um escritório que faça uma boa revisão do inglês [....]

Soma-se a estas questões o estilo de um artigo internacional: frases curtas, escrita objetiva, usar palavras simples, ser direto (economizar palavras).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A enorme pressão sofrida pelos pesquisadores desde que este sistema se instalou, com a desvantagem clara para as produções não positivistas, é flagrante.

As pesquisas não são precisas, no sentido de exatas, pois tal como viver, sabe-se onde começa, mas pouco se sabe onde vai terminar... e para muitos pesquisadores, é aí que reside o encanto do pesquisar... a sua não-previsibilidade final. A Enfermagem, tratando-se de uma área no qual sua característica essencial é a Humanidades - pois trata-se da vida e da morte, da saúde e da doença, do sofrimento, das alegrias e das realizações, do cuidar e do ser cuidado, do trabalho e do processo de trabalho, do significado e das interpretações, do contexto, da conjuntura e da estrutura da sociedade - tem peculiares fenômenos para investigar e, ao contrário do que muitos admitem ou desejam, as formas de divulgação dos achados nem sempre cabem em modelos pré-estabelecidos contemporaneamente nas ciências ditas da saúde(10).

Qual tem sido a saída dos pesquisadores da Enfermagem? Fatiar os trabalhos, encurtar o tempo de reflexão e publicar textos sem nenhuma importância do ponto de vista de inovação, de descoberta de instigação. Não é relevante publicar em periódicos de circulação internacional, trilíngue, como é o caso da REEUSP, os conhecimentos superficiais, fatiados, os chamados repiques em cenários distintos de uma mesma metodologia e quase as mesmas conclusões que nem ao menos consideram os textos anteriores, até de mesmos autores. Não é relevante publicar experiências tão específicas, que não fazem sentido algum para a media dos leitores nacionais e internacionais e que só é claramente compreendida por uma confraria de uma dúzia de pessoas.

Por outro lado, é relevante publicar e publicizar as descobertas, os novos conhecimentos, as reflexões criticas e aprofundadas, que possam ser compartilhadas com os pares e que de alguma maneira contribuam para a qualificação das práticas profissionais em saúde e, especialmente, em enfermagem, quer do Brasil ou do mundo.

Recebido: 15/09/2009

Aprovado: 12/11/2009

  • 1. Volpato GL, Freitas EG. Desafios na publicação científica. Pesqui Odontol Bras. 2003;17(1 Supl):49-56.
  • 2. Henry B. Writing for scientific publication. Acta Paul Enferm. 2002;15(1):59-71.
  • 3. Morse J. How to revise an article. Qual Health Res. 2004;14(4):447-8.
  • 4. Woolley KL, Barron JP. Handling manuscript rejection: insights from evidence and experience. Chest. 2009;13(2):573-7.
  • 5. Trzesniak P, Koller SH. A redação científica apresentada por editores. In: Sabadini AAZP, Sampaio MIC, Koller SH, organizadoras. Publicar em psicologia: um enfoque para a revista científica. São Paulo: ABECIP/IP/USP; 2009. p. 20-34.
  • 6. Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Guia de apresentação de teses. 2Ş ed. São Paulo; 2006. p. 71-8.
  • 7. Teixeira GJW. Artigo científico: orientações para sua elaboração [texto na Internet]. [citado 2009 fev. 11]. Disponível em: http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=21&texto=1334
  • 8. Marques F. A barreira do idioma. Pesquisa FAPESP [periódico na Internet]. 2009 [citado 2009 set. 20];(162). Disponível em: http://revistapesquisa.fapesp.br/?art=3924& bd=1&pg=1&lg=
  • 9. Ramos P. Ramos MM, Busnello SJ. Manual prático de metodologia da pesquisa: artigo, resenha, monografia, dissertação e tese. Blumenau: Acadêmica; 2003.
  • 10. Egry EY. Pesquisar é preciso? Avaliar não... Rev Esc Enferm USP. 2009;43(1):8-13.
  • Correspondência:
    Maria Júlia Paes da Silva
    Av. Dr. Enéas de Aguiar, 419 - Cerqueira César
    CEP 05403-000 - São Paulo, SP, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      07 Abr 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2009

    Histórico

    • Aceito
      12 Nov 2009
    • Recebido
      15 Set 2009
    Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
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