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Adolescência na percepção de professores do ensino fundamental

Adolescencia según la percepción de maestros de enseñanza primaria

Resumos

Pesquisa qualitativa realizada com 11 professores de um colégio estadual de Curitiba, para apreender como os professores do ensino fundamental percebem a adolescência. As informações foram coletadas por meio da estratégia Discussão de Grupo e organizadas em quatro categorias temáticas. Identificou-se nos relatos dos professores a pluralidade de significações atribuídas ao processo de adolescer, com ênfase na singularidade da adolescência. A adolescência se constitui em fenômeno singular, apresenta variações de acordo com a cultura, classe social, raça, gênero e idade, configurando distintas formas de vivenciá-la. Mesmo com essa diversidade, é possível desenvolver relações com adolescente que incluam a atenção, dedicação, conforto, paciência e sensibilidade, além da transmissão dos conteúdos curriculares.

Adolescente; Educação; Ensino fundamental e médio; Relações interpessoais


Se trata de una investigación cualitativa realizada con 11 maestros de enseñanza primaria de una escuela estatal del municipio de Curitiba. Este estudio tuvo el objetivo de entender el modo en el que los maestros de enseñanza primaria perciben la adolescencia. Las informaciones fueron recolectadas por medio de la estrategia de Discusión de Grupo y organizadas en cuatro categorías temáticas. Fue posible identificar, de acuerdo a los discursos de los profesores, la pluralidad de significaciones atribuidas al proceso de crecimiento, con énfasis en la singularidad de la adolescencia. La adolescencia presenta variaciones de acuerdo con la cultura, clase social, raza, género y edad, determinando distintas formas de vivirla. Aún ante tal diversidad, es posible desarrollar relaciones con adolescentes que incluyan la atención, dedicación, bienestar, paciencia y sensibilidad, además de la transmisión de los contenidos curriculares.

Adolescente; Educación; Educación primaria y secundaria; Relaciones interpersonales


This qualitative research was performed with 11 primary school teachers at a state school in the city of Curitiba/ Brazil, with the goal to identify how primary school teachers perceive adolescence. The information was collected by means of a Group Discussion strategy and organized in four theme-categories. The teachers' statements revealed the plurality of the adolescence process, stressing its uniqueness. Adolescence is a unique phenomenon, varying according to culture, social class, race, gender and age, configuring distinctive ways of experiencing it. All this diversity, however, enables to develop relations with teenagers, including attention, nurturing, comfort, patience and sensitiveness, besides getting across curricular contents.

Adolecent; Education; Education; primary and secondary; Interpersonal relations


ARTIGO ORIGINAL

Adolescência na percepção de professores do ensino fundamental* * Extraído da dissertação "As relações interpessoais entre professor e estudante adolescente sustentadas no referencial da comunicação terapêutica: percepções dos professores", Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Paraná, 2006.

Adolescencia según la percepción de maestros de enseñanza primaria

Hellen RoehrsI; Mariluci Alves MaftumII; Ivete Palmira Sanson ZagonelIII

IEnfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. Membro do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Cuidado Humano de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR, Brasil. hellenroehrs@yahoo.com.br

IIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. Pesquisadora do Membro do Núcleo de Estudo, Pesquisa e Extensão em Cuidado Humano de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR, Brasil. maftum@ufpr.br

IIIEnfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança e do Adolescente das Faculdades Pequeno Príncipe. Coordenadora do Curso de Enfermagem das Faculdades Pequeno Príncipe. Coordenadora do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Enfermagem das Faculdades Pequeno Princepe. Curitiba, PR, Brasil. ivetesanzag@fpp.edu.br

Correspondência Correspondência: Hellen Roehrs Rua Dr. Waldemiro Pereira, 1180 - Capão Raso CEP 81150-150 - Curitiba, PR, Brasil

RESUMO

Pesquisa qualitativa realizada com 11 professores de um colégio estadual de Curitiba, para apreender como os professores do ensino fundamental percebem a adolescência. As informações foram coletadas por meio da estratégia Discussão de Grupo e organizadas em quatro categorias temáticas. Identificou-se nos relatos dos professores a pluralidade de significações atribuídas ao processo de adolescer, com ênfase na singularidade da adolescência. A adolescência se constitui em fenômeno singular, apresenta variações de acordo com a cultura, classe social, raça, gênero e idade, configurando distintas formas de vivenciá-la. Mesmo com essa diversidade, é possível desenvolver relações com adolescente que incluam a atenção, dedicação, conforto, paciência e sensibilidade, além da transmissão dos conteúdos curriculares.

Descritores: Adolescente. Educação. Ensino fundamental e médio. Relações interpessoais.

RESUMEN

Se trata de una investigación cualitativa realizada con 11 maestros de enseñanza primaria de una escuela estatal del municipio de Curitiba. Este estudio tuvo el objetivo de entender el modo en el que los maestros de enseñanza primaria perciben la adolescencia. Las informaciones fueron recolectadas por medio de la estrategia de Discusión de Grupo y organizadas en cuatro categorías temáticas. Fue posible identificar, de acuerdo a los discursos de los profesores, la pluralidad de significaciones atribuidas al proceso de crecimiento, con énfasis en la singularidad de la adolescencia. La adolescencia presenta variaciones de acuerdo con la cultura, clase social, raza, género y edad, determinando distintas formas de vivirla. Aún ante tal diversidad, es posible desarrollar relaciones con adolescentes que incluyan la atención, dedicación, bienestar, paciencia y sensibilidad, además de la transmisión de los contenidos curriculares.

Descriptores: Adolescente. Educación. Educación primaria y secundaria. Relaciones interpersonales

INTRODUÇÃO

Saúde se faz no cotidiano da escola, do trabalho, em casa e nos seus entornos. Constitui o resultado dos cuidados que a pessoa tem consigo mesma, com os outros, com o ambiente circundante. É a capacidade de decidir e controlar sua vida, de participar ativamente do processo de construção de uma sociedade ética e saudável. Assim, a escola pode se tornar espaço de promoção da saúde, proporcionando ambiente seguro e de apoio, nos aspectos físico, psicossocial e na construção da cidadania e desenvolvimento dos atores deste universo: adolescentes estudantes, profissionais de educação, familiares, líderes comunitários e profissionais de saúde(1).

A escola tem papel fundamental no desenvolvimento do adolescente, contribui com a formação global do jovem e da sociedade. Papel que extrapola o ato de ensinar e envolve o educar crianças e jovens desenvolvendo sua identidade e subjetividade. Faz parte do dia-a-dia dos professores o incentivo à cidadania, à responsabilidade social e a incorporação de hábitos saudáveis(2). É o segundo núcleo da vida do ser humano e também é um local em que se trabalha com a construção do conhecimento(3). Assim, o aprimoramento da relação interpessoal entre estudante adolescente e docentes resulta em benefício para as demais pessoas envolvidas, as famílias e amigos. É possível o desenvolvimento do cuidado de enfermagem no espaço escolar e esta ação vai ao encontro da promoção e manutenção da saúde e, conseqüentemente, da prevenção de doenças.

O adolescente é um ser que se encontra em uma fase peculiar do desenvolvimento humano e, deve ser percebido em seu contexto, com características biopsíquicas, intelectuais e emocionais específicas, enfrentando toda a sorte de infortúnios de uma sociedade em rápido processo de transformação(4). A adolescência é considerada a etapa de transição entre a infância e a idade adulta, marcada por significativas mudanças e transformações biológicas, psíquicas e sociais(4-5). Constitui-se uma etapa crucial do crescimento e desenvolvimento na qual culmina todo o processo maturativo biopsicossocial do indivíduo. É um período de contradições, ambivalências; turbulento, repleto de paixões, dorido, caracterizado por conflitos relacionais com o meio familiar e social(4).

A saúde do adolescente é influenciada pelas transformações que ocorrem na adolescência e estendem-se a outros fenômenos relacionados à sexualidade e suas conseqüências. O adolescente está exposto a riscos, como drogas (álcool, tabaco e outras), iniciação sexual precoce, gravidez indesejada, suicídio, acidentes e conflitos de rua com outros adolescentes, acrescidos de questões sócio-econômicas e dificuldade de relacionamento com a família e professores. Tais fenômenos carecem de atuação específica a esta população, com ações que extrapolem o modelo biomédico(2).

Em pesquisas com adolescentes, identificou-se a ineficácia ou inadequação dos serviços de saúde, promoção social e de educação. O insucesso se deve a fatores como, limitação de conhecimentos que muitos profissionais possuem para se relacionar com os jovens, até mesmo pelo desconhecimento de conteúdos e práticas específicas dessa população. De uma forma geral, as pessoas não estão preparadas para cuidar dos adolescentes, e as instituições de educação existentes não fornecem conhecimentos suficientes para lidar com esse grupo de pessoas(6).

Para que se estabeleça uma relação estudante-professor com características positivas, menos conflitiva e fornecedora de confiança, é fundamental que os docentes tenham conhecimento das transformações inerentes à fase da adolescência. Considerando a escola espaço propício para a discussão destes e de outros temas inerentes ao cotidiano dos adolescentes, os quais contribuem para o desenvolvimento saudável destes, propusemos este estudo com professores de uma escola pública de Curitiba/Paraná.

OBJETIVO

Apreender como os professores do ensino fundamental percebem a adolescência de estudantes em seu dia-a-dia escolar.

MÉTODO

Trata-se de um estudo qualitativo, exploratório-descritivo. Essa metodologia permite compreender em profundidade os significados, as formas de vida das pessoas sendo válida para a observação de vários elementos, ao mesmo tempo, em um pequeno grupo(7).

Participaram 11 professores do ensino fundamental de um colégio estadual do município de Curitiba. A pesquisa observou os pressupostos da Resolução196/96 e foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal do Paraná sob o número CEP/SD 212 SM 087.05.10 FR:74445 CAE 0050.0.091.675-05.

As informações foram coletadas por meio da estratégia Discussão de Grupo que permite complementar informações sobre conhecimentos peculiares a um grupo em relação a crenças, atitudes e percepções(7). As discussões de grupo aconteceram em turnos alternados, para facilitar a participação de todos os sujeitos, manhã e tarde, em uma sala do colégio, com duração aproximada de uma hora e meia, gravada em áudio. Os encontros tiveram por finalidade levar os professores à discussão e reflexão dos conteúdos relativos à adolescência. Para tanto, foram apresentadas três questões para discussão: O que vocês entendem por adolescência? Quem é a pessoa adolescente? Quais as características específicas do adolescente?

Foi deixada a palavra ficava livre para que os participantes discutissem e expressassem suas idéias a respeito das questões. O animador, neste caso o pesquisador, intervinha somente quando percebia dificuldade na progressão das idéias. Após ter explorado ao máximo o tema com os professores, houve a exposição teórica sobre os conteúdos: conceito de adolescência, a fase da adolescência e suas características específicas, sustentada nas idéias de autores que compuseram o tópico da revisão de literatura desta investigação, entre outros.

Os dados obtidos pela gravação das discussões em áudio foram analisados com base na Interpretação Qualitativa de Dados que constam de: ordenação dos dados; classificação dos dados e análise final(7). Após as leituras flutuantes e releituras foi possível apreender quatro categorias temáticas: adolescência: transição para o mundo adulto; adolescência: sexualidade aflorada; adolescer: a busca da identidade como ser humano; adolescência: individualidade e convivência grupal em um só tempo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Adolescência: transição para o mundo adulto

Para os participantes, a adolescência consiste em uma etapa do desenvolvimento humano, de transição entre a infância e a vida adulta. Neste processo o adolescente passa por transformações corporais, devido à puberdade, o desenvolvimento dos órgãos sexuais e a capacidade de reprodução. Esta fase representa uma ruptura com transformação da relação infantil para uma relação mais madura e independente com o objetivo de preparar o adolescente para a vida adulta:

É uma fase de transição, de mudanças, da criança para o adulto [...] Ele deixa de ser criança e passa a ser um pré-adulto [...].

[...] é o indivíduo passando da fase infantil para a adulta [...] sendo uma fase de transição que ocorre muitas transformações necessárias para a criança se tornar um adulto.

Adolescência é um momento em que se evidencia o processo de separação - individuação, crucial na sua vida e constitui um evento decisivo de um processo de desprendimento que iniciou com o nascimento(4). Transição é compreendida como uma situação passageira de atravessar de um estado ou uma condição a outro, envolve diversas circunstâncias em relação ao adolescente, que podem dificultar ou facilitar sua passagem. A transição, em geral, provoca crise, a qual aparece como resposta aos eventos causadores de mudança, que se dissipam assim que seja alcançada a adaptação à nova fase. A transição é extensa, duradoura, é um momento em que o adolescente precisa utilizar os vários recursos disponíveis pessoais ou não, para enfrentá-la e adaptar-se, no contexto individual, familiar ou social(8).

Os participantes externaram que é difícil falar do início e do término desta fase, pois o período se relaciona ao grau de amadurecimento da mente, responsabilidade e experiência de vida. Enfocaram que a maturidade é mais importante que a idade cronológica e está diretamente relacionada à capacidade de assumir responsabilidades e tomar decisões fazendo escolhas mais adequadas, pois o comportamento e a maturidade nem sempre condiz com a idade que ele tem e nem com o volume e tamanho corporal, que, às vezes, mais se assemelha ao de um adulto.

A adolescência é aproximadamente entre 10 a 16 anos, mas, alguns adolescentes diferem na idade de início e final da adolescência. Têm aqueles que iniciam antes e outros acabam bem depois.

É mais no limite psicológico que defino a adolescência. Nos comportamentos, na atitude. Percebo que a adolescência está acontecendo bem antes, as meninas de 10 anos não querem mais brincar de bonecas.

[...] a idade cronológica nem sempre bate com a idade mental [...], pois temos alunos muito responsáveis, já na quinta série e outros que estão quase fazendo o vestibular, sem nenhuma responsabilidade [...].

É mais fácil estabelecer a fase da adolescência em relação à puberdade, uma vez que a maturação sexual, o desenvolvimento de caracteres sexuais femininos e masculinos, pode ser acompanhado a olho nu facilitando a sua identificação, o que ocorre em torno 12 a 15 anos, com o término por volta de 18 anos(8). As transformações características desta fase ocorrem de maneira desigual, pois muitas vezes, o emocional não se desenvolve na mesma escala que o físico. Portanto, os limites da adolescência não são fixos e variam de acordo com fatores constitucionais, psicológicos, sociais e geográficos(9). Para o término da adolescência são necessários alguns atributos: satisfazer as necessidades de interação com o sexo oposto; a capacidade de assumir compromissos profissionais e manter-se; a aquisição de um sistema de valores pessoais, sua própria identidade; libertar-se da dependência familiar mantendo uma relação de reciprocidade(8-9).

O corpo físico assume dimensões significativas na vida do adolescente, uma vez iniciadas as transformações corporais, o jovem passa a viver esse processo, sem poder interferir, o que gera intensa ansiedade e fantasias.

É aí que ocorrem todas as mudanças físicas, porque seu corpo vai mudar, as meninas apresentam formas mais arredondadas [...].

É uma fase de transformações do corpo [...] os meninos começam a falar diferente, a barba começa a aparecer [...] odores fortes em função das transformações hormonais [...].

As modificações corporais constituem a puberdade, caracterizada pelas mudanças físicas em três níveis fundamentais. No primeiro nível, ocorre a ativação dos hormônios gonadotróficos da hipófise anterior. No segundo nível, tem-se a secreção gonadotrofina hipofisária e do hormônio de crescimento da mesma hipófise que tem a função de estimular a produção de gametas femininos e masculinos. No terceiro nível, o desenvolvimento das características sexuais primárias (como o aumento do pênis, dos testículos, ou do útero e da vagina) e o desenvolvimento das características sexuais secundárias, como por exemplo, aparecimento do pêlo pubiano e a mudança de voz(4).

As mudanças físicas alteram a imagem corporal de menina e menino e causam desconforto e ansiedade para alguns adolescentes. Porém, os participantes comentaram que outros exibem comportamentos de competição e de querer se mostrar/exibição ao mundo acompanhado de sentimento de onipotência como sendo próprias da fase da adolescência:

A competição está muito presente nesta fase, querem chamar a atenção do futuro companheiro, querem aparecer até para os professores [...].

Essa fase da adolescência é purinha de querer se aparecer [...] ele está se expondo quando mostra parte da cueca [...].

As qualidades psicossociais que são marcantes durante a adolescência (energia, sexualidade, força, destemor, violência, impulsividade, prepotência, desafio, entre outros) são próprias do complexo processo de perdas e novos investimentos em relação ao próprio corpo, a auto-imagem e na relação com os pais da infância. Experimenta o conflito entre construir-se e integrar-se à nova identidade resultante das descobertas de suas potencialidades afetivas, intelectuais, sociais e físicas(4).

Em relação às mudanças psicológicas que ocorrem na adolescência os sujeitos externaram pouca profundidade sobre o tema, podendo denotar dificuldade na compreensão dos aspectos desta etapa da vida humana ou desconhecimento do adulto em relação ao modo de pensar dos adolescentes, resultando talvez no principal motivo de desentendimento entre eles.

[...] sofre transformação mental, social [...].

[...] passa por transformações mentais, psicológicas e sociais [...].

[...] se ocorre mudanças mentais, quer dizer que ele vai ser mais capaz.

No adolescente, além das mudanças físicas, ocorrem transformações moral, cognitiva e sexual; todas interligadas exigindo uma reorganização da sua nova identidade. Apesar de vivenciar uma confusão de sentimentos na adolescência, existe a eclosão da criatividade e amadurecimento intelectual aguçando a inteligência, raciocínio e conhecimento da vida. Muitos adolescentes buscam soluções teóricas para os seus problemas transcendentes e a necessidade de intelectualizar e fantasiar acontece como uma das formas típicas do pensamento, considerados mecanismos defensivos em face de situações de perdas tão dolorosas(4).

Os sujeitos relataram preocupação com a ocorrência de instabilidade gerada pela transição, desequilíbrio emocional, contrariedade pelo mundo dos adultos e têm observado a depressão muito presente nos adolescentes.

Eles apresentam agressividade extrema, alguns são depressivos e a maioria insatisfeitos.

Na nossa escola no ano passado, tivemos duas tentativas de suicídio dos nossos alunos [...].

Em meio a essas transformações, os aspectos emocionais na adolescência são muito instáveis, e podem resultar em sentimentos de impotência, insegurança e ambivalência gerados pelas mudanças rápidas do seu corpo, à baixa auto-estima e à indefinição de projeto de vida, o que levam muitos adolescentes a quadros depressivos e a tentativa de suicídio(10). O adolescente possui uma sensibilidade aguçada acerca da sua imagem corporal e reage com ansiedade e frustração ante a imagem idealizada, podendo levá-lo a estados depressivos, como fator de desvalorização(3).

Em uma pesquisa realizada em Unidade de Urgência Psiquiátrica, procurou-se caracterizar o adolescente que tenta suicídio e destaca alguns aspectos: na maioria das vezes, têm uma visão imatura da morte; fazem para chamar a atenção, pois vivenciam algum tipo de conflito, relacionado ao desentendimento ou rompimento de um relacionamento amoroso ou familiar; problemas na escola, com amigos, ou conflitos em relação à sua sexualidade, sua auto-imagem e auto-estima que também interferem em suas relações sociais(10).

Adolescência: sexualidade aflorada

A sexualidade em todas as suas formas de expressão, sempre foi assunto polêmico e não seria diferente no contexto escolar. Na adolescência, a sexualidade se apresenta como mudança física, psicológica e social ao mesmo tempo, pois a nova conformação do corpo e suas atitudes impõem-lhes uma nova relação com a sociedade. Essa mudança social pode ser agravada e potencializada, se junto ao processo natural de se abrir ao mundo com a expressão física de um novo corpo e atitudes, vier a gravidez precoce, o que altera o viver do adolescente em relação a si mesmo, à família, à escola e tudo o mais que o cerca.

Chamou a atenção o fato de que a sexualidade foi pouco debatida, embora a literatura que trata da adolescência em sua maioria faz referência às mudanças sexuais pela maturação física inerente ao desenvolvimento humano, independente do querer ou não do adolescente. Tais alterações, por vezes são causadoras de intenso sofrimento psíquico. Ao pesquisar a respeito do tema, encontramos uma diversidade de trabalhos desenvolvidos por profissionais da saúde e da educação em escolas de ensino fundamental e médio, porém a sua maioria com enfoque na sexualidade, na gravidez precoce e na prevenção do uso e abuso de drogas. Durante a Discussão de Grupo, a sexualidade não foi um tema abertamente discutido e isto se deu talvez, pela dificuldade em aceitar essa questão no meio dos adolescentes, procurando-se manter a falsa idéia de sua inocência e pureza que está diretamente ligada à figura infantil(12). Estas atitudes contribuem para a formulação de visões preconceituosas e equivocadas sobre o assunto.

[...]também é uma fase com sexualidade aguçada [...].

[...] intimidade, criar um vínculo de intimidade com as pessoas de maneira agressiva [referindo-se aos rapazes que andam exibindo as roupas íntimas].

Talvez seja difícil para muitas pessoas admitirem a idéia da sexualidade na infância ou adolescência, pois é forte a noção de inocência e pureza associada às crianças que estão passando aos poucos para a vida adulta. É necessário que os docentes estejam preparados com domínio sobre esse assunto e o papel da escola deveria ser o de abrir espaço para a discussão, respeitando a diversidade e as diferenças de opinião(11).

Conquanto, o tema sexualidade tenha sido pouco abordado na Discussão de Grupo, observamos estar presente no cotidiano escolar, por meio de uma de suas manifestações mais evidentes que a sociedade não consegue ignorar, a prática que, por vezes, resulta na gestação na adolescência.

Na oitava série, tenho uma aluna que teve neném agora [...].

Eu tenho uma aluna, ela usa aparelho nos dentes, acabou de ganhar neném, menininha assim, nem tem corpo de mulher [...].

Então no momento que a pessoa está grávida a gente tem que fazer o quê? Tem que tentar solucionar da melhor maneira possível [...].

Os professores expressaram inquietações diante da gravidez inesperada do adolescente. Isto se deve à preocupação em conhecer as necessidades e os problemas vivenciados pelos adolescentes, acrescidas às dificuldades próprias dessa fase do desenvolvimento. Tentam fornecer suporte apresentando os recursos disponíveis para o enfrentamento e organização do novo papel que lhe é exigido pela maternidade. A gravidez indesejada na adolescência emerge como um problema, um risco a ser evitado, pois é uma condição inadequada em sua idade, seja ela planejada ou não. Apresenta aspectos desagradáveis relacionados aos fatores que são desencadeados e representa comprometimento para o desenvolvimento pessoal, social e profissional da jovem gestante, como a perda da liberdade, interrupção dos estudos e desarmonia nas relações familiares(8).

Adolescer: a busca da identidade como ser humano

Para os participantes, o adolescer é uma fase da vida em que a pessoa está em constante processo de desestruturação e reestruturação. O adolescente vive várias perdas e conquistas em uma transição da identidade infantil para a adulta, é a busca de si mesmo, influenciando na consolidação da estrutura básica da personalidade. Isso ocorre em função das aquisições progressivas da personalidade. Os adolescentes testam limites, são contestadores, críticos em demasia, desejam que suas idéias sejam prevalentes, não crêem ter limitações, estão sempre à procura de novos desafios, são impetuosos, imaturos e inseguros e procuram se firmar por meio de grupos de referência.

[...] às vezes a gente chega e fala boa tarde criançada, eles ficam horrorizados e respondem, somos adolescentes [...].

Eles querem se firmar como pessoas, como indivíduo, contestar, não ser igual, ser diferente, chegar onde nós chegamos [...].

Os adolescentes se posicionam no sentido de que prevaleçam seus anseios, querem ser ouvidos e atendidos.

O adolescente procura a sua reconfiguração e ressignificação enquanto surge um novo ser diante da complexidade dos diversos sentimentos e sensações. A formação da identidade é um processo mental de reflexão e observação que ocorre simultaneamente e inconsciente e o adolescente julga a si mesmo a partir daquilo que entende ser a maneira como os outros o julgam(8). Ao buscar sua própria identidade, tem que se diferenciar de seus pais e por isso tem que negá-los para poder ser ele mesmo, necessita da contraposição para alcançar seus próprios valores e constituir sua auto-imagem. Assim, o conflito de gerações passa a fazer parte da vida(4). Outra questão comumente observada no comportamento adolescente são os conflitos em suas amizades, rancor, mágoa e revolta com os pais [e professores], pela forma provocativa com que os adolescentes agem, com desrespeito, insubordinação e indignação(8).

Eles acham que já sabem tudo e ainda vem interrogar e querem discutir, com a gente, muitas vezes sem razão [...].

São mais críticos, são bem críticos porque os adolescentes de hoje em dia, possuem mais informação [...].

Evidencia-se nessa época da vida a habilidade do adolescente de raciocinar e de estabelecer relações combinatórias abstratas, sendo que a inteligência formal é o ápice da evolução intelectual. É capaz de formular hipóteses e estabelecer um raciocínio coerente. Adquire capacidade para questionar várias facetas da vida e aumenta seu acervo cultural. É o início da vida introspectiva e da busca de suas verdades(10). Dentro dessa necessidade de intelectualizar e fantasiar surgem as grandes teorias filosóficas, idéias de salvar a humanidade, opção por movimentos políticos, etc. É também nessa fase que o adolescente começa a escrever versos, contos, novelas, dedicando-se a atividades artísticas e literárias(4). Muitos adultos, afirmam que os adolescentes são rebeldes, desajustados, que protestam contra os valores sociais, mas não conseguem apresentar alternativas significantes para mudar positivamente a ordem social que criticam(9).

Para que aconteça o ajustamento com a sociedade, familiares e consigo mesmo, o adolescente se opõe a determinados valores, dogmas, preconceitos, estigmas impostos pela sociedade, pois a sua atitude de espectador infantil passa para uma atitude ativa e questionadora, que resulta em mudança do seu comportamento. Este momento é essencial ao desenvolvimento que o leva a vivenciar o mundo de diversas formas, porém, nem sempre ele é compreendido.

É um momento da vida que surgem todas as dúvidas e questionamentos em relação ao que há de vir [...].

[...] tempo de instabilidade emocional muito grande [...] é uma fase de dúvidas e questionamentos.

[...] às vezes falo, vocês querem ser adultos, mas têm comportamentos de crianças que estão na 5ª e 6ª séries, porque fazem bagunça na sala de aula, brigam no intervalo por motivo fútil [...].

A adolescência não ocorre de forma linear e se faz gradativamente. O adolescente vai conquistando seu espaço e autonomia, experimentando uma possível independência que exigirá novas competências e mudanças nos padrões de comportamento. No entanto, esse adolescente possui o desejo de ser protegido e provido com as mesmas regalias de sua infância. Assim, a adolescência se constitui de movimentos com flutuações entre manter a dependência infantil e assumir a independência adulta diante da separação dos pais que ocorre aos poucos. Essa característica provoca instabilidade, desarmonia que ele vivencia nessa etapa, já que o processo de desligamento é doloroso, porém necessário para o desenvolvimento humano(4,8).

Para os participantes o adolescente ao se projetar na vida adulta, num futuro bem próximo, vai descobrindo seus espaços na sociedade, sonha com o amanhã, possui desejos e ambições, constrói projetos de vida e ensaia as suas possíveis ocupações. Apontaram a adolescência como uma fase de expectativas para o futuro em que há a busca de caminhos que se ajustam aos anseios de realização física, psíquica, emocional, social e profissional e lutam pelo aprimoramento do seu conhecimento. Os participantes vêem todas as transformações como um itinerário a culminar na entrada para o mundo do adulto e reconhecem que para o adolescente atingir a maturidade, chegar à fase adulta e se estabelecer profissionalmente, é importante que tenha um projeto de vida.

É um tempo de anseios, de desejos, de expectativas e descobrimentos de si mesmo e da realidade.

Mesmo com toda realidade deles, eles têm um sonho de se tornar isso ou aquilo, é uma fase de anseio do adolescente [...].

São sujeitos repletos de sonhos, desejos, anseios, e expectativas em relação a tudo que envolve o seu futuro [...].

Em nossa cultura, para integrar-se definitivamente no mundo dos adultos, o adolescente precisa enfrentar o problema vocacional, decidir-se em relação a uma profissão. O futuro é importante, pois o sonho de um novo status social, muitas vezes é diferente daquele oferecido pelos adultos; a idealização de profissões que estão sendo valorizadas no momento pela sociedade, um espaço prometido ou idealizado e que muitas vezes não está tão acessível. Todavia, não consegue analisar que, para alcançar tais expectativas, precisa percorrer as várias etapas da vida(8).

Quando o adolescente tem um foco, uma idealização, um sonho a ser alcançado ele mantém sua atenção para atingir tal finalidade e assim sua mente é, de certa forma, protegida de algumas distorções que poderiam afetá-lo, como por exemplo, o envolvimento com drogas. Assim, a escola é um espaço capaz de acolher o sofrimento, dificuldades no desenvolvimento geral, potencializar o que de bom e produtivo o estudante possui, de estimulá-lo a focos de interesses saudáveis e, ainda, de recuperar aqueles que tenham envolvido em situações de conflitos e conseqüências desastrosas.

É necessário que professores, diretores e demais trabalhadores de educação e da saúde tenham sensibilidade, olhar atento e vontade de expandir o leque de oportunidades de ações que despertem o interesse, a fim de conquistar confiança. Nesse sentido, é necessária uma comunicação com interesse genuíno pelo adolescente, que demonstre preocupação com ele, capaz de fazê-lo sentir-se sujeito, centro da relação entre professor e estudante.

Para os participantes, a separação do adolescente de sua família para a sociedade, em busca da individualização, modifica o modo de pensar, momento que experimenta maior responsabilidade, mudanças de comportamento, sentimentos, e também seu modo de agir.

Acham que podem tudo, não devem obediência a ninguém, que já são capazes de decidir tudo.Eles querem ter uma independência muito grande de tudo [...].

A maioria tem responsabilidades, de arrumar a casa, fazer o almoço, cuidar de um irmão menor.

Quando a criança entra na adolescência passa a ter compromissos sociais, vão a festas, shows. Antes o convite chegava para os pais. Agora, eles são os convidados e, muitas vezes, excluem os pais.

Faz parte da individualização e do crescimento do adolescente, assumir responsabilidade, superar a dependência familiar, emancipar-se emocionalmente - importante fator para que o adolescente atinja a maturidade. Os compromissos sociais são atitudes normais de quem está se preparando para as responsabilidades futuras. Comumente, adquirem esta vivência, participando de festas, bailes, piqueniques, teatros, cinemas. Nessa circunstância para a promoção de sentimento de independência, o adolescente provoca ataques frontais apenas para diferenciar as duas gerações(9).

Adolescência: individualidade e convivência grupal em um só tempo

Os participantes apontaram como característica dessa fase a tendência grupal. Os adolescentes se identificam com outros jovens, passam a andar juntos e até com as mesmas roupas, formando um grupo com identificação e características próprias, alguns são facilmente identificáveis pelos usos e costumes.

E eles estão usando tiarinha, brinco, essas coisas [...].

A moda deles é andar como se estivessem sujos, com as pernas abertas, rebolando, corpo curvado para frente [...].

Você viu agora a nova moda, aqueles meninos, os três de camisetas cor de rosa, eles sentam juntos na sala [...].

Quanto mais embaixo as calças estão, mais confortáveis eles se sentem [...] mais liberdade [...].

A gente que olha essa moda, eu não sei, eu acho que eles se sentem confortáveis [...] [se referindo às calças largas e abaixo da cintura].

Algumas vezes, a participação dos adolescentes em determinados grupos, não é bem aceita por parte dos professores, tendo em vista as características do grupo e, não raras vezes, ocorre conflito de gerações.

Dá vontade de quando você vê estas calças lá embaixo, dá vontade de colocar no lugar [...].

[...] às vezes eu falo: Faça-me um favor, levanta essas calças um pouco, eu não quero ver a sua cueca. Ele coloca aqui em baixo [o docente colocou as mãos bem abaixo do umbigo para demonstrar o que estava dizendo], é horrível.

Os processos de identificação são fundamentais na adolescência, sendo que o adolescente apela às situações que proporcionam segurança e estima pessoal. Isso se dá devido à uniformidade, em que todos se identificam com cada um, em especial, nos indivíduos que representam a possibilidade de sobrevivência. Ocorre o processo de dupla identificação em massa, o que explica, pelo menos em parte, o processo grupal do qual o adolescente participa. É nessa fase que o grupo passa a exercer sua grande função modeladora, diante da transformação de sua identidade adulta, que ocorre favorecendo o aparecimento de sentimentos de fragilidade, aumentando a sugestionabilidade, período altamente vulnerável e suscetível às influências ambientais, construtivas e destrutivas. Dessa forma, o que o grupo determina é aceito sem muita reflexão(4).

Nesse momento, os adultos são essenciais figuras com as quais se identifique devendo influenciar de maneira positiva e construtiva, e ao mesmo tempo, que os façam perceberem-se diferentes deles(3). Os adolescentes precisam reconhecer que há pessoas mais fortes do que eles, que possam restringir os seus impulsos para sobreviver, precisam de alguém que possa representá-los.

Os professores reconheceram a influência que os grupos exercem no adolescer, entre eles, os amigos de sala de aula, a família e a sociedade. Esses caminham juntos aos processos biológicos, podendo influenciar de forma positiva ou negativa na formação da nova identidade de adolescente.

Uma pessoa que ela tenha uma referência, o mesmo papel do pai ou da mãe, uma outra pessoa, um tio, um avô, uma figura que realmente seja forte ou até mesmo instituições, que são referências, que também podem fazer uma base como família, outras instituições, como igreja [...].

Nesse período evolutivo, a importância das figuras parentais reais é imprescindível. O pai possui a função de que a sua palavra significa lei, capacitar o indivíduo a ter domínio da realidade, não praticar incesto, não matar, não roubar e aceitar que não pode fazer tudo que deseja sem conseqüência. A mãe possui a função de mediadora, de proteção mediante as orientações e aconselhamentos. Quanto mais a sociedade se torna complexa, tanto mais numerosas serão as situações em que outros poderão assumir a função educadora na vida dos adolescentes(3). Na falta de amparo familiar ou na ausência de apoio, um familiar mais próximo, os professores, pessoas das instituições para menores infratores entre outros, podem exercer a função educadora para os adolescentes.

Os jovens, na sua busca por figuras de identificação, voltam-se para pais substitutos. Surge como figura a ser adicionada no processo identificatório desses adolescentes o resgate de autoridade simbólica estruturante: o professor. Além de ter satisfação em compartilhar seus conhecimentos, representa o conteúdo simbólico, o tesouro ético que os jovens necessitam incorporar a este significante dado ao professor como patrimônio da humanidade, elemento estimulador recíproco do vinculo afetivo fundamental entre alunos e mestres(3).

O professor pode valer-se da comunicação a fim de torná-la eficaz para todas as suas ações, em todas as circunstâncias de vida, pois por meio dela será ampliada a possibilidade de seus alunos compartilharem suas vivências. Nessa ação de compartilhar experiência, a pessoa recebe aprovação ou desaprovação, o que determina sua sensação de segurança e satisfação, consequentemente uma adaptação ao ambiente que o rodeia(12).

Tem adolescente e adolescente. Tem aquele que é agressivo, tem aquele que se fecha, ou aquele que é de forma alegre e que quer conquistar todo mundo [...].

Alguns diferem na idade de início e final da adolescência [...] tem aqueles que iniciam antes e acabam bem depois [...] tardam para amadurecer.

Enquanto se utiliza a puberdade como parâmetro universal, que se reproduz semelhantemente para todos os indivíduos, sabe-se que a adolescência é única e singular para cada ser. O jovem sofre influências socioculturais, o que faz a adolescência ser experimentada de maneira diferente até por indivíduos da mesma família. É importante considerar que não há uma adolescência, contudo adolescências, em função do momento, do contexto político e social em que se insere o adolescente. O tempo é marcado de forma desigual nos diferentes tipos de sociedades e, em decorrência dessa disparidade, a infância e a adolescência passam a ser pensadas e sentidas de maneira distinta(13).

CONCLUSÃO

Neste estudo, dentre as várias observações trazidas pelos participantes, foi possível identificar nas falas dos professores a pluralidade atribuída ao processo de adolescer, com ênfase na singularidade da adolescência. Uma vez que a adolescência se constitui como um fenômeno singular, apresenta variações de acordo com a cultura, a classe social, a raça, o gênero e a idade, configurando distintas formas de se vivenciá-la. Assim, não se pode afirmar que todo adolescente é igual, conquanto, as características e as trajetórias desenvolvimentais sejam parecidas e intensas, o modo de vivenciar e quando serão vivenciados é próprio de cada um. Essa compreensão requer que os adultos percebam cada adolescente como um ser singular, com sua história única e que não seja tratado de modo massificado, homogeneizado.

Os professores afirmaram que o trabalho oportunizou reflexão a respeito de como tem se estabelecido as relações interpessoais, principalmente com os adolescentes, que por vezes se mostram conflituosas e até desconfortáveis, mas que, apesar disso, há momentos em que conseguem oferecer ajuda. Também que é possível desenvolver relações que incluam a atenção, dedicação, conforto, paciência e sensibilidade, além da transmissão dos conteúdos curriculares, o que alcança e extrapola o objetivo deste estudo.

Verificamos dificuldades de os professores expressarem suas idéias acerca do desenvolvimento cognitivo dos adolescentes, mostraram-se com conhecimentos insuficientes acerca das drogas e da sexualidade e que se sentem inseguros frente a essas situações. Estas considerações apontam a necessidade de um cuidado de enfermagem, no sentido de instrumentalizar os professores nas questões abordadas nesta pesquisa.

A enfermagem pode ser exercida em diversificados espaços sociais e de saúde, na prevenção de doenças como na promoção da saúde. Assim, consideramos que essa pesquisa contribuirá para subsidiar ações nas escolas de ensino fundamental e médio, haja vista se constituir ambiente propício para o desenvolvimento de cuidados de enfermagem com todos os integrantes da comunidade escolar. Ainda, com esse estudo foi possível vislumbrar um novo campo de atuação para o cuidado de enfermagem na escola, pois ao fazer esse tipo de reflexão, possibilitamos aos professores conhecerem as peculiaridades da adolescência, podendo aprimorar seu relacionamento interpessoal com esses jovens e atuar em suas dificuldades, melhorando conseqüentemente o seu aprendizado.

Recebido: 02/06/2008

Aprovado: 01/06/2009

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  • 13. Saito MI. Adolescência, cultura, vulnerabilidade e risco. Pediatria. 2000;22(3):217-9.
  • Correspondência:
    Hellen Roehrs
    Rua Dr. Waldemiro Pereira, 1180 - Capão Raso
    CEP 81150-150 - Curitiba, PR, Brasil
  • *
    Extraído da dissertação "As relações interpessoais entre professor e estudante adolescente sustentadas no referencial da comunicação terapêutica: percepções dos professores", Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Paraná, 2006.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Jul 2010
    • Data do Fascículo
      Jun 2010

    Histórico

    • Recebido
      02 Jun 2008
    • Aceito
      01 Jun 2009
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