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O efeito de intervenções educativas no conhecimento da equipe de enfermagem sobre hipertensão arterial

El efecto de intervenciones educacionales en el conocimiento del equipo de enfermería sobre hipertensión arterial

Resumos

A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares, sendo grande a responsabilidade da enfermagem na atenção aos hipertensos. Objetivou-se, portanto, avaliar o conhecimento sobre hipertensão e seu tratamento com a equipe de enfermagem, antes e após onze intervenções educativas. Utilizou-se questionário abordando aspectos teóricos ligados ao conhecimento sobre hipertensão em enfermeiros (5), técnicos (2), auxiliares (11) e agentes comunitários (37), de duas Unidades Básicas de Saúde da cidade de São Paulo. Para análise estatística utilizou-se o teste T de Student, análise da variância e p<0,05. Verificou-se aumento no conhecimento após as intervenções educativas para o grupo formado por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem (84,6±12,0% vs 92,7±15,0%, p<0,05), enquanto que para agentes comunitários de saúde não houve mudança significante (80,8±12,2% vs 83,5±24,0%). Portanto, conclui-se que as ações educativas foram efetivas e que devem ser implementadas junto à equipe de enfermagem, considerando que elas podem influenciar no aprimoramento da assistência às pessoas hipertensas.

Hipertensão; Enfermagem; Conhecimento


La hipertensión arterial es uno de los principales factores de riesgo para las enfermedades cardiovasculares. Es grande la responsabilidad de la enfermería en la atención a los hipertensos. Se objetivó entonces evaluar los conocimientos sobre hipertensión y su tratamiento en el equipo de enfermería antes y después de once intervenciones educativas. Fue utilizado un cuestionario abordando aspectos teóricos relativos al conocimiento sobre hipertensión en enfermeros (5), técnicos (2), auxiliares (11) y agentes comunitarios de la salud (37) de dos Unidades Básicas de Salud en la ciudad de São Paulo, Brasil. Para el análisis estadístico, fue aplicado el test T de Student, además de análisis de varianza y p<0,05. Se verificó un aumento en los conocimientos después de las intervenciones educativas para el grupo formado por enfermeros, técnicos y auxiliares (84,6±12,0% contra 92,7±15,0%, p<0,05), mientras que no se registró cambio significativo para agentes comunitarios de la salud (80,8±12,2% contra 83,5±24,0%). Por lo tanto, se concluyó en que las acciones educativas fueron efectivas y deben ser implementadas junto al equipo de enfermería, considerando que ellas pueden influir en el perfeccionamiento de la atención a las personas hipertensas.

Hipertensión; Enfermería; Conocimiento


Hypertension is one of the main risk factors for cardiovascular diseases. Nursing carries a large responsibility in care delivery to hypertensive individuals. Thus, the goal was to assess a nursing team's knowledge on hypertension and its treatment before and after educational interventions. A questionnaire was used, addressing theoretical aspects of hypertension knowledge among nurses (5), technicians (2), auxiliaries (11) and community agents (37) at two Basic Health Units in São Paulo City, Brazil. For statistical analysis, Student's T test was used, as well as variance analysis and p<0.05. A knowledge increase was verified after the educational interventions for the group constituted by nurses, technicians and nursing auxiliaries (84.6±12.0% vs. 92.7±15.0%, p <0.05), while no significant change occurred for community health agents (80.8±12.2% vs. 83.5±24.0%). Thus, it was concluded that the educational actions were effective and must be put in practice in the nursing team, which they can influence the improvement of care delivery for hypertensive patients.

Hypertension; Nursing; Knowledge


ARTIGO ORIGINAL

O efeito de intervenções educativas no conhecimento da equipe de enfermagem sobre hipertensão arterial

El efecto de intervenciones educacionales en el conocimiento del equipo de enfermería sobre hipertensión arterial

Stael Silvana Bagno Eleutério da SilvaI; Flávia Cortez ColósimoII; Angela Maria Geraldo PierinIII

IMestre em Enfermagem pelo Programa Enfermagem na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. staelsilvana@usp.br

IIMestre em Enfermagem pelo Programa Enfermagem na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. flaviaccp@yahoo.com.br

IIIProfessora Titular do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. pierin@usp.br

Correspondência Correspondência: Angela Maria Geraldo Pierin Rua Heitor Penteado, 250 - Apto. 63 CEP 05438-000 - São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares, sendo grande a responsabilidade da enfermagem na atenção aos hipertensos. Objetivou-se, portanto, avaliar o conhecimento sobre hipertensão e seu tratamento com a equipe de enfermagem, antes e após onze intervenções educativas. Utilizou-se questionário abordando aspectos teóricos ligados ao conhecimento sobre hipertensão em enfermeiros (5), técnicos (2), auxiliares (11) e agentes comunitários (37), de duas Unidades Básicas de Saúde da cidade de São Paulo. Para análise estatística utilizou-se o teste T de Student, análise da variância e p<0,05. Verificou-se aumento no conhecimento após as intervenções educativas para o grupo formado por enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem (84,6±12,0% vs 92,7±15,0%, p<0,05), enquanto que para agentes comunitários de saúde não houve mudança significante (80,8±12,2% vs 83,5±24,0%). Portanto, conclui-se que as ações educativas foram efetivas e que devem ser implementadas junto à equipe de enfermagem, considerando que elas podem influenciar no aprimoramento da assistência às pessoas hipertensas.

Descritores: Hipertensão. Enfermagem. Conhecimento.

RESUMEN

La hipertensión arterial es uno de los principales factores de riesgo para las enfermedades cardiovasculares. Es grande la responsabilidad de la enfermería en la atención a los hipertensos. Se objetivó entonces evaluar los conocimientos sobre hipertensión y su tratamiento en el equipo de enfermería antes y después de once intervenciones educativas. Fue utilizado un cuestionario abordando aspectos teóricos relativos al conocimiento sobre hipertensión en enfermeros (5), técnicos (2), auxiliares (11) y agentes comunitarios de la salud (37) de dos Unidades Básicas de Salud en la ciudad de São Paulo, Brasil. Para el análisis estadístico, fue aplicado el test T de Student, además de análisis de varianza y p<0,05. Se verificó un aumento en los conocimientos después de las intervenciones educativas para el grupo formado por enfermeros, técnicos y auxiliares (84,6±12,0% contra 92,7±15,0%, p<0,05), mientras que no se registró cambio significativo para agentes comunitarios de la salud (80,8±12,2% contra 83,5±24,0%). Por lo tanto, se concluyó en que las acciones educativas fueron efectivas y deben ser implementadas junto al equipo de enfermería, considerando que ellas pueden influir en el perfeccionamiento de la atención a las personas hipertensas.

Descriptores: Hipertensión. Enfermería. Conocimiento.

INTRODUÇÃO

A assistência às pessoas com hipertensão arterial requer por parte da equipe de saúde atenção especial no tocante à problemática do controle, que por sua vez apresenta estreita relação com o processo de adesão ao tratamento. Particularmente médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem devem estar devidamente orientados sobre as especificidades da doença e tratamentos para que se obtenham melhor controle da doença.

Nesse contexto, estudo(1)que avaliou o conhecimento de médicos e da equipe de enfermagem mostrou que essas categorias não detinham o pleno conhecimento teórico e prático referentes à hipertensão e a medida da pressão arterial. Outra investigação(2), também realizada em nosso meio, apontou que enfermeiros e auxiliares de enfermagem realizaram de forma satisfatória, apenas 40% das etapas do procedimento da medida da pressão. Considera-se que a falta de conhecimento por parte da equipe de saúde possa interferir na assistência prestada aos hipertensos.

A equipe de enfermagem desempenha papel importante em favorecer o aumento dos índices de adesão às práticas de saúde estabelecidas para os hipertensos. O enfermeiro deve atuar diretamente na promoção da saúde, contribuindo com o diagnóstico precoce da doença, por meio da medida rotineira da pressão arterial e orientação da equipe sob sua responsabilidade. Uma vez instalada a doença, a atuação recai em orientar sobre os benefícios do tratamento medicamentoso e não medicamentoso, manejo da doença e suas complicações quando não controlada, bem como adesão a estilos de vida saudáveis.

Infelizmente, o controle pouco satisfatório dos níveis tensionais dos hipertensos é um fato identificado não só no nosso meio(3-4), mas também internacionalmente(5). Portanto, todos que atuam junto a essas pessoas devem centrar esforços para mudança dessa realidade. Outro ponto que se destaca é que os profissionais de enfermagem estejam habilitados tecnicamente para a medida da pressão arterial e munidos de conhecimentos suficientes sobre a temática.

Quando a equipe multiprofissional trabalha conjuntamente no atendimento do hipertenso, essas ações favorecem seu envolvimento com o tratamento e com isso há maior controle dos níveis de pressão arterial.

De acordo com as V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial(6), cada participante da equipe multiprofissional tem seu papel definido e suas ações específicas estabelecidas. Os técnicos e os auxiliares de enfermagem estão subordinados à supervisão do enfermeiro. Dessa forma, eles precisam estar devidamente preparados e conscientizados sobre a importância da atuação junto aos hipertensos. O documento destaca ainda, que a capacitação e a motivação geradora de ações dos profissionais de saúde para o cuidado do hipertenso é de grande importância e não pode ser negligenciada, mas sim estimulada pelo profissional de saúde, agora exercendo o papel de educador em todo o seu potencial.

Considera-se que a atenção básica é a porta de entrada do hipertenso no sistema de saúde, o que pode ser facilitado pelas ações do Programa de Saúde da Família. Para o Ministério da Saúde(7) os enfermeiros desempenham um papel fundamental no Programa de Saúde da Família atuando no atendimento direto aos pacientes e na supervisão dos profissionais de enfermagem. Na atuação junto aos auxiliares de enfermagem e os agentes comunitários de saúde, destaca a capacitação e supervisão de forma permanente dos mesmos.

A importância do enfermeiro junto aos hipertensos está atrelada ao seu papel como educador atuando na motivação do paciente quanto à adesão ao tratamento, seu autocuidado, propondo estratégias que favoreçam seu envolvimento com a doença e seu tratamento, além de capacitar os outros profissionais da equipe de enfermagem nas atividades que são de sua competência. Dessa forma, considerando a importância da atuação da equipe de enfermagem junto aos hipertensos seguidos na atenção básica, o presente estudo teve como objetivo comparar o conhecimento da equipe de enfermagem sobre hipertensão arterial e seu tratamento antes e após intervenções educativas.

MÉTODO

A coleta de dados foi iniciada após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Município de São Paulo, sob número 213/2003. Trata-se de um estudo comparativo, transversal de campo, exploratório, descritivo de abordagem quantitativa. Os profissionais que concordaram participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Casuística

O estudo foi apresentado a todos os membros da equipe de enfermagem, 103 no total, em duas Unidades Básicas de Saúde da região oeste da cidade de São Paulo. A escolha das duas unidades decorre do fato da implementação de um projeto de Políticas Pública de Saúde com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Processo nº 03/06454-1). As unidades eram homogêneas quanto às características e número de profissionais da equipe de enfermagem. Participaram do estudo 55 funcionários, sendo 5 enfermeiros (9,1%), 2 técnicos (3,6%), 11 auxiliares (20%) e 37 agentes comunitários de saúde (67,3%) que se engajaram ao processo educativo e responderam o instrumento de avaliação pré e pós-intervenções educativas. A maioria expressiva foi constituída por mulheres (90,9%); cerca da metade com idade até 40 anos (50,9%); houve predomínio de escolaridade equivalente ao 2º Grau (67,3%) e renda pessoal menor que três salários mínimos (63,5%). Destaca-se ainda, que 41,9% relataram nunca terem participado de cursos sobre a temática hipertensão arterial.

Os critérios de inclusão estabelecidos foram a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido e manter-se em atividade na unidade básica durante o período do estudo.

Coleta de dados

Para a coleta dos dados, foi utilizado questionário composto por 28 questões semi-estruturadas, com perguntas fechadas e uma pergunta aberta, abordando aspectos teóricos ligados ao conhecimento sobre hipertensão arterial incluindo conceito da doença, valores normais de pressão arterial, tratamento e orientações dadas ao pacientes, aplicado na sala de aula disponível na própria unidade.

A primeira parte do questionário constava de perguntas de conhecimentos gerais sobre hipertensão abordando conceitos, cronicidade da doença e orientações dadas aos hipertensos, tendo sido respondida por todos os profissionais da equipe de enfermagem. Foram feitas adequações (uso de linguagem menos técnica e abordagem dentro dos limites de sua competência profissional) a fim de contemplar a participação dos agentes comunitários de saúde. A segunda parte destinou-se apenas aos enfermeiros, técnicos e auxiliares, pela especificidade de suas ações, e envolvia perguntas sobre medida da pressão arterial, incluindo conceito sobre pressão arterial, sons que determinam a pressão sistólica e diastólica (sons de Korotkoff), dimensão do manguito, tipos de manômetro, calibração do manômetro, fatores relacionados ao paciente e ao observador que podem interferir na medida da pressão e os cuidados no procedimento de medida da pressão arterial. A avaliação do conhecimento foi feita por meio de percentual de acerto, antes e após as intervenções educativas, de acordo com as categorias dos participantes: categoria 1, formada pelos agentes comunitários de saúde e categoria 2, pelos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem.

As intervenções educativas ocorreram a cada 15 dias, com duração de uma hora e meia (carga horária total de 16,5h), totalizando 11 encontros em seis meses. Os funcionários participaram das reuniões após o término do turno de trabalho. Foram disponibilizados, no mínimo, dois horários diferentes para contemplar todos os participantes. As categorias participavam juntas e recebiam o mesmo conteúdo, porém a linguagem era adaptada a fim de que o assunto fosse compreendido igualmente por todos. As competências de cada categoria eram destacadas na medida em que os assuntos eram discorridos ficando detalhado o que se esperava de cada profissional na abordagem com hipertensos. As aulas foram preparadas e ministradas pelas pesquisadoras com utilização de mídia e aulas práticas, quando necessárias. A primeira avaliação foi feita antes da primeira intervenção e a segunda aconteceu após 15 dias da última intervenção educativa e em média seis meses após a primeira avaliação. O conteúdo ministrado abordou conceitos ligados à doença e tratamento, além de dados epidemiológicos no sentido de esclarecer a magnitude do problema da hipertensão arterial. A aula interativa e com linguagem simples permitiu a participação dos profissionais em qualquer momento. Para a análise estatística dos dados foi usado o software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 7.5, realizada com a ajuda de um assessor estatístico. As variáveis classificatórias descritivas são apresentadas na forma de tabelas contendo as frequências absolutas (n) e relativas (%) e para os dados contínuos, média e desvio padrão. O nível de significância adotado foi de p<0,05.

RESULTADOS

Os dados das Tabelas 1, 2 e 3 mostram a comparação do conhecimento entre os agentes comunitários de saúde (categoria 1) e os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem (categoria 2) em relação à percentual de acerto das questões referentes aos conhecimentos sobre hipertensão arterial, tratamento e medida da pressão, pertinentes a cada categoria, antes e após o processo educativo.

Os dados da Tabela 1 mostram que, apesar de se observar que percentualmente houve acréscimo no conhecimento de todos os participantes após o processo educativo, esse aumento foi estatisticamente significante apenas na questão que avaliou os níveis de pressão arterial que caracterizam o limite para hipertensão arterial. Nesse item os profissionais que compuseram o grupo 1 de estudo foram os que se destacaram (48,6% vs 78,4%, p<0,05). Cabe salientar, que nas questões que avaliaram as complicações que a hipertensão pode acarretar com danos em órgãos alvo como coração, cérebro e rins, além das relativas ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso, mesmo na fase anterior ao processo educativo, os percentuais de acerto do conhecimento já eram elevados, todos com níveis acima de 70%. O mesmo não se observou nas avaliações que incluíram diferentes orientações sobre a doença e tratamento, com índices pouco satisfatórios de indicação, inclusive abaixo da média, principalmente na categoria formada pelos agentes comunitários de saúde. Na questão sobre o conceito de hipertensão, apesar do aumento no percentual de acerto não ter relevância estatística, chama a atenção que nos agentes comunitários de saúde passou de 48,6% para 78,4% e nos enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem passou de 55,5% para 83,3%.

Os resultados apresentados na Tabela 2 evidenciam que houve aumento estatisticamente significante no percentual de acerto apenas na questão sobre o conceito de pressão arterial máxima e mínima (11,1% vs 77,8%, p<0,05). Na questão referente aos sons que identificam a pressão sistólica e diastólica (aparecimento do primeiro som regular e desaparecimento dos sons, respectivamente) o percentual de acerto manteve-se inalterado (27,8% vs 27,8%). O fato de que a largura do manguito deve corresponder a 40% da circunferência do braço do paciente e o comprimento deve envolver pelo menos 80% do braço, a maioria indicou a resposta correta, mesmo antes das intervenções educativas (55,5%, pré vs 72,2%, pós). Porém, o mesmo não se observou nas respostas sobre o efeito do manguito estreito causar falsa elevação na pressão arterial (38,9%, pré vs 72,2%, pós) e do manguito grande causar diminuição na pressão arterial (33,3%, pré vs 66,7%, pós). Nessa parte, só após as atividades educativas, a maioria indicou a resposta correta. Tal fato se repetiu no item que avaliou que o manômetro que menos se descalibra é o de coluna de mercúrio (38,9% vs 77,8%). Destaca-se também, que a totalidade indicou de forma correta que a avaliação dos aparelhos de medida da pressão deve ocorrer no prazo de seis a 12 meses (100% vs 100%).

Na Tabela 3 os resultados mostram que houve incremento estatisticamente significante no conhecimento dos enfermeiros, técnicos e auxiliares (categoria 2), no item relativo à necessidade de medir a circunferência do braço do paciente antes da medida da pressão (38,9% vs 77,8%, p<0,05). Nos demais itens avaliados nessa questão, a maioria expressiva tinha conhecimento acima de 70% sobre os cuidados antes da aferição da pressão arterial. Na avaliação, antes do processo educativo, sobre os fatores interferentes na medida da pressão ligados ao paciente, chama atenção a falta de acerto com indicação da alternativa todas estão corretas.

A comparação das médias dos acertos, entre os dois momentos em cada categoria, mostrada na Figura 1, evidenciou acréscimo estatisticamente significante no grupo formado pelos Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem, (84,61±12,09 vs 92,73±15,03, p<0,05), enquanto que para os agentes de saúde não houve modificação (80,8±12,2 vs 83,5±24,0, p>0,05).


DISCUSSÃO

O principal achado do presente estudo evidenciou que após intervenções educativas houve aumento relevante no conhecimento para os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, enquanto para os agentes comunitários, não houve modificação, porém, destaca-se que o conhecimento desses manteve-se em percentuais acima de 80%. Possivelmente esse incremento ocorreu devido a maciça participação e maior assiduidade destes profissionais nos encontros. A capacitação sistemática dos profissionais da equipe de enfermagem torna-se importante, pois permite que estes transfiram os conhecimentos adquiridos para suas ações com os pacientes. A hipertensão arterial é uma doença crônica e necessita de tratamento por toda a vida. Portanto, o seguimento contínuo dos hipertensos deve ser alvo das ações de enfermagem, visando manter a doença sob controle e propiciando-lhes condições para tal.

Apesar de o principal resultado ter sido favorável, foram identificadas fragilidades no conhecimento da equipe de enfermagem que envolve a assistência aos hipertensos. Entre os agentes comunitários, na avaliação sobre os níveis tensionais que caracterizam a doença, menos da metade deles tinha o conhecimento correto, o que deixou de ocorrer após as intervenções educativas. Entre os enfermeiros, técnicos e auxiliares o patamar de acerto foi pouco mais elevado, porém sem mudança estatisticamente relevante. Os achados encontrados na presente pesquisa corroboram os achados na literatura mostrando que o conhecimento pouco satisfatório não é um fato novo no contexto da assistência aos hipertensos. Estudo feito em nosso meio com médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem sobre o conhecimento de conteúdos teóricos e práticos da medida da pressão arterial, mostrou que o auxiliar de enfermagem foi quem deteve o menor índice de conhecimento(1). Nessa mesma linha, outra investigação com profissionais de saúde revelou achados semelhantes(1).

Outro achado que se destacou, foi que menos da metade dos agentes comunitários de saúde, indicou fornecer orientações sobre as mudanças de estilo de vida, a doença e adesão ao tratamento anti-hipertensivo. Considera-se que os agentes comunitários de saúde, como participantes da equipe de enfermagem, atuando sob supervisão do enfermeiro, devam ser mais preparados para prestarem orientações aos hipertensos uma vez que têm contato com estes rotineiramente nas visitas domiciliares. Estudos com agente comunitário de saúde destacam que eles não possuem os saberes necessários para desempenhar tudo que se espera deles(2-3). Por conta disso, eles acabam trabalhando com o senso comum e mais raramente com os saberes. Ainda nesse sentido, salienta-se que na formação de profissionais para a saúde da família, maior investimento tem sido feito na formação universitária de médicos e enfermeiros. Existe na atenção básica um amplo campo para o desenvolvimento de atividades educativas e de aconselhamento para os quais há necessidade de habilitação adequada dos profissionais. Ressalta-se ainda, que quando os agentes comunitários participam de discussões temáticas, essas são conduzidas por médicos ou enfermeiros utilizando conteúdos tradicionais de conhecimento, havendo dificuldade de se dar conta da ampla finalidade do Programa de Saúde da Família, ou seja, da atuação de cada membro individual da equipe. O que se tem observado no dia-a-dia é uma expectativa no desempenho do trabalho do agente que deixa de ser um mediador entre a Unidade Básica de Saúde e o paciente, e passa a ser aquele que em suas visitas oferece aos pacientes orientações concernentes a assuntos para os quais não está devidamente capacitado. Nesse sentido estudo(4) mostrou que quando são orientados, os agentes comunitários de saúde podem contribuir para estimular os pacientes na mudança de hábitos de vida e isso acaba por refletir no controle da pressão arterial. Além disso, todos os membros da equipe de enfermagem desempenham papel preponderante na motivação do hipertenso para que tenha maior envolvimento com seu tratamento e consequentemente maior controle da doença.

Acrescenta-se também, a esse cenário o fato de que o diagnóstico da hipertensão muitas vezes é feito de forma casual,

essa atitude está relacionada com a falta de práticas adequadas de promoção da saúde da clientela, ou seja, essa procura habitualmente os serviços de saúde mediante queixas, e raramente como medida de prevenção. Para que a clientela incorpore essa conduta em seu cotidiano, é imprescindível a atuação integralizada e interdisciplinar da equipe de saúde, em particular do enfermeiro, por ser um educador em saúde de formação; através do desenvolvimento de estratégias de educação em saúde, objetivando a conscientização sobre a busca e manutenção da saúde(5).

Quanto às questões pertinentes apenas aos enfermeiros, técnicos e auxiliares, observou-se melhora no porcentual de acerto após as intervenções educativas reiterando a importância do processo educativo. Na compreensão do que é pressão sistólica e diastólica houve um aumento, inclusive significativo, após o processo educativo. O aprendizado é uma modificação do conhecimento adquirido. Espera-se que uma melhor compreensão da temática hipertensão arterial reflita em aprimoramento no cuidar da pessoa hipertensa e com isso uma melhora cada vez mais substancial dos seus níveis tensionais(7).

Em relação ao conhecimento sobre os cuidados antes da medida da pressão arterial, chamou a atenção na avaliação pré-intervenção, o fato de a minoria assinalar item importante como a medida da circunferência do braço do paciente para escolha do manguito adequado às dimensões deste. Após o processo educativo houve aumento significativo no percentual de assinalamento desse cuidado evidenciando a importância dessa etapa inerente ao procedimento de medida da pressão. Sabe-se que a medida da pressão possui em sua técnica detalhes que se forem omitidos podem conduzir a subestimação ou superestimação dos valores, o que pode levar ao diagnóstico errôneo da hipertensão e, consequentemente, condução inadequada do tratamento. Esses dados permitem observar que a maior parte dos profissionais de enfermagem ainda não dá a devida importância à realização padronizada do procedimento da medida da pressão arterial, conforme o preconizado em diretriz nacional(6) e internacional(6).

A avaliação da equipe de enfermagem em quesitos básicos do conhecimento sobre hipertensão arterial é importante para que esses profissionais conheçam suas fragilidades teóricas e práticas e que assim busquem capacitação para o exercício mais competente de sua profissão. No que se refere ao atendimento dos pacientes hipertensos, a melhora no conhecimento pode implicar em melhoria na assistência, propiciando condições aos hipertensos para maior adesão ao tratamento. Para tanto o envolvimento de todas as categorias da equipe de enfermagem se faz necessário. Todos devem se tornar educadores. Quando os pacientes reconhecem o bom atendimento e preocupação com sua doença, a tendência é haver participação nas atividades educativas que a unidade propuser e isso pode acarretar melhor controle de seus níveis tensionais.

CONCLUSÃO

A hipertensão arterial é altamente prevalente em nosso e se constitui em um dos principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares, que por sua vez ocupam o primeiro lugar no perfil de morbimortalidade. Em especial na atenção básica, a atuação da enfermagem é primordial em todas as etapas do diagnóstico e tratamento, principalmente no tocante à adesão do paciente ao tratamento, que ainda é um grande desafio para todos os profissionais que assistem o hipertenso. Dessa forma, os membros da equipe de enfermagem necessitam de instrumentalização que os torne aptos para tal e deter os conhecimentos que permeiam a problemática, é ponto fundamental e inicial do processo. O presente estudo, apesar das suas limitações, ser regional e não contar com a participação de todos os funcionários das unidades envolvidas, revelou as ações benéficas no conhecimento dos enfermeiros, técnicos, auxiliares e agentes comunitários indicando que um processo educativo sistemático pode favorecer o conhecimento desses profissionais e acredita-se que isso possa contribuir para uma mudança no panorama da assistência.

Recebido: 25/07/2008

Aprovado: 28/07/2009

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  • Correspondência:

    Angela Maria Geraldo Pierin
    Rua Heitor Penteado, 250 - Apto. 63
    CEP 05438-000 - São Paulo, SP, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Jul 2010
    • Data do Fascículo
      Jun 2010

    Histórico

    • Aceito
      28 Jul 2009
    • Recebido
      25 Jul 2008
    Universidade de São Paulo, Escola de Enfermagem Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419 , 05403-000 São Paulo - SP/ Brasil, Tel./Fax: (55 11) 3061-7553, - São Paulo - SP - Brazil
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