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O uso de álcool e tabaco por adolescentes do município de Embu, São Paulo, Brasil

El de alcohol y tabaco en adolescentes en el municipio de Embu, São Paulo, Brasil

Resumos

O objetivo deste estudo é identificar o uso de álcool e tabaco entre os adolescentes. Trata-se de um estudo descritivo, realizado junto a 1533 adolescentes de ambos os sexos, tendo por critérios de inclusão: faixa etária entre 10 e 20 anos, matriculados e freqüentando regularmente o ensino fundamental ou ensino médio das escolas estaduais, no período matutino, nas regiões de Santo Eduardo e Santa Emília, no município de Embu. Os resultados mostraram que 4,8% são fumantes e 58,3% experimentaram bebida alcoólica. A média de idade de iniciação do uso de álcool é de 13,1 anos (s=1,9) e a média de idade de iniciação do uso de tabaco é de 12,6 anos (s=1,5). Conclui-se que a população do estudo apresentou um baixo consumo de tabaco e um elevado consumo de álcool, uma iniciação precoce do uso de álcool e tabaco, a ingestão alcoólica, principalmente, em festas, com os amigos, ou até mesmo em casa, com familiares. Constatou-se também que o vinho é a bebida preferida desses jovens.

Adolescente; Consumo de bebidas alcoólicas; Tabagismo; Comportamento do adolescente


Se trata de un estudio descriptivo, realizado junto a 1533 adolescentes de ambos sexos, tomándose como criterios de inclusión: faja etaria entre 10 y 20 años, matriculados y asistiendo regularmente a la enseñanza primaria o secundaria de las escuelas estatales en las regiones de Santo Eduardo y Santa Emilia, en el municipio de Embu, en el horario matutino; teniéndose por objetivo identificar el uso de alcohol y tabaco entre los mismos. Los resultados demostraron que: 4,8% de ellos son fumadores, 58,3% probaron bebidas alcohólicas, la media de edad para la iniciación del consumo de alcohol fue de 13,1 años (s=1,9), la media de edad para el inicio de consumo de tabaco fue de 12,6 años (s=1,5). Se concluye en que la población del estudio exhibió un bajo consumo de tabaco y un elevado consumo de alcohol, iniciación precoz en el uso de tabaco y alcohol, ingestión alcohólica principalmente en fiestas con amigos o hasta incluso en casa con familiares, el vino fue la bebida preferida.

Adolescente; Consumo de bebidas alcohólicas; Tabaquismo; Conducta del adolescente; Salud del adolescente


The objective of this study is to identify the use of alcohol and tobacco among adolescents. It is a descriptive study that was developed with 1533 adolescents, both male and female, based on the following inclusion criteria: aged between 10 and 20 years old, registered and regularly attending elementary or high school at state schools in the morning period, in the regions of Santo Eduardo and Santa Emília, in the municipality of Embu. Results showed that 4.8% smoked and 58.3% tried an alcoholic drink. The age mean for the initiation in the use of alcohol was 13.1 years old (s=1.9) and the age mean for the initiation in the use of tobacco was 12.6 years old (s=1.5). The conclusion was that the study population presented a low consumption of tobacco and a high consumption of alcohol, an early initiation in the use of alcohol and tobacco, the alcoholic ingestion took place, mainly, in parties, with friends, and even at home, with relatives. It was also observed that wine is the favorite drink of these adolescents.

Adolescent; Alcohol drinking; Smoking; Adolescent behavior; Adolescent health


ARTIGO ORIGINAL

O uso de álcool e tabaco por adolescentes do município de Embu, São Paulo, Brasil

El de alcohol y tabaco en adolescentes en el municipio de Embu, São Paulo, Brasil

Rafael Souza MorenoI; Renato Nabas VenturaII; José Roberto da Silva BrêtasIII

IEspecialista em Enfermagem em Nefrologia. Enfermeiro do Hospital São Paulo da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos sobre Corporalidade e Promoção da Saúde. São Paulo, SP, Brasil.splintermoreno@yahoo.com.br

IIMédico do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. rnabas@uol.com.br

IIIEnfermeiro. Psicólogo. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo. Líder do Grupo de Estudos Sobre Corporalidade e Promoção da Saúde. São Paulo, SP, Brasil. jrbretas@denf.epm.br

Correspondência Correspondência: Rafael Souza Moreno Rua Borges Lagoa, 512 - Apto. 41 Vila Clementino CEP 04038-000 São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

O objetivo deste estudo é identificar o uso de álcool e tabaco entre os adolescentes. Trata-se de um estudo descritivo, realizado junto a 1533 adolescentes de ambos os sexos, tendo por critérios de inclusão: faixa etária entre 10 e 20 anos, matriculados e freqüentando regularmente o ensino fundamental ou ensino médio das escolas estaduais, no período matutino, nas regiões de Santo Eduardo e Santa Emília, no município de Embu. Os resultados mostraram que 4,8% são fumantes e 58,3% experimentaram bebida alcoólica. A média de idade de iniciação do uso de álcool é de 13,1 anos (s=1,9) e a média de idade de iniciação do uso de tabaco é de 12,6 anos (s=1,5). Conclui-se que a população do estudo apresentou um baixo consumo de tabaco e um elevado consumo de álcool, uma iniciação precoce do uso de álcool e tabaco, a ingestão alcoólica, principalmente, em festas, com os amigos, ou até mesmo em casa, com familiares. Constatou-se também que o vinho é a bebida preferida desses jovens.

Descritores: Adolescente. Consumo de bebidas alcoólicas. Tabagismo. Comportamento do adolescente. Saúde do adolescente.

RESUMEN

Se trata de un estudio descriptivo, realizado junto a 1533 adolescentes de ambos sexos, tomándose como criterios de inclusión: faja etaria entre 10 y 20 años, matriculados y asistiendo regularmente a la enseñanza primaria o secundaria de las escuelas estatales en las regiones de Santo Eduardo y Santa Emilia, en el municipio de Embu, en el horario matutino; teniéndose por objetivo identificar el uso de alcohol y tabaco entre los mismos. Los resultados demostraron que: 4,8% de ellos son fumadores, 58,3% probaron bebidas alcohólicas, la media de edad para la iniciación del consumo de alcohol fue de 13,1 años (s=1,9), la media de edad para el inicio de consumo de tabaco fue de 12,6 años (s=1,5). Se concluye en que la población del estudio exhibió un bajo consumo de tabaco y un elevado consumo de alcohol, iniciación precoz en el uso de tabaco y alcohol, ingestión alcohólica principalmente en fiestas con amigos o hasta incluso en casa con familiares, el vino fue la bebida preferida.

Descriptores: Adolescente. Consumo de bebidas alcohólicas. Tabaquismo. Conducta del adolescente. Salud del adolescente.

INTRODUÇÃO

O uso indiscriminado de drogas pela população mundial tem sido tratado na atualidade como um grave problema de saúde pública, por atingir tanto homens como mulheres, de qualquer faixa etária, classe econômica e social(1).

Em relação ao consumo de tabaco pela população mundial, estima-se que haja, atualmente no mundo, aproximadamente um bilhão e 200 milhões de fumantes ativos, dos quais 960 milhões são dependentes da nicotina. Diante dessa pandemia que se instala na sociedade moderna, caso o padrão vigente do consumo de tabaco continue, em 2010 as projeções estatísticas apontam para o surgimento de 400 milhões de novos tabagistas(2).

A ingestão de álcool faz-se ainda mais alarmante, em que mais de 80% da população mundial adulta utiliza ou já experimentou algum tipo de bebida alcoólica, sendo que apenas cerca de 20% delas podem ser consideradas completamente abstêmias(3).

No Brasil, dados referentes ao I Levantamento Domiciliar de 2001, no qual se entrevistou 41,3% da população nacional, verificou-se que 11,2% destes eram dependentes de álcool e 9% de tabaco(1). Além dessa prevalência, constatou-se que o uso cotidiano do tabaco correspondia a 41,1% dentre os brasileiros, enquanto que o de bebidas alcoólicas foi de 68,7%(1). No II Levantamento Domiciliar de 2005 o uso cotidiano de álcool aumentou para 74,6% e o de tabaco para 44% na população entrevistada(4).

O envolvimento tanto com drogas lícitas como ilícitas na fase da adolescência, é algo extremamente relevante enquanto tema para discussão, pois vários estudos demonstram que é durante esse período do desenvolvimento que os adolescentes e jovens apresentam-se mais suscetíveis a terem o primeiro contato, principalmente com as drogas tidas como lícitas, das quais se destacam por sua prevalência o álcool e o tabaco(5).

De acordo com o último levantamento realizado pelo Centro Brasileiro de Informação sobre Drogas Psicotrópicas (CEBBRID) entre estudantes do ensino fundamental e médio de 27 capitais brasileiras, o álcool e o tabaco são as drogas que têm início mais precoce entre os adolescentes e jovens, em torno de 12,5 e 12,8 anos respectivamente. Além disso, a mesma pesquisa comparou os dados com os últimos levantamentos (1987, 1989, 1993 e 1997), constatando que o uso cotidiano de álcool não aumentou, mantendo semelhança com os demais estudos; entretanto, em relação ao uso cotidiano pelos adolescentes, de tabaco, houve um aumento do consumo(5).

Em relação à facilidade na obtenção e consumo, pelos jovens, de bebidas alcoólicas e do tabaco, a literatura atual traz como principais causas: ambiente familiar propício(1,3-4) ou pais liberais(3); baixos preços dos cigarros(6); disponibilidade física (bares, restaurantes, padarias)(7); influência grupal(8) e propagandas publicitárias(3).

Desta maneira, quando citamos os adolescentes como grupo de maior risco associado ao uso e iniciação às drogas, torna-se necessário elucidar que este vivencia um momento existencial totalmente diferente, devido às mudanças referentes ao processo natural do desenvolvimento, que passa do corpo infantil para o adulto, sendo que, a partir de então, o mais importante é ser popular e ter a sensação de se encaixar em algo, buscando adaptar-se a um grupo de iguais, característica que pode representar maior tendência do jovem à iniciação do uso do álcool e/ou tabaco, sem que estes considerem a possibilidade de danos ao próprio corpo(9).

Tais danos podem refletir posteriormente em futuros dependentes químicos, que sofreram manifestações que comprometem a saúde. No caso da ingestão excessiva de álcool são possíveis conseqüências: a perda de memória, demência alcoólica, hepatite, pancreatite, infarto, arritmia, trombose e cardiomiopatia alcoólica(3); havendo, durante a adolescência, diminuição do rendimento escolar(10) e acidentes de carro envolvendo jovens alcoolizados(11).

Em relação ao tabaco, os riscos à saúde relacionam-se aos cânceres de pulmões, de boca, garganta e esôfago, além da aterosclerose, angiogênese, desordens neurogênicas, podendo haver, ainda, impotência sexual nos homens, menopausa precoce e osteoporose nas mulheres(2).

Neste contexto, desenvolvemos no município do Embu, local onde a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) atua desde 1970 no sistema local de saúde, por meio do Programa de Integração Docente-Assistencial do Embu (PIDA-Embu), com representação no conselho Municipal de Saúde e parcerias com a comunidade, um Projeto de Extensão Universitário denominado Corporalidade e Promoção da Saúde nas regiões de Santo Eduardo e Santa Emília, município do Embu, realizando atividades de Educação para Saúde junto aos adolescentes que freqüentam quatro escolas públicas de ensino fundamental e médio.

OBJETIVOS

O presente estudo teve por objetivos caracterizar a população estudada; identificar a freqüência do uso de drogas lícitas (álcool e tabaco) entre adolescentes que estudam em escolas estaduais de um município de São Paulo, tendo como principal meta à prevenção do uso dessas substâncias e a promoção da saúde do escolar.

MÉTODO

Tipo de estudo

Trata-se de uma pesquisa do tipo descritiva, pois promove um delineamento da realidade, uma vez que através desta pode-se descrever, registrar, analisar e interpretar a natureza atual ou processos dos fenômenos(12).

Procedimento ético

O projeto deste estudo foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética da UNIFESP, com o nº 1398/05.

População e local do estudo

A população deste estudo foi constituída por um total de 1541 adolescentes, que preencheram os seguintes critérios de inclusão: serem de ambos os sexos, dentro da faixa etária entre os 10 e 20 anos, matriculados e freqüentando regularmente as 6ª, 7ª, 8ª séries do ensino fundamental ou 1º, 2º, 3º anos do ensino médio das escolas estaduais, situadas na região de Santo Eduardo e Santa Emília, no município de Embu, no período matutino e que aceitaram participar das atividades do projeto de Extensão Universitária Corporalidade e Promoção. Vale ressaltar que oito questionários foram excluídos do estudo devido ao não cumprimento dos critérios estabelecidos, resultando em uma população total de 1533 adolescentes.

Instrumento e coleta de dados

Para a realização da coleta dos dados foi elaborado um questionário semi-estruturado e auto-aplicável, contendo questões acerca da problemática abordada. Para testar a sua aplicabilidade entre os adolescentes, realizou-se primeiramente um pré-teste, em uma das escolas, com 48 alunos, sendo que após as necessárias correções, obteve-se um questionário final com 25 questões, contendo as variáveis: sexo, idade, escolaridade, estado civil, religião, uso de drogas lícitas (álcool e tabaco), hábitos referentes ao uso de bebidas alcoólicas (freqüência, quantidade de ingestão e bebidas de preferência), além dos transtornos advindos da ingestão alcoólica; o qual foi distribuído em sala de aula, ao final do 2º semestre de 2006 e início do 1º semestre de 2007, nos dias em que os alunos desenvolveriam as atividades propostas pelo conteúdo programático do grupo de Extensão, sob a supervisão dos pesquisadores, sendo que todos os alunos presentes concordaram em participar da pesquisa.

Análise dos dados

Os dados deste estudo foram apresentados em um contexto quantitativo, em que as informações coletadas a partir dos questionários foram inseridas em bancos de dados utilizando o programa Excel (Windows XP/2000), numerados e separados por escola e escolaridade, criando-se bancos de dados específicos para cada instituição pesquisada, podendo, assim, após uma revisão minuciosa, englobá-los num banco geral. Aplicou-se o Teste de Pearson e nos casos em que este não se mostrasse adequado foi utilizado o Teste da Razão de Verossimilhança, com um nível de significância de 5%, realizados por meio do SPS 12.0 for Windows. Calculou-se a mediana, a média de idade e desvio padrão da população; em relação às drogas lícitas: a média, desvio padrão e idade mínima e máxima do primeiro uso do álcool e do tabaco, além da aplicação do intervalo de confiança de 95%.

RESULTADOS

A população retratada nesta pesquisa revelou que dos 1533 adolescentes estudados, 799 (52,1%) eram do sexo masculino e 734 (47,8%) do sexo feminino. A média de idade da população foi de 14,45 anos (s= 1,73) / (IC95%: 14,5-14,3) e mediana 14,9 anos, sendo que em relação ao sexo masculino e feminino caracterizam-se respectivamente por 14,5 anos (s= 1,76) / (IC95%: 14,3-14,6) e 14,4 anos (s=1,70) / (IC95%: 14,5-14,2).

Quanto aos comportamentos relacionados à saúde perante o uso das drogas lícitas (álcool e tabaco), a média de idade de iniciação às bebidas alcoólicas foi 12,1 anos (s=1,9) / (IC95%: 12,24-12,01); em relação ao tabaco essa média foi de 12,6 anos (s=1,5) / (IC95%: 12,98-12,30), apresentando, ainda, como idade mínima e máxima, respectivamente 3 e 20 anos para o álcool e 9 e 16 anos para o tabaco.

Os dados sócio-demográficos retrataram que a maioria dos adolescentes pesquisados encontrava-se na faixa etária entre os 14 e 16 anos (49,6%), solteiros (98%), matriculados regularmente na 8º série do ensino fundamental (41,9%) e predominantemente católicos (53,4%) (Tabela 1).

Ao estratificar-se pelo sexo, observou-se uma freqüência maior de meninas na faixa etária entre os 12 e 14 anos, enquanto que, entre os 14 e 16 anos uma predominância do sexo masculino (p< 0,05). Ao analisarmos a variável escolaridade e estado civil, observamos que a distribuição, tanto de meninos como de meninas apresentava-se semelhantemente (p=0,204) e (p=0,383) respectivamente. Em relação a religião, estratificando pelo sexo a população, desvelou-se associação estatisticamente significante (p < 0,001), na categoria Ateu, onde foi observada uma maior porcentagem de indivíduos do sexo masculino sem religião, quando comparado com a das meninas (Tabela 1).

O uso de drogas lícitas (álcool e tabaco) revelou que 4,8% são fumantes, não havendo correlação estatística entre os sexos (p=0,117), sendo que em relação ao álcool 58,3% já fizeram uso de bebidas alcoólicas, apresentando as meninas (61,6%) uma freqüência maior de exposição ao uso (p=0,0013) (Tabela 2).

Em relação à quantidade de tabaco ingerida diariamente entre os adolescentes fumantes, observou-se que 57,1% das meninas e 43,7% dos meninos consumiam até um 1 maço de cigarro/dia (p= 0,635).

O uso de álcool pelos adolescentes mostrou correlação significativa com as variáveis: faixa etária e escolaridade. Verificou-se que, quanto maior a faixa etária e/ou a escolaridade do adolescente, maior é a freqüência daqueles que já fizeram uso de bebidas alcoólicas.

Desta maneira ao se estabelecer um paralelo de comparação entre as faixas etárias opostas da população temos que 75% dos indivíduos acima dos 20 anos já experimentaram bebidas alcoólicas, prevalência 1,8 vez maior que a observada entre os adolescentes de 10 e 12 anos. A mesma tendência ocorreu com o uso de álcool e a escolaridade, em que 69,5% dos alunos do 3º colegial apresentaram esse comportamento, freqüência 1,57 vez maior, se comparada com os alunos da 6º serie do ensino fundamental.

O estudo também buscou investigar o consumo de álcool segundo a religião, na qual se pode observar um menor uso entre os estudantes pertencentes a grupos religiosos mais conservadores, como os Evangélicos (43,9%).

Quanto ao uso de álcool nos últimos 12 meses, não se verificou alteração, quanto ao consumo de bebidas alcoólicas entre os adolescentes de ambos os sexos. (p=0,829) (Tabela 3).

Em relação à Tabela 4, esta demonstra que 88% dos indivíduos relataram beber de vez em quando, não havendo distinção significativa entre o hábito etílico dos meninos e o das meninas (p=0,456). Característica esta também observada quando analisada a quantidade de álcool ingerida, tida como sendo em pouca quantidade (p=0,368).

Dentre as bebidas relatadas pelos adolescentes, 51,5% deles tem o vinho como bebida de preferência para o consumo, seguido da cerveja (18,8%). Ao comparar a preferência entre os sexos, verificou-se correlação estatisticamente significante (p< 0,001), na qual mais da metade dos indivíduos do sexo feminino tomam vinho e quase 13% cerveja. A maioria dos indivíduos do sexo masculino também toma vinho e cerveja. Entretanto, as meninas consomem mais vinho, apresentando uma freqüência de 57,1%. Em relação ao consumo de cerveja nota-se uma prevalência maior de ingestão entre os meninos (24,8%) (Tabela 4).

A Tabela 5 retrata que os transtornos mais freqüentes sofridos pelos adolescentes após o uso de álcool nos últimos 12 meses foram: o mal-estar-físico (51,1%), seguido das brigas (20,6%) e de acidentes em geral (9,9%).

Ao analisar as situações em que os adolescentes costumam beber, encontrou-se uma freqüência maior em comemorações festivas (72,3%), sendo que 5,2% relataram possuir esse costume junto aos seus familiares, 3,9% com os seus amigos, 1,7% em casa e 0,9% quando apresentam alteração de humor.

Em relação aos fatores citados pela população entrevistada como responsáveis por influenciá-los na sua decisão em beber destacou-se a vontade própria (30,7%) e à curiosidade em experimentar bebidas alcoólicas (20,9%). Neste item, ainda foram relatados: a influência dos amigos (11,8%), o ambiente familiar (5,5%), ficar desinibido (3,6%), sede (0,9%), o estresse (0,3%) e apenas 0,2% por influência da mídia.

Ao se abordar os fatores que influenciam na decisão de fumar, a maioria destacou que agiu por vontade própria (23%), não sofrendo influência externa, entretanto, as demais citações mostraram uma prevalência significativa da influência dos amigos (17,6%) e da influência de familiares fumantes (12,2%). Os demais relataram: a curiosidade (9,5%), o estress (6,8%), por influência do meio (4%), por modismo (1,3%), pra relaxar (1,3%), por ser viciante (1,3%) e 1,3% pelo fato de ser proibido.

Ao focar os locais onde adquirem bebidas alcoólicas, encontrou-se uma a freqüência marcante do ambiente doméstico como de preferência por 32,3% daqueles que fizeram ingestão de álcool ao longo do último ano. Outros locais que também apresentaram uma porcentagem elevada foram: 19,0% em festas, 16,5% no bar, 11,6% no mercado, 1,9% na padaria, 1,4% na casa de amigos, 0,5% na casa de parentes e 0,3% na escola.

DISCUSSÃO

Os dados deste estudo basearam-se especificamente nos adolescentes residentes no município de Embu, região metropolitana de São Paulo, de médio porte (218.535 mil habitantes), que possui em torno de 40% da sua população com menos de 20 anos de idade. É uma área bastante afetada pelos altos índices de desemprego, pela violência e pela exclusão social, que se reflete nos elevados índices de mortalidade por causas externas, sobretudo homicídios, entre os adolescentes e adultos jovens.

Como detalhado na justificativa, os adolescentes possuem um alto risco de envolver-se com as drogas lícitas, das quais se destaca pela sua prevalência o álcool, que possui atualmente a menor faixa etária de experimentação entre adolescentes e jovens, seguido pelo tabaco.

O uso de tabaco nesta amostra apresentou-se próximo do observado no V Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública de Ensino da Região Sudeste, que traz uma estimativa para o uso freqüente de tabaco de 4,1%(5). Com relação à distribuição de fumantes pelo sexo, nossa pesquisa revelou não haver diferença significativa entre fumantes do sexo masculino e feminino. Tais dados expostos, diferem da pesquisa nacional realizada em Pelotas no ano de 2002, em que houve uma freqüência maior de meninas fumantes (16,2%)(13).

Esta constatação de que ambos os sexos fazem uso de tabaco sem a predominância de um em relação ao outro, leva-nos a (re)pensar, novas políticas públicas de saúde voltadas especificamente para atenção de possíveis agravos à saúde da população feminina.

Dados da literatura internacional referente aos hábitos tabagísticos do público feminino, também apontam um aumento do consumo desse psicotrópico nesta parcela da população, principalmente a partir da década de 60, com o advento dos movimentos feministas em alguns países da América Latina(14).

A análise referente ao fato de já ter feito uso de álcool, na vida, pelos adolescentes da população estudada, constatou uma queda de ingestão em relação à pesquisa realizada entre os estudantes de ambos os sexos da cidade de São Paulo, de 2004, na qual 66,2% dos meninos já haviam feito uso, na vida, de álcool, contrapondo com 74,1% das meninas(5). Entretanto, de acordo com o último Levantamento Domiciliar realizado pelo CEBRID(4); a ingestão alcoólica entre a população da faixa etária de 12 a 17 anos pertencentes à região Sudeste, desvelou que 60,8% já fizeram uso, na vida, de álcool, sendo que deste total 55,5% corresponde ao sexo masculino e 60,4% ao feminino, ou seja, assemelhando-se aos nossos achados.

É importante ressaltar que há uma associação estatisticamente significante entre o sexo e já ter feito uso de bebida alcoólica na vida, apresentando as meninas, uma freqüência maior que em comparação com os meninos. Esse dado pode ser analisado tendo por base o ciclo natural de desenvolvimento humano, no qual as meninas atingem a puberdade em torno de 2 anos antes que os meninos(8,9); culminando na busca pelas adolescentes por novas experiências e interações sociais com indivíduos mais velhos, propiciando o contado mais precoce com o álcool.

Em relação às médias de idade de iniciação às drogas lícitas (álcool e tabaco) referentes nesta pesquisa, destaca-se que foram menores, evidenciando que houve uma diminuição da idade de iniciação dos jovens às drogas lícitas, deste estudo, em comparação aos dados de 2004(5).

Uma iniciação precoce às drogas lícitas, inferior aos cinco anos para álcool e dez anos para o tabaco, representa um grave problema em termos de saúde publica, uma vez que a iniciação precoce ao álcool e tabaco potencializa o surgimento de futuros dependentes químicos(3,5).

O consumo de álcool entre o público adolescente apresenta nítida relação com faixa etária e a escolaridade na qual ele se encontra. Assim sendo, quanto maior for à idade desse jovem, maior será a tendência de já ter tido experimentado bebidas.

Esta mesma identificação é observada em estudo internacional, no qual também foi diagnosticado que o consumo de álcool entre adolescentes aumentou juntamente com a idade, assim como a série na qual ele se encontra(15).

A abordagem sobre os riscos e malefícios à saúde, do uso indiscriminado, não somente de bebidas alcoólicas, como também da ingestão de tabaco entre os adolescentes, constitui-se uma necessidade a ser inserida nos planos de políticas públicas de saúde, devendo iniciar as ações de prevenção do uso de drogas lícitas (álcool e tabaco) desde o ensino fundamental, visando evitar futuros agravos à saúde desses indivíduos.

A religião dos adolescentes também constituiu um dos fatores determinantes para o consumo de bebidas alcoólicas, apresentando um menor uso entre os estudantes pertencentes a grupos religiosos mais conservadores, como os Evangélicos. Este mesmo padrão de comportamento referente à ingestão de álcool nos últimos meses, relacionando-se com a filiação religiosa do estudante, demonstrando uma prevalência de ingesta alcoólica de 34% entre os Espíritas, 28% entre os Católicos e 14% entre os Evangélicos, o que corrobora com os nossos dados(16).

A ingestão de álcool nos últimos 12 meses mostrou que, tanto as meninas como os meninos, consumiram semelhantemente bebidas alcoólicas, não havendo distinção quanto à freqüência e quantidade ingerida de álcool no período referido. Em relação a esta questão, temos atualmente diversos discursos realizados por pesquisadores nacionais e internacionais, os quais afirmam que a idéia de que os homens bebem e/ou fumam mais do que as mulheres constitui-se, na sociedade pós-moderna, um conceito ultrapassado e retrógrado, representando o público feminino, atualmente, um grupo social de expansão no consumo de substâncias psicotrópicas, destacando-se o álcool e tabaco(17).

O vinho, como bebida de preferência entre ambos os sexos, pode ser explicado por algumas de suas características peculiares, as quais contribuem para sua predominância em relação às demais, tais como: o sabor adocicado, constituinte necessária para composição das batidas, facilidade de compra nos comércios locais, venda em grandes quantidades e preços acessíveis.

Dentre os transtornos apresentados após a ingestão de bebidas alcoólicas no último ano, os dados de nossa pesquisa diferem do II Levantamento Domiciliar(4); o qual aponta como complicações mais freqüentes, decorrentes do uso de álcool, as discussões (2,9%). Analisando apenas a faixa etária de 12 a 17 anos deste levantamento 1,9% referiram quedas, 1,5% terem ferido alguém, 1,7% machucaram-se, 1,7% tiveram comportamento agressivo e 3,4% discutiram sob efeito do álcool(4).

Dentre as situações relatadas pelos adolescentes abordados como sendo propícias para o uso de bebidas alcoólicas estas corroboram tanto com os dados levantados entre os estudantes da cidade de Paulínia(18); como dos estudantes residentes na moradia estudantil da USP(19); os quais destacam a elevada prevalência do consumo de álcool durante as festividades.

Com relação aos fatores relatados pelos adolescentes que influenciaram na sua decisão em fumar, um dado importante a ser exposto é a prevalência elevada de amigos e familiares fumantes, que somados, representam 29,8 %, desvelando que a ingestão de tabaco pelos jovens apresenta um sinergismo com as pessoas, com as quais eles convivem e interagem. O adolescente é um ser extremamente vulnerável ao meio em que está inserido, pois passa por um período de intensa transformação, buscando encontrar uma nova identidade. Para tanto ele passa a absorver e compartilhar as mesmas tendências, costumes e hábitos apresentados, não somente pelo grupo de amigos em que pretende se inserir, mas também pelos tidos por seus familiares, podendo, assim, nesse período, fazer uso das drogas lícitas (álcool e tabaco).

Não podemos deixar de denunciar, a partir dos achados em nossa pesquisa, a falta do cumprimento da legislação brasileira, que por meio do artigo 81 do Estatuto da Criança e do Adolescente, proíbe a venda de bebidas alcoólicas para crianças e/ou adolescentes pelos estabelecimentos comerciais(5).

A facilidade de se comprar bebidas alcoólicas também foi citada por pesquisadores do Estado de São Paulo, os quais afirmaram que são mínimas as chances de um estabelecimento comercial não vender bebidas alcoólicas para um adolescente(7). Em outra pesquisa também sobre a venda de álcool para menores, realizada no interior paulista, dados ainda mais alarmantes apontam que apenas 1% dos adolescentes que participaram do estudo não conseguiu comprar bebidas alcoólicas(18).

CONCLUSÃO

Concluímos que a população estudada apresenta baixo consumo de tabaco e elevado consumo de bebidas alcoólicas, com iniciação precoce ao uso de álcool e tabaco. Tais dados possuem relação significativa com a faixa etária e escolaridade (p<0,001), sendo que, quanto maior a idade e a série que o adolescente encontra-se, maior a prevalência de indivíduos que já experimentaram ou fizeram uso de bebidas alcoólicas. Identificamos que a ingestão de álcool é menor entre as religiões mais conservadoras; que existe uma prevalência elevada do consumo de bebidas alcoólicas nos últimos 12 meses em ambos os sexos (p>0,05); freqüência de ingestão tida como esporádica e em pouca quantidade tanto pelos meninos como pelas meninas (p>0,05); o vinho é a bebida de preferência dos adolescentes; a ocorrência de mal-estar-físico como principal transtorno após ingestão alcoólica em ambos os sexos (p>0,05); facilidade em conseguir e/ou comprar bebidas alcoólicas em estabelecimentos comerciais, fazendo uso principalmente em festas junto aos amigos ou no próprio ambiente doméstico junto aos seus familiares.

As informações levantadas entre os estudantes do ensino fundamental e médio desta região de Santo Eduardo e Santa Emília, município de Embu, contribuirão para a sistematização e operacionalização de atividades preventivas e educacionais sobre o uso de drogas lícitas, a serem ministradas aos adolescentes moradores da área de abrangência das atividades de educação em saúde, desenvolvidas pelo Projeto de Extensão Universitária Corporalidade e Promoção da Saúde.

Desta forma, constatamos que as ações de prevenção e promoção da saúde do adolescente, referente ao uso de drogas lícitas (álcool e tabaco) devem ser realizadas desde o ensino fundamental, evitando futuros agravos e conseqüências à saúde desses indivíduos, diminuindo concomitantemente os gastos públicos posteriores com internações hospitalares, recuperação e tratamento dos dependentes químicos.

Recebido: 02/12/2008

Aprovado: 04/03/2010

Agradecimentos

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pelo apoio, por meio de bolsa de Iniciação Científica.

  • 1. Carlini EA, Galduróz JCF, Noto AR, Nappo SA. I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 107 maiores cidades do país, 2001. São Paulo: CEBRID/EPM; 2002.
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  • Correspondência:

    Rafael Souza Moreno
    Rua Borges Lagoa, 512 - Apto. 41
    Vila Clementino
    CEP 04038-000
    São Paulo, SP, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Dez 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2010

    Histórico

    • Recebido
      02 Dez 2008
    • Aceito
      04 Mar 2010
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