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O egresso de enfermagem da FENF/UERJ no mundo do trabalho

El egresado de enfermería de la FENF/UERJ en el mundo del trabajo

Resumos

Estudo qualitativo da satisfação do egresso da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro no mundo do trabalho. Identifica e analisa a percepção do egresso sobre sua atuação e vivência no mundo do trabalho. O estudo faz parte do processo avaliativo institucional subseqüente a reforma curricular e implantação do projeto político pedagógico, baseado na Teoria Crítica da Educação. Os doze sujeitos graduaram-se no período de 2000 a 2005. Aplicaram-se entrevistas, e através da análise de conteúdo temática emergiram duas categorias empíricas: o prazer advindo do trabalho e o sofrimento advindo do trabalho. Conclui-se que o novo currículo tem produzido os resultados esperados. Os egressos vêm desempenhando atribuições de competência do enfermeiro e mostraram-se críticos e reflexivos em suas auto-avaliações. Considerou-se que são necessárias avaliações contínuas, capazes de permitir a identificação das exigências evolutivas do mercado de trabalho e conseqüentes reajustes nas propostas curriculares.

Educação em enfermagem; Currículo; Trabalho; Mercado de trabalho


Estudio cualitativo de satisfacción del egresado de la Facultad de Enfermería de la Universidad del Estado de Río de Janeiro en el mundo del trabajo. Identifica y analiza la percepción del egresado sobre su actuación y experiencia en el mundo del trabajo. El estudio forma parte del proceso evaluativo institucional subsecuente a la reforma curricular e implantación del proyecto político pedagógico, basado en la Teoría Crítica de la Educación. Los doce sujetos se graduaron en el período de 2000 a 2005. Se utilizaron entrevistas y, a través del análisis de contenido temático, surgieron dos categorías empíricas: el placer devenido del trabajo y el sufrimiento devenido del trabajo. Se concluye en que el nuevo currículo produjo los resultados esperados. Los egresados han venido desempeñando atribuciones de competencia del enfermero y se mostraron críticos y reflexivos en sus autoevaluaciones. Se consideró que son necesarias evaluaciones continuas, capaces de permitir la identificación de las exigencias evolutivas del mercado de trabajo y los consecuentes reajustes en las propuestas curriculares.

Educación en enfermería; Curriculum; Trabajo; Mercado de trabajo


This is a qualitative study on the satisfaction of nursing graduates from Rio de Janeiro State University (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) entering the working world. This study identifies and analyzes the graduates' perception of their practice and experience in the working world. The study is part of the institutional evaluative process subsequent to the curricular reform and implementation of the political-pedagogical project, based on the Critical Theory of Education. The twelve subjects graduated between the years 2000 and 2005. Interviews were applied, and using thematic content analysis two empirical categories emerged: the pleasure from work and the suffering from work. It is concluded that the new curriculum has produced the expected outcomes. The graduates have been performing practices specific to nurses and have proven to be critical and reflexive in their self-evaluations. There is a need for continuing evaluations that would permit to identify the advancement demands of the working market and the associated readjustments in the curricular proposals.

Education, nursing; Curriculum; Work; Job market


ARTIGO ORIGINAL

O egresso de enfermagem da FENF/UERJ no mundo do trabalho

El egresado de enfermería de la FENF/UERJ en el mundo del trabajo

Norma Valéria Dantas de Oliveira SouzaI; Luiza Mara CorreiaII; Luana dos Santos CunhaIII; Juliana EccardIV; Roberta Alves PatrícioV; Tatyane Costa Simões AntunesVI

IProfessora Adjunta do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica. Coordenadora de Ensino da Graduação em Enfermagem. Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. normadsouza@terra.com.br

IIProfessora Assistente do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil. Vice-Diretora da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. luima@speednet.rj.com

IIIEnfermeira Especialista em Enfermagem do Trabalho. Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Bolsista PROATEC da Policlínica Piquet Carneiro da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. luanauffenf@bol.com.br

IVGraduanda em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Bolsista FAPERJ do Projeto Avaliar: o Ingresso e o Egresso. Bolsista do Programa de Iniciação Científica. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. jueccard@yahoo.com.br

VGraduanda em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Bolsistas FAPERJ do Projeto Avaliar: o Ingresso e o Egresso. Bolsista do Programa de Iniciação Científica. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. bertapatricio10@gmail.com

VIGraduanda em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Bolsistas FAPERJ do Projeto Avaliar: o Ingresso e o Egresso. Bolsista do Programa de Iniciação Científica. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. tatynha_antunes@hotmail.com

Correspondência Correspondência: Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza R. Alexandre do Nascimento, 45 - Apto. 201 - Jd. Guanabara CEP 21940-150 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil

RESUMO

Estudo qualitativo da satisfação do egresso da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro no mundo do trabalho. Identifica e analisa a percepção do egresso sobre sua atuação e vivência no mundo do trabalho. O estudo faz parte do processo avaliativo institucional subseqüente a reforma curricular e implantação do projeto político pedagógico, baseado na Teoria Crítica da Educação. Os doze sujeitos graduaram-se no período de 2000 a 2005. Aplicaram-se entrevistas, e através da análise de conteúdo temática emergiram duas categorias empíricas: o prazer advindo do trabalho e o sofrimento advindo do trabalho. Conclui-se que o novo currículo tem produzido os resultados esperados. Os egressos vêm desempenhando atribuições de competência do enfermeiro e mostraram-se críticos e reflexivos em suas auto-avaliações. Considerou-se que são necessárias avaliações contínuas, capazes de permitir a identificação das exigências evolutivas do mercado de trabalho e conseqüentes reajustes nas propostas curriculares.

Descritores: Educação em enfermagem. Currículo. Trabalho. Mercado de trabalho.

RESUMEN

Estudio cualitativo de satisfacción del egresado de la Facultad de Enfermería de la Universidad del Estado de Río de Janeiro en el mundo del trabajo. Identifica y analiza la percepción del egresado sobre su actuación y experiencia en el mundo del trabajo. El estudio forma parte del proceso evaluativo institucional subsecuente a la reforma curricular e implantación del proyecto político pedagógico, basado en la Teoría Crítica de la Educación. Los doce sujetos se graduaron en el período de 2000 a 2005. Se utilizaron entrevistas y, a través del análisis de contenido temático, surgieron dos categorías empíricas: el placer devenido del trabajo y el sufrimiento devenido del trabajo. Se concluye en que el nuevo currículo produjo los resultados esperados. Los egresados han venido desempeñando atribuciones de competencia del enfermero y se mostraron críticos y reflexivos en sus autoevaluaciones. Se consideró que son necesarias evaluaciones continuas, capaces de permitir la identificación de las exigencias evolutivas del mercado de trabajo y los consecuentes reajustes en las propuestas curriculares.

Descriptores: Educación en enfermería. Curriculum. Trabajo. Mercado de trabajo.

INTRODUÇÃO

A missão e o compromisso da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FENF/UERJ) correspondem à formação de enfermeiros cidadãos, conhecedores dos problemas de seu estado, por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão, para atender as necessidades de saúde da sociedade, cuja responsabilidade ultrapassa os níveis puramente técnicos, exigindo de si adoção de posições em relação ao mundo e à vida(1).

Para dar conta de tal missão e compromisso, em 1996, a FENF/UERJ implementou um projeto político pedagógico inovador, com o objetivo de romper com as amarras da prática pedagógica tradicional, na qual o aluno é considerado um mero reprodutor de costumes, acrítico e com poucas possibilidades de promover mudanças significativas em seu contexto.

Para mobilizar processos significativos de mudança na formação dos profissionais de saúde, faz-se necessária a implementação de ações inovadoras que superem as estruturas cristalizadas e os modelos tradicionais de ensino resgatando a essência do trabalho em saúde, que se destaca pela subjetividade na relação entre o ser cuidador e o ser cuidado a fim de construirmos a integralidade da assistência em saúde(1).

Assim, a FENF, através de uma construção coletiva, adotou outro paradigma para nortear o processo ensino-aprendizagem, a Teoria Crítica da Educação, fundamentada na Pedagogia Problematizadora(1).

A Teoria Crítica da Educação emerge da abordagem histórico crítica da educação e é inovadora por seus desafios, caracterizada por integração, totalidade, interdisciplinaridade e nova concepção de teoria/prática(2). Esta forma de ensinar e aprender busca superar a visão fragmentada do homem e formar enfermeiros críticos, reflexivos, com sólida visão histórico-social, que possibilita melhores respostas aos desafios impostos pela prática em saúde e pelas demandas da sociedade.

A opção pela Metodologia Problematizadora, baseada nos pressupostos de Paulo Freire, configura-se num caminhar para a consolidação de uma educação crítica, dialética e sobretudo dialógica, que seja capaz de atribuir ao aluno o papel de sujeito ativo no processo de aprendizagem, reconhecendo suas características e sua história de vida no contexto sócio-econômico e cultural(1).

O referido projeto pedagógico, percorreu um longo caminho para a sua implementação e implantação. Essa trajetória é marcada, inicialmente, na década de setenta, pela Reforma Universitária, que determinou a revisão dos currículos dos cursos superiores no Brasil, imprimiu o padrão flexneriano de formação profissional, caracterizado pela fragmentação e especialização dos conhecimentos e pela incipiente correlação da teoria com a prática. O ponto culminante deste processo de transformação curricular deu-se em 1996 com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Nova LDB). Simultaneamente e em consonância com esta lei, diversos momentos de debates para a definição de um novo currículo dos enfermeiros ocorreram nos sucessivos SENADEN's (Seminários Nacionais de Educação em Enfermagem) e sobretudo no universo particular da FENF/UERJ(1).

Fruto de tais discussões, a nova concepção de ensino da FENF/UERJ, centraliza-se na totalidade e lança mão da crítica como instrumento fundamental para a interpretação da dialética da realidade. A interdisciplinaridade é elemento chave desta nova concepção. O currículo integrado, permite a interação dinâmica dos conteúdos em prol do entendimento dos problemas advindos da realidade social de saúde(1).

Acompanhando as evolutivas exigências curriculares, as novas Diretrizes Curriculares, promulgadas em 2001, definem que a formação do enfermeiro objetiva dotar o profissional dos conhecimentos necessários ao exercício das seguintes competências e habilidades gerais: atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e gerenciamento e educação permanente(3).

O grande desafio na formação do enfermeiro é transpor o que é determinado pela nova LDB e pelas Novas Diretrizes Curriculares ao formar profissionais que superem o domínio teórico-prático exigido pelo mercado de trabalho, enquanto agentes inovadores e transformadores da realidade, inseridos e valorizados no mundo do trabalho(4).

Há que se considerar também, na construção do processo formativo, a relevância pessoal e social do trabalho, o que implica fatores como a identificação pessoal com as atribuições inerentes à profissão, a absorção dos profissionais pelo mundo do trabalho, o valor de troca do trabalho, a harmonia entre os objetivos da organização do trabalho e os objetivos profissionais particulares e coletivos. Assim, há de se considerar que o trabalho ocupa papel central na vida da sociedade(5).

O homem não é neutro no mercado de trabalho, tem um papel de importância social a desempenhar. Assim como o trabalho não é neutro na vida dos homens, desempenha influências em suas esferas social, psíquica, física e econômica.

Estudando a relação do trabalhador com a organização do trabalho e a produção de sofrimento, bem como a dinâmica subjetiva de transformação deste sofrimento em prazer, a Psicodinâmica do Trabalho vê o processo de trabalho em sua dupla dimensão de processo técnico (condições de trabalho) e de organização do trabalho. Concentra o foco na análise da organização do trabalho, isto é, na divisão de tarefas, por um lado, e na divisão dos homens por outro (nas tarefas de controle, vigilância, hierarquia, comando, repartição das responsabilidades, etc). Atribui à organização do trabalho a função patogênica (ou estruturadora) do trabalho em relação ao funcionamento psíquico(6).

As mudanças na conformação do trabalho, que ocorrem ao longo dos tempos e que caracterizam o movimento de reestruturação produtiva, repercutem em novos cenários do mercado de trabalho, que exigem determinadas características dos profissionais que neles se inserem e desejam permanecer produtivos.

Quando o trabalhador não consegue superar as adversidades deste novo contexto de trabalho, muitas vezes caracterizado pela precarização numa escala global, ele permite emergir, em seu corpo, diferentes formas de padecimento, adoecimento e sofrimento. Esta precarização do trabalho está presente na intensificação da atividade laboral, no aumento do esforço, nas responsabilizações, na cobrança de um trabalho segundo os preceitos de metas, competências(7).

Porém, mesmo diante das adversidades, advindas das novas conformações laborais, o trabalho também é fonte geradora de prazer e satisfação. O trabalho é mais do que um ato de trabalhar ou vender sua força de trabalho em busca de remuneração. Há também a remuneração social pelo trabalho, ou seja, o trabalho enquanto fator de integração a determinado grupo com certos direitos sociais(5).

Para preservar o valor social do trabalho, faz-se mister a consonância entre os propósitos do aparelho formador e do mundo de trabalho. Na saúde, particularmente na enfermagem, o mercado de trabalho, aliado à situação de saúde/doença da população e à especialização profissional, influenciam diretamente nas diretrizes que o sistema de saúde deve determinar assim como na formação e qualificação dos profissionais da área(8).

Uma proposta de reformulação curricular precisa estar baseada na concepção de que o currículo significa a trajetória de ações com vistas à formação do enfermeiro e como isso pode ser possível. Existe sempre o desafio de reconstruir o curso, buscando compatibilizá-lo com as necessidades de um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, necessitando de profissionais críticos, reflexivos, competentes, com base científica, capacidade de inovação e poder de ação(9).

Se inovar as propostas pedagógicas se faz relevante, encontra-se também em igual patamar de relevância a avaliação dos resultados de tais inovações. Ao adotar tal concepção, a FENF vem discutindo o processo avaliativo, compreendendo ser ele imprescindível para o diagnóstico, definição de ações subseqüentes e contribuição para a qualificação do ensino e da formação.

A avaliação da mudança de paradigma, que norteia esta reforma curricular é fundamental para o diagnóstico das dificuldades na implantação da nova metodologia. O processo avaliativo é, sobretudo, uma construção coletiva, regida pela comunidade acadêmica, abrindo espaço de discussão aos docentes e discentes, considerando sempre os propósitos do aparelho formador e a consonância destes com as reais necessidades da sociedade, que abrigará o futuro profissional enfermeiro no mercado de trabalho.

Avaliar as instituições educacionais constitui-se numa necessidade premente, dado o compromisso destas com a solução de problemas sociais, por seu papel de produtoras e reprodutoras de conhecimentos necessários para satisfazer as necessidades reais do meio em que estão inseridas e pelo seu funcionamento público. É necessário avaliar para saber em que medida estas instituições estão cumprindo com seus compromissos para com a sociedade como um todo(10).

A FENF entende ser necessário diversificar e intensificar ainda mais as formas de avaliação do processo pedagógico a fim de conhecer, com profundidade, o seu potencial formador, as exigências da sociedade, o produto final do trabalho pedagógico, o profissional de enfermagem e sua absorção no mundo do trabalho. Tal tarefa atende a proposta do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP) do Ministério de Educação e Cultura (MEC), que reforça a necessidade de investigação e de conhecimento de todos os itens de avaliação indicados pelos seus documentos. E um desses itens é o conhecimento acerca do egresso.

Uma pesquisa com abordagem quantitativa, realizada anteriormente por professores da FENF(11); foi importante para o conhecimento do perfil dos egressos, permitindo depreender, entre outras questões, as características críticas e reflexivas desses egressos, o que vem favorecendo respostas aos desafios impostos pelo mundo do trabalho. Porém, esta mesma pesquisa fez emergir vários questionamentos, dentre os quais se optou por buscar respostas para as seguintes questões: como está a satisfação do egresso com o seu trabalho? A Reforma Curricular tem respondido as exigências do mercado de trabalho?

A relevância do presente estudo se justifica na necessidade de diagnosticar os efeitos da implantação das reformas curriculares da FENF/UERJ, para consequentemente subsidiar ajustes necessários no processo de ensino, em prol do atendimento da demanda social, contribuindo para a formação e oferta ao mercado de trabalhado de enfermeiros com perfis críticos, inovadores, flexíveis e proativos.

OBJETIVOS

Os objetivos traçados foram:

• Identificar a percepção do egresso de FENF/UERJ sobre sua atuação e vivência no mundo do trabalho;

• Analisar tal percepção, depreendendo da mesma, os fatores causadores de prazer e incômodo aos egressos decorrentes desta vivência no mundo do trabalho;

• Discutir a relação entre os fatores causadores de prazer e incômodo aos egressos e os propósitos da reformulação curricular da FENF/UERJ.

MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, descritiva(12). Os participantes foram os egressos do curso de graduação em enfermagem, formados no período de 2000 a 2005, o que abrangeu a época de graduação da primeira turma a partir da adoção da nova proposta pedagógica iniciada no ano de 1996, baseada no parecer nº314/94 do Conselho Federal de Educação(13).

A escolha de tais sujeitos também se justifica na maior probabilidade destes já estarem estabelecidos no mundo de trabalho, com uma visão consolidada sobre as exigências que envolvem o universo laboral. Assim, além do período de formação acima determinado, constituíram também critérios de inclusão dos sujeitos, o desejo e a disponibilidade de participação no estudo, bem como a confirmação de sua inserção no mercado de trabalho. Foi critério de exclusão a não inserção dos sujeitos no mercado de trabalho.

A coleta de dados foi realizada nos meses de outubro e novembro de 2008. Os sujeitos foram abordados em um evento científico, sediado pela própria FENF/UERJ, o que facilitou o encontro com os sujeitos e oportunizou a aplicação de entrevistas semi-estruturadas, contendo quatro perguntas abertas, que foram gravadas em fitas magnéticas e, posteriormente, transcritas e digitadas.

Foram respeitados os preceitos éticos de que versa a resolução nº196/96(14). Assim, antes da realização das entrevistas foi formalizado o consentimento dos sujeitos para a participação na pesquisa, gravação e uso científico das informações, através da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Ressalta-se que o projeto foi submetido à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa, com o parecer favorável registrado em protocolo nº 2199.

Os dados foram tratados à luz da análise de conteúdo temática(15). Em um primeiro momento, foi realizada a leitura flutuante dos discursos, de onde já foram perceptível as respostas que remetiam dialeticamente ao prazer e ao sofrimento do egresso no mercado de trabalho. Em seguida, reportando-nos aos objetivos do estudo, procedemos a demarcação das unidades de registro, que compreenderam temas diversos, emergidos dos discursos dos sujeitos. Foram identificadas 56 unidades de registro, que deram origem aos temas, que agrupados, constituíram duas categorias empíricas: o prazer advindo do trabalho e o sofrimento advindo do trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre os doze sujeitos do estudo, houve predominância do sexo feminino, com nove mulheres. O cenário de trabalho dos sujeitos era predominantemente o hospitalar no qual atuavam como enfermeiros assistenciais, seguido do trabalho em universidades/faculdades como docentes. Vale ressaltar que três dos egressos investigados conciliavam as atividades no campo hospitalar com as atividades de docência, havendo por parte destes uma riqueza de vivências profissionais em diferentes contextos e uma visão mais aprimorada sobre o papel social do aparelho formador.

Os dados deste estudo não são capazes de revelar a condição generalizada dos egressos de enfermagem da FENF/UERJ no mercado de trabalho, visto que o número de sujeitos não dá conta de descrever os diversos e possíveis cenários de trabalho do profissional enfermeiro. Contudo, estes dados são relevantes por indicarem um recorte da realidade, encontrada pelos egressos em seus contextos laborais, e subsidiarem o planejamento das propostas curriculares em prol de habilitar o futuro profissional à lida diária com as peculiaridades do papel a desempenhar enquanto trabalhador.

A análise das entrevistas revelou uma relação dialética dos egressos com o mundo do trabalho. Identificou-se uma concepção de bem e de mal, de prazer e de sofrimento, de realização e de insatisfação em relação ao trabalho; sentimentos contraditórios que se interpenetram e se complementam como se fossem os dois lados de uma moeda. Tal relação dialética é característica do mundo do trabalho, pois os sentimentos, percepções, anseios e desejos dos trabalhadores se chocam com a organização do trabalho, ou seja, com aqueles que idealizaram e prescreveram o trabalho. Assim, sempre vai haver um estranhamento maior ou menor entre os trabalhadores e seus trabalhos, o que poderá resultar em sofrimento. Mas, se o trabalhador puder transformar, criar e recriar dentro daquela organização do trabalho, então surge a satisfação, a gratificação e o sentimento de realização(6).

1ª Categoria: o prazer advindo do trabalho

Após a análise do conteúdo das entrevistas, verificou-se que os sujeitos desempenhavam atividades próprias dos enfermeiros, as quais estão em consonância com o que foi ensinado ao longo do curso de graduação. Destaca-se que apenas um sujeito referiu desenvolver, em algumas ocasiões, atribuições que não são do enfermeiro, como no caso da ausência de um integrante da equipe de enfermagem, em que tinha que executar atividades de outros componentes dessa equipe. No entanto, uma parcela significativa dos sujeitos estabeleceu relação de coerência entre suas atribuições e as competências que se espera do profissional enfermeiro.

Eu acredito que minhas atribuições são sim competências do enfermeiro. [...] eu acredito que hoje, lá no hospital, acho que consigo exercer essas funções de quando a gente sai da faculdade, com isso na cabeça, eu consigo cuidar, eu consigo assistir o cliente, consigo colocar em prática o conhecimento que a gente aprendeu na faculdade (Egresso 10).

Vale ressaltar que a consciência em torno das reais competências profissionais do enfermeiro é construída ao longo do curso de graduação. E, quando o egresso se lança ao mundo do trabalho, ele pode ter que lidar com situações conflituosas entre o anseio pelo desenvolvimento de suas competências profissionais e os reais interesses da organização do trabalho. Quando existe coerência entre os objetivos individuais e os objetivos organizacionais, ambos os pólos lucram com esta harmonia. Assim, quando existe este entendimento harmônico, então há grandes chances de surgir no trabalhador o sentimento de satisfação e prazer.

Competência profissional é a capacidade de mobilizar e articular conhecimentos, colocar valores e habilidades em ação, necessários para o desempenho eficiente e eficaz de atividades requeridas pela natureza do trabalho e para a resposta aos problemas e situações de imprevisibilidade em dada situação e contexto cultural(16).

O trabalho de enfermagem como instrumento do processo de trabalho em saúde, subdivide-se ainda em vários processos de trabalho como: cuidar/assistir, administrar/gerenciar, pesquisar e ensinar. Dentre esses, o cuidar e o gerenciar são os processos mais evidenciados no trabalho do enfermeiro.

As atribuições específicas do enfermeiro são oficializadas na lei nº 7.498/86, que regulamenta o exercício profissional da enfermagem. Dentre elas, pode-se destacar a chefia de serviço e unidade de enfermagem, planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de enfermagem, consultoria e auditoria, além dos cuidados diretos de enfermagem a clientes gravemente enfermos(17).

Ao relatarem o que pensavam sobre os seus trabalhos, as respostas que remeteram à satisfação foram predominantes. A maioria dos sujeitos relatou satisfações pessoais e profissionais plenas. Porém, em menor incidência, também foram relatadas boas satisfações pessoais e profissionais e satisfação pessoal plena, apesar de se considerarem parcialmente insatisfeitos profissionalmente, devido aos salários injustos.

Diria que pessoalmente estou bem satisfeita, pois tenho muito prazer de ser enfermeira e poder atuar em minha área de predileção [saúde da mulher], bem como a oportunidade de participar de equipes bastante envolvidas com o trabalho a ser desenvolvido. Profissionalmente, acredito que nossa categoria tem muito a crescer ainda, de forma que nosso piso salarial é bastante reduzido, fazendo com que precisemos ter mais de um emprego para sustentar uma vida razoável (Egresso 15).

Em virtude dos baixos salários, a maioria dos trabalhadores da enfermagem é obrigada a optar por mais de um emprego, o que leva essas categorias a permanecerem no ambiente dos serviços de saúde a maior parte do tempo de suas vidas produtivas. Essa situação leva ao aumento do período de exposição aos riscos existentes nesses locais, podendo haver prejuízo para a sua qualidade de vida no trabalho(18).

Por vezes, ao experimentar condições não favoráveis no ambiente de trabalho, tendo remuneração precária, o trabalhador pode não ter condições psíquicas ou econômicas de ter uma vida saudável. As diferentes vivências no ambiente de trabalho podem interferir, portanto, na vida familiar e social, uma vez que o indivíduo é único e total na vivência dos diferentes espaços que compõem sua existência(19) .

Ainda sobre os aspectos do trabalho que proporcionam prazer aos enfermeiros egressos da FENF/UERJ, o contato direto com o cliente, a possibilidade de contribuição para a satisfação de suas necessidades e sua recuperação, o trabalho em equipe, além do reconhecimento profissional por parte da clientela e da equipe multiprofissional esteve presente nos discursos dos sujeitos.

O manejo da clientela em si me é bastante gratificante, pois percebo como oportunidade de auxiliar um pouco essas pessoas no seu caminho pela busca de sua saúde. O trabalho em equipe é outro ponto forte para mim, pois sinto que as ações, resoluções e empreitadas tornam-se mais ricas, assim como, o compartilhar sentimentos, frustrações, alegrias e desabafos são fortificantes (Egresso 09).

[...] quando o cliente me responde de forma positiva, ainda mais o trabalho com o cliente grave, todo mundo fala que ele não vai sobreviver e vai se passando tempo e ele está de alta, andando. Olha, isso traz satisfação pessoal, também (Egresso 12).

Estes aspectos proporcionadores de prazer e satisfação aos egressos remetem a questões relacionais que permeiam a dinâmica do trabalho do enfermeiro e do trabalho em saúde, de uma maneira geral.

O trabalho em saúde é um processo relacional, produzido através do trabalho vivo em ato, ou seja, a partir do encontro entre duas pessoas onde se estabelece um jogo de expectativas e produções criando espaços de escutas, falas, empatias e interpretações(20).

A possibilidade do exercício da autonomia e da prática da capacidade criativa e inventiva, na organização do trabalho onde estavam inseridos, além do reconhecimento pela qualidade de seus trabalhos, caracterizou-se com fonte de prazer e satisfação para os sujeitos.

Meu prazer está no meu trabalho sendo reconhecido. Você ter a oportunidade de ter novas idéias e essas idéias serem, pelo menos ouvidas, sendo aceitas e colocadas em prática, isso é bastante prazeroso, ver que seu trabalho é importante, dá certo (Egresso 04).

Os aspectos geradores de prazer, relacionados à prática da docência foram descritos pelos três sujeitos que conciliam atividades assistenciais e docentes. Assim, tais aspectos foram mencionados como o reconhecimento profissional por parte do aluno, a possibilidade de ministrar aulas, conhecer pessoas, de renovar e trocar os conhecimentos.

Outra coisa é a questão do aluno. É quando ele tem você como espelho. Mas uma coisa assim que eu fico feliz é quando ele diz pra mim também eu quero ser igual a você, eu quero ser um pouquinho do que você faz, eu quero continuar acreditando e isso, esse reconhecimento do aluno, eu acho muito importante, acho que isso me toca (Egresso 02).

Olha, eu gosto muito de dar aulas, eu sempre gostei, eu gosto muito de estar aqui dando aula. Assim, primeiro porque você estuda, se recicla, você troca conhecimento, conhece pessoas. Eu estou adorando dar aula, assim... acho muito bom conhecer as pessoas, me atualizar, desenvolver conhecimento, eu gosto (Egresso 06).

2ª Categoria: o sofrimento advindo do trabalho

Essa categoria trata de situações envolvendo o trabalho, que proporcionam incômodo, sofrimento e desprazer. Dentre tais situações, as mais repetidamente referidas foram à incompetência e falta de compromisso da equipe de saúde; a precariedade das condições de trabalho; a falta de reconhecimento profissional; a falta de autonomia na tomada de decisões, retorno financeiro injusto e o envolvimento excessivo em atividades puramente administrativas.

O trabalho em equipe, como já discutido anteriormente, pode ser entendido como fonte geradora de satisfação e crescimento profissional mútuo, mas também pode ser gerador de estresse e falta de harmonia em torno dos objetivos do trabalho e da assistência prestada à clientela.

O que mais me incomoda é lidar com gente incompetente, as pessoas forçam um pouco que a gente trabalhe em equipe. O enfermeiro não consegue trabalhar sozinho, você depende também dos serviços de outras pessoas. Trazendo mais responsabilidade no sentido de supervisionar e observar o trabalho de outras pessoas, como técnico e auxiliar de enfermagem, trabalhar com pessoas incompetentes, que não gostam do que fazem, estão sob sua responsabilidade, te dá um maior grau de responsabilidade sobre aquilo. Isso é muito ruim (Egresso 20).

A precarização das condições de trabalho, também referida pelos sujeitos como o caos na saúde, faz parte do cenário da assistência, caracterizando-se como fator de sofrimento psíquico para os enfermeiros. Assim, as inadequações das condições de trabalho representam um grande entrave tanto para o profissional, que se vê impedido de realizar seu trabalho de forma plena, integral e mais efetiva, como também para a clientela, que não consegue usufruir o seu direito a uma assistência à saúde digna e integral.

Muitas vezes, condições de trabalho precárias. Infraestrutura, materiais, recursos humanos... Você vê faltar funcionário no setor e está faltando mão-de-obra, cheio de outros clientes e você se vê sem aquele funcionário e você não tem donde tirar outro (Egresso 17).

Depreende-se que existe uma contradição entre as condições que se enfrentam no trabalho e a visão que foi construída pelos egressos sobre o contexto da profissão. A maioria das instituições de saúde do nosso país é caracterizada pela baixa remuneração, excesso de trabalho, trabalho por turnos, precariedade dos recursos materiais, insuficiência de recursos humanos, insegurança no trabalho, dificuldades de comunicação e de relacionamentos. Isso tudo faz com que o profissional entre em sofrimento psíquico(21).

A falta de reconhecimento pelo trabalho desempenhado, também surge como um dos fatores causadores de sofrimento no trabalho. A indefinição de papéis do enfermeiro dificulta a construção de sua identidade profissional, bloqueando o retorno social da importância da profissão, o que acaba gerando desmotivação.

Então isso é uma situação bastante ruim de você estar lidando por conta do não reconhecimento do papel do enfermeiro, ai de quem é a culpa? Eu não sei. A culpa é nossa, que não nos fazemos presentes? Não sei. Ou não nos fazemos entender quem somos nós? Ou do Conselho, que não divulga? Não sei de quem é a culpa, a culpa é histórica. [...] Todos no hospital são doutores, psicólogos, nutricionistas, farmacêuticos etc. e o enfermeiro junta tudo (auxiliar, técnico, enfermeiro e... todos são enfermeiros). Não quero em nenhum momento desmerecer o técnico e o auxiliar de enfermagem, mas sim definir bem o papel de cada um, que, em minha opinião, não está bem definido para a população (Egresso 08).

O objeto do trabalho da enfermagem é o cuidado, porém as atribuições do enfermeiro incluem também as atividades administrativas, necessárias ao planejamento e aquisição das condições ambientais, materiais e organizacionais adequadas à garantia de um cuidar efetivo. Assim, administrar também é uma competência científica do enfermeiro(16). No entanto, depreende-se nas falas dos sujeitos, que o distanciamento do cuidado direto ao cliente e o envolvimento excessivo com as atribuições burocráticas contribuem para a insatisfação dos enfermeiros e, conseqüentemente, para a perda da identidade profissional.

[...] Incomoda fazer trabalho que você não queira, você muitas vezes sabe que é necessário, mas dependendo do lugar, você só faz administrativo. Por exemplo: você perder muito tempo conferindo caixa de psicotrópicos, enquanto você pode estar delegando isso a uma outra pessoa. Você vê nas instituições particulares quem cuida da provisão é o secretário, uma pessoa inteiramente administrativa. Você pode aproveitar muito melhor os conhecimentos que o enfermeiro tem e que esses profissionais administrativos não têm. De cuidar do cliente, atenção integral (Egresso 16).

O cuidado direto ao cliente constitui a essência do trabalho de enfermagem e caracteriza a função assistencial. As demais funções de administração, ensino e pesquisa, servem para gerenciar, favorecer, fundamentar e ampliar a função assistencial. É, portanto, através do cuidado direto ao cliente que podemos distinguir a profissão de enfermagem. Nos últimos anos verifica-se uma tendência dos enfermeiros para o distanciamento do cuidado direto ao cliente, imposta ou não pela organização do trabalho, realidade esta que se caracteriza como uma crescente idiossincrasia ao trabalho de enfermagem(22).

CONCLUSÃO

Não basta apenas propor mudanças e implementá-las. A análise de seus resultados se faz imprescindível para a obtenção do retrato fiel da eficácia das transformações, das concordâncias destas com os objetivos inicialmente traçados e, sobretudo, da confirmação da ocorrência de tais transformações desejadas.

Formar profissionais críticos, reflexivos e participativos na construção permanente da identidade profissional do enfermeiro é o objetivo primordial, que rege a implementação de toda a mudança curricular proposta pela FENF/UERJ.

Assim, ouvir os egressos a respeito de suas visões quanto à coerência entre suas atribuições no mundo do trabalho e as competências profissionais esperadas do enfermeiro, permite concluir que as transformações curriculares adotadas têm dado conta de responder aos objetivos do novo paradigma norteador do processo ensino-aprendizagem escolhido pela FENF/UERJ.

Reforça tal conclusão o fato de que os aspectos do trabalho, descritos pelos egressos como causadores de incômodos, não estão diretamente relacionados ao órgão formador e sim às distorções provocadas pelos objetivos da organização do trabalho a qual estão inseridos e que, por sua vez contribuem para a fragilidade do processo de construção e manutenção da identidade profissional do enfermeiro.

Retomamos os dados deste estudo em que foram descritos como fatores causadores de insatisfação e sofrimento aos egressos a baixa remuneração, que demanda a necessidade de múltiplos vínculos e assim espolia o trabalhador, a precarização das condições de trabalho, que exigem habilidades adaptativas cada vez mais complexas, a falta de reconhecimento pelo papel profissional desempenhado e as distorções negativas do trabalho em equipe, em há confusões de papéis e indefinição de competências.

O fato de compreenderem as competências profissionais que lhes cabem e de serem capazes de formular uma autocrítica de suas atuações no mundo do trabalho, favorecem a constatação de que a proposta curricular implantada tem induzido e/ou aguçado o senso crítico e reflexivo de seus egressos.

Os fatores geradores de prazer aos egressos, em seus contextos laborais, também foram revelados nos discursos dos sujeitos e sobrepõem-se aos aspectos laborais negativos. Os aspectos relacionais, entre os diferentes profissionais que compõem as equipes de saúde e entre o egresso e o cliente, além do exercício da autonomia nas situações em que é imperiosa a mobilização de suas capacidades adaptativas e criativas na tomada de decisões referentes aos cuidados e ainda o reconhecimento social do papel desempenhado enquanto são fatores prazerosos aos egressos sujeitos deste estudo.

A dialética do mundo do trabalho se revela presente nos discursos dos egressos, onde o prazer e o sofrimento coexistem na realidade de trabalho vivenciada pelos sujeitos. Eles, portanto, não se anulam ou se opõem drasticamente, mas convivem numa unicidade de contrários, que compõem uma mesma realidade.

Conclui-se que os estudos avaliativos dos resultados das mudanças curriculares não devem parar por aqui. É imprescindível o prosseguimento de estudos desta espécie para dar conta da identificação da coerência entre o que o mundo do trabalho tem exigido evolutivamente dos enfermeiros e o que o curso de graduação da FENF tem sido capaz de ofertar aos egressos.

Admite-se que os dados aqui revelados descrevem uma realidade local e particular dos egressos da FENF/UERJ e não são capazes de generalizar as vivências laborais de egressos de outras instituições de ensino. Não sendo este o objetivo deste estudo. Contudo, a presente pesquisa subsidia o processo avaliativo das repercussões das propostas curriculares implantadas, favorecendo o processo de retroalimentação das ações educativas planejadas e colocadas em ação, balizando estratégias de ensino futuras, em prol da coerência entre o que se oferece como formação aos egressos e o que será exigido destes, ao ingressarem no mercado de trabalho.

Além disso, entende-se que o diagnóstico acerca da situação do egresso da FENF/UERJ e o mundo do trabalho, possibilita um novo olhar sobre esse contexto e, a partir daí, torna-se possível fortalecer as mudanças, via formação do enfermeiro, auxiliando na consolidação da identidade profissional, contribuindo para melhorar as condições de trabalho, humanizar a organização laboral e buscar salários mais dignos. É pela formação profissional que se inicia a transformação de realidades que não condizem com os anseios do coletivo profissional.

Recebido: 29/01/2009

Aprovado: 29/07/2010

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  • Correspondência:

    Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza
    R. Alexandre do Nascimento, 45 - Apto. 201 - Jd. Guanabara
    CEP 21940-150 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      22 Mar 2011
    • Data do Fascículo
      Mar 2011

    Histórico

    • Recebido
      29 Jan 2009
    • Aceito
      29 Jul 2010
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