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Acessibilidade e conteúdo de informação eletrônica sobre Cursos de Especialização em Administração em Enfermagem

Accesibilidad y contenido de información electrónica sobre cursos de especializacón en administración de enfermaría

Resumos

Este estudo descritivo objetivou analisar a acessibilidade e o conteúdo da informação sobre Cursos de Especialização em Administração em Enfermagem disponível em sites de universidades federais brasileiras. De setembro de 2008 a abril de 2009, foram avaliados 19 cursos disponíveis nos sites das universidades federais brasileiras, segundo o nível de acesso à informação e o desenho curricular, frente à estrutura do conhecimento sobre Administração em Enfermagem: Bases Ideológicas e Teóricas, Métodos de Intervenção e Práticas de Administração de Recursos. Os resultados revelaram que, em plena era da sociedade do conhecimento, a acessibilidade por meio eletrônico aos programas de ensino ainda está aquém do que se espera dos conceitos de informação e navegabilidade. No tocante ao desenho dos cursos, percebeu-se que a maioria tem superado muito a carga horária mínima legal, e que está havendo valorização do estudo das Bases Ideológicas e Teóricas em detrimento das Práticas de Administração de Recursos.

Educação em enfermagem; Especialização; Administração de Serviços de Saúde


Estudio descriptivo que objetivó analizar accesibilidad y contenidos de información sobre Cursos de Especialización en Administración de Enfermería disponibles en sitios de universidades federales brasileñas. Entre setiembre 2008 y abril 2009, fueron evaluados 19 cursos disponibles en dichos sitios según el nivel de acceso a la información y diseño curricular, frente a la estructura de conocimiento sobre Administración en Enfermería: Bases Ideológicas y Teóricas, Métodos de Intervención y Prácticas de Administración de Recursos. Los resultados demostraron que en plena era de la sociedad del conocimiento, la accesibilidad por medio electrónico a los programas de enseñanza aún está por debajo de lo esperado en los conceptos de información y navegabilidad. En referencia al diseño de los cursos, se percibió que la mayoría supera holgadamente la carga horaria mínima legal y que está valorizándose el estudio de las Bases Ideológicas y Teóricas en detrimento de las Prácticas de Administración de Recursos.

Educación en enfermería; Especialización; Administración de los Servicios de Salud


The objective of this descriptive study was to analyze the accessibility and the content of the information about Specialization Courses in Nursing Administration available on the websites of federal universities in Brazil. From September 2008 to April 2009, evaluations were performed on a total 19 courses that were available on the websites of the universities, regarding the level of access to information and the design of the curricula, in terms of the structure of the knowledge about Nursing Administration: Ideological and Theoretical Bases, Intervention Methods, and Resource Administration Practices. Results showed that, though we are currently in the era of the knowledge society, the electronic access to the teaching programs remain below the expectations in terms of the concepts of information and browsability. In terms of the design of the courses, it was observed that most are many times longer than the what s legally established as a minimum load of hours, and that there has been an appreciation towards studying the Ideological and Theoretical Bases in detriment to the Practices of Human Resources.

Education, nursing; Specialization; Health Services Administration


ARTIGO ORIGINAL

Acessibilidade e conteúdo de informação eletrônica sobre Cursos de Especialização em Administração em Enfermagem

Accesibilidad y contenido de información electrónica sobre cursos de especializacón en administración de enfermaría

Abel Silva de MenesesI; Maria Cristina SannaII

IEnfermeiro. Supervisor de Unidades da Estratégia Saúde da Família pela Associação Monte Azul. Especialista em Gerenciamento de Serviços de Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Administração em Saúde e Gerenciamento em Enfermagem. São Paulo, SP, Brasil. abel_enf@yahoo.com.br

IIDoutora em Enfermagem. Pesquisadora Independente. Orientadora credenciada na Universidade Federal

de São Paulo. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Administração em Saúde e Gerenciamento em Enfermagem. São Paulo, SP, Brasil. mcsanna@uol.com.br

Correspondência Correspondência: Abel Silva de Meneses Rua do Chapadão, 70-A - Jardim Dom José CEP 05886-040 - São Paulo, SP, Brasil

RESUMO

Este estudo descritivo objetivou analisar a acessibilidade e o conteúdo da informação sobre Cursos de Especialização em Administração em Enfermagem disponível em sites de universidades federais brasileiras. De setembro de 2008 a abril de 2009, foram avaliados 19 cursos disponíveis nos sites das universidades federais brasileiras, segundo o nível de acesso à informação e o desenho curricular, frente à estrutura do conhecimento sobre Administração em Enfermagem: Bases Ideológicas e Teóricas, Métodos de Intervenção e Práticas de Administração de Recursos. Os resultados revelaram que, em plena era da sociedade do conhecimento, a acessibilidade por meio eletrônico aos programas de ensino ainda está aquém do que se espera dos conceitos de informação e navegabilidade. No tocante ao desenho dos cursos, percebeu-se que a maioria tem superado muito a carga horária mínima legal, e que está havendo valorização do estudo das Bases Ideológicas e Teóricas em detrimento das Práticas de Administração de Recursos.

Descritores: Educação em enfermagem; Especialização; Administração de Serviços de Saúde.

RESUMEN

Estudio descriptivo que objetivó analizar accesibilidad y contenidos de información sobre Cursos de Especialización en Administración de Enfermería disponibles en sitios de universidades federales brasileñas. Entre setiembre 2008 y abril 2009, fueron evaluados 19 cursos disponibles en dichos sitios según el nivel de acceso a la información y diseño curricular, frente a la estructura de conocimiento sobre Administración en Enfermería: Bases Ideológicas y Teóricas, Métodos de Intervención y Prácticas de Administración de Recursos. Los resultados demostraron que en plena era de la sociedad del conocimiento, la accesibilidad por medio electrónico a los programas de enseñanza aún está por debajo de lo esperado en los conceptos de información y navegabilidad. En referencia al diseño de los cursos, se percibió que la mayoría supera holgadamente la carga horaria mínima legal y que está valorizándose el estudio de las Bases Ideológicas y Teóricas en detrimento de las Prácticas de Administración de Recursos.

Descriptores: Educación en enfermería; Especialización; Administración de los Servicios de Salud.

INTRODUÇÃO

Educadores e associações de classe da Enfermagem brasileira têm promovido debates para repensar os fazeres educacionais nesta área do conhecimento, sinalizando mudanças no processo de formação do enfermeiro e propondo que esteja presente a reflexão sobre os referenciais que constituem a profissão: ensino, pesquisa, administração, assistência e participação política(1).

Nessa busca, os egressos de cursos de graduação têm encontrado oportunidades de desenvolvimento nos cursos de pós-graduação lato sensu, não só para encaminharem sua educação permanente, mas como forma de superação das dificuldades de enfrentamento do mundo do trabalho, dentre as quais se destacam as questões gerenciais(2).

Órgãos de ensino já se posicionaram tentando minimizar essas dificuldades, ampliando a carga horária mínima da graduação e destacando a importância das funções gerenciais na preparação do enfermeiro(3); no entanto, as mudanças são recentes e ainda não produziram efeitos. Além disso, os conhecimentos sobre Administração em Enfermagem renovam-se continuamente e não podem ser contemplados integralmente em um curso de graduação, o que reforça a necessidade de preparar o enfermeiro, em cursos de pós-graduação, para o desenvolvimento de funções gerenciais avançadas.

Todavia, para que os cursos de especialização se constituam em modalidade de formação continuada que preserve a qualidade, além da versatilidade e agilidade nas respostas às necessidades manifestas de conhecimento, é indispensável que as instituições de ensino superior, as entidades de classe e, especialmente, os órgãos de regulação do ensino superior, continuem debatendo sobre melhores condições para que os cursos de especialização gerem riquezas para o país(4). Acrescente-se ainda que é possível que alterações de ordem estrutural e organizacional da graduação, que estão em processo de discussão pela sociedade brasileira, afetem também a especialização.

A oferta de cursos de especialização deve obedecer à legislação específica sobre o assunto(5) e, no caso de universidades e centros universitários, que gozam de autonomia, são mais facilmente propostos e instalados.

A chamada à responsabilidade para a gestão do Sistema Único de Saúde tem envolvido principalmente o sistema público de ensino superior do país a dar sua contribuição para o desenvolvimento de competências gerenciais de recursos humanos em saúde(3), o que faz indagar sobre o nível de acesso e o panorama das informações sobre os Cursos de Especialização em Administração em Enfermagem disponíveis nos sites das universidades federais brasileiras.

A disponibilização dessa informação, bem como seu conteúdo, precisam ser conhecidos, para que se tenha a idéia do que se têm ensinado sobre Administração em Enfermagem em cursos de especialização, já que as universidades federais servem de parâmetro para as demais instituições de ensino superior.

Autores(6) que avaliaram o gerenciamento do cuidado de enfermagem sob a perspectiva da complexidade, apontaram para o despertar de maior abrangência das competências gerenciais do enfermeiro, pois seu olhar sobre a organização do cuidado o enxerga como um sistema interativo, em que as ações de enfermagem também estão dirigidas para outros objetos de trabalho, além do cuidado propriamente dito, constituindo razão suficiente para promover investigações sobre o ensino de Administração em Enfermagem.

OBJETIVOS

Analisar a acessibilidade e o conteúdo da informação sobre Cursos de Especialização em Administração em Enfermagem disponível em sites de universidades federais brasileiras.

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, que analisa as informações obtidas exclusivamente em sites de universidades federais brasileiras, sobre os cursos de Especialização em Administração em Enfermagem. Foi consultado o banco de dados do Instituto Anísio Teixeira (INEP)(7) para identificação dos sites das universidades federais e, nestes, encontradas informações sobre o oferecimento de 19 cursos de especialização em Administração em Enfermagem distribuídas no território nacional.

Cada site foi acessado mais de uma vez por mês, no período setembro de 2008 a abril de 2009, quando foram avaliadas a acessibilidade e a navegabilidade do site, segundo critérios previamente testados(8).

A acessibilidade e a navegabilidade foram pontuadas de um a dez, não havendo zero porque o acesso ao nome do curso já computava um ponto. Para tanto, foram elencadas as seguintes variáveis: nome do curso, carga horária, número de vagas, exigências para ingressar, critérios de seleção, organização curricular, ementa de disciplinas, carga horária por disciplina, duração, custo do curso, titulação do corpo docente e nome e endereço eletrônico do coordenador do curso, às quais se atribuiu nota 1 para informação ou acesso inexistente e nota 2 para informação e acesso disponível. Já para as variáveis interatividade (endereço eletrônico para correspondência) e nível de satisfação da resposta (quando solicitada por e-mail), atribuiu-se nota 1 para informação ou acesso inexistente, nota 2 para informação ou acesso difícil/parcial e nota 3 para acesso facilitado a todas as informações.

O elenco de variáveis foi distribuído em uma planilha eletrônica Microsoft® Excel, atribuindo-se a nota conforme a informação encontrada e classificada nos critérios já descritos. A partir dessa planilha calculou-se a soma e a média. Foram considerados satisfatórios os cursos cuja nota foi superior a 6.

O conteúdo curricular de cada curso foi compilado separadamente em um arquivo de Microsoft® word e classificado segundo a proposição teórica de Sanna(9) para a estrutura do conhecimento sobre Administração em Enfermagem: A) Bases Ideológicas e Teóricas, B) Métodos de Intervenção e C) Práticas de Administração de Recursos. Em seguida calculou-se a distribuição da freqüência simples e relativa de cada uma, a média e a variabilidade.

O projeto não foi submetido à avaliação de Comitê de Ética em Pesquisa por não se tratar de experimento com seres humanos; todavia, resguardou-se o sigilo em relação ao nome das instituições e dos cursos, optando-se por omitir a instituição e nomear os cursos com letras do alfabeto de A a S, segundo sequência em que foram encontrados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Acessibilidade e navegabilidade

A acessibilidade no espaço digital consiste em tornar disponível ao usuário toda a informação que lhe for franqueável, de forma a que possa aceder a ela com autonomia; já a usabilidade tem sido compreendida, intuitivamente, como sendo o grau de facilidade de uso (acesso) de um serviço para um usuário que ainda não esteja familiarizado com o mesmo(10). Nesse sentido, a navegabilidade em websites é compreendida em função da usabilidade que o website apresenta(10).

A Figura 1 representa o nível de acesso à informação disponível aos internautas, quando se acessou a ramificação direcionada aos cursos, nos sites das universidades. Nessa figura, a classificação dos cursos é representada pela intersecção dos eixos acessibilidade e usabilidade/navegabilidade, sob o segmento de reta ascendente, que demonstra o nível de acesso à informação. A avaliação do acesso obedeceu ao preconizado por diversos autores(8).


O espaço digital permite oferecer um entendimento bastante amplo da informação, que pode ser exibida em toda a sua riqueza e apresentada de diferentes formas; todavia, uma série de barreiras têm dificultado, ou mesmo impossibilitado o acesso às informações, como se verá adiante. Nesse sentido, a acessibilidade à informação depende, em grande parte, da usabilidade de um website(11).

Quanto ao nível de acesso à informação, dos 19 cursos avaliados, 11 (57,8%) ficaram abaixo da nota mínima 6. Desses, quatro (21,0% do total) obtiveram nota abaixo de 5, por não declararem informações como carga horária do curso e endereço eletrônico, ou seus links apresentarem problemas de hipertextualidade (estavam corrompidos) ou, ainda, não responderem ao contato por via eletrônica (falta de interatividade). Três cursos apresentaram problemas de acessibilidade em plena época de inscrição: a página do curso esteve acessível e, após cinco dias, ficou inoperante, exibindo mensagens de link corrompido.

Apenas oito (42,2%) cursos atingiram nota acima do mínimo, sendo que quatro deles tangenciaram a nota 6. Somente três cursos (15,7%) atingiram nota 8, e apenas um curso (5,2%) atingiu nota 10 porque disponibilizou informações e acesso integrais ao conteúdo pesquisado, bem como exibia extrema facilidade de acesso às informações. Esta demonstração pode ser apreciada de forma panorâmica na série que compõe a parte inferior da Figura 1.

Os quatro cursos (21,0%) que receberam nota maior ou igual a 8 foram aqueles que demonstraram mais transparência, permitindo o acesso às ementas de disciplinas e apresentaram certa facilidade para a localização das informações. Essa transparência é importante porque já se percebe uma tendência de busca de informações por esse meio, e boa parte daqueles que aspiram cursar a especialização que já atuam profissionalmente, ou mesmo os recém graduados, precisam saber se os cursos permitem acrescentar formação significativa para enfrentar um mercado de trabalho cada vez mais competitivo(2).

De um modo geral, a maioria dos sites apresentou problemas de hipertextualidade, e em alguns foi necessário destinar vários minutos para acessar a página do curso. Considerando que foi realizado mais de um acesso mensal em cada site, em alguns, devido ao grande número de clicks, foi difícil lembrar o caminho percorrido. Encontrar a página ou o website do curso a partir do site da universidade, em alguns casos, foi como navegar por um labirinto, pois cada site apresentava uma lógica diferente, e, em alguns, a lógica de organização não era perceptível.

Todos esses fatores prejudicaram tanto o princípio da ergonomia cognitiva(10), que busca otimizar/simplificar as características de dispositivos técnicos, adotando como referência os processos cognitivos de uma determinada população; quanto o critério ergonômico “controle do usuário”(10), que determina que os produtos/serviços digitais devem ser projetados de forma tal que seja permitido ao usuário ter o máximo de controle possível na sua interação.

Diante disso, é perceptível que a usabilidade é diretamente proporcional à acessibilidade, ou seja, quanto mais fácil for navegar por um website (serviço), mais ele proporcionará acessibilidade(10). De uma forma simplificada, pode-se dizer que a acessibilidade e a usabilidade precisam ser entendidas como canais de aproximação entre o usuário e a instituição e, para tanto, é necessário disponibilizar interfaces que transmitam de forma dinâmica e com transparência, a identidade do curso, o que ficou a desejar na maioria dos sites investigados.

Perfil dos Cursos

Os cursos de especialização em nível de pós-graduação lato sensu são direcionados à área de exercício profissional, tanto de recém graduados quanto de profissionais inseridos no mercado de trabalho, na perspectiva da educação permanente, e são abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação ou demais cursos superiores e que atendam às exigências das instituições de ensino(5). A Figura 2 demonstra o panorama da carga horária dos cursos avaliados.


Como se pode observar, dos 19 cursos avaliados, quatro (21,0%) não declararam a carga horária, ao passo que 15 (79,0%) a disponibilizaram. Seria ingenuidade não perceber que este é um fator essencial na escolha de um curso, pois a concepção de qualidade no ensino que ainda perdura no ideário social, está sob forte influência do paradigma da ciência positivista, que acabou por cristalizar uma interpretação objetiva para uma variável subjetiva, onde a qualidade de um curso é medida pela extensão da carga horária das disciplinas e, portanto, quanto mais horas/aula o aluno cumpre, melhor é sua formação(12). Ainda que essa formulação seja discutível, é importante salientar que, por razões pragmáticas, o candidato ao curso precisa conhecer sua duração para cotejá-la com sua disponibilidade de tempo e outras dimensões práticas para se decidir a cursá-lo.

Entendendo a qualidade como um conjunto de atributos inerentes a um produto, que o destaca dentre seus similares pelos adjetivos de igual, melhor ou pior, a partir de um referencial padrão(13), e considerando que a carga horária mínima exigida de 360 horas(5) foi superada por 13 (86,6%) cursos que apresentaram informações a esse respeito, questiona-se as razões e repercussões dessas variações. O que explicaria tal diversidade? Necessidades locais? Intenção de se destacar das demais propostas de cursos da mesma instituição ou de outras instituições? Considere-se ainda que em nenhum currículo, dos cursos pesquisados, havia menção sobre atividades práticas o que exclui esta explicação como justificativa para cargas horárias maiores.

A média da carga horária foi de 450 horas, sendo que seis cursos (40,0%) posicionaram-se abaixo da média, dois (13,3%) tangenciaram a linha média e sete (46,7%), ficaram acima da linha média. Dois cursos (J e K) ofereceram a maior carga horária - 525 horas, e apenas dois se restringiram ao mínimo definido por lei.

Essas evidências sinalizam para mudanças curriculares que giram em torno da inclusão de novas disciplinas que respondam às demandas da sociedade do conhecimento. Seria esta a razão? A resposta para tais demandas, porém, pode estar mais na inovação das estratégias de ensino que no aumento da carga horária(12). Para isso, a construção de novas alternativas curriculares exige muito mais do que modificações do desenho do programa de curso, ou mesmo introdução de novos conteúdos(12) porque, no processo educacional, o produto também depende da ação volitiva do objeto, ou seja, da motivação do próprio aluno. Para que essa motivação aconteça, é necessário criar situações de aprendizagem que despertem o desenvolvimento do espírito crítico e investigativo, que contribuam para transformar a realidade social, em que a elaboração de questões implica mais que preparar respostas(2,13). Esses atributos são de difícil controle quanto à avaliação da qualidade no ensino, o que acaba por retroalimentar a concepção tradicional de construção curricular, em que conteúdos e objetivos são hipervalorizados, em detrimento do processo de ensino-aprendizagem em si.

Adotando intervalos de 50 horas em relação à carga horária média, pode-se perceber que, dos 13 (86,6%) cursos que superaram a carga horária mínima, o menor desenho ficou com 400 horas; bastante próximo da carga horária de 360.

Ao cotejar esses dados com os conteúdos lecionados, classificados segundo a estrutura do conhecimento sobre Administração em Enfermagem(9), percebe-se a necessidade de se desenvolver situações de aprendizagem de maior significado prático, para concretizar a competência como produto educacional, dado que há ênfase demasiada em aspectos teóricos. Talvez seja este o motivo pelo qual muitos estudiosos do ensino de Enfermagem queixem-se de que o processo de ensino-aprendizagem ainda é muito centrado em abordagens tradicionais de ensino, prejudicando o desenvolvimento de competências(2,14-15).

Alguns autores(15) foram mais a fundo, apontando a prevalência da visão doméstica do gerenciamento em Enfermagem, e indiretamente declararam a deficiência dos cursos de pós-graduação em instrumentalizar o aluno para a aquisição de competências gerenciais.

Embora a sociedade do conhecimento exija um crescente nível de escolaridade e atualização permanente dos trabalhadores, a finalidade dos cursos de especialização não pode ser restrita ao mero adestramento para a ocupação de determinado posto de trabalho, e sim, para a incorporação de algum capital cultural significativo, que leve à formação de cidadãos capazes de adaptarem-se às mudanças e enfrentar novos desafios, ou até mesmo, enxergar suas competências como bem de consumo. Desenhos de programas com muito conteúdo, abordado de forma tradicional, caminham na direção oposta dessa necessidade.

O Ensino de Administração em Enfermagem

A fim de compreender o que se têm ensinado sobre esta temática, de posse das informações sobre os currículos dos cursos, procurou-se classificar o conteúdo curricular segundo a estrutura do conhecimento sobre Administração em Enfermagem(9), considerando três grandes grupamentos: Bases Ideológicas e Teóricas, Métodos de Intervenção e Práticas de Administração de Recursos. A distribuição do conjunto dos cursos pesquisados pode ser observada na Figura 3.


Quanto à divisão do conteúdo curricular, a distribuição apurada foi a seguinte: Bases Ideológicas e Teóricas da Administração em Enfermagem 49%, Práticas de Administração de Recursos 29%, e Métodos de Intervenção 22%.

Sob esta visão, dentre os cursos avaliados, o que menos valorizou as Bases Ideológicas e Teóricas destina 40,0% da grade curricular a esse conteúdo. O que mais o valorizou, destina-lhe 65,2% da grade curricular. A variabilidade foi de 35,2%; entretanto, a média foi 49,0%. Isto significa que a maioria das escolas estão destinando por volta da metade da sua grade curricular ao ensino de Bases Ideológicas e Teóricas da Administração em Enfermagem. Estar-se-ia complementando conhecimento da graduação ou compensando falhas desse nível de ensino?

Os Métodos de Intervenção apresentaram a menor variabilidade (11,1%), e os cursos que mais e menos valorizaram este item da estrutura do conhecimento, dedicam, respectivamente, 28,5% e 17,4% da carga horária a esse conteúdo. O quantitativo maior parece estar adequado à divisão equilibrada dos três grandes itens de conhecimento.

Quanto às Práticas de Administração de Recursos, o curso que menos as valorizou dedicou-lhe 17,4% do currículo, ao passo que o que mais as valorizou, destinou-lhe 46,6%, uma variabilidade de 29,3. O mais curioso é que os cursos que mais se detiveram em Bases Ideológicas e Teóricas da Administração em Enfermagem foram os que menos valorizaram as Práticas de Administração de Recursos e vice versa. A variabilidade entre estes dois componentes da estrutura do conhecimento sobre Administração em Enfermagem ficou em 20 pontos percentuais, e a média para Práticas de Administração de Recursos foi 29,0%.

Considerando que o ensino de Administração em Enfermagem nesse nível de formação deve gerar impacto no processo de trabalho dos enfermeiros que os buscam, desenvolvendo competências para problematizar a realidade do serviço de saúde em que está inserido e buscar soluções criativas, é intrigante observar a subvalorização desse item da estrutura do conhecimento sobre Administração em Enfermagem, na carga horária dos cursos pesquisados.

A importância de se conhecer as teorias está em poder instrumentalizar profissionais de saúde e gestores na compreensão e resolução dos complexos problemas do cotidiano, em diferentes processos de trabalho, para transformar situações, já que as instituições de saúde sofrem forte influência dos modelos taylorista/fordista da administração clássica e do modelo burocrático(14), que não mais atendem às necessidades atuais.

Sob esta perspectiva, é importante para o gestor saber identificar os fenômenos que determinam o emprego de certas teorias, saber que sua aplicação pode ser aperfeiçoada, ou até empregar outras que expliquem/representem melhor os fenômenos atualmente observados nas instituições de saúde. Essa interpretação é importante sob o ponto de vista decisório, já que só é possível gerenciar aquilo que é conhecido e que pode ser problematizado(14-15).

Percebeu-se, também, que o conteúdo sobre Bases Ideológicas e Teóricas da Administração em Enfermagem, nos cursos avaliados, tem em sua composição grande destaque para políticas de saúde; não obstante, o cenário de discussões parece reafirmar a política de governo, a discutir as bases que a sustentam, o que torna questionável tanto enfoque neste componente da estrutura do conhecimento.

Some-se, ainda, criticas de vários autores(14-15) ao predomínio do ideológico, filosófico e teórico, em detrimento de práticas de intervenção adequadas à realidade, ao observarem abordagens de ensino tanto na graduação quanto na especialização. Diferente disso, apenas na pós-graduação strictu sensu é que as abordagens contemporâneas são estudadas de forma mais incisiva.

CONCLUSÃO

Os resultados revelaram que, em plena era da sociedade do conhecimento, o acesso às informações básicas por meio eletrônico sobre programas de ensino ainda está muito aquém do que se espera quando se leva em consideração os conceitos de acessibilidade. Já ao se apreciar a navegabilidade, sob a perspectiva da usabilidade, observou-se diversas barreiras para o acesso à informação como, por exemplo, problemas de hipertextualidade, falta de interatividade, e ferramentas inoperantes, dentre outras.

No tocante ao desenho dos cursos que disponibilizaram a informação, percebeu-se que a maioria tem superado muito a carga horária mínima exigida por lei, provavelmente ancorados em paradigmas que prescrevem que a qualidade de um curso é medida pela extensão da carga horária das disciplinas. Some-se a isto a inclusão de novas disciplinas na busca de respostas que atendam às demandas da sociedade do conhecimento, embora estas possam estar mais na forma com que são empregadas as abordagens de ensino que no aumento da carga horária propriamente dita.

Ao estabelecer a interface entre os desenhos dos cursos e a estrutura do conhecimento sobre Administração em Enfermagem, o estudo permitiu evidenciar que está havendo valorização do estudo das Bases Ideológicas e Teóricas da Administração em detrimento das Práticas de Administração de Recursos.

Entende-se ser importante o aprofundamento das questões sobre Práticas de Administração de Recursos como ponto de partida para o delineamento de programas de ensino, cujas abordagens envolvam situações de aprendizagem que despertem, nos enfermeiros, o exercício das atividades volitivas e o desenvolvimento de competências que assegurem propriedade no exercício pleno do processo de trabalho gerencial em enfermagem.

Também se constatou que o número de cursos de Especialização em Administração em Enfermagem anunciados nos sites das universidades federais brasileiras revelou-se diminuto frente ao número de unidades e campi existentes, fazendo supor que investigações mais aprofundadas sobre essa realidade possam ser deflagradas a partir do presente relatório, que pode servir de subsídio inicial para os estudiosos do assunto.

Recebido: 17/09/2009

Aprovado: 03/08/2010

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  • Correspondência:
    Abel Silva de Meneses
    Rua do Chapadão, 70-A - Jardim Dom José
    CEP 05886-040 - São Paulo, SP, Brasil
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Maio 2011
    • Data do Fascículo
      Abr 2011

    Histórico

    • Aceito
      03 Ago 2010
    • Recebido
      17 Set 2009
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